Eu descobri que vale a pena ficar 3 horas te olhando sentada num sofĂĄ mesmo que o dia esteja explodindo lĂĄ fora. E quando jĂĄ nĂŁo sei mais o que sentir por vocĂȘ, eu respiro fundo perto da sua nuca e começo a querer coisas que nem sabia que existiamâŠ
VocĂȘ me transformou no eufemismo de mim mesmaâŠ
VocĂȘ diz que me quer com todas as minhas vĂrgulas,
eu te quero como meu ponto final.
Onde estĂŁo as pessoas interessantes?
NĂŁo sei mais o que fazer das minhas noites durante a semana. Em relação aos finais de semana jĂĄ desisti faz tempo: noites povoadas por pessoas com metade da minha idade e do meu bom senso. Nada contra adolescentes, muitos deles atĂ© sĂŁo mais interessantes e vividos do que eu, mas to falando dos âfabricação em sĂ©rieâ. TĂŽ fora de dançar os hits das rĂĄdios e ter meu braço ou cabelo puxado por um garoto que fala tipo assim, gata, iradĂssimo, tia.
Tinha me decidido a banir a palavra âbaladaâ da minha vida e sĂł sair de casa para jantar, ir ao cinema ou talvez um ou outro barzinho cult desses que tem aberto aos montes em bequinhos charmosos. Mas a verdade Ă© que por mais que eu ame minhas amigas, a boa mĂșsica e um bom filme, meus hormĂŽnios começaram a sentir falta de uma boa barba pra se esfregar.
JĂĄ tentei paquerar em cafĂ©s e livrarias, nĂŁo deu muito certo, as pessoas olham sempre pra mim com aquela cara de âtĂŽ no meu mundo, fique no seuâ. Tentei aquelas festinhas que amigos fazem e que sempre te animam a pensar âse sĂŁo meus amigos, logo, devem ter amigos interessantesâ. Infelizmente essas festinhas sĂŁo cheias de casais e um ou outro esquisito desesperado pra achar alguĂ©m sĂł porque os amigos estĂŁo todos acompanhados. To fora de gente desesperada, ainda que eu seja quase uma.
Baladas playbas com garotas prontas para um casamento e rapazes que exibem a chave do Audi to mais do que fora, baladas playbas com garotas praianas hippye-chique que falam com voz entre o fresco e o nasalado (elas misturam o desejo de serem meigas com o desejo de serem manos com o desejo de serem patos) e rapazes garoto propaganda Adidas com cabelinho playmobil também to fora.
O que sobra entĂŁo? Barzinhos de MPB? Nem pensar. AtĂ© gosto da mĂșsica, mas rapazes que fogem do trĂąnsito para bares abarrotados, bebem discutindo a melhor bunda da firma e depois choram âtristeza nĂŁo tem fim, felicidade simâ no ombro do amigo, tĂȘm grandes chances de ser aquele tipo que se acha super descolado sĂł porque tirou a gravata e que fala tudo metade em inglĂȘs ao estilo âquero te levar pra casa, how does it sounds?â Foi entĂŁo que descobri os muquifos eletrĂŽnicos alternativos, para dançar sĂŁo uma maravilha, mas ainda que eu nĂŁo seja preconceituosa com esse tipo, nĂŁo estou a fim de beijar bissexuais sebosos, drogados e com brinco pelo corpo todo. To procurando o pai dos meus filhos, nĂŁo uma transa bizarra.
Minha mais recente descoberta foram as baladinhas tambĂ©m alternativas de rock. Gente mais velha, mais bacana, roupas bacanas, jeito de falar bacana, estilo bacana, papo bacana⊠gente tĂŁo bacana que se basta e nĂŁo acha ninguĂ©m bacana. Na praia quem Ă© interessante alĂ©m de se isolar acorda cedo, aĂ fica aquela sensação (verdadeira) de que sĂł os idiotas vĂŁo Ă praia e Ă s baladinhas praianas. Orkut, MSN, chats⊠me pergunto onde foi parar a Ășnica coisa que realmente importa e Ă© de verdade nessa vida: a tal da quĂmica. Mas entĂŁo onde Meu Deus? Onde vou encontrar gente interessante? O tempo estĂĄ passando, meus ex jĂĄ estĂŁo quase todos casados, minhas amigas jĂĄ estĂŁo quase todas pensando no nome do bebĂȘ,⊠e eu? AtĂ© quando vou continuar
achando todo mundo idiota demais pra mim e me sentindo a mais idiota de todos?
Foi entĂŁo que eu descobri. Ele estĂĄ exatamente no mesmo lugar que eu agora, pensando as mesmas coisas, com preguiça de ir nos mesmos lugares furados e ver gente boba, com a mesma dĂșvida entre arriscar mais uma vez e voltar pra casa vazio ou continuar embaixo do edredon lendo mais algumas pĂĄginas do seu mundo perfeito.
A verdade Ă© que as pessoas de verdade estĂŁo em casa. NĂŁo Ă© triste pensar que quanto mais interessante uma pessoa Ă©, menor a chance de vocĂȘ vĂȘ-la andando por aĂ?
Eu nunca vou entender por que a gente continua voltando pra casa querendo ser de alguĂ©m, ainda que a gente esteja um ao lado do outro. Eu nunca vou entender por que vocĂȘ Ă© exatamente o que eu quero, eu sou exatamente o que vocĂȘ quer, mas as nossas exatidĂ”es nĂŁo funcionam numa conta de mais…
Mas aĂ, daqui a uns dias… vocĂȘ vai me ligar. Querendo tomar aquele cafĂ© de sempre, querendo me esconder como sempre, querendo me amar sĂł enquanto vocĂȘ pode vulgarizar esse amor. Me querendo no escuro. E eu vou topar. NĂŁo porque seja uma idiota, nĂŁo me dĂȘ valor ou nĂŁo tenha nada melhor pra fazer. Apenas porque vocĂȘ me lembra o mistĂ©rio da vida. Simplesmente porque Ă© assim que a gente faz com a nossa prĂłpria existĂȘncia: nĂŁo entendemos nada, mas continuamos insistindo.
(…) Me recordei rapidamente de todas as pessoas e coisas que perdi por ainda nĂŁo estar preparada para elas, ou por ainda ter muita curiosidade de mundo e dificuldade em ser permanente…
Recordei de amigos e parentes distantes, aqueles que eu sempre deixo para depois porque moram muito longe ou acabaram se tornando pessoas muito diferentes de mim, sempre penso âmĂȘs que vem faço contato com elesâ. E se nĂŁo tiver mĂȘs que vem?
(…) Minha vontade Ă© que ele me pergunte se quero um pouco de chĂĄ gelado e se eu gostaria de ver um dos seus filmes estirada nas grandes almofadas.
(…) Eu mais uma vez me pergunto como Ă© mesmo que se faz a coisa mais profunda do mundo com total superficialidade. Como Ă© que se ama sem amor? Como Ă© que se entrega de dentro de uma prisĂŁo? Nunca soube.
(…) Ainda Ă© cedo e eu preciso de amor. SĂł um pouquinho de amor. (…) Quero que ele veja o quanto mudei por causa dele, na esperança de que seu riso congelado saia do automĂĄtico e eu ganhe um Ășnico sorriso verdadeiro.
(…) Talvez meu amor tenha aprendido a ser menos amor sĂł para nunca deixar de ser amor.
Ele Ă© um super-homem quando a gente precisa e uma criancinha fofa quando a gente tambĂ©m precisa. Meu Deus, agora faço o maior dos esforços do ano: por que cacete deixei de gostar desse cara? Chocolatinhos, vinho, som ambiente, escurinhos. Ele pĂĄra o mundo todo, se ajoelha no sofĂĄ deixando as mĂŁos no meu colo: âVocĂȘ nĂŁo sabe a saudade que eu senti todo esse tempo.â Seus olhos se enchem de lĂĄgrima, a mĂșsica se torna instrumental matando qualquer outra palavra, a cidade nĂŁo respira, o tempo nĂŁo existe, a solidĂŁo Ă© coisa de gente que mora muito longe dali, minha mente aquieta todos os monstros, as mulheres lindas nas capas das revistas sĂŁo empilhadas descartavelmente e viram nada, a poluição vira oxigĂȘnio puro e cor-de-rosa, o outro homem que Ă© dono sem merecer do meu corpo magoado explode no ar deixando apenas estrelas para iluminar meu recomeço, as dĂșvidas todas do que fazer pelos prĂłximos mil anos se simplificam porque eu sĂł desejo viver aquele momento, sim, sim, sim, eu quero zerar tudo de antes e de depois e amar esse homem agora, como antes, como nunca. Por que nĂŁo?”
Os grandes amores sĂŁo assim mesmo, eles nos dĂŁo o caminho da emoção, mas os sentimentos de verdade sĂŁo apenas nossos, ninguĂ©m copia, ninguĂ©m leva, ninguĂ©m divide…
Eu descobri que tentar nĂŁo ser ingĂȘnua Ă© a nossa maior ingenuidade, eu descobri que ser inteira nĂŁo me dĂĄ medo porque ser inteira jĂĄ Ă© ser muito corajosa.
A felicidade entrou com o pĂ© na porta e sentou ao meu lado. Eu nĂŁo estava mais sozinha esperando o espĂ©culo. O trĂąnsito todo parado e ela acena no carro ao lado, depois morre de vergonha e toma bronca do pai para sentar direito na cadeirinha. O dia meio cinzento, vai-nĂŁo-vai e de repente ela surge amarela e esquenta a vida. Ela mora numa gaveta cheia de bobeirinhas lĂĄ em casa… Ela toma banho comigo quando a ĂĄgua leva embora coisa ruim e renova a alma e dorme ao meu lado quando eu descanso…
Eu gosto das pessoas pelo prazer de gostar e nĂŁo porque deu tempo de gostar delas.
Posso te garantir que o verão solitårio me deixou mais mulher, mais leve e mais bronzeada e que, depois de sofrer muito querendo uma pessoa perfeita e uma vida de cinema, eu só quero ser feliz de um jeito simples. Hoje o céu ficou bem nublado, mas depois abriu o maior sol.
Eu nunca aceitei a simplicidade do sentimento. Eu sempre quis entender de onde vinha tanta loucura, tanta emoção. Eu nunca respeitei sua banalidade, nunca entendi como podia ser tão escrava de uma vida que não me dizia nada, não me aquietava em nada, não me preenchia, não me planejava, não me findava.
Nós éramos sem começo, sem meio, sem fim, sem solução, sem motivo.
(…)
NĂŁo sinto saudades do seu amor, ele nunca existiu, nem sei que cara ele teria, nem sei que cheiro ele teria. NĂŁo existe morte para o que nunca nasceu.
(…)
Sinto falta da perdição involuntĂĄria que era congelar na sua presença tĂŁo insignificante. Era a vida se mostrando mais poderosa do que eu e minhas listas de certo e errado. Era a natureza me provando ser mais Ăłbvia do que todas as minhas crenças. Eu nĂŁo mandava no que sentia por vocĂȘ, eu nĂŁo aceitava, nĂŁo queria e, ainda assim, era inundada diariamente por uma vida trezentas vezes maior que a minha. Eu te amava por causa da vida e nĂŁo por minha causa. E isso era lindo. VocĂȘ era lindo.
Sinto falta da perdição involuntĂĄria que era congelar na sua presença tĂŁo insignificante. Era a vida se mostrando mais poderosa do que eu e minhas listas de certo e errado. Era a natureza me provando ser mais Ăłbvia do que todas as minhas crenças. Eu nĂŁo mandava no que sentia por vocĂȘ, eu nĂŁo aceitava, nĂŁo queria e, ainda assim, era inundada diariamente por uma vida trezentas vezes maior que a minha. Eu te amava por causa da vida e nĂŁo por minha causa. E isso era lindo. VocĂȘ era lindo.
Simplesmente isso. VocĂȘ, uma pessoa sem poesia, sem dor, sem assunto para agĂŒentar o silĂȘncio, sem alma para agĂŒentar apenas a nossa presença, sem tempo para que o tempo parasse. VocĂȘ, a pessoa que eu ainda vejo passando no corredor e me levando embora, responsĂĄvel por todas as minhas manhĂŁs sem esperança, noites sem aconchego, tardes sem beleza.
(…) sinto falta de quando a imensa distĂąncia ainda me deixava te ver do outro lado da rua, passando apressado com seus ombros perfeitos. Sinto falta de lembrar que vocĂȘ me via tanto, que preferia fazer que nĂŁo via nada. Sinta falta da sua tristeza, disfarçada em arrogĂąncia, de nĂŁo dar conta, de nĂŁo ter nem amor, nem vida, nem saco, nem mĂșsculos, nem medo, nem alma suficientes para me reter.
Prometi nĂŁo tentar entender e apenas sentir, sentir mais uma vez, sentir apenas a falta de lamber suas coxas, a pele lisa, o joelho, a nuca, o umbigo, a virilha, as sujeiras. Sinto falta do mistĂ©rio que era amar a Ășltima pessoa do mundo que eu amaria.
Dar ou fazer amor??
Cansei de quem gosta como se gostar fosse mais uma ferramenta de marketing. Gostar aos poucos, gostar analisando, gostar duas vezes por semana, gostar atĂ© as duas e dezoito. Cansei de gente que gosta como pensa que Ă© certo gostar. Gostar Ă© essa besta desenfreada mesmo. E nĂŁo tem pensar. E arrepia o corpo inteiro, mas vocĂȘ nĂŁo sabe se Ă© defesa para recuar ou atacar. Eu eu gosto de vocĂȘ porque gostar nĂŁo faz sentido.
Permita-se. Se vocĂȘ acha que no fundo mesmo, apesar de todas essas reuniĂ”es e palavras em inglĂȘs que sĂł querem dizer que vocĂȘ nĂŁo sabe o que estĂĄ falando, o que importa Ă© ter pra quem mostrar que saiu o arco-Ăris. Permita-se. Porque eu nĂŁo quero que vocĂȘ tenha essa pressa ao ponto de ajudar com as prĂłprias mĂŁos. Eu quero que vocĂȘ sinta esse prazer que chega aos poucos. E mata tudo que hĂĄ em volta. E explode os relĂłgios. E chega aos poucos ainda que vocĂȘ ainda nĂŁo saiba nem quem Ă© pouco e nem quem Ă© lento. Porque vocĂȘ morre. Se vocĂȘ prefere a vida quando se morre um pouco por alguĂ©m. permita-se.
Eu nĂŁo faço a menor idĂ©ia de como esperar vocĂȘ me querer. porque se eu esperar, talvez eu nĂŁo te queira mais.
Eu nĂŁo queria ir embora e esperar o dia seguinte. porque cansei dessa gente que manda ter mais calma. E me diz que sempre tem outro dia. E me diz que eu nĂŁo posso esperar nada de ninguĂ©m. E me diz que eu preciso de uma camisa de força. Se vocĂȘ puder sofrer comigo a loucura que Ă© estar vivo. se vocĂȘ puder passar a noite em claro comigo de tanta vontade de viver esse dia sem esperar o outro, se vocĂȘ puder esquecer a camisa de força e me enroscar no seu corpo para que duas forças loucas tragam algum equilĂbrio. Se vocĂȘ puder ser alguĂ©m de quem se espera algo, afinal, Ă© uma grande mentira viver sozinho, permita-se. Eu sĂł queria alguĂ©m pra vencer comigo esses dias terrivelmente chatos.
Amar dĂłi tanto que vocĂȘ fica humilde e olha de verdade para o mundo, mas ao mesmo tempo fica gigante e sente a dor da humanidade inteira. Amar dĂłi tanto que nĂŁo dĂłi mais, como toda dor que de tĂŁo insuportĂĄvel produz anestesia prĂłpria.
Os grandes amores sĂŁo assim mesmo, eles nos dĂŁo o caminho da emoção, mas os sentimentos de verdade sĂŁo apenas nossos, ninguĂ©m copia, ninguĂ©m leva, ninguĂ©m divide. (…)
Eles não sabem fugir para o lugar sagrado do peito, eles não sabem dormir num lençol branco e puro e sonhar com tudo o que é bom na vida, eles não sabem abraçar um amigo de verdade e encontrar um grande amor.
O amor Ă© como capim, aĂ vem uma vaca e destrĂłi tudo.
Hoje eu acordei numa casa diferente, num quarto diferente, sem nenhuma muleta, sem nenhuma maquiagem, meus amigos estĂŁo ocupados, meus pais nĂŁo podem sofrer por mim. Hoje eu acordei sem nada no estĂŽmago, sem nada no coração, sem ter para onde correr, sem colo, sem peito, sem ter onde encostar, sem ter quem culpar. Hoje eu acordei sem ter quem amar, mas aĂ eu olhei no espelho e vi, pela primeira vez na vida, a Ășnica pessoa que pode realmente me fazer feliz.
Esse desejo incontrolĂĄvel de voltar Ă© apenas a vida me dizendo para andar pra frente e nĂŁo voltar nunca mais.
Eu sofro sendo assim, eu sofro porque, quando vocĂȘ acha mais da metade do mundo babaca, vocĂȘ passa muito tempo sozinho.
Eu nĂŁo preciso de vocĂȘ nem para andar e nem para ser feliz, mas como seria bom andar e ser feliz ao seu lado.
O amor é uma doença. Eu sinto nåuseas, febres, dores musculares. Eu acordo assustada no meio da noite. Eu choro à toa.
Eu sĂł preciso levar a vida, eu sĂł preciso desfocar do sonho que me deixa mĂope e enxergar alĂ©m.
Eu queria, de verdade, colocar dentro de um saco as trĂȘs perguntas “Por quĂȘ?”,
“Pra quĂȘ?” e “AtĂ© quando?” e pedir para uma criança bem fofa, bem pura e bem
feliz fazer aquela brincadeira de encher, encher, encher, até estourar.
NinguĂ©m acredita na gente: nenhum cartomante, nenhum pai-de-santo, nenhuma terapeuta, nenhum parente, nenhum amigo, nenhum e-mail, nenhuma mensagem de texto, nenhum rastro, nenhuma reza, nenhuma fofoca e, principalmente (ou infelizmente): nem vocĂȘ.
A maquiagem tinha custado cara demais para eu ir dormir antes de borrĂĄ-la.
E quanto mais e maiores motivos para nĂŁo sentir, ele e a vida me dĂŁo… adivinhem? Sim, o amor cresce. IrresponsĂĄvel, sem alimento, sem esperança e de uma burrice enorme. Ainda assim, forte e em crescimento.
Essa vida viu, Zé. Pode ser boa que é uma coisa. Jå chorei muito, jå doeu muito esse coração. Mas agora tÎ, ó, tå vendo? De pedra. Nem pena do mundo eu consigo mais sentir. Minha pureza era linda, Zé, mas ninguém entendia ela, ninguém acolhia ela. Todo mundo só abusava dela. Agora ninguém mais abusa da minha alma pelo simples fato de que eu não tenho mais alma nenhuma. Jå era, Zé. à isso que chamam de ser esperto? Nossa, então eu sou uma ninja. Bate aqui no meu peito, Zé? Sentiu o barulho de granito? Quebrou o braço, Zé? Desculpa!
O fim do amor Ă© ainda mais triste do que o nosso fim.
Meu amor estĂĄ cansado, surrado, ele quer me deixar para renascer depois, lindo e puro, em outro canto, mas eu nĂŁo quero outro canto, eu quero insistir no nosso canto.
Por mais que todas as terapias do mundo, todas as auto-ajudas do universo e todos os amigos experientes do planeta me digam que preciso definitivamente nĂŁo precisar de vocĂȘ, minha alma grita aqui dentro que, por mais feliz que eu seja, a festa Ă© sempre pela metade.
Ă vocĂȘ quem eu sempre busco com minha gargalhada alta, com a minha perdição humana em festejar porque Ă© preciso festejar, com a minha solidĂŁo cansada de se enganar.
Vou me enganar mais uma vez, fingindo que te amo Ă s vezes, como se nĂŁo te amasse sempre.
HistĂłria escrita a lĂĄpis, lĂĄpis-borracha para tudo ser mais prĂĄtico. Escrita de qualquer jeito, torta, em linhas invisĂveis. Com um inĂcio de perder o fĂŽlego, mas com um eterno trĂȘs pontinhos num final que nem existe.
Os trĂȘs pontinhos sĂŁo o que me matam, ponto final seria a dureza clara e o fim da histĂłria, trĂȘs pontinhos sĂŁo o que me matam.
Eu sei, eu sei, o eterno clichĂȘ âisso passaâ. Passa sim e, quando passar, algo muito mais triste vai acontecer: eu nĂŁo vou mais te amar.
Ă triste saber que um dia vou ver vocĂȘ passar e nĂŁo sentir cada milĂmetro do meu corpo arder e enjoar. Ă triste saber que um dia vou ouvir sua voz ou olhar seu rosto e o resto do mundo nĂŁo vai desaparecer. O fim do amor Ă© ainda mais triste do que o nosso fim.
Meu amor estĂĄ cansado, surrado, ele quer me deixar para renascer depois, lindo e puro, em outro canto, mas eu nĂŁo quero outro canto, eu quero insistir no nosso canto.
Eu me agarro Ă beiradinha do meu amor, eu imploro pra que ele fique, ainda que doa mais do que cabe em mim, eu imploro pra que pelo menos esse amor que eu sinto por vocĂȘ nĂŁo me deixe, pelo menos ele, ainda que insuportĂĄvel, nĂŁo desista.
Vence quem passa por essa vida rindo. E se o preço que se paga por ser um pouco feliz é ser um pouco idiota, dane-se.
E eu, finalmente, deixei de ter pena de mim por estar sem vocĂȘ e passei a ter pena de vocĂȘ por estar sem mim. Coitado.
Eu tenho um milhĂŁo de motivos pra fugir de pensar em vocĂȘ, mas em todos esses lugares vocĂȘ vai comigo. VocĂȘ segura na minha mĂŁo na hora de atravessar a rua, vocĂȘ me olha triste quando eu olho para o celular pela milĂ©sima vez, vocĂȘ sente orgulho de mim quando eu solto uma gargalhada e vocĂȘ vira o rosto se algum homem vem falar comigo. VocĂȘ prefere nĂŁo ver, mas eu vejo vocĂȘ o tempo todo.
NĂŁo quero ouvir ninguĂ©m, nĂŁo quero saber de nada, nĂŁo quero sentir nada. Quero esperar vocĂȘ voltar reta e dura como uma estĂĄtua, porque tenho medo de me espalhar pelo mundo e nunca mais ser sua.
Nada muda no mundo quando vocĂȘ nĂŁo caminha ao meu lado, as pessoas quase nĂŁo percebem que falta metade do meu corpo e que eu nĂŁo posso ser muito simpĂĄtica porque toda a minha energia estĂĄ concentrada para eu nĂŁo tombar.
Quem nunca saiu com o cara errado que atire a primeira pedra! Mas atire nele, por favor.
Aquele abraço era o lado bom da vida, mas para valorizĂĄ-lo eu precisava viver. E que irĂŽnico: pra viver eu precisava perdĂȘ-lo…
E vocĂȘ me olha com essa carinha banal de “me espera sĂł mais um pouquinho”. Querendo me congelar enquanto vocĂȘ confere pela centĂ©sima vez se nĂŁo tem mesmo nenhuma mulher melhor do que eu. E sempre volta.
Talvez meu amor tenha aprendido a ser menos amor sĂł para nunca deixar de ser amor.
Queria saber onde estĂŁo aquelas pessoas de verdade, que a gente nĂŁo compra, mas tambĂ©m nĂŁo vive sem. Aquele amigo que mudou para o outro lado do mundo, mas vocĂȘ nĂŁo pensa duas vezes antes de pegar o carro, o ĂŽnibus ou o aviĂŁo e fazer uma visita. SĂł olhar para ele, sentar ao lado, ouvir a voz, faz tudo ficar mais feliz.
Algumas pessoas simplesmente valem a pena.
Queria saber onde Ă© que estĂĄ aquele tipo de namorado que vocĂȘ nĂŁo veste para se exibir, mas despe para provar sĂł para si mesmo o quanto Ă© feliz. Que vocĂȘ nĂŁo desfila ao lado, mas leva dentro do peito.
Que vocĂȘ nĂŁo compra, consome, negocia ou contrabandeia. Mas se surpreende quando ganha de presente da vida.
Aquele tipo que vocĂȘ nĂŁo usa para ser alguĂ©m e justamente por isso acaba sendo uma pessoa muito melhor.
Não culpo pessoas, lugares e sentimentos que se vendem e muito menos me culpo por viver para cima e para baixo com minha sacolinha de degustaçÔes frugais. à o nosso mundo moderno cheio de tecnologias e vazio de profundidades.
Mas hoje, só por hoje, vou sair de casa sem minha bolsa. Vamos ver se acabo conhecendo alguém impagåvel.
Mas chega, se nĂŁo houve troca, chega, porque amar sozinho Ă© solitĂĄrio demais, abandono demais, e vocĂȘ estĂĄ nessa vida para evoluir, mas nĂŁo para sofrer. Hoje eu acordei sem ter quem amar, mas aĂ eu olhei no espelho e vi, pela primeira vez na vida, a Ășnica pessoa que pode realmente me fazer feliz.
Te amo mesmo, talvez pra sempre. Mas nem por isso eu deixo de ser feliz ou viver minha vida. F***-se esse amor. E f***-se vocĂȘ.
Amo tanto, tanto, tanto, que te deixo em paz.
Ninguém me faz de boba porque todo mundo tem é medo de acreditar na bobeira e acabar bobo junto. Gente mais besta!
Acho normal. Acho perfeitamente normal lembrar com carinho que vocĂȘ sempre dava um jeito de me mandar mensagens em datas festivas. Estivesse vocĂȘ casado ou namorando ou ilhado num templo budista, dava um jeito. Era como se dissesse, sem dizer âeu sei que jĂĄ faz tempo, mas ainda amo vocĂȘâ.
Tenho atĂ© vergonha. Nem eu suporto mais gostar de vocĂȘ. E olha que nem gosto.
DĂłi mesmo, eu me apaixono mesmo, eu sou intensa mesmo, eu me ferro mesmo, Ă s vezes eu ferro as pessoas mesmo. Tudo Ă© bom, tudo Ă© vazio, tudo Ă© bom de novo. Viver Ă© um absurdo e nĂŁo dĂĄ pra passar por isso tĂŁo ileso.
Eu sou antipåtica mesmo, o mundo tå cheio de gente brega e limitada e é um direito meu não querer olhar na cara delas, não tÎ fazendo mal a ninguém, só tÎ fazendo bem a mim.
Eu passei mais da metade da noite olhando fixamente para um saco de pĂŁo pullman e me perguntando o que ele fazia na fruteira se ele nĂŁo era fruta.
Depois de levantar duzentas vezes e ir para o canto do ringue, cuspir sangue e ouvir a torcida dentro do meu coração gritar pedindo mais, eu fui a nocaute.
E assim seguimos. Até eu deixar de ser criança. Até eu aprender a gostar de homem ao invés de sofrer tanto por causa de uma boneca.
Ser feliz Ă© tudo.
QUATRO HISTORINHAS DA ALEGRIA
(…) Sim, ele era encrenca, das boas.
(…) Eu sabia o que estava fazendo, ele tambĂ©m: estĂĄvamos fazendo uma coisa errada.
(…) Gostei da luz, dos olhos dele. Gostei que estava me encantando, gostei de nĂŁo poder me encantar e mesmo assim estar me encantando.
(…) Apesar de todo esforço, meu poder era uma ilusĂŁo. Apesar do desprendimento, eu me enganava o tempo todo.
(…) Nada de alegria, alegria. Ele fecha a porta e volta para sua vida real. Para os dois, porque ele nĂŁo era egoĂsta: tristeza, tristeza.
(…) Alegria, alegria. Eu me implorava. E dĂĄ para sentir isso o tempo todo? Eu me cobrava tanto ser feliz que Ă s vezes perdia a noção de que jĂĄ era. Fugir da felicidade ou fugir com ela?
(…) Num Ămpeto de tesĂŁo, ou talvez apĂłs um trabalho de consciĂȘncia confusa que, por preguiça, acabava se decidindo impulsivamente, respondi ao e-mail dele: sim, senhor. Vamos para onde o senhor quiser, a hora que desejar e na posição que preferir.
Nem todas as histĂłrias precisam ter virgens pĂĄlidas chorando Ă s margens de um mar de espumas. Nem tudo precisa ser romance tuberculoso. Alegria, alegria.
(…) A felicidade, assim como a bebedeira, vai e vem. A felicidade, assim como o sexo, entra e sai. A felicidade, assim como ele, era impossĂvel. Mas nĂŁo Ă© pra tentar ser feliz que a gente vive?
ESTAR SOZINHO
Resumindo: estar sozinho Ă© triste, enche o saco dos outros e deve fazer mal para a saĂșde.
O NĂO QUE TINHA ALMA DE SIM
“(…) Aonde estĂĄ a força de negar um desejo se enquanto ele nĂŁo Ă© saciado continua existindo?
O tempo nĂŁo se encarrega de matar desejos, apenas de substituir os personagens.
(…)Esse Ă© o maior problema dos desejos, eles nĂŁo aceitam nĂŁo como resposta. VocĂȘ sĂł coloca um ponto final nele se for atĂ© o fim. E o fim pode ser um simples enjĂŽo ou, na pior das hipĂłteses, a morte.
(…)O desejo me acompanhou atĂ© em casa. Muito , muito mais forte que minha nobreza em ter dito nĂŁo.
(…)Tive medo de ser sĂł desejo, porque para mim sempre foi mais. Prefiro ser perseguida pelo meu desejo, que nĂŁo tem dia para acabar, do que ser abandonada mais uma vez pelo seu, que dura no mĂĄximo trĂȘs horas.”
TODA MULHER TEM UM POUCO
“(…) Eu quis que ele nĂŁo soubesse meu nome, depois quis ter o dele logo depois do meu. Eu quis que ninguĂ©m soubesse de tamanha traição. Depois quis gritar na janela como o proibido era sopro no meu coração.
Eu quis sentir o poder de abalar com a vida dele. Depois quis que ele voltasse direitinho pra casa e esquecesse que existe a fraqueza.
(…) Como eu preciso ser amada meu Deus, pra parar de dar de bandeja o meu sorriso por aĂ.
(…) Maluca? Nas raras vezes que sou sĂ©ria, me sinto tĂŁo maluca, que devo ser sempre maluca.
(…) Quem em cada pouco pĂ”e tudo que Ă© merece ser feliz. E muito.”
QUASE PERFEITO Ă MUITO MEDĂOCRE
“(…) NĂŁo, eu nĂŁo quero ser medĂocre, nĂŁo. Deus nĂŁo me deu esse estĂŽmago enjoado, essa alergia encantada de vida e esse coração disparado Ă toa. Eu devo ser especial, eu devo ter algum talento.
NĂŁo, eu nĂŁo quero ser medĂocre, nĂŁo eu nĂŁo quero desistir, nĂŁo quero optar pelo caminho mais fĂĄcil, nĂŁo quero que a energia negativa me enterre.
(…) Faltava um romance entre a gente, falsamente preenchido por filmes e mĂșsicas romĂąnticas.
Faltava um cansaço de prazer que me desse preguiça de olhar para outros homens.
(…) Eu nĂŁo sei se ele existe, da mesma forma que eu nĂŁo sei se um dia serei uma grande redatora.
SĂł sei que estou preparada para quebrar a minha cara, porque eu posso ser louca, boba e infantil, mas eu nĂŁo sou medĂocre.”
(…) Desculpem o trocadilho infame, mas a vida Ă© feita de altos e baixos. Altos, fortes, morenos, sensuais, possĂveis e aquele baixinho, meio esquisito, que nĂŁo sai da sua cabeça.
(…) E nada melhor do que as lacunas da improbabilidade para esquentar uma paixĂŁo. Nessas lacunas vocĂȘ tem espaço para criar a histĂłria como quiser, ganha poder, inventa. Ele Ă© seu, seu personagem.
(…) Olha, faça um favor para mim, antes de tremer as pernas pelo inconquistĂĄvel e apagar as luzes do mundo por um Ășnico brilho falso, olhe dentro de vocĂȘ e pergunte: estupidez, masoquismo ou medo de viver de verdade?
“O desejo me acompanhou atĂ© em casa. Muito , muito mais forte que minha nobreza em ter dito nĂŁo.”
MAIS UM DIA DAQUELES
“(…) Ă incontrolĂĄvel te odiar hoje, meu amor, dĂĄ para entender, querido? Ă incontrolĂĄvel nĂŁo ser irĂŽnica hoje, chuchu.
(…) E essa professora maluca, por que fica gritando AULAAA de cinco em cinco minutos? NĂłs jĂĄ nĂŁo estamos aqui, fazendo a porra da aula? Se Ă© para incentivar ela deveria gritar HOMENS, que Ă© o que vamos conseguir com bundas duras. Ou entĂŁo DINHEIROO, que tambĂ©m anima e Ă© mais fĂĄcil conseguir com uma bunda dura.”
Bom dia, Neurose! A vida Ă© muito mais fĂĄcil com uma bela escova nos cabelos.
Desculpem o trocadilho infame, mas a vida Ă© feita de altos e baixos. Altos, fortes, morenos, sensuais, possĂveis…
CARTA PARA O HOMEM QUE MORREU E UM POUCO DE VERDADE VIVA
(…)Eu passo quieta por vocĂȘ, vocĂȘ passa quieto por mim, e eu ainda escuto o barulho que a gente faz.
(…)E vocĂȘ jĂĄ abalou tanto a minha vida. Que pena, agora vocĂȘ morreu.
(…)NĂŁo morre, por favor. Seja ele, seja o homem que perde um segundo de ar quando me vĂȘ.
Mas vocĂȘ nunca mais me olhou quase chorando, vocĂȘ nunca mais se emocionou, nem a mim.
VocĂȘ nunca mais pegou na minha mĂŁo e me fez sentir segura. Nunca mais falou a coisa mais errada do mundo e fez o mundo valer a pena.
Eu treinei viver sem vocĂȘ, eu treinei porque vocĂȘ sempre achou um absurdo o tanto que eu precisava de vocĂȘ para estar feliz.
De tanto treinar acostumei.
(…)Eu sĂł queria que ele aparecesse, o homem que vai me olhar de um jeito que vai limpar toda a sujeira, o rabisco, o nĂł.
O homem que vai ser o pai dos meus filhos e nĂŁo dos meus medos.
O homem com o maior colo do mundo, para dar tempo de eu ser mulher, transar para sempre. Para dar tempo de seu ser criança, chorar para sempre.
Para dar tempo de eu ser para sempre.
Cansei de morrer na vida das pessoas. Por isso matei vocĂȘ.
Antes que eu morresse de amor. Matei vocĂȘ.
Eu sei que sou covarde. Surpreso? Eu nĂŁo.
O HOMEM QUE NĂO TRAĂA
“(…) A hipocrisia disfarçada de todos os relacionamentos era a maior causa de sua angĂșstia indescritĂvel. Ela tinha um nojo da dualidade de intençÔes dos seres humanos que ora amam, ora usam, e preferia a clareza da sacanagem e a certeza do vazio.
(…)Quando o amor Ă© falso, a mĂĄgoa Ă© tĂŁo grande que vocĂȘ o trai amando justamente a falta dele.”
AMOR NĂO SE PEDE
(…) Ei, seu tonto, serĂĄ que vocĂȘ nĂŁo pode me olhar com olhos de devoção porque eu estou aqui quase esmagada com sua presença? NĂŁo, nĂŁo dĂĄ pra dizer isso. Ei, seu velho, serĂĄ que vocĂȘ pode me abraçar como se estivĂ©ssemos caindo de uma ponte porque eu estou aqui sem chĂŁo com sua presença? NĂŁo, vocĂȘ nĂŁo pode dizer isso. Ei, monstro do lixo, serĂĄ que vocĂȘ pode me beijar como um beijo de final de filme porque eu estou aqui sem saliva, sem ar, sem vida com a sua presença? Definitivamente, nĂŁo, melhor nĂŁo.
Amor nĂŁo se pede, Ă© uma pena.
(…) Ă triste amar tanto e tanto amor nĂŁo ter proveito. Tanto amor querendo fazer alguĂ©m feliz.
(…) Mas amor, vocĂȘ sabe, amor nĂŁo se pede. Amor se declara: sabe de uma coisa? Ele sabe, ele sabe.
CIĂME NĂO Ă EX
… porque o que quase foi nĂŁo pode atrapalhar o que ainda pode ser.
(…) E de escolhas e de perdas Ă© feita a nossa histĂłria. NĂŁo hĂĄ nada que se possa fazer a nĂŁo ser carregar por um tempo um peso sufocante de impotĂȘncia: eu escolhi que aquele fosse o Ășltimo abraço.
Agora é outra que se perde em ombros tão largos, tomara que ela não se perca tanto ao ponto de um dia não enxergar o quanto aquele abraço é o lado bom da vida.
(…) Aquele abraço era o lado bom da vida, mas para valorizĂĄ-lo eu precisava viver. E que irĂŽnico: pra viver eu precisava perdĂȘ-lo.
(…) Mas a realidade Ă© que nĂŁo gostamos desses tipos de filme fraco com final feliz, gostamos dos europeus “cult” onde na maioria das vezes as pessoas sofrem e perdem, assim como aconteceu com a gente.
A ESTRANHA
“(…) Ela sĂł quer que eu sinta, que eu pense, que eu respire, que eu disque aqueles nĂșmeros mais uma vez, mais uma vez, mais uma vez.
(…) O mais estranho da estranha Ă© essa felicidade plena em que vivo. Esse estado de graça. A estranha encheu meu estĂŽmago de borboletas coloridas. Encheu de suspiros a minha alma. Me encheu de rendição.
Ă uma dessas alegrias de dar pulinhos e de murmurar alegria no semblante mais sĂ©rio. Ă uma dessas alegrias tĂŁo abençoadas por Deus que Ele Ă© quase cĂșmplice de esporĂĄdicas baixarias e mentiras.
Ă uma dessas alegrias desconfortĂĄveis mas que tem cara de cama quente e travesseiro fofo.
(…) Ela nem me liga, ela dança linda e vermelha no meu tĂłrax. Eu perco o ar, esbugalho os olhos.
Ela nem me liga, formigando cada parte do meu corpo, transformando meu desenho em pontilhado. Depois me instiga a chamå-lo para que forme minha imagem, me faça existir.
(…)Ela apenas me sorri irĂŽnica e por piedade aquieta-se alguns segundos. Depois, eu mesma nĂŁo agĂŒento e a procuro: estranha por estranha, negar uma paixĂŁo Ă© muito mais louco do que aceitĂĄ-la dentro da gente.”
O CELULAR
(…) por que se eu sou feliz com a vida que tenho vocĂȘ me faz tanta falta?
ENTRE O PORTO SEGURO E O ALĂM-MAR
(…) Claro que eu sou sĂ©ria, claro que vocĂȘ pode confiar em mim, claro. Claro que eu sei o que eu estou dizendo, pensando e planejando. Claro que Ă© pra valer e que eu nĂŁo tenho dĂșvidas. Claro que sĂł digo a verdade.
(…) Meu marido, como gosto de imaginĂĄ-lo, tem os ombros largos de proteção e abraço eterno. Tem uma mĂŁo grande que serve para tudo: desde atravessar a rua segura atĂ© sentir prazer sem medo das horas.
(…) Quando ele sorri, doce, imagino meus filhos. Exatamente com aquela ironia pura estampada na cara: um misto de esperteza com falsa esperteza. Quando ele acorda e eu acordo, e nos olhamos, Ă© sempre uma promessa de que a vida nĂŁo vai acabar porque sempre acordaremos juntos. E para sempre vamos nos amar mesmo com o desgaste das olheiras e remelas. Respiro aliviada e mesmo distante de Deus eu sinto que ele abençoa tudo aquilo.
(…) Nunca viveremos o desgaste e para sempre viveremos com a falsa impressĂŁo da perfeição.
(…) Matando a saudade com o barulho de uma conchinha, bem escondida pra ninguĂ©m descobrir que ainda sonho em ser sereia.
(…) Amar o mar Ă© tĂŁo humano que nĂŁo pode ser traição.
PROCURA-SE ESPERANĂA DESESPERADAMENTE
Entre idas e vindas me resumo feliz. Entre altos e baixos me resumo equilibrada. Sendo assim, tĂĄ na cara e nĂŁo tem pane: ando meio mal mas vou sair dessa.
Eu passo quieta por vocĂȘ, vocĂȘ passa quieto por mim, e eu ainda escuto o barulho que a gente faz.
E chega! HĂĄ anos peço o prĂncipe e sĂł me mandam o cavalo.
ODEIO ESTE TEXTO
(…)Eu odeio que encostem o cotovelo, a bunda ou uma cerveja molhada em mim enquanto eu tento encontrar um espaço para dançar. Eu odeio que encostem em mim, odeio a pele de um desconhecido indesejado.
(…)Odeio homens que olham para bundas como se admirassem uma carne pendurada no açougue e odeio mais ainda quando fazem bico e aquele sim com a cabeça, tipo “concordo com o mundo que ela Ă© muito gostosa”. E se ele fizer aquela chupada pra dentro do tipo “hmmmmm delĂcia” jĂĄ Ă© algo que ultrapassa os limites do meu Ăłdio.
(…)Odeio mau hĂĄlito e mais ainda o fato de que justamente as pessoas podres sĂŁo aquelas que falam mais baixo e nos obrigam a ter que chegar perto. Eu odeio machismo, submissĂŁo e mais do que tudo isso ter que ser forte o tempo todo e nĂŁo ter um ombro mĂĄsculo para chorar atĂ© minha Ășltima gota desamparada.
(…)Odeio pessoas muito oleosas, muito peludas, muito suadas e acima de tudo meninas que cheiram a lavandas e gostam de adesivos de ursinho.
(…)Odeio quem comemora porque passou numa faculdade que meu primo de 8 anos passaria e quem diz “peguei a mina”.
(…)Odeio os Estados Unidos mas odeio muito mais o fato de a gente ter sangue europeu mas ficar imitando esses estĂșpidos, que tambĂ©m tĂȘm sangue europeu mas sĂŁo estĂșpidos por herança criada. Odeio a frase “eu vou no super, comprar umas cervas para o churras”.
(…)Odeio quem passa o dia no shopping com a famĂlia, churrascaria com aquele desfile de bichinhos mortos, principalmente porque vocĂȘ estĂĄ lĂĄ tranqĂŒilamente comendo e vem alguĂ©m com um espeto (que Ă© grosseiramente imposto ao seu lado), te espirra sangue, fala um nome idiota e vocĂȘ nunca sabe exatamente de que parte se trata.
(…)Odeio quem casa virgem, odeio quem chega em casa depois de uns malhos no carro e enfia o dedo no meio das pernas porque tava louca para dar mas “ele ia me achar muito fĂĄcil”. Mas eu tambĂ©m odeio mulher que sai dando pra meio mundo e perde o mistĂ©rio. Sei lĂĄ, essa coisa toda de dar vai ser sempre uma dĂșvida.
(…)Odeio meninas caçadoras de homens ricos mas odeio sair com um cara que estĂĄ tentando começar um relacionamento e ter que rachar a conta, seria mais simpĂĄtico me deixar pagar a conta toda. Rachar Ă© pĂ©ssimo.
(…)Dividir banheiro, pĂȘlo alheio em sabonete, acordar cedo e meninas adolescentes peruas com voz de pato.
(…)Quando eu era criança sonhava todas as noites que arrancava os olhos de todo mundo e sĂł eu podia enxergar o quanto era feio eu ser como sou.
Eu quis que ele nĂŁo soubesse meu nome, depois quis ter o dele logo depois do meu.
Tenho medo de que tudo seja uma mentira e de verdade sinto que Ă©, mas ainda acordo feliz todos os dias esperando que ao menos vocĂȘ seja verdade.
Vivo com essa sensação de abandono, de falta, de pouco, de metade. Mas nada disso é novidade. Antes dele, teve o outro, o outro que continua indo embora para sempre porque nunca foi embora pra sempre. Eu não sei deixar ninguém partir, eu não sei escolher, excluir, deletar. São as pessoas que resolvem me deixar, melhor assim, adoro não ser responsåvel por absolutamente nada, odeio o peso que uma despedida eterna causa em mim. Nada é eterno, não quero brincar de Deus.
Ă Deus escrevendo certo pelas nossas linhas que, se nĂŁo fossem tĂŁo tortas, nĂŁo teriam se cruzado.
Consegui estragar todos os meus relacionamentos simplesmente porque gostei demais das pessoas. Dessa vez quero acertar, por isso, combinei comigo que apesar de estar morrendo por vocĂȘ, nĂŁo gosto de vocĂȘ.
SĂł ele conheceu uma mulher corajosa que admitiu todos os medos, todas as neuroses, todas as inseguranças, toda a parte feia e real que todo mundo quer esconder com chapinhas, peitos falsos, bundas falsas, bebidas, poses, frases de efeito, saltos altos, maquiagem e risadas altas. NinguĂ©m nunca me viu tĂŁo nua e transparente como vocĂȘ, ninguĂ©m nunca soube do meu medo de nadar em lugares muito profundos, de amar demais, de se perder um pouco de tanto amar, de nĂŁo ser boa o suficiente.
SĂł ele viu meu corpo de verdade, minha alma de verdade, meu prazer de verdade, meu choro baixinho embaixo da coberta com medo de nĂŁo ser bonita e inteligente. SĂł para ele eu me desmontei inteira porque confiei que ele me amaria mesmo eu sendo desfigurada, intensa e verdadeira, como um quadro do Picasso.
Eu sei que sou exatamente o que 98% dos homens nĂŁo gosta ou nĂŁo sabe gostar (apesar de eles nunca me deixarem em paz). Eu falo o que penso, abro as portas da minha casa, da minha vida, da minha alma, dos meus medos.
Basta eu ver um sinal de luz recĂproca no final do tĂșnel que mando minhas zilhĂ”es de luzes e cego todo o mundo. Sou demais. NinguĂ©m entende nada. E eles adoram uma sonsa. Adoram. Mas dane-se. Um dia um louco, direto do planeta dos 2% de homens, vai aparecer.
Todos choram intençÔes de amor que nunca dura.
Jå tive aos montes pessoas que não compensam esquentando a cadeira ao lado do cinema, o banco ao lado do carro e o travesseiro extra da cama. E nem por um minuto senti meu peito aquecido. A gente até engana os outros de que é feliz, mas por dentro a solidão só aumenta. Estar com alguém errado é lembrar em dobro a falta que faz alguém certo.
Dar Ă© bom. Na hora. Durante um mĂȘs. Para as mais desavisadas, talvez por anos. Mas dar Ă© dar demais e ficar vazia. Dar Ă© nĂŁo ganhar. Ă nĂŁo ganhar um “eu te amo” baixinho, perdido no meio do escuro. Ă nĂŁo ganhar uma mĂŁo no ombro quando o caos da cidade parece querer te abduzir. Ă nĂŁo ter alguĂ©m pra querer casar, para apresentar pra mĂŁe, pra dar o primeiro abraço de Ano Novo e pra falar: “Que cĂȘ acha, amor?”. Dar Ă© inevitĂĄvel, dĂȘ mesmo, dĂȘ sempre, dĂȘ muito. Mas dĂȘ mais ainda, muito mais do que qualquer coisa, uma chance ao amor, esse sim Ă© o maior tesĂŁo. Esse sim relaxa, cura o mau humor, ameniza todas as crises e faz vocĂȘ flutuar o suficiente pra nem perceber as catarradas na rua.
quando vocĂȘ estĂĄ com medo da vida, Ă© na minha mania de rir de tudo que vocĂȘ encontra forças. E,qdo vocĂȘ estĂĄ rindo de tudo, Ă© na minha neurose que encontra um pouco de chĂŁo.
