Rogério Viana

Engoli migalhas
jogadas ao vento,
deixadas pelas gaivotas.

Rogério Viana

Encontro fugaz.
Neblina abraça o velho
lampião de gás.

Rogério Viana

Lágrima aflora.
Na música lá fora
uma alma chora.

Rogério Viana

O azeite não se mistura
à água, nem minha mágoa
com seu deleite.

Rogério Viana

Ninfomaníaca.
Sua demoníaca mania me
levou do céu ao inferno.

Rogério Viana

Almas gêmeas.
A minha geme e a
outra não se acalma.

Rogério Viana

Somos retas paralelas.
Amor possível de se
encontrar no infinito.

Rogério Viana

De que vinhas
vinham aquelas engarrafadas
paixões que me aniquilam?

Rogério Viana

Sax tenor.
O ouvido gosta,
o coração sente dor.

Rogério Viana

Gula. Ensandecida, louca.
Ela engoliu-me todo
com sua faminta boca.

Rogério Viana

Há algo no sushi
mais sutil que
a alga: a alma.

Rogério Viana

É devassa essa mulher
que seus sonhos expõe
quando abre a vidraça?

Rogério Viana

Absorto no dia-a-dia
nem percebí que o aborto
veio em forma de poesia.

Rogério Viana

A amora adoça
mais na boca de
quem namora.

Rogério Viana

Corre e abraça o
vencedor da corrida
lá na praça.

Rogério Viana

manhã fria
na cumeeira do galpão
quatro sabiás

Rogério Viana

primeira infância
o cheiro inesquecível
do giz de cera

Rogério Viana

suave lavanda
no museu do perfume
lembrança da mãe

Rogério Viana

cheiro de bergamota
nas mãos da namorada
– primeiro beijo

Rogério Viana

Papinha do bebê
no rostinho rosado
– que avô babão!

Rogério Viana

não adianta correr
todos os marimbondos
são invencíveis

Rogério Viana

formigas atentas
novas sobras na mesa
atraem moscas

Rogério Viana

final da festa
chegam as formigas
ao farelo do bolo

Rogério Viana

tarde cinzenta
na árvore desfolhada
brigam dois sabiás

Rogério Viana

chuvisqueiro
no telhado meia-água:
simplesmente vapor

Rogério Viana

cheiro de poeira
no quintal de terra batida
– chuva fina

Rogério Viana

tempestade
a enxurrada de folhas
favorece as formigas

Rogério Viana

relâmpago
caminhante perdido
encontra abrigo

Rogério Viana

clarão no céu
entre os pinheiros
um perdeu a copa

Rogério Viana

nuvens negras
vento esparrama
o trigo colhido

Rogério Viana

manchete
no meio do vendaval
jornal que dança

Rogério Viana

rede do pescador
entre pescadas brancas
latinhas amassadas

Rogério Viana

vôo do atobá
no canal da galheta
a ilha do mel

Rogério Viana

navios na costa
na rota dos ventos
as gaivotas

Rogério Viana

barco pesqueiro
dia inteiro no mar
nenhum peixe

Rogério Viana

surfista solitário
manobras sem risco
num mar liso

Rogério Viana

sol escondido
no mar acinzentado
o piá branquinho

Rogério Viana

hibisco vermelho
no calção do menino
Havaí é no Paraná

Rogério Viana

baldinho azul
o menino de boné
no seu castelo

Rogério Viana

Ilha do Mel
surfistas só pegam
água da chuva

Rogério Viana

manto amarelo
a florida vestimenta
no fim do inverno

Rogério Viana

Ipê florido –
a rã tem companhia
de pétalas amarelas

Rogério Viana

ipê florido
depois do longo frio
novo verde virá

Rogério Viana

o trabalho não pára
na casa do joão-de-barro
– manhã ensolarada

Rogério Viana

dia de visita na
casa do joão-de-barro
– sábado de sol

Rogério Viana

vento de setembro –
no alto do pinheiro
uma rabióla

Rogério Viana

monte de lenha
do calor do fogão
a fuga da lesma

Rogério Viana

entardecer no mar –
na tarrafa do pescador
o que poderá vir?

Rogério Viana

gira o carrossel
para a alegria do menino
– infância vai a galope

Rogério Viana

sonhos da infância
perdidos no passado
– carrossel vazio

Rogério Viana

aos olhos do velho
o carrossel ainda brilha
– alegria de criança

Rogério Viana

um olhar curioso
na casa do joão-de-barro
– alguém veio ajudar?

Rogério Viana

casal de marrecos
na água escura do lago
– onde está o jacaré?

