A distância mais longa é aquela entre a cabeça e o coração.
Abandone de vez suas pontuações e renda-se com toda sua pecaminosidade ao Deus que não leva em conta nem os pontos,nem aquele que os marca,mas ve em voce somente um filho,remido por Cristo.
O que temos a ganhar viajando para a lua se não conseguimos atravessar o abismo que nos separa dos outros? Essa é a mais importante viagem de descoberta; sem ela, todas as outras são não apenas inúteis, mas desastrosas.
Amar é deixar aqueles que amamos serem eles mesmos e não tentar moldá-los segundo nossa própria imagem. Caso contrário, amaríamos apenas o reflexo de nós mesmos.
Homem algum é uma ilha
Resigne-se de sua insuficiência e reconheça sua insignificância para o Senhor. Quer você entenda isso, ou não, Deus o ama, está presente em você, vive em você, habita em você, chama você, salva você e lhe oferece entendimento e compaixão que não se compara a nada que você algum dia tenha encontrado num livro ou ouvido num sermão.
A gratidão mostra sua reverência a Deus pela maneira como ela faz uso dos Seus dons.
O fim específico da Graça
“A Graça nos é dada com o fim específico de capacitar-nos a descobrir e realizar nosso si-mesmo mais profundo e mais verdadeiro. Enquanto não descobrirmos este si-mesmo profundo, que está escondido com Cristo em Deus, nunca nos conheceremos realmente como pessoas.”
“A Graça não nos segura como se fôssemos aviões ou foguetes guiados por controle remoto.”
O Homem Novo, Thomas Merto
Democracia e responsabilidade
“Não há nenhum exagero em dizer que a sociedade democrática está fundada sobre uma espécie de fé: a convicção de que cada cidadão é capaz de assumir e assume inteira responsabilidade política.”
Partimos do pressuposto de que poderíamos ser “espectadores” e de que nossa qualidade como observadores neutros poderia preservar nossa inocência e isentar-nos de responsabilidade.
É a fé, e não a imaginação, que nos dá a vida sobrenatural; a fé é que nos justifica; a fé é que nos conduz à contemplação.
A fé penetra no intelecto, não através dos sentidos simplesmente, mas por uma luz infusa diretamente pela ação de Deus.
A experiência do ser
“As ações são as portas e as janelas do ser. E a experiência de nossa existência não é possível sem alguma experiência do saber ou alguma experiência da experiência.”
Encontramos Deus em nosso próprio ser, que é o espelho de Deus.
Entre profundezas e superfícies
No silêncio enfrentamos e admitimos a brecha entre as profundezas de nosso ser, que ignoramos constantemente, e a superfície que é infiel à nossa própria realidade. Reconhecemos a necessidade de estar à vontade conosco a fim de ir ao encontro dos outros, não com apenas uma máscara de afabilidade, mas com um compromisso real e um amor autêntico.
Essa é a razão para escolher o silêncio.
Perfeita com Sabedoria
“No instante em que o primeiro ser humano entrou na existência, movido pelo sopro de Deus, as profundezas do centro de sua alma perfeita incendiaram-se com a chama silenciosa e magnífica da sabedoria.”
Todas as coisas eram belas e boas, mas só quando vistas e amadas Nele.
Ser humano
“Jamais poderei encontrar-me se me isolar dos demais homens como se eu fora uma espécie diferente de ser.”
Tenho de procurar minha identidade de algum modo, não só em Deus, mas também nos outros.
“O temperamento não predestina um homem à santidade e outro à reprovação. Todos os temperamentos podem servir de material para a ruína ou a salvação. Temos de aprender a ver como nosso temperamento é um dom de Deus, um talento que devemos fazer valer, até que ele venha. Não importa até que ponto somos dotados de um temperamento difícil ou ingrato. Se fizermos bom uso do que temos, se disso nos utilizarmos para servir nossos bons desejos, podemos conseguir mais do que alguém que apenas serve seu temperamento em lugar de obrigá-lo a servi-lo.”
Na liberdade da solidão, (Editora Vozes, Petrópolis), 2001. p.20
Não existimos para nós mesmos, como se fôssemos o centro do universo, e é somente quando estamos plenamente convencidos deste fato que começamos a amar a nós mesmos adequadamente e, assim, a amar os outros. O que quero dizer com nos amarmos adequadamente? Quero dizer, em primeiro lugar, desejar viver, aceitar a vida como uma dádiva muito importante e um grande bem, não por causa do que ela nos dá, mas por causa do que nos permite dar aos outros.