E, quando precisa se sentir especial e amado, Ă© pra mim que vocĂȘ liga. E, quando estĂĄ longe de casa gosta de ouvir minha voz pra se sentir perto de vocĂȘ. E, quando pensa em alguĂ©m em algum momento de solidĂŁo, seja para chorar ou para ter algum pensamento mais safado, Ă© em mim que vocĂȘ pensa. Eu sei de tudo. E eu passei os Ășltimos anos escrevendo sobre como vocĂȘ era especial e como eu te amava e isso e aquilo. Mas chega disso. “
Sentir mais uma vez, sentir apenas a falta de lamber suas coxas, a pele lisa, o joelho, a nuca, o umbigo, a virilha, as sujeiras. Sinto falta do mistĂ©rio que era amar a Ășltima pessoa do mundo que eu amaria.
à triste amar tanto e tanto amor não ter proveito. Tanto amor querendo fazer alguém feliz.
Tanto amor querendo escrever uma histĂłria, mas sĂł escrevendo este texto amargurado. Ă triste saber que falta alguma coisa e saber que nĂŁo dĂĄ pra comprar, substituir, esquecer, implorar. Ă triste lembrar como eu ria com ele.
E lembro da primeira vez que eu te vi e te achei meio feio, vesgo, estranho. AtĂ© que vocĂȘ me suspendeu no ar por razĂŁo nenhuma eu tive certeza que meu filho nasceria um pouco feio, vesgo e estranho.
Quando eu era criança sonhava todas as noites que arrancava os olhos de todo mundo e só eu podia enxergar o quanto era feio eu ser como sou.
Encheu meu estĂŽmago de borboletas coloridas. Encheu de suspiros a minha alma.
NĂŁo, eu nĂŁo quero ser medĂocre, nĂŁo. Deus nĂŁo me deu esse estĂŽmago enjoado, essa alergia encantada de vida e esse coração disparado Ă toa. Eu devo ser especial, eu devo ter algum talento.
NĂŁo, eu nĂŁo quero ser medĂocre, nĂŁo eu nĂŁo quero desistir, nĂŁo quero optar pelo caminho mais fĂĄcil, nĂŁo quero que a energia negativa me enterre.
Sou uma carta gigante, chata, cheia de erros, longa demais, muito complicada. âChegaâ, alguĂ©m, com preguiça de ler sobre o amor ou sem coração para se emocionar com uma carta, disse. E eu virei bolinha de papel.
Encontrar då medo, preguiça e uma sensação estranha de estar se perdendo.
Eu passo de apaixonada a entediada, e vice-versa, em um toque, ou melhor: em uma frase, uma respirada, um cheiro, uma saliva.
A vida Ă© complicada. E a vida Ă© complicada porque nĂłs mulheres romantizamos tudo, ou quase tudo. Ou justamente o que nĂŁo deverĂamos. […] Ah, o romance! Mulher que Ă© mulher nĂŁo consegue fugir de um.
Acho tudo um grande porre. Um grandessĂssimo porre. De vez em quando, no meio do porre, a gente arruma alguĂ©m pra fazer uma coceguinha no nosso coração. Mas aĂ, depois da coceguinha, a vida volta ainda mais tosca. E tudo volta um porre ainda maior.
Eu queria que vocĂȘ soubesse, meu amor, que sou dessas loucas. Dessas loucas que vai te chamar de meu amor, mesmo vocĂȘ estando na minha vida hĂĄ apenas uma semana. Dessas loucas que vai querer te matar sĂł de pensar que, talvez, daqui cinco anos, vocĂȘ me troque pela Claudinha, uma menina mais nova e sem as minhas manias insuportĂĄveis que vocĂȘ ainda nĂŁo conhece.
SĂł para banalizar o sentimento.
Eu nĂŁo me culpo pela minha pressa em ficar. E eu nĂŁo te culpo pela sua pressa em ir.
Dei um abraço forte no urso cinza e chorei que nem uma criancinha de cinco anos de idade que sofre porque estĂĄ com rinite alĂ©rgica e tem que tirar os brinquedos de pelĂșcia do quarto. A realidade acabando com a brincadeira mais uma vez….
Me desculpem, mas homem gosta é de homem! Quem gosta de mulher é multinacional de cosméticos.
Eu sempre fui sua. Eu jĂĄ era sua antes mesmo de saber que vocĂȘ um dia nĂŁo ia me querer.
Se vocĂȘ falar que eu sou bonita, pronto, eu acredito. Mas se vocĂȘ sumir por alguma razĂŁo, vou achar que Ă© porque sou feia. Simples assim. Ignoro que vocĂȘ possa ser veado, possa ser fraco demais para uma mulher como eu… Possa gostar de mandar e aqui quem manda sou eu, possa ser rapidinho demais, possa gostar de mulher burra, possa nĂŁo saber gostar.
Porque esses seus cachos acabam comigo. O cheiro do seu cabelo. A maneira descabelada que vocĂȘ usa pra parecer arrumado. E eu amo a sua cara de argentino e que vocĂȘ odeia os argentinos. E eu amo como a sua calça nova cai bem em vocĂȘ e como vocĂȘ fica elegante de chinelo. E eu quero te pedir pra deixar tudo como estĂĄ e nĂŁo cortar meus cachos prediletos de todos os cachos. VocĂȘ me salvou. Eu nĂŁo agĂŒentava mais pensar nos mesmos caras que eram sempre os mesmos caras.VocĂȘ Ă© novinho em folha e eu sou louca por vocĂȘ. Mas tudo isso eu nĂŁo te conto pra vocĂȘ nĂŁo achar que eu sou louca. Chega. Dessa vez vou fazer tudo certo.
E todos aqueles outros viram formiguinhas de nariz vermelho. E eu tenho vontade de ligar pra todos eles e falar: putz, cara, e vocĂȘ acha mesmo que eu gostei de vocĂȘ? Coitado.
EntĂŁo pra quĂȘ? Pra quem? PorquĂȘ? Porque acordo todos os dias? Se eu sinto prazer em escrever Ă© para que alguĂ©m leia. AlguĂ©m que certamente vai me magoar um dia. E vai embora.
Mas dessa vez tĂŽ ignorando o telefone. Mesmo que ele fique no meio das minhas pernas o dia todo esperando um telefonema seu. Mas vocĂȘ jamais vai saber disso.
Eram essas coisas meio erradas que faziam a vida tĂŁo certa.
SĂł mais um pouquinho, pensou. Uma lasquinha. Pra dormir feliz. AmanhĂŁ era amanhĂŁ. Depois ela resolvia…
Ele coloca o vestido rosa, penteia o cabelo loiro com brilho de plåstico, faz biquinho com boca de coração. E vai para a vitrine. Sorri pra mim atrås do vidro com cadeado e alarme antifurto.
Eu automaticamente viro uma garotinha de 5 anos que precisa brincar com aquela boneca, sĂł com aquela boneca.
NĂŁo quero saber das que falam “eu te amo”, abraçam, tĂȘm carro importado, vĂȘm com anel de brilhantes.
Só quero a mesma boneca de sempre. Simples, descalça, manual e eternamente sem preço.
Negocio, negocio, e ganho uma regalia: segurar a boneca com caixa e tudo, por cinco minutos.
Abraço a boneca enjaulada, ela pisca seus grandes cĂlios de fio de nĂĄilon pra mim.
Quero furar o plåstico, rasgar o papelão, libertar seu pescoço e seus pés do arame farpado.
Quero arrumar o cĂlio torto da boneca, apertar seus bracinhos de borracha com covinha atĂ© eles esquentarem.
Mas só restam dois minutos e eu os gasto abraçando meu desejo o måximo que posso. Pra ver se tanto amor derrete as cinco embalagens que ela traz em volta do seu peito oco.
SĂł me resta um minuto e entĂŁo, mais uma vez, caminho para a vitrine.
Sou uma garotinha comportada, quem diria. E vocĂȘ achando que eu seria uma dessas mimadas malucas que se jogam no chĂŁo, se debatem e choram atĂ© conseguir levar a boneca pra casa.
Dez, nove, oito… faço carinho na caixa que diz em um splash pink “sĂł para demonstração, nĂŁo disponĂvel para venda”.
Sete, seis, cinco… devolvo o brinquedo para seu lugar de origem enquanto tento nĂŁo me desfazer demais de mim.
Quatro… penso em perguntar mais uma vez para o dono da loja se ela nĂŁo estĂĄ realmente Ă venda.
TrĂȘs… me lembro de que jĂĄ nĂŁo tenho mais forças para ouvir “nĂŁo, querida, desculpa” e guardo todas as minhas palavras e pedidos no coração.
Dois… lembro que meu coração jĂĄ estĂĄ cheio e nĂŁo cabe mais nada. Derramo um pouco minhas palavras, mas nada que chegue a molhar sua proteção.
Um. Olho uma Ășltima vez para minha pureza e juro que Ă© a Ășltima vez que vou deixar minha ingenuidade me machucar tanto.
Saio da sua loja e volto a ser uma menininha sozinha, caminhando pelas ruas, odiando as vitrines que nĂŁo tĂȘm vocĂȘ. VocĂȘ volta para a sua vitrine, esperando a menininha chegar disposta a pagar qualquer valor, mesmo vocĂȘ insistindo que nĂŁo tem nenhum.
E assim seguimos. Até eu deixar de ser criança. Até eu aprender a gostar de homem ao invés de sofrer tanto por causa de uma boneca.
…AĂ ele chega, tĂŁo lindo. E vai embora, tĂŁo feio. E liga, tĂŁo bobo. E some, tĂŁo especial. E eu morro, ainda que nĂŁo ligue a mĂnima.
A vida fica surda sem vocĂȘ, porque o volume do mundo abaixa para ouvir meu grito interno.
Mas nenhuma dessas coisas se comparava ao prazer que eu tinha ao ouvir o barulhinho de uma mensagem dele chegando.
NĂŁo existia depressĂŁo, nĂŁo existia abstinĂȘncia. A esperança de que ele ligasse ou aparecesse ou ficasse para sempre fazia a vida ser boa nĂŁo importasse a espera.
A reconstrução eterna dos meus sonhos que jå nascem fragmentados para que eu possa engolir tudo aos poucos.
TĂĄ carente? Pega uma amiga sua que tambĂ©m estĂĄ e passa uma tarde tentando entender por que os homens sĂŁo tĂŁo idiotas e mesmo assim fazem tanta falta. VocĂȘ nĂŁo vai chegar a conclusĂŁo nenhuma, mas pelo menos passou a tarde com alguĂ©m que, assim como vocĂȘ, tem cĂ©rebro.
Melhor te ver correndo pra longe do que empacado em minha vida.
Vamos viver uma histĂłria de verdade ou continuar encaixando nossos medos em horĂĄrios seguros?
E ele dizendo o quanto queria me ver de novo. Mas a vida Ă© complicada. E eu dizendo o quanto queria que ele realmente quisesse me ver de novo. Mas ele Ă© complicado.
Me completo de poucos, mas sigo esperando demais de tudo.
Não quero mais mudar ou fantasiar ninguém. Quer saber, deixa o mundo ser como é.
Ă, dĂĄ medo. Ela deve estar com medo tambĂ©m. Gostar Ă© começar o inferno tudo de novo.
Não existe ninguém aqui dentro.
VocĂȘ estĂĄ bem onde estĂĄ, eu estou bem onde estou. Mas, como aconteceu naquele dia na praia, em que eu passei indo com meu novo amor e cruzei vocĂȘ vindo com seu novo amor, nĂŁo tem como a gente nĂŁo olhar para trĂĄs.
Aonde estĂĄ vocĂȘ pelo amor de Deus! Aonde estĂĄ vocĂȘ? NĂŁo vĂȘ que estou cansada de pertencer a todos e nĂŁo ser de ninguĂ©m? NĂŁo vĂȘ que minha devolução me enfraquece cada vez mais em me entregar?
NĂŁo vĂȘ que na loucura de te encontrar nĂŁo meço as entregas? E elas nunca sĂŁo entregas porque eles nunca sĂŁo vocĂȘ.
VocĂȘ pode ter todos os defeitos do mundo, mais ainda Ă© melhor que o resto do mundo. Eu sempre me apaixono por vocĂȘ. Todas Ă s vezes que te vi, nesses Ășltimos quatro ou cinco anos, eu sempre me apaixonei por vocĂȘ. Eu sempre estive pronta pra começar algo, pra tomar um cafĂ© de verdade, pra passear de mĂŁos dadas no claro… Eu nunca vou entender porque vocĂȘ Ă© exatamente o que eu quero, eu sou exatamente o que vocĂȘ quer, mas as nossas exatidĂ”es nĂŁo funcionam numa conta de mais.
VocĂȘ nĂŁo enjoa. VocĂȘ me cansa demais mas nĂŁo enjoa.
E quando vocĂȘ me cansa eu enfio a minha cabeça no fortinho do seu peito, eu que sempre odiei os malhado…
E eu te anulo o tempo todo dizendo para mim, repetindo para mim, o quanto vocĂȘ falha, o quanto vocĂȘ fraqueja, o quanto vocĂȘ se engana.
E fazendo isso, eu sĂł consigo te amar mais ainda.
E a gente vai por aĂ, se completando assim meio torto mesmo.
Eu nĂŁo faço a menor idĂ©ia de como esperar vocĂȘ me querer. Porque se eu esperar, talvez eu nĂŁo te queira mais.
Quando ele acorda e eu acordo, e nos olhamos, Ă© sempre uma promessa de que a vida nĂŁo vai acabar porque sempre acordaremos juntos. E para sempre vamos nos amar mesmo com o desgaste das olheiras e remelas. Respiro aliviada…
Com tanto potencial pra acabar com a minha vida, sabe o que ele quer? Me fazer feliz.
Cansada de gritar. Acho que vou latir
Quando ele sorri desarmado, limitado e impotente, para todas as minhas dĂșvidas, inconstĂąncias e chatices, eu sei que Ă© daquele sorriso que minha alma precisava.
Se antes de vocĂȘ aparecer eu jĂĄ te amava, eu jĂĄ te esperava, eu jĂĄ sabia que vocĂȘ existia, como eu posso nĂŁo te amar agora que vocĂȘ tem forma, sorriso, coração e nome?
Deixe, deixe a onda da dor passar por vocĂȘ, ela pode atĂ© te derrubar, te afogar um pouco, te chicotear com o sal, te assustar com tanta grandeza, mistĂ©rio, profundidade e experiĂȘncia, mas acredite em mim, vocĂȘ nĂŁo vai morrer. VocĂȘ vai se levantar, ainda que a praia inteira ria de vocĂȘ, ainda que a força tenha levado suas roupas e vocĂȘ esteja completamente desprotegido para a vida, nu, entregue, sem dignidade. Hoje eu acordei sem nada no estĂŽmago, sem nada no coração, sem ter para onde correr, sem colo, sem peito, sem ter onde encostar, sem ter quem culpar. Hoje eu acordei sem ter quem amar.
Primeiro dia sem vocĂȘ
Estar sozinha nĂŁo muda nada, conheço bem esse estado e, de verdade, sei lidar atĂ© melhor com ele. O que me entristece, Ă© ter visto em vocĂȘ o fim de uma histĂłria contada sempre com a mesma intensidade individual.
Eu tinha visto na sua solidĂŁo uma excelente amiga para a minha solidĂŁo. Achei que elas pudessem sofrer juntas, enquanto a gente se divertia.
NĂŁo quero que vocĂȘ me faça chorar.
NĂŁo quero que vocĂȘ seja um motivo ruim na minha vida.
VocĂȘ Ă© motivo de sorrisos, razĂŁo pra eu acordar num dia de chuva e tomar banho e mudar de roupa porque eu sei que vocĂȘ vai passar aqui, vai trazer algo congelado pra gente ver ser aquecido no forno e comer enquanto falamos bobagens.
NĂŁo quero te odiar.
NĂŁo quero falar mal de vocĂȘ pros outros.
Quero falar mal de vocĂȘ como quem ama.
Pois é, ela nunca lembra de desligar o celular antes de dormir e sempre alguém do trabalho liga.
Sabe.
Eu quero dizer isso.
Que o mĂĄximo de irritação que vocĂȘ me provoca Ă© me acordar de manhĂŁ cedo falando bobagens que parecem ser importantes no celular.
NĂŁo quero que vocĂȘ me largue.
NĂŁo quero te largar.
NĂŁo quero ter motivos pra ir embora, pra te deixar falando sozinha, pra bater o telefone na sua cara.
E eu não tenho medo que isso aconteça (eu nunca tenho), eu fiz isso com todas as outras. Só que dessa vez eu queria muito que fosse diferente.
Dessa vez, com vocĂȘ, eu queria que desse certo, que eu nĂŁo te largasse no altar.
Que eu nĂŁo te visse com outro.
Que eu nĂŁo tivesse raiva.
Que vocĂȘ gostasse e cuidasse de mim como disse que cuidarĂĄ.
Mesmo que a gente nĂŁo fique juntos pra sempre.
Mesmo que acabe semana que vem, nunca destrua o meu carinho por vocĂȘ.
Nunca esfrie o calorzinho que aparece dentro de mim quando vocĂȘ liga ou sorri pra mim.
Mesmo que vocĂȘ apareça na porta de outros homens depois de me deixar. me deixe um dia, se quiser.
Mas me deixe te amando, é só o que eu peço.
Com tanto potencial pra acabar com a minha vida, sabe o que ele quer? Me fazer feliz. Olha que desgraça. O moço quer me fazer feliz. E acabar com a maravilhosa sensação de ser miserĂĄvel. E tirar de mim a Ășnica coisa que sei fazer direito nessa vida que Ă© sofrer. Anos de aprimoramento e ele quer mudar todo o esquema. O moço quer me fazer feliz. Veja se pode.
Mas tudo aquilo, meu Deus, tudo aquilo que era maior do que eu mesma, maior do que o mundo, que me soterrava, que me transportava pra outra realidade, que fazia meu corpo inteiro doer tanto de tanto sangue inchado que passava por ele, tudo aquilo, nossa, acabou. JĂĄ era.
Se dava pra ir de pesadelo pra sonho deitada, imagina o que eu não poderia fazer da minha vida a hora que ficasse em pé.
SĂł quem tem o poder de te fazer sentir viva, pode fazer vocĂȘ se sentir morta.
VocĂȘ sĂł coloca um ponto final nele se for atĂ© o fim. Para matar um desejo Ă© preciso viver, nem que depois vocĂȘ morra junto com ele.
Eu nĂŁo sei guardar coisas. Se eu compro chocolates, como todos no mesmo dia.
Se eu compro balas, chicletes, devoro todos em minutos, compulsivamente.
Detesto saber que algo me espera, quero acabar logo com aquilo.
NĂŁo sei lidar com a responsabilidade da felicidade.
Eu tenho um homem lindo me esperando essa hora, e eu quero com todas as células do meu corpo ir ao encontro dele. Mas eu não sei lidar com tanta felicidade, por isso estou planejando a morte dele
Eu sĂł queria que isso que eu tĂŽ sentindo agora durasse mais de uma semana.
Muita maquiagem para esconder os buracos de solidĂŁo. Muita roupa bonita para esconder a falta de leveza e de certeza do meu caminho.
Sinto falta do mistĂ©rio que era amar a Ășltima pessoa do mundo que eu amaria.
Ele sempre vai embora antes da gente ser alguma coisa juntos.
Lembrando de alguém que um dia chegou e depois foi embora.
Eu nunca vou entender porque a gente continua voltando pra casa querendo ser de alguĂ©m, ainda que a gente esteja um ao lado do outro. Eu nunca vou entender porque vocĂȘ Ă© exatamente o que eu quero, eu sou exatamente o que vocĂȘ quer, mas as nossas exatidĂ”es nĂŁo funcionam numa conta de mais.
Do nada eu tive vontade de perguntar se ele acreditava em casamento, mas fiquei com medo de ele me achar uma dessas loucas carentes em busca do homem da vida. Fiquei com medo de ele ver a verdade. NĂŁo perguntei, mas olhei para ele e ele me disse: vocĂȘ acredita em casamento?
Deixe, deixe a onda da dor passar por vocĂȘ, ela pode atĂ© te derrubar, te afogar um pouco, te chicotear com o sal, te assustar com tanta grandeza, mistĂ©rio, profundidade e experiĂȘncia, mas acredite em mim, vocĂȘ nĂŁo vai morrer.
Quando eu te vejo, minha mão fica tão gelada e meu coração tão quente que eu pareço um petit gateau.
Me vejo cheia de parågrafos, mas desconfio das percepçÔes alheias. Tenho medo de que pulem minhas linhas ou cheguem råpido demais ao ponto final. Não sei virar påginas, ainda que tenha as minhas viradas todos os dias. Onde existo inteira é fantasia da minha mente: o mundo não me enxerga e tampouco eu através dele. Sou um conto e nem sei se meu. Me conte aà pra ver se existo.
AĂ ele chega, tĂŁo lindo. E vai embora, tĂŁo feio. E liga, tĂŁo bobo. E some, tĂŁo especial. E eu morro, ainda que nĂŁo ligue a mĂnima. E eu nĂŁo tĂŽ nem aĂ, ainda que pense o tempo todo em nĂŁo estar nem aĂ
Me peguei pensando um absurdo que me fez feliz.
A certeza que amar enlouquecia, corroĂa, dava medo, dava um ciĂșme filho da mĂŁe, dava uma saudade idiota de mulherzinha romĂąntica, uma vontade besta de estar junto o tempo todo como uma mulherzinha sem vida prĂłpria.
SĂŁo tristes as manhĂŁs que prometem mais um dia sem ele, sĂŁo tristes as noites que cumprem a promessa.
Talvez ele me ame, sim, talvez ele me ame aquele pouquinho que eu estava buscando. De todos, talvez ele seja o Ășnico que pode me dar, se nĂŁo um pacote inteiro de rosquinhas, ao menos uma semicircunferĂȘncia. JĂĄ Ă© alguma coisa.
Eu sĂł queria que ele aparecesse, o homem que vai me olhar de um jeito que vai limpar toda a sujeira, o rabisco, o nĂł.
O homem que vai ser o pai dos meus filhos e nĂŁo dos meus medos.
Chega de ser metade aquecida, metade apreciada, metade conhecida, meio amada em histĂłrias pela metade.
Chega de sorrir para o que nĂŁo me contenta e me cobrar paciĂȘncia com um profundo respiro de indignação. PaciĂȘncia Ă© dom de amor aquietado, pobre, pela metade. Calma, raciocĂnio e estratĂ©gia sĂŁo dons de amor que pĂĄra para racionalizar. Amor que Ă© amor nĂŁo pĂĄra, nĂŁo tem intervalo, atropela.
NĂŁo caio na mesma vala de quem empurra a vida porque ela me empurra. Ela faz com que eu me jogue em cima de vocĂȘ, nem que seja para te espantar.
Melhor te ver correndo pra longe do que empacado em minha vida.
Eu nĂŁo tenho um portĂŁo para te esperar, como minha avĂł um dia esperou pelo meu avĂŽ e eles ficaram juntos por 70 anos. Talvez eu tambĂ©m seja engolida por esse mundo que cria tantas facilidades para a gente nĂŁo sofrer. Tenho medo de que tudo seja uma mentira e de verdade sinto que Ă©, mas ainda acordo feliz todos os dias esperando que ao menos vocĂȘ seja verdade.
Um dia vocĂȘ vai estar sozinho, vai fechar os olhos e tudo estarĂĄ negro. Os nĂșmeros de sua agenda passarĂŁo claramente na sua frente e vocĂȘ nĂŁo terĂĄ nenhum para discar. Sua boca vai tentar chamar alguĂ©m mas nĂŁo hĂĄ ninguĂ©m solidĂĄrio o bastante para sair correndo e te dar um abraço nem te colocar no colo ou acariciar seus cabelos atĂ© que o mundo pare de girar. Nessa fração de segundos, quando seus pĂ©s se perderem no chĂŁ vocĂȘ vai lembrar da minha ternura e do meu sorriso infantil. VirĂŁo sĂșbitas memĂłrias gostosas dos meus abraços e beijos, da minha preocupação com vocĂȘ, e sĂł vĂŁo ter algumas musicas repetindo no seu rĂĄdio: AS NOSSAS!
Em um novo momento vocĂȘ vai sentir um aperto uma pausa na respiração e vai torcer bem forte para ter nosso mundinho delicioso de novo, o nome disso Ă© saudade aquilo que eu tinha tanto e te falava sempre. E quando vocĂȘ finalmente discar meu numero, ele estarĂĄ ocupado demais, ou nem serĂĄ mais o mesmo, ou atĂ© eu nem queira mais te atender. E se vocĂȘ bater na minha porta ela estarĂĄ muito trancada, se aberta, mostrarĂĄ uma casa vazia. Teu olhos te ensinarĂŁo o que Ă© lĂĄgrimas, aquelas que eu te disse que ardiam tanto. O nome do enjoo que vocĂȘ vai sentir Ă© arrependimento , e a falta de fome que virĂĄ chama-se tristeza. EntĂŁo quando os dias passarem e eu nĂŁo te ligar, quando nada de bom te acontecer e ninguĂ©m te olhar com meus olhos encantados, vocĂȘ encontrarĂĄ a famosa solidĂŁo. A partir daĂ o que acontecerĂĄ chama-se surpresa e provavelmente o remĂ©dio para toda essa sensaçÔes acima Ă© o tal do tempo em que vocĂȘ tanto falava.
Eu conheço homens aqui e ali, mas nenhum me emociona, os que me emocionam se mostram loosers semanas depois.
Me traz vocĂȘ, por favor. Me traz e leva embora todas essas coisas chatas que sĂł servem para ocupar minhas horas enquanto vocĂȘ nĂŁo chega.
Eu nĂŁo faço a menor idĂ©ia do que vejo em vocĂȘ, mas tambĂ©m nĂŁo faço idĂ©ia do que nĂŁo vejo. Eu posso dar para um cara mais gostoso, como de fato jĂĄ fiz milhares de vezes. Mas por alguma razĂŁo prefiro suas piadas velhas e seu jeito homem de ser. VocĂȘ Ă© um idiota, uma criança, um bobo alegre, um deslumbrado, um chato. Mas vocĂȘ Ă© homem. E talvez seja sĂł por isso que eu ainda te aguente: vocĂȘ pode ter todos os defeitos do mundo, mais ainda Ă© melhor do que o resto do mundo.
Eu olhei para vocĂȘ com aquela sua jaqueta que te deixa com tanta cara de homem e me senti tĂŁo ao lado de um homem, que eu tive vontade de ser a melhor mulher do mundo.
E eu tive vontade de fazer ginĂĄstica, ler, ouvir todas as mĂșsicas legais do mundo, aprender a cozinhar, arrumar seu quarto, escrever um livro, ser mĂŁe.
E aà eu só olhei pra bem longe, muito além daquele Sol, e todo o meu passado se pÎs junto com ele. E eu senti a alma clarear enquanto o dia escurecia.
Eu, que sempre quis desfilar com a minha alegria para provar ao mundo que eu era feliz, sĂł quero me esconder de tudo ao seu lado.
Eu limpei minhas mensagens, eu deletei meus emails, eu matei meus recados, eu estrangulei minhas esperas, eu arregacei as minhas mangas e deixei morrer quem estava embaixo delas. Eu risquei de vez as opçÔes do meu caderninho, eu espremi a ĂĄgua escura do meu coração e ele se inchou de ar limpo, como uma esponja. Uma esponja rosa porque vocĂȘ me transformou numa menina cor-de-rosa.
VocĂȘ me transformou no eufemismo de mim mesma, me fez sentir a menina com uma flor daquele poema, suavizou meu soco, amoleceu minha marcha e transformou minha dureza em dança. VocĂȘ quebrou minhas pernas, me fez comprar um vestido cheio de rendas e babados, tirou as pedras da minha mĂŁo.
VocĂȘ diz que me quer com todas as minhas vĂrgulas, eu te quero como meu ponto final.
O ĂLTIMO
Aproveito para fechar de vez, para vocĂȘ, as portas do meu coração que de tanto pedir esmolas, estava virando bandido.
A mente Ă© automĂĄtica, viciada, comandada, acostumada, burra (âŠ) E Ă© por isso que quando ele, a pessoa que eu mais amei no mundo pois amei sem os bloqueios e sem a amargura que veio depois de tanto amor, me pede pra ficar, eu fico.
NĂŁo sou nenhuma inexperiente e nenhuma garotinha. Mas vocĂȘ me deixa desse jeito, como se tudo fosse a primeira vez.
Porque eu me sinto com esse gostosinho no peito vinte e cinco horas por dia. Me explica?
Traga um agasalho para esquentar a minha falta de amor e ganhe em troca um ingresso para a minha fidelidade.
Mas seus olhos nĂŁo mentem o cansaço da espera e a tristeza de estar solta, e vocĂȘ fica feia.
Ă ter a sensação de que ninguĂ©m te olha, pelo menos nĂŁo como vocĂȘ gostaria de ser olhada.
Estar sozinha Ă© estar solta e, no entanto, Ă© estar amarrada ao chĂŁo porque nada te faz flutuar, sonhar, divagar.
Estar sozinho, ou estar sozinha, pode acontecer com qualquer um. E vocĂȘ torce para que aconteça com a sua melhor amiga, ou com aquele homem que vocĂȘ gostaria de experimentar como uma pĂlula para a sua solidĂŁo.
Estar sozinha Ă© nĂŁo suportar ouvir a palavra solidĂŁo porque ela faz sentido. E o sentido dela dĂłi demais.
Estar sozinho Ă© ter uma risada nervosa, de quem segura um grito e um choro enquanto ri. Um riso falso para se convencer de que Ă© possĂvel ficar sozinho sem ficar deprimido.
Estar sozinho Ă© usar roupas provocantes sem se sentir sexy com elas. Ă conferir a caixa de e-mails com uma freqĂŒĂȘncia que beira a compulsĂŁo. Ă chorar do nada. Ă acordar do nada.
(…)
Estar Sozinho.
A primeira vez
VocĂȘ sempre me disse que sua maior mĂĄgoa era eu nunca ter escrito um texto sobre vocĂȘ. Nem que fosse te xingando, te expondo. Qualquer coisa.
VocĂȘ sempre foi o Ășnico homem que me amou. E eu nunca te escrevi nem uma frase num papelzinho amassado.
VocĂȘ sempre foi o Ășnico amigo que entendeu essa minha vontade de abraçar o mundo quando chega a madrugada. E o Ășnico que sempre entendeu tambĂ©m, depois, eu dormir meio chorando porque Ă© impossĂvel abraçar sequer alguĂ©m, o que dirĂĄ o mundo.
Outro dia eu encontrei um diĂĄrio meu, de 99, e lĂĄ estava escrito âhoje eu larguei meu namorado sentado e dancei com ele no baile de formaturaâ. Ele, no caso, Ă© vocĂȘ. Dei risada e lembrei que em todos esses anos, mesmo eu nunca tendo escrito nenhum texto para vocĂȘ, eu por diversas vezes larguei vĂĄrios namorados meus, sentados, e dancei com vocĂȘ. Porque vocĂȘ Ă© meu melhor companheiro de dança, mesmo sendo tĂmido e desajeitado.
Depois encontrei uma foto em que vocĂȘ estĂĄ com um daqueles Ăłculos escuros espelhados de maconheiro. E eu de calça colorida daquelas âbailarinaâ. E nessa Ă©poca vocĂȘ nĂŁo gostava de mim porque eu era a bobinha da classe. Mas eu gostava de vocĂȘ porque vocĂȘ tinha pintas e eu achava isso super sexy. E eu me achei ridĂcula na foto mas senti uma coisa linda por dentro do peito.
AĂ lembrei que alguns anos depois, quando eu jĂĄ nĂŁo era mais a bobinha da classe e sim uma estagiĂĄria metida a esperta que sĂł namorava figurĂ”es (uns babacas na verdade), vocĂȘ viu algum charme nisso e me roubou um beijo. Fingindo que ia desmaiar. Foi ridĂculo. Mas foi menos ridĂculo do que aquela vez, ainda na faculdade, que eu invadi seu carro e te agarrei a força. VocĂȘ saiu cantando pneu e ficou quase dois anos sem falar comigo.
Eu nĂŁo sei porque exatamente vocĂȘ nĂŁo mereceu um texto meu, quando me deu meu primeiro cd do VinĂcius de Morais. Ou quando me deu aquele com historinhas de crianças para eu dormir feliz. Ou mesmo quando, jĂĄ de saco cheio de eu ficar com vocĂȘ e com mais metade da cidade, vocĂȘ me deu aquele cartĂŁo postal da AmazĂŽnia com um tigre enrabando uma onça.
TambĂ©m nĂŁo sei porque eu nĂŁo escrevi um texto quando vocĂȘ apareceu naquela festa brega, me viu dançando no canto da mesa, e me disse a frase mais linda que eu jĂĄ ouvi na minha vida âeu sei que vocĂȘ nĂŁo gosta de mim, mas deixa eu te olhar mesmo assimâ.
Talvez eu devesse ter escrito um texto para vocĂȘ, quando eu te pedi a Ășnica coisa que nĂŁo se pede a alguĂ©m que ama a gente âme faz companhia enquanto meu namorado estĂĄ viajando?â. E vocĂȘ fez. E vocĂȘ me olhava de canto de olho, se perguntando porque raios fazia isso com vocĂȘ mesmo. Talvez porque mesmo sabendo que eu nĂŁo amava vocĂȘ, vocĂȘ continuava querendo apenas me olhar. E eu me nutria disso. Me aproveitava. Sugava seu amor para sobreviver um pouco em meio a falta de amor que eu recebia de todas as outras pessoas que diziam estar comigo.
Depois vocĂȘ começou a namorar uma menina e deixou, finalmente, de gostar de mim. E eu podia ter escrito um texto para vocĂȘ. Claro que eu senti ciĂșmes e senti uma falta absurda de vocĂȘ. Mas ainda assim, eu deixei passar em branco. Nenhuma linha sequer sobre isso.
Depois eu tambĂ©m podia ter escrito sobre aquele dia que vocĂȘ me xingou atĂ© desopilar todos os cantos do seu fĂgado. Eu fiquei numa tristeza sem fim. Depois pensei que a gente sĂł odeia quem a gente ama. E fiquei feliz. Pode me xingar quanto vocĂȘ quiser desde que isso signifique que vocĂȘ ainda gosta um pouquinho de mim.
Minhas piadas, meu jeito de falar, atĂ© meu jeito de dançar ou de andar. Tudo Ă© vocĂȘ. Minha personalidade Ă© vocĂȘ. Quando eu berro Strokes no carro ou quando eu faço uma amiga feliz com alguma ironia barata. Tudo Ă© vocĂȘ. Quando eu coloco um brinco pequeno ao invĂ©s de um grande. Ou quando eu fico em casa feliz com as minhas coisinhas. Tudo Ă© vocĂȘ. Eu sou mais vocĂȘ do que fui qualquer homem que passou pela minha vida. E eu sempre amei infinitamente mais a sua companhia do que qualquer companhia do mundo, mesmo eu nunca tendo demonstrado isso. E, ainda assim, nunca, nunquinha, eu escrevi sequer uma palavra sobre vocĂȘ.
AtĂ© hoje. AtĂ© essa manhĂŁ. Em que vocĂȘ, pela primeira vez, foi embora sem sentir nenhuma pena nisso. Foi a primeira vez, em todos esse anos, que vocĂȘ simplesmente foi embora. Como se eu fosse sĂł mais uma coisa da sua vida cheia de coisas que nĂŁo sĂŁo ela. E que vocĂȘ usa para nĂŁo sentir dor ou saudade. Foi a primeira vez que vocĂȘ deixou eu te olhar, mesmo vocĂȘ nĂŁo gostando de mim.
E foi por isso, porque vocĂȘ deixou de ser o menino que me amava e passou a ser sĂł mais um que me usa, que vocĂȘ, assim como todos os outros, mereceu um texto meu.
E consegue tudo de mim. Consegue atĂ© o que ninguĂ©m nunca conseguiu: me deixar leve. Sabe rir mole de bobeira? Sabe dançar idiota de alegria? Sabe dormir gemendo de saudade? Sabe tomar banho sorrindo para a sua pele? Sabe cantar bem alto para o mundo entender? Sabe se achar bonita mesmo de pijama e olheiras? Sabe ter Ăąnsia de vĂŽmito segundos antes de vĂȘ-lo e ter fome de mundo segundos depois de abraçå-lo? Sabe nĂŁo aguentar? Sabe sobrevoar o frio, o cinza, os medos, os erros e tudo que pode dar errado?
E eu acabo de descobrir, simples assim, a Ășnica maneira de me livrar desse sentimento: aceitando ele, parando de querer ganhar dele.
JĂĄ sei o que Ă© sofrer, agora posso viver sem medo porque descobri que eu nĂŁo morro.
Eu nĂŁo preciso controlar a vida, meus hormĂŽnios, meu futuro, os outros, minha felicidade. Eu sĂł preciso levar a vida, eu sĂł preciso desfocar do sonho que me deixa mĂope e enxergar alĂ©m, ou melhor: enxergar o que estĂĄ na minha cara. Ver o quanto o resto todo jĂĄ Ă© perfeito e estĂĄ lĂĄ, eu jĂĄ conquistei, Ă© meu.
Antes de dormir rezei, mas dessa vez nĂŁo pedi o moço de cavalo branco… apenas agradeci por estar me sentindo tĂŁo inteira, feliz, em paz e, principalmente, por nĂŁo precisar de ninguĂ©m ao meu lado para estar bem.
E a gente vai por aĂ, se completando assim, meio torto mesmo. Ă Deus escrevendo certo pelas nossas linhas que, se nĂŁo fossem tĂŁo tortas, nĂŁo teriam se cruzado.
Ă fĂĄcil, basta vocĂȘ querer, eu ainda quero tanto.
NĂłs nunca vamos casar, ele nunca vai conhecer meus pais e eu sei que divido o seu amor com as garotas pagas. NĂŁo tem ilusĂŁo, nĂŁo tem meiguices, nĂŁo tem roupinha rosa com babados. Ă preto no branco. Ă sofrimento puro. Ă o pior namoro do mundo. Mas como diria minha mĂŁe âquando essa menina decide uma coisa…â.
Com vocĂȘ e todo esse amor, eu consigo apenas me largar pelos cantos
assustada. Isso Ă© vida? Eu nĂŁo quero andar duas quadras no sol com vocĂȘ.
Porque te amar assim, me dĂĄ medo de enfartar ou da minha pressĂŁo cair. NĂŁo
sei. Eu quero deitar e esperar passar tudo. Eu quero te olhar deitada
enquanto seguro um copo com ĂĄgua de coco geladinha. Porque vocĂȘ nĂŁo
sabe, mas tenho corrido maratonas e vencido monstros gigantescos para
conseguir sentir tudo isso sem arrancar minha cabeça fora. E quando vocĂȘ,
ao invés de me esperar no pódio de chegada com pomadas e isotÎnicos, me
olha desconfiado ou entediado de tudo, eu quase desejo que dessa vez eu
morra no meio da corrida. Porque Ă© ridĂculo achar que vocĂȘ faz tudo valer a
pena, mas, no fundo, acabo achando que vocĂȘ faz tudo valer a pena. Isso Ă©
vida?
Ăs vezes eu acho que alugar uma apartamento cheio de posteres de cinema, almofadas coloridas e festinhas com amigos bacanas e mĂșsicas boas resolveria o meu problema. Me entupiria do meu mundo a ponto de eu parar de sentir falta de mim.
A gente se reconheceu de longa data quando se viu pela primeira vez na vida.
Meu silĂȘncio Ă© o grito mais alto que alguĂ©m jĂĄ deu.
Minha fome Ă© sobrevivĂȘncia, minha vontade Ă© mecĂąnica, minha beleza Ă© esforço, meu brilho Ă© choro, meus dias sĂŁo pontes para os dias de verdade que virĂŁo quando essa dor acabar, meus segundos sĂŁo sentidos em milĂ©simos de segundos, o tempo simplesmente nĂŁo passa.
Ăs vezes tento nĂŁo ser eu, porque se eu nĂŁo for eu, eu nĂŁo sentirei essa dor. Mas o amor Ă© tanto que atĂ© as outras todas que eu posso ser tambĂ©m o sentem.
Tenho vontade de perguntar baixinho: vocĂȘ nĂŁo gosta nem um pouquinho de mim? Nem sequer um tiquinho? Olha sĂł: eu tenho os dedinhos do pĂ© bem estranhos. Eles nĂŁo sĂŁo absurdamente merecedores de amor?
E lĂĄ estou eu achando que vocĂȘ pode ser um forte candidato a homem da minha vida. LĂĄ estou eu acreditando que exista um homem da minha vida.
NĂŁo se parece em nada com algo prestes a acabar.
E sua cara de sonso despretensioso para a vida, enquanto eu coleciono rugas, berros e inchaços. A sua cara de que “nĂŁo Ă© comigo” vai muito bem com a minha mĂĄscara da agressividade que acredita que tudo Ă© comigo.
Ă uma pena correr com pulinhos enganados de felicidade e levar uma rasteira.
Me recordei rapidamente de todas as pessoas e coisas que perdi por ainda nĂŁo estar preparada para elas, ou por ainda ter muita curiosidade de mundo e dificuldade em ser permanente.
Depois de ter dado sete voltas pela casa eu continuo achando que vocĂȘ Ă© o melhor que tem aqui. Quer ir ou nĂŁo?
– Assim?
– VocĂȘ quer que eu diga que te amo?
Eu quero nĂŁo sentir. Quero ver a vida em volta, sem sentir nada. Quero ter uma emoção paralĂtica. SĂł rir de leve e superficialmente. Do que tiver muita graça. E talvez escorrer uma lĂĄgrima para o que for insuportĂĄvel. Mas tudo meio que por osmose. Nada pessoal. Algo tipo fantoche, alguĂ©m que enfie a mĂŁo por dentro de mim, vez ou outra, e me cause um movimento qualquer. Quero nĂŁo sentir mais porra nenhuma.
Eu tenho medo de esquentar em vocĂȘ e nunca mais fugir do frio. Mas ainda estĂĄ frio. EntĂŁo se eu tremer nĂŁo fala nada, continua me olhando como se fĂŽssemos velhos amigos do mesmo disco voador que trouxe a gente pra esse mundo de pessoas que nĂŁo tremem.
Aos poucos fui lavando meu cĂ©rebro de vocĂȘ, e torcendo para os restos da limpeza caĂrem no meu coração, acabando de vez com o serviço.
Fui trabalhando meu corpo para esvaziar todas as suas pistas da minha histĂłria.
A maior felicidade para mim é sentir uma coceguinha de proteção no centro do meu estÎmago, uma borboletinha da alegria, uma paz imensa que emana do meu centro esquentando até os dedos do pé e os fios de cabelo.
Não quero mais ser feliz. Nem triste. Nem nada. Eu quis muito mandar na vida. Agora, nem chego a ser mandada por ela. Eu simplesmente me recuso a repassar a história, seja ela qual for, pela milésima vez. Deixa a vida ser como é. Desde que eu continue dormindo.
“Porque, quando vocĂȘ estĂĄ com medo da vida, Ă© na minha mania de rir de tudo que vocĂȘ encontra forças. E, quando vocĂȘ estĂĄ rindo de tudo, Ă© na minha neurose que encontra um pouco de chĂŁo. E, quando precisa se sentir especial e amado, Ă© pra mim que vocĂȘ liga. E, quando estĂĄ longe de casa gosta de ouvir minha voz pra se sentir perto de vocĂȘ. E, quando pensa em alguĂ©m em algum momento de solidĂŁo, seja para chorar ou para ter algum pensamento mais safado, Ă© em mim que vocĂȘ pensa.”
Cansei de quem gosta como se gostar fosse mais uma ferramenta de marketing. Gostar aos poucos, gostar analisando, gostar duas vezes por semana, gostar atĂ© as duas e dezoito. Cansei de gente que gosta como pensa que Ă© certo gostar. Gostar Ă© essa besta desenfreada mesmo. E nĂŁo tem pensar. E arrepia o corpo inteiro, mas vocĂȘ nĂŁo sabe se Ă© defesa para recuar ou atacar. Eu eu gosto de vocĂȘ porque gostar nĂŁo faz sentido.
Hoje, depois de muito tempo, eu acordei e nĂŁo me olhei no espelho. Eu nĂŁo precisei confirmar se eu era bonita. Eu acordei tendo certeza.
“Sou a princesa no alto do meu castelo.NĂŁo tenho tranças pra jogar mas tenho e -mail e celular.”
Vou ver novela. TĂĄ decidido. Uma preguiça em arrumar homem. Novela pelo menos avisa âĂ© a Ășltima semana!â. Homem some no auge da primeira.
Se eu sinto falta do seu amor? Como posso sentir falta se ele nunca existiu, nem sei que cara ele teria, nem sei que cheiro ele teria. NĂŁo existiu morte para o que nunca nasceu.
Eu tinha visto na sua solidĂŁo uma excelente amiga para a minha solidĂŁo. Eu achei que elas pudessem sofrer juntas, enquanto a gente se divertia!
‘Seja eu e por favor veja o que dĂĄ pra fazer com isso. Porque eu nĂŁo sei.’
” VocĂȘ diz que me quer com todas as minhas vĂrgulas, eu te quero como meu ponto final.”
Eu não faço desfile de moda todos os segundos do meu dia porque me acho bonita sem precisar de chapinha, salto alto e peito de pomba.
Eu tenho pena das mulheres que correm o tempo todo atrås de se tornarem a melhor fruta de uma feira. Pra depois serem apalpadas e terem seus bagaços cuspidos.
VocĂȘ tem cheiro de roupa limpinha com mente suja e eu quero te rasgar inteiro. Mas apenas te dou um beijinho no rosto. Preciso me comportar.
A vida Ă© uma imagem que nĂŁo diz nada, mas nos aquece de alguma maneira.
“-Eu nĂŁo te ligo. Apenas estou te ligando. Eu nĂŁo bebo. Apenas estou
bebendo. Eu nĂŁo lembro que vocĂȘ existe. Apenas estou lembrando.”
Eu amo e acredito em mim e na vida.
Eu quero que dĂȘ certo, nĂŁo estraga, por favor. NĂŁo estraga nĂŁo estraga nĂŁo estraga. Posso pĂŽr um post-it na sua carteira? Mesmo que a gente nĂŁo fique juntos pra sempre. Mesmo que acabe semana que vem. Nunca destrua o meu carinho por vocĂȘ.
Eu limpei minhas mensagens, eu deletei meus emails, eu matei meus recados, eu estrangulei minhas esperas, eu arregacei as minhas mangas e deixei morrer quem estava embaixo delas. Eu risquei de vez as opçÔes do meu caderninho, eu espremi a ågua escura do meu coração e ele se inchou de ar limpo, como uma esponja.
Ficar comigo, só comigo. E sorrir pensando que um dia alguém tão bacana quanto eu poderia se deitar ao meu lado pra gente ser tão especial juntos.
NĂŁo me deixe mais paquerar qualquer cara bobo, mal vestido, sem assunto e sem magia sĂł porque preciso de algum bosta me ligando pra me sentir mais mulher. Isso Ă© coisa de gente imoral, de gente com mais medo da solidĂŁo do que o auge do meu medo da solidĂŁo. NĂŁo me deixe mais confundir amor com ego e ficar aprisionada tantos bons anos num rapaz tĂŁo comum. Comum ao ponto de eu querer ser tĂŁo comum quanto ele sĂł porque, para mim, isso Ă© ser diferente.
“As coisas que sinto quase nunca parecem as que temos oficializadas em dicionĂĄrios. E entĂŁo me pergunto como escrevo. “
No vazio cabe um monte de coisa, mas nenhuma se encaixa. Todas deslizam pelo rio de lĂĄgrimas que inundam todos os meus andares vazios. A hora que eu chorar, vai ser o choro mais triste do mundo.