Rogério Viana

meninos na rua
pamonha de piracicaba
não sobra nada

Rogério Viana

bem-te-vi atento
ao jogo dos meninos
só um na torcida

Rogério Viana

troféu do jogo
ao artilheiro vencedor
uma só passoca

Rogério Viana

riso do moleque
uma manga madura
bem guardadinha

Rogério Viana

ração de curió
na gaiola do padrinho
larvas novinhas

Rogério Viana

castigo da vovó
o lanche do recreio
sem rocambole

Rogério Viana

Tapas aqui e ali
E nenhum a atingiu
– mosca de inverno

Rogério Viana

a chuva forte
espantou as moscas
– e o marimbondo?

Rogério Viana

manhã no hospital
berçário entoa em coral
a sinfonia pela vida

Rogério Viana

primeiro banho
o bebê todo rosado
na sua epifania

Rogério Viana

frio em Curitiba
um jato na direção sul
oito garças ao norte

Rogério Viana

frio seco
lago de pouca água
biguás sem pesca

Rogério Viana

manhã nublada
mãe e filha de mãos dadas
a caminho da escola

Rogério Viana

folhas ao chão
tons amarelo-marrons
e um casaco pesado

Rogério Viana

névoa no lago
corredor solitário assusta
o bando de gansos

Rogério Viana

sapato forrado
nas manhãs curitibanas
o sol chega tarde

Rogério Viana

fina garoa
grama verde esmeralda
com brilho de diamante

Rogério Viana

frio lá fora
o menino na cama
apenas tosse

Rogério Viana

manhã no parque
passeiam pai e mãe,
bebê e a mamadeira

Rogério Viana

frente ao lago
mulher veste cor-de-rosa
e alonga-se no azul

Rogério Viana

manhã de sábado
na grama orvalhada
folhas de plátanos

Rogério Viana

margem do lago
menino observa os gansos
e o homem de bicicleta

Rogério Viana

um choro de alegria
perfume delicado no quarto
gente nova na casa
(para Juliana Viana, pelo nascimento de Marcela, em 15/04/2005)

Rogério Viana

gato no telhado
silêncio na laranjeira
sabiá nem pia

Rogério Viana

sabiá no quintal
alegria entre quireras
gato foi passear

Rogério Viana

copo com água
tempestade à vista
– me dá um calmante

Rogério Viana

choro do loirinho
na triste hora do lanche
– sorvete no chão

Rogério Viana

pardais em festa –
esparrama pelo chão
a batatinha da menina

Rogério Viana

para ele um sonho
ela detestava goiabada
– merenda trocada

Rogério Viana

hora do recreio
entre os menininhos
um só passarinho

Rogério Viana

depois das sobras
pardal é lanche do gato
– hora do recreio

Rogério Viana

Sol e calor
pinheiros em flor
– cadê o ventilador?

Rogério Viana

João-de-barro
aluga casa no Ahú
– menos para sabiá

Rogério Viana

Canta alegre o sabiá
faz folia o bem-te-vi
– natureza assovia

Rogério Viana

Periquitos na palmeira
nem sobrou coquinho
– vôo sobre o pomar

Rogério Viana

Pelo calor de agora
pinhão no inverno
– quente, quentão

Rogério Viana

Quintal com frutas
tem sabor de alegria
– sabiá laranjeira

Rogério Viana

Alguém lá, eu aqui
ele, charuto cubano
eu, nem cinza

Rogério Viana

Atrás da cortina
sofre e sorri a menina
– vida de atriz

Rogério Viana

Adrenalina
inspira purpurina
– salta bailarina

Rogério Viana

Texto no palco
fala ao coração
– pura emoção

Rogério Viana

a menina nasceu
aos olhos do avô ausente
uma mãe, duas meninas
(para Marcela Viana Franzol, minha primeira neta, nascida em 15 de abril de 2005)

Rogério Viana

caem folhas no pátio
um choro invade o quarto
na alegria dos avós

Rogério Viana

sol da manhã
no rosto da recém-nascida
brilho do novo dia

Rogério Viana

as flores amarelas
no perfumado quarto
tem cheiro de neném

Rogério Viana

Capivara sem
nada fazer, nada
– instinto

Rogério Viana

Reflete a garça
no olho do sapo
– mergulho

Rogério Viana

Hoje o canto
seria mais feliz
– cadê Elis?

Rogério Viana

Canto do mais
fundo desassossego
– viagem sem volta

Rogério Viana

céu sem nuvens –
no campo, as marcas
de outra geada

Rogério Viana

o sol queima
as alfaces na horta
– frio danado!

