Para falar ao vento bastam palavras, para falar ao coração são necessárias obras.
O livro é um mudo que fala, um surdo que responde, um cego que guia, um morto que vive.
Não basta que as coisas que se dizem sejam grandes, se quem as diz não é grande. Por isso os ditos que alegamos se chamam autoridade, por que o autor é o que lhe dá o crédito e lhe concilia o respeito.
Três mais há neste mundo pelos quais anelam, pelos quais morrem e pelos quais matam os homens: mais fazenda; mais honra; mais vida.
A nossa alma rende-se muito mais pelos olhos, do que pelos ouvidos.
Pouco fez, ou baixamente avalia as suas ações, quem cuida que lhas podiam pagar os homens.
Amor e ódio são os dois mais poderosos afetos da vontade humana.
A admiração é filha da ignorância, porque ninguém se admira senão das coisas que ignora, principalmente se são grandes; e mãe da ciência, porque admirados os homens das coisas que ignoram, inquirem e investigam as causas delas até as alcançar, e isto é o que se chama ciência.
Muitos cuidam da reputação, mas não da consciência.
A boa educação é moeda de ouro. Em toda a parte tem valor.
O maior pensar da criatura humana é comer; desde que o homem nasce até que morre anda a procurar o pão para a boca.
Quem quer mais que lhe convém, perde o que quer e o que tem.
Quem tem seis asas e voa só com duas, sempre voa e canta. Quem tem duas asas e quer voar com seis, cansará logo e chorará.
A ausência é o remédio do amor.
Não há alegria neste mundo tão privilegiada, que não pague pensão à tristeza.
Há homens que são como as velas; sacrificam-se, queimando-se para dar luz aos outros.
Mais afronta a mesura de um adulador, que uma bofetada de um inimigo.
Ora vede: Definindo S. Bernardo o amor fino, diz assim: Amor non quaerit causam, nec fructum: “O amor fino não busca causa nem fruto”. Se amo, porque me amam, tem o amor causa; se amo, para que me amem, tem fruto: o amor fino não há de ter por quê nem para quê. Se amo por que me amam, é obrigação, faço o que devo; se amo para que me amem, é negociação, busco o que desejo. Pois como há de amar o amor para ser fino? Amo, quia amo, como ut amem: amo, porque amo, e amo para amar. Quem ama porque o amam, é agradecido; quem ama, para que o amem, é interesseiro; quem ama, não porque o amam, nem para que o amem, esse só é fino.
Se os olhos vêem com amor o que não é, tem de ser.
E se um não é tão duro
para quem o ouve,
creio que não é menor
a sua dureza para quem o diz.
Que coisa é a conversão da alma, senão um homem dentro de si ,e ver-se a si mesmo .
AMOR E TEMPO
Tudo cura o tempo, tudo faz esquecer, tudo gasta, tudo digere, tudo acaba. Atreve-se o tempo a colunas de mármore, quanto mais a corações de cera !
São as afeições como as vidas, que não há mais certo sinal de haverem de durar pouco, que terem durado muito. São como as linhas, que partem do centro para a circunferência, que quanto mais continuadas, tanto menos unidas. Por isso os antigos sabiamente pintaram o amor menino; porque não há amor tão robusto que chegue a ser velho. De todos os instrumentos com que o armou a natureza, o desarma o tempo. Afrouxa-lhe o arco, com que já não atira; embota-lhe as setas, com que já não fere; abre-lhe os olhos, com que vê o que não via; e faz-lhe crescer as asas, com que voa e foge. A razão natural de toda esta diferença é porque o tempo tira a novidade às coisas, descobre-lhe os defeitos, enfastia-lhe o gosto, e basta que sejam usadas para não serem as mesmas. Gasta-se o ferro com o uso, quanto mais o amor ?! O mesmo amar é causa de não amar e o ter amado muito, de amar menos.
A mais fiel companheira da alma é a esperança.
Quereis só o que podeis, e sereis onipotentes.
Nós somos o que fazemos. O que não se faz nao existe. Portanto, só existimos quando fazemos. Nos dias que não fazemos, apenas duramos
Há pessoas semelhantes à vela que se consomem para alumiar o caminho alheio.
O bem ou é presente, ou passado, ou futuro: se é presente, causa gosto; se é passado, causa saudade; se é futuro, causa desejo.
Nem todos os anos que passam se vivem:
uma coisa é contar os anos, outra é vivê-los.
No juízo de Deus basta ser bom no último instante da vida para ser eternamente bom: No juízo dos homens basta ser mau em qualquer tempo da vida para ser eternamente mau. Se fostes bom, e sois mau, julgam-vos mal pelo que sois; se fostes mau, e sois bom, julgam-vos mau pelo que fostes; e se sois e fostes sempre bom, julgam-vos mal pelo que podeis vir a ser.
A maior conquista na terra é um lugar no céu!
Somos o que fazemos. Nos dias em que fazemos, realmente existimos; nos outros, apenas duramos.