O amor é o nosso verdadeiro destino. Não encontramos o sentido da vida sozinhos, e sim com outro. Não descobrimos o segredo de nossas vidas apenas por meio de estudo e de cálculo em nossas meditações isoladas. O sentido de nossa vida é um segredo que nos tem de ser revelado no amor, por aquele que amamos. E, se esse amor for irreal, o segredo não será encontrado, o sentido jamais se revelará, a mensagem jamais será decodificada. No melhor dos casos, receberemos uma mensagem embaralhada e parcial, que nos enganará e confundirá. Só seremos plenamente reais quando nos permitir-nos amar – seja uma pessoa humana ou Deus.
O despertar do eu interior
“O eu interior é tão secreto quanto Deus e, como Ele, escapa a todo conceito que pretenda captá-lo completa e totalmente; é uma vida que não pode ser tomada e estudada como um objeto, porque não é ‘uma coisa’.(…) Tudo que podemos fazer, por meio de qualquer disciplina espiritual é produzir em nós mesmos algo do silêncio, da humildade, do desapego, da pureza de coração e impassibilidade, que são elementos necessários para que o eu interior nos dê uma tímida e imprevisível manifestação de sua presença.”
bscuridade e sinceridade costumam caminhar juntas na vida espiritual. O ‘contemplativo disfarçado’ é justamente aquele cuja contemplação não é mais oculta a ninguém do que a si próprio. Isso pode parecer uma contradição em termos. No entanto, o fato de que a graça da contemplação é mais segura e mais eficaz quando já não é buscada, querida ou desejada é uma estranha e profunda verdade.”
Sobriedade na obscuridade
“O verdadeiro contemplativo é um amante da sobriedade e da obscuridade. Prefere tudo o que é calmo, humilde e despretensioso. Não precisa de excitações espirituais. Estas facilmente o desgastam. Sua inclinação é para aquilo que parece ser nada, que lhe diz pouco ou nada, aquilo que nada lhe promete. Somente quem seja capaz de permanecer em paz no vazio, sem projetos ou vaidades, sem discursos para justificar sua própria inutilidade aparente, pode estar salvo do apelo fatal dos impulsos espirituais que o convidem a autoafirmar-se e a “ser alguma coisa” aos olhos dos outros. […] Ele está, de fato, liberto das aparências e se importa muito pouco com estas. Ao mesmo tempo que, já que não tem nem a inclinação nem a necessidade de ser um rebelde, não precisa alardear seu desprezo pelas aparências. Simplesmente não lhes dá atenção.”
The Inner Experience, de Thomas Merton
Mais alegria, segurança e paz
“A contemplação não é uma espécie de mágica, um atalho fácil para a felicidade e a perfeição. No entanto, ao nos conduzir a um contato com Deus em um relacionamento pessoa e direto de amizade misteriosamente experimentada, a contemplação traz, necessariamente, aquela paz que Cristo prometeu e que ‘o mundo não pode dar’. Pode haver muita desolação e sofrimento no espírito do contemplativo, mas há sempre mais alegria que tristeza, mais segurança que dúvida, mais paz que desolação. O contemplativo é aquele que encontrou aquilo que todos os homens buscam de um modo ou de outro.”
The Inner Experience, de Thomas Merton
A liberdade do homem
“Hoje, mais do que nunca, o homem aprisionado está buscando sua emancipação e sua liberdade. Sua tragédia é que ele busca a liberdade por meios que o levam a uma escravidão ainda maior. A liberdade é uma coisa espiritual, uma realidade sagrada e religiosa, cujas raízes estão em Deus e não no homem, pois a liberdade do homem, que faz deste mundo imagem de Deus, é uma participação na liberdade de Deus. O homem é livre na medida em que é semelhante a Deus.”
The Inner Experience, de Thomas Merton
A VIDA TEM UM SENTIDO
“Por mais decadentes que pareçam o homem e o mundo e por mais terrível que se torne o desespero humano, enquanto o homem continuar a ser homem, é sua própria humanidade que continuará a dizer-lhe: a vida tem um sentido. Essa é, de fato, uma das razões pelas quais tende o homem a rebelar-se contra si mesmo. Se ele pudesse ver sem esforço o sentido da vida e chegar sem tropeço ao seu fim, jamais discutiria o fato de que a vida bem vale ser vivida.”
