Quanto mais você ama alguém, menos sentido as coisas fazem.
Eu podia ver nos seus olhos, que você honestamente acreditou que eu não te queria mais. O conceito mais absurdo, mais ridículo – como se houvesse alguma forma de eu existir sem precisar de você!
Você pode ter minha alma. Não a quero sem você.
Mesmo eu lutando pra não pensar nele, eu não lutava pra esquecê-lo. Eu tive medo que – tarde da noite, quando a exaustão pela falta de sono quebrasse minhas defesas – que eu acabasse me dando por vencida. Eu tive medo que minha mente fosse como uma peneira, e que algum dia eu não lembrasse mais a cor exata dos seus olhos, a sensação do toque da pele fria dele, ou da textura da voz dele.
Eu podia não pensar nisso, mas eu precisava me lembrar disso. Porque só havia uma coisa na qual eu precisava acreditar pra ser capaz de viver – eu precisava saber que ele existia. Isso era tudo. Tudo mais podia ser suportado. Contanto que ele existisse.
Proibida de lembrar, com medo de esquecer…
Proibida de lembrar, com medo de esquecer; era uma situação limite.
As sombras não pareciam tão escuras. Não com meu sol particular me fazendo companhia.
Algo de que eu tinha certeza – sabia disso na boca do estômago, no cerne de meus ossos, sabia disso de minha cabeça à sola dos pés, sabia no fundo de meu peito – era que o amor pode dar às pessoas o poder de despedaçar você.
Prometo que esta será a última vez que vai me ver. Não voltarei. Não a farei passar por nada como isso novamente. Você pode seguir com sua vida sem qualquer interferência minha. Será como se eu nunca tivesse existido.
O amor não funciona desse jeito, concluí. Depois que você gosta de uma pessoa, é impossível ser lógica com relação a ela.
Eu escancarei a porta – ridiculamente ansiosa – e lá estava ele, meu milagre pessoal. Meus olhos acompanharam suas feições: o quadrado do queixo, a curva suave dos lábios cheios – agora retorcidos num sorriso –, a linha reta do nariz, o ângulo agudo das maças do rosto…
Deixei os olhos para o final, sabendo que, quando olhasse dentro deles, talvez perdesse o fio do pensamento. Eles eram grandes, calorosos como ouro líquido, e emoldurados por uma franja grossa de cílios escuros. Olhar seus olhos sempre fazia com que eu me sentisse extraordinária – como se meus ossos tivessem virado esponja. Eu também ficava um pouco tonta, mas isso devia ser porque eu me esquecia de respirar. De novo.
Olha, você se incomoda de deixar pra fazer as coisas estúpidas quando eu estiver por perto? Eu não vou ser capaz de me concentrar se eu pensar que você está pulando de penhascos na minhas costas.
O custo era um entorpecimento que não acabava nunca. Entre a dor e o nada, eu escolhi o nada.
O príncipe nunca voltaria para me despertar de meu sonho encantado com um beijo. Eu não era uma princesa, afinal. Então, o que dizia o protocolo dos contos de fada sobre outros beijos? Do tipo comum, que não quebra feitiços?
Eu sempre o amaria e isso nunca, jamais, seria suficiente.
Eu parecia uma lua perdida – meu planeta destruído em algum cenário desolado de cinema-catástrofe – que continuava, apesar de tudo, a rodar numa órbita muito estreita pelo espaço vazio que ficou, ignorando as leis da gravidade.
De muitas maneiras verdadeiras, eu o amava. Ele era meu conforto, meu porto seguro. Naquele exato momento, eu preferia que ele me pertencesse.
O verdadeiro amor estava perdido para sempre. O príncipe nunca voltaria para me despertar de meu sono encantado com um beijo. Eu não era uma princesa, afinal. Então, o que eu dizia o protocolo dos contos de fadas sobre outros tipos de beijos? Do tipo comum, que não quebra feitiços?
Talvez fosse fácil – como segurar a mão dele ou ter seus braços me envolvendo. Talvez fosse ótimo. Talvez não fosse uma traição. Além disso, a quem eu estava traindo, aliás? Só a mim mesma.