Somos Pó
O pó que foi nosso princípio, esse mesmo e não outro é o nosso fim, e porque caminhamos circularmente deste pó para este pó, quanto mais parece que nos apartamos dele, tanto mais nos chegamos para ele: o passo que nos aparta, esse mesmo nos chega; o dia que faz a vida, esse mesmo a desfaz; e como esta roda que anda e desanda juntamente, sempre nos vai moendo, sempre somos pó.
(in “Sermões”)
Todas as guerras deste mundo se fazem para conseguir a paz.
“Instruir é construir”
Não tem estação para uma verdadeira paixão
A PAZ EXISTE?
“Enchem a boca de paz, e não há tal paz no mundo. E senão, quem há tão cego, que não veja o mesmo hoje em toda a parte? Dizem que há paz nos reinos, e os vassalos não obedecem aos reis: dizem que há paz nas cidades, e os súbditos não obedecem aos magistrados: dizem que há paz nas famílias, e os filhos não obedecem aos pais: dizem que há paz nos particulares, e cada um tem dentro em si mesmo a maior e a pior guerra. Havia de mandar a razão, e o racional não lhe obedece; porque nele, e sobre ela domina o apetite. (…) A paz do mundo é guerra que se esconde debaixo da paz. Chama-se paz e é lisonja: chama-se paz, e é dissimulação: chama-se paz, e é dependência: chama-se paz, e é mentira, quando não seja traição.”
Padre Antônio Vieira, in Sermões
Não vivemos como mortais, porque tratamos das coisas desta vida como se esta vida fora eterna. Não vivemos como imortais, porque nos esquecemos tanto da vida eterna, como se não houvera tal vida.
Nenhum segue mais leis que as da conveniência própria. Imaginar o contrário é querer emendar o mundo, negar a experiência e esperar impossíveis.
Se um homem está verdadeiramente arrependido, se conhece verdadeira e profundamente as suas culpas, nunca ninguém dirá dele tanto mal, que ele se não julgue por muito pior.
Os nomes dos poetas populares
Deveriam estar na boca do povo
No contexto de uma sala de aula
Não estarem esses nomes me dá pena
A escola devia ensinar
Pro aluno não me achar um bobo
Sem saber que os nomes que eu louvo
São vates de muitas qualidades.
O aluno devia bater palma
Saber de cada um o nome todo
Se sentir satisfeito e orgulhoso
E falar deles para os de menor idade
Os nomes dos poetas populares”
Quando julgamos os outros, condenamo-nos a nós.”
Fé e liberalidade são virtudes sinónimas; e quem está duvidoso no dar, não está firme no crer.”
O tempo, como o Mundo, tem dois hemisférios: um superior e visível, que é o passado, outro invisível que é o futuro. No meio de um e outro hemisfério ficam os horizontes do tempo, que são estes instantes do presente que imos vivendo, onde o passado termina e o futuro começa.
Somos o que fazemos. O que não fazemos, não existe. Assim, apenas existimos nos dias em que fazemos. Nos dias em que não fazemos, simplesmente suportamos.
Quem ama porque o amam, é agradecido; quem ama para que o amem, é interesseiro; quem ama, não porque o amam nem para que o amem, esse só é fino.
Quem em tudo quer parecer maior, não é grande.
O melhor modo de pedir é agradecer.
Aquele a quem convém mais do que é lícito, sempre quer mais do que convém.
Sermão de Quarta-feira de Cinzas
Duas coisas prega hoje a Igreja a todos os mortais, ambas grandes, ambas tristes, ambas temerosas, ambas certas. Mas uma de tal maneira certa e evidente, que não é necessário entendimento para crer; outra de tal maneira certa e dificultosa, que nenhum entendimento basta para a alcançar. Uma é presente, outra futura, mas a futura veem-na os olhos, a presente não a alcança o entendimento. E que duas coisas enigmáticas são estas? Pulvis es, tu in pulverem reverteris: Sois pó, e em pó vos haveis de converter.
Os corações também têm orelhas. E estai certos de que cada um ouve não conforme tem os ouvidos, senão conforme tem o coração e a inclinação.
“O sermão há de ser duma só cor, há de ter um só objeto, um só assunto, uma só matéria. Há de tomar o pregador uma só matéria, há de defini la para que se conheça, há de dividi-la para que se distinga, há de prová-la com a Escritura, há de declará-la com a razão, há de confirmá la com o exemplo, há de ampliá la com as causas, com os efeitos, com as circunstâncias, com as conveniências que se hão de seguir, com os inconvenientes que se devem evitar, há de responder às dúvidas, há de satisfazer as dificuldades, há de impugnar e refutar com toda a força da eloquência os argumentos contrários, e depois disso há de colher, há de apertar, há de concluir, há de persuadir, há de acabar. Isto é sermão, isto é pregar, e o que não é isto, é falar de mais alto. Não nego nem quero dizer que o sermão não haja de ter variedade de discursos, mas esses devem nascer todos da mesma matéria, e continuar e acabar nela.”