Rogério Viana

o menino pisa
num tapete gelado
– hora da escola

Rogério Viana

nem o sabiá
animou-se a cantar
– madrugada fria

Rogério Viana

o velho fusca
teimou em não pegar
– traz água quente !

Rogério Viana

Imensidão
do mar, neste azul
– seu olhar

Rogério Viana

Poeta negro troca
versos com polaco
– é balacobaco
(para Paulo Leminski e Itamar Assumpção)

Rogério Viana

Saudosa e fria
Curitiba grita e cala
– poeta não fala

Rogério Viana

Brilho, estrela cai
feito colírio no olhar
– vira haikai

Rogério Viana

No vestido é visível
aquele rubro vestígio
– pulsar do coração

Rogério Viana

Grilo faz dueto
com minha insônia
– encanto noturno

Rogério Viana

Nenhuma dor
do ator dói à toa
– alma dorida

Rogério Viana

Sorri amarelo
o gato na janela
– jarro quebrado

Rogério Viana

o pequeno Batman
rouba um beijo da Cinderela
– chuva de confetes

Rogério Viana

um camisa 9 do Santos
abraçadinho com a palmeirense
– Meu coração é corintiano!

Rogério Viana

as melindrosas de azul
e suas mal cuidadas barbas
– olha a cabeleira do Zezé!

Rogério Viana

pouca gente no
salão, no grito de carnaval
– Mamãe eu quero!

Rogério Viana

um bin-laden magrinho
corre atrás do Super-homem
– batalha de confetes!

Rogério Viana

ainda é lua cheia –
entre prédios e pinheiros
o canto do sabiá

Rogério Viana

lua na madrugada –
o primeiro canto do sabiá
desperta a vizinhança

Rogério Viana

quem amanhece
com os sabiás e bem-te-vis?
– o menino e o poeta

Rogério Viana

alvoroço na palmeira –
entre coquinhos e bem-te-vis
o bico do tucano

Rogério Viana

tucanos e araçaris
não são bem-vindos
– bem-te-vis furiosos

Rogério Viana

no alto do coqueiro
bem-te-vis alvoroçados
– visita do tucano

Rogério Viana

Noite escura
vagalumes no caminho
da menina

Rogério Viana

Em verdade, em
verdade vos digo
– mentir compensa

Rogério Viana

Bashô baixou
no poeta do axé.
Arigatô, oxumaré.

Rogério Viana

o vento da manhã reflete o começo do meu dia, trazendo luz, paz e alegria.

Rogério Viana

Engoli migalhas
jogadas ao vento,
deixadas pelas gaivotas.

Rogério Viana

Encontro fugaz.
Neblina abraça o velho
lampião de gás.

Rogério Viana

Lágrima aflora.
Na música lá fora
uma alma chora.

Rogério Viana

O azeite não se mistura
à água, nem minha mágoa
com seu deleite.

Rogério Viana

Ninfomaníaca.
Sua demoníaca mania me
levou do céu ao inferno.

Rogério Viana

Almas gêmeas.
A minha geme e a
outra não se acalma.

Rogério Viana

Somos retas paralelas.
Amor possível de se
encontrar no infinito.

Rogério Viana

De que vinhas
vinham aquelas engarrafadas
paixões que me aniquilam?

Rogério Viana

Sax tenor.
O ouvido gosta,
o coração sente dor.

Rogério Viana

Gula. Ensandecida, louca.
Ela engoliu-me todo
com sua faminta boca.

Rogério Viana

Há algo no sushi
mais sutil que
a alga: a alma.

Rogério Viana

É devassa essa mulher
que seus sonhos expõe
quando abre a vidraça?

Rogério Viana

Absorto no dia-a-dia
nem percebí que o aborto
veio em forma de poesia.

Rogério Viana

A amora adoça
mais na boca de
quem namora.

Rogério Viana

Corre e abraça o
vencedor da corrida
lá na praça.

Rogério Viana

manhã fria
na cumeeira do galpão
quatro sabiás

Rogério Viana

primeira infância
o cheiro inesquecível
do giz de cera

Rogério Viana

suave lavanda
no museu do perfume
lembrança da mãe

Rogério Viana

cheiro de bergamota
nas mãos da namorada
– primeiro beijo

Rogério Viana

Papinha do bebê
no rostinho rosado
– que avô babão!

Rogério Viana

não adianta correr
todos os marimbondos
são invencíveis

Rogério Viana

formigas atentas
novas sobras na mesa
atraem moscas

Rogério Viana

final da festa
chegam as formigas
ao farelo do bolo

Rogério Viana

tarde cinzenta
na árvore desfolhada
brigam dois sabiás

Rogério Viana

chuvisqueiro
no telhado meia-água:
simplesmente vapor

Rogério Viana