Atiram a gente nesse mundo, nosso coração sente um monte de coisa desordenada, nosso cérebro pensa um monte de absurdo. E a gente ainda precisa ser super equilibrada para ganhar alguma coisa da vida. Como se só por estar aqui, aturando tanta maluquice, a gente jå não devesse ganhar aà um desconto para também ser louco de vez em quando.
Prefiro ser perseguida pelo meu desejo, que nĂŁo tem dia para acabar, do que ser abandonada mais uma vez pelo seu, que dura no mĂĄximo uma noite.
A verdade Ă© que nĂŁo dĂĄ para fugir da dor, e eu continuo correndo, correndo, correndo e nĂŁo saindo do mesmo lugar”
E eu escrevo um parĂĄgrafo e corro pra ver se tem e-mail.
E eu escrevo uma linha e corro pra ver se tem mensagem de texto.
E eu nĂŁo escrevo nada e tambĂ©m nĂŁo corro, apenas deixo vocĂȘ chegar
aqui do meu lado, em pensamento. E me pego sorrindo, sozinha.
E me pego nem aĂ para todo o resto.
Mas sabe o que acontece enquanto isso? Enquanto eu nĂŁo me movo
porque estou lotada de vocĂȘ e me mover pesa demais?
O mundo acontece. O mundo gira. As pessoas importantes assinam
contratos, ganham dinheiro. As pessoas simples lutam por um lugar
na condução, um lugar no mundo. Estão todos lutando. Estão todos
ganhando dinheiro. EstĂŁo todos fazendo algo mais importante e
mais maduro do que suspirar como uma idiota e sĂł pensar em vocĂȘ.
Eu tenho muita inveja dessas pessoas maravilhosas, adultas,
evoluĂdas e espertas que conseguem separar a hora de ir a uma
reuniĂŁo de condomĂnio com a hora de desejar alguĂ©m na escada do
condomĂnio. A hora de marcar o dentista com a hora de engolir alguĂ©m.
A hora de procurar a palavra “macambĂșzio” no dicionĂĄrio com a hora de
se perder com as suas palavras que de tĂŁo simples parecem complexas.
A hora de ser inteira e a hora de catar meus pedaços pelo mundo
enquanto vocĂȘ dĂĄ sinais desmembrados.
Eu nĂŁo consigo nada disso, eu me embanano toda, misturo tudo,
bagunço tudo.
A minha Ășnica dĂșvida Ă© se sou a Ășnica idiota a fazer isso comigo
ou se sou a Ășnica idiota a admitir que faço isso comigo.
NĂŁo seja idiota, nĂŁo deixe isso se perder, virar poeira, virar nada.
Sei que vocĂȘ nĂŁo compreende o que digo , mas compreenda que eu tambĂ©m nĂŁo compreendo.*
Tem que dançar charmoso, ser irĂŽnico, ser calmo, porĂ©m macho (ou seja, nĂŁo explodir por nada, mas tambĂ©m nĂŁo calar por tudo). Tem que ser meio artista, mas tambĂ©m ter que saber cuidar dos meus problemas burocrĂĄticos. Tem que amar tudo o que eu escrevo e me olhar com aquela cara de “essa mulher Ă© Ășnica”.
…Mas amor, vocĂȘ sabe, amor nĂŁo se pede. Amor se declara: sabe de uma coisa? Ele sabe, ele sabe.
Foi entĂŁo que eu descobri. Ele estĂĄ exatamente no mesmo lugar que eu agora, pensando as mesmas coisas, com preguiça de ir nos mesmos lugares furados e ver gente boba, com a mesma dĂșvida entre arriscar mais uma vez e voltar pra casa vazio ou continuar embaixo do edredom lendo mais algumas pĂĄginas do seu mundo perfeito. A verdade Ă© que as pessoas de verdade estĂŁo em casa. NĂŁo Ă© triste pensar que quanto mais interessante uma pessoa Ă©, menor a chance de vocĂȘ vĂȘ-la andando por aĂ? […] ‘
“E lembro da primeira vez que eu te vi e te achei meio feio, vesgo, estranho. AtĂ© que vocĂȘ me suspendeu no ar por razĂŁo nenhuma eu tive certeza que meu filho nasceria um pouco feio, vesgo e estranho.”
“eu nĂŁo me culpo pela minha pressa em ficar. E eu nĂŁo te culpo pela sua pressa em ir.”
Eu sempre fui sua. Eu jĂĄ era sua antes mesmo de saber que vocĂȘ um dia nĂŁo ia me querer.
Mas dessa vez to ignorando o telefone. Mesmo que ele fique no meio das minhas pernas o dia todo esperando um telefonema seu. Mas vocĂȘ jamais vai saber disso.
Pessoas são interessantes só na minha imaginação. A partir do momento que elas passam a ter vida própria, sinto vontade de jogå-las pela minha janela.
Pode parecer maluco, mas todas as minhas sĂșplicas para que vocĂȘ desista de mim, Ă© um jeito maluco de pedir que vocĂȘ nĂŁo desista nunca, pelo amor de Deus.
Porque me jogar pelos cantos e suspirar vocĂȘ Ă© sĂł o que eu consigo fazer.
E eu vou topar. NĂŁo porque seja uma idiota, nĂŁo me dĂȘ valor ou nĂŁo tenha nada melhor pra fazer. Apenas porque vocĂȘ me lembra o mistĂ©rio da vida. Simplesmente porque Ă© assim que a gente faz com a nossa prĂłpria existĂȘncia: nĂŁo entendemos nada, mas continuamos insistindo.
Cansei dessa gente que me olha de canto de olho. Como se eu fosse louca por gostar assim da vida.
Eu preciso sentir que vocĂȘ ainda sente, eu preciso que o seu coração dĂȘ um choque no meu, eu preciso saber que seu peito ainda aperta um pouco quando eu vou embora e se espalha como borboletas nas veias quando eu chego.
Ele me aperta como sempre, atĂ© que algum ossinho da minha coluna estale, e me diz, como sempre tambĂ©m: “Que Ă© que vocĂȘ tem que eu sempre largo tudo e venho te ver?
Ele me achar fresca e uma barrinha de cereal sabor artificial de banana tem o mesmo poder sobre mim. Nenhum.
VocĂȘ sempre me deixa, mesmo ficando colado comigo.
Agora é outra que se perde em ombros tão largos, tomara que ela não se perca tanto ao ponto de um dia não enxergar o quanto aquele abraço é o lado bom da vida.
EntĂŁo vocĂȘ quer se demitir do amor? Isso mesmo, querido chefe coração. Eu quero desaparecer daqui. Quero que vocĂȘ se exploda. Veja bem. Um dia lindo lĂĄ fora. Quinhentas coisas pra fazer. E eu presa aqui o tempo todo. Nessa salinha mofada. Trabalhando vinte e cinco horas por dia sem dormir, sem ver a luz do dia e sem ganhar nada por isso. Vivo exausta e abatida. Chega. Isso Ă© trabalho escravo. VocĂȘ me deve fĂ©rias hĂĄ anos. VocĂȘ sempre me garante que agora, agora finalmente Ă© a minha vez.
Eu diria: menina, amar a dĂșvida, o silĂȘncio, a ingratidĂŁo, o fim, o atraso, a invenção, a lacuna, o pode ser, as hipĂłteses, a nĂŁo resposta, a raiva, o absurdo, o nĂŁo, a impossibilidade, o depois que foi, o antes de chegar, o difĂcil, o pode nĂŁo, amar essas coisas, menina, Ă© amar o mistĂ©rio e nĂŁo um homem.
Tudo bem: nĂŁo Ă© a primeira vez que vocĂȘ se sente tĂŁo perdida, usada, burra e sozinha.
Nada muda no mundo quando vocĂȘ nĂŁo caminha ao meu lado, as pessoas quase nĂŁo percebem que falta metade do meu corpo.
Deixar a dor vir Ă© como receber o jornal de amanhĂŁ com notĂcias velhas.
O nome disso Ă© saudade, aquilo que eu tinha tanto, e te falava sempre.
dar nĂŁo Ă© fazer amor
Peço licença ao meu ódio tão feio e tão infinito para te amar só mais uma vez
Se o mundo for justo, se o mundo for realmente justo, um dia vou estar ocupada demais pra viver tĂŁo ofendida com pessoas que desfilam amores como se fossem sacolinhas de farmĂĄcia.
AĂ eu tomo um banho bem quente, pra te espantar da minha pele. E canto bem alto, pra te espantar da minha alma. E escovo minha lĂngua bem forte, pra separar seu gosto do meu. E quase vomito, pra parir vocĂȘ do meu fĂgado.
Eu tento, juro que tento. Mas a droga do romance nĂŁo me deixa em paz.
Ă mais feliz gostar, amar Ă© pra quem pode.
Eu te dei as chances, vocĂȘ as desperdiçou.
Peço a Deus para que eu nunca desista de te odiar tanto assim, porque nĂŁo pode existir Ăłdio mais cheio de borboletas, notas musicais e passarinhos azuis…
Com um inĂcio de perder o fĂŽlego, mas com um eterno trĂȘs pontinhos num final que nem existe.
Os trĂȘs pontinhos sĂŁo o que me matam, ponto final seria a dureza clara e o fim da histĂłria, trĂȘs pontinhos sĂŁo o que me matam.
SĂł para enganar o cara da mesa ao lado que vocĂȘ Ă© meu dono. Eu vou deixar. Vai que um dia vocĂȘ acredita.
VocĂȘ Ă© tĂŁo errado e cheio de estragos. E me peguei olhando pra tudo isso e amando tanto, tanto, tanto. Como se nada mais no mundo fosse tĂŁo bonito ou correto ou mesmo perfeito porque perfeito Ă© o que nĂŁo tem mesmo cabimento. O resto nem existe porque vemos ou explicamos.
Passamos a tarde juntos. Foi leve e eu estava quieta, coisa que nunca aconteceu nenhuma das vezes que saĂmos. Eu estava sempre histĂ©rica e hoje eu estava muito quieta, atĂ© demais. Talvez seja porque eu nĂŁo tenho mais a euforia louca de ser amada. Eu piro quando alguĂ©m me ama e ao ver em vocĂȘ a calmaria dos vencedores corriqueiros, larguei o corpo. Acabou sendo boa, a sensação de tarde ordinĂĄria, encontro ordinĂĄrio.
E o Ășnico jeito de ser mais malandro que a tristeza Ă© sendo cĂnico. E lĂĄ vai a garota. Comprar pĂŁo quente com seu cinismo. Comprar absorvente com seu cinismo. Amar com seu cinismo. Porque sĂł o cinismo vence a tristeza. Porque sĂł o cinismo Ă© mais triste do que a tristeza. E eu virei um muro alto feito de pedras cheias de pontas. Tudo isso sĂł porque eu quero tanto um pouco de carinho que acabei ficando com medo de nĂŁo ganhar.
Amar dĂłi tanto que vocĂȘ volta a lembrar que existe algo maior, vocĂȘ se lembra de Deus, vocĂȘ se lembra de vida apĂłs a morte. Amar dĂłi tanto que vocĂȘ fica humilde e olha de verdade para o mundo, mas ao mesmo tempo fica gigante e sente a dor da humanidade inteira. Amar dĂłi tanto que nĂŁo dĂłi mais, como toda dor que de tĂŁo insuportĂĄvel produz anestesia prĂłpria.
NĂŁo sei se era vocĂȘ, veja bem, te vejo a todos os instantes saindo e entrando de todo e qualquer lugar e nunca, nunca, Ă© vocĂȘ. Ăs vezes sĂŁo atĂ© mesmo umas pessoas bem feias e diferentes e impossĂveis de te lembrar. Mas tudo lembra e assim sigo te vendo por toda parte a todos os instantes.
AĂ eu tomo um banho bem quente, pra te espantar da minha pele. E canto bem alto, pra te espantar da minha alma. E escovo minha lĂngua bem forte, pra separar seu gosto do meu. E quase vomito, pra parir vocĂȘ do meu fĂgado. E tento ser prĂĄtica e parar de suspirar. E tento abrir a geladeira sem me perguntar o que eu poderia comprar pra te agradar. E tento me vestir sem carregar a esperança de esbarrar com vocĂȘ por aĂ. E tento ouvir uma mĂșsica sem lembrar que vocĂȘ gosta de se esfregar de lado em mim. E tento colocar uma simples calcinha e nĂŁo uma bala perdida pronta pra acertar vocĂȘ. E tento ser sĂł eu, simplesmente eu, novamente, sem esse morador pentelho que resolveu acampar em mim. E nada disso adianta. E o esforço pra nĂŁo fazer nada disso jĂĄ Ă© fazer tudo isso.
Por que raios a gente tem de romantizar qualquer demonstração de carinho de um homem se na maioria dos casos eles só querem nos comer?
E por que ficamos tĂŁo putas se eles apenas nos comem e caem fora?
Quem disse que eles sĂŁo obrigados a nos amar eternamente sĂł porque conheceram de perto a nossa beleza interior? E, finalmente: que mal hĂĄ em sermos gostosas e os homens quererem nos comer?
Por que isso parece ofensivo? Por que nos sentimos usadas se ambos estĂŁo lĂĄ de livre e espontĂąnea vontade?
Quando a gente foi ver o pÎr do sol na praia, e a gente ficou abraçado,e a gente se achou brega demais, e a gente morreu de rir, eu senti um daqueles segundos de eternidade que tanto assustam o nosso coração acostumado com a fugacidade segura dos sentimentos superficiais.
Eu olhei para vocĂȘ com aquela sua suĂ©ter que te deixa com tanta cara de homem e me senti tĂŁo ao lado de um homem, que eu tive vontade de ser a melhor mulher do mundo.
E eu tive vontade de fazer ginĂĄstica, ler, ouvir todas as mĂșsicas legais do mundo, cozinhar, arrumar seu quarto, escrever um livro, ser mĂŁe.
E aà eu só olhei pra bem longe, muito além daquele Sol, e todo o meu passado se pÎs junto com ele.
E eu senti a alma clarear enquanto o dia escurecia (…)
Mas a lição que eu aprendi no såbado é que não vale a pena consertar um carro pela décima vez. à mais fåcil comprar um novo e fim de papo. Afinal, eu bem que tentei consertar meu relacionamento com todas essas pessoas e só ganhei mais e mais poses e menos e menos verdades. Ainda que doa deixar pessoas morrerem, se agarrar a elas é viver mal assombrado.
E eu corro no espelho de novo e repito cem vezes que nĂŁo gosto de vocĂȘ. NĂŁo gosto de vocĂȘ. NĂŁo gosto de vocĂȘ. Porque se eu gostar de vocĂȘ, eu sei que vocĂȘ vai embora. E eu simplesmente nĂŁo agĂŒento mais ninguĂ©m indo embora. Porque nessa vida maluca sĂł se dĂĄ bem quem ignora completamente a brevidade da vida e brinca de nĂŁo estar nem aĂ para o amor. E eu preciso me dar bem e por isso ignoro minha urgĂȘncia pelo amor. Porque, se vocĂȘ sentir urgĂȘncia em mim, vai Ă© correr urgente daqui. Chega!
As coisas sĂŁo como sĂŁo. Na hora certa.
Ri. Sente tesĂŁo. Acha o mundo ridĂculo e feliz. Lembra que tava boa a vida procurando. Encontrar dĂĄ medo, preguiça e uma sensação estranha de estar se perdendo. SerĂĄ que eu vou querer namorar essa louca? SerĂĄ que essa louca vai querer namorar comigo? (…)
Ele quer sentir o frio na barriga, o nervoso pra saber se ela vai atender ou nĂŁo. NĂŁo seja fĂĄcil, minha filha. (…)
Ele gosta dela. NĂŁo tem mais como fugir. Ă, da medo. Ela deve estar com medo tambĂ©m. Gostar Ă© começar o inferno tudo de novo.
NinguĂ©m acredita na gente: nenhum cartomante, nenhum pai-de-santo, nenhuma terapeuta, nenhum parente, nenhum amigo, nenhum e-mail, nenhuma mensagem de texto, nenhum rastro, nenhuma reza, nenhuma fofoca e, principalmente (ou infelizmente): nem vocĂȘ. Mas eu te amo tambĂ©m do jeito mais Ăłbvio de todos: eu te amo burra. EstĂșpida. Cega. E eu acredito na gente. (…) Amo vocĂȘ, mesmo sem vocĂȘ me amar. (…) amo o nada que sempre vem depois disso.
Ă triste saber que falta alguma coisa e saber que nĂŁo dĂĄ pra comprar, substituir, esquecer, implorar. Mas amor, vocĂȘ sabe, amor nĂŁo se pede.
Parei, talvez, de odiar o amor. Mas o amor, na verdade, ficou lå. Duro que nem pedra. Daqueles que não vão embora nem com reza brava. Amor adolescente, pensei. Com certeza, se eu virar mulher, esse amor bobinho passa. Amor de menina boba. Tratei, então, de virar mulher. Quem sabe mudando de casa, esse amor não se mudava de mim? Nada feito. Casa nova, cama nova, novas contas pra pagar. E o mesmo coração idiota. O mesmo amor de sempre. Coisa chata, não?
NĂŁo quero que vocĂȘ me largue. NĂŁo quero te largar. NĂŁo quero ter motivos pra ir embora, pra te deixar falando sozinho, pra bater o telefone na sua cara… Eu fiz isso com todos os outros. Ă, sĂł que dessa vez eu queria muito que fosse diferente. Dessa vez, com vocĂȘ, eu queria (quero!) que desse certo.
Eu tĂŽ sempre indo embora, mas aĂ vai um super clichĂȘ: Ă© de tanto que eu sĂł queria ficar. E queria que vocĂȘ nĂŁo achasse que sou sempre louca, ainda que eu seja.
Eu, que sempre quis desfilar com a minha alegria para provar ao mundo que eu era feliz, sĂł quero me esconder de tudo ao seu lado.
Nada em mim Ă© passivo. Tudo em mim fura, arrebenta, endurece, estoura na cara dos outros. Isso Ă© ser mulher? Me diz!
Tantas garrafas, tantas viagens, tantos amores, oh Deus, que sereno inferno esse de lembrar o bom de antes quando nem sabĂamos que acharĂamos bom um dia. E seria? Cuidado, o Tempo mascara o duro.
De novo, de novo, eu nĂŁo canso. De novo fazendo romance em cima de um conto breve.
Colabora, pĂŽ. TĂĄ tĂŁo fĂĄcil me ganhar, basta fazer tudo pra me perder.
Se vocĂȘ nĂŁo ligar nunca mais, eu vou ficar triste, igual fiquei semana passada porque outro nĂŁo ligou, igual fiquei semana retrasada porque outro sumiu. Igual eu vivo ficando chateada e vive passando. Eu tenho prostituĂdo demais a minha espera. E as coisas parecem perder a importĂąncia toda hora. O problema Ă© que, para perder a importĂąncia toda hora, toda hora vivem ganhando importĂąncia, e eu estou ficando cansada.
O mau elemento
Eu olho pra sua tatuagem e pro tamanho do seu braço e pros calos da sua mĂŁo e acho que vai dar tudo certo. Me encho de esperança e nada. Vem vocĂȘ e me trata tĂŁo bem. Estraga tudo.Mania de ser bom moço, coisa chata.
Eu nunca mais quero ouvir que vocĂȘ sĂł tem olhos pra mim, ok? E nem o quanto vocĂȘ Ă© bom filho. Muito menos o quanto vocĂȘ ama crianças. E trate de parar com essa mania horrĂvel de largar seus amigos quando eu ligo. Colabora, pĂŽ. TĂĄ tĂŁo fĂĄcil me ganhar, basta fazer tudo pra me perder.
E lĂĄ vem ele dizer que meu cabelo sujo tem cheiro bom. E que jĂĄ que eu nĂŁo liguei e nĂŁo atendi, ele foi dormir. E que segurar minha mĂŁo jĂĄ basta. E que ele quer conhecer minha mĂŁe. E que viajar sem mim Ă© um final de semana nulo. E que tudo bem se eu sĂł quiser ficar lendo e nĂŁo abrir a boca.
Com tanto potencial pra acabar com a minha vida, sabe o que ele quer? Me fazer feliz. Olha que desgraça. O moço quer me fazer feliz. E acabar com a maravilhosa sensação de ser miserĂĄvel. E tirar de mim a Ășnica coisa que sei fazer direito nessa vida que Ă© sofrer. Anos de aprimoramento e ele quer mudar todo o esquema. O moço quer me fazer feliz. Veja se pode.
NĂŁo dĂĄ, assim nĂŁo dĂĄ. Deveria ter cadeia pra esse tipo de elemento daninho. Pior Ă© que vicia. NĂŁo Ă© que acordei me achando hoje? Agora neguinho me trata mal e eu nĂŁo deixo. Agora neguinho quer me judiar e eu mando pastar. Dei de achar que mereço ser amada. Veja se pode. Anos nos servindo de capacho, feliz da vida, e aĂ chega um desavisado com a coxa mais incrĂvel do paĂs e muda tudo. AtĂ© assoviando eu tĂŽ agora. Que desgraça.
Ontem quase, quase, quase ele me tratou mal. Foi por muito pouco. Eu senti que a coisa tava vindo. Cruzei os dedos. Cheguei a implorar ao acaso. Vai, meu filho. Só um pouquinho. Me xinga, vai. Me då uma apertada mais forte no braço. Fala de outra mulher. Atende algum amigo retardado bem na hora que eu tava falando dos meus medos. Manda eu calar a boca. Sei lå. Faz alguma coisa homem!
E era piada. Era piadinha. Ele fez que tava bravo. E acabou. Jå veio com o papo chato de que me ama e começou a melação de novo. Eita homem pra me beijar. Coisa chata.
Minha mãe deveria me prender em casa, me proteger, sei lå. Onde jå se viu andar com um homem desses. O homem me busca todas as vezes, me espera na porta, abre a porta do carro. Isso quando não me suspende no ar e fala 456 elogios em menos de cinco segundos. Pra piorar, ele ainda tem o pior dos defeitos da humanidade: ele esqueceu a ex namorada. Depois de trinta anos me relacionando só com homens obcecados por amores antigos, agora me aparece um obcecado por mim que nem lembra direito o nome da ex. Fala se tão de sacanagem comigo ou não? Como é que eu vou sofrer numa situação dessas? Como? Me diz?
Durmo que Ă© uma maravilha. A pele estĂĄ incrĂvel. A fome voltou. A vida tĂĄ de uma chatice Ămpar. AlguĂ©m pode, por favor, me ajudar? Existe terapia pra tentar ser infeliz? Outro dia atĂ© me belisquei pra sofrer um pouquinho. Mas o desgraçado correu pra assoprar e dar beijinho.
Pode me xingar quanto vocĂȘ quiser desde que isso signifique que vocĂȘ ainda gosta um pouquinho de mim. Minhas piadas, meu jeito de falar, atĂ© meu jeito de dançar ou de andar. Tudo Ă© vocĂȘ. Minha personalidade Ă© vocĂȘ. Quando eu berro Fresno no carro ou quando eu faço um amigo feliz com alguma ironia barata. Tudo Ă© vocĂȘ. Quando eu coloco uma camisa de botĂŁo. Ou quando eu fico em casa feliz com as minhas coisas. Tudo Ă© vocĂȘ. Eu sou mais vocĂȘ do que fui qualquer mulher que passou pela minha vida. E eu sempre amei infinitamente mais a sua companhia do que qualquer companhia do mundo.
Aprendi a amar menos, o que foi uma pena, e aprendi a ser mais cĂnica com a vida, o que tambĂ©m foi uma pena, mas necessĂĄrio. Viver pra sempre tĂŁo boba e perdida teria sido fatal.
Mas aĂ, daqui uns dias…. vocĂȘ vai me ligar. Querendo tomar aquele cafĂ© de sempre, querendo me esconder como sempre, querendo me amar sĂł enquanto vocĂȘ pode vulgarizar esse amor. Me querendo no escuro. E eu vou topar. NĂŁo porque seja uma idiota, nĂŁo me dĂȘ valor ou nĂŁo tenha nada melhor pra fazer. Apenas porque vocĂȘ me lembra o mistĂ©rio da vida. Simplesmente porque Ă© assim que a gente faz com a nossa prĂłpria existĂȘncia: nĂŁo entendemos nada, mas continuamos insistindo.
Ele é cheio de garotas e pela primeira vez na vida sorri ao pensar isso. Tå certo ele. Bonitão, rico, engraçado e safado. Que mulher não se apaixona por ele?
Eu. Eu nĂŁo me apaixono mais por ele. O que significa que agora podemos nos relacionar. O que significa que agora, posso ficar tranquilamente ao lado dele sem odiar meu cabelo e minha bunda e minha loucura. E posso vĂȘ-lo literalmente duas vezes ao ano, sem achar que duas vezes na semana sĂŁo duas vezes ao ano. E posso vĂȘ-lo ir embora, sem me desmanchar ou querer abraçar meu porteiro e chorar. Consigo atĂ© dar tchauzinho do portĂŁo. Tchau, vou comer um pedaço de torta de nozes e assoviar. Tchau, querido mais um ser humano do planeta.
Ă cansativo viver sem vĂrgulas porque eu respiro a sua existĂȘncia 24 horas por dia, e sĂł coloco vĂrgulas teatrais para vocĂȘ nĂŁo enjoar de mim.
Te amar nĂŁo Ă© fĂĄcil, Ă© quase o anti-amor. Ă muito quase como se vocĂȘ nem existisse, porque sĂł o homem perfeito mereceria tanto sentimento. E eu te anulo o tempo todo dizendo para mim, repetindo para mim, o quanto vocĂȘ falha, o quanto vocĂȘ fraqueja, o quanto vocĂȘ se engana.
E fazendo isso, eu sĂł consigo te amar mais ainda. Porque vocĂȘ enterrou meu sonho aprisionado pela perfeição e me libertou para vivĂȘ-lo.
E a gente vai por aĂ, se completando assim meio torto mesmo. E Deus escrevendo certo pelas nossas linhas que se nĂŁo fossem tĂŁo tortas, nĂŁo teriam se cruzado.
Eu, que sempre quis desfilar com a minha alegria para provar ao mundo que eu era feliz, sĂł quero me esconder de tudo ao seu lado.
Eu limpei minhas mensagens, eu deletei meus emails, eu matei meus recados, eu estrangulei minhas esperas, eu arregacei as minhas mangas e deixei morrer quem estava embaixo delas. Eu risquei de vez as opçÔes do meu caderninho, eu espremi a ågua escura do meu coração e ele se inchou de ar limpo, como uma esponja.
Estar com alguém errado é lembrar em dobro a falta que faz alguém certo.
Mas para nĂŁo sentir dor eu vou jurar ao Ășltimo ouvido do meu universo o quanto vocĂȘ Ă© descartĂĄvel. O quanto sua molecagem nĂŁo permitiu nenhuma admiração de minha parte.
Para nĂŁo sofrer nĂŁo vou permitir minha cabeça no travesseiro antes do cansaço profundo e sem cĂ©rebro. NĂŁo vou permitir admirar coisas da natureza porque talvez eu me lembre de vocĂȘ ao ver algo bonito.
NĂŁo vou permitir silĂȘncios porque Ă© aĂ que o meu fundo transborda e a tristeza pode me tomar sem saĂda. Eu vou continuar deixando a minha cabeça me martelar porque toda essa confusĂŁo Ă© ainda menos assustadora do que a calmaria da verdade.
Eu sou sim a pessoa que some, que surta, que vai embora, que aparece do nada, que fica porque quer, que odeia a falta de oxigĂȘnio das obrigaçÔes, que encurta uma conversa besta, que estende um bom drama, que diz o que ninguĂ©m espera e salva uma noite, que estraga uma semana sĂł pelo prazer de ser mĂĄ e tirar as correntes da cobrança do meu peito.
Que acha todo mundo meio feio, meio bobo, meio burro, meio perdido, meio sem alma, meio de plĂĄstico, meia bomba. E espera impaciente ser salva por uma metade meio interessante que me tire finalmente essa sensação de perna manca quando ando sozinha por aĂ, maldizendo de tudo e de todos. Eu sĂł queria ser legal, ser boa, ser leve. Mas dĂĄ realmente pra ser assim?
Nem todas as histĂłrias precisam ter virgens pĂĄlidas chorando Ă s margens de um mar de espumas. Nem tudo precisa ser romance tuberculoso. Alegria, alegria.
(…) A felicidade, assim como a bebedeira, vai e vem. A felicidade, assim como o sexo, entra e sai. A felicidade, assim como ele, era impossĂvel. Mas nĂŁo Ă© pra tentar ser feliz que a gente vive?
Com vocĂȘ, eu descobri que tentar nĂŁo ser ingĂȘnua Ă© a nossa maior ingenuidade, eu descobri que ser inteira nĂŁo me dĂĄ medo porque ser inteira jĂĄ Ă© ser muito corajosa, eu descobri que valia a pena ficar horas te olhando sentada num sofĂĄ mesmo que o dia estivesse explodindo lĂĄ fora.
Minhas piadas, meu jeito de falar, atĂ© meu jeito de dançar ou de andar. Tudo Ă© vocĂȘ. Minha personalidade Ă© vocĂȘ. Quando eu berro Strokes no carro ou quando eu faço uma amiga feliz com alguma ironia barata. Tudo Ă© vocĂȘ. Quando eu coloco um brinco pequeno ao invĂ©s de um grande. Ou quando eu fico em casa feliz com as minhas coisinhas. Tudo Ă© vocĂȘ. Eu sou mais vocĂȘ do que fui qualquer homem que passou pela minha vida. E eu sempre amei infinitamente mais a sua companhia do que qualquer companhia do mundo, mesmo eu nunca tendo demonstrado isso. E, ainda assim, nunca, nunquinha, eu escrevi sequer uma palavra sobre vocĂȘ.
Eu nunca mais quero ouvir que vocĂȘ sĂł tem olhos pra mim, ok? E nem o quanto vocĂȘ Ă© bom filho. Muito menos o quanto vocĂȘ ama crianças. E trate de parar com essa mania horrĂvel de largar seus amigos quando eu ligo. Colabora, pĂŽ. TĂĄ tĂŁo fĂĄcil me ganhar, basta fazer tudo pra me perder.
Eu quero por um fim neste tormento de desejar tanto quem ainda tem tanto para desejar por ai
Prometi nĂŁo tentar entender e apenas sentir, sentir mais uma vez, sentir apenas a falta de lamber suas coxas, a pele lisa, o joelho, a nuca, o umbigo, a virilha, as sujeiras. Sinto falta do mistĂ©rio que era amar a Ășltima pessoa do mundo que eu amaria.
[Periférico]
Era de Leopoldo. O garoto durango de sotaque perfeito que me comeria num quarto de hotel com mantas nojentas numa cidade pequena bem longe daqui. Se isso nĂŁo Ă© ser mulher pra casar, mais um motivo para ser.
[A espera de Leopoldo]
Eu queria enfiar a cabeça dele na privada e dar descarga.Ao mesmo tempo q eu queria a liberdade de nadar naquela ågua suja.
Ela tinha um nojo da dualidade de intençÔes dos seres humanos que ora amam, ora usam, e preferia a clareza da sacanagem e a certeza do vazio.
A espera eterna de mim mesma na versĂŁo que faz dar certo.
Algo impossĂvel e vocĂȘ chegou tĂŁo perto! Nunca ninguĂ©m chegou tĂŁo perto! Por que vocĂȘ foi estragar tudo no final? Eu estava a fim.
E o que ele me deu depois do sorriso eu nunca vou saber, porque o bom de ter essa dor que nem dĂĄ pra mexer Ă© pouco nos lixarmos pras pequenas felicidades.
E eu me ensinando, me encaixando, me acomodando. SĂł dessa vez, goste menos. JĂĄ estĂĄ na hora. Menos. Por favor. JĂĄ estĂĄ na hora. E pensei tanto em menos que nunca serĂĄ.
[…]que aceite numa sĂł a deusa, a menina de festa querendo dar e outras milhares de coisas que eu, juro, nĂŁo sĂŁo tĂŁo ruins assim. EntĂŁo nĂŁo era vocĂȘ que eu esperava? NĂŁo! Eu esperava alguĂ©m que pudesse sĂł me abraçar por um tempo maior que esses socorros rĂĄpidos que arrumo quando grito mais alto. […]
[DeusaxMenina de festa querendo dar]
Se vocĂȘ soubesse o estado que estou agora, zumbi, pegando detalhes seus por aqui, e doendo tanto que nem sei mais por onde começar. Eu nĂŁo aguento mais começar. Queria tanto continuar. NĂŁo sei, nĂŁo aguento, ainda nĂŁo posso, mas queria continuar.
A vida Ă© complicada porque nĂłs mulheres romantizamos tudo, ou quase tudo, ou justamente o que nĂŁo deverĂamos.
A gente faz planos mesmo em cima dos silĂȘncios deles, a gente vĂȘ beleza em cada sumiço, a gente vĂȘ olhares de amor no mais puro olhar de tesĂŁo, nĂłs temos a mente completamente diferente da deles. NĂŁo precisa procurar no meio da multidĂŁo, coisas acontecem quando vocĂȘ desiste de procurĂĄ-las, posso me aproximar sem invadir seu espaço, mas posso me aproximar tanto que seja impossĂvel de nĂŁo o invadir. NĂŁo hĂĄ como garantir que nĂŁo possa me esforçar em ser interessante sendo que o que eu quero Ă© ser o melhor que vocĂȘ merece. E de tudo que posso ser pra vocĂȘ eu sĂł pediria que nunca fugisse de mim, nem mesmo quando por alguma razĂŁo eu deixasse a mĂĄscara cair, eu irei segurar sua mĂŁo como quem segura a mĂŁo de alguĂ©m que esteja pendurado sobre um barranco. E seguirei por dias, semanas, meses tentando tocar o seu coração atĂ© que um dia eu consiga. E de nenhuma forma te prender, mas sentir medo de te perder, e jamais te limitar mas chorar quando decidir ir embora, e esperar suas mudanças naturalmente sem forçar vocĂȘ, roubar mil beijos seus quando vocĂȘ decidir ter alguma crise de raiva, tentar te acalmar e ser incapaz de causar algum sofrimento a vocĂȘ. E eu nĂŁo somente diria que canta mal como cantaria com vocĂȘ, provando assim que existem pessoas que cantam horrivelmente, e que vocĂȘ nĂŁo Ă© a Ășnica, mas a que eu estaria disposta a escutar, e quando vocĂȘ decidir falar demais, que eu debruasse sua cabeça no meu ombro e escute tudo que tem a dizer, e quando for desastrado que haja fĂŽlego para nĂŁo morrermos de tanto rir.
E que vocĂȘ sinta vontade de precisar de mim, mas nĂŁo sĂł quando houver necessidade, que vocĂȘ sinta isso mesmo tendo passado um dia inteiro comigo, que nĂŁo veja e nem sinta as horas passando quando estiver ao meu lado, e que nunca seja o suficiente o tempo que passarmos juntos, que vocĂȘ sempre sinta vontade de mais, mais e mais. E que vocĂȘ suporte os meus defeitos e se sinta orgulhoso das minhas qualidades, e apesar de nĂŁo ter uma beleza extrema, poder fazer com que vocĂȘ enxergue que gostar de alguĂ©m vai muito alĂ©m de beleza fĂsica, e tentar tambĂ©m de algum jeito (infelizmente sĂł tentar) fazer com que vocĂȘ nĂŁo precise olhar em outras direçÔes, porque seus olhos vĂŁo estar dentro dos meus. Eu quero sempre encontrar vocĂȘ, seja lĂĄ aonde vocĂȘ estiver, e que eu consiga ser o seu perfeito, mesmo sendo imperfeito.
Foi entĂŁo que eu descobri. Ele estĂĄ exatamente no mesmo lugar que eu agora, pensando as mesmas coisas, com preguiça de ir nos mesmos lugares furados e ver gente boba, com a mesma dĂșvida entre arriscar mais uma vez e voltar pra casa vazio ou continuar embaixo do edredon lendo mais algumas pĂĄginas do seu mundo perfeito.
A verdade Ă© que as pessoas de verdade estĂŁo em casa. NĂŁo Ă© triste pensar que quanto mais interessante uma pessoa Ă©, menor a chance de vocĂȘ vĂȘ-la andando por aĂ?
“[…] Eu quero sempre encontrar vocĂȘ, sejĂĄ lĂĄ aonde vocĂȘ estiver, e que eu consiga ser o seu perfeito, mesmo sendo imperfeito.”
VocĂȘ pode ter todos os defeitos do mundo, mais ainda Ă© melhor do que o resto do mundo.
Depois de tantos amores estranhos, pequenos, errados e tortos, finalmente eu tinha reconhecido no seu olhar centralizado e no seu sorriso espalhado, a minha princesa! E sĂł olhar pra vocĂȘ, ouvir sua voz, faz tudo ficar mais feliz. Algumas pessoas simplesmente valem a pena…
Nunca passa…mas quase passa todos os dias.
Ele nĂŁo Ă© sĂł um cara…
Esse sim, esquenta as suas mĂŁos e escuta os seus impropĂ©rios e gracinhas com o mesmo apego. Ele nĂŁo te deixou apodrecendo ali onde vocĂȘ nĂŁo pudesse incomodar. Ele Ă© diferente de tudo o que Ă© errado em seu mundo e em outros mundos.
VocĂȘ diria que ele salvou sua vida se nĂŁo soasse tĂŁo dramĂĄtico. Ele nĂŁo faz planos ou promessas, sĂł surpresas, te ensinou a gostar de surpresas. Ele Ă© diferente. Ele nĂŁo Ă© sĂł um cara.
Ele te ouve como se te entendesse, fala como quem soubesse o que dizer e nĂŁo diz nada muitas vezes, porque ele entende os silĂȘncios. Ele existe. VocĂȘ sabe que seriam bons amigos, bons parceiros, bons inimigos, mas vocĂȘ prefere ser a garota dele.
E sabe que serĂŁo importantes na histĂłria um do outro para sempre, independentemente de tudo que estiver pra acontecer. Porque ele nĂŁo Ă© sĂł um cara. VocĂȘ nĂŁo quer mais sĂł um cara. E ele Ă© tudo que vocĂȘ quer hoje.
Aprendi com os meus próprios erros que sofrer não torna nada mais poético, chorar não deixa mais aliviado e implorar não traz ninguém de volta.
Aprendi tambĂ©m que por mais que vocĂȘ queira muito alguĂ©m, ninguĂ©m vale tanto a pena a ponto de vocĂȘ deixar de se querer.
Por um instante quis sentir falta de alguĂ©m, mas nĂŁo consegui me lembrar de ninguĂ©m. Por outro instante quis inventar uma pessoa, mas eu era tĂŁo de verdade naquele momento que me faltou capacidade para ser enganada. Na cidade mais romĂąntica do mundo amei meu medo, meu quarto, minha cama, meu banheiro, minha coragem, minhas prĂłximas horas pelo resto da vida, minha quase morte que agora me enchia de novidades, meu silĂȘncio, a extensĂŁo do meu pĂąnico curioso que iluminava toda a cidade, minha tranquilidade madura, toda a bagunça da minha cabeça. Sim, a garotinha magrinha, branquelinha, assustada, sensĂvel, cheia de Ăłdios, cheias de erros e cheia de si, agora apenas recomeçava no corpo de uma mulher invisĂvel. Amei que o mundo estava em festa e meu convite dava direito apenas a uma pessoa.
Minha maior dor Ă© nĂŁo saber fazer a Ășnica coisa que me interessa no mundo que Ă© amar alguĂ©m. Me perdoa por eu querer de uma forma tĂŁo intensa tocar em vocĂȘ que te maltrato. Minha mĂŁo acostumada com um mundo de chatices e coisas feias fica tĂŁo gigante quando pode tocar algo lindo e puro como vocĂȘ, que sufoca, esmaga e estraçalha. Me perdoe pela loucura que Ă© algo tĂŁo pequeno precisando de amor e ao mesmo tempo algo tĂŁo grande que expulsa o amor o tempo todo. Eu sou uma sanfona de esperança. Eu tenho estria na alma.
E no meio da noite, quando eu decido que estou Ăłtima afinal de contas tenho uma vida incrĂvel e nem amava mesmo vocĂȘ, eu me lembro de umas coisas de mil anos e começo a amar vocĂȘ de um jeito que, infelizmente, nĂŁo se parece em nada com pouco amor e nĂŁo se parece em nada com algo prestes a acabar.
Ă cansativo viver sem vĂrgulas porque eu respiro a sua existĂȘncia 24 horas por dia, e sĂł coloco vĂrgulas teatrais para vocĂȘ nĂŁo enjoar de mim.
Amar vocĂȘ nĂŁo Ă© fĂĄcil, Ă© quase o antiamor. Ă muito, quase como se vocĂȘ nem existisse, porque sĂł o homem perfeito mereceria tanto sentimento. E eu te anulo o tempo todo dizendo para mim, repetindo para mim, o quanto vocĂȘ falha, o quanto vocĂȘ fraqueja, o quanto vocĂȘ se engana.
Fazendo isso, eu sĂł consigo te amar mais ainda. Porque vocĂȘ enterrou meu sonho aprisionado pela perfeição e me libertou para vivĂȘ-lo.
Não somos um casal melado, mas duvido que tenha alguém que duvide do nosso amor. Quer dizer, a gente duvida, mas a gente é louco.
E lĂĄ vem vocĂȘ me perguntar porque Ă© que estĂŁo todos casando, e falar pela trigĂ©sima vez que vocĂȘ vai acabar sozinho e nĂŁo deve nada a ninguĂ©m. E lĂĄ vem vocĂȘ me olhar apaixonado e, no segundo seguinte, frio. E me falar para eu nĂŁo sofrer e para eu ir embora e para eu nĂŁo esperar nada e para eu nĂŁo desistir de vocĂȘ. E eu me digo que nĂŁo Ă© vocĂȘ. Porque, se fosse, meu sono seria paz e nĂŁo vontade de morrer.
E o homem perfeito teria a maior paciĂȘncia do mundo em me curar dessa loucura, e vocĂȘ tem a maior paciĂȘncia do mundo em aumentar a minha loucura.
Nossa dança num baile de mĂĄscaras Ă© eterna, porque quando eu peso a mĂŁo, vocĂȘ me faz voar. E quando vocĂȘ perde o chĂŁo, eu te dou um soco na cabeça pra ver se achato a sua alegria pra caber na minha.
Finalmente chorei todos os meus amores que acabaram, todas as portas que eu deixei entreabertas (porque sou pĂ©ssima em fechĂĄ-las) e que se fecharam pela vida…
VocĂȘ Ă© meu prĂncipe. Depois de tantos amores estranhos, pequenos, errados e tortos, finalmente eu reconheci no seu olhar centralizado e no seu sorriso espalhado… o meu princĂpe.
Cansei de gritar e resolvi latir
Como Ă© horrĂvel ser um animal. Um animal menininha. Usar vestidos, fazer as unhas, pintar os lĂĄbios, andar pisando leve. Por dentro, esse animal com fome, desesperado, selvagem, irracional.
Que bom dia que nada, cara. Que boa noite, que muito obrigada. Por que vocĂȘ nĂŁo vem me amansar? Rasga o vestido da menininha, rasga.
Mata essa fome que eu estou de engolir seu ego, de te deixar perdido, de acabar com essa sua panca, essa sua distĂąncia.
Que se dane o esmalte falso das minhas unhas, eu que jĂĄ guardei restos de cĂ©lulas mortas da sua pele. Tira essa cor inventada da minha boca, esse tom estĂșpido de flor artificial. Faça ela ficar cheia de sangue vivo, entreaberta entre um grito e um riso. Tira esse meu andar leve e ereto, me entorta, me coloca do jeito que vocĂȘ gosta.
Que bom dia que nada, eu vou latir no seu ouvido se vocĂȘ achar que tem o poder de me magoar. Para que ferir meu coração se vocĂȘ pode ferir o meu Ăștero? Para que dominar minha cabeça se vocĂȘ pode dominar o mundo pequeno e errado que eu inventei?
Eu que me faço de bem resolvida, por dentro são palpitaçÔes, são vozes de incentivo ao ataque, é calcinha de moça marcada por tanto desejo. Eu que um dia vou ter que ser mãe, que um dia vou ter que aprender a escrever. Eu que preciso ser levada a sério, preciso perceber que sou sozinha, preciso cuidar de mim. Eu que agora me atraso mais um pouco, sendo apenas instintiva.
Olhando vocĂȘ e sĂł querendo correr de quatro atĂ© sua canela e morder toda a lĂłgica dessa frieza.
Querendo te enfiar dentro de mim para preencher o vazio de ser incompleta.
Para sempre a vida me deve, e eu devo tanto a ela.
Querendo calar as batidas do meu coração ansioso com nosso atrito desesperado por minutos de paz.
Para sempre o silĂȘncio, de quem nĂŁo pode pedir, mas morre de desejo, de quem acaba de conseguir, mas morre de culpa.
Olhe para mim, me då ração que eu estou morrendo. Olhe para mim, me deseje de novo porque eu estou murchando. Ou apenas venha me distrair, apenas esqueça todos esses poemas falsos.
Esqueça todas essas justificativas sofridas para uma simples vontade de deitar com vocĂȘ de novo.
Amor nĂŁo se pede
Uma declaração de amor revoltado.
Se implorar resolvesse, nĂŁo me importaria. De joelhos, no milho, em espinhos, agachada, com o cofrinho aparecendo. Uma loucura qualquer, se ajudasse, eu faria com o maior prazer. Do ridĂculo ao medo: pularia pelada de bungee jump. Chorar, se desse resultado, eu acabaria com a seca de qualquer Estado, de qualquer espĂrito.
Mas amor nĂŁo se pede, imagine sĂł. Ei, seu tonto, serĂĄ que vocĂȘ nĂŁo pode me olhar com olhos de devoção porque eu estou aqui quase esmagada com sua presença? NĂŁo, nĂŁo dĂĄ pra dizer isso. Ei, seu velho, serĂĄ que vocĂȘ pode me abraçar como se estivĂ©ssemos caindo de uma ponte porque eu estou aqui sem chĂŁo com sua presença? NĂŁo, vocĂȘ nĂŁo pode dizer isso. Ei, monstro do lixo, serĂĄ que vocĂȘ pode me beijar como um beijo de final de filme porque eu estou aqui sem saliva, sem ar, sem vida com a sua presença? Definitivamente, nĂŁo, melhor nĂŁo.
Amor nĂŁo se pede, Ă© uma pena. Ă uma pena correr com pulinhos enganados de felicidade e levar uma rasteira. Ă uma pena ter o coração inchado de amar sozinha, olhos inchados de amar sozinha. Um semblante altista de quem constrĂłi sozinho sonhos. Mas vocĂȘ nĂŁo pode, nĂŁo, eu sei que dĂĄ vontade, mas nĂŁo dĂĄ pra ligar pro desgraçado e dizer: ei, tĂŽ sofrendo aqui, vamos parar com essa estupidez de nĂŁo me amar e vir logo resolver meu problema?
Mas amor, minha querida, nĂŁo se pede, dĂĄ raiva, eu sei. Raiva dele ter tirado o gosto do mousse de chocolate que vocĂȘ amava tanto. Raiva dele fazer vocĂȘ comer cinco mousses de chocolate seguidos pra ver se, em algum momento, o gosto volta. Raiva dele ter tirado as cores bonitas do mundo, a felicidade imensa em ver crianças sorrindo, a graça na bobeira de um cachorro querendo brincar.
Ele roubou sua leveza mas, por alguma razĂŁo, vocĂȘ estĂĄ vazia. Mas nĂŁo dĂĄ, nem de brincadeira, pra vocĂȘ ligar pro cara e dizer: ei, a vida Ă© curta pra sofrer, volta, volta, volta. Porque amor, meu amor, nĂŁo se pede, Ă© triste, eu sei bem.