Prólogo de Homem Algum é uma Ilha, Thomas Merton
Irrealidade
“Não há, na vida espiritual, desastre que se compare ao de se ver imerso na irrealidade, pois a vida se mantém e é em nós nutrida por nossa relação vital com as realidades que se encontram fora e acima de nós. Quando nossa vida se nutre de irrealidade, morremos de fome. Não há maior desgraça do que confundir essa morte estéril com a verdadeira e frutuosa “morte”, pela qual entramos na vida.”
Na liberdade da solidão, Thomas Merton (Vozes, 2001), pág. 17
Preferir o silêncio
“Se quiserem que as palavras ditas sobre Deus signifiquem algo, vibrem de zelo pela sua glória. Pois, se os ouvintes perceberem que falamos apenas para nosso próprio agrado, acusarão o nosso Deus de ser somente uma sombra. Se se ama a glória de Deus, é essa transcendência que se procurará, e é no silêncio que ela se encontra. Não procuremos, pois, conforto numa certeza de sermos bons. Saibamos somente que só Deus é santo, só Ele é bom.
Não é raro que o nosso silêncio e as nossas orações levem mais ao conhecimento de Deus, do que tudo que dissermos sobre Ele. O simples fato de querermos glorificar a Deus falando Dele não prova que o conseguiremos. Que importa, se Ele prefere o meu silêncio? Não ouviram dizer que o silêncio Lhe dá glória? “
Homem algum é uma ilha, Thomas Merton (Editora Agir), 1968, pág. 207
Linguagem esponsal
“Deus, nosso Criador e Salvador, deu-nos uma linguagem em que Ele pode ser anunciado, pois a fé nos vem pelo ouvido, e as nossas línguas são as chaves que abrem o céu aos outros. Mas, quando o Senhor vem como um Esposo, nada fica por dizer, exceto que Ele vem e que devemos ir ao seu encontro.
Saiamos, então, a encontrá-Lo na solidão. Aí nos comunicamos com Ele só, sem palavras, sem pensamentos discursivos, no silêncio de todo o nosso ser.”
Homem algum é uma ilha, Thomas Merton (Editora Agir), 1968, pág.206
O DOM TOTAL
“A morte que nos dá entrada à vida não é uma fuga à realidade, mas um dom total de nós mesmos que inclui uma completa entrega à realidade. Começa pela renúncia à ilusória realidade que as coisas criadas adquirem, quando consideradas apenas em relação aos nossos egoístas interesses particulares.”
Na liberdade da solidão, Thomas Merton (Vozes, 2010), pág. 17
Fazer parte da espécie humana é um destino glorioso, mesmo se nossa espécie se dedica a muitos absurdos e comete muitos erros terríveis: apesar de tudo isso, o próprio Deus gloriou-se de vir a fazer parte da espécie humana. Parte da espécie humana! E pensar que essa percepção, que é um lugar comum, pode subitamente parecer uma notícia de que você é o detentor do bilhete que ganhou o primeiro prêmio na loteria cósmica.
Reflexões de um espectador culpado, Thomas Merton
Secretos poderes
“ Quando a sociedade humana cumpre a sua verdadeira missão, as pessoas que a formam crescem cada vez mais em liberdade individual e integridade pessoal. E quanto mais o indivíduo desenvolve e descobre os secretos poderes da sua incomunicável personalidade, tanto mais contribuirá para a vida e para o bem-estar do conjunto. A solidão é tão necessária à sociedade como o silêncio à linguagem, o ar aos pulmões e o alimento ao corpo.
Uma comunidade que tenta invadir ou destruir a solidão espiritual dos indivíduos que a compõem, condena-se à morte por asfixia espiritual.”
SER EU MESMO
“O deserto foi criado simplesmente para ser o que é. É o lugar lógico de habitação para o homem que não procura outra coisa senão ser ele próprio – isto é, uma criatura solitária e pobre, dependendo unicamente de Deus, sem nenhum grande projeto que se interponha entre ele e seu Criador.”
Na liberdade da solidão, Thomas Merton (Vozes, 2010), pág. 18
AUTOCONQUISTA
“a verdadeira autoconquista é a conquista de nós mesmos, não por nós, mas pelo Espírito Santo. A conquista de si próprio é, na realidade, a entrega de si próprio.
Todavia, antes de podermos entregar-nos, é necessário tornarmo-nos nós mesmos. Pois ninguém pode entregar o que não possui.
Digamos com maior precisão – temos de ter bastante domínio sobre nós mesmos para renunciar à nossa vida nas mão de Cristo – de maneira que ele possa conquistar aquilo que, por nossos próprios esforços, não podemos alcançar.