As ondas de dor que me haviam assaltado pouco tempo antes se erguiam agora com força e inundaram minha cabeça, puxando-me para o peito. Não voltei à superfície.
Como eu poderia combater as fronteiras tênues do nosso relacionamento, se eu gostava tanto de ficar com ele?
O conto de fadas tinha voltado. O príncipe retornara, o feitiço fora quebrado.
Não que isso importe. Se você ficar, não preciso do paraíso.
Ele pegou meu rosto entre as suas mãos de pedra, segurando-o com firmeza enquanto seus olhos de meia-noite cintilavam nos meus com a força gravitacional de um buraco negro.
O verdadeiro amor estava perdido para sempre. O príncipe nunca voltaria para me despertar de meu sono encantado com um beijo. Eu não era uma princesa, afinal.
Não conseguia suportar que ele ficasse magoado, e ao mesmo tempo não podia evitar que ele me magoasse.
Mas eu conseguiria fazer isso? Conseguiria trair meu coração ausente para salvar minha vida patética?
Seria tão errado tentar fazê-lo feliz? Mesmo que o amor que eu sentia por ele não passasse de um eco fraco do que eu era capaz de amar, mesmo que meu coração estivesse muito longe, vagando e lamentando por meu romeu volúvel, seria assim tão errado?
De certo modo ele se tornara essencial para minha sobrevivência.
Adeus, eu te amo, foi meu último pensamento.
Pensei por pouco tempo nos clichês, sobre como você devia ver sua vida passar diante dos olhos. Eu tinha muito mais sorte. Quem afinal queria ver uma reprise? Foi ele que eu vi, e não tive vontade de lutar.
O amor é irracional, lembrei a mim mesma. Quanto mais você ama alguém, menos tudo faz sentido.
Depois que você gosta de uma pessoa, é impossível ser lógica com relação a ela.
Mas eu precisava dele, precisa dele como de uma droga.
Algo de que eu tinha certeza (…), sabia no fundo de meu peito vazio – era que o amor pode dar às pessoas o poder de despedaçar você. Eu fora irremediavelmente despedaçada.
Como eu poderia explicar de modo que ele entendesse? Eu era uma concha vazia. Como uma casa vazia, por meses sem ninguém – uma casa condenada –, eu era completamente inabitável. Agora havia algumas melhorias. A sala da frente estava em reformas. Mas era só isso – só um cômodo pequeno. Ele merecia alguém melhor – melhor do que uma casa em ruínas com um cômodo só. Nenhum investimento dele poderia me deixar funcional outra vez.
Mesmo enquanto afugentava as imagens, senti meus olhos cheios de lágrimas, e a dor a cercar o buraco em meu peito.
O buraco em meu peito estava pior do que nunca. Pensei que o tivesse sob controle, mas me vi recurvada dia após dia, tentando não desmoronar, ofegante.
Parecia que eu estava presa em um daqueles pesadelos apavorantes em que você precisa correr, correr até os pulmões explodirem, mas não consegue fazer com que seu corpo se mexa com rapidez suficiente.
Mas isso não era um sonho, e, ao contrário do pesadelo, eu não estava correndo para salvar a minha vida; eu corria para salvar algo infinitamente mais precioso. Hoje minha própria vida pouco significava para mim.
À medida que o relógio começava a soar a hora, vibrando sob a sola de meus pés lentos, eu sabia que era tarde demais para mim – e fiquei feliz que alguma coisa sedenta de sangue esperasse nos bastidores.
Ninguém quer um refletor sobre si quando é provável que vá cair de cara no chão.
Quanto mais você ama alguém, menos sentido as coisas fazem.
Eu podia ver nos seus olhos, que você honestamente acreditou que eu não te queria mais. O conceito mais absurdo, mais ridículo – como se houvesse alguma forma de eu existir sem precisar de você!
Você pode ter minha alma. Não a quero sem você.
Mesmo eu lutando pra não pensar nele, eu não lutava pra esquecê-lo. Eu tive medo que – tarde da noite, quando a exaustão pela falta de sono quebrasse minhas defesas – que eu acabasse me dando por vencida. Eu tive medo que minha mente fosse como uma peneira, e que algum dia eu não lembrasse mais a cor exata dos seus olhos, a sensação do toque da pele fria dele, ou da textura da voz dele.