Ă triste ver o Sol e nĂŁo vĂȘ-lo se irritar porque seus olhos sĂŁo claros demais, sĂŁo tristes as manhĂŁs que prometem mais um dia sem ele, sĂŁo tristes as noites que cumprem a promessa. Ă triste respirar sem sentir aquele cheiro que invade e vocĂȘ nĂŁo olha de lado, aquele cheiro que acalma a busca. Aquele cheiro que dĂĄ vontade de transar pro resto da vida. Ă triste amar tanto e tanto amor nĂŁo ter proveito. Tanto amor querendo fazer alguĂ©m feliz. Tanto amor querendo escrever uma histĂłria, mas sĂł escrevendo este texto amargurado. Ă triste saber que falta alguma coisa e saber que nĂŁo dĂĄ pra comprar, substituir, esquecer, implorar. Ă triste lembrar como eu ria com ele.
Mas amor, vocĂȘ sabe, amor nĂŁo se pede. Amor se declara: sabe de uma coisa? Ele sabe, ele sabe.
SĂł mais um pouco de cala a boca
Vai lĂĄ dentro do chalĂ©, vai. Coloca o shortinho. O chinelo verde. Tira essa sunga molhada. Quer ajuda? Posso te ver tomar banho? Posso jogar ĂĄgua importada em vocĂȘ? Posso te ver contra a luz do sol? Deixa?
Fica sĂ©rio de novo. Isso. Posso fazer um ensaio fotogrĂĄfico com vocĂȘ? Jogado, descabelado, na rede. E vocĂȘ ainda Ă© o homem mais lindo do mundo. No canto da foto dos amigos bĂȘbados, e vocĂȘ Ă© o homem mais lindo do mundo. Com gorro, no meio da confusĂŁo do frio. Escondido embaixo de tanta roupa. No fundo do mar. No escuro. De costas naquela festa chata. Meu Deus, como vocĂȘ Ă© lindo.
NĂŁo sei direito o que Ă© aurora boreal, mas acho que deve ser algo lindo que se formava enquanto vocĂȘ era feito. NĂŁo sei direito o que Ă© isso que eu sinto por vocĂȘ. Mas como Ă© maravilhoso fumar vocĂȘ, cheirar vocĂȘ, tomar vocĂȘ, injetar vocĂȘ. Calar a boca.
Sei que Ă© por pouco tempo. Somos plantas diferentes. PĂĄssaros diferentes. Estamos experimentando nossos mundos tĂŁo excĂȘntricos. Muito em breve vamos nos afastar com a intensidade de opostos tĂŁo Ăłbvios. VocĂȘ vai ser infinitamente o garoto mais lindo do mundo para suas garotas infinitamente mais lindas do mundo. Todos com dezenove anos. Todos lindos contra a luz do sol. Todos com cabelos de comercial. Todos idiotas e corados e lindos e sem saber o que fazer com muita beleza e pouca idade. E eu vou continuar esperando o meu tipo charmoso, mais velho, mais feio que vocĂȘ, melhor do que vocĂȘ.
Mas por agora. Me dĂĄ mais um pouco desse cala a boca, vai. Vai lĂĄ dentro do chalĂ©, vai. Coloca o shortinho. O chinelo verde. Me pergunta uma daquelas coisas para eu dar uma daquelas respostas que vocĂȘ morre de rir. Me deixa pirar no seu cĂ©u da boca escancarado. VocĂȘ se joga pra trĂĄs. E sĂł porque vocĂȘ e o mundo inteiro tĂȘm certeza do quanto vocĂȘ Ă© lindo, vocĂȘ faz questĂŁo de sempre se largar no mundo. Ă a liberdade que sĂł tem quem Ă© infinitamente lindo ou infinitamente feio. VocĂȘ Ă© livre do mais ou menos e isso me enche de algo que me faz querer cantar pra sua beleza. Eu sou mais ou menos mas nesse segundo, jĂĄ que comprei sua beleza, sou a mulher mais linda do mundo. Vai, passeia no meu carrinho de supermercado. Me deixa ser linda vestindo vocĂȘ. Entra em mim e me enche da sua vida fĂĄcil.
Outro dia me peguei pensando um absurdo que me fez feliz. Ă triste, mas me fez feliz. Pensei se isso que vocĂȘ faz, de ficar horas comigo depois de ter ficado horas comigo. Se isso Ă© algum tipo de caridade sua. Porque, veja bem. Somos plantas e pĂĄssaros diferentes. Eu sou a bonitinha que lĂȘ uns livros e vĂȘ uns filmes. VocĂȘ Ă© essa força absoluta e avassaladora que jamais precisarĂĄ abrir a boca para impor sua vitĂłria.
VocĂȘ coloca aquele moletom cinza com dizeres do surf e eu experimento um guarda-roupas inteiro pra ficar Ă sua altura. VocĂȘ Ă© essa força da natureza que deu certo. Eu gasto metade do meu salĂĄrio pra me sentir como vocĂȘ deve se sentir escovando os dentes. Pra me sentir cabendo no mundo que deu certo.
Abaixa esse queixo menino. Abaixa esse nariz. Anda rastejando com esse chinelo verde e o queixo no alto. VocĂȘ sabe que Ă© superior. VocĂȘ sabe que pode fazer tudo devagar, o mundo te espera. O resto Ă© platĂ©ia. VocĂȘ sabe que faz as pessoas tremerem a voz. VocĂȘ sabe que deixa apenas duas escolhas pras pessoas: te idolatrar ou sair correndo. E como eu nĂŁo sou mulher de correr da dor, deixo ela entrar as pouquinhos, esbugalhar meus sentidos, enfraquecer meu orgulho. Quando vejo, estou calada novamente, ouvindo o que vocĂȘ nĂŁo diz e vendo o que vocĂȘ nĂŁo faz. Apenas curtindo a limitação profunda e gigantesca da sua beleza esmagadora. Feliz em ser uma formiga que carrega milhĂ”es de plantas nas costas sĂł para ver algum esforço meu alimentando vocĂȘ.
Vai, faz o bico de burro quando alguĂ©m nĂŁo compra a sua forma. Faz os olhos laterais pra me convidar pra mais uma das suas apariçÔes. Faz o dentinho pra frente pra me pedir mais um pouco. Faz o silĂȘncio pra ganhar de vez. De mim e do mundo.
NĂŁo existe nĂŁo morrer um pouco quando vocĂȘ chega. E de vez em quando tudo o que a gente quer Ă© mesmo dar um tempo da vida.
Mulherzinha
Ligo antes das cinco pra nĂŁo parecer que ele Ă© a Ășltima opção da minha agenda. Dou trĂȘs opçÔes de restaurante e ele escolhe logo a primeira. Combino de passar umas oito e meia, mando uma mensagem quando estiver na esquina. Aviso que vou atrasar dez minutos. Embico na garagem pra ele nĂŁo tomar chuva. Pergunto se o ar condicionado estĂĄ muito forte. Dirijo com uma mĂŁo no volante e outra na perna dele. Elogio que ele aparou um pouco a barba, coisa que ele adora pois fui a Ășnica a reparar. O manobrista do restaurante abre primeiro a porta dele. Se assusta que Ă© um homem onde eu deveria estar sentada. Entrega o papel do estacionamento pra mim, contrariado, enquanto meu parceiro jĂĄ estĂĄ bem distante. Escolho fumante pra agradĂĄ-lo mas por sorte sou informada que essas mesas nĂŁo existem mais. Digo a ele que tudo bem, podemos ficar no frio, na parte de fora. Ele diz que ELE nĂŁo estĂĄ a fim de sentir frio e topa nĂŁo fumar. Eu chamo o garçom e digo que para mim carne e para ele salmĂŁo. Eu escolho a taça de vinho dele, eu nĂŁo vou beber porque estou dirigindo. Eu pego na mĂŁo dele, depois da taça estar quase no final, e pergunto se ele nĂŁo quer ver a linda vista da minha sacada. Ele sufoca um bocejo charmoso e diz que sim. O garçom entrega a conta pra ele, que aperta os olhos pra enxergar com a lente embaçada. Eu ofereço ajuda pra ver os nĂșmeros e numa agilidade impressionante enfio meu cartĂŁo ali dentro e faço a carteira de couro desaparecer da mesa. Incluindo o ticket do estacionamento. Ele estĂĄ com frio e ofereço meu cachecol novo. Ele elogia o perfume e continua com frio. Entendo que sĂŁo duas aberturas para o abraço. O carro chega e a porta dele jĂĄ estĂĄ aberta pelo manobrista, a minha eu mesmo abro com dificuldade porque os carros tiram a maior fina do meu corpinho congelado. Morro de vergonha que o carro estĂĄ com cheiro ruim, pra variar, o manobrista sacaneou. Abro os vidros e nĂŁo digo nada pra nĂŁo ser rude. Coloco mĂșsica baixinha pra gente falar baixinho. Paro na farmĂĄcia pra comprar camisinha mas dou a desculpa que Ă© um antigripal qualquer. Ele faz que acredita e espera dentro do carro comportadinho e sorrindo. O cara do caixa quer me lançar um olhar mas na hora tem medo de me encarar. Acendo as velas novas que ganhei. Coloco minha estrela azul na tomada que dĂĄ o clima perfeito. O cd novo do Beck. Ele estĂĄ nervoso, comentando sem parar das minhas fotos e livros e cortinas. Eu faço ele parar de falar finalmente. Depois de tudo, ofereço levĂĄ-lo e me faço de ofendida quando ele cogita um taxi. Ele pergunta se pode dormir comigo, eu apenas sorrio e apago a luz. Ele acende a luz e pergunta se pode ligar pra avisar uma pessoa. Ele liga pra mĂŁe, que nĂŁo gosta muito. Ele volta envergonhado pra cama. Mas eu, educada, finjo que jĂĄ estou dormindo. No dia seguinte eu ligo pra dar bom dia. Ele me avisa que vai viajar no feriado. Eu pergunto com quem e ele diz que aĂ jĂĄ estou querendo saber demais. Ele volta a ser homem. Eu desligo e, aliviada, choro como uma mulherzinha.
Os bobos
Ele chega e nĂŁo diz nada nem da minha roupa nova e nem da minha casa que perfumei pra ele. EntĂŁo eu tambĂ©m nĂŁo digo nada sobre estar geando e ele ter vindo sĂł de camiseta direto do trabalho. EntĂŁo começamos a ver o filme e como ele nĂŁo faz questĂŁo de encostar a perna na minha perna, eu que nĂŁo sou boba de encostar a minha perna na dele. E na cena de sexo do filme, como ele nĂŁo sorri e nem olha pra mim, tambĂ©m fico mais fria do que estĂŁo meus pĂ©s. Ao final do filme, ele corre para olhar o celular dele. Eu que nĂŁo sou boba e jamais posso perder para alguĂ©m, muito menos para um homem, menos ainda para um homem que me interessa, corro para olhar meu celular tambĂ©m. E como vejo que ele olha as mensagens e sorri, acabo tendo gargalhadas ao olhar meu visor com a foto da minha cachorra e nada mais. E entĂŁo pessoas começam a ligar pra ele. Tudo bem que Ă© a mĂŁe e o amigo do futebol, mas Ă© tarde demais. Eu, como nĂŁo sou nem um pouco boba, mando algumas mensagens de texto para algumas pessoas sem que ele perceba, sĂł para receber tambĂ©m vĂĄrias ligaçÔes. DaĂ ele fala rapidamente da ex namorada, acho atĂ© que por culpa minha, eu devo ter perguntado alguma coisa. E eu começo a falar dos meus 789 ex namorados. Porque meu filho, nesse quesito eu ganho de vocĂȘ. VocĂȘ teve aĂ, nesses seus poucos anos a mais do que eu, o quĂȘ? Umas trĂȘs namoradas? Ah, querido, isso eu tive sĂł no terceiro colegial. E entĂŁo eu começo a falar deles. E dos outros tantos que foram sĂł casinhos. E dos outros tantos que foram sĂł sexo. E falo de sexo como se eu fosse uma versĂŁo magra, clara e pobre da Preta Gil. SĂł que mais devassa. E fico com vontade de deitar no colo dele e falar que Ă© tudo mentira. Eu nem namorei tanto assim. E sou a mais imbecil do mundo porque sempre acho que vou casar com qualquer um que me come. E nem dou, pra falar a verdade, pra qualquer um. E mesmo para os que nĂŁo sĂŁo qualquer um, demoro um pouco pra conseguir tirar qualquer peça de roupa mais Ăntima. Mas nĂŁo, eu nĂŁo posso ser boba, eu nĂŁo sou boba. E entĂŁo, e entĂŁo, porque ele nĂŁo fala nada em jantar comigo, marco um jantar com um amigo na frente dele. E porque ele nĂŁo fala nada em me encontrar depois, deixo claro, antes dele dizer qualquer coisa, porque nĂŁo sou boba, que jĂĄ tenho compromisso pra depois do jantar tambĂ©m. E minto que vou passar uma semana no Rio. Ă mentira, sĂŁo sĂł dois mĂseros e infinitos dias. Mas nĂŁo sou boba. Eu nĂŁo sou boba. E porque ele faz um pouco de cara de tĂ©dio e eu acho que ele vai ficar entediado de mim e querer ir embora, o expulso da minha casa. Vamos! Suma daqui desgraçado! Eu nĂŁo sou boba, entendeu? EU NĂO SOU BOBA. E ele me pede sĂł mais uma mĂșsica, sĂł mais um beijo e alguns segundos para calçar os sapatos. E eu digo que nĂŁo, preciso que ele vĂĄ embora agora porque tenho algo muito importante a fazer. E como bocejo pra ele mas olho misteriosa pela janela, fingindo que alguĂ©m incrĂvel me espera ansioso pelas ruas do mundo, deixo claro que Ă© melhor ele desistir logo de mim. Porque nĂŁo sou boba. E entĂŁo ele sai, sem nem amarrar direito os cadarços. E volta pra casa sem tempo de me convidar para o jantar, a festa, o sexo. Sem tempo de encostar sua perna na minha, elogiar minha roupa, o perfume, deixar vir e deixar ir o tĂ©dio. Deixar vir e deixar ir a dĂșvida. E eu fico aqui mais uma vez, tĂŁo esperta.
Estou pagando pra ver sim, estou com a cara exposta sim, e pode doer o quanto for, podem maldizer o quanto for, o sorriso que eu levo hoje apaga todos os outros rastros. Eu aprendi, aos trancos, que ser feliz nĂŁo dĂłi. Ser feliz nĂŁo dĂłi.
Aprendi a amar menos, o que foi uma pena, e aprendi a ser mais cĂnica com a vida, o que tambĂ©m foi uma pena, mas necessĂĄrio. Viver pra sempre tĂŁo boba e perdida teria sido fatal. Aprendi tambĂ©m que o amor Ă© feito de liberdade. Ă como ter, todos os dias, muitas outras opçÔes. E ainda assim fazer a mesma livre escolha.
DĂłi tanto que nĂŁo dĂłi mais, como toda dor que de tĂŁo insuportĂĄvel produz anestesia prĂłpria.
Fala se tĂŁo de sacanagem comigo ou nĂŁo? Como Ă© que eu vou sofrer numa situação dessas? Como? Me diz? Durmo que Ă© uma maravilha. A pele estĂĄ incrĂvel. A fome voltou. A vida tĂĄ de uma chatice Ămpar. AlguĂ©m pode, por favor, me ajudar? Existe terapia pra tentar ser infeliz? Outro dia atĂ© me belisquei pra sofrer um pouquinho. Mas o desgraçado correu pra assoprar e dar beijinho.
Se meu coração não se emociona mais, fiquei me perguntando o que eu estava fazendo ali. Se não sonho mais, não planejo mais, não desejo mais, não espero mais nada, o que eu estava fazendo ali?
NĂŁo te amo mais, queria dizer a ele, pela primeira vez, sem esperar que ele sofresse com isso. Sempre quis que ele sofresse com o dia em que eu nĂŁo o amasse mais. Mas justamente porque eu nĂŁo o amo mais, nem quero mais que ele sofra. AliĂĄs, nĂŁo quero mais nada. SĂł ir embora.
Eu achei que quando passasse o tempo, eu achei que quando eu finalmente te visse tĂŁo livre, tĂŁo forte e tĂŁo indiferente, eu achei que quando eu sentisse o fim, eu achei que passaria. NĂŁo passa nunca, mas quase passa todos os dias.
Tenho vontade de perguntar baixinho: vocĂȘ nĂŁo gosta nem um pouquinho de mim? Nem sequer um tiquinho? Eu sempre me apaixono por vocĂȘ. Todas as vezes que te vi, eu sempre me apaixonei por vocĂȘ.
Eu queria assinar um contrato com Deus: se eu nunca mais olhar para homem nenhum no mundo, serĂĄ que ele deixa vocĂȘ ficar comigo pra sempre?
Esse ser maravilhoso que mexe no meu cabelo, e paga tudo, e me elogia, e me abraça, e me aperta e vem aqui em casa sempre tão perfumado e tomamos vinho e falamos de tudo.
(…) E eles adoram uma sonsa. Adoram.
Como eu queria agora ir para a sua casa, deitar na sua cama, ouvir a sua voz, esquentar meu pé na sua batata da perna.
Porque vocĂȘ brinca de ser meu, mas mora do outro lado mundo. E eu nĂŁo sou atleta e nem forte para correr tanto e tĂŁo longe…
Mas chega. Hoje decidi que estou prestes a assumir meu coração vazio. NĂŁo decidi isso movida por uma grande coragem ou por um momento de iluminação. Nada grandioso aconteceu. Apenas sinto que dei um pequeno, quase imperceptĂvel, passo para uma vida mais madura. Eu simplesmente nĂŁo suporto mais pintar o cĂ©u de cor-de-rosa para achar que vale a pena sair da cama.
Essa vida viu, ZĂ©. Pode ser boa que Ă© uma coisa. JĂĄ chorei muito, jĂĄ doeu muito esse coração. Mas agora tĂŽ, Ăł, tĂĄ vendo? De pedra. Uma tora. Um macho. (…) Sabe ZĂ©, no começo doeu nĂŁo sentir nada. Mas eu consegui. Eu nĂŁo sinto nada. Nada. Nem pena do mundo eu consigo mais sentir. Minha pureza era linda, ZĂ©, mas ninguĂ©m entendia ela, ninguĂ©m acolhia ela. Todo mundo sĂł abusava dela. Agora ninguĂ©m mais abusa da minha alma pelo simples fato de que eu nĂŁo tenho mais alma nenhuma. JĂĄ era, ZĂ©. Ă isso que chamam de ser esperto? Nossa, entĂŁo eu sou uma ninja. Bate aqui no meu peito, ZĂ©!? Sentiu o barulho de granito?
Dormir em silĂȘncio e esparramada atĂ© meio dia Ă© dez vezes melhor do que de conchinha com seres e suas idiossincrasias nasais.
Homem não fica fiel, fica com preguiça.
Eu odeio que encostem o cotovelo, a bunda ou uma cerveja molhada em mim enquanto eu tento encontrar um espaço para dançar. Eu odeio que encostem em mim, odeio a pele de um desconhecido indesejado.
SĂł ele viu meu corpo de verdade, minha alma de verdade, meu prazer de verdade,
meu choro baixinho embaixo da coberta com medo de nĂŁo ser bonita e inteligente.
SĂł para ele eu me desmontei inteira porque confiei que ele me amaria mesmo eu sendo
desfigurada, intensa e verdadeira, como um quadro do Picasso.
Que a gente brigue de ciĂșmes, porque ciĂșmes faz parte da paixĂŁo, e que faça as pazes rapidamente, porque paz faz parte do amor. Quero ser lembrada em horĂĄrios malucos, todos os horĂĄrios, pra sempre. Quero ser criança, mulher, homem, et, megera, maluca e, ainda assim, olhada com total reconhecimento de territĂłrio. Quero sexo na escada e alguns hematomas e depois descanso numa cama nossa e pura.
SerĂĄ que eles sabem que aquela garota ali no canto da mesa, de decote, de bolsa da moda, rindo pra caramba, contando mais uma de suas aventuras vazias e descartaveis, acorda todos os dias pensando: o que eu realmente quero com essa vida? Como faço pra ser feliz?’
Sempre achei que esse amor era coisa de quem nĂŁo tinha nada melhor para fazer. Eu sĂł o sentia porque estava infeliz naquela vida pacata. SĂł por isso. Resolvi entĂŁo agitar a vida pacata. E comecei a sair mais de casa, enxergar as pessoas ao meu redor, mais viagens, mais baladas. Amor Ă© coisa de gente pacata e agora que eu tinha uma vida agitada, poderia, finalmente, mandar esse amor embora. Tchau, coisinha besta.
Ele tem a coisa mais sexy que um homem pode ter que Ă© aquela canaleta definida dividindo lado direito e lado esquerdo das costas.
Mulheres sĂŁo seres que nĂŁo aguentam as respostas mas sĂŁo obcecadas pelas perguntas.
VocĂȘ sabe que um amor acabou quando nĂŁo lĂȘ mais o signo do cara.
Temos um problema geogrĂĄfico. VocĂȘ quer abraçar o mundo e eu ficaria contente em abraçar vocĂȘ.
Ă cansativo viver sem vĂrgulas porque eu respiro a sua existĂȘncia 24 horas por dia, e sĂł coloco vĂrgulas teatrais para vocĂȘ nĂŁo enjoar de mim.
Amar vocĂȘ nĂŁo Ă© fĂĄcil, Ă© quase o antiamor. Ă muito, quase como se vocĂȘ nem existisse, porque sĂł o homem perfeito mereceria tanto sentimento. E eu te anulo o tempo todo dizendo para mim, repetindo para mim, o quanto vocĂȘ falha, o quanto vocĂȘ fraqueja, o quanto vocĂȘ se engana.
Fazendo isso, eu sĂł consigo te amar mais ainda. Porque vocĂȘ enterrou meu sonho aprisionado pela perfeição e me libertou para vivĂȘ-lo.
E a gente vai por aĂ, se completando assim meio torto mesmo. E Deus escrevendo certo pelas nossas linhas que, se nĂŁo fossem tĂŁo tortas, nĂŁo teriam se cruzado.
“Ainda que doa deixar pessoas morrerem, se agarrar a elas Ă© viver mal assombrado.”
Estou na estação hå tanto tempo.
E sempre tem gente chegando e indo.
(…)
Em alguns momentos fica o equilĂbrio terrĂvel de nunca ir.
Fica a dor terrĂvel de todo mundo que foi.
Fica a ansiedade terrĂvel de todo mundo que tem pra chegar.
Mas nenhum desses silĂȘncios chega perto
Do som que Ă© viver ouvindo o mundo se locomovendo
(…)
Estar no centro do barulho nunca foi realmente uma solidĂŁo.
Eu sou uma estação, é isso.
Assim não dói além
Porque eu sei, desde o começo, que sou passagem.
Converse. Respire. Pense em garotos. Pense em xampus. Vamos. NĂŁo fique louca. Mude de assunto. Pense na menina mais bonita do mundo e odeie. DĂȘ nome pra loucura que ela deixa de ser. Sinta dor com nome que assusta menos. (…)Problemas com nomes sĂŁo problemas e nĂŁo loucuras.
E eu nĂŁo sei de onde eu vim
Mas iria fĂĄcil, agora, a uma pizzaria
Agora as pessoas voltaram a me irritar. E eu voltei a ter que fazer muita força pra sair de casa.
Louca
Uma vez, no recreio, comendo um Bis derretido, pensei isso, pela primeira vez: e se eu ficasse louca?
Vi minhas amigas trocando papĂ©is de cartas, vi uns meninos correndo de testa suada, vi uma professora caminhar como alguĂ©m que pensava em alguĂ©m que ela encontraria no final do dia, vi tudo isso como se nĂŁo pudesse ter, ver, ser. E se eu ficasse louca. Que triste para meus pais, que triste para a carteira vazia da escola, que triste para os livros plastificados com a etiqueta que dizia que era eu. Uma estudante, uma garotinha, com famĂlia, amigos, presilhas de cabelo, camisas brancas PP com um brasĂŁo que trazia um livro e um fogo. Se eu ficasse louca tudo isso seria o quĂȘ? Pra onde iriam os materiais e as pessoas e o amor? E se eu ficasse louca? Quem iria me ver babar num canto de um hospital? Existe louco em casa? MĂŁe ama os loucos? Louco tem amigo? Louco tem livro plastificado? Louco começa e nĂŁo para mais atĂ© acabar? Louco uma vez, louca pra sempre? Converse. Respire. Pense em garotos. Pense em xampus. Vamos. NĂŁo fique louca. Mude de assunto. Pense na menina mais bonita do mundo e odeie. DĂȘ nome pra loucura que ela deixa de ser. Sinta dor com nome que assusta menos. Caia na aula de educação fĂsica, rale o joelho, sangre, dĂłi menos. Desembarace os cabelos e sinta que problemas se alisam. Faça o papel do Bis virar um barquinho. Isso. Conte uma piada. Se os outros rirem bastante. Se a sua estranheza puder ser amada. Qualquer coisa menos loucura. Pense naquela mĂșsica da rĂĄdio. NĂŁo, vocĂȘ nĂŁo estĂĄ triste. Uma fofoca e pessoas em volta. VĂĄ atĂ© o banheiro retocar o batom da moranguinho. O professor mais ou menos bonito, por ele. Os outros. Olhe. Os outros. Vamos. Que data mesmo? Da guerra. Que data? Qualquer coisa. Menos louca. O hino. Sujou um pouquinho da meia. Limpinha. DĂȘ nome aos problemas. Problemas com nomes sĂŁo problemas e nĂŁo loucuras. Sempre evitando que ela saia. Sempre segurando. NĂŁo caia dura no meio do mundo. NĂŁo se chacoalhe no meio do pĂĄtio. NĂŁo vomite sĂł porque sei lĂĄ o que Ă© isso impossĂvel de digerir e nem quero saber. NĂŁo abrace sem fim porque Ă© preciso sentir o vento com o peito sozinho. TerrĂvel mas tem banho quente pra distrair. NĂŁo espanque, nĂŁo soque, nĂŁo chore sangue, nĂŁo arranque a lĂngua, nĂŁo grite, nĂŁo acabe. Siga. Sorria. Mais uma prova. Mais uma festa. Mais um garoto. Sempre um pavor escondido mas nem era nada disso. Sempre uma tristeza abafada mas nem era nada disso. Sempre uma alegria exagerada que ninguĂ©m acolhe e o silĂȘncio depois, fazendo curativos na pureza criando cascas. Um dia vocĂȘ serĂĄ. O quĂȘ? Normal. Um dia vocĂȘ serĂĄ. Normal. Um dia. Enquanto isso, se distraia como a professora que ama, as crianças que trocam papĂ©is de cartas, os garotos que correm. Eles estĂŁo se distraindo tambĂ©m e pensando âolha, uma menina comendo Bisâ.
CadĂȘ a tampa da minha panela, o chinelo do meu pĂ© cansado, a metade da minha laranja?
Tå em ebulição, vazando, transbordando, e nada da tampa da panela pra socorrer a lambança. à culpa da pressão que eu ponho em tudo isso? à o que dizem: desencana que uma hora ele aparece.
O pé cansado jå tentou calçar (à força) do chinelão que descola as tiras ao sapatinho de cristal. Nenhum serviu e o coitado tå todo esfolado.
NinguĂ©m pra descascar, chupar ou fazer uma laranjada. Em compensação, laranjas na minha vida nĂŁo faltam. E chega! HĂĄ anos peço o prĂncipe e sĂł me mandam o cavalo.
Fim de ano sem amar Ă© deprĂȘ, hein? TĂŽ megera o suficiente pra ver uma famĂlia feliz no shopping e pensar que aquela instituição “image bank” nĂŁo passa de uma uniĂŁo solitĂĄria de aparĂȘncias. TĂŽ megera o suficiente pra furar a fila do Papai Noel e pedir um pirulito, bem grande, bem grosso, bem exclusivamente apaixonado por mim.
TĂŽ megera o suficiente pra abraçar os veadinhos do trenĂł em homenagem aos meus ex-casos. TĂŽ megamegera o suficiente pra nĂŁo admitir minha carĂȘncia e dar uma risada debochada de todas as luzes, cançÔes e emoçÔes de boas-festas.
TĂĄ, mas no especial do Roberto Carlos nĂŁo vai dar pra ser megera. O filho da mĂŁe sempre me faz chorar. Ă impressionante como a gente se sente sozinha na porra do especial do Roberto Carlos.
Ă claro que eu desejo o meu sucesso profissional, dinheiro, saĂșde, …, mas nada de atacar para todos os lados nas simpatias deste rĂ©veillon. NĂŁo dĂĄ certo. Este ano vou focar no amor: calcinha vermelha, fitinhas vermelhas e as sete ondas vĂŁo ser puladas com a mĂŁo no coração (se eu usar a frente-Ășnica branca que comprei, Ă© bom que a mĂŁo no coração jĂĄ segura um peito) e uma sĂł intenção: encontrar o danado.
Ah, sejamos sinceras mulheres modernas: no fundo, no fundo, a gente quer mesmo Ă© alguĂ©m pra dormir protegida no peito (de preferĂȘncia largo, forte e levemente cabeludo).
E nem é medo de ficar pra titia não, além de ter cara de mais nova e ser bem
nova, eu sou filha Ășnica. Ă vontade de sentir aquela coisinha misteriosa de “Ă© esse!”. Como serĂĄ sentir isso? Eu sempre sinto que “pode ser esse, ou talvez com algumas mudancinhas possa ser esse ou talvez se ele quisesse, poderia ser esse…”. NĂŁo, isso tĂĄ errado. Quero sentir que “Ă© esse”.
Dizem que materializar os sonhos escrevendo ajuda, entĂŁo lĂĄ vai: quero transar com beijo na boca profundo, olhos nos olhos, eu te amo e muita sacanagem, quero cineminha com encosto de ombro cheiroso, casar de branco, ser carregada no colo, filhos, casinha no campo com cerquinha branca, cachorro e caseiro bacana. Quero ouvir Chet Baker numa noite chuvosa e ter de um lado um livrinho na cabeceira da cama e do outro o homem que amo.
Quero sambĂŁo com churrasco e as famĂlias reunidas. Quero ter certeza, ali no fundo da alma dele, de que ele me ama. Quero que ele saia correndo quando meu peito amargurado precisar de riso. Que ele esqueça, de vez em quando, seu lado egoĂsta, e lembre do meu. Que a gente brigue de ciĂșmes, porque ciĂșmes faz parte da paixĂŁo, e que faça as pazes rapidamente, porque paz faz parte
do amor. Quero ser lembrada em horårios malucos, todos os horårios, pra sempre. Quero ser criança, mulher, homem, et, megera, maluca e, ainda assim, olhada com total reconhecimento de território. Quero sexo na escada e alguns hematomas e depois descanso numa cama nossa e pura. Quero foto brega
na sala, com duas crianças enfeitando nossa moldura. Quero o sobrenome dele, o suor dele, a alma dele, o dinheiro dele (brincadeira…). Que ele me ame como a minha mĂŁe, que seja mais forte que o meu pai, que seja a famĂlia que escolhi pra sempre. Quero que ele passe a mĂŁo na minha cabeça quando eu for
sincera em minhas desculpas e que ele me ignore quando eu tentar enrolå-lo em minhas maldades. Quero que ele me torne uma pessoa melhor, que faça sexo como ninguém, que invente novas posiçÔes, que me faça comer peixe apimentado sem medo, respeite meus enjÎos de sensibilidade, minhas esquisitices depressivas e morra de rir com meu senso de humor arrogante. Que seja lindo
de uma beleza que me encha de tesĂŁo e que tenha um beijo que nĂŁo desgaste com a rotina. Que a sua remela seja sequinha e nĂŁo gosmenta e que o tempo leve um pouco de seu cabelo (adoro carecas…). Que suas escatologias nĂŁo passem de piada e se materializem bem longe de mim. Tem que gostar de crianças, de cachorrinhos, da minha mĂŁe, e tem que odiar ver pessoas
procurando comida no lixo. Tem que dançar charmoso, ser irÎnico, ser calmo porém macho (ou seja, não explodir por nada mas também não calar por tudo). Tem que ser meio artista, mas também ter que saber cuidar dos meus problemas burocråticos. Tem que amar tudo o que eu escrevo e me olhar com aquela cara
de “essa mulher Ă© Ășnica”.
Ă mais ou menos isso. Achou muito? Claro que nĂŁo precisa ser exatamente assim, tintim por tintim. Exigir demais pode fazer eu acabar sozinha em mais shows do Roberto Carlos. Deus me livre! Bom, analisando aqui, dĂĄ pra tirar umas coisinhas. Deixa eu ver… Resumindo entĂŁo: tem que dizer que me ama e me amar mesmo, tem que rolar umas sacanagens e nĂŁo pode ter remela
gosmenta. Pronto!
E quando eu tiver tudo isso e uma menina boba e invejosa me olhar e pensar que “aquela instituição feliz nĂŁo passa de uma uniĂŁo solitĂĄria de aparĂȘncias” vou ter pena desse coração solitĂĄrio que ainda nĂŁo encontrou o verdadeiro amor.
coração que subiu nos meus ouvidos
Gritando que sente falta e pronto
DĂȘ nome pra loucura que ela deixa de ser.
Sinta dor com nome que assusta menos.
Problemas com nomes, sĂŁo problemas e nĂŁo loucuras.
Eu corro junto, ao lado, por um tempo
Mas canso, jĂĄ morrendo de rir…
JĂĄ senti como Ă© o cheiro de dentro.
JĂĄ experimentei sentar na janelinha com ele parado.
JĂĄ me imaginei embaixo, esmagada.
Em cima, surfando antes de pegar fogo.
Sei todos os Ăąngulos de ir, mas vivo no lugar de quem fica.
Nosso vĂnculo nĂŁo Ă© do tipo que pode ser quebrado com a ausĂȘncia, a distĂąncia ou o tempo. Se antes de vocĂȘ aparecer eu jĂĄ te amava, eu jĂĄ te esperava, eu jĂĄ sabia que vocĂȘ existia, como eu posso nĂŁo te amar agora que vocĂȘ tem forma, sorriso, coração e nome?
Eu mais uma vez me pergunto como Ă© mesmo que se faz a coisa mais profunda do mundo com total superficialidade. Como Ă© que se ama sem amor? Como Ă© que se entrega de dentro de uma prisĂŁo? Nunca soube.
Sinto falta da perdição involuntåria que era congelar na sua presença tão insignificante. Era a vida se mostrando mais poderosa do que eu e minhas listas de certo e errado
Ăs vezes, Ă© preciso muita humildade pra ser arrogante.
SĂł olhar para ele, sentar ao lado, ouvir a voz, faz tudo ficar mais feliz. Algumas pessoas simplesmente valem a pena.
Dividindo o astral, o ritmo, a over, a libido, a percepção da terra, do ar, do fogo, da ågua, nesta saudåvel vontade insana de viver.
Os vencedores sĂŁo mesmo um pouco egoĂstas e apesar de vocĂȘ ter me visto tanto e feito tanto e sido mais do que tanta gente que tentou bastante, Ă© claro que a luz principal vocĂȘ deve guardar para o seu caminho que eu tenho certeza que serĂĄ maravilhoso.
Ă, eu sĂł lamento, sabe? Lamento ter visto muita coisa numa pessoa que nĂŁo viu nada em mim.
VocĂȘ mente quando diz que foi bom enquanto durou. Se tivesse mesmo sido, teria continuado. ou nĂŁo? O fato de ter chorado nĂŁo demonstra sentimento e o pedido de desculpas Ă© em vĂŁo, se nĂŁo me conforta. SacrifĂcio Ă© esquecer, para mim, que Ă© tĂŁo difĂcil gostar. Mais um prejuĂzo sentimental.
Eu nunca aceitei a simplicidade do sentimento. Eu sempre quis entender de onde vinha tanta loucura, tanta emoção.
No nĂvel super avançado do livro do Wally, vocĂȘ tenta achar um cara legal.
esse orgulho nĂŁo vai me levar a lugar nenhum.
Ăłtimo, adoro ficar em casa.
Sou tipo um amarelo piscante
Tem que entrar com cuidado
A pessoa que inventou esse lance, de cuidar do jardim pra atrair borboleta, sabia o quanto dói fazer depilação?
Quando se chega ao ponto de precisar dizer a um cara que ele Ă© um idiota, Ă© porque ele nĂŁo via a hora que vocĂȘ se tocasse disso.
O bom de ficar velho é que då uma preguiça de sofrer.
Dinheiro resolve todos os problemas: basta nĂŁo ter, que todos os problemas existenciais evaporam.
Posso dar só meia volta por cima? Preguiça.
A pressa passa e o que vocĂȘ fez com pressa fica.
Depois que vocĂȘ descobre que qualquer um pode ficar louco, ficar louco perde o charme.
Prefiro ser filha do mistério,
do que ficar a vida inteira brigando pra ser mĂŁe dele.
As pessoas me olham como se eu mordesse.
E o pior Ă© que elas estĂŁo certas.
NĂŁo bateu, nĂŁo bateu. NĂŁo adianta dar porrada.
“VocĂȘ, Tati, Ă© egocĂȘntrica, instĂĄvel e maluca.”
Qual o nome do filme?
Olha quem estĂĄ falando II
Sabe aquela mulher super equilibrada? Que nunca te cobra nada? Super segura, nada ciumenta e calma?
Ela tem outro.
De graça não dou nem escùndalo.
Como eu tinha combinado que nĂŁo ia mais te ligar pra encher com ciĂșme, tĂŽ te ligando pra falar que tĂŽ com ciĂșme, mas nĂŁo vou te encher.
Se nossas linhas nĂŁo fossem tĂŁo tortas nĂŁo teriam se cruzado.
Cueca azul-calcinha Ă© o tipo da coisa que jĂĄ tĂĄ errada na essĂȘncia.
Quando nĂŁo gosto de um cara e ele me acha a “misteriosa”, me cai a ficha de como a gente Ă© idiota quando tĂĄ do outro lado.
Eu tenho vontade de jogar meu celular numa parede qualquer. E me libertar da vontade de ouvir sua voz.
Eu sinto falta de querer fazer amigos em qualquer festa, só pra conhecer gente estranha e te contar depois. Agora, eu fico pelos cantos das festas. Voltei a achar todo mundo feio e bobo e sem nada a dizer. Porque eu acho que estava gostando mais das pessoas só porque te via em tudo. Agora as pessoas voltaram a me irritar. E eu voltei a ter que fazer muita força pra sair de casa.
E naquele momento eu pensei que poderĂamos ser infinitos se fossemos mĂșsica. E isso explica tudo, mas ninguĂ©m entende. VocĂȘ entende. Mas cadĂȘ vocĂȘ?
Quando vai dando assim, tipo umas onze da noite, o horĂĄrio que a gente se procurava sĂł pra saber que dĂĄ pra terminar o dia sentindo algum conforto. Quando vai chegando esse horĂĄrio, eu nem sei. Ă tĂŁo estranho ter algo pra fugir de tudo e, de repente, precisar principalmente fugir desse algo. E daĂ se vai pra onde?
Mas dar Ă© inevitĂĄvel, dĂȘ sempre, dĂȘ mesmo, dĂȘ muito.
Ă assim sempre e isso cansa tanto.
Amor nĂŁo se pede, Ă© uma pena.
Ă uma pena correr com pulinhos enganados de felicidade e levar uma rasteira. Ă uma pena ter o coração inchado de amar sozinha, olhos inchados de amar sozinha. Um semblante altista de quem constrĂłi sozinho sonhos. Mas vocĂȘ nĂŁo pode, nĂŁo, eu sei que dĂĄ vontade, mas nĂŁo dĂĄ pra ligar pro desgraçado e dizer: ei, tĂŽ sofrendo aqui, vamos parar com essa estupidez de nĂŁo me amar e vir logo resolver meu problema? Mas amor, minha querida, nĂŁo se pede, dĂĄ raiva, eu sei. Raiva dele ter tirado o gosto do mousse de chocolate que vocĂȘ amava tanto. Raiva dele fazer vocĂȘ comer cinco mousses de chocolate seguidos pra ver se, em algum momento, o gosto volta. Raiva dele ter tirado as cores bonitas do mundo, a felicidade imensa em ver crianças sorrindo, a graça na bobeira de um cachorro querendo brincar. Ele roubou sua leveza mas, por alguma razĂŁo, vocĂȘ estĂĄ vazia. Mas nĂŁo dĂĄ, nem de brincadeira, pra vocĂȘ ligar pro cara e dizer: ei, a vida Ă© curta pra sofrer, volta, volta, volta. Porque amor, meu amor, nĂŁo se pede, Ă© triste, eu sei bem. Ă triste ver o Sol e nĂŁo vĂȘ-lo se irritar porque seus olhos sĂŁo claros demais, sĂŁo tristes as manhĂŁs que prometem mais um dia sem ele, sĂŁo tristes as noites que cumprem a promessa. Ă triste respirar sem sentir aquele cheiro que invade e vocĂȘ nĂŁo olha de lado, aquele cheiro que acalma a busca. Aquele cheiro que dĂĄ vontade de transar pro resto da vida. Ă triste amar tanto e tanto amor nĂŁo ter proveito. Tanto amor querendo fazer alguĂ©m feliz. Tanto amor querendo escrever uma histĂłria, mas sĂł escrevendo este texto amargurado. Ă triste saber que falta alguma coisa e saber que nĂŁo dĂĄ pra comprar, substituir, esquecer,implorar. Ă triste lembrar como eu ria com ele. Mas amor, vocĂȘ sabe, amor nĂŁo se pede. Amor se declara: sabe de uma coisa? Ele sabe, ele sabe.
Ainda que eu esteja numa fase bacana e sem nĂłs no peito (o que por um lado Ă© ruim pois a paz sempre me dĂĄ alguns quilinhos a mais e alguns textos a menos), resolvi embarcar num momento nostalgia. (âŠ)
Me faz bem lembrar que vocĂȘ nunca, nunca, nunca se alterava. Trouxesse o garçom o pedido errado pela terceira vez ou fizesse um playboy qualquer uma tremenda barbeiragem em cima do seu carro. VocĂȘ nunca estragava nossas noites. Eram tĂŁo raros os nossos momentos, vocĂȘ dizia, que eram para ser sempre bons. E de fato sempre eram.
Eu tenho saudade de mil coisas e todas essas mil coisas sempre caem na mesma Ășnica coisa de que eu tenho tanta saudade: sua leveza. VocĂȘ me dizia que jamais iria me cobrar leveza, pois me amava intensa. E me pedia que fizesse exatamente o mesmo, ainda que ao contrĂĄrio, por vocĂȘ. E eu nĂŁo obedecia nunca, afinal, pessoas intensas nĂŁo obedecem.
E assim nĂłs seguimos, por alguns bons anos entrecortados, sendo tĂŁo parecidos ainda que tĂŁo atraĂdos mutuamente pelos nossos opostos. A gente era parecido principalmente porque topava as coisas mais malucas como, por exemplo, brincar que tinha acabado de se conhecer numa festa, ainda que tivesse ido junto para a festa. E por horas ficĂĄvamos nessa bobeira e nenhum dos dois ria. AtĂ© que alguĂ©m pedia, cansado, âjĂĄ pode voltar ao normal..?â
Eu tenho saudades de tudo. Da gente acordar sua vizinha de tanto rir de coisas bestas, do seu carro sempre bagunçado, da paciĂȘncia que vocĂȘ tinha (âŠ), da mania que vocĂȘ tinha de arrumar minhas roupas em cima da cama enquanto eu tomava banho e de quando vocĂȘ apertava os ossinhos das minhas costas no escuro e falava, baixinho: âai, como essa menina gosta de fazer drama!â.
NĂŁo Ă© um sentimento egoĂsta e muito menos possessivo. Ă apenas uma saudadezinha. Gostosa, tranqĂŒila, bonita, saudĂĄvel, de longe. E, quem diria: leve.
De me sentir sempre como me sinto quando chega a tarde. Um horĂĄrio protegido pelas horas secas da manhĂŁ e frias da noite. Um horĂĄrio para dormir sem ser o sono oficial e pra amar sem ser o amor oficial. Um horĂĄrio nĂŁo-oficial que acaba sendo mais vida do que os outros.
Minhas vontades, sempre infinitas, passam muito rĂĄpido.
Eu nĂŁo quero ir embora e esperar o dia seguinte. Porque cansei dessa gente que manda ter mais calma. E me diz que sempre tem outro dia. E me diz que eu nĂŁo posso esperar nada de ninguĂ©m. E me diz que eu preciso de uma camisa de força. Se vocĂȘ puder sofrer comigo a loucura que Ă© estar vivo. Se vocĂȘ puder passar a noite em claro comigo de tanta vontade de viver esse dia sem esperar o outro, se vocĂȘ puder esquecer a camisa de força e me enroscar no seu corpo para que duas forças loucas tragam algum equilĂbrio. Se vocĂȘ puder ser alguĂ©m de quem se espera algo, afinal, Ă© uma grande mentira viver sozinho, permita-se. Eu sĂł queria alguĂ©m pra vencer comigo esses dias terrivelmente chatos.
Quando vocĂȘ Ă© chato e mesmo assim eu te beijo, nĂŁo Ă© porque sou paciente. Ă porque estou me despedindo.
Com tanto potencial pra acabar com a minha vida, sabe o que ele quer? Me fazer feliz. Olha que desgraça. O moço quer me fazer feliz. E acabar com a maravilhosa sensação de ser miserĂĄvel. E tirar de mim a Ășnica coisa que sei fazer direito nessa vida que Ă© sofrer. Anos de aprimoramento e ele quer mudar todo o esquema. O moço quer me fazer feliz. Veja se pode.
NĂŁo dĂĄ, assim nĂŁo dĂĄ. Deveria ter cadeia pra esse tipo de elemento daninho. Pior Ă© que vicia. NĂŁo Ă© que acordei me achando hoje? Agora neguinho me trata mal e eu nĂŁo deixo. Agora neguinho quer me judiar e eu mando pastar. Dei de achar que mereço ser amada. Veja se pode. Anos nos servindo de capacho, feliz da vida, e aĂ chega um desavisado com a coxa mais incrĂvel do paĂs e muda tudo. AtĂ© assoviando eu tĂŽ agora.
E vocĂȘ nĂŁo sabe como vale a pena gostar de alguĂ©m e acordar na casa dessa pessoa.
Vai ver Ă© de bobagens mesmo que eu estou precisando
Eu sei que sou pesada, triste, dramĂĄtica, neurĂłtica, louca, insatisfeita, mimada, carente. Mas vocĂȘ se esqueceu da minha maior qualidade: eu sou sĂł. (…) Eu sempre fui sĂł querendo ter uma famĂlia grande, cafĂ© da manhĂŁ, Natal, cachorro, e eu continuo sĂł quando te vejo como minha famĂlia, mas vocĂȘ me deixa sozinha com duas ou trĂȘs opçÔes de suco para uma ou duas opçÔes de pĂŁo. O mundo Ă© cheio de opçÔes sem vocĂȘ, mas todas elas me cheiram azedas e murchas demais. Eu continuo sĂł quando quero escrever uma vida com vocĂȘ, mas vocĂȘ detesta meus caminhos anotados e minhas regras. E eu detesto seu sono e sua ausĂȘncia. Eu detesto seu riso alto e forçado pisoteando o meu mundo de sombras, eu detesto vocĂȘ saindo pela porta e as paredes se fechando, se fechando, e eu sem poder berrar para, pelo amor de Deus, vocĂȘ me resgatar, e me colocar no colo, e me dizer que vocĂȘ me entende e sofre tambĂ©m. Eu sou sĂł porque enquanto eu pensava tudo isso, vocĂȘ impunha aos quatro ventos, querendo parecer muito forte e macho para seu grupinho muito forte e macho, que vocĂȘ poderia simplesmente abaixar meu som ou mudar de canal, como um programa chato qualquer que passa na sua tv. Eu hoje fui ao banheiro duzentas vezes para ficar longe do meu celular e do meu e-mail, ficar longe de todas as possibilidades da sua existĂȘncia. Me olhei no espelho bem profundamente para enxergar minhas raĂzes e ganhar força, chorei algumas vezes, fiquei sentada no chĂŁo do banheiro, para ver se meu corpo esquentava um pouco ou porque estava mesmo me sentindo um lixo. O ar-condicionado hoje estĂĄ insuportĂĄvel, mas eu nĂŁo acho que mude alguma coisa desligĂĄ-lo. Estar sozinha nĂŁo muda nada, conheço bem esse estado e, de verdade, sei lidar atĂ© melhor com ele. O que me entristece, Ă© ter visto em vocĂȘ o fim de uma histĂłria contada sempre com a mesma intensidade individual. Eu tinha visto na sua solidĂŁo uma excelente amiga para a minha solidĂŁo. Achei que elas pudessem sofrer juntas, enquanto a gente se divertia.