Para conseguir o domínio de nós mesmos, temos que estar de posse de um certo grau de confiança, de esperança na vitória. E, para manter essa esperança viva, devemos, geralmente, ter saboreado a vitória. Temos de saber o que é a vitória e preferi-la à derrota.”
Na liberdade da solidão, Thomas Merton (Editora Vozes), 7ª Ed. 2001, pág. 26
ma vida puramente mental pode ser causa de ruína, se nos leva a substituir a vida pelo pensamento e as ações pelas ideias”
Na liberdade da solidão, Thomas Merton (Editora Vozes),7ª Ed. 2001. pág. 26
O PRAZER DE UM ATO BOM
Não há esperança para alguém que luta por obter uma virtude abstrata – uma qualidade de que não possui nenhuma experiência. Nunca poderá, eficazmente, preferir a virtude ao vício oposto, seja qual for o grau com que, aparentemente, despreza esse vício.
Todos possuem um desejo espontâneo de fazer coisas boas e de evitar as más. No entanto, esse desejo é estéril enquanto não temos a experiências do que significa ser bom.
O prazer de um ato bom é algo a ser relembrado, não para alimentar nossa vaidade, mas para nos recordar que as ações virtuosas são não somente possíveis e valiosas, mas pode tornar-se mais fáceis, mais cheias de encanto e mais frutuosas do que os atos viciosos que a elas se opõem, frustrando-as.
Uma falsa humildade não nos deve roubar o prazer da conquista, que nos é devido, e mesmo necessário à nossa vida espiritual, sobretudo no início.
É verdade que, mais tarde, podemos conservar ainda defeitos que não conseguimos dominar – de maneira a termos a humildade de lutar contra um adversário aparentemente invencível, sem sentirmos prazer algum pela vitória.
Pois pode nos ser pedido renunciar até mesmo ao prazer que sentimos ao fazer coisas boas, de maneira a termos a certeza de que as realizamos por algo mais do que esse mesmo prazer. Mas antes de podermos renunciar a esse prazer, temos de aceitá-lo. No início, o prazer vindo da conquista de si mesmo é necessário. Não tenhamos medo de desejá-lo.
VIDA ESPIRITUAL
“Não há verdadeira vida espiritual fora do amor de Cristo. Temos uma vida espiritual unicamente porque Ele nos ama. A vida espiritual consiste em receber o dom do Espírito, e sua caridade, porque, em seu amor por nós, o Sagrado Coração de Jesus determinou que vivêssemos por seu espírito – o mesmo Espírito que procede do Verbo e do Pai e que é o amor de Jesus pelo Pai.”
Na liberdade da solidão, Thomas Merton (Editora Vozes),7ª Ed. 2001. pág. 31
A nossa miséria
Se soubermos como é grande o amor de Jesus por nós, nunca teremos medo de ir a Ele em toda a nossa pobreza, toda a nossa fraqueza, toda a nossa indigência espiritual e fragilidade. De fato, quando compreendermos o verdadeiro sentido de seu amor por nós, haveremos de preferir vir a Ele pobres e necessitados. Nunca nos envergonharemos de nossa miséria. A miséria é para nós vantagem quando de nada precisamos a não ser de misericórdia.
Na liberdade da solidão, Thomas Merton (Editora Vozes), 7ª Ed. 2001, pág. 31
O verdadeiro valor do perdão
Não sabemos perdoar verdadeiramente enquanto não tivermos experimentado o que seja ser perdoado. Portanto devemos alegrar-nos de podermos receber o perdão de nossos irmãos. É esse perdão mútuo que manifesta em nossa vida o amor de Jesus por nós, pois, perdoando-nos mutuamente, agimos uns para com os outros como Ele agiu para conosco.
Na liberdade da solidão, Thomas Merton (Editora Vozes), 7ª Ed. 2014, pág. 32
Contemplação é uma profunda ressonância no mais íntimo centro de nosso espírito, onde nossa própria vida perde sua voz específica e ecoa a majestade e misericórdia daquele que é oculto, mas vivo dentro de nós, o Senhor Deus.
“Quanto mais felizes nos sentimos com nossa pobreza, tanto mais perto estaremos de Deus, porque, então, aceitamos em paz nossa pobreza, nada esperando de nós próprios e tudo esperando de Deus.”
