
Engoli migalhas
jogadas ao vento,
deixadas pelas gaivotas.
Encontro fugaz.
Neblina abraça o velho
lampião de gás.
Lágrima aflora.
Na música lá fora
uma alma chora.
O azeite não se mistura
à água, nem minha mágoa
com seu deleite.
Ninfomaníaca.
Sua demoníaca mania me
levou do céu ao inferno.
Almas gêmeas.
A minha geme e a
outra não se acalma.
Somos retas paralelas.
Amor possível de se
encontrar no infinito.
De que vinhas
vinham aquelas engarrafadas
paixões que me aniquilam?
Sax tenor.
O ouvido gosta,
o coração sente dor.
Gula. Ensandecida, louca.
Ela engoliu-me todo
com sua faminta boca.
Há algo no sushi
mais sutil que
a alga: a alma.
É devassa essa mulher
que seus sonhos expõe
quando abre a vidraça?
Absorto no dia-a-dia
nem percebí que o aborto
veio em forma de poesia.
A amora adoça
mais na boca de
quem namora.
Corre e abraça o
vencedor da corrida
lá na praça.
manhã fria
na cumeeira do galpão
quatro sabiás
primeira infância
o cheiro inesquecível
do giz de cera
suave lavanda
no museu do perfume
lembrança da mãe
cheiro de bergamota
nas mãos da namorada
– primeiro beijo
Papinha do bebê
no rostinho rosado
– que avô babão!
não adianta correr
todos os marimbondos
são invencíveis
formigas atentas
novas sobras na mesa
atraem moscas
final da festa
chegam as formigas
ao farelo do bolo
tarde cinzenta
na árvore desfolhada
brigam dois sabiás
chuvisqueiro
no telhado meia-água:
simplesmente vapor
cheiro de poeira
no quintal de terra batida
– chuva fina
tempestade
a enxurrada de folhas
favorece as formigas
relâmpago
caminhante perdido
encontra abrigo
clarão no céu
entre os pinheiros
um perdeu a copa
nuvens negras
vento esparrama
o trigo colhido
manchete
no meio do vendaval
jornal que dança
rede do pescador
entre pescadas brancas
latinhas amassadas
vôo do atobá
no canal da galheta
a ilha do mel
navios na costa
na rota dos ventos
as gaivotas
barco pesqueiro
dia inteiro no mar
nenhum peixe
surfista solitário
manobras sem risco
num mar liso
sol escondido
no mar acinzentado
o piá branquinho
hibisco vermelho
no calção do menino
Havaí é no Paraná
baldinho azul
o menino de boné
no seu castelo
Ilha do Mel
surfistas só pegam
água da chuva
manto amarelo
a florida vestimenta
no fim do inverno
Ipê florido –
a rã tem companhia
de pétalas amarelas
ipê florido
depois do longo frio
novo verde virá
o trabalho não pára
na casa do joão-de-barro
– manhã ensolarada
dia de visita na
casa do joão-de-barro
– sábado de sol
vento de setembro –
no alto do pinheiro
uma rabióla
monte de lenha
do calor do fogão
a fuga da lesma
entardecer no mar –
na tarrafa do pescador
o que poderá vir?
gira o carrossel
para a alegria do menino
– infância vai a galope
sonhos da infância
perdidos no passado
– carrossel vazio
aos olhos do velho
o carrossel ainda brilha
– alegria de criança
um olhar curioso
na casa do joão-de-barro
– alguém veio ajudar?
casal de marrecos
na água escura do lago
– onde está o jacaré?
meninos na rua
pamonha de piracicaba
não sobra nada
bem-te-vi atento
ao jogo dos meninos
só um na torcida
troféu do jogo
ao artilheiro vencedor
uma só passoca
riso do moleque
uma manga madura
bem guardadinha
ração de curió
na gaiola do padrinho
larvas novinhas
castigo da vovó
o lanche do recreio
sem rocambole
Tapas aqui e ali
E nenhum a atingiu
– mosca de inverno
a chuva forte
espantou as moscas
– e o marimbondo?
manhã no hospital
berçário entoa em coral
a sinfonia pela vida
primeiro banho
o bebê todo rosado
na sua epifania
frio em Curitiba
um jato na direção sul
oito garças ao norte
frio seco
lago de pouca água
biguás sem pesca
manhã nublada
mãe e filha de mãos dadas
a caminho da escola
folhas ao chão
tons amarelo-marrons
e um casaco pesado
névoa no lago
corredor solitário assusta
o bando de gansos
sapato forrado
nas manhãs curitibanas
o sol chega tarde
fina garoa
grama verde esmeralda
com brilho de diamante
frio lá fora
o menino na cama
apenas tosse
manhã no parque
passeiam pai e mãe,
bebê e a mamadeira
frente ao lago
mulher veste cor-de-rosa
e alonga-se no azul
manhã de sábado
na grama orvalhada
folhas de plátanos
margem do lago
menino observa os gansos
e o homem de bicicleta
um choro de alegria
perfume delicado no quarto
gente nova na casa
(para Juliana Viana, pelo nascimento de Marcela, em 15/04/2005)
gato no telhado
silêncio na laranjeira
sabiá nem pia
sabiá no quintal
alegria entre quireras
gato foi passear
copo com água
tempestade à vista
– me dá um calmante
choro do loirinho
na triste hora do lanche
– sorvete no chão
pardais em festa –
esparrama pelo chão
a batatinha da menina
para ele um sonho
ela detestava goiabada
– merenda trocada
hora do recreio
entre os menininhos
um só passarinho
depois das sobras
pardal é lanche do gato
– hora do recreio
Sol e calor
pinheiros em flor
– cadê o ventilador?