E quando vocĂȘ me cansa eu enfio a minha cabeça no fortinho do seu peito malhado, eu que sempre odiei os malhados, e peço a Deus para que eu nunca desista de te odiar tanto assim, porque nĂŁo pode existir Ăłdio mais cheio de borboletas, notas musicais e passarinhos azuis.
Eu quero sim te matar, porque vocĂȘ tem uma mania surda de responder a todas as minhas perguntas com um “ahhn?” enjoado, e eu quero te socar porque vocĂȘ jĂĄ descobriu tudo o que me irrita e gosta de me ver assim. Mas quando qualquer outra coisa no mundo me irrita, eu lembro que eu tenho vocĂȘ pra me fazer sentir essa raiva nossa de sitcom inteligente.
NĂŁo somos um casal melado, mas duvido que tenha alguĂ©m que duvide do nosso amor. Quer dizer, tem eu, mas eu sou louca. E o homem perfeito teria a maior paciĂȘncia do mundo em me curar dessa loucura, e vocĂȘ tem a maior paciĂȘncia do mundo em aumentar a minha loucura.
Mas eu preciso da minha loucura para escrever coisas geniais e ganhar dinheiro com isso. E sustentar vocĂȘ que, apesar de ganhar bem, Ă© um vagabundo que dorme demais e quer largar tudo para morar na praia. O homem perfeito nĂŁo Ă© um boa-vida nĂŁo, mas certamente eu o trairia com um, com cara de sonso despretensioso para a vida, enquanto eu coleciono rugas, berros e inchaços. A sua cara de “nĂŁo Ă© comigo” vai muito bem com a minha mĂĄscara da agressividade que acredita que tudo Ă© comigo. (…)
Ă cansativo viver sem vĂrgulas porque eu respiro a sua existĂȘncia 24 horas por dia, e sĂł coloco vĂrgulas teatrais para vocĂȘ nĂŁo enjoar de mim.
Amar vocĂȘ nĂŁo Ă© fĂĄcil, Ă© quase o antiamor. Ă muito, quase como se vocĂȘ nem existisse, porque sĂł o homem perfeito mereceria tanto sentimento. E eu te anulo o tempo todo dizendo para mim, repetindo para mim, o quanto vocĂȘ falha, o quanto vocĂȘ fraqueja, o quanto vocĂȘ se engana.
Fazendo isso, eu sĂł consigo te amar mais ainda. Porque vocĂȘ enterrou meu sonho aprisionado pela perfeição e me libertou para vivĂȘ-lo.
E a gente vai por aĂ, se completando assim meio torto mesmo. E Deus escrevendo certo pelas nossas linhas que, se nĂŁo fossem tĂŁo tortas, nĂŁo teriam se cruzado.
Ăs vezes vocĂȘ Ă© tĂŁo bobo, e me faz sentir tĂŁo boba, que eu tenho pena de como o mundo era bobo antes da gente se conhecer. Eu queria assinar um contrato com Deus: se eu nunca mais olhar para homem nenhum no mundo, serĂĄ que ele deixa vocĂȘ ficar comigo pra sempre? Eu descobri que tentar nĂŁo ser ingĂȘnua Ă© a nossa maior ingenuidade, eu descobri que ser inteira nĂŁo me dĂĄ medo porque ser inteira jĂĄ Ă© ser muito corajosa, eu descobri que vale a pena ficar trĂȘs horas te olhando sentada num sofĂĄ mesmo que o dia esteja explodindo lĂĄ fora. E quando jĂĄ nĂŁo sei mais o que sentir por vocĂȘ, eu respiro fundo perto da sua nuca, e começo a querer coisas que eu nem sabia que existiam. (…) Eu olhei para vocĂȘ com aquela sua jaqueta que te deixa com tanta cara de homem e me senti tĂŁo ao lado de um homem, que eu tive vontade de ser a melhor mulher do mundo. E eu tive vontade de fazer ginĂĄstica, ler, ouvir todas as mĂșsicas legais do mundo, aprender a cozinhar, arrumar seu quarto, escrever um livro, ser mĂŁe. (…) Eu te engoli e vocĂȘ Ă© tĂŁo grande pra mim que eu dedico cada segundo do meu dia em te digerir. E eu nĂŁo tenho mais fome, e eu tenho que ter fome porque eu nĂŁo quero vocĂȘ namorando uma magrela. E eu sonhei com vocĂȘ e acordei com vocĂȘ, e eu te olhei e falei que eu estava muito magrela, e vocĂȘ me mandou dormir mais, e me abraçou. Eu preciso disfarçar que nĂŁo paro mais de rir, mas aĂ olho pra vocĂȘ e vocĂȘ tambĂ©m estĂĄ sempre rindo. Se isso nĂŁo for o motivo para a gente nascer, jĂĄ nĂŁo entendo mais nada desse mundo. (…) VocĂȘ me transformou no eufemismo de mim mesma, me fez sentir a menina com uma flor daquele poema, suavizou meu soco, amoleceu minha marcha e transformou minha dureza em dança. VocĂȘ quebrou minhas pernas, me fez comprar um vestido cheio de rendas e babados, tirou as pedras da minha mĂŁo. VocĂȘ diz que me quer com todas as minhas vĂrgulas, eu te quero como meu ponto final.
Ă isso, sei lĂĄ, mas acho que amo vocĂȘ. Amo de todas as maneiras possĂveis. Sem pressa, como se sĂł saber que vocĂȘ existe jĂĄ me bastasse. Sem peito, como se sĂł existisse vocĂȘ no mundo e eu pudesse morrer sem o seu ar. Sem idade, porque a mesma vontade que eu tenho de te comer no banheiro eu tenho de passear de mĂŁos dadas com vocĂȘ empurrando nossos bisnetos.
E por fim te amo atĂ© sem amor, como se isso tudo fosse tĂŁo grande, tĂŁo grande, tĂŁo absurdo, que quase nĂŁo Ă©. Eu te amo de um jeito tĂŁo impossĂvel que Ă© como se eu nem te amasse. E aĂ eu desencano desse amor, de tanto que eu encano.
NinguĂ©m acredita na gente: nenhum cartomante, nenhum pai-de-santo, nenhuma terapeuta, nenhum parente, nenhum amigo, nenhum e-mail, nenhuma mensagem de texto, nenhum rastro, nenhuma reza, nenhuma fofoca e, principalmente (ou infelizmente): nem vocĂȘ.
Mas eu te amo tambĂ©m do jeito mais Ăłbvio de todos: eu te amo burra. EstĂșpida. Cega. E eu acredito na gente. Eu acredito que ainda vou voltar a pisar naqueles cocĂŽs da sua rua, naquelas pocinhas da sua rua, naquelas florzinhas amarelas da sua rua, naquele cheiro de famĂlia bacana e limpinha da sua rua. Como eu queria dobrar aquela esquininha com vocĂȘ, de mĂŁos dadas com os pĂȘlos penteados de lado da sua mĂŁo.
Outro dia me peguei pensando que entre dobrar aquela esquininha da sua rua e ganhar na mega-sena acumulada, eu preferia a esquininha. A esquininha que vocĂȘ dobrou quando saiu da casa dos seus pais, a esquininha que vocĂȘ dobrou chorando, porque Ă© mesmo o cĂșmulo alguĂ©m nĂŁo te amar. A esquininha que vocĂȘ dobrou a vida inteira, indo para a faculdade, para a casa dos seus amigos, para a praia. Eu amo a sua esquininha, eu amo a sua vida e eu amo tudo o que Ă© seu.
Amo vocĂȘ, mesmo sem vocĂȘ me amar. Amo seus rompantes em me devorar com os olhos e amo o nada que sempre vem depois disso. Amo seu nada, apenas porque o seu nada tambĂ©m Ă© seu.
Amo tanto, tanto, tanto, que te deixo em paz. Deixo vocĂȘ se virando sozinho, se dobrando sozinho. Virando e dobrando a sua esquininha. Afinal, por ela vocĂȘ tambĂ©m passou quando nĂŁo me quis mais, quando nĂŁo quis mais a minha mĂŁo pequena querendo ser embalsamada eternamente ao seu lado.
Atravesso a rua sozinha, carregando uma sacola cheia de presentes e cartinhas. Entro sozinha no meu carro, ouço de novo a mĂșsica da semana, sigo em frente. Carrego o afeto que ganhei numa sacolinha rosa, mas dentro do meu coração Ă© sempre esse saco furado e negro. Por mais que todas as terapias do mundo, todas as auto-ajudas do universo e todos os amigos experientes do planeta me digam que preciso definitivamente nĂŁo precisar de vocĂȘ, minha alma grita aqui dentro que, por mais feliz que eu seja, a festa Ă© sempre pela metade. Ă vocĂȘ quem eu sempre busco com minha gargalhada alta, com a minha perdição humana em festejar porque Ă© preciso festejar, com a minha solidĂŁo cansada de se enganar. NĂŁo agĂŒento mais os mesmos papos, os mesmos cheiros, as mesmas gĂrias, os mesmos erros, a volta por cima, o salto alto, o queixo empinado, o peito projetado pra frente. NĂŁo agĂŒento mais fingir com toda a força do mundo que tudo bem festejar sem saber quem Ă© vocĂȘ.
Chorar não adianta, eu seco de tanto chorar e não passa. Ver TV, falar ao telefone, dançar, gritar, escrever, abraçar minha mãe, tomar suco de manga⊠nada adianta.
Eu sei, eu sei, o eterno clichĂȘ âisso passaâ. Passa sim e, quando passar, algo muito mais triste vai acontecer: eu nĂŁo vou mais te amar. Ă triste saber que um dia vou ver vocĂȘ passar e nĂŁo sentir cada milĂmetro do meu corpo arder e enjoar. Ă triste saber que um dia vou ouvir sua voz ou olhar seu rosto e o resto do mundo nĂŁo vai desaparecer. O fim do amor Ă© ainda mais triste do que o nosso fim. Meu amor estĂĄ cansado, surrado, ele quer me deixar para renascer depois, lindo e puro, em outro canto, mas eu nĂŁo quero outro canto, eu quero insistir no nosso canto.
Exagero? Ah, não sei não. Estou numa época que prefiro um bom sapato a um homem mais ou menos. Pelo menos sapato aumenta minha autoconfiança e eu sei exatamente aonde ele irå me machucar.
VocĂȘ nĂŁo enjoa. VocĂȘ me cansa demais mas nĂŁo enjoa. E quando vocĂȘ me cansa eu enfio a minha cabeça no fortinho do seu peito, eu que sempre odiei os malhadosâŠ
E tudo bem, nĂŁo Ă© vocĂȘ, nunca foi, mas escuta a maluquice: Ă© que nada disso impede que eu sinta um amor absurdo por vocĂȘ.
SĂł olhar para ele, sentar ao lado, ouvir a voz, faz tudo ficar mais feliz.
Pra parte surda do coração ouvir, faça silĂȘncio.
CiĂșme nĂŁo Ă© ex
Saudade nĂŁo Ă© ex, tampouco amor. Mas a vida da qual abrimos mĂŁo por um sonho (ou por um erro) Ă© passado. E de escolhas e de perdas Ă© feita a nossa histĂłria. NĂŁo hĂĄ nada que se possa fazer a nĂŁo ser carregar por um tempo um peso sufocante de impotĂȘncia: eu escolhi que aquele fosse o Ășltimo abraço. Agora Ă© outra que se perde em ombros tĂŁo largos, tomara que ela nĂŁo se perca tanto ao ponto de um dia nĂŁo enxergar o quanto aquele abraço Ă© o lado bom da vida. Da vida que te desemprega mesmo depois de tantas noites em claro e de tantos beirutes indigestos. Da vida que te abre uma porta que vocĂȘ jura ser a certa mas quando resolve entrar descobre duas crianças brincando na sala e uma mulher esperando no quarto. Da vida que te confunde tanto que vocĂȘ quer se afastar de tudo para entendĂȘ-la de fora. Da vida que te humilha tanto que vocĂȘ quer se ajoelhar numa igreja. Da vida que te emociona tanto que vocĂȘ nĂŁo quer pensar. Da vida que te engana. Aquele abraço era o lado bom da vida, mas para valorizĂĄ-lo eu precisava viver. E que irĂŽnico: pra viver eu precisava perdĂȘ- lo. Se fosse uma comĂ©dia-romĂąntica-americana, a gente se encontraria daqui a um tempo e eu diria a ele, que mesmo depois de ter conhecido homens que nĂŁo gritavam quando eu acendia a luz do quarto, nĂŁo amavam os amigos acima de, nĂŁo espirravam de uma maneira a deixar um fio de meleca pendurado no nariz, nĂŁo usavam cueca rosa, nĂŁo cantavam tĂŁo mal e tampouco cismavam de imitar o Led Zeppelin, nĂŁo tinham a mania de aumentar o rĂĄdio quando eu estava falando, nĂŁo ligavam se eu confundisse italiano com espanhol e argentino, nomes de capitais, movimentos artĂsticos, datas de revoluçÔes e nomes de queijo, era ele que eu amava, era ele que eu queria.
SĂł que dessa vez eu queria muito que fosse diferente. Dessa vez, eu queria que desse certo.
LĂĄ estou eu em mais uma mesa com risos pela metade. Olho pro lado e sinto uma saudade imensa, doĂda, desesperançada e atĂ© cĂnica. Saudade de alguma coisa ou de alguĂ©m, nĂŁo sei. Talvez de mim, de algum amor verdadeiro que durou um segundo… Meus amigos me adoram. Mas serĂĄ que eles sabem que se eu estou morrendo de rir agora, mas daqui a pouco vou morrer de chorar? E isso 24 horas. E eu, mais uma vez, olho para o lado morrendo de saudade dessa coisa que eu nĂŁo sei o que Ă©. Dessa coisa que talvez seja amor. Odeio todos os amores baratos, curtos e nĂŁo amores que eu inventei sĂł para pular uma semana sem dor. A cada semana sem dor que eu pulo, pareço acumular uma vida de dor. Preciso parar, preciso esperar. Mas a solidĂŁo dĂłi e eu sigo inventando personagens. Odeio minha fraqueza em me enganar. Eu invento amor, sim e dĂłi admitir isso. Mas Ă© que nĂŁo aguento mais nĂŁo dar um rosto para a minha saudade. Ă tudo pela metade, ao menos a minha fantasia Ă© por inteiro.. enquanto dura. No final bruto, seco e silencioso Ă© sempre isso mesmo, eu aqui meio querendo chorar, meio querendo mentir sobre a vida atĂ© acreditar. E aĂ eu deito e penso em coisas bonitinhas. E quando vou ver, jĂĄ dormi.
NĂŁo sei mais o que fazer das minhas noites durante a semana. Em relação aos finais de semana jĂĄ desisti faz tempo. TĂŽ fora de dançar os hits das rĂĄdios e ter meu braço ou cabelo puxado por um garoto que fala ‘tipo assim’, ‘gata’, ‘iradĂssimo’. Tinha me decidido a banir a palavra “balada” da minha vida e sĂł sair de casa para jantar, ir ao cinema ou talvez um ou outro barzinho. Mas a verdade Ă© que por mais que eu ame minhas amigas, a boa mĂșsica e um bom filme, sinto falta de um amor. Me pergunto onde foi parar a Ășnica coisa que realmente importa e Ă© de verdade nesta vida: a tal da quĂmica. Mas entĂŁo onde, meu Deus? Onde vou encontrar gente interessante? AtĂ© quando vou continuar achando todo mundo idiota demais pra mim e me sentindo a mais idiota de todos? Foi entĂŁo que eu descobri. Ele estĂĄ exatamente no mesmo lugar que eu agora, pensando as mesmas coisas, com preguiça de ir nos mesmos lugares furados e ver gente boba, com a mesma dĂșvida entre arriscar mais uma vez e voltar pra casa vazio ou continuar embaixo do edredom lendo mais algumas pĂĄginas do seu mundo perfeito. A verdade Ă© que as pessoas de verdade estĂŁo em casa. NĂŁo Ă© triste pensar que quanto mais interessante uma pessoa Ă©, menor a chance de vocĂȘ vĂȘ-la andando por aĂ?
Minha vontade agora Ă© sumir. Chamar vocĂȘ. Me esconder. Ir atĂ© a sua casa e te beijar e dizer que te amo e que vocĂȘ Ă© importante demais na minha vida para eu te abandonar. Sacudir vocĂȘ e dizer que vocĂȘ Ă© um otĂĄrio porque estĂĄ me perdendo dessa maneira. Minha vontade Ă© esquecer vocĂȘ. Apagar vocĂȘ da minha vida. Lembrar de vocĂȘ a cada manhĂŁ. Pensar em vocĂȘ para dormir melhor. EntĂŁo eu percebo: ITâS ME, e minhas vontades sĂŁo bipolares demais. SĂł o que nĂŁo Ă© bipolar demais Ă© a minha ganĂąncia por te ter. Sim, eu escolheria vocĂȘ. Se me dessem um Ășltimo pedido, eu escolheria vocĂȘ. Se a vida acabasse hoje ou daqui mil anos, eu escolheria vocĂȘâŠ
AtĂ© que me caiu a ficha de que ele era pior do que cocaĂna. Pior porque morenos bonitos e cheirosos sĂŁo bem mais interessantes do que um pozinho branco que corrĂłi o nariz. E melhor porque no dia seguinte o efeito ‘mulher maravilha acha que sabe voar’ continuava.
Meu Deus, como vocĂȘ Ă© lindo. NĂŁo sei direito o que Ă© aurora boreal, mas acho que deve ser algo lindo que se formava enquanto vocĂȘ era feito. NĂŁo sei direito o que Ă© isso que eu sinto por vocĂȘ. Mas como Ă© maravilhoso fumar vocĂȘ, cheirar vocĂȘ, tomar vocĂȘ, injetar vocĂȘ.
Ă triste saber que um dia vou ver vocĂȘ passar e nĂŁo sentir cada milĂmetro do meu corpo arder e enjoar. Ă triste saber que um dia vou ouvir sua voz ou olhar seu rosto e o resto do mundo nĂŁo vai desaparecer. O fim do amor Ă© ainda mais triste que o nosso fim.
“Muito amor”
Para os grandes, eu penso. E viro a cabeça pra pensar em outra coisa. Ă mais feliz gostar, amar Ă© pra quem pode. Mas vocĂȘ ou a vida ou sei lĂĄ. Insiste. E entĂŁo chega enorme. E sĂł me resta rir que nem quando vejo um bebĂȘ muito pequeno e lindo. VocĂȘ ri. Vai fazer o quĂȘ? Ă o milagre maravilhoso da vida e eu ficando brega e cheia de medo e cheia de vontade de te contar tantas coisas e nem sei se vocĂȘ gosta de ouvir meus atropelos. Muito amor. E entĂŁo fico querendo nĂŁo trair a beleza. Com vocĂȘ sinto a fidelidade de ser tranquila. Um pacto de paz com o mundo. Pra nĂŁo me afastar de vocĂȘ quando estou longe. E Ă© impossĂvel entĂŁo que os martelos do apartamento de cima sejam realmente martelos. E Ă© impossĂvel que as chatices do dia sejam realmente sem solução. E os outros caras, aviso, olha, Ă© amor. Ă amor. Ainda que eu quisesse, nĂŁo consigo mais nem um centĂmetro pra vocĂȘ. Desculpa. O amor Ă© terrivelmente fiel. Porque ele ocupa coisas nossas que nem existem nos sentidos conhecidos. Ă como tomar ĂĄgua morna depois de ter engolido um filtro inteiro de ĂĄgua geladinha. NinguĂ©m nem pensa nisso. Muito amor. De um jeito que era mesmo o que eu achava que existia. E Ă© orgĂąnico dentro da gente ainda que vendo de fora nĂŁo pareça caber. O corpo dĂĄ um jeito. Minha casca reclama mas incha. Tudo faz drama dentro de mim, ainda que nada seja realmente de surpresa. Sentir isso era o casaco de frio que sempre carreguei no carro. Cansado, abandonado, amassado, sujo, velho. Mas, de repente, tudo isso desistente tem serventia e a vida te abraça. O guarda-chuva do porta-malas. A bolsa falsa do assalto que minha mĂŁe mandava eu ter embaixo do banco do passageiro. Sentir isso sĂŁo os trocos que vocĂȘ guarda pra emergĂȘncia. Amar grande Ă© gastar reservas e ainda assim ter coragem pra dar o que nĂŁo se tem. Amar grande Ă© ter vertigem no chĂŁo mas sentir um chamado pra voar. Amar grande Ă© essa fome enjoada ou esse enjĂŽo faminto. Ă o soco do bem na barriga. Ă mostrar os dentes pra se defender mas acaba em sorriso. Ă o sal que carrego no fundo falso da bolsa pra quando eu nĂŁo aguentar a vida. Ă o açĂșcar que carrego junto. Ă tudo que pode sair do controle. Ă meu corpo caindo. E as almofadas de vĂĄrias cores pra me dizer que pode dar certo. Ă o desespero aconchegante.
AmanhĂŁ era amanhĂŁ. Depois ela resolvia
Quando ele sorri desarmado, limitado e impotente, para todas as minhas dĂșvidas, inconstĂąncias e chatices, eu sei que Ă© daquele sorriso que minha alma precisava. Ele nĂŁo faz muito pela minha angĂșstia existencial, atĂ© por nĂŁo saber. E consegue tudo de mim. Consegue atĂ© o que ninguĂ©m nunca conseguiu: me deixar leve. (âŠ) Eu quero parar com tudo isso, ele Ă© um menino que nĂŁo pode acompanhar minha louca linha de raciocĂnio meio poeta, meio neurĂłtica, meio madura. Eu quero colocar um fim neste tormento de desejar tanto quem ainda tem tanto para desejar por aĂ. E aĂ eu me pergunto: pra quĂȘ? Se estĂĄ tĂŁo bom, se Ă© tĂŁo simples. Ele me ensinou que a vida pode ser simples, e tĂŁo boa.
E vocĂȘ continua escrevendo sua histĂłria pulando linhas, errando palavras, esquecendo os tĂtulos.
Mas enfim, existem coisa que somente o coração é capaz de explicar e as vezes não adianta so virar a pågina, muitas vezes precisamos rasgå-la!
Milhares de pessoas nascem e morrem, milhares de relacionamentos começam e terminam , um objeto que quebra, a garrafa de café quase vazia, uma amizade de anos que ja nao era a mesma.. Tudo, do simples ao inabalavel,tudo chega ao fim. E hå milhares de finais acontecendo todo dia.
A saudade que sinto de todas as pessoas que foram Ă© por tudo o que elas nĂŁo foram.
Porque metade de mim Ă© a lembrança do que fui, a outra metade nĂŁo sei. Que nĂŁo seja preciso mais do que uma simples alegria pra me fazer aquietar o espĂrito. E que o seu silĂȘncio me fale cada vez mais.
Ainda Ă© cedo e eu preciso de amor. SĂł um pouquinho de amor. NĂŁo posso dormir sem paz no coração. Ele nĂŁo mora muito longe da cama que nĂŁo era cama e a cada passo esfolo mais e mais meu esmalte vermelho. Quero que ele veja o quanto mudei por causa dele, na esperança de que seu riso congelado saia do automĂĄtico e eu ganhe um Ășnico sorriso verdadeiro. NĂŁo foi sĂł o muque que ficou mais duro, mas minha autopiedade tambĂ©m aprendeu a ser menos molenga. Talvez meu amor tenha aprendido a ser menos amor sĂł para nunca deixar de ser amor.
“Eu te amo” virou uma frase tĂŁo romĂąntica quanto “Me passa o açĂșcar”.
“Para os grandes, eu penso. E viro a cabeça pra pensar em outra coisa. Ă mais feliz gostar, amar Ă© pra quem pode. Mas vocĂȘ ou a vida ou sei lĂĄ. Insiste. E entĂŁo chega enorme. E sĂł me resta rir que nem quando vejo um bebĂȘ muito pequeno e lindo. VocĂȘ ri. Vai fazer o quĂȘ? Ă o milagre maravilhoso da vida e eu ficando brega e cheia de medo e cheia de vontade de te contar tantas coisas e nem sei se vocĂȘ gosta de ouvir meus atropelos. Muito amor. (…) Amar grande Ă© gastar reservas e ainda assim ter coragem pra dar o que nĂŁo se tem. Amar grande Ă© ter vertigem no chĂŁo mas sentir um chamado pra voar. Amar grande Ă© essa fome enjoada ou esse enjĂŽo faminto. Ă o soco do bem na barriga. Ă mostrar os dentes pra se defender mas acaba em sorriso. Ă o sal que carrego no fundo falso da bolsa pra quando eu nĂŁo aguentar a vida. Ă o açĂșcar que carrego junto. Ă tudo que pode sair do controle. Ă meu corpo caindo. Ă o desespero aconchegante.E as almofadas de vĂĄrias cores pra me dizer que pode dar certo.
VocĂȘ nĂŁo sabe, nem sonha, mas vocĂȘ acaba de zerar minha vida. Minha vida era vestir a armadura e relembrar com dor pela milĂ©sima vez todos os Ășltimos podres de todas as pessoas podres que passaram ultimamente pela minha vida. VocĂȘ acaba de zerar tudo. Com a parte mais quente das suas costas, com o seu medo de beijo na orelha e com o seu jeito de se desculpar por falar demais e balançar os pĂ©s, vocĂȘ acaba de me salvar. Este texto Ă© pra te falar uma coisa boba. Ă pra te pedir que nĂŁo tenha medo. Sabe esses textos que eu publico aqui falando bobagem? Sabe esses textos falando que eu sei disso e sei daquilo? Eu nĂŁo sei de nada. Eu sĂł queria ser salva das pedras, eu sĂł queria aprender a pegar carona nas ondas. Eu sĂł queria poder chegar em casa e ver tudo diferente. Ver tudo bonito. Ver tudo como de fato Ă©. E vocĂȘ salvou minha vida. O mundo estĂĄ lindo. NĂŁo tenha medo. Eu sĂł queria que esta minha vontade de perdoar o mundo durasse. Hoje eu nĂŁo odiei o Bradesco, a Vivo, meus pais, o IPTU, o motoqueiro que me manda ir mais para o lado, o cara que fala caipira, aquela garota que vocĂȘ sabe quem Ă©. Hoje eu nĂŁo odiei nada nem ninguĂ©m. Eu apenas fiquei lembrando, a cada segundo, que vocĂȘ se desesperou pra encontrar meu brinco de coração. VocĂȘ quis encontrar meu coração pequenininho no escuro. E vocĂȘ encontrou. E vocĂȘ salvou meu dia, minha semana. E salvar meu dia jĂĄ sĂŁo zilhĂ”es de quilĂŽmetros. VocĂȘ Ă© meu herĂłi. NĂŁo tenha medo deste texto. NĂŁo tenha medo da quantidade absurda de carinho que eu quero te fazer. Nem de eu ser assim e falar tudo na lata. Nem de eu nĂŁo fazer charme quando simplesmente nĂŁo tem como fazer. Nem de eu te beijar como se a gente tivesse acabado de descobrir o beijo. Nem de eu ter ido dormir com dor na alma o fim de semana inteiro por nĂŁo saber o quanto posso te tocar. NĂŁo tenha medo de eu ser assim tĂŁo agora. Nem desse meu agora ser do tamanho do mundo. Eu estou tĂŁo cansada de assustar as pessoas. E de ser o mĂĄximo por tĂŁo pouco tempo. E de entregar tanta alma de bandeja pra tanta gente que nĂŁo quer ou nĂŁo sabe querer. Mas hoje eu nĂŁo odeio nenhuma dessas pessoas. E hoje eu nĂŁo me odeio. Hoje eu sĂł fecho os olhos e lembro de vocĂȘ me pedindo sem graça para eu nĂŁo deixar ninguĂ©m ocupar o lugar da minha canga. Tudo o que eu mais queria, por trĂĄs de todos esses meus textos tĂŁo modernos, sarcĂĄsticos e malandros, era de alguĂ©m que me pedisse para guardar o lugar. TĂĄ guardado. O da canga e de todo o resto. (…) Hoje, depois de muito tempo, eu acordei e nĂŁo me olhei no espelho. Eu nĂŁo precisei confirmar se eu era bonita. Eu acordei tendo certeza. NĂŁo tenha medo. Eu sou sĂł uma menina boba com medo da vida. Mas hoje eu nĂŁo tenho medo de nada, eu apenas fecho os olhos e lembro de vocĂȘ me dando aquela flor, fazendo piada ruim Ă s sete da manhĂŁ, me lendo no escuro mesmo com dor de cabeça. Eu posso sentir isso de novo. Que bom.
Achei que eu ia ser esperta pra sempre, mas para a minha grande alegria estou me sentindo uma idiota. Sabe o que eu fiz hoje? As pazes com o Bob Marley, com o Bob Dylan e atĂ© com o ovomaltine do Bob’s. As pazes com os casais que se balançam abraçados enquanto nĂŁo esperam nada, as pazes com as pessoas que nĂŁo sabem ver o que eu vejo. E eu sĂł vejo vocĂȘ me ensinando a dar estrela. Eu sĂł vejo vocĂȘ enchendo minha vida de estrelas. Se vocĂȘ puder, nĂŁo tenha medo. Eu sou sĂł uma menina que voltou a ver estrelas. E que repete, sem medo e sem fim, a palavra estrela no mesmo parĂĄgrafo. Estrela, estrela, estrela. ZilhĂ”es de vezes.
“Fazia tempo que alguĂ©m nĂŁo ficava tĂŁo calado enquanto eu apenas existo, fazia tempo que alguĂ©m nĂŁo ficava tĂŁo perdido sĂł porque me encontrou. “
“Que vocĂȘ acredite que nĂŁo me deve nada simplesmente porque os amores mais puros nĂŁo entendem dĂvida, nem mĂĄgoa, nem arrependimento. EntĂŁo, que nĂŁo se arrependa. Da gente. Do que fomos. De tudo o que vivemos. Que vocĂȘ me guarde na memĂłria, mais do que nas fotos. Que termine com a sensação de ter me degustado por completo, mas como quem sai da mesa antes da sobremesa: com a impressĂŁo que poderia ter se fartado um pouco mais. E que, atĂ© o Ășltimo dia da sua vida, vocĂȘ espalhe delicadamente a nossa histĂłria, para poucos ouvintes, como se ela tivesse sido a mais bela histĂłria de amor da sua vida. E que uma parte de vocĂȘ acredite que ela foi, de fato, a mais bela histĂłria de amor da sua vida.”
)
Porque vocĂȘ Ă© exatamente o que eu quero,
eu sou exatamente o que vocĂȘ quer,
mas as nossas exatidÔes não funcionam numa conta de mais.
A felicidade entrou com o pé na porta e sentou ao meu lado. O dia meio cinzento, vai-não-vai e de repente ela surge amarela e esquenta a vida. Ela mora numa gaveta cheia de bobeirinhas lå em casa. Ela toma banho comigo quando a ågua leva embora coisa ruim e renova a alma e dorme ao meu lado quando eu descanso.
Porque vocĂȘ nĂŁo faz parte da minha vida e eu nĂŁo me importo mais com isso, jĂĄ tinha me curado do vĂcio de falar sobre vocĂȘ e de pensar em vocĂȘ. Mas depois que sonhei com vocĂȘ, sonho esse que estou quase me convencendo que foi o meu subconsciente, me dizendo que eu nĂŁo me curei porra nenhuma e que eu amo vocĂȘ de uma maneira incrĂvel e contraditĂłria.
O amor deixa a gente tĂŁo idiota, que caĂmos antes das fichas.
Não tÎ fazendo mal a ninguém, só tÎ fazendo bem a mim.
Um dia, quando eu era; bem pequenininho mesmo, trepei em uma ĂĄrvore e comi uma daquelas maçãs verdes, ĂĄcidas. Minha barriga inchou e ficou dura feito um tambor. Doeu Ă beça. Minha mĂŁe disse que, se eu tivesse esperado as maçãs amadurecerem, nĂŁo teria ficado doente. Agora, quando quero alguma coisa de verdade tento lembrar do que ela disse sobre as maçãs.”
(…) Esperando porque Ă© o que resta mesmo, nĂŁo Ă© falta de coragem, nĂŁo Ă© de se fazer, Ă© de se sentir e sĂł.
Se implorar resolvesse, nĂŁo me importaria. De joelhos, no milho, em espinhos, agachada, com o cofrinho aparecendo. Uma loucura qualquer, se ajudasse, eu faria com o maior prazer. Do ridĂculo ao medo: pularia pelada de bungee jump. Chorar, se desse resultado, eu acabaria com a seca de qualquer Estado, de qualquer espĂrito. Mas amor nĂŁo se pede, imagine sĂł.
Pelo menos meu passado sĂł me condena. E o seu que te prende?
E eu tenho vontade de segurar seu rosto e ordenar que vocĂȘ seja esperto e jamais me perca e seja feliz. E que entenda que temos tudo o que duas pessoas precisam para ser feliz: A gente dĂĄ muitas risadas juntos. A gente admira o outro desde o dedinho do pĂ© atĂ© onde cada um chegou sozinho. A gente acha que o mundo estĂĄ maluco e sonha com sonos jamais despertados antes do meio-dia. A gente tem certeza de que nenhum perfume do mundo Ă© melhor do que a nuca do outro no final do dia. A gente se reconheceu de longa data quando se viu pela primeira vez na vida.”
Mas tÎ me divertindo, ué. Não é isso que mandam a gente fazer? Quando a gente chora e escreve aquele monte de poesia profunda. Quando a gente se apaixona e tudo mais e enche o saco dos amigos com aquela melação toda. Não fica todo mundo dizendo pra gente parar de tanto drama e se divertir? Poxa, tÎ só obedecendo todo mundo.
“Ela sabia que precisava dele. Pelo menos naquela noite chuvosa e sem grandes esperanças. Mas tinha medo da compulsĂŁo. De querer ele sempre e sempre e pra sempre. E amanhĂŁ e depois. E de dia, e tarde, de madrugada. E nĂŁo saber digerir tanto amor e tanto amor acabar lhe fazendo mal. SĂł mais um pouquinho, pensou. Uma lasquinha. Pra dormir feliz. AmanhĂŁ era amanhĂŁ. Depois ela resolvia…”
Caso tudo isso seja um trabalho inconsciente para me perder, parabĂ©ns, vocĂȘ estĂĄ conseguindo. Mas se ainda existir dentro de vocĂȘ alguma esperança, eu preciso demais que vocĂȘ me abrace e me faça sentir aquilo novamente. Ă fĂĄcil, basta vocĂȘ querer, eu ainda quero tanto. (…) Eu preciso sentir que vocĂȘ ainda sente, eu preciso que o seu coração dĂȘ um choque no meu, eu preciso saber que seu peito ainda aperta um pouco quando eu vou embora e se espalha como borboletas nas veias quando eu chego.
Eu nĂŁo sei esperar nada. E a natureza gritando no meu ouvido que entĂŁo, jĂĄ que sou birrenta, vou ficar sem nada mesmo.
EstĂŁo todos fazendo algo mais importante e mais maduro do que suspirar como uma idiota e sĂł pensar em vocĂȘ
Eu sou sim a pessoa que some, que surta, que vai embora, que aparece do nada, que fica porque quer, que odeia a falta de oxigĂȘnio das obrigaçÔes…
Repetindo para mim o quanto vocĂȘ falha, o quanto vocĂȘ fraqueja, o quanto vocĂȘ se engana. E fazendo isso eu sĂł consigo te amar mais ainda.
Eu preciso sentir que vocĂȘ ainda sente, eu preciso que o seu coração dĂȘ um choque no meu (…)
Sinto saudades de me perder tentando entender de que tanto vocĂȘ sorria, de que tanto vocĂȘ brilhava, de que tanto vocĂȘ se perdia e se escondia
Estou aceitando currĂculo para o meu coração. Mas Ă© vaga de dono e nĂŁo de trainee.
Eu quis muito mandar na vida. Agora, nem chego a ser mandada por ela
… lembrando que vocĂȘ disse que nunca desistiria
NĂŁo me irrita, porque se nĂŁo vocĂȘ vai acabar perdendo alguma coisa..
Um belo dia eu acordei tĂŁo bonita, tĂŁo feliz, tĂŁo realizada, tĂŁo mulher que eu acabei me tornando mulher demais para ele.
Eu sĂł queria que ele aparecesse, o homem que vai me olhar de um jeito que vai limpar toda a sujeira, o rabisco, o nĂł.
Menos dor, menos amor, menos Ăłdio, menos vontade de fazer cortar. De sangrar pra fora pra poder ser menos. Por favor.
E eu tĂŽ aqui. Eu vim do outro lado do oceano. Eu vim sĂł por sua causa.
E quando te trato mal, sĂŁo dias te amando aqui, nos espaços vazios que vocĂȘ jamais preencheria e que sĂŁo absolutamente vocĂȘ
Ă do meu auge que caio feio.
Eu tenho medo de acreditar em vocĂȘ, de te desejar tanto tanto e acabar descobrindo que eu ainda tenho um coração (…)
Saca Rolha
Estou cheia do azedo que percorre meu fĂgado e me enche de medo de vazar, de repente, num fim de tarde, numa certeza qualquer de uma roupa branca e equilibrada, numa alegria despretensiosa, numa felicidade sem cĂ©rebro, num silĂȘncio mais cansado do que desejado.
AtĂ© a borda de mim. Entupida de tudo o que, passiva em ser, apenas sou. Olhos inchados, boca cheia, coração apertando o peito, lĂngua encharcada, a vida latejando e o corpo pesado demais para voar.
Estou cheia de mim e de tudo que se relaciona ao assunto. Cheia da incapacidade em estacionar em um plano, em enquadrar um sonho feito uma borboleta morta, em continuar acreditando no que acreditei até a morte, em ter paz longe das arestas acolchoadas que criei durante toda uma vida de expectativas assustadas.
Sou filha, mĂŁe e escrava do caos, dele me tiro, sem ele nĂŁo existo. Estou cheia do caos, mas tenho horror ao equilĂbrio. Confiro minhas listas compulsivamente, buscando um pouco de linha reta para que eu possa deitar e esquecer das contorçÔes que me apertam atĂ© que eu pingue no mundo.
Sou um trapo sujo que lavo e contorço todos os segundos, mas nĂŁo o tanto que deveria por falta de força, preguiça e vontade de borrar a existĂȘncia ao lado. Eu preciso ganhar um sopro de vida em qualquer outra vida, para me enxergar alĂ©m do espelho construĂdo e imposto. Eu preciso me ver responsĂĄvel por uma palidez matinal, uma pontada no intestino inflamado, uma trepada no azulejo do chuveiro, uma parte suave e instrumental de uma mĂșsica, um cheiro de podre e solidĂŁo na madrugada sem preenchimentos.
Existo apenas para causar, e juro que amo essa palavra âcausarâ alĂ©m da gĂria que ela sugere. Existo apenas para mim mesma, o tempo todo, como nos contos do Hermann Hesse, tenho nojo e pĂąnico de grupos que se acolhem para que se aceitar nĂŁo seja um trabalho tĂŁo penoso e se sentir possa tranqĂŒilamente ser vazio.
Estou vazando de tanto que me encho de mim, mas tenho muito medo que alguém que não mereça minha intimidade cate pelos cantos assustadores do mundo as minhas tripas. Tenho muito medo que as pessoas sem profundidade conheçam a minha, e mais medo ainda de que a profundidade do mundo me cuspa. Sou uma sem-terra porque desprezo o superficial, mas dói demais ser intensa o tempo todo, e preciso fazer luzes, compras e sexo casual.
Cheia dos meus preconceitos, da vontade que tenho de cagar em cima da cabeça de todo mundo que faz beiço para insinuar sexualidade, de todo mundo que se enfia num terno para insinuar vitĂłria, de todo mundo que se enfia atrĂĄs de uma mesa para insinuar vida, de todo mundo que se enfia atrĂĄs de uma garrafa para insinuar alegria, de todo mundo que se enfia num bando para insinuar existĂȘncia, de todo mundo que se esquece no Sol para insinuar luz.
AtĂ© o topo, atĂ© o cĂ©u, atolada, tĂŽ por aqui comigo. Cansada do meu vĂcio de organizar tudo o que sou e de nĂŁo deixar espaço para o novo, para o que eu poderia ser, para o que eu nem sei que Ă©.
Queria agora que uma asa rasgasse as minhas costas porque, mais do que sentir a dor da liberdade, preciso nĂŁo ter sexo, nem nome, nem tempo e nem casa. Preciso enxergar e sobrevoar o mundo sem ser eu, para que ser eu nĂŁo seja este mundo tĂŁo pequeno e apavorado. Preciso ser qualquer coisa que eu nĂŁo saiba.
Quero me chacoalhar e implodir essa rolha que me prende em mim, e me espalhar pelas terras, e banhar bostas, e acolher vermes, e alimentar tudo o que Ă© rasteiro, tudo o que Ă© pequeno, tudo o que nĂŁo Ă©, tudo o que Ă© chĂŁo.
Primeiro dia sem vocĂȘ
Acordo feliz, nada como acordar triste para nĂŁo carregar a espera da decepção. Tomo um banho demorado escutando Cake no Ășltimo volume. Claro que nĂŁo Ă© para te provocar, vocĂȘ nĂŁo estĂĄ lĂĄ para ouvir a banda que vocĂȘ tanto odeia apenas porque vocĂȘ tem ciĂșmes de tudo o que eu gosto, mas Ă© para impor ao mundo que eu voltei, estou Ășnica e exclusiva novamente. Eu e o meu mundo. Eu e minha solidĂŁo sem preconceitos e sem liçÔes de moral, minha melhor amiga, a solidĂŁo, nunca vai me achar estranha justamente porque Ă© filha predileta da minha estranheza.
Tomo café com ela que, assim como eu, não come muito. A solidão precisa manter a forma para me acompanhar eternamente, e eu preciso não vomitar pelo inchaço que ela me causa.
Coloco uma roupa estranha, minha pulseira de dentes que vocĂȘ odeia, minha bota que nĂŁo me deixa nada feminina e pinto os olhos, adoro nĂŁo precisar parecer uma moça com dono.
No carro escuto Nação Zumbi no Ășltimo volume, vocĂȘ nĂŁo conhece, nunca se interessou, como pode? Um movimento tĂŁo charmoso ou, no mĂnimo, uma mĂșsica boa pra dançar. Lembro que vocĂȘ escuta o mesmo cd do Bob Marley hĂĄ vinte anos e sĂł troca quando algum amigo seu te dĂĄ alguma dica, as minhas dicas sĂŁo sempre chatas, meu mundo te encheu, como vocĂȘ disse. Dou graças a Deus de estar tĂŁo bem acompanhada dentro do meu universo. Eu e Nação Zumbi, eu e Billie Hollyday, eu e Cake, eu e Frank Sinatra, eu e o silĂȘncio do meu carro, sem ninguĂ©m pra me dizer que eu freio muito depois do que deveria.
Se eu quiser, hoje, alugo um daqueles filmes europeus p&b e assisto embaixo da minha coberta com um pijama bem feio e meu cabelo em seu pior estado. Quem sabe eu não tiro umas melecas do nariz, beijo minha cachorra na boca e solto pum. Eu e meus filmes prediletos, eu e minha filha peluda, eu e as extensÔes do meu corpo.
Faço aula de yoga ou musculação? Encontro o meu novo amigo interessante para um café ou bato papo com a minha nova amiga sobre essa nossa mania de não saber ser feliz, mas impor ao mundo o tempo todo a cartilha da felicidade?
O mundo Ă© enorme sem vocĂȘ, sem o seu amigo que solta fogos de artifĂcio com o cofrinho aparecendo mas me acha uma babaca, sem o seu amigo que nunca nem olhou na minha cara direito mas bate em mulheres, e sem a sua amiga que cheira enquanto o pinto do marido nĂŁo levanta e a bebĂȘ chora. O mundo Ă© enorme sem toda a culpa que eu carrego por nĂŁo ser a menininha leve e sem preconceitos que curte ver o desenho da Lua no mar e nĂŁo se abala com tanto amor e nem com o medo e o cansaço que viver causa.
Eu sei que sou pesada, triste, dramĂĄtica, neurĂłtica, louca, insatisfeita, mimada, carente. Mas vocĂȘ se esqueceu da minha maior qualidade: eu sou sĂł.
Eu era sĂł aos cinco anos quando eu nĂŁo entendia porra nenhuma do que estava acontecendo e corria para rezar no banho. A fumaça de cigarro tomando toda a casa enquanto meus pais decidiam absolutamente nada em longas discussĂ”es que sempre terminavam com a minha mĂŁe jogada em algum canto tremendo e vomitando, e eu com a certeza de que ela morreria cedo. Hoje em dia ela sinaliza o tempo todo que pode morrer por falta de carinho, e eu nĂŁo consigo dar a mĂnima.
Eu era só quando descobri que não controlo a vida, primeiro a minha mãe namorando justo no horårio do Corujão do såbado, o horårio em que eu podia ficar acordada até mais tarde namorando ela num mundo escuro e longe de tudo, depois as uvas lavadas em vinagre me esperando para sempre e meu avÎ morto no quarto ao lado, as meninas da escola ganhando corpo e charme antes de mim, o meu jeito estranho de ter medo de perder o controle e de multidão.
Eu era sĂł pesando doze quilos a menos, quando o mundo inteiro queria que eu comesse pra nĂŁo morrer, e eu querendo viver tanto que tinha medo de nĂŁo conseguir, como tudo que sempre quero muito, e acabo fodendo logo pra nĂŁo ter que viver com a ansiedade do desejo maior do que eu. Eu quase morri de tanto que queria viver. E eu tĂŽ quase acabando com o seu amor por mim, de tanto que eu quero que vocĂȘ me ame. Percebe? Louca. Louca e sĂł, porque ninguĂ©m vai agĂŒentar isso.
Eu sempre estou sĂł quando sou tomada por um susto longo e paralisador que dĂĄ vontade de me concentrar apenas em mim, e nĂŁo ver nada e nem ninguĂ©m, por isso quis chorar sĂł e escondida atrĂĄs da porta, como um rato que todo mundo tem nojo, que causa doenças, que tem um longo rabo deixando tudo entreaberto para trĂĄs, mas que no fundo sĂł quer um pouco de queijo, como qualquer criança bonitinha. Carregar nossa alma, com tudo o que ela tem de bom, de mal e de incompreensĂvel, Ă© uma tarefa solitĂĄria.
Eu sempre fui sĂł querendo ter uma famĂlia grande, cafĂ© da manhĂŁ, Natal, cachorro, e eu continuo sĂł quando te vejo como minha famĂlia, mas vocĂȘ me deixa sozinha com duas ou trĂȘs opçÔes de suco para uma ou duas opçÔes de pĂŁo. O mundo Ă© cheio de opçÔes sem vocĂȘ, mas todas elas me cheiram azedas e murchas demais.