Na liberdade da solidão, Thomas Merton
A única coisa a procurar na oração contemplativa é Deus, e o procuramos com êxito quando compreendemos que não o podemos encontrar se ele não se manifestar a nós e que, no entanto, ele não nos inspiraria buscá-lo se não o houvéssemos já encontrado.
Na liberdade da solidão, Thomas Merton
Não podemos usar as coisas criadas para a glória de Deus se não temos controle sobre nós mesmos. Não podemos ter controle sobre nós mesmos se estamos sujeitos ao poder dos desejos, dos apetites e das paixões da carne. Não nos podemos entregar a Deus se não pertencemos a nós mesmos. E não pertencemos a nós mesmos se pertencemos ao nosso ego.
A verdadeira finalidade do ascetismo cristão, portanto, não é libertar a alma dos desejos e das necessidades do corpo, e sim colocar o homem todo numa completa submissão à vontade de Deus expressa nas exigências concretas da vida em toda a sua realidade existencial. Uma espiritualidade que apenas encerre o homem no isolamento de sua própria vontade e de seu próprio ego, fora do alcance de todas as exigências da carne, da história e do tempo, seria não só vã, mas também serviria, talvez, para confirmá-lo no mal daquela autonomia
espúria que é surda ao apelo da salvação e da obediência proclamado no Kérygma do Evangelho.” [a proclamação, o anúncio e a pregação do Reino, por Cristo, nos Evangelhos.)]
Porque desde que decidiu ocupar o lugar de Deus, o homem tem se mostrado, de longe, o mais cego, o mais cruel, o mais mesquinho e o mais absurdo de todos os falsos deuses.
A alienação é inseparável da cultura, da civilização e da vida em sociedade. (…) A alienação é completa quando me identifico completamente com minha máscara, totalmente satisfeito com meu papel e convencido de que qualquer outra identidade ou papel é inconcebível.
A alienação é completa quando me identifico completamente com minha máscara (…).O homem que transpira sob sua máscara, cujo papel lhe dá irritações desconfortáveis e que odeia essa sua divisão, já começou a ser livre. Mas que Deus o ajude se ele apenas deseja a máscara de outro homem, só porque este não parece estar suando ou sentindo coceiras. Talvez ele não seja mais suficientemente humano para sentir coceiras. (Ou então paga um psiquiatra que o coça.)
A finalidade da Quaresma não é só expiação para satisfazer a justiça divina; é, sobretudo, uma preparação para nos alegrarmos em seu amor. E essa preparação consiste em receber o dom de sua misericórdia — dom que recebemos na medida em que lhe abrimos nosso coração, lançando fora o que não pode permanecer juntamente com a misericórdia.
“ O que é terrível em nossa época é precisamente a facilidade com que as teorias podem ser postas em prática. Quanto mais perfeitas, quanto mais idealistas são as teorias, tanto mais horrendas sua realização. Estamos enfim começando a redescobrir o que os homens conheciam talvez melhor nos tempos muito remotos, nos tempos primitivos, antes que se pensassem em utopias: que a liberdade está vinculada à imperfeição e que limitações, imperfeições, erros são não somente inevitáveis, mas até salutares.
O melhor não é o ideal. Onde aquilo que é teoricamente melhor é imposto a todos como norma, não há mais lugar nem mesmo para ser bom. O melhor, imposto como norma, torna-se um mal.
Em suma, pode acontecer (ou não) que o que Deus pede de mim me faça parecer menos perfeito aos olhos de outros, e que isso poderá me privar de seu apoio, afeto ou respeito. Portanto, santificar-me pode significar a angústia de parecer um pecador, um pária, e, num sentido real, “sê-lo”. Isto pode significar um aparente conflito com certos critérios talvez mal compreendidos por mim, por outros ou por todos nós.
O homem não pode viver sem alguma forma de fé. A fé, no sentido mais largo, é a aceitação duma verdade sob a evidência de um outro. A essência de toda fé é a submissão do juízo ao critério de um outro, a cuja palavra aceitamos verdades não evidentes à nossa mente. Fé natural ou humana é a aceitação de verdades baseadas na autoridade de outros homens. Fé Sobrenatural é a crença em verdades reveladas por Deus, segundo o testemunho de Deus e por causa da autoridade de Deus que no-las revela.”
(“Ascensão para a verdade”)
“Gandhi tinha o maior respeito pelo cristianismo, por Cristo e pelo Evangelho. Seguindo seu caminho da satyagraha* acreditava seguir a Lei de Cristo. Seria difícil provar estar ele inteiramente enganado nessa crença ou que fosse ele, em qualquer grau, insincero.
