AutorNina Rizzi

Nina Rizzi

depois, quando minha carne tremia, disse
– quando eu te amo, venta
e nunca mais parou a ventania.

Nina Rizzi

sonharíamos coisas lindas.
e quando acordava o gosto era bem doce.
eu te cantaria mais lindo que dorival caymmi morto em pessoa.
mais poético que os calcanhares da adriana no porto.
contava carneirinhos e te mostrava o fogo.
círculos ininterruptos. rodas. giram milhares de arrebóis.
eu até te bordava