Eu continuo sĂł quando quero escrever uma vida com vocĂȘ, mas vocĂȘ detesta meus caminhos anotados e minhas regras. E eu detesto seu sono e sua ausĂȘncia. Eu detesto seu riso alto e forçado pisoteando o meu mundo de sombras, eu detesto vocĂȘ saindo pela porta e as paredes se fechando, se fechando, e eu sem poder berrar para, pelo amor de Deus, vocĂȘ me resgatar, e me colocar no colo, e me dizer que vocĂȘ me entende e sofre tambĂ©m.
Eu sou sĂł porque enquanto eu pensava tudo isso, vocĂȘ impunha aos quatro ventos, querendo parecer muito forte e macho para seu grupinho muito forte e macho, que vocĂȘ poderia simplesmente abaixar meu som ou mudar de canal, como um programa chato qualquer que passa na sua tv.
Eu hoje fui ao banheiro duzentas vezes para ficar longe do meu celular e do meu e-mail, ficar longe de todas as possibilidades da sua existĂȘncia. Me olhei no espelho bem profundamente para enxergar minhas raĂzes e ganhar força, chorei algumas vezes, fiquei sentada no chĂŁo do banheiro, para ver se meu corpo esquentava um pouco ou porque estava mesmo me sentindo um lixo. O ar-condicionado hoje estĂĄ insuportĂĄvel, mas eu nĂŁo acho que mude alguma coisa desligĂĄ-lo.
Estar sozinha nĂŁo muda nada, conheço bem esse estado e, de verdade, sei lidar atĂ© melhor com ele. O que me entristece, Ă© ter visto em vocĂȘ o fim de uma histĂłria contada sempre com a mesma intensidade individual.
Eu tinha visto na sua solidĂŁo uma excelente amiga para a minha solidĂŁo. Achei que elas pudessem sofrer juntas, enquanto a gente se divertia.
O resto das coisas
O resto das coisas, eu me digo baixinho, vocĂȘ ainda tem todo o resto das coisas.
Para nĂŁo enlouquecer sem vocĂȘ, eu me agarro Ă quela lembrança desfocada e amarelada de que existe vida lĂĄ fora, e me pego tentando lembrar, com um esforço que quase me faz esquecer vocĂȘ por alguns segundos, o que seriam mesmo essas coisas.
O que sobra quando vocĂȘ sai Ă© um dia claro que me pede para dar um passo, apenas um passo. Mas eu fico dura que nem pedra para nĂŁo desmontar e me espalhar pelo mundo.
Não quero sujar nosso amor com a minha mania de amar despedaçada e esfarelada.
Eu endureço e esqueço o resto das coisas, porque quero ficar toda inteira pra quando vocĂȘ me quiser de volta.
Tenho medo do vento que passa arrancando partes de mim e das pessoas que me envenenam, matando partes de mim. NĂŁo quero ouvir ninguĂ©m, nĂŁo quero saber de nada, nĂŁo quero sentir nada. Quero esperar vocĂȘ voltar reta e dura como uma estĂĄtua, porque tenho medo de me espalhar pelo mundo e nunca mais ser sua.
Imagine se, por causa daquele longo adeus que eu dei e que nunca mais acabou, porque o adeus definitivo dĂłi demais, vocĂȘ volta e me encontra sem as mĂŁos? Imagine se vocĂȘ me encontra sem joelhos porque resolvi contar a Deus o quanto ainda confundo amor com escravidĂŁo?
Imagine sĂł vocĂȘ me encontrar sem fĂgado, porque vocĂȘ mesmo o deixou naquele pote estranho em cima do mĂłvel da cozinha enquanto me contava coisas que eu nĂŁo queria saber?
NĂŁo posso ser uma mulher incompleta, tem tanto amor dentro de mim que, mesmo eu sendo inteira, quase jĂĄ nĂŁo cabe. Mas se eu der um passo, um passo apenas, eu vou deixar um rastro do que eu fui pra vocĂȘ e vocĂȘ vai querer voltar pra casa como um cachorrinho fiel, mas nĂŁo vai mais ter casa.
EntĂŁo eu cerro os olhos, trinco os dentes, fecho os punhos, engulo o ventre e espero vocĂȘ chegar, porque sĂł vocĂȘ me vira do avesso sem perder nenhum grĂŁo de mim.
O resto das coisas do mundo quer sempre fazer trocas, o resto me då vida, mas quer sempre meus pedaços.
E eu acho uma traição sair por aĂ dando pedaços do meu pulmĂŁo para ares mais leves, pedaços do meu coração para risos mais despretenciosos, pedaços do meu umbigo para momentos de altruĂsmo.
A vida fica surda sem vocĂȘ, porque o volume do mundo abaixa para ouvir meu grito interno. O mundo fica passando como um filme Super Oito na parede, as pessoas estĂŁo felizes demais, mas parece que faz tempo demais e sentido nenhum. Sem vocĂȘ sinto essa felicidade sem som, como se, por maior que fosse um sentimento, ele jĂĄ nascesse com defeito.
Eu sei que as ruas vĂŁo continuar com seus lixos, seus cinzas e suas possibilidades de destino. Eu sei que a poeira vai continuar dançando em volta do meu lustre enquanto eu tento me concentrar em duas ou trĂȘs frases de um livro qualquer.
Eu sei que eu posso muitas coisas sem vocĂȘ, e eu sei que, se eu tomar um banho quente e comprar uma roupa nova, talvez eu possa querer uma coisa que seja, sĂł uma, sem vocĂȘ.
Nada muda no mundo quando vocĂȘ nĂŁo caminha ao meu lado, as pessoas quase nĂŁo percebem que falta metade do meu corpo e que eu nĂŁo posso ser muito simpĂĄtica porque toda a minha energia estĂĄ concentrada para eu nĂŁo tombar.
Os cachorros cheiram outros mijos, as pessoas estranhas fazem exercĂcios apertando as mĂŁos levantadas para cima, alguns homens de terno insistem em usar Ăłculos de surfistas como se fossem o super-homem que deixa aparecer um pedaço do S no peito.
NinguĂ©m deixa de espreguiçar sĂł porque vocĂȘ nĂŁo estĂĄ aqui, ninguĂ©m deixa de molhar a torrada no cafĂ© e de falar com voz idiota enquanto boceja.
E eu odeio o mundo por isso, eu acho o mundo muito medĂocre, eu tenho pena de todas essas pessoas que nĂŁo sabem o que Ă© encaixar o rosto no vĂŁo das suas costas e querer ser embalsamado ali por mil anos.
Amor de verdade nĂŁo acaba, Ă© o que dizem, mas eu tenho medo. Eu tenho medo de quantos mijos, bocejos, cinzas e Ăłculos de surfistas eu ainda vou ver sem vocĂȘ, eu tenho medo dos meus pedaços espalhados pelo mundo, eu tenho medo do vento passar enquanto eu estou mĂope, e eu ficar mĂope pra sempre.
Eu tenho medo de tudo isso apagar e o vento levar suas cinzas, desse fogo todo ser de palha, como dizem. Da dor que se dissipa a cada respirada mais funda e cheia de coragem de ser sĂł.
Eu tenho medo da força absurda que eu sinto sem vocĂȘ, de como eu tenho muito mais certeza de mim sem vocĂȘ, de como eu posso ser atĂ© mais feliz sem vocĂȘ.
Pra nĂŁo pensar na falta, eu me encho de coisas por aĂ. Me encho de amigos, bares, charmes, possibilidades, livros, mĂșsicas, descobertas solitĂĄrias e momentos introspectivos andando ao Sol.
E todo esse resto de coisas deixa ao pouco de ser resto, e passa a ser minha vida, e passa a enterrar vocĂȘ de grĂŁo em grĂŁo, sujando seus dentes e olhos e nada eu posso com a pĂĄ que estĂĄ na minha mĂŁo.
O vento estĂĄ mais forte do que o vidro que eu fiz com os meus prĂłprios grĂŁos para me guardar para vocĂȘ. Ele estĂĄ esmurrando a porta, escapando pelas frestas e eu gosto da brisa fina na minha testa aliviando o meu tormento.
Eu jå quase quero ser varrida por ele, como se sentir tudo isso fosse uma sujeira. Eu jå quase quero ficar surda com o zumbido do vento, e calar a boca do desgraçado que mora na minha cabeça.
Mas lembrar de vocĂȘ ainda tem o poder de congelar a natureza, de estancar a fresta aberta, de me fazer preferir o demĂŽnio quente na testa. Lembrar de vocĂȘ e de como Ă© bom percorrer cada detalhe de tudo o que Ă© seu ainda Ă© melhor do que ser sĂł minha ou me dissipar por aĂ, para sentir a leveza de querer um pouco de tudo e nĂŁo muito de uma coisa sĂł.
O resto das coisas continua encapado por um plĂĄstico vagabundo, pedindo que eu espere mais um pouco para rasgar tudo e voltar. Minha vida ficou velha quando te conheci e todo o esforço que eu faço para nĂŁo morrer a cada segundo longe de vocĂȘ, Ă© a lembrança de um velho caminhĂŁo de mudanças cheio de quinquilharias, sem rumo e perdido.
Depois que vocĂȘ me mandou limpar os Ăłculos.
A mesa rodava, as luzes insistiam, os barulhos iam cessando como um prĂȘmio e as pessoas tentavam me aquecer. Eu sabia que estava sendo amada, talvez como nunca em toda a minha vida. Mas sĂł tinha olhos para os pĂȘlos do seu braço. Eu olhava como quem nĂŁo olha e me dizia baixinho: olha eles lĂĄ, olha lĂĄ os pĂȘlos que eu tanto amo sem mais e sem fim.
Matei finalmente a saudade do seu dedĂŁo. Seu dedĂŁo meio largo, meio torto, com a unha que preenche todo o dedĂŁo. Eu amo o seu dedĂŁo, amo sua unha meio roxa, amo a semicircunferĂȘncia branca que sai da sua cutĂcula e vai atĂ© o meio da sua unha, amo a sua mĂŁo delicada que sai de um braço firme. Amo que os pĂȘlos da sua mĂŁo pareçam meio penteados de lado.
Ă isso, sei lĂĄ, mas acho que amo vocĂȘ. Amo de todas as maneiras possĂveis. Sem pressa, como se sĂł saber que vocĂȘ existe jĂĄ me bastasse. Sem peito, como se sĂł existisse vocĂȘ no mundo e eu pudesse morrer sem o seu ar. Sem idade, porque a mesma vontade que eu tenho de te comer no banheiro eu tenho de passear de mĂŁos dadas com vocĂȘ empurrando nossos bisnetos.
E por fim te amo atĂ© sem amor, como se isso tudo fosse tĂŁo grande, tĂŁo grande, tĂŁo absurdo, que quase nĂŁo Ă©. Eu te amo de um jeito tĂŁo impossĂvel que Ă© como se eu nem te amasse. E aĂ eu desencano desse amor, de tanto que eu encano.
NinguĂ©m acredita na gente: nenhum cartomante, nenhum pai-de-santo, nenhuma terapeuta, nenhum parente, nenhum amigo, nenhum e-mail, nenhuma mensagem de texto, nenhum rastro, nenhuma reza, nenhuma fofoca e, principalmente (ou infelizmente): nem vocĂȘ.
Mas eu te amo tambĂ©m do jeito mais Ăłbvio de todos: eu te amo burra. EstĂșpida. Cega. E eu acredito na gente. Eu acredito que ainda vou voltar a pisar naqueles cocĂŽs da sua rua, naquelas pocinhas da sua rua, naquelas florzinhas amarelas da sua rua, naquele cheiro de famĂlia bacana e limpinha da sua rua. Como eu queria dobrar aquela esquininha com vocĂȘ, de mĂŁos dadas com os pĂȘlos penteados de lado da sua mĂŁo.
Outro dia me peguei pensando que entre dobrar aquela esquininha da sua rua e ganhar na mega-sena acumulada, eu preferia a esquininha. A esquininha que vocĂȘ dobrou quando saiu da casa dos seus pais, a esquininha que vocĂȘ dobrou chorando, porque Ă© mesmo o cĂșmulo alguĂ©m nĂŁo te amar. A esquininha que vocĂȘ dobrou a vida inteira, indo para a faculdade, para a casa dos seus amigos, para a praia. Eu amo a sua esquininha, eu amo a sua vida e eu amo tudo o que Ă© seu.
Amo vocĂȘ, mesmo sem vocĂȘ me amar. Amo seus rompantes em me devorar com os olhos e amo o nada que sempre vem depois disso. Amo seu nada, apenas porque o seu nada tambĂ©m Ă© seu.
Amo tanto, tanto, tanto, que te deixo em paz. Deixo vocĂȘ se virando sozinho, se dobrando sozinho. Virando e dobrando a sua esquininha. Afinal, por ela vocĂȘ tambĂ©m passou quando nĂŁo me quis mais, quando nĂŁo quis mais a minha mĂŁo pequena querendo ser embalsamada eternamente ao seu lado.
Tiraram a plaquinha de aluga-se
Resolvi morar sozinha e passei os Ășltimos trĂȘs meses procurando um apartamento para alugar. Gostei logo de cara de um no Itaim, rua tranquila, vista para vĂĄrias ĂĄrvores charmosas, todo pequenininho e aconchegante. Quando entrei nele senti algo especial, estranho, familiar, algo muito bom. Mas nĂŁo, nĂŁo se pode ficar com o primeiro que aparece, nĂŁo Ă© mesmo? O Itaim tem muito trĂąnsito, prĂ©dios antigos dĂŁo problema na fiação e no encanamento, a garagem era pequena, enfim, continuei procurando.
Depois daquele apartamento vi pelo menos mais uns 30, mas o dito cujo nĂŁo saia da minha cabeça. A varandinha azul, as vaguinhas para visitantes ao lado, o porteiro velhinho que sĂł sorria. Eu estava apaixonada. Mas nĂŁo, o mundo tem tantas opçÔes, nĂŁo Ă© mesmo? NĂŁo se pode ir ficando com o primeiro que aparece, ainda mais um primeiro com tantos defeitos: a cozinha era muito antiga, a porta do banheiro batia no bidĂȘ (pra que bidĂȘ?) e a proprietĂĄria nĂŁo abria mĂŁo do carpete (eu sou alĂ©rgica).
O tempo passou, prĂ©dios modernos, mais baratos, com vistas melhores e atĂ© mesmo com banheiros gigantes (eu amo banheiros) passaram, e eu nunca tirei o predinho da rua JesuĂno da cabeça. Eu me dizia o tempo todo âo que Ă© do homem, o bicho nĂŁo comeâ e seguia a vida tranquila sabendo que quando finalmente chegasse a hora de me decidir, ele estaria lĂĄ esperando por mim.
Eu precisava experimentar o mundo, eu precisava conhecer outros cantos, cheiros e vistas, nĂŁo, de maneira nenhuma eu poderia me deixar levar pelos sentimentos e assinar um contrato de fidelidade. Um dia eu estaria pronta para sair de casa e ser uma mulher, um dia eu estaria pronta para nĂŁo ter mais que olhar pro lado pra poder olhar pra frente. Um dia eu poderia ser dele e entĂŁo, ele seria meu.
Ontem resolvi passar por lĂĄ, nĂŁo para resolver nada e nem para levar minha mudança, apenas para continuar minha paquera medrosa e distante, saber se estava tudo bem com o meu amor e esquentar um pouquinho nosso relacionamento cheios de dĂșvidas. Quando fui chegando perto nĂŁo pude acreditar: a placa de aluga-se nĂŁo estava mais lĂĄ!
Meu coração cheio de fĂșria nĂŁo cabia dentro de mim, eu atravessei a rua correndo, apertei a campainha como um fantasma faminto inconformado com a morte mas impotente e invisĂvel. Depois de muito tempo o porteiro berrou sem nem se dar ao trabalho de mostrar o rosto: jĂĄ tem gente morando lĂĄ, foi alugado semana passada!
Voltei para meu carro e chorei o choro mais profundo, antigo e verdadeiro que jĂĄ chorei em toda a minha vida. Um choro daqueles contidos pela eternidade.
Me recordei rapidamente de todas as pessoas e coisas que perdi por ainda nĂŁo estar preparada para elas, ou por ainda ter muita curiosidade de mundo e dificuldade em ser permanente.
Me lembrei de vĂĄrios lugares que trabalhei e acabei saindo porque era muito nova para me enterrar numa mesa de escritĂłrio dez horas por dia, mas eram lugares com pessoas, chefes e trabalhos muito divertidos e inesquecĂveis.
Recordei de amigos e parentes distantes, aqueles que eu sempre deixo pra depois porque moram muito longe ou acabaram se tornando pessoas muito diferentes de mim, sempre penso âmĂȘs que vem faço contato com elesâ. E se nĂŁo tiver mĂȘs que vem?
Finalmente chorei todos os meus amores que acabaram, todas as portas que eu deixei entreabertas (porque sou pĂ©ssima em fechĂĄ-las) e que se fecharam pela vida: a maioria casou, juntou, sumiu, nem sei por onde anda. AlguĂ©m quis fazer desses amores perdidos moradias e eu mais uma vez fiquei sem minha placa de âaluga-seâ.
Enfim chorei o fim de tudo, assim Ă© a vida, uma morte a cada dia. Depois, como sempre, limpei o rosto e continuei procurando pela minha casa. Estar sempre insatisfeito, na verdade, Ă© o que faz a gente nunca desistir de seguir em frente e quem sabe um dia se encontrar nesse mundo.
Dias em observação
Ela veio cheirosa e molhada, desfilou por um erro em mesas prĂłximas e caiu bem na minha frente. Foi em um castelo medieval que voltei a comer carne, eu estava com meu modelito princesa mas tinha fome de besta. No princĂpio, enchi a boca com uma culpa tĂŁo vulgar que me fez gostar ainda mais de dançar com seus restos pelo sangue do prato.
Ele parece alto num primeiro momento, mas se vocĂȘ olhar direito, tem o charme cafajeste de quem vĂȘ o mundo mais de baixo. NĂŁo tem jeito aquela boca cortada, seus olhos sĂŁo de uma profundidade quase cansada. Vai saber o que ele tem, nem ele sabe. Mas tem. Nem posso dizer que tentei evitar, pois jĂĄ descobri que se vocĂȘ evitar a vida, ela acontece do mesmo jeito. Foi assim que inaugurei jĂĄ de partida o maior quarto do mundo. Depois que a gente brincou de milionĂĄrios na suĂte de mil euros por dia, roncamos como pobres alcoolizados. Ele de vinho da casa, eu de esquecimento da casa. Emprestamos o romance de nossas mentes criativas para brindar o momento, sĂł mesmo amigos poderiam se dar a esse luxo. No dia seguinte, para que nem a gente desconfiasse de nada, voltamos a nos tratar como irmĂŁos adolescentes que se odeiam.
Foi quando descobri a cama de casal com vista para os canhĂ”es de NapoleĂŁo que me dei conta que estava completamente sozinha. Por um instante quis sentir falta de alguĂ©m, mas nĂŁo consegui me lembrar de ninguĂ©m. Por outro instante quis inventar uma pessoa, mas eu era tĂŁo de verdade naquele momento que me faltou capacidade para ser enganada. Na cidade mais romĂąntica do mundo amei meu medo, meu quarto, minha cama, meu banheiro, minha coragem, minhas prĂłximas horas pelo resto da vida, minha quase morte que agora me enchia de novidades, meu silĂȘncio, a extensĂŁo do meu pĂąnico curioso que iluminava toda a cidade, minha tranquilidade madura, toda a bagunça da minha cabeça. Sim, a garotinha magrinha, branquelinha, assustada, sensĂvel, cheia de Ăłdios, cheias de erros e cheia de si, agora apenas recomeçava no corpo de uma mulher invisĂvel. Amei que o mundo estava em festa e meu convite dava direito apenas a uma pessoa.
SĂł me restava mais uma hora e decidi correr futilmente por todas as salas atĂ© que o encontrasse. As pontes borradas, instantĂąneas e floridas me emocionaram mas nĂŁo me fizeram desistir da busca, as bailarinas tomaram alguns segundos do meu tempo, Lautrec mereceu minutos. Nos quarenta e cinco do Ășnico tempo, ele apareceu, por um desses mistĂ©rios da vida a sala estava vazia e eu pude ficar bem de frente e chorar como uma criança. O quarto de Van Gogh, que antes era uma cĂłpia barata em cima da cama do meu primeiro grande amor, agora era autĂȘntico e sĂł meu. Os grandes amores sĂŁo assim mesmo, eles nos dĂŁo o caminho da emoção, mas os sentimentos de verdade sĂŁo apenas nossos, ninguĂ©m copia, ninguĂ©m leva, ninguĂ©m divide.
Quem diria meu vestido de bolinhas e rendas no meio de tantas calças Diesel e garotas que se chamam e pensam no diminutivo. O homem mais lindo do mundo não sabe terminar uma frase sem espremer o cérebro e cuspir carne com o carro em movimento. A garota mais linda do mundo só sabe sorrir se for ganhar alguma coisa em troca.
Elas torcem para namorar os jogadores do âBarçaâ e sĂŁo, em suas cabeças brilhantes de tinta, as primeiras damas da cidade. Eles deixam o cabelo crescer, abrem a camisa atĂ© metade do peito e torcem para que alguĂ©m os ache bacana, assim, eles realmente podem ser bacanas. NĂŁo, ninguĂ©m trabalha, estuda ou sabe o que quer da vida. Ainda assim, seus passos sĂŁo infinitamente mais duros e rĂĄpidos que os meus. SĂŁo passos que de tanto ensaiar para nĂŁo cair do salto, sempre disfarçam a longa queda. Elas empinam o queixo maquiado, o peito siliconado, a bunda etiquetada e a alma oprimida. Elas sabem de cor os hits do verĂŁo europeu, assim como qualquer animal enjaulado dentro de um circo que sintoniza a Jovem Pan.
Elas tĂȘm a cor do verĂŁo, a roupa da moda, o namorado que a amiga queria, os amigos que interessam, a alegria de um remĂ©dio, a paz de uma ressaca.
Eles nĂŁo sabem fugir para o lugar sagrado do peito, eles nĂŁo sabem dormir num lençol branco e puro e sonhar com tudo o que Ă© bom na vida, eles nĂŁo sabem abraçar um amigo de verdade e encontrar um grande amor. Mas nada disso importa, as drogas estĂŁo aĂ justamente porque tudo isso cabe na palma da mĂŁo, assim como o dinheiro que os pais continuam mandando. SĂŁo todos tĂŁo lindos mas estĂŁo todos tĂŁo mortos. Uma linda morte em sĂ©rie porque atĂ© para morrer eles precisam andar juntos. Isso me lembra a frase âtodo animal fraco anda em bandoâ.
A lata de lixo piscou pra mim, me convidando a descarregar a porra do papelzinho amassado ali mesmo e, finalmente, respirar um pouco. Nele eu tinha escrito todas as dicas de ruas, cantos, esquinas, museus, restaurantes, parques, cidades, obras e pessoas que eu queria ver pelos próximos infinitos e curtos dias. Chega, lancei longe a obrigação jå conhecida e castradora de ser feliz e descansei meu vazio preenchedor num centro qualquer de um bairro sem nome.
Duas crianças me olharam, o Sol fez um triùngulo entre meus pés cansados e os pés em nuvens daquelas crianças. Um velho começou a tocar violino, eu lembrei que naquela brincadeira de pensar que instrumento musical a gente seria, eu sempre quis ser um violino. Tinha a alma aguda, triste, fina, rasgada no limite da beleza.
Uma motoca passou gritando que a Argentina tinha perdido, um negro de cueca preta posou imperial e gritou por gritar de alegria, melancolia, vazio, calor e eterna bebedeira. Minha måquina comprada no museu do Picasso, em homenagem a fase azul do artista, tirou lindas fotos azuis daquelas crianças entre o nosso triùngulo perfeito e o resto todo que nos circulava.
De dentro do restaurante a mulher que eu nunca seria alimentava metros e metros de pernas com muito presunto e olhares de porcos. Ela era mais forte que o calor, que a sensibilidades das tripas, que a vida que acaba, que o amor que nĂŁo existe. Ela nem pensa em nada disso, apenas cruza as pernas, come presunto e alimenta quem por causa dela sobrevive mais um minuto sem ser o centro do mundo. Tudo bem, eu preciso dela para ser estranha, ela precisa de mim para virar poesia.
Uma caixa de Lindt para nĂŁo morrer com a falta que me faz o feijĂŁo, uma espirrada de mel e prĂłpolis para nĂŁo sufocar com tanto mundo alĂ©m do meu mundinho, um simples botĂŁo atrĂĄs da cama e o MediterrĂąneo me engole para que eu nunca mais chore de saudades da pequena prainha que ficava ao lado da casa, um gol sem marcação e meu paĂs chora bem longe de mim, choro tambĂ©m, mas sĂł por estar longe. Um choro de emoção.
Um euro e eu ganho um manto verde para cobrir meu vestido decotado e comprado nas ârebaijasâ, agora posso entrar na igreja e rezar um pai nosso, sem nem saber direito o que pedir, parece que tenho tudo. SĂł agradeço.
Um casal de mĂŁos dadas quase teve pena de mim, depois sorriu de reconhecimento, afinal, eu era parte deles e eles eram parte de mim. Caralho, eu pensei com saudades de falar um bom palavrĂŁo na minha lĂngua: eu agora era do mundo e o mundo era meu!
Algumas loucuras antes de partir
Este texto nĂŁo tem pretensĂŁo literĂĄria, Ă© apenas uma cartinha de despedida simples e meio jogada, uma ruptura breve e necessĂĄria entre nĂłs. Eu sĂł queria dizer, antes de amarrar fitinhas do Bonfim na mala, antes do frio gostoso na barriga, antes do aviĂŁo me projetar pra trĂĄs avisando que a hora tĂŁo esperada chegou, que eu continuo a mesma, ainda que completamente diferente.
Eu continuo deixando tudo pra Ășltima hora, eu continuo preconceituosa demais e mal-humorada alĂ©m da conta, eu continuo com medo de tudo e de todos ainda que isso, por alguma razĂŁo louca, me faça amar ainda mais tudo e todos.
Mas eu tambĂ©m descobri coisas deliciosas a meu respeito como, por exemplo, que eu assusto todo mundo com o meu espelho de Palas Atenas. Uma pessoa superficial e de mentira jamais agĂŒentaria ficar perto de mim, quer coisa melhor que isso? Afasto as sombras ainda que muitas vezes me sobre a solidĂŁo, afinal, sĂŁo poucas as pessoas realmente vivas.
Descobri, depois de muito meditar, ler, fazer yoga, estudar mitologia, fazer terapia e tomar passe, que o que realmente faz uma mulher feliz e plena Ă© a escova progressiva. Meu cabelo estĂĄ lindo, liso, brilhante e macio. Sim, eu tambĂ©m posso ser apenas fĂștil e isso Ă© libertador. Gente, meu cabelo tĂĄ um arraso!
Eu ainda choro do nada porque viver Ă© um drama, mas sabe o que eu descobri? Que essa vida dramĂĄtica Ă© muito engraçada. Semana passada eu e algumas amigas rimos a noite inteira e celebramos o fato de sermos Ășnicas, de sermos sozinhas, de sermos tĂŁo parecidas e de sermos umas das outras. Eu descobri que a melhor coisa do mundo sĂŁo os amigos e por isso queria dizer: LetĂcia, Ana, Carol, Myla, LĂvia e Priscila, eu amo vocĂȘs pra cacete.
Queria dizer pra vocĂȘs que eu enchi quatro sacos de coisas velhas e mortas e joguei no lixo. Queria dizer pra vocĂȘs todos que, pela primeira vez na vida, depois de cinco anos, ele me ligou e eu nĂŁo atendi, por pura preguiça de andar pra trĂĄs ou aceitar um amor de quem tem medo de esperar pelo amor. Queria dizer que eu nĂŁo acho mais que fulana passou do peso, que fulana passou da conta de imbecilidades e que fulano se esqueceu de ser real. Eu apenas queria dizer que eu tĂŽ bem em forma, sou bem bacana e, graças a Deus, tenho plena certeza do que vim fazer nesse planeta.
Queria aproveitar para fazer um elogio a mim, sim, chega de me detonar. Queria te dizer, sua escrotinha que dorme comigo todas as noites, que nenhuma das vezes em que eu cheguei perto da janela e fiquei na ponta dos pĂ©s, eu estava sendo sincera. Queria te dizer que, apesar de vocĂȘ se sentir imensamente sozinha de vez em quando, eu sou milhares, e todas essas milhares te acham a melhor mulher do mundo. Queria bater palmas pra todas as vezes em que vocĂȘ sacrificou o que vocĂȘ mais amava em nome de seguir a diante com o teu fĂgado e todas as vezes em que vocĂȘ ficou pequenininha para que ficar grande fosse ainda maior. Obrigada por nunca ter fugido de mim, obrigada por ter me encontrado, obrigada por estar aqui. Confie que agora, de dentro de mim, conquistar o mundo vai ser ridĂculo. Ah, e tem mais: sua bunda atĂ© que Ă© bonitinha, mas o resto Ă© um arraso.
Hoje eu acordei nervosa e irritada com a minha viagem, aĂ parei e pensei: chega de se boicotar minha filha, tĂĄ na hora de vocĂȘ ser muito feliz.
Gente, tĂĄ na hora da gente ser muito feliz. Primeiro porque somos de verdade, depois porque somos filhos de Deus e, pra terminar, porque existe escova progressiva!
Enquanto eu nĂŁo volto, deixo vocĂȘs com o filme âPergunte ao PĂłâ, o livro Ă© melhor, mas John Fante vale a pena mesmo empobrecido. Deixo vocĂȘs com um fim de tarde na Rua Novo Horizonte, o lugar onde sempre sou feliz porque sempre dĂĄ pra ser feliz. Deixo vocĂȘs com os quadros da Fer Veriga, com a voz da Marisa Monte e da Nina Simone, com a frase maravilhosa de VinĂcius, âa vida sĂł se dĂĄ pra quem se deuâ, e com a sopa de aspargos do Pasta e Vino nas madrugadas. Tem ainda a senhorinha de setenta anos que fez o curso de strip da FĂĄtima Moura, a garotinha do farol que esperou a mĂŁe virar de costas pra me dizer baixinho âNĂŁo quero dinheiro nĂŁo, mas me traz uma boneca?â, tem o Ronaldinho GaĂșcho que consegue ser lindo com tanta feiĂșra nĂŁo porque Ă© rico, mas porque Ă© criança, e tem, claro, a Lolita, que nĂŁo tem vergonha de ficar histĂ©rica sem amor, assim como a dona.
Meu peito estĂĄ cheio de curiosidade e alegria. Ă possĂvel sim amar a vida, ainda que qualquer amor tenha seus dias de crise. E eu sĂł queria deixar todos vocĂȘs, enquanto eu nĂŁo volto, com um pedaço de mim. Pode pegar sem cerimĂŽnia, alma quanto mais a gente dĂĄ, mais a gente tem.
Muito obrigada por todos os e-mails maravilhosos que eu recebo todos os dias, por todas as palavras de incentivo e carinho. Por todos os recadinhos no Orkut. VocĂȘs me dĂŁo a certeza de que eu estou exatamente onde eu deveria estar. VocĂȘs fazem valer a pena todo o sacrifĂcio, muitas vezes solitĂĄrio, de ser uma pessoa sem medo de sentir de verdade a vida de dentro e a de fora.
Não me xinguem se este texto ficar muito tempo nesse site, todo mundo precisa, pra viver, morrer de vez em quando. Até a volta.
O garoto do pandeiro
No meio de pessoas ensebadas e poças nojentas de cerveja e mijo, ele surgiu com seu pandeirinho. O mundo cheio de motivos para ir embora congelou naqueles olhos verdes melancólicos e ao mesmo tempo despretensiosos. A festa ganhou sentido e por alguma razão minha vida também.
Foram trĂȘs ou quatro anos de um amor que beirava a obsessĂŁo: eu andava pelas ruas e achava que todo mundo era ele. Cheguei ao ponto de um dia me olhar no espelho e tambĂ©m achar que era ele. Fiquei louca de pedra mesmo.
Não comia, não dormia, não ria, não tinha a menor idéia do que fazer da vida.
Tentei terapia, ioga, curso de artes plĂĄsticas, budismo, cartomante, centro espĂrita⊠Nada adiantava. Eu nĂŁo conseguia encontrar uma razĂŁo para viver ou um alento para sobreviver. A Ășnica coisa que eu fazia era chorar o dia todo porque o tal do garoto perfeito nĂŁo queria saber de mim.
AtĂ© hoje, amigos da Ă©poca da faculdade ainda me encontram e perguntam âE fulano?â. Eu apenas sorrio e respondo incerta: âPassou, coisa de quando eu era criançaâ. Depois fico um pouco envergonhada em lembrar o quanto eu enchia o saco de todo mundo com a minha monotemĂĄtica â eu basicamente nĂŁo falava de outra coisa.
Toda vez que tinha um trabalho pra fazer na faculdade, minha inspiração era a cidade natal dele, ou alguma banda que ele gostava muito, a etimologia do seu nome, a rua onde ele morava, a pinta do lado esquerdo do seu rostoâŠ
Eu lia o que ele lia, escutava o que ele escutava, ia aonde ele ia, torcia pelo mesmo time e cheguei até a me apaixonar pelas mulheres que ele paquerava. Eu gostava tanto dele que acabei virando ele, mas não me perguntem o que isso quer dizer.
Foi o maior amor que jĂĄ senti na vida. Lembro atĂ© hoje de uma sensação muito absurda da Ă©poca: todas as vezes que o metrĂŽ parava na estação prĂłxima ao cortiço em que ele morava, eu sentia uma bola de fogo tĂŁo grande no peito que eu pedia a Deus: âNĂŁo me deixe morrer antes de vĂȘ-lo sĂł mais uma vezâ.
A repĂșblica onde ele e mais 200 estudantes comunistas da USP dormiam ficava no beco mais escuro da Avenida SĂŁo JoĂŁo. As paredes eram forradas de imagens do LĂȘnin, Che, Fidel, Lula (os tempos mudaram mesmoâŠ) e uma ou outra atriz pornĂŽ. A trilha musical para minhas inesquecĂveis tardes de amor começava quase sempre com a letra âcâ: muito Chico, variando um pouco para Cazuza, Caetano ou Cartola.
A emoção de estar ali com ele era tão forte que eu sempre ia embora antes da hora com medo de vomitar ou explodir. Minha boca secava, entortava, eu só falava burrices. Era um horror e ao mesmo tempo a glória.
A histĂłria terminou junto com a faculdade. Ele sumiu no mundo e eu cai na vida. Tive dezenas de namorados, aprendi a amar menos, o que foi uma pena, e aprendi a ser mais cĂnica com a vida, o que tambĂ©m foi uma pena, mas necessĂĄrio. Viver pra sempre tĂŁo boba e perdida teria sido fatal.
Dez anos depois recebo uma ligação estranha, a mesma voz de sempre, as mesmas lacunas que eu, sempre nervosa, nunca soube preencher. A bola de fogo ainda estava dentro de mim, minhas pernas ainda podiam fraquejar, minha boca ainda secava, eu ainda guardava em mim os restos corajosos e puros do primeiro, e sempre maior, amor.
Cortei o cabelo, comprei roupa nova, fui o caminho inteiro me dizendo âAgora vocĂȘ Ă© uma mulher, comporte-se como talâ e rezando a Deus para que ao menos dessa vez me ajudasse a controlar o queixo que sempre tremia.
Cheguei primeiro, estalei os dedos, mordi a boca, suspirei, fechei os olhos. De repente ele estava lĂĄ. Olhei bem, olhei de novo, olhei mais uma vez⊠NĂŁo⊠o que tinham feito do meu amor? O que tinham feito do meu demĂŽnio, da minha morte, da minha vida, da minha essĂȘncia, dos meus valores, das minhas verdades?
Ele se sentou ao meu lado com olhos verdes apagados e limitados, comentou que retardatariamente ainda tocava seu pandeirinho e acreditava no PT. Sua camisa era brega, seu cheiro era oleoso e seu papo era digno de descontrole dos queixos realmente, pois dava muito sono.
Nos beijamos e nada, nenhuma disparada no coração, nenhuma dobrada involuntĂĄria nos joelhos, nada de estrelas, sininhos, fogos e cores vibrantes. O garoto perfeito dos olhos verdes perfeitos e das mĂșsicas perfeitas era agora apenas o garoto desinteressante do pandeiro. Como eu pude quase morrer pelo garoto do pandeiro?
Voltei pra casa amando e odiando o tempo. Amando porque o tempo havia passado, odiando porque o tempo havia passado.
Do que os homens tĂȘm tanto medo?
Pior do que uma mulher que fala o que pensa Ă© uma que escreve…
Quando eu tinha vinte, vinte e dois anos, choviam homens querendo namorar comigo. Eu era uma menininha perdida, com um Corsinha todo batido, semi-virgem e com medo de ir para a praia aos finais de semana e deixar minha mĂŁe sozinha. Choviam homens. E homens interessantes, juro.
AĂ agora, com quase trinta, moro sozinha, ganho bem, me tornei loira, aprendi a fazer coisas legais como torta de palmito e striptease e… nada. Os caras atĂ© se apaixonam por mim, se declaram, coisa e tal, mas nada de me levarem ao cinema de mĂŁos dadas. Eu, meu guarda roupas fashion, meus livros publicados e meu ap moderno, vivemos sozinhos.
Que Ă© que eu tinha com vinte anos que eu nĂŁo tenho mais? NĂŁo, nĂŁo era um corpo melhor. Juro que eu to melhor agora, que tenho como pagar o PaulĂŁo, meu personal. TambĂ©m melhorei de cabelo, de pele, de sorriso, de voz. Meus amigos mais antigos tĂŁo aĂ pra confirmar, sempre que me encontram, comentam: ânossa Tati, como vocĂȘ ficou melhorzinha com os anos!â EntĂŁo qual Ă© o problema?
SerĂĄ que me falta aquela pureza que eu tinha com vinte anos? Poxa, mas eu nĂŁo era exatamente pura, eu era sĂł bobinha. Daquele tipo mala que espera chegar ao motel pra falar pro cara âsabe que Ă©? NĂŁo to a fim nĂŁoâ. Que homem gosta disso? Hoje em dia se nĂŁo to a fim nĂŁo dou nem bom dia.
SerĂĄ que os homens sentem falta de quando eu era estagiĂĄria, com a mesadinha suada da mamĂŁe? Pode ser. Homem Ă© meio tosco e sempre se sente mais seguro com uma menina aprendendo o que Ă© a vida. Ă mais fĂĄcil ser o rei do sexo com uma inexperiente, ou ser o rei do bom gosto gastronĂŽmico com uma garota que paga o mcdonalds com ticket restaurante. Ă, eu exigia e assustava menos naquela Ă©poca. Mas serĂĄ que Ă© sĂł isso mesmo? Descobri que nĂŁo.
Passei os Ășltimos meses encarando todo e qualquer relacionamento como estudo antropolĂłgico e desvendei o grande mistĂ©rio da minha solidĂŁo: os caras tĂȘm medo, na verdade, das minhas letrinhas. DĂĄ pra acreditar?
Eles acham que se nĂŁo forem bons o suficiente na arte do acasalamento, no dia seguinte vai ter um texto meu com o titulo âtudo o que Ă© bom dura pouco, mas dois segundos nĂŁo Ă© rĂĄpido demais?â. Eles acham que se nĂŁo forem inteligentes o suficiente durante o jantar, no dia seguinte nĂŁo vĂŁo escapar Ă minha crĂtica âo que sobra dentro da calça falta dentro do cĂ©rebroâ.
JĂĄ teve cara que me pediu âse vocĂȘ for me largar, promete que me conta antes de publicar? NĂŁo queria ficar sabendo pela Internet!â E teve tambĂ©m, claro, o clĂĄssico: âputz, gata, vocĂȘ jĂĄ foi logo escrevendo que adorou a noite de ontem, que estĂĄ apaixonada…ficou muito fĂĄcil, perdeu a graçaâ.
Tem de tudo. Do cara que nĂŁo sustenta namorar uma mulher que nĂŁo sĂł tem passado (existe alguĂ©m com 28 anos que nĂŁo tenha passado?) como resolveu escrever um livro sobre ele, ao cara que fala âtanto texto bonito para outros caras e nenhunzinho pra mim? NĂŁo quero mais sair com vocĂȘ!â.
Outro dia ouvi de um cara que tava me paquerando ânĂŁo, nĂŁo vou comprar seu livro, vai perder o mistĂ©rioâ!
Ă isso entĂŁo. Ă aĂ que estĂĄ o problema. Eu escrevo sobre a minha vida e isso causa nos machos um misto de medo âserĂĄ que ela vai me expor?â com um misto de quebra de magia âah, ela se expĂ”e demais ali, prefiro aquela mulher muda e sem personalidade que sempre vai ser um mistĂ©rio para mimâ.
Entrei numa baita crise. Tirei meu site do ar e tudo. Repensei a vida, repensei a morte da bezerra, aumentei a terapia, voltei pra meditação. Mas depois cheguei a uma conclusão maravilhosa e definitiva: nenhum homem, até hoje, me deu mais prazer do que escrever. Então que se danem eles.
Mais uma festa
Um a um foram chegando, e eu somando a quantidade de amor que tenho no mundo. Mais ou menos 50 pessoas foram, somando com mais um monte de e-mails e mais um monte de ligaçÔes, é⊠atĂ© que sou bem amada. Calma, vocĂȘ Ă© amada, tĂĄ vendo? NĂŁo precisa mais ficar em casa de pijama assistindo Woody Allen, vocĂȘ Ă© amada. Ă que dĂĄ uma preguiça de existir.
Comemoro que estou viva, no meio da confusĂŁo que Ă© comemorar ter amigos, comemorar a blusa nova, comemorar que tenho emprego e, por isso, amigos e roupa nova, comemorar que fiz progressiva na franja, comemorar que nĂŁo sou um alien e consigo socializar, comemorar que existo dentro de uma comunidade que me aceita e atĂ© sai de casa pra tentar achar uma ruazinha difĂcil pra caramba.
Sorri em todas as fotos, esgotei minhas piadas, desfilei abraços, toquei em muita gente, ganhei alguns presentes, fiz bem meu papel de âolha que legal, estou aqui, mais um ano se passou e eu continuo achando que vale a pena estar aquiâ.
Um a um vĂŁo embora, e eu somando a quantidade de amor que vai embora.
Sobram os loucos e suas insĂŽnias, sobra o garçom cansado que nĂŁo agĂŒenta mais os loucos e suas insĂŽnias. Sobra uma latinha num canto, seis cadeiras solitĂĄrias formando uma rodinha animada, muitas bitucas que insinuam um animado papo que nĂŁo existe mais. Sobro eu, novamente.
A vida, a noite, as festas, tudo continua igual. O mesmo fedor de cigarro no cabelo, o mesmo homem bonito me olhando de longe, o mesmo homem bonito que, quando chega perto e abre a boca, eu gostaria que tivesse permanecido longe. O mesmo ùnimo em pertencer, a mesma alegria em comemorar, a mesma festa em se encontrar. Mas ninguém sabe exatamente ao que pertence, o que comemora e muito menos o que encontra.
Atravesso a rua sozinha, carregando uma sacola cheia de presentes e cartinhas. Entro sozinha no meu carro, ouço de novo a mĂșsica da semana, sigo em frente. Carrego o afeto que ganhei numa sacolinha rosa, mas dentro do meu coração Ă© sempre esse saco furado e negro.
Por mais que todas as terapias do mundo, todas as auto-ajudas do universo e todos os amigos experientes do planeta me digam que preciso definitivamente nĂŁo precisar de vocĂȘ, minha alma grita aqui dentro que, por mais feliz que eu seja, a festa Ă© sempre pela metade.
Ă vocĂȘ quem eu sempre busco com minha gargalhada alta, com a minha perdição humana em festejar porque Ă© preciso festejar, com a minha solidĂŁo cansada de se enganar.
NĂŁo agĂŒento mais os mesmos papos, os mesmos cheiros, as mesmas gĂrias, os mesmos erros, a volta por cima, o salto alto, o queixo empinado, o peito projetado pra frente. NĂŁo agĂŒento mais fingir com toda a força do mundo que tudo bem festejar sem saber quem Ă© vocĂȘ.
Eu nĂŁo acredito mais em sumir do paĂs, em trocar de emprego, em mudar de religiĂŁo, em ficar em silĂȘncio atĂ© que tudo se acalme, em dormir atĂ© tarde, no fim de tarde na Praia Preta, na nova proposta, no novo projeto, no super livro, no filme genial, na nova galera, na academia moderna, no carinha atĂ© que bacana que gosta de jazz e restaurantes charmosos, no curso de histĂłria, em comprar o novo CD mais master animado do mundo, em ler John Fante longe de tudo, em ser dondoca, em fazer progressiva, em fazer boxe, em fazer torta de verdura, em ser batalhadora, em ser fashion, em nĂŁo ser nada. Mas eu continuo acreditando na gente, eu continuo acreditando que tudo sem vocĂȘ Ă© distração e tudo com vocĂȘ Ă© vida.
Como eu queria agora ir para a sua casa, deitar na sua cama, ouvir a sua voz, esquentar meu pé na sua batata da perna. Como eu queria saber seu nome, seu cheiro, sua rua.
Assim como um dia um samba saiu procurando alguĂ©m, este texto tem a missĂŁo de sair em sua busca. Eu nĂŁo escrevo por dinheiro, vaidade, pretensĂŁo ou inteligĂȘncia. Eu escrevo porque eu sei que Ă© assim que vou te encontrar. Eu escrevo porque nĂŁo posso mais agĂŒentar que a festa acabe.
MĂ©dico e o monstro da solidĂŁo
Era âneuroâ, como dizem. JĂĄ nem sabia mais se queria aquela profissĂŁo porque nĂŁo tinha escolhido a medicina para âsalvar pessoasâ e sim para âsalvar sua conta bancĂĄriaâ. Trabalhava que nem um condenado para tirar 6, 7 paus por mĂȘs, o que nĂŁo era pĂ©ssimo mas estava longe de ser enriquecedor. Pra piorar, nĂŁo agĂŒentava mais a vida real com toda aquela galera doente e queria virar cineasta.
Ela era âneuroâ tambĂ©m, como dizem tambĂ©m. JĂĄ estava no dĂ©cimo ano de terapia e continuava igual, fazia parte da sua alma, nĂŁo tinha jeito. Era poeta, tinha atĂ© um site onde vomitava textos pesados e sem rima. Detestava os poetas tuberculosos que tinha estudado para o vestibular.
Em comum, alĂ©m da abreviação, eles tinham a vontade de deixar de ser singular. Foi aĂ que ele, um dia, depois de tomar banho e nĂŁo ter vontade nem de se vestir (pra quem?), digitou no google a palavra âsolidĂŁoâ. Caiu direto no site da garota neurĂłtica. Era uma poesia que se chamava âsolidĂŁo o caceteâ.
Essa internet expÔe mesmo as pessoas, ele pensou. Ainda bem, ele pensou quando viu a foto dela e achou a mistura daquele texto com aquele rosto algo merecedor de mais exposição:
-Ei, figura, tudo bem? CaĂ aqui no seu site, nessa noite quente por fora e fria por dentro. Sou neurocirurgiĂŁo, posso abrir sua cabeça. NĂŁo que vocĂȘ seja limitada.
Ela, que nĂŁo estava acostumada a responder esse tipo de e-mail (sua mĂŁe moderna sempre dizia ânaum tc com estranhosâ), resolveu abrir uma exceção porque achou o mĂĄximo falar com um neurocirurgiĂŁo e tambĂ©m porque pensou que ele devia ganhar bem:
-Ei, figura, tÎ precisando muito que alguém me faça uma lavagem cerebral. Conta mais.
-SĂł se for ao vivo.
-Fechado.