Uma das grandes lições da vida de Ghandi é a seguinte: Ele, um indiano, descobriu, através das tradições espirituais do Ocidente, sua herança indiana e, com ela, seu reto pensar. Ora, na fidelidade à sua própria herança e ao seu sadio equilíbrio, pôde apontar aos homens do Ocidente e de todo o mundo um meio de recuperar o reto pensar dentro de sua própria tradição, manifestando, assim, o fato de que existem certos valores essenciais e indiscutíveis – religiosos, éticos, ascéticos, espirituais e filosóficos – sempre necessários ao homem e que, no passado, conseguiu ele adquirir.
Valores sem os quais não pode viver, valores atualmente em grande escala por ele perdidos, de modo que, sem preparação para enfrentar a vida de maneira plenamente humana, corre agora o risco de destruir-se completamente. Esses valores podem ser denominados “religião natural” ou “lei natural”, seja como for, o cristianismo admite sua existência, pelo menos como preâmbulos à fé e à graça, se não, por vezes, muito mais que isso (Rm 2, 14-15; At 17, 22-31).
Esses valores são universais e é difícil ver-se como possa haver alguma “catolicidade” (cath-holos significa “tudo abranger”) que, mesmo implicitamente, os exclua. Uma das marcas da catolicidade é precisamente a de que valores em toda parte naturais ao homem se realizem, no mais elevado nível, na Lei do Espírito e na caridade cristã. Uma ‘caridade’ que exclui esses valores não pode reivindicar para si o título de amor cristão.”
(*Uma palavra fabricada por Gandhi. Sua raiz significa “apegar-se à verdade”)
Assim como uma lente concentra os raios do sol num pequenino foco de calor que pode atear fogo a uma folha seca ou a um pedaço de papel, assim o mistério de Cristo no Evangelho concentra os raios da luz de Deus e seu fogo num ponto que inflama o espírito do homem.
Somente quando nossa atividade procede da base na qual consentimos nos dissolver ela tem a fertilidade divina de amor e graça. Só então ela atinge realmente os outros em verdadeira comunhão. Muitas vezes nossa necessidade dos outros não é absolutamente amor, mas apenas a necessidade de sermos sustentados em nossas ilusões, assim como sustentamos as dos outros. Mas, quando renunciamos a essas ilusões, então podemos ir ao encontro dos outros com verdadeira compaixão. É na solidão que as ilusões finalmente se dissolvem.”
Muitas vezes nossa necessidade dos outros não é absolutamente amor, mas apenas a necessidade de sermos sustentados em nossas ilusões, assim como sustentamos as dos outros. Mas, quando renunciamos a essas ilusões, então podemos ir ao encontro dos outros com verdadeira compaixão. É na solidão que as ilusões finalmente se dissolvem.”
“Não vamos para o deserto com o intuito de fugir das criaturas e sim para aprender como encontrá-las.
Não nos separamos delas com o fim de não mais nos interessarmos por elas, mas para encontrar o melhor modo de lhes fazer bem.”
O Deus vivo, o deus que é Deus e não a abstração de um filósofo, ultrapassa infinitamente tudo o que nossos olhos podem ver ou nosso espírito compreender.”
Até quando hei de aturar-vos?
21 de maio de 1940
Nova York
Dizem que enquanto os alemães estavam profanando uma igreja, em certa localidade da Polônia, um sargento alemão, enfunado pelo espetáculo excitante, plantou-se diante do altar e berrou: se acaso Deus existe, prove Sua existência liquidando, ali mesmo, um sujeito tão arrogante, importante e tremendo como era ele. Deus não o liquidou. O sujeito saiu dali muito agitado e sentindo-se provavelmente o homem mais infeliz do mundo: Deus não tinha agido como um Nazista. Deus não era de fato Nazista e a Justiça de Deus (que todo o mundo conhece obscuramente, no fundo da alma, por mais que não consiga exprimi-la) é substancialmente diversa da brutal e sanguissedenta vingança dos Nazistas.
Deus de acordo com a Sua impenetrável Vontade, liquida, de vez em quando, um louco dessa espécie. Mas quem foi morto na crucifixão de Cristo? A Paixão e a Ressureição de Cristo são maiores do que todo milagre que possamos imaginar. A transubstanciação do pão e do vinho no Corpo e no Sangue de Cristo é muito mais milagrosa do que a execução, por Deus, daquele que comete um sacrilégio contra o Santíssimo Sacramento. É qualquer coisa de muito maior, de mais aterrorizador que Cristo, no Sacramento, se deixe submeter a um sacrilégio.