Eu podia não pensar nisso, mas eu precisava me lembrar disso. Porque só havia uma coisa na qual eu precisava acreditar pra ser capaz de viver – eu precisava saber que ele existia. Isso era tudo. Tudo mais podia ser suportado. Contanto que ele existisse.
Proibida de lembrar, com medo de esquecer…
Proibida de lembrar, com medo de esquecer; era uma situação limite.
As sombras não pareciam tão escuras. Não com meu sol particular me fazendo companhia.
Algo de que eu tinha certeza – sabia disso na boca do estômago, no cerne de meus ossos, sabia disso de minha cabeça à sola dos pés, sabia no fundo de meu peito – era que o amor pode dar às pessoas o poder de despedaçar você.
Prometo que esta será a última vez que vai me ver. Não voltarei. Não a farei passar por nada como isso novamente. Você pode seguir com sua vida sem qualquer interferência minha. Será como se eu nunca tivesse existido.
O amor não funciona desse jeito, concluí. Depois que você gosta de uma pessoa, é impossível ser lógica com relação a ela.
Eu escancarei a porta – ridiculamente ansiosa – e lá estava ele, meu milagre pessoal. Meus olhos acompanharam suas feições: o quadrado do queixo, a curva suave dos lábios cheios – agora retorcidos num sorriso –, a linha reta do nariz, o ângulo agudo das maças do rosto…
Deixei os olhos para o final, sabendo que, quando olhasse dentro deles, talvez perdesse o fio do pensamento. Eles eram grandes, calorosos como ouro líquido, e emoldurados por uma franja grossa de cílios escuros. Olhar seus olhos sempre fazia com que eu me sentisse extraordinária – como se meus ossos tivessem virado esponja. Eu também ficava um pouco tonta, mas isso devia ser porque eu me esquecia de respirar. De novo.
Olha, você se incomoda de deixar pra fazer as coisas estúpidas quando eu estiver por perto? Eu não vou ser capaz de me concentrar se eu pensar que você está pulando de penhascos na minhas costas.
O custo era um entorpecimento que não acabava nunca. Entre a dor e o nada, eu escolhi o nada.
O príncipe nunca voltaria para me despertar de meu sonho encantado com um beijo. Eu não era uma princesa, afinal. Então, o que dizia o protocolo dos contos de fada sobre outros beijos? Do tipo comum, que não quebra feitiços?
Eu sempre o amaria e isso nunca, jamais, seria suficiente.
Eu parecia uma lua perdida – meu planeta destruído em algum cenário desolado de cinema-catástrofe – que continuava, apesar de tudo, a rodar numa órbita muito estreita pelo espaço vazio que ficou, ignorando as leis da gravidade.
De muitas maneiras verdadeiras, eu o amava. Ele era meu conforto, meu porto seguro. Naquele exato momento, eu preferia que ele me pertencesse.
O verdadeiro amor estava perdido para sempre. O príncipe nunca voltaria para me despertar de meu sono encantado com um beijo. Eu não era uma princesa, afinal. Então, o que eu dizia o protocolo dos contos de fadas sobre outros tipos de beijos? Do tipo comum, que não quebra feitiços?
Talvez fosse fácil – como segurar a mão dele ou ter seus braços me envolvendo. Talvez fosse ótimo. Talvez não fosse uma traição. Além disso, a quem eu estava traindo, aliás? Só a mim mesma.
As ondas de dor que me haviam assaltado pouco tempo antes se erguiam agora com força e inundaram minha cabeça, puxando-me para o peito. Não voltei à superfície.
Como eu poderia combater as fronteiras tênues do nosso relacionamento, se eu gostava tanto de ficar com ele?
O conto de fadas tinha voltado. O príncipe retornara, o feitiço fora quebrado.
Não que isso importe. Se você ficar, não preciso do paraíso.
Ele pegou meu rosto entre as suas mãos de pedra, segurando-o com firmeza enquanto seus olhos de meia-noite cintilavam nos meus com a força gravitacional de um buraco negro.
O verdadeiro amor estava perdido para sempre. O príncipe nunca voltaria para me despertar de meu sono encantado com um beijo. Eu não era uma princesa, afinal.