Se encontraram na Fnac da Paulista, ele era alto demais pro gosto dela, ela baixa demais para o dele. Foto engana. E o pior Ă© que nem o papo manteve-se Ă altura do esperado.
-Sabe, sou louca. Odeio o mundo.
-VocĂȘ Ă© mais normal do que imagina.
-Nunca saĂ com um fĂŁ.
-Isso nĂŁo Ă© um encontro.
-Eu sou feia?
-Linda, mas nĂŁo faz meu tipo.
-Ătimo, uma amizade dura mais que um amor, nunca mais vamos sofrer de solidĂŁo.
Ela foi falsa com as palavras cheias de rapidez empolgada, ele com o consentimento cheio de sorrisos encantados. Conversaram amenidades, comeram pão de queijo, falaram mal de um casal freak que se beijava na frente de crianças, ensaiaram um beijo desconexo para manter viva a chama do teatro e não decepcionar a tarde que se despedia esperançosa, desceram as escadas rolantes e deram graças a Deus quando tudo acabou.
Por trĂĄs daquele e-mail morava o homem da vida dela, sensĂvel, engraçado e charmoso. Ela nĂŁo podia perdoĂĄ-lo por nĂŁo ser ele. Por trĂĄs daquele e-mail morava uma loira gigante, corpulenta e que fala âcaceteâ, aquela menina metida a intelectual merecia a morte.
Tudo o que sou agora
Eu estou atrĂĄs da porta, o corpo revirado, amassado, pequeno, todo dobrado. Sou uma carta gigante, chata, cheia de erros, longa demais, muito complicada. âChegaâ, alguĂ©m, com preguiça de ler sobre o amor ou sem coração para se emocionar com uma carta, disse. E eu virei bolinha de papel.
Eu sou uma bolha de detergente, cansei de exterminar os restos e limpar as sujeiras e saĂ para voar um pouco. SĂł nĂŁo fui avisada de minha fragilidade e estourei, para sempre nada, nem cheiro, nem cor, nem transparĂȘncia, nada. Tudo foi lavado, desinfetado, seco e guardado, a vida continuou e a minha pequena vontade de arrumar a casa nem sequer Ă© mais lembrada.
Virei a sua remela, aquela que limpei na sua meia brega e cheia de vontade de se rebelar contra o mundo manipulador. Eu sou aquela sujeira que acorda pendurada nos seus olhos, quer atrapalhar a sua visĂŁo, mas vocĂȘ ignora e sai de casa tĂŁo despreparado para o dia. Eu fico lĂĄ, pequena, tosca, amarelada, suja, berrando para ser vista no canto da sua alma, e vocĂȘ nĂŁo me lava e nem me absorve, vocĂȘ me expele mas nĂŁo me limpa, vocĂȘ continua acordando com sono e dormindo acordado. Eu continuo no triste papel de remela dependurada e exposta. Eu espero vocĂȘ sonhar comigo para que eu amanheça nos seus olhos, sĂł Ă© uma pena que, pela manhĂŁ, seguro em seu espelho, vocĂȘ nĂŁo sinta nenhum incĂŽmodo.
Eu sou uma luzinha minĂșscula no meio da multidĂŁo, uma luzinha que pertence ao show mas nĂŁo tem o que celebrar. Eu sou um pontinho enorme de tristeza e desespero no meio das pessoas enlouquecidas cantando âI canât live, with or without youâ. Eu sou uma pequena voz em meio a tantas pessoas que sofrem. Deus, eu sei, eu sei, sĂŁo tantos e maiores os sofrimentos mas, por favor, nĂŁo deixe de me dar força, me dar força para que pelo menos, ainda que pequena e com vontade de queimar, eu continue ao menos acendendo o meu fogo e fazendo parte da expectativa.
Eu sou um fio de esperança, um fio de alegria, um fio de amor. Eu sou todos os fios que dormiram acalmados pelas suas mĂŁos naquele dia da despedida, se vocĂȘ soubesse que sempre foi sĂł daquele carinho que eu tanto precisava, ele nĂŁo precisaria ter sido o Ășltimo.
Eu sou aquele homem estranho em frente ao museu em Firenze, eu vou continuar fazendo louva-deuses de folhas e enchendo peitos puros de amor eterno e esperanças, para sempre eu vou ser tão estranho, surpreendente e interessante quanto o amor.
Mas eu também sou a sacola barata de roupas sem personalidade que agora guarda tudo o que quase foi, tudo o que poderia ter sido e mais o nosso louva-deus de folhas amareladas, cansadas e quase virando pó, quase virando nada e se espalhando pelo mundo que é enorme demais para parar quando sofremos. Eu sou o nosso louva-deus e estou quase virando nada.
Mais do que tudo, sou a garotinha assustada, cinco ou seis anos, ajoelhada no chĂŁo do banheiro pedindo que os pais parassem de brigar, assustada com o amor, assustada com a vida, assustada com a porta trancada e a solidĂŁo. Essa mesma garotinha mal resolvida que vaga dentro de mim, como um espĂrito que nĂŁo aceita evoluir, Ă© a garotinha que quis se curar do medo do amor com um amor tĂŁo grande, tĂŁo grande, tĂŁo grande, que nĂŁo existe. E ficou sem nenhum.
O gigante
Ontem eu ensaquei o Lorenzo, nosso filho que vocĂȘ me deu em uma das nossas milhares de brigas sem fim e sem jeito. Ele me olhou triste, passivo e impotente, assim como eu tambĂ©m olhei para ele e assim como tenho olhado para o mundo.
Dei um abraço forte no nosso urso cinza e chorei que nem uma criancinha de cinco anos que sofre porque estĂĄ com rinite alĂ©rgica e tem que tirar os brinquedos de pelĂșcia do quarto. A realidade acabando com a brincadeira mais uma vez.
Depois foi a vez das fotos, eu beijei uma por uma e guardei numa caixa, coloquei a caixa num canto escondido e alto do armårio, no mesmo canto escuro e esquecido por onde anda meu coração.
Olhei meu lindo vestido novo e pensei o quanto ele era feio porque eu nunca o colocaria para vocĂȘ. Olhei meus sapatos novos e pensei como seria triste usĂĄ-los sem nem saber direito para onde ir. Olhei minha velha cara no espelho e tive muita pena do quanto aquele rosto ainda ia esbugalhar os olhos para o teto lembrando que vocĂȘ disse que nunca desistiria.
Vire e mexe tenho essa vontade de cortar alguma parte do meu corpo, para ver se esguicho pra longe esse sangue contaminado que incha meu corpo de dor e me emagrece de vida. Tenho vontade de me fazer feridas porque parece mais fĂĄcil cuidar de um machucado externo e curĂĄvel.
Outro dia desses eu estava numa padaria com um amigo e ele me perguntou se eu queria um chaveirinho de ursinho, eu disse a ele que sĂł queria morrer, se ele poderia me fazer esse favor. Coitado, ele nunca mais ligou. Ainda bem, sĂł vocĂȘ podia me dar chaveirinhos de ursinho, quem esse cara pensa que Ă©?
Outro dia desses eu estava num bar com um amigo e ele começou a falar de todos os filmes, livros e mĂșsicas que eu tanto queria que vocĂȘ falasse. No final da noite eu sĂł queria estar ouvindo aquela merda daquele cd do Alpha Blond, esses intelectuais de merda nĂŁo chegam aos pĂ©s do seu sorriso e nunca vĂŁo ter de mim esse amor tĂŁo puro, tĂŁo absurdo e tĂŁo sem fim que eu tinha por vocĂȘ.
A fidelidade nĂŁo Ă© uma escolha e nem um sacrifĂcio, ela Ă© uma verdade. Por mais que eu tente, sĂł sinto nojo. A gente nĂŁo se fala mais, eu nem sei mais por onde vocĂȘ anda, eu atĂ© tenho o impulso de tentar de novo com outros homens, mas eu sĂł sinto nojo.
A Lolita vive cheirando por baixo da porta e olhando triste para o interfone, outro dia minha mĂŁe perguntou notĂcias suas e quando ela ouviu seu nome, enfiou a cabeça no meio das patas e sĂł ficou triste, ela se parece comigo mesmo.
Depois do passeio na Liberdade com meu amigo tem um encontro da mulherada no cafĂ© alĂ do Itaim. Depois tem cinema com outra amiga e depois, se eu estiver a fim, uma baladinha na casa de outra. Eu tenho um milhĂŁo de motivos pra fugir de pensar em vocĂȘ, mas em todos esses lugares vocĂȘ vai comigo. VocĂȘ segura na minha mĂŁo na hora de atravessar a rua, vocĂȘ me olha triste quando eu olho para o celular pela milĂ©sima vez, vocĂȘ sente orgulho de mim quando eu solto uma gargalhada e vocĂȘ vira o rosto se algum homem vem falar comigo. VocĂȘ prefere nĂŁo ver, mas eu vejo vocĂȘ o tempo todo.
Eu torço pra não fazer Sol, eu torço pra não chover, eu torço para acordar no meio do dia, eu torço para o dia acabar logo. Eu torço para ter alguma coisa que me faça torcer, que me diga que eu ainda sei torcer por algo mesmo sem torcer pela gente.
Minha dança Ă© queda equilibrada, minhas roupas novas sĂŁo fantasias, meu sorriso Ă© espasmo de dor, minha caminhada reta Ă© um cĂrculo que sempre me traz atĂ© aqui, meu sono Ă© cansaço de realidade, minha maquiagem Ă© exagerada, meu silĂȘncio Ă© o grito mais alto que alguĂ©m jĂĄ deu, minhas noites sĂŁo clarĂ”es horrĂveis que me arregaçam o peito e nada pode me embalar e aquecer, o frio Ă© interno, o incĂŽmodo Ă© interno, nenhum lugar do mundo me conforta.
Minha fome Ă© sobrevivĂȘncia, minha vontade Ă© mecĂąnica, minha beleza Ă© esforço, meu brilho Ă© choro, meus dias sĂŁo pontes para os dias de verdade que virĂŁo quando essa dor acabar, meus segundos sĂŁo sentidos em milĂ©simos de segundos, o tempo simplesmente nĂŁo passa.
Ăs vezes tento nĂŁo ser eu, porque se eu nĂŁo for eu, eu nĂŁo sentirei essa dor. Mas o amor Ă© tanto que atĂ© as outras todas que eu posso ser tambĂ©m o sentem.
Hoje menos que ontem, amanhã menos que hoje, e por aà vai. Vou implodir esse gigante dentro de mim e soltar seu pó a cada manhã sem fome que faz doer o corpo todo, a cada banho sem intenção, a cada tarde sem recompensas, a cada noite sem magia, a cada madrugada sem paz.
Um dia o gigante vai cair morto igual ao King Kong e chega dessa dor, dessa incerteza, desse silĂȘncio, dos dias se arrastando, do Ăłdio, das imagens doentias na minha cabeça, da saudade espada que furou meu centro e aumenta o diĂąmetro a cada movimento.
Só vai sobrar uma tristeza eterna em saber, como todos que jå viram esse filme sabem, que o rei da selva, o dono do pedaço, o forte, o poderoso, o assustador, o monstro inabalåvel que bate no peito e destrói qualquer um, só queria ser amado pela frågil mocinha.
Daqui de longe, enquanto escrevo esse texto chorando mais do que cabe no meu rosto, ouvindo pela milĂ©sima vez a mĂșsica do Damien Rice e sem vontade nenhuma de ter vontade nenhuma, eu escuto seu riso alto, exagerado e constante. E eu sĂł consigo ter mais pena de vocĂȘ do que de mim.
No dia seguinte, para que nem a gente desconfiasse de nada, voltamos a nos tratar como irmĂŁos adolescentes que se odeiam.
Estar sempre insatisfeito, na verdade, Ă© o que faz a gente nunca desistir de seguir em frente e quem sabe um dia se encontrar nesse mundo.
Gente, tĂĄ na hora da gente ser muito feliz. Primeiro porque somos de verdade, depois porque somos filhos de Deus e, pra terminar, porque existe escova progressiva!
Todo mundo precisa, pra viver, morrer de vez em quando.
Agora ninguém mais abusa da minha alma pelo simples fato de que eu não tenho mais alma nenhuma. Jå era, Zé. à isso que chamam de ser esperto? Nossa, então eu sou uma ninja. Bate aqui no meu peito, Zé? Sentiu o barulho de granito? Quebrou o braço, Zé? Desculpa!
Nunca Ă© do jeito que eu queria. E quando Ă©, eu nĂŁo quero.
“Quando sinto tĂ©dio preciso dar em cima de alguĂ©m. Mas Ă© por tĂ©dio. E os caras ficam achando que sĂŁo incriveis e tal. E aumenta meu tĂ©dio.
Eu atĂ© fujo de encrencas. O problema Ă© que Ă© em cĂrculos.
Mulheres sonsas ganham por W.O. Ă que a gente nem compete com elas.
Ăs vezes uma pessoa Ă© tĂŁo idiota que vocĂȘ pensa “nĂŁo, nĂŁo Ă© possĂvel”. E tenta ver e rever a situação. Mas Ă© possĂvel sim: existem idiotas.
No meu dicionårio definição de nojo é: piranhuda louca que se faz de tontinha refinada meiga pra arrumar marido.
VocĂȘ sĂł precisa ter calma e nĂŁo desejar tanto. Do desejo Ă© que saem as angĂșstias.
JĂĄ era, ZĂ©. Ă isso que chamam de ser esperto? Nossa, entĂŁo eu sou uma ninja. Bate aqui no meu peito, ZĂ©!? Sentiu o barulho de granito?
Sejamos diretos para nĂŁo sermos idiotas: eu te quero.
Vou deixar vocĂȘ procurar em todas o que vocĂȘ sĂł vai achar em mim, mas nĂŁo vou te esperar. Quando vocĂȘ perceber, serĂĄ tarde demais. Mas eu deixo vocĂȘ olhar, porque vocĂȘ Ă© lindo calado e eu falo para um plateia inteira. Se algum dia Manequim for objeto de palco, a gente se encontra.
Pode ser boa que é uma coisa. Jå chorei muito, jå doeu muito esse coração. Mas agora tÎ, ó, tå vendo? De pedra.Nem pena do mundo eu consigo mais sentir. Minha pureza era linda, Zé, mas ninguém entendia ela, ninguém acolhia ela. Todo mundo só abusava dela. Agora ninguém mais abusa da minha alma pelo simples fato de que eu não tenho mais alma nenhuma. Jå era, Zé. à isso que chamam de ser esperto? Nossa, então eu sou uma ninja. Bate aqui no meu peito, Zé? Sentiu o barulho de granito? Quebrou o braço, Zé? Desculpa!
‘O que definitivamente nĂŁo dĂĄ certo, ao menos para mim, Ă© se apaixonar.’
Eu nĂŁo me contento com pouco (NĂŁo mais).
Eu tenho muito dentro de mim e nĂŁo estou
a fim de dar sem receber nada em troca.
Ă aquela velha histĂłria. Amor, pra mim, sĂł dura em liberdade. Nasci pra ser livre e â quem quiser- que me deixe assim.
Afinal, eu bem que tentei consertar meu relacionamento com algumas pessoas e sĂł ganhei mais e mais poses e menos e menos verdades. Ainda que doa deixar algumas pessoas morrerem, se agarrar a elas Ă© viver mal assombrado.
Pra nĂŁo pensar na falta, eu me encho de coisas por aĂ. Me encho de amigos, bares, livros, mĂșsicas…
Homem Ă© como o Google. Vive com a desculpa que ainda estĂĄ na fase Beta.
Ele me conta das meninas, eu conto dos caras. Eu acho engraçado quando ele fala âAh, enjoei, ela era meio sem assuntoâ e olha pra mim com saudade. Ele tambĂ©m ri quando eu digo âAh, ele nĂŁo entendeu nadaâ e olho pra ele sabendo que ele tambĂ©m nĂŁo entende, mas pelo menos nĂŁo vai embora. Ou vai, mas sempre volta. NĂŁo temos ciĂșmes e nem posse porque somos pra sempre. Ainda que ele case, more na BĂłsnia, sĂŁo quase quinze anos. Somos pra sempre.
Vou deixar vocĂȘ procurar em todas o que vocĂȘ sĂł vai encontrar em mim…
Eu sou uma espécie quase em extinção: eu acredito nas pessoas.
Semana passada liguei pro meu melhor amigo e convidei para um cinema. A gente nĂŁo se falava desde o ano novo, quando tudo deu errado pro nosso lado. De tempos em tempos sumimos, falamos umas coisas horrĂveis de quem se conhece demais. Ele topou desde que fosse daqui pra frente, preguiça de conversar da briga e tal. E fomos. Cheguei antes, comprei. Ele chegou depois, comprou ĂĄgua. Porque eu comprei os ingressos, ele comprou tambĂ©m uns doces e disse que pagaria o estacionamento. Porque ele pagaria o estacionamento, eu disse que daria a carona da volta. E com meu coração tĂŁo calmo eu voltei a sentir o soninho de sofĂĄ de casa com manta que sinto ao lado dele. A gente nĂŁo se beija nem nada, mas quando vai ver pegou na mĂŁo um do outro de tanto que se gosta e se cuida e se sabe. JĂĄ tivemos nossos tempos de transar e passar nervoso e aquela coisa toda de quem ama prematuramente. Mas evoluĂmos para esse amor que nem sei explicar. Ele me conta das meninas, eu conto dos caras. Eu acho engraçado quando ele fala âah, enjoei, ela era meio sem assuntoâ e olha pra mim com saudade. Ele tambĂ©m ri quando eu digo âah, ele nĂŁo entendeu nadaâ e olho pra ele sabendo que ele tambĂ©m nĂŁo entende, mas pelo menos nĂŁo vai embora. Ou vai mas sempre volta. NĂŁo temos ciĂșmes e nem posse porque somos pra sempre. Ainda que ele case, more na BĂłsnia, sĂŁo quase dez anos. Somos pra sempre. Ele conta do filme que tĂĄ fazendo, eu do livro. Os mesmos hĂĄ mil anos. Contar Ă© sem pressa de acabar. Se ele me corta Ă© como se a frase que eu fosse falar fosse mesmo dele. Ă um exibicionismo orgĂąnico, como se meu silĂȘncio pudesse continuar me vendendo como uma boa pessoa. SĂŁo dez anos. Ă isso. Ele me viu de cabelo amarelo enrolado. Eu lembro dele gordinho e mais baixo. Eu jĂĄ fui bem bonita numa festa sĂł porque ele queria me fazer de namorada peituda pra provocar a ex. Minha maior tristeza Ă© que todo novo amor que eu arrumo vem sempre com algum velho amor tĂŁo longo e bonito. E eu sofro porque com pouco tempo nĂŁo consigo ser melhor que o muito tempo. E de sofrer assim e enlouquecer assim, nunca dou tempo de ser muito para esses amores porque estrago antes. Mas meu melhor amigo Ă© meu Ășnico amor. O Ășnico que consegui. Porque ele sempre volta. E meu coração fica calmo. E ele vai comigo na pizzaria e todos meus amigos novos morrem de rir porque ele Ă© naturalmente engraçado e gente boa e sabe todos os assuntos do mundo. E todo mundo adora meu melhor amigo. E eu amo ele. E sempre acabamos suspirando aliviados “alguĂ©m Ă© bobo como eu, alguĂ©m tem esse humor” e mais uma vez rimos da piada que inventamos, do pai que chega pro filho e fala: sua mĂŁe nĂŁo Ă© sua mĂŁe, eu transei com outra”. E esse Ă© meu presente dessa fase tĂŁo terrĂvel de gente indo embora. Quem tem que ficar, fica.
Cansada de tudo que começa. Hoje eu queria alguma coisa que continuasse.
Sabe ter Ăąnsia de vĂŽmito segundos antes de vĂȘ-lo e ter fome de mundo segundos depois de abraçå-lo?
Enquanto eu te encher o saco, brigar, discutir com vocĂȘ, tudo bem. Mas quando eu passar a te ignorar, se preocupe.
Estou numa Ă©poca que prefiro um bom sapato a um homem mais ou menos. Pelo menos o sapato eu sei exatamente aonde ele irĂĄ me machucar.
E esse Ă© meu presente dessa fase tĂŁo terrĂvel de gente indo embora. Quem tem que ficar, fica.
Ă impressionante como eu nĂŁo gosto de ninguĂ©m mas, de vez em quando, escapa um momento, um gesto, uma pessoa perdida e linda e Ășnica. E eu fico nessa felicidade de ser uma pessoa boa e capaz dessas coisas boas.
Ainda que sentir de verdade pareça uma outra vida, Ă s vezes cansa viver dentro das coisas que invento. Com vocĂȘ, mesmo eu inventando tudo tambĂ©m, dĂĄ pra ter essa sensação de desordem, atropelamento, vida dizendo e nĂŁo minha cabeça falastrona.
A vida me emociona o tempo todo mas se eu ficasse chorando, quem vai pagar minhas contas e me querer cheia de olheiras? EntĂŁo eu corro.
Eu sou sim a pessoa que (…) acha todo mundo meio feio, meio bobo, meio burro, meio perdido, meio sem alma, meio de plĂĄstico, meia bomba. E espera impaciente ser salva por uma metade meio interessante que me tire finalmente essa sensação de perna manca quando ando sozinha por aĂ, maldizendo a tudo e a todos. Eu queria ser legal, ser boa, ser leve. Mas dĂĄ realmente pra ser assim?
Por mais feliz que eu seja, a festa Ă© sempre pela metade.
Eu quero ficar com vocĂȘ o resto da vida,
mas eu preciso que vocĂȘ me precise de volta.
Pior Ă© que eu berrei. Berrei com o pior tipo de desespero do mundo. Meu silĂȘncio, meu conformismo, minha aceitação,
minha quase maturidade. Eu tenho a impressĂŁo que a hora que eu chorar, vai ser das coisas mais tristes do mundo.
O cara Ă© um erro tĂŁo grande que a mĂŁe nĂŁo o fez, a mĂŁe o cometeu.
E eu, mais uma vez, olho para o lado morrendo de saudade dessa coisa que eu nem sei o que Ă©. Dessa coisa que talvez seja amor. (âŠ) odeio todos os amores baratos, curtos e nĂŁo-amores que eu inventei sĂł pra pular uma semana sem dor. A cada semana sem dor que eu pulo, pareço acumular uma vida de dor. Preciso parar, preciso esperar. Mas a solidĂŁo dĂłi e eu sigo inventando personagens. Odeio minha fraqueza em me enganar e mais ainda a dor que vem depois dos dias entorpecidos. Eu invento amor, sim. E dĂłi admitir isso. Mas Ă© que nĂŁo aguento mais nĂŁo dar um rosto para a minha saudade.
Eu realmente pensava 24 horas por dia nisso. Em não saber viver. Se criança eu não conseguia, imagine adulta. Como? Eu nunca vou conseguir.
Mas hoje eu nĂŁo odeio nenhuma dessas pessoas. E hoje eu nĂŁo me odeio.
Dane-se, tomara que vocĂȘ quebre a cara e venha tentar qualquer tipo de aproximação sobre mim. AĂ sim, eu vou ser do mau.
Porque vocĂȘ nĂŁo sabe, mas tenho corrido maratonas e vencido monstros gigantescos para conseguir sentir tudo isso sem arrancar minha cabeça fora.
Eu queria nĂŁo acordar e lembrar que ainda preciso conquistar vocĂȘ, porque vocĂȘ brinca de ser meu, mas mora do outro lado mundo.
Vou esperar sentada. Mas vai ser em outro.
Quando vai dando assim, tipo umas onze da noite, o horĂĄrio que a gente se procurava sĂł pra saber que dĂĄ pra terminar o dia sentindo algum conforto. Quando vai chegando esse horĂĄrio, eu nem sei. Ă tĂŁo estranho ter algo pra fugir de tudo e, de repente, precisar principalmente fugir desse algo. E daĂ se vai pra onde?
Eu sou assim, eu vou sumir quando vocĂȘ menos esperar, eu vou surtar com vocĂȘ, vou querer que vocĂȘ sinta medo, orgulho, paixĂŁo, tesĂŁo, fome de mim. Eu vou ter as vontades mais loucas , eu vou sentir inveja atĂ© da sua sombra por estar perto de vocĂȘ de dia, e do seu travesseiro por estar com vocĂȘ a noite. Eu vou aparecer sĂł pra vocĂȘ me perceber, eu vou sumir e aparecer milhĂ”es de vezes pra vocĂȘ me notar. Eu vou ter sede da sua atenção, eu vou querer seu “mais eu te amo” quando eu disser “eu te odeio, e nĂŁo quero mais te ver por aqui”, eu vou querer um beijo roubado no meio daquela briga, eu vou querer seus elogios quando o espelho estiver de mal comigo, eu vou querer sua sinceridade quando for necessĂĄrio, e a sua doce mentira quando minha vaidade precisar, eu vou querer surpresas no meio do dia, ligaçÔes inesperadas, eu vou respirar vocĂȘ, eu vou amar vocĂȘ…
E aĂ vai querer mesmo cruzar meu caminho?
Aprendi tambĂ©m que por mais que vocĂȘ queira muito alguĂ©m, ninguĂ©m vale tanto Ă pena a ponto de vocĂȘ deixar de se querer.
Um milhĂŁo vezes zero Ă© zero! Ou seja, nĂŁo coloque sua intensidade onde nĂŁo tem nada
Sabe quando mulher diz que nĂŁo Ă© nada? Ă tudo.
Ele parece alto num primeiro momento, mas se vocĂȘ olhar direito, tem o charme cafajeste de quem vĂȘ o mundo mais de baixo. NĂŁo tem jeito aquela boca cortada, seus olhos sĂŁo de uma profundidade quase cansada. Vai saber o que ele tem, nem ele sabe. Mas tem. Nem posso dizer que tentei evitar, pois jĂĄ descobri que se vocĂȘ evitar a vida, ela acontece do mesmo jeito.
Ainda que o seu perfume seja a coisa mais maravilhosa que jå senti em vida, pude também experimentar o gosto amargo e podre do seu coração.
A bela e o burro
Ontem depois que vocĂȘ foi embora confesso que fiquei triste como sempre.
Mas, pela primeira vez, triste por vocĂȘ. Fico me perguntando que outra mulher ouviria os maiores absurdos como vocĂȘ, um homem de 32 anos, planejar ir a uma matinĂȘ brega com gente sem assunto no prĂłximo domingo e, ainda assim, nĂŁo deixar de olhar pra vocĂȘ e ver um homem maravilhoso.
Que outra mulher te veria alĂ©m da sua casca? VocĂȘ nĂŁo entende que eu baixei a mĂșsica do âMidnight Cowboyâ e umas boas do Talking Heads, VinĂcius de Morais e do Smiths porque achei divertido te fazer uma massa ouvindo algumas mĂșsicas que dĂŁo vontade de viver. Uma massa que vocĂȘ nĂŁo vai comer porque estĂĄ perdendo o paladar para o que a vida tem de verdadeiro e bom. Ă tanta comida estragada, plastificada e sem sal, que vocĂȘ estĂĄ perdendo o paladar para mulheres como eu. E vocĂȘ nĂŁo sabe como vale a pena gostar de alguĂ©m e acordar na casa dessa pessoa e tomar suco de manga lendo notĂcias malucas no jornal como o cara que acha que Ă© vampiro. Tudo sem vĂrgula mesmo e, nem por isso, desequilibrado ou antes da hora.
VocĂȘ nĂŁo sabe como isso Ă© infinitamente melhor do que acordar com essa ressaca de coisas erradas e vazias. Ou sozinho e desesperado pra que algum amigo reafirme que o seu dia valerĂĄ a pena. Ou com alguma garotinha boba que vai namorar sua casca. A casca que vocĂȘ tambĂ©m odeia e usa justamente para testar as pessoas âquem gostar de mim nĂŁo serve pra mimâ.
E eu tenho vontade de segurar seu rosto e ordenar que vocĂȘ seja esperto e jamais me perca e seja feliz. E entenda que temos tudo o que duas pessoas precisam para ser feliz. A gente dĂĄ muitas risadas juntos. A gente admira o outro desde o dedinho do pĂ© atĂ© onde cada um chegou sozinho. A gente acha que o mundo estĂĄ maluco e sonha com a praia do Espelho e com sonos jamais despertados antes do meio-dia. A gente tem certeza de que nenhum perfume do mundo Ă© melhor do que a nuca do outro no final do dia. A gente se reconheceu de longa data quando se viu pela primeira vez na vida.
E vocĂȘ me olha com essa carinha banal de âme espera sĂł mais um pouquinhoâ. Querendo me congelar enquanto vocĂȘ confere pela centĂ©sima vez se nĂŁo tem mesmo nenhuma mulher melhor do que eu. E sempre volta.
Volta porque pode até ter uma coxa mais dura. Pode até ter uma conta bancåria mais recheada. Pode até ter alguma descolada que te deixe instigado. Mas não tem nenhuma melhor do que eu. Não tem.
Porque, quando vocĂȘ estĂĄ com medo da vida, Ă© na minha mania de rir de tudo que vocĂȘ encontra forças. E, quando vocĂȘ estĂĄ rindo de tudo, Ă© na minha neurose que encontra um pouco de chĂŁo. E, quando precisa se sentir especial e amado, Ă© pra mim que vocĂȘ liga. E, quando estĂĄ longe de casa gosta de ouvir minha voz pra se sentir perto de vocĂȘ. E, quando pensa em alguĂ©m em algum momento de solidĂŁo, seja para chorar ou para ter algum pensamento mais safado, Ă© em mim que vocĂȘ pensa. Eu sei de tudo. E eu passei os Ășltimos anos escrevendo sobre como vocĂȘ era especial e como eu te amava e isso e aquilo. Mas chega disso.
Caiu finalmente a minha ficha do quanto vocĂȘ Ă©, tĂŁo e somente, um cara burro. E do quanto vocĂȘ jamais vai encontrar uma mulher que nem eu nesses lugares deprĂȘ em que procura. E do quanto a sua felicidade sem mim deve ser pouca pra vocĂȘ viver reafirmando o quanto Ă© feliz sem mim e principalmente viver reafirmando isso pra mim. Sabe o quĂȘ? Eu vou para a cama todo dia com 5 livros e uma saudade imensa de vocĂȘ. Ao invĂ©s de estar por aĂ caçando qualquer mala na rua pra te esquecer ou para me esquecer. Porque eu me banco sozinha e eu me banco com um coração. E nĂŁo me sinto fraca ou boba ou perdendo meu tempo por causa disso. E eu malho todo dia igual a essas suas amiguinhas de quem vocĂȘ tanto gosta, mas tenho algo que certamente vocĂȘ nĂŁo encontra nelas: assunto.
Bastante assunto.
Eu não faço desfile de moda todos os segundos do meu dia porque me acho bonita sem precisar de chapinha, salto alto e peito de pomba.
Eu tenho pena das mulheres que correm o tempo todo atrås de se tornarem a melhor fruta de uma feira. Pra depois serem apalpadas e terem seus bagaços cuspidos.
TambĂ©m sou convidada para essas festinhas com gente âwanna beâ que vocĂȘ adora. Mas eu jĂĄ sou alguĂ©m e nĂŁo preciso mais querer ser. E eu, finalmente, deixei de ter pena de mim por estar sem vocĂȘ e passei a ter pena de vocĂȘ por estar sem mim. Coitado.
Que nĂŁo seja preciso mais do que uma simples alegria pra me fazer aquietar o espĂrito e que o teu silĂȘncio me fale cada vez mais. Porque metade de mim Ă© abrigo, mas a outra metade Ă© cansaço.
Ă engraçado como alguĂ©m pode partir o seu coração e vocĂȘ ainda amĂĄ-lo com todos os pedaços partidos.
Eu sou que nem cartão de crédito: errou na terceira chance eu bloqueio.
Eu sei que Ă© daquele sorriso que minha alma precisava.
Eu sou sim a pessoa que some, que surta, que vai embora, que aparece do nada, que fica porque quer, que odeia a falta de oxigĂȘnio das obrigaçÔes, que encurta uma conversa besta, que estende um bom drama, que diz o que ninguĂ©m espera e salva uma noite, que estraga uma semana sĂł pelo prazer de ser mĂĄ e tirar as correntes da cobrança do meu peito.
Que acha todo mundo meio feio, meio bobo, meio burro, meio perdido, meio sem alma, meio de plĂĄstico, meia bomba.
Escrever sobre vocĂȘ de novo? De novo? Tenho atĂ© vergonha. Nem eu suporto mais gostar de vocĂȘ.
O problema nĂŁo Ă© a saudade bater, o problema Ă© sĂł eu apanhar.
Ă triste amar tanto e tanto amor nĂŁo ter proveito.
Mas aĂ lembrei, no meio da minha gargalhada, como eu queria contar essa histĂłria para vocĂȘ. E fiquei triste de novo.
Eu escolheria vocĂȘ. Se me dessem um Ășltimo pedido, eu escolheria vocĂȘ. Se a vida acabasse hoje ou daqui mil anos, eu escolheria vocĂȘ.
Eu quero parar com essa vidinha e ter um amor pra vida.
Pode parecer loucura, mas tirar vocĂȘ do meu peito foi o meu melhor presente que jĂĄ ganhei.
Bonito burro tĂĄ melhor que feio inteligente. Conversar eu converso com o meu cachorro.
Eu sou suspeita pra falar. Mas quando fico quieta sou mais suspeita ainda.
Até quando vou continuar achando todo mundo idiota demais pra mim e me sentindo a mais idiota de todos?
O que o coração nĂŁo vĂȘ a cabeça imagina.
Quando se estĂĄ com um homem assim, eu lembro “meu deus, como eu gosto disso”.
Se eu nĂŁo fosse assim, eu seria bem melhor. Mas nĂŁo seria tĂŁo boa.
Se tem uma coisa que me då preguiça é ser preguiçosa.
Pode me colocar de lado. Desde que seja ao seu.
Ressaca passa. Ă isso, simples. VocĂȘ pensa que vai morrer, mas passa.
Apago todas as luzes. Vai, Tati, sofre. VocĂȘ precisa sofrer um pouco. Vai. VocĂȘ combinou que se daria pelo menos uns instante de luto pelo amor que morreu. Vamos lĂĄ. Uma lĂĄgrima. Um, dois, trĂȘs eâŠeâŠeâŠah, eu tenho mais o que fazer!
NĂŁo Ă© um sentimento egoista, e muito menos possessivo. Ă apenas uma saudadezinha. Gostosa, tranquila, bonita, saudĂĄvel, de longe. E, quem diria: leve.
Mas se ainda existir dentro de vocĂȘ alguma esperança, eu preciso demais que vocĂȘ me abrace e me faça sentir aquilo novamente. Ă© fĂĄcil, basta vocĂȘ querer, eu ainda quero tanto.
E eu gosto de vocĂȘ porque gostar nĂŁo faz sentido.
Vou querer namorar? Não. Vou querer casar? Não. Vou querer pra pai dos filhos? Não. Então deixa pra lå que jå tÎ velha pra essa palhaçada.
Eu queria congelar aquele momento sem luz, aquele momento em que, aos poucos, eu sentia meu corpo e todo o resto feito de espĂrito voltar ao meu centro. A nossa morte que me retornava Ă minha vida.
Eu tenho muita preguiça do seu olhar de âjĂĄ sei o que Ă© sofrer, agora posso viver sem medo porque descobri que eu nĂŁo morroâ. Eu jĂĄ sofri por aĂ, mas ainda morro muito, todo dia eu velo meus restos e conto uma piada para ninguĂ©m perceber.
VocĂȘ estĂĄ certo em exibir ao mundo tantos dentes e tĂŁo brancos. Eu Ă© que estou errada quando paro um pouquinho para olhar com tristeza esses sustos do amor. NĂŁo tem mais vocĂȘ tirando sarro quando eu nĂŁo aguentava a dor no peito e te dizia no escuro que era mais ou menos amor mesmo. Porque era. Porque Ă©. Se vocĂȘ soubesse o estado que estou agora, zumbi, pegando detalhes seus por aqui, e doendo tanto que nem sei mais por onde começar. Eu nĂŁo aguento mais começar. Queria tanto continuar. NĂŁo sei, nĂŁo aguento, ainda nĂŁo posso, mas queria continuar.
Me perdoe pelos meus mil anos Ă frente dos nossos segundos e pela saudade melancĂłlica que eu senti o tempo todo mesmo sendo nossos primeiros momentos. Pelo retesamento na hora de entregar. Pela maneira como eu grito e culpo quem tiver perto por uma angustia que sempre foi e serĂĄ sĂł minha e que eu sempre suporto mas quando sinto amor fico achando que posso distribuĂ-la um pouco, mesmo sabendo que Ă© fatal. Me desculpe por eu ter querido tanto ficar bonita e perfeita e sĂł ter conseguido olheiras e ossos. Me perdoe pelas vezes que de tanto querer leveza acabei pesando a mĂŁo. De tanto querer sentir, pensei sobre como estava sentindo, e perdi o sentimento.
Me perdoe pela loucura que é algo tão pequeno precisando de amor e ao mesmo tempo algo tão grande que expulsa o amor o tempo todo. Eu sou uma sanfona de esperança. Eu tenho estria na alma.
Se vocĂȘ soubesse o estado que estou agora, zumbi, pegando detalhes seus por aqui, e doendo tanto que nem sei mais por onde começar.
Sou uma pessoa de dentro pra fora. Minha beleza estĂĄ na minha essĂȘncia e no meu carĂĄter. Acredito em sonhos, nĂŁo em utopia, mas quando sonho, sonho alto. Sou mulher com cara de menina e vice-versa. NĂŁo sou tua meio amiga nem teu quase amor, ou sou tudo ou sou nada!
A verdade Ă© que palavras bonitas tornam-se descartĂĄveis perto de atitudes estĂșpidas.
Até topo o jogo, mas não como reserva
Hoje estou acreditando que o amor existe e que as pessoas podem ser legais. Infelizmente o antibiĂłtico matou minhas defesas
Um bom perfume funciona como bebida alccĂłlica pra alma
Quem brinca muito de mĂ©dico acaba doente de verdade…
De chinelo, short, cara lavada e camiseta branca. Porque quem gosta de mulher montada Ă© cavalo.
NĂŁo desejo essa gripe nem pro meu pior inimigo. Talvez apenas pro meu ex-namorado.
Nunca mais passo perfume masculino. Fico o dia todo me querendo
A pessoa inteligente estuda a vida inteira para descobrir que nĂŁo tem nada melhor do que dar uma de burro.
Mulheres só terminam com homens que não começam
Estrago a pessoa amada em sete dias
Ou Ă© idiota ou Ă© feio. E isso resume toda a vida existencial de uma mulher solteira.
Hoje Ă© um daqueles dias que, enquanto eu nĂŁo me arrepender, eu nĂŁo sossego.
Sempre que sou homem depois desperto a pior das minhas mulheres
Eu sĂł nĂŁo termino comigo porque depois dĂĄ um trabalho correr atrĂĄs.
Meu signo de hoje diz que todos os meus ex amores vão voltar pra resolver o passado. Alguém sabe se då pra alugar o estådio do Morumbi?
Ă como Doritos Nacho. NĂŁo tenho coragem de levar pra casa, mas se tiver numa festa eu como
Tenho um pinto no cérebro. Sempre que algum homem fala algo muito inteligente ele cresce e me fura os olhos. Eis o amor cego
Deixa tudo comigo, apenas exista
Aà teve aquela cena também, de quando eu fui te dar tchau.
(âŠ) E vocĂȘ olhou e me perguntou: “NĂŁo to esquecendo nada?” E eu quis gritar: “TĂĄ, tĂĄ esquecendo de mim.”
E vocĂȘ depois perguntou: “NĂŁo tem nada meu aĂ?” E eu quis gritar: “Tem, tem eu. Eu sempre fui sua.”
TaĂ. TĂĄ bom. O amor venceu. VocĂȘ venceu. Venceu. Venceu. Venceu. E eu acabo de descobrir, simples assim, a Ășnica maneira de me livrar desse sentimento: aceitando ele, parando de querer ganhar dele. Te amo mesmo, talvez pra sempre.
… e minhas vontades sĂŁo bipolares demais. SĂł o que nĂŁo Ă© bipolar demais Ă© a minha ganĂąncia por te ter. Sim, eu escolheria vocĂȘ. Se me dessem um Ășltimo pedido, eu escolheria vocĂȘ. Se a vida acabasse hoje ou daqui mil anos, eu escolheria vocĂȘâŠ
Esperando alguém que ocupe, distraia,
desacorrente, solte, substitua, torne nada demais
Ă minha filha, as suas dores nĂŁo sĂŁo as maiores do mundo e nem vĂŁo ser. Sacode a poeira. Toma um banho de rio. Abre essas asas. Grita alto, chora baixo. Pula alto e cai de cara. Desenha toda a beleza do mundo. Compra uma caixa de lĂĄpis de cor e sai aĂ colorindo a vida.
Eu tenho medo de acreditar em vocĂȘ, de te desejar tanto tanto e acabar descobrindo que eu ainda tenho um coração e que ele ainda pode amar muito alguĂ©m. NĂŁo, eu digo a mim mesma, eu nĂŁo vou me apaixonar e nem desejar saber tudo ao seu respeito, querer conhecer sua mĂŁe e ser apresentada aos seus amigos.VocĂȘ nĂŁo sabe, mas quando eu chego em casa eu repasso cada palavra que vocĂȘ disse, cada gesto que vocĂȘ fez, cada beijo seu e me pergunto se vale mesmo a penaâŠ
VocĂȘ tem o que eu procuro e eu sei disso sem nunca termos conversado de verdade. VocĂȘ gostaria de mim, se me desse espaço para mostrar. Eu sei disso.
à engraçado como depositamos tanta confiança e tanto sentimento nas pessoas.
“Vou ver novela. TĂĄ decidido. Novela pelo menos avisa âĂ© a Ășltima semana!â. Homem some no auge da primeira.”
Eu estou tĂŁo cansada de assustar as pessoas. E de ser o mĂĄximo por tĂŁo pouco tempo. E de entregar tanta alma de bandeja pra tanta gente que nĂŁo quer ou nĂŁo sabe querer. Mas hoje eu nĂŁo odeio nenhuma dessas pessoas. E hoje eu nĂŁo me odeio. Hoje eu sĂł fecho os olhos e lembro de vocĂȘ me pedindo sem graça para eu nĂŁo deixar ninguĂ©m ocupar o lugar da minha canga. Tudo o que eu mais queria, por trĂĄs de todos esses meus textos tĂŁo modernos, sarcĂĄsticos e malandros, era de alguĂ©m que me pedisse para guardar o lugar. TĂĄ guardado. O da canga e de todo o resto.
Ele é cheio de garotas e pela primeira vez na vida sorri ao pensar isso. Tå certo ele. Bonitão, rico, engraçado e safado. Que mulher não se apaixona por ele?
Eu. Eu nĂŁo me apaixono mais por ele. O que significa que agora podemos nos relacionar. O que significa que agora, posso ficar tranquilamente ao lado dele sem odiar meu cabelo e minha bunda e minha loucura. E posso vĂȘ-lo literalmente duas vezes ao ano, sem achar que duas vezes na semana sĂŁo duas vezes ao ano. E posso vĂȘ-lo ir embora, sem me desmanchar ou querer abraçar meu porteiro e chorar. Consigo atĂ© dar tchauzinho do portĂŁo. Tchau, vou comer um pedaço de torta de nozes e assoviar. Tchau, querido mais um ser humano do planeta.
Mesmo depois de conhecer vĂĄrios e novos sorrisos, o dele ainda Ă© o meu preferido.
Eles se amam. Todo mundo sabe mas ninguĂ©m acredita. NĂŁo conseguem ficar juntos. Simples. Complexo. Quase impossĂvel. Ele continua vivendo sua vidinha idealizada e ela continua idealizando sua vidinha. Alguns dizem que isso jamais daria certo. Outros dizem que foram feitos um para o outro. Eles preferem nĂŁo dizer nada. Preferem meias palavras e milhares de coisas nĂŁo ditas. Ela quer atitudes, ele quer ela. Todas as noites ela pensa nele, e todas as manhĂŁs ele pensa nela. E assim vĂŁo vivendo atĂ© quando a vontade de estar com o outro for maior do que os outros. Enquanto o mundo vive lĂĄ fora, dentro de cada um tem um pedaço do outro. E mesmo sorrindo por ai, cada um sabe a falta que o outro faz. Nunca mais se viram, nunca mais se tocaram e nunca mais serĂŁo os mesmos. Ă fĂĄcil porque os dias passam rĂĄpidos demais, Ă© difĂcil porque o sentimento fica, vai ficando e permanece dentro deles. E todos os dias eles se perguntam o que fazer. E imaginam os abraços, as noites com dores nas costas esquecidas pelo primeiro sorriso do outro. E que no momento certo se reencontrem e que nada, nada seja por acaso.
Minha maior tristeza Ă© que todo novo amor que eu arrumo vem sempre com algum velho amor tĂŁo longo e bonito. E eu sofro porque com pouco tempo nĂŁo consigo ser melhor que o muito tempo. E de sofrer assim e enlouquecer assim, nunca dou tempo de ser muito para esses amores porque estrago antes.
Finalmente jĂĄ tenho o que fazer: ir embora. Na verdade a Ășnica coisa que estou sempre esperando e querendo Ă© ir embora. De todos os lugares, de todas as pessoas. Eu nĂŁo estou esperando nada a nĂŁo ser o tempo todo sair de onde eu estou.
Enquanto o mundo vive lĂĄ fora, dentro de cada um tem um pedaço do outro. E mesmo sorrindo por aĂ, cada um sabe a falta que o outro faz.
Alguns dizem que isso jamais daria certo. Outros dizem que foram feitos um para o outro. Eles preferem nĂŁo dizer nada.
Eles se amam, todo mundo sabe mas ninguĂ©m acredita. NĂŁo conseguem ficar juntos. Simples. Complexo. Quase impossĂvel.
Para vocĂȘs mulheres que desacreditaram dos homens, nem venham dizer que prĂncipes encantados nĂŁo existem, pois eles existem, eles sĂł nĂŁo vem mais com uma roupa de galĂŁ branca em um cavalo branco, os prĂncipes encantados, sĂŁo aqueles caras que dormem e acordam pensando em vocĂȘs, pensando em uma forma de fazer vocĂȘs felizes por mais uns dias, pensando em arrancar um simples sorriso, algumas infelizmente nĂŁo tem o principe encantado porque ao invĂ©s de escolhĂȘ-lo, escolheram ao bobo da corte por ser mais bonitinho e engraçado.
Porque o que quase foi nĂŁo pode atrapalhar o que ainda pode ser.
E eu, no fundo, te perdoava, te entendia, te amava cada vez mais. VocĂȘ me mandou embora da sua casa, do seu carro, da sua vida, da memĂłria do seu computador, do seu celular e do seu coração. VocĂȘ me deletou. E eu fiquei quietinha, te esperando, rezando pra vocĂȘ ver que amor maior nĂŁo tem.
SĂł sei que eu estou preparada pra quebrar a minha cara se necessĂĄrio, como eu jĂĄ fiz muitas vezes na vida.
Como eu preciso ser amada meu Deus, pra parar de dar de bandeja o meu sorriso por aĂ.
O tempo passou, continuei acordando, indo dormir todos os dias querendo ser mais feliz para ele, mais bonita para ele, mais mulher para ele.
Até que algo aconteceu. Um dia, acordei tão bonita, tão feliz, tão realizada, tão mulher que eu acabei me tornando mulher demais para ele.
Eu nĂŁo preciso de vocĂȘ nem pra andar e nem pra ser feliz, mas como seria bom andar e ser feliz ao seu lado.
E eu, finalmente, deixei de ter pena de mim por estar sem vocĂȘ e passei a ter pena de vocĂȘ por estar sem mim. Coitado.
Se for falar mal de mim me chame, sei coisas terrĂveis a meu respeito.