Ninguém foi fulminado no Calvário. Os céus se abriram, rasgou-se o véu do templo e a terra estremeceu. Tudo, porém para os homens de pouca fé. E quem de nós não pertence a este número? Quem foi, entretanto, o fulminado? Os Fariseus? Foi um raio que fulminou Judas ou foi ele que se enforcou a si mesmo?
O fato mais terrível que ocorreu no Calvário não foi a terra ter estremecido até seus fundamentos, e sim aquele grito do Filho de Deus: ‘Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes?’
Deus deixou no mundo o pecado, para que fosse possível o perdão; não somente esse perdão secreto pelo qual Deus nos purifica a alma, mas também o perdão manifesto pelo qual exercemos uns com os outros a misericórdia, dando com isso expressão ao fato de que Deus vive, por sua misericórdia, nos nossos corações.”
Se não formos capazes de humildade, não teremos capacidade para a alegria, pois só a humildade consegue destruir o egocentrismo que torna a alegria impossível.”
A oração é inspirada por Deus nas profundezas do nosso nada. Ela é o movimento de confiança, gratidão, adoração, ou pesar, que nos coloca diante de Deus, vendo tanto a Ele como a nós mesmos à luz da sua verdade infinita, e nos move a pedir-Lhe a misericórdia, a força espiritual, o auxílio material de que todos precisamos.”
O começo do amor é permitir que aqueles que amamos sejam perfeitamente eles mesmos, e não torcê-los para que correspondam à nossa própria imagem. Caso contrário, nós amamos apenas o reflexo de nós mesmos que encontramos neles.
A arte nos permite nos encontrarmos e perdermos ao mesmo tempo.
Ora, basicamente, alguém que está obcecado pela sua própria unidade interior deixa de se conscientizar de sua desunião com Deus e com os outros. Pois é na união com os outros que nossa própria união interior se estabelece natural e facilmente. Estar preocupado em conseguir a unidade interior em primeiro lugar e, em seguida, amar os outros é seguir uma lógica de ruptura contrária à vida.”
Se você quiser me conhecer, não me pergunte onde eu moro, ou o que gosto de comer, ou como penteio meu cabelo, me pergunte o que eu estou vivendo, em detalhes, me pergunte o que eu acho que está me impedindo de viver totalmente por aquilo que quero viver.
“Tradicionalmente, o evangelho de João é chamado o “Evangelho dos Contemplativos”. O símbolo do Evangelista é a águia, a única criatura capaz de olhar diretamente para o sol sem precisar desviar o rosto ou ficar obcecada por seu esplendor excessivo. Foi este Evangelho que, mais que qualquer outro livro, me trouxe para a Igreja Católica; foi por amor dele que escolhi o nome de João como meu nome batismal. Levei muitos anos antes de conseguir compreender como alguém poderia ter outro evangelho predileto a não ser o de João”.
”Um santo não é alguém bom, mas alguém que experimenta a bondade de Deus”
A felicidade não é uma questão de intensidade, mas de equilíbrio, ordem, ritmo e harmonia.
O amor é o nosso verdadeiro destino. Não encontramos o sentido da vida sozinhos, e sim com outro.
A distância mais longa é aquela entre a cabeça e o coração.
Abandone de vez suas pontuações e renda-se com toda sua pecaminosidade ao Deus que não leva em conta nem os pontos,nem aquele que os marca,mas ve em voce somente um filho,remido por Cristo.
O que temos a ganhar viajando para a lua se não conseguimos atravessar o abismo que nos separa dos outros? Essa é a mais importante viagem de descoberta; sem ela, todas as outras são não apenas inúteis, mas desastrosas.
Amar é deixar aqueles que amamos serem eles mesmos e não tentar moldá-los segundo nossa própria imagem. Caso contrário, amaríamos apenas o reflexo de nós mesmos.
Homem algum é uma ilha
Resigne-se de sua insuficiência e reconheça sua insignificância para o Senhor. Quer você entenda isso, ou não, Deus o ama, está presente em você, vive em você, habita em você, chama você, salva você e lhe oferece entendimento e compaixão que não se compara a nada que você algum dia tenha encontrado num livro ou ouvido num sermão.
A gratidão mostra sua reverência a Deus pela maneira como ela faz uso dos Seus dons.
