É difĂcil explicar que um poema
nĂŁo possui objeto como um navio
os recipientes desse uma estação as flores dela
IndivisĂvel como um nĂşmero primo
Ele foge do tempo como vocĂŞ
e acaba
quando vocĂŞ deixa de escrever deixa
de ler quando vocĂŞ nĂŁo se
lembra mais do que vocĂŞ acabou de ser
há apenas um instante
durante um momento durante uma palavra
rampa do cais flama poeira cometa
que assobia para um bando
de pequenos pássaros cantando longe
sobre nĂłs tudo afastado nada tangĂvel
nem mesmo preto no branco
Este verĂŁo me ensina
que a solidĂŁo descansa
e se expande em um abraço
Este verĂŁo me ensina
a nĂŁo confundir um corpo
disponĂvel
com a ânsia pela alegria
Este verĂŁo me ensina
a ser um espelho de água para cada pedra
Este verĂŁo me ensina
a amar pequenas e grandes bolas de sabĂŁo
antes que rebentem
Este verĂŁo me ensina
que mesmo sem alguém
tudo continua
Este verĂŁo me ensina
que devo bater eu mesma os tambores
se quiser dançar
Este verĂŁo me ensina
a ser por alguns segundos sem felicidade sem tristeza
aliada de Deus
Este verĂŁo me ensina
a acordar de manhĂŁ. Grata. Sozinha.
Este verĂŁo me ensina
que a folha do limoeiro apenas exala seu aroma
quando esmagada entre os dedos.
Que amor que encanto faça favor
Ah pois a emancipação é um
chazinho-de-quinta-feira-Ă -tarde
Todas trazem qualquer coisa para mastigar
Desde que te amo estou sĂł completamente.