(VIEIRA, Padre Antônio. Sermão da Sexagésima. In: Os sermões. São Paulo: Difel, 1968, v.VI)
No Juízo Universal hão se de manifestar as más obras de cada um; mas também hão de aparecer igualmente as boas, para que as virtudes de uma parte se contrapesem com os pecados da outra.
Os homens não amam aquilo que cuidam que amam. Por quê? Ou porque o que amam não é o que cuidam; ou porque amam o que verdadeiramente não há. Quem estima vidros, cuidando que são diamantes, diamantes estima, e não vidros; quem ama defeitos, cuidando que são perfeições, perfeições ama, e não defeitos. Cuidais que amais diamantes de firmeza, e amais vidros de fragilidade: cuidais que amais perfeições angélicas, e amais imperfeições humanas. Logo os homens não amam o que cuidam que amam. Donde também se segue, que amam o que verdadeiramente não há; porque amam as coisas, não como são, senão como as imaginam, e o que se imagina, e não é, não o há no mundo.
Quem estima vidros, cuidando que são diamantes, diamantes estima, e não vidros.
Para falar ao vento bastam palavras, para falar ao coração são necessárias obras.
O livro é um mudo que fala, um surdo que responde, um cego que guia, um morto que vive.
Não basta que as coisas que se dizem sejam grandes, se quem as diz não é grande. Por isso os ditos que alegamos se chamam autoridade, por que o autor é o que lhe dá o crédito e lhe concilia o respeito.
Três mais há neste mundo pelos quais anelam, pelos quais morrem e pelos quais matam os homens: mais fazenda; mais honra; mais vida.
A nossa alma rende-se muito mais pelos olhos, do que pelos ouvidos.
Pouco fez, ou baixamente avalia as suas ações, quem cuida que lhas podiam pagar os homens.
Amor e ódio são os dois mais poderosos afetos da vontade humana.
A admiração é filha da ignorância, porque ninguém se admira senão das coisas que ignora, principalmente se são grandes; e mãe da ciência, porque admirados os homens das coisas que ignoram, inquirem e investigam as causas delas até as alcançar, e isto é o que se chama ciência.
Muitos cuidam da reputação, mas não da consciência.
A boa educação é moeda de ouro. Em toda a parte tem valor.
O maior pensar da criatura humana é comer; desde que o homem nasce até que morre anda a procurar o pão para a boca.
Quem quer mais que lhe convém, perde o que quer e o que tem.
Quem tem seis asas e voa só com duas, sempre voa e canta. Quem tem duas asas e quer voar com seis, cansará logo e chorará.
A ausência é o remédio do amor.
Não há alegria neste mundo tão privilegiada, que não pague pensão à tristeza.
Há homens que são como as velas; sacrificam-se, queimando-se para dar luz aos outros.
Mais afronta a mesura de um adulador, que uma bofetada de um inimigo.
Ora vede: Definindo S. Bernardo o amor fino, diz assim: Amor non quaerit causam, nec fructum: “O amor fino não busca causa nem fruto”. Se amo, porque me amam, tem o amor causa; se amo, para que me amem, tem fruto: o amor fino não há de ter por quê nem para quê. Se amo por que me amam, é obrigação, faço o que devo; se amo para que me amem, é negociação, busco o que desejo. Pois como há de amar o amor para ser fino? Amo, quia amo, como ut amem: amo, porque amo, e amo para amar. Quem ama porque o amam, é agradecido; quem ama, para que o amem, é interesseiro; quem ama, não porque o amam, nem para que o amem, esse só é fino.
Se os olhos vêem com amor o que não é, tem de ser.
E se um não é tão duro
para quem o ouve,
creio que não é menor
a sua dureza para quem o diz.
Que coisa é a conversão da alma, senão um homem dentro de si ,e ver-se a si mesmo .
AMOR E TEMPO
Tudo cura o tempo, tudo faz esquecer, tudo gasta, tudo digere, tudo acaba. Atreve-se o tempo a colunas de mármore, quanto mais a corações de cera !
São as afeições como as vidas, que não há mais certo sinal de haverem de durar pouco, que terem durado muito. São como as linhas, que partem do centro para a circunferência, que quanto mais continuadas, tanto menos unidas. Por isso os antigos sabiamente pintaram o amor menino; porque não há amor tão robusto que chegue a ser velho. De todos os instrumentos com que o armou a natureza, o desarma o tempo. Afrouxa-lhe o arco, com que já não atira; embota-lhe as setas, com que já não fere; abre-lhe os olhos, com que vê o que não via; e faz-lhe crescer as asas, com que voa e foge. A razão natural de toda esta diferença é porque o tempo tira a novidade às coisas, descobre-lhe os defeitos, enfastia-lhe o gosto, e basta que sejam usadas para não serem as mesmas. Gasta-se o ferro com o uso, quanto mais o amor ?! O mesmo amar é causa de não amar e o ter amado muito, de amar menos.
A mais fiel companheira da alma é a esperança.
Quereis só o que podeis, e sereis onipotentes.
Nós somos o que fazemos. O que não se faz nao existe. Portanto, só existimos quando fazemos. Nos dias que não fazemos, apenas duramos