João-de-barro
aluga casa no Ahú
– menos para sabiá
Canta alegre o sabiá
faz folia o bem-te-vi
– natureza assovia
Periquitos na palmeira
nem sobrou coquinho
– vôo sobre o pomar
Pelo calor de agora
pinhão no inverno
– quente, quentão
Quintal com frutas
tem sabor de alegria
– sabiá laranjeira
Alguém lá, eu aqui
ele, charuto cubano
eu, nem cinza
Atrás da cortina
sofre e sorri a menina
– vida de atriz
Adrenalina
inspira purpurina
– salta bailarina
Texto no palco
fala ao coração
– pura emoção
a menina nasceu
aos olhos do avô ausente
uma mãe, duas meninas
(para Marcela Viana Franzol, minha primeira neta, nascida em 15 de abril de 2005)
caem folhas no pátio
um choro invade o quarto
na alegria dos avós
sol da manhã
no rosto da recém-nascida
brilho do novo dia
as flores amarelas
no perfumado quarto
tem cheiro de neném
Capivara sem
nada fazer, nada
– instinto
Reflete a garça
no olho do sapo
– mergulho
Hoje o canto
seria mais feliz
– cadê Elis?
Canto do mais
fundo desassossego
– viagem sem volta
céu sem nuvens –
no campo, as marcas
de outra geada
o sol queima
as alfaces na horta
– frio danado!
o menino pisa
num tapete gelado
– hora da escola
nem o sabiá
animou-se a cantar
– madrugada fria
o velho fusca
teimou em não pegar
– traz água quente !
Imensidão
do mar, neste azul
– seu olhar
Poeta negro troca
versos com polaco
– é balacobaco
(para Paulo Leminski e Itamar Assumpção)
Saudosa e fria
Curitiba grita e cala
– poeta não fala
Brilho, estrela cai
feito colírio no olhar
– vira haikai
No vestido é visível
aquele rubro vestígio
– pulsar do coração
Grilo faz dueto
com minha insônia
– encanto noturno
Nenhuma dor
do ator dói à toa
– alma dorida
Sorri amarelo
o gato na janela
– jarro quebrado
o pequeno Batman
rouba um beijo da Cinderela
– chuva de confetes
um camisa 9 do Santos
abraçadinho com a palmeirense
– Meu coração é corintiano!
as melindrosas de azul
e suas mal cuidadas barbas
– olha a cabeleira do Zezé!
pouca gente no
salão, no grito de carnaval
– Mamãe eu quero!
um bin-laden magrinho
corre atrás do Super-homem
– batalha de confetes!
ainda é lua cheia –
entre prédios e pinheiros
o canto do sabiá
lua na madrugada –
o primeiro canto do sabiá
desperta a vizinhança
quem amanhece
com os sabiás e bem-te-vis?
– o menino e o poeta
alvoroço na palmeira –
entre coquinhos e bem-te-vis
o bico do tucano
tucanos e araçaris
não são bem-vindos
– bem-te-vis furiosos
no alto do coqueiro
bem-te-vis alvoroçados
– visita do tucano
Noite escura
vagalumes no caminho
da menina
Em verdade, em
verdade vos digo
– mentir compensa
Bashô baixou
no poeta do axé.
Arigatô, oxumaré.
o vento da manhã reflete o começo do meu dia, trazendo luz, paz e alegria.
Engoli migalhas
jogadas ao vento,
deixadas pelas gaivotas.
Encontro fugaz.
Neblina abraça o velho
lampião de gás.
Lágrima aflora.
Na música lá fora
uma alma chora.
O azeite não se mistura
à água, nem minha mágoa
com seu deleite.
Ninfomaníaca.
Sua demoníaca mania me
levou do céu ao inferno.
Almas gêmeas.
A minha geme e a
outra não se acalma.
Somos retas paralelas.
Amor possível de se
encontrar no infinito.
De que vinhas
vinham aquelas engarrafadas
paixões que me aniquilam?
Sax tenor.
O ouvido gosta,
o coração sente dor.
Gula. Ensandecida, louca.
Ela engoliu-me todo
com sua faminta boca.
Há algo no sushi
mais sutil que
a alga: a alma.
É devassa essa mulher
que seus sonhos expõe
quando abre a vidraça?
Absorto no dia-a-dia
nem percebí que o aborto
veio em forma de poesia.
A amora adoça
mais na boca de
quem namora.
Corre e abraça o
vencedor da corrida
lá na praça.
manhã fria
na cumeeira do galpão
quatro sabiás
primeira infância
o cheiro inesquecível
do giz de cera
suave lavanda
no museu do perfume
lembrança da mãe
cheiro de bergamota
nas mãos da namorada
– primeiro beijo
Papinha do bebê
no rostinho rosado
– que avô babão!
não adianta correr
todos os marimbondos
são invencíveis
formigas atentas
novas sobras na mesa
atraem moscas
final da festa
chegam as formigas
ao farelo do bolo
tarde cinzenta
na árvore desfolhada
brigam dois sabiás
chuvisqueiro
no telhado meia-água:
simplesmente vapor