O fim específico da Graça
“A Graça nos é dada com o fim específico de capacitar-nos a descobrir e realizar nosso si-mesmo mais profundo e mais verdadeiro. Enquanto não descobrirmos este si-mesmo profundo, que está escondido com Cristo em Deus, nunca nos conheceremos realmente como pessoas.”
“A Graça não nos segura como se fôssemos aviões ou foguetes guiados por controle remoto.”
O Homem Novo, Thomas Merto
Democracia e responsabilidade
“Não há nenhum exagero em dizer que a sociedade democrática está fundada sobre uma espécie de fé: a convicção de que cada cidadão é capaz de assumir e assume inteira responsabilidade política.”
Partimos do pressuposto de que poderíamos ser “espectadores” e de que nossa qualidade como observadores neutros poderia preservar nossa inocência e isentar-nos de responsabilidade.
É a fé, e não a imaginação, que nos dá a vida sobrenatural; a fé é que nos justifica; a fé é que nos conduz à contemplação.
A fé penetra no intelecto, não através dos sentidos simplesmente, mas por uma luz infusa diretamente pela ação de Deus.
A experiência do ser
“As ações são as portas e as janelas do ser. E a experiência de nossa existência não é possível sem alguma experiência do saber ou alguma experiência da experiência.”
Encontramos Deus em nosso próprio ser, que é o espelho de Deus.
Entre profundezas e superfícies
No silêncio enfrentamos e admitimos a brecha entre as profundezas de nosso ser, que ignoramos constantemente, e a superfície que é infiel à nossa própria realidade. Reconhecemos a necessidade de estar à vontade conosco a fim de ir ao encontro dos outros, não com apenas uma máscara de afabilidade, mas com um compromisso real e um amor autêntico.
Essa é a razão para escolher o silêncio.
Perfeita com Sabedoria
“No instante em que o primeiro ser humano entrou na existência, movido pelo sopro de Deus, as profundezas do centro de sua alma perfeita incendiaram-se com a chama silenciosa e magnífica da sabedoria.”
Todas as coisas eram belas e boas, mas só quando vistas e amadas Nele.
Ser humano
“Jamais poderei encontrar-me se me isolar dos demais homens como se eu fora uma espécie diferente de ser.”
Tenho de procurar minha identidade de algum modo, não só em Deus, mas também nos outros.
“O temperamento não predestina um homem à santidade e outro à reprovação. Todos os temperamentos podem servir de material para a ruína ou a salvação. Temos de aprender a ver como nosso temperamento é um dom de Deus, um talento que devemos fazer valer, até que ele venha. Não importa até que ponto somos dotados de um temperamento difícil ou ingrato. Se fizermos bom uso do que temos, se disso nos utilizarmos para servir nossos bons desejos, podemos conseguir mais do que alguém que apenas serve seu temperamento em lugar de obrigá-lo a servi-lo.”
Na liberdade da solidão, (Editora Vozes, Petrópolis), 2001. p.20
Não existimos para nós mesmos, como se fôssemos o centro do universo, e é somente quando estamos plenamente convencidos deste fato que começamos a amar a nós mesmos adequadamente e, assim, a amar os outros. O que quero dizer com nos amarmos adequadamente? Quero dizer, em primeiro lugar, desejar viver, aceitar a vida como uma dádiva muito importante e um grande bem, não por causa do que ela nos dá, mas por causa do que nos permite dar aos outros.
O amor é o nosso verdadeiro destino. Não encontramos o sentido da vida sozinhos, e sim com outro. Não descobrimos o segredo de nossas vidas apenas por meio de estudo e de cálculo em nossas meditações isoladas. O sentido de nossa vida é um segredo que nos tem de ser revelado no amor, por aquele que amamos. E, se esse amor for irreal, o segredo não será encontrado, o sentido jamais se revelará, a mensagem jamais será decodificada. No melhor dos casos, receberemos uma mensagem embaralhada e parcial, que nos enganará e confundirá. Só seremos plenamente reais quando nos permitir-nos amar – seja uma pessoa humana ou Deus.
O despertar do eu interior
“O eu interior é tão secreto quanto Deus e, como Ele, escapa a todo conceito que pretenda captá-lo completa e totalmente; é uma vida que não pode ser tomada e estudada como um objeto, porque não é ‘uma coisa’.(…) Tudo que podemos fazer, por meio de qualquer disciplina espiritual é produzir em nós mesmos algo do silêncio, da humildade, do desapego, da pureza de coração e impassibilidade, que são elementos necessários para que o eu interior nos dê uma tímida e imprevisível manifestação de sua presença.”