“Que cara bonita Ă© essa? Conta, vai… Contar o quĂȘ? No espelho(…), fecha os olhos e sabe pra si o segredo: ninguĂ©m. NĂŁo gostar de ninguĂ©m”
O que definitivamente não då certo, ao menos para mim, é se apaixonar. Agora, que graça tem fazer qualquer coisa da vida sem estar apaixonada? à vidinha filha da p***.
E te dizia no escuro que era mais ou menos amor mesmo. Porque era. Porque Ă©.
VocĂȘ Ă© tĂŁo errado e cheio de estragos. E me peguei olhando pra tudo isso e amando tanto, tanto, tanto… como se nada mais no mundo fosse tĂŁo bonito ou correto ou mesmo perfeito, porque perfeito Ă© o que nĂŁo tem mesmo cabimento.
Na sua varanda sem cĂ©u, certa vez, vocĂȘ se sentou naquela cadeira sem fundo. Me colocou no seu colo e me deu o abraço que disparava coraçÔes em mim como se eu tivesse um em cada nĂł de veia. E me disse, com sua voz tĂŁo bonita, a mais bonita que eu jĂĄ ouvi, que eu tinha subido todos os seus andares. Eu entendi que vocĂȘ era o homem da cobertura de aço e eu uma espĂ©cie rara de passarinho que tinha algum tipo de chave que se autodestruiria em poucos segundos. E eu entendi tambĂ©m que agora que tinha chegado ali.
De vez em quando Ă© bom andar pra trĂĄs sĂł pra cruzar com vocĂȘ de novo.
Eu tenho saudade de mil coisas e todas essas mil coisas sempre caem na mesma Ășnica coisa de que eu tenho tanta saudade.
Eu tenho saudade de tudo.
NĂŁo Ă© um sentimento egoĂsta e muito menos possessivo. Ă apenas uma saudadezinha. Gostosa, tranquila, bonita, saudĂĄvel, de longe.
Mesmo que a gente nĂŁo fique juntos pra sempre. Mesmo que acabe semana que vem. Nunca destrua o meu carinho por vocĂȘ. Nunca esfrie o calorzinho que aparece dentro de mim quando vocĂȘ liga, sorri ou aparece no olho mĂĄgico da minha porta. Mesmo que vocĂȘ apareça na porta de outras mulheres depois de me deixar. Me deixe um dia, se quiser. Mas me deixe te amando. Ă sĂł o que eu peço.
Tem homem que Ă© melhor de boca calada. Tem homem q Ă© melhor de zĂper fechado. O difĂcil Ă© arrumar um que seja bom nas duas coisas abertas.
As larvas do meu coração viraram borboletas no meu estÎmago.
Que o tempo nos permita alguns reencontros sem culpas porque é bom sentir sempre mais uma vez. Porque mesmo a gente voltando para outros abraços só o nosso valerå a pena.
Quer um conselho? Ele lembrarĂĄ de falar com vocĂȘ, quando vocĂȘ esquecer de falar com ele.
Impressionante como a gente sofre por nada. Um cheiro que mexe com vocĂȘ, um jeito de olhar contido, uma idĂ©ia inteligente, vĂĄrias na verdade. NĂŁo, nĂŁo Ă© nada disso, a gente sofre Ă© pela impossibilidade.
Fui agendar um horårio pra sofrer e só tem pra depois do dia 15 de março.
A pessoa que menos me acrescentou, que menos me amou, que menos me fez rir e que eu menos conheci Ă© a que eu amo, ou pelo menos Ă© a que me mata de saudade todo dia!
E mesmo sorrindo por aĂ, cada um sabe a falta que o outro faz.
Depois eu lembrei que todo mundo passa mas ninguĂ©m fica e tive vontade de chorar o choro mais longo e pesado do mundo. Eu tive vontade de dormir no peito dele, em cima da camisa ridĂcula dele. Mas eu fui embora antes que isso pudesse ser mais uma lembrança para o meu jovem mural amarelado.
Estar sozinha Ă© nĂŁo suportar ouvir a palavra solidĂŁo porque ela faz sentido. E o sentido dela dĂłi demais. Estar sozinho Ă© ter uma risada nervosa, de quem segura um grito e um choro enquanto ri. Um riso falso para se convencer de que Ă© possĂvel ficar sozinho sem ficar deprimido. Estar sozinho Ă© usar roupas provocantes sem se sentir sexy com elas. Ă conferir a caixa de e-mails com uma freqĂŒĂȘncia que beira a compulsĂŁo. Ă chorar do nada. Ă acordar do nada.
Eu ainda quero viver para vocĂȘ. Venha agora, ganhe a corrida, passe todo o resto pra trĂĄs, Ă© vocĂȘ quem eu continuo eternamente esperando na linha final.
Minha vontade agora Ă© sumir. Chamar vocĂȘ. Me esconder. Ir atĂ© a sua casa e te beijar e dizer que te amo e que vocĂȘ Ă© importante demais na minha vida para eu te abandonar.
Ă a primeira vez que me apaixono e sinto paz ao mesmo tempo. Ou encontrei o homem certo ou estou me tornando a mulher certa.
NĂŁo tenha medo da quantidade absurda de carinho que eu quero te fazer. Nem de eu ser assim e falar tudo na lata. Nem de eu nĂŁo fazer charme quando simplesmente nĂŁo tem como fazer. Nem de eu te beijar como se a gente tivesse acabado de descobrir o beijo. Nem de eu ter ido dormir com dor na alma o fim de semana inteiro por nĂŁo saber o quanto posso te tocar. NĂŁo tenha medo de eu ser assim tĂŁo agora.
Alguma coisa deu errado em mim, eu nĂŁo sei te explicar e eu nĂŁo sei como arrumar e nem sei se tem ajuda pra isso. Mas meu corpo inteiro se revolta quando gosto de alguĂ©m. Me armo inteira pra correr pra bem longe e pra lutar com unhas gigantes quem tentar impedir. Me mata constatar como Ă© ridĂculo ficar com saudade sĂł de vocĂȘ ir tomar banho. Ter que sentir ciĂșme ou mĂĄgoa ou solidĂŁo e sorrir para nĂŁo ser louca. Eu sinto de um tamanho que eu nĂŁo tenho e entĂŁo começo a adoecer, como sempre.
E pra nĂŁo chorar eu trato mal.
Vai saber o que ele tem, nem ele sabe. Mas tem. Nem posso dizer que tentei evitar, pois jĂĄ descobri que se vocĂȘ evitar a vida, ela acontece do mesmo jeito.
Eu vou para a cama todo dia com 5 livros e uma saudade imensa de vocĂȘ. Ao invĂ©s de estar por aĂ caçando qualquer mala na rua pra te esquecer ou para me esquecer. Porque eu me banco sozinha e eu me banco com um coração. E nĂŁo me sinto fraca ou boba ou perdendo meu tempo por causa disso.
O maior elogio que eu poderia fazer a uma pessoa era dizer assim: gosto de vocĂȘ alĂ©m da minha imaginação, nĂŁo porque aprendi a gostar, mas porque por mais que eu sonhe, vocĂȘ Ă© ainda melhor que o sonho. VocĂȘ Ă© alĂ©m da minha capacidade em te imaginar. E eu jamais te diria isso. NĂŁo posso te fazer esse elogio. NĂŁo me esquece, por favor. Eu nunca vou esquecer vocĂȘ. Eu nĂŁo soube o que fazer com vocĂȘ, mas sei o que fazer com o nĂŁo vocĂȘ. Isso eu sei fazer e faço bem. Lembrar que era terrĂvel e incrĂvel. TerrĂvel, meu amor, como poucas (ou nenhuma) coisas foram. Mas absolutamente incrĂvel.
Minha rinite nĂŁo aguenta mais meus sonhos virarem pĂł.
Oi, vocĂȘ vem sempre aqui? NĂŁo, sĂł quando eu tĂŽ desesperada.
âVocĂȘ, que jĂĄ foi tudo e mais um pouco, Ă© agora um quase. Eu quase consigo te tratar como nada. Mas aĂ quase desisto de tudo, quase ignoro tudo, quase consigo, sem nenhuma ansiedade, terminar o dia tendo a certeza de que Ă© sĂł mais um dia com um restinho de quase e que um restinho de quase, uma hora, se Deus quiser, vira nada. Mas nĂŁo vira nada nunca. Eu quase consegui te amar exatamente como vocĂȘ era, quase. E Ă© justamente por eu nunca ter sido inteira pra vocĂȘ que meu fim de amor tambĂ©m nĂŁo consegue ser inteiro. Eu quase nĂŁo te amo mais, eu quase nĂŁo te odeio, eu quase nĂŁo morro com a sua presença. O problema Ă© que todo o resto de mim que sobra, tirando o que quase sou, nĂŁo sei quem Ă©.
Que bom. Achei que eu ia ser esperta pra sempre, mas para a minha grande alegria estou me sentindo uma idiota.
Por que vocĂȘ olha tanto pro celular? Existe alguĂ©m no mundo, nesse momento, que poderia te ligar agora e te deixar feliz?
Gostei de nĂŁo poder me encantar e mesmo assim estar me encantando…
A coisa que mais me deixa com medo sĂŁo aqueles raros momentos em que nĂŁo sinto medo de nada.
Eu treinei viver sem vocĂȘ. De tanto treinar me acostumei.
NĂŁo Ă© isso que todo mundo acha super divertido? Beber e fumar, e beber, e fazer sexo sem amor, e beber e fumar e dançar e chegar tarde e envelhecer e nĂŁo sentir nada? Sabe ZĂ©, no começo doeu nĂŁo sentir nada. Mas eu consegui. Eu nĂŁo sinto nada. Nada. Uns vem, uns vĂŁo. As garrafas tĂŁo lĂĄ, ao lado do lixo. As cinzas saem dançando por aĂ. As minhas vĂŁo junto. No dia seguinte eu acordo, tomo um banho, passo protetor solar, sento na minha varanda com o meu jornalzinho e Ăł: nada. Nadinha. Nem pena do mundo eu consigo mais sentir. Minha pureza era linda, ZĂ©, mas ninguĂ©m entendia ela, ninguĂ©m acolhia ela. Todo mundo sĂł abusava dela. Agora ninguĂ©m mais abusa da minha alma pelo simples fato de que eu nĂŁo tenho mais alma nenhuma. JĂĄ era, ZĂ©. Ă isso que chamam de ser esperto? Nossa, entĂŁo eu sou uma ninja. Bate aqui no meu peito, ZĂ©? Sentiu o barulho de granito? Quebrou o braço, ZĂ©? Desculpa.
Coloquei tantos pontos finais em nĂłs que acabamos cheios de reticĂȘncias.
Ă muito ontem para pouco hoje.
Eu sou apenas a garota angustiada, de cabeça metralhadora, de tremedeira na existĂȘncia, de maxilares travados de tanto que dĂłi gostar tanto de tudo. Eu sou apenas a garota que tenta ser amada. E sou profundamente amada por alguns meses, atĂ© o garoto segurar firme a minha mĂŁo e dizer “nĂłs somos inseguros e queremos uma garota normal”. E entĂŁo eu me pergunto se nĂŁo deveria lobotomizar meu cĂ©rebro pra pensar menos, lobotomizar meu coração pra sentir menos.
E vocĂȘ continua indo embora, e eu continuo ficando, vendo vocĂȘ levar partes de mim que antes eu nem sentia falta. E vocĂȘ continua escrevendo sua histĂłria pulando linhas, errando palavras, esquecendo os tĂtulos. E eu continuo escrevendo seu nome com letras cheias, para tentar preencher vocĂȘ de alguma maneira. Pra tentar deixar tangĂvel a sua existĂȘncia. E principalmente pra poder amassar o papel e jogar no lixo.
Eu tenho medo da força absurda que eu sinto sem vocĂȘ, de como eu tenho muito mais certeza de mim sem vocĂȘ, de como eu posso ser atĂ© mais feliz sem vocĂȘ. Pra nĂŁo pensar na falta, eu me encho de coisas por aĂ. Me encho de amigos, bares, charmes, possibilidades, livros, mĂșsicas, descobertas solitĂĄrias e momentos introspectivos andando ao Sol. E todo esse resto de coisas deixa ao pouco de ser resto, e passa a ser minha vida, e passa a enterrar vocĂȘ de grĂŁo em grĂŁo.
Que o tempo nos permita alguns reencontros sem culpas porque Ă© bom sentir sempre mais uma vez.
Tem sempre aquela dorzinha aguda no peito, aquela saudadezinha filha da mĂŁe gritando no ouvido a falta que ele faz.
O amor nĂŁo acaba, ele continua em outros lugares.
Essa vida viu Zé, pode ser boa que é uma coisa. Jå chorei muito, jå doeu muito esse coração. Mas agora tÎ, ó, tå vendo? De pedra.
“VocĂȘ nĂŁo sabe a saudade que eu senti todo esse tempo.”
Cada um sabe a falta que o outro faz.
NĂŁo adianta sĂł virar a pĂĄgina, muitas vezes precisamos rasgĂĄ-la.
Cansei das promessas de compra e das devoluçÔes gastas do meu corpo. Cansei de expor minha alma se no fim tudo acaba mesmo.
De tanto tentar colocar um ponto final, eles acabam se tornando reticĂȘnciasâŠ
(âŠ) Tenho uma vida Ăłtima. Mas nenhuma dessas coisas se comparava ao prazer que eu tinha ao ouvir o barulhinho de uma mensagem dele chegando. Ou de quando o porteiro dizia seu nome e o meu coração disparava tanto que eu tinha medo de morrer antes de o elevador abrir a porta. E olhar para ele, com o seu sorriso misturado de pior e melhor pessoa do mundo. E olhar o brilho dos seus olhos sem saber se vinha da alma ou da lente de contato. Enfim: olhar e me sentir errando tanto e acertando muito. Isso tudo fazia valer os Ășltimos dez, quinze ou quarenta dias sem saber se ele estava ou nĂŁo vivo. (âŠ) Mas aĂ resolvi começar o ano fora dessa palhaçada. Essa nĂŁo parece a histĂłria de uma mulher esperta ou que merece uma histĂłria melhor. Quem pode cobrar da vida uma histĂłria de verdade se fica alimentando uma coisa desse tipo? Chega. (âŠ) Por isso, com muito custo, chacoalhei minhas mangas. E sĂł eu sei o quanto doeu ver a melhor coisa do mundo indo embora. Doeu um, dois dias. No terceiro, a melhor coisa do mundo virou a melhorzinha. Que virou a dĂ©cima melhor. Que nĂŁo virou nada.
Sabe aquele medo horrĂvel que vocĂȘ tem de sofrer? De perder algo que ama muito? De vomitar? De que tudo saia do seu controle? Eu torço pra que isso te aconteça, acredite, Ă© maravilhoso. Se um passarinho azul passar na sua frente e borboletinhas amarelinhas o acompanharem, isso Ă© realmente lindo, nĂŁo porque vocĂȘ ganha bem, ou porque tem um apartamento cheio de almofadas te esperando, ou porque tem uma pessoa especial ao seu lado te dizendo que eles sĂŁo lindos. Eles sĂŁo lindos porque existem simplesmente, igual a vocĂȘ. Eles sĂŁo lindos porque vocĂȘ estĂĄ completamente sozinho neste mundo, mas este mundo Ă© maravilhoso, nĂŁo tenha medo. NĂŁo tenha medo de descer atĂ© o inferno e queimar como um papel cheio de regras e certezas, queime, vire cinzas, chega de querer controlar a vida, chega de querer amar, existir e desejar pelo seu ego. A vida Ă© muito maior do que vocĂȘ, acredite nela, colabore com ela, tenha fĂ© nela, faça a sua parte, mas em hipĂłtese nenhuma sonhe que vocĂȘ pode simplesmente enfiĂĄ-la amassadinha dentro da sua bolsa, ela com certeza vai se vingar de vocĂȘ. Deixe, deixe a onda da dor passar por vocĂȘ, ela pode atĂ© te derrubar, te afogar um pouco, te chicotear com o sal, te assustar com tanta grandeza, mistĂ©rio, profundidade e experiĂȘncia, mas acredite em mim, vocĂȘ nĂŁo vai morrer. VocĂȘ vai se levantar, ainda que a praia inteira ria de vocĂȘ, ainda que a força tenha levado suas roupas e vocĂȘ esteja completamente desprotegido para a vida, nu, entregue, sem dignidade. Ainda assim vocĂȘ vai se levantar e seguir em frente. Acredite no Deus que mora dentro e fora de vocĂȘ, acredite que, para cada vez que vocĂȘ diz âeu odeioâ, algo ou alguĂ©m vai te odiar. Acredite que, para cada vez que vocĂȘ diz âeu nĂŁo acreditoâ, algo ou alguĂ©m vai perder a fĂ© em vocĂȘ. EntĂŁo diga agora, bem alto, para que atĂ© aquele seu lado mais surdo e teimoso ouça, âeu amo e acredito em mim e na vidaâ. Siga nu, quase sem vida, quase sem vontade, sem sono, sem fome, sem desejos, mas siga, o passo que estĂĄ na sua frente jĂĄ carrega uma dor menor do que o anterior, aos poucos vocĂȘ deixarĂĄ para trĂĄs essa carga horrĂvel que vocĂȘ mesmo juntou e entĂŁo poderĂĄ voar. Aos poucos cairĂĄ tudo e sĂł sobrarĂĄ vocĂȘ, e vocĂȘ Ă© feliz, sua essĂȘncia Ă© feliz. Onde estava vocĂȘ, escondido embaixo de tantos sonhos frustrados? VocĂȘ Ă© real, nĂŁo tenha medo de apenas ser e ser agora, sua felicidade nĂŁo estĂĄ nem no Ăștero e nem no dia perfeito, ela estĂĄ aqui e agora, o resto vocĂȘ inventou porque ainda nĂŁo sabia que podia contar com vocĂȘ. A verdade Ă© que vocĂȘ sĂł pode contar com vocĂȘ. Amar de verdade Ă© esquecer um pouquinho de si mesmo, se vocĂȘ jĂĄ se esqueceu num cantinho como uma criança de rua carente por causa do amor, nĂŁo se culpe, vocĂȘ sĂł mostrou, ainda que seja difĂcil mostrar alguma coisa nesse mundo de aparĂȘncias, falsidades e medos, que vocĂȘ tem coragem para amar, parabĂ©ns. Mas chega, se nĂŁo houve troca, chega, porque amar sozinho Ă© solitĂĄrio demais, abandono demais, e vocĂȘ estĂĄ nessa vida para evoluir, mas nĂŁo para sofrer. Essa criança carente agora precisa dessa mesma coragem para ser amada e ela merece mais do que ninguĂ©m, ela Ă©, de verdade, a Ășnica coisa que vocĂȘ realmente tem e terĂĄ para sempre. Por favor, estĂĄ na hora de levĂĄ-la tomar banho, tomar sol e tomar sopinha de mandioquinha. Hoje eu acordei numa casa diferente, num quarto diferente, sem nenhuma muleta, sem nenhuma maquiagem, meus amigos estĂŁo ocupados, meus pais nĂŁo podem sofrer por mim. Hoje eu acordei sem nada no estĂŽmago, sem nada no coração, sem ter para onde correr, sem colo, sem peito, sem ter onde encostar, sem ter quem culpar. Hoje eu acordei sem ter quem amar, mas aĂ eu olhei no espelho e vi, pela primeira vez na vida, a Ășnica pessoa que pode realmente me fazer feliz.
Eu prefiro morrer sua amiga do que quebrar algum elo misterioso e te perder para sempre. Te perder como sempre. Tenho vontade de perguntar baixinho: vocĂȘ nĂŁo gosta nem um pouquinho de mim? Nem sequer um tiquinho? Eu sempre me apaixono por vocĂȘ. Todas as vezes que te vi, eu sempre me apaixonei por vocĂȘ.
Um chato metido a rico Ă© um chateau.
Eu acredito em histĂłrias felizes, em histĂłria sem fim, e a minha histĂłria, eu quero viver contigo.
Sou isso hoje…
AmanhĂŁ, jĂĄ me reinventei.
VocĂȘ encerrava em mim eu mesma e era uma loucura tudo, como eu sentia, como eu queria me vomitar e ensanguentar e explodir e rodopiar em mim atĂ© furar o chĂŁo como uma broca desgovernada e depois sair derrubando o mundo como o Ășnico piĂŁo que sabe a verdade e precisa chacoalhar seu entorno pra nĂŁo enlouquecer sozinho. Era uma loucura tudo. Mas a morte, o fim, nĂłs, andando calmos, ao lado um do outro, isso me permitiu estar de alguma forma sem querer habitar cada instante do estar e para isso me retirando o tempo todo. E isso pode ser viver mas viver Ă© terrĂvel. E antes, quando eu nĂŁo sabia viver e me sentia amada, era ainda mais terrĂvel. DaĂ que sobra essa sensação de uma solidĂŁo filha da p*** mil vezes pois em nada dĂĄ pra ser com vocĂȘ. E tudo bem, nĂŁo Ă© vocĂȘ, nunca foi, mas escuta a maluquice: Ă© que nada disso impede que eu sinta um amor absurdo por vocĂȘ.
Mas quem Ă© mesmo que morre dessas coisas? NĂŁo, nĂŁo podemos, com tanta coisa pra fazer, os meninos de dez a vinte dias, os bares, e almoços, o Pilates, a dança, os empregos, escrever, tudo isso que Ă© minha vida antes e depois de vocĂȘ. Tudo isso que daqui a pouco, quando a sensação desgraçada de absurdo e solidĂŁo passar, tudo isso volta, se acomoda, a agenda mĂĄgica, o gostosinho no peito, esquecer vocĂȘ todo dia um pouco pra vida e todo dia muito pro dia. Mas agora, hoje, guarda isso, eu amo demais vocĂȘ. Por que escrevo? Porque Ă© a minha vingança contra todas as palavras e sensaçÔes que morrem todos os dias mostrando pra gente que nada vale de nada. Toma esse texto, o Ășnico lugar seguro e eterno pra gente.
Sabe rir mole de bobeira? Sabe dançar idiota de alegria? Sabe dormir gemendo de saudade? Sabe tomar banho sorrindo para a sua pele? Sabe cantar bem alto para o mundo entender? Sabe se achar bonita mesmo de pijama e olheiras? Sabe ter Ăąnsia de vĂŽmito segundos antes de vĂȘ-lo e ter fome de mundo segundos depois de abraçå-lo? Sabe nĂŁo agĂŒentar? Sabe sobrevoar o frio, o cinza, os medos, os erros e tudo que pode dar errado? Ele consegue fazer com que eu me perdoe por apenas viver sem questionar tanto. Eu quero parar com tudo isso, ele Ă© um menino que nĂŁo pode acompanhar minha louca linha de raciocĂnio meio poeta, meio neurĂłtica, meio madura. Eu quero colocar um fim neste tormento de desejar tanto quem ainda tem tanto para desejar por aĂ. E aĂ eu me pergunto: pra quĂȘ? Se estĂĄ tĂŁo bom, se Ă© tĂŁo simples. Ele me ensinou que a vida pode ser simples, e tĂŁo boa.
Para não sofrer eu vou me drogar de outros, eu vou me entupir de elogios, eu vou cheirar outras intençÔes.
Deletar do desktop Ă© fĂĄcil, quero ver vocĂȘ ter coragem de deletar do lixo tambĂ©m.
Nem sempre vale a pena evoluir. Andar pra trĂĄs Ă© o Ășnico jeito de te encontrar.
Ele sumiu no mundo e eu caĂ na vida.
Eu vou para cama todo dia com 5 livros e uma saudade imensa de vocĂȘ. Ao invĂ©s de estar por aĂ caçando qualquer mala na rua pra te esquecer ou para me esquecer. Porque eu me banco sozinha e eu me banco com um coração. E nĂŁo me sinto fraca ou boba ou perdendo meu tempo por causa disso. E eu malho todo dia igual a essas suas amiguinhas de quem vocĂȘ tanto gosta, mas tenho algo que certamente vocĂȘ nĂŁo encontra nelas: assunto.
E mesmo sorrindo por aĂ, cada um sabe a falta que o outro faz. Nunca mais se viram, nunca mais se tocaram e nunca mais serĂŁo os mesmos.
Semana passada ouvi de um grande amigo uma grande verdade: âChega uma hora na vida que vocĂȘ tem que abrir mĂŁo do selvagem dentro de vocĂȘ para manter amigos, empregos e constituir famĂlia. Ou vocĂȘ pode escolher ser um louco e viver sozinho.â
No meu Ășltimo emprego, quando pedi demissĂŁo, ouvi do meu chefe, tambĂ©m um grande homem em raras ocasiĂ”es: âToda essa sua mania de ser louquinha e falar o que pensa, sĂł vai te garantir um emprego fixo: banda de rock.â
Acho que todos tĂȘm razĂŁo. E venho tentando, com oraçÔes dadas pela minha mĂŁe desesperada com meu jeitinho nada meigo, yoga, terapia, sexo, pilates, mantras e muita conversa com amigos em geral, ser uma pessoa mais equilibrada.
Uma amiga me disse: âQuem briga por tudo e quer medir poder com todo mundo, na verdade estĂĄ tentando provar que nĂŁo Ă© um bosta, tĂĄ brigando consigo mesmoâ.
Pura verdade, quando minha auto-estima estå em suas piores fases, é aà que a coisa pega: fico com mania de perseguição, acho que tå todo mundo querendo foder comigo, que existe um complÎ universal contra a minha frågil pessoa. Meu ataque nada mais é do que a defesa amedrontada de uma menina boba.
Mas a verdade Ă© que eu odeio o equilĂbrio. Porra, se eu tĂŽ puta, eu tĂŽ puta! Se eu tĂŽ com ciĂșme, nĂŁo vou sorrir amarelo e mostrar controle porque preciso parecer forte e bem resolvida. Se o filho da puta que senta do meu lado Ă© um filho da puta, eu nĂŁo vou fazer polĂtica da boa vizinhança, eu vou mais Ă© berrar e libertar essa verdade de dentro do meu fĂgado: vocĂȘ Ă© um grandessĂssimo filho de uma puta! Se a vaca da catraca do teatro me tratou mal, eu vou mais Ă© falar mesmo que ela Ă© uma horrorosa que nĂŁo vĂȘ pica hĂĄ anos, ou melhor, que a Ășltima pica que viu foi do padrasto que a estuprou!
O sangue ferve aqui dentro, e eu nĂŁo tĂŽ a fim de transformĂĄ-lo num falso lĂquido rosa que um dia vai me dar um cĂąncer. Eu nĂŁo tĂŽ a fim de contar atĂ© 100, eu quero espancar a porta do elevador se ele demorar mais dois segundos, quero morder o puto do meu namorado que apenas sorri seguro enquanto eu me desfaço em desesperos porque amar dĂłi pra caralho, quero colocar TODAS as pessoas do meu trabalho que falam âFala, floRRRR!â ou âPrecisamos disso ASAPâ numa cĂąmera de gĂĄs peristĂĄltico.
Eu sou antipåtica mesmo, o mundo tå cheio de gente brega e limitada e é um direito meu não querer olhar na cara delas, não tÎ fazendo mal a ninguém, só tÎ fazendo bem a mim. Minha terapeuta fala que eu preciso descobrir as outras Tatis: a Tati amiga, a Tati simpåtica, a Tati meiga, a Tati que respira, a Tati que pensa, a Tati que não caga em tudo porque deixou a imbecil da Tati de cinco anos tomar as rédeas da situação.
Ela tem razĂŁo, mas Ă© tĂŁo difĂcil ver todos vocĂȘs acordando de manhĂŁ sem nada na alma, Ă© tĂŁo difĂcil ver todos os casais que sĂł sobrevivem na cola de outros casais que sĂł sobrevivem na cola de outros casais, Ă© praticamente impossĂvel aceitar que as contas do final do mĂȘs valham a minha bunda sentada mais de 8 horas por dia pensando o quanto eu odeio essa gente que se acha âsuperâ mas nĂŁo passa de vendedor de sabonete ambulante.
Ă tĂŁo difĂcil ser mocinha maquiada em vestido novo e sapato bico fino quando tudo o que eu queria era rasgar todos os enfeites e cagar de quatro no meio da pista enquanto as tias chifrudas bebem para esquecer as dĂșvidas ao som de âLove is in the airâ.
Parem de sorrir automaticamente para tudo, humanos filhos da puta, admitam que vocĂȘs nĂŁo fazem a menor idĂ©ia do que fazem aqui. Admitam a dor de estar feio, e admitam que estar bonito nĂŁo adianta porra nenhuma.
Eu jå me senti um lixo de pijama com remela nos olhos, mas nunca foi um lixo maior do que me senti gastando meu dinheiro numa bosta de salão de beleza enquanto crianças são jogadas em latas de lixo porque a total miséria transforma qualquer filho de Deus em algo abaixo do animal.
Mas eu nĂŁo faço nada, eu continuo querendo usar uma merda de roupinha da moda numa merda de festinha da moda no meio de um monte de merdas que se parecem comigo. Eu quero feder tanto quanto eles para ser bem aceita porque, quando vocĂȘ faz parte de um grupo, a dor se equilibra porque se nivela.
E eu continua perdida, sozinha, achando tudo falso e banal. Acordando com ressaca de vida medĂocre todos os dias da minha vida.
Grande merda de vida, vocĂȘ muda a estação do rĂĄdio para nĂŁo reparar que a menina de dez anos parada ao lado do seu carro, jĂĄ tem malĂcia, mas nĂŁo tem sapatos. VocĂȘ dĂĄ mais um gole no frisante para nĂŁo reparar que a moça da mesa ao lado gostou do seu namorado, e ele, como qualquer imperfeito ser humano normal, gostou dela ter gostado.
VocĂȘ disfarça, a vida toda vocĂȘ disfarça. Para nĂŁo parecer fraco, para nĂŁo parecer louco, para nĂŁo aparecer demais e poder ser alvo de crĂtica, para ter com quem comer pizza no domingo, para ter com quem trepar na sexta Ă noite, para ter quem te pague a roupa nova e te faça sentir um bosta e para quem te pede socorro, vocĂȘ disfarça cegueira.
VocĂȘ passa a vida cego para poder viver. Porque enxergar tudo de verdade dĂłi demais e enlouquece, e louco acaba sozinho. VĂŁo querer te encarcerar numa sala escura e vazia, ninguĂ©m quer ter um conhecido maluco que lembra vocĂȘ o tempo todo da angĂșstia da verdade e de ter nascido. VocĂȘ passa a vida cego, mentindo, fingindo, teatralizando o personagem que sempre vence, que sempre controla, que sempre se resguarda e nunca abre a portinha da alma para o mundo. SĂł que a sua portinha um dia vira pĂł, e vocĂȘ morre sem nunca ter vivido, e vocĂȘ deixa de existir sem nunca ter sido notado. VocĂȘ Ă© mais uma cara produzida na foto de mais uma festa produzida, Ă© um coadjuvante feliz dessa palhaçada de teatro que Ă© a vida.
VocĂȘ aceitou tudo, vocĂȘ trocou as incertezas da sua alma pelas incertezas da moça da novela, porque ver os problemas em outros seres irreais Ă© muito mais fĂĄcil e leve, alĂ©m do que, novela dĂĄ sono e vocĂȘ nĂŁo morre de insĂŽnia antes de dormir (porque antes de dormir Ă© a hora perfeita para sentir o soco no estĂŽmago).
VocĂȘ aceita a vida, porque Ă© o que a gente acaba fazendo para nĂŁo se matar ou nĂŁo matar todos os imbecis que escutam vocĂȘ reclamar horas sem fim das incertezas do mundo e respondem sem maiores profundidades: relaaaaaaaaaaaaaxa!
Eu nĂŁo vou fumar, eu nĂŁo vou cheirar, eu nĂŁo vou beber, eu nĂŁo vou engolir, eu nĂŁo vou fugir de querer me encontrar, de saber que merda Ă© essa que me entristece tanto, de achar um sentido para eu nĂŁo ser parte desse rebanho podre que se auto-protege e nĂŁo sabe nem ao certo do quĂȘ. Eu nĂŁo vou relaxaaaaaaaaaaaaaaaaaar.
A Ășnica verdade que me cala um pouco e, vez ou outra, me transforma em alguĂ©m estupidamente normal Ă© que virar um louco selvagem que fala o que pensa, sem amigos e sem namorados, sĂł Ă© legal se vocĂȘ tiver alguĂ©m pra contar o quanto vocĂȘ Ă© foda no final do dia.
Eu quis tanto ser feliz. Tanto. Chegava a ser arrogante. O trator da felicidade. Atropelei o mundo e eu mesma. Tanta coisa dentro do peito. Tanta vida. Tanta coisa que sĂł afugenta a tudo e a todos. NinguĂ©m dĂĄ conta do saco sem fundo de quem devora o mundo e ainda assim nĂŁo basta. NinguĂ©m dĂĄ conta e⊠quer saber? Nem eu. Chega. NĂŁo quero mais ser feliz. Nem triste. Nem nada. Eu quis muito mandar na vida. Agora, nem chego a ser mandada por ela. Eu simplesmente me recuso a repassar a histĂłria, seja ela qual for, pela milĂ©sima vez. Deixa a vida ser como Ă©. Desde que eu continue dormindo. Ser invisĂvel, meu grande pavor, ganhou finalmente uma grande desimportĂąncia. Quase um alivio. I donât care.
NĂŁo espere ficar feliz pra ficar feliz.
Eu nunca aceitei a simplicidade do sentimento. Eu sempre quis entender de onde vinha tanta loucura, tanta emoção. Eu nunca respeitei sua banalidade, nunca entendi como pude ser tão escrava de uma vida que não me dizia nada, não me aquietava em nada, não me preenchia, não me planejava, não me findava.
Nós éramos sem começo, sem meio, sem fim, sem solução, sem motivo.
… NĂŁo sinto saudades do seu amor, ele nunca existiu, nem sei que cara ele teria, nem sei que cheiro ele teria. NĂŁo existiu morte para o que nunca nasceu….
Eu me orgulho de todas as minhas lembranças ingĂȘnuas, mas tenho consciĂȘncia de que foi a minha fragilidade cansada que me transformou numa pessoa irĂŽnica.
Meias palavras para dizer alguma coisa que, feita a anĂĄlise fria, nada quer dizer.IntençÔes soltas e desejos desconexos. Esse mistĂ©rio todo Ă© uma violĂȘncia contra a minha inteligĂȘncia.
NĂŁo caio na mesma vala de quem empurra a vida porque ela me empurra. Ela faz com que eu me jogue em cima de vocĂȘ, nem que seja para te espantar.Melhor te ver correndo pra longe do que empacado em minha vida.
Quem tem que ficar, fica.
.. coitado, sou muito boa pra ele, ele ficou com medo de mim!
âEla sabia que precisava dele. (âŠ) Mas tinha medo da compulsĂŁo. De querer ele sempre e sempre e pra sempre.â
Me empresta seu peito porque a dor nĂŁo tĂĄ cabendo sĂł no meu.
Porque antes de dormir Ă© a hora perfeita para sentir o soco no estĂŽmago.
Do seu jeito fui levando, algumas vezes amor prĂłprio me faltou, mas eu sĂł queria seu amor.
Por inĂșmeras vezes te amava mais do que tudo…
E pergunto: E vocĂȘ? O quĂȘ?
Amigo de verdade nĂŁo Ă© aquele que sempre te atura triste, denso e monotemĂĄtico. Mas o que te fala: mano, tu tĂĄ mala.
Se nĂŁo vale nada por que a gente paga pra ver?
Esse frio todo é porque moro no seu coração.
Sou uma carta gigante, chata, cheia de erros, longa demais, muito complicada.
Porque pra te amar mais, eu tenho que te amar menos. Porque pra morrer de amor por vocĂȘ, eu tive que nĂŁo morrer. Porque pra ter vocĂȘ por perto um pouco, eu tive que nĂŁo querer mais ter vocĂȘ por perto pra sempre. E eu soquei meu coração atĂ© ele diminuir. SĂł pra vocĂȘ nunca se assustar com o tamanho.
Eu chorei porque eu te amo mas eu não sei amar. Eu chorei porque eu sempre canso de tudo e tudo sempre cansa de mim. Chorei de cansaço profundo de sempre cansar de tudo e tudo sempre cansar de mim. Chorei de apego ao cheiro do novo e principalmente de melancolia pelo cheiro do velho. E chorei porque tudo envelhece com novos cheiros e a vida nunca volta. Eu chorei de pavor da rotina, de pavor do fim, de pavor de sair da rotina e começar outros fins.
Não é que acordei me achando hoje? Agora neguinho me trata mal e eu não deixo. Agora neguinho quer me judiar e eu mando pastar. Dei de achar que mereço ser amada.
Felicidade Ă© sono. O oposto de despertar. Felicidade Ă© esse segundinho de sono entre seu sonho e algo na TV.
Sofrer Ă© de uma arrogĂąncia egocĂȘntrica sem limites.
O céu estå bem limpo enquanto eu durmo em algum lugar bem longe de mim.
Virei uma caçadora de vocĂȘ em todas as pessoas.
Porque era bom e tal. AliĂĄs, meu Deus, como era bom. Mas nĂŁo era bom pra ficar junto, certo? EntĂŁo pronto. Chega.
Estou morrendo de vontade de ser eu, mas ser eu sĂł tem me feito perder e perder. E eu quero ganhar. SĂł dessa vez. Chega. Mas eu quero me dar de bandeja pra vocĂȘ. Mas nĂŁo. Depois eu demoro semanas pra me levantar porque fui intensa e vivi um dia. NĂŁo agĂŒento mais nada disso. Por isso, dessa vez, eu nĂŁo vou gostar de vocĂȘ. Tchau. Chega de fazer tudo errado. A minha vontade Ă© te ligar, pra contar o quanto gosto de vocĂȘ. E te pedir em namoro. E me declarar. Falar palavras lindas, frases perfeitas, poĂ©ticas, sensĂveis. Mas nĂŁo! Eu sou uma mocinha. E mocinhas sĂł se declaram depois de um mĂȘs de namoro. Ou depois que o garoto fala que gosta delas. Dessa vez vai ser assim. Chega. E se vocĂȘ nĂŁo desistir mesmo com todo esse teatro que eu estou fazendo. Vai ser a prova de que eu precisava pra saber que vocĂȘ realmente vale a pena
SĂł quem arrepia cada centĂmetro do seu corpo e faz vocĂȘ sentir o sangue bombear num ritmo charmoso, Ă© capaz de estragar o mundo quando parte.
Queira mais, sempre. E nunca pense que estĂĄ querendo demais. Sinta orgulho de vocĂȘ, almejando sempre.
Disse pra mim. Nenhum pio. NĂŁo vou falar nada. JĂĄ que sou tĂŁo imprĂłpria, inadequada, boba. JĂĄ que nunca basto e se tento me excedo. JĂĄ que nĂŁo sei o que deveria ou exagero em querer saber o que nĂŁo devo. Nunca entendo exatamente, nunca chego lĂĄ, nunca sou verdadeiramente aceita pela exigĂȘncia propositalmente inalcançåvel. Meu riso incomoda. Meu choro mais ainda. Minha ajuda Ă© pouca. Meu carinho Ă© pena. Meu dengo Ă© cobrança. Minha saudade Ă© prisĂŁo. Minha preocupação chatice. Minha insegurança problema meu. Meu amor Ă© demais. Minha agressividade insuportĂĄvel. Meus elogios causam solidĂŁo. Minhas constataçÔes boas matam o amor. As ruins matam o resto todo.
Noel, cara, eu cansei. SĂł quero que seja natural, simples, fĂĄcil e bom. NĂŁo quero falar o que meus amigos me mandam falar porque se eu falar o que eu tenho vontade de falar poucos vĂŁo ficar. Eu nĂŁo quero poucos. Eu nĂŁo quero muitos. Eu quero um. Um amor. SĂł um.
A gente entende que saudade, além de não se traduzir, também não se cobra. Que presença e importùncia não se impÔe.
EntĂŁo o quĂȘ? Nem eu sei. Mas sei da minha enxaqueca que jĂĄ dura uma semana. Latejando sem parar. O coração que subiu nos meus ouvidos. Gritando que sente falta e pronto.
O que eu nunca vou saber é porque faço tudo isso comigo só porque tenho tanto pavor do tédio. Era só isso o que eu precisava saber.
Mas chega, se nĂŁo houve troca, chega, porque amar sozinho Ă© solitĂĄrio demais, abandono demais, e vocĂȘ estĂĄ nessa vida para evoluir, mas nĂŁo para sofrer.
“NĂŁo se digere amor, nĂŁo se cospe amor, amor Ă© o engasgo que a gente disfarça sorrindo de dor.”
“Ter berço e ainda ser bom de cama Ă© muito mĂłvel para um homem sĂł.”
“Pense pelo lado positivo. Se ele te quer como step Ă© porque ele pelo menos tem carro.”
“O apressado come cru. E o devagar que nem come?”
“Ele escolheu uma mulher que nĂŁo faz mal a uma mosca. Deve ser por isso que ela nĂŁo consegue matar meu zumbido dentro da sua cabeça.”
Para nĂŁo sofrer eu vou me drogar de outros, eu vou me entupir de elogios, eu vou cheirar outras intençÔes. Vou encher minha cara de mĂĄscaras para nĂŁo ser meu lado romĂąntico que tanto precisa de um espaço para existir ridiculamente. NĂŁo vou permitir ser ridĂcula, nem uma lĂĄgrima sequer, nem um segundo de olhar perdido no horizonte, nem uma nota triste no meu ouvido. Eu sei o quanto vai ser cansativo correr da dor, o quanto vai ser falso ignorar ela sentada no meu peito. Mas vou correr atĂ© minha Ășltima esquina. Vou burlar cada desesperada sĂșplica do meu coração para que eu pare e sofra um pouquinho, um pouquinho que seja para passar. Suor frio da corrida, sempre com sorriso duro no rosto e o medo de nĂŁo ser nada daquilo que vocĂȘ me fez sentir que eu era. Muita maquiagem para esconder os buracos de solidĂŁo. Muita roupa bonita para esconder a falta de leveza e de certeza do meu caminho.
Sacudir vocĂȘ e dizer que vocĂȘ Ă© um otĂĄrio porque estĂĄ me perdendo dessa maneira. Minha vontade Ă© esquecer vocĂȘ. Apagar vocĂȘ da minha vida. Lembrar de vocĂȘ a cada manhĂŁ. Pensar em vocĂȘ para dormir melhor. EntĂŁo eu percebo: ITâS ME, e minhas vontades sĂŁo bipolares demais. SĂł o que nĂŁo Ă© bipolar demais Ă© a minha ganĂąncia por te ter. Sim, eu escolheria vocĂȘ. Se me dessem um Ășltimo pedido, eu escolheria vocĂȘ. Se a vida acabasse hoje ou daqui a mil anos.
Pote é fåcil, quero ver um homem abrir o coração.
Estou numa época que prefiro um bom sapato a um homem mais ou menos. Pelo menos o sapato aumenta minha auto-confiança e eu sei exatamente onde ele irå me machucar. Não estou certa?
Aprende. Aprende. Aprende que dĂłi menos.
Minha beleza estĂĄ na minha essĂȘncia e carĂĄter. Acredito em sonhos, nĂŁo em fantasias. Vou viver, cair, aprender, levantar e seguir em frente.
(…)Me pergunto onde foi parar a Ășnica coisa que realmente importa e Ă© de verdade nesta vida: a tal da quĂmica. Mas entĂŁo onde, meu Deus? Onde vou encontrar gente interessante? AtĂ© quando vou continuar achando todo mundo idiota demais pra mim e me sentindoo mais idiota de todos? Foi entĂŁo que eu descobri. Ele estĂĄ exatamente no mesmo lugar que eu agora, pensando as mesmas coisas, com preguiça de ir nos mesmos lugares furados e ver gente boba, com a mesma dĂșvida entre arriscar mais uma vez e voltar pra casa vazio ou continuar embaixo do edredom lendo mais algumas pĂĄginas do seu mundo perfeito. A verdade Ă© que as pessoas de verdade estĂŁo em casa. NĂŁo Ă© triste pensar que quanto mais interessante uma pessoa Ă©, menor a chance de vocĂȘ vĂȘ-la andando por aĂ?
Sacudir vocĂȘ e dizer que vocĂȘ Ă© um otĂĄrio porque estĂĄ me perdendo dessa maneira… a minha ganĂąncia por te ter. Sim, eu escolheria vocĂȘ. Se me dessem um Ășltimo pedido, eu escolheria vocĂȘ. Se a vida acabasse hoje ou daqui a mil anos.
E vocĂȘ ainda Ă© o homem mais lindo do mundo. No canto da foto dos amigos bĂȘbados, e vocĂȘ Ă© o homem mais lindo do mundo. Com gorro, no meio da confusĂŁo do frio. Escondido embaixo de tanta roupa. No fundo do mar. No escuro. De costas naquela festa chata. Meu Deus, como vocĂȘ Ă© lindo. NĂŁo sei direito o que Ă© aurora boreal, mas acho que deve ser algo lindo que se formava enquanto vocĂȘ era feito. NĂŁo sei direito o que Ă© isso que eu sinto por vocĂȘ. Mas como Ă© maravilhoso fumar vocĂȘ, cheirar vocĂȘ, tomar vocĂȘ, injetar vocĂȘ. Calar a boca. Me pergunta uma daquelas coisas para eu dar uma daquelas respostas que vocĂȘ morre de rir. Me deixa pirar no seu cĂ©u da boca escancarado. VocĂȘ se joga pra trĂĄs. E sĂł porque vocĂȘ e o mundo inteiro tĂȘm certeza do quanto vocĂȘ Ă© lindo, vocĂȘ faz questĂŁo de sempre se largar no mundo. Ă a liberdade que sĂł tem quem Ă© infinitamente lindo ou infinitamente feio. Eu sou mais ou menos, mas nesse segundo, jĂĄ que comprei sua beleza, sou a mulher mais linda do mundo. Me deixa ser linda vestindo vocĂȘ. Outro dia me peguei pensando um absurdo que me fez feliz. Ă triste, mas me fez feliz. Pensei se isso que vocĂȘ faz, de ficar horas comigo depois de ter ficado horas comigo. Se isso Ă© algum tipo de caridade sua. Porque, veja bem. Somos plantas e pĂĄssaros diferentes. Eu sou a bonitinha que lĂȘ uns livros e vĂȘ uns filmes. VocĂȘ Ă© essa força absoluta e avassaladora que jamais precisarĂĄ abrir a boca para impor sua vitĂłria. VocĂȘ coloca aquele moletom cinza com dizeres do surf e eu experimento um guarda-roupas inteiro pra ficar Ă sua altura. VocĂȘ Ă© essa força da natureza que deu certo. E como eu nĂŁo sou mulher de correr da dor, deixo ela entrar aos pouquinhos, esbugalhar meus sentidos, enfraquecer meu orgulho. Quando vejo, estou calada novamente, ouvindo o que vocĂȘ nĂŁo diz e vendo o que vocĂȘ nĂŁo faz . NĂŁo existe nĂŁo morrer um pouco quando vocĂȘ chega
“…me restou a consideração que vocĂȘ guardou por mim. Sua ligação depois, quando me encontra. Sua mĂŁo estendida. Sua lamentação pela vida como ela Ă©. Sua gentileza disfarçada de vergonha por nĂŁo gostar mais de mim. A maneira que vocĂȘ tem de pedir perdĂŁo por ser mais um cara que parte assim que rouba um coração. VocĂȘ Ă© o mocinho que se desculpa pelo prĂłprio bandido. Finjo que aceito suas consideraçÔes mas Ă© apenas pra ter novamente o segundo. Como o segundo do meu nariz na sua nuca quando consigo, por um segundo, te abraçar sem dor. O segundo do seu nome na tela do meu celular. O segundo da sua voz do outro lado como se fosse possĂvel começar tudo de novo e eu charmosa e vocĂȘ me fazendo rir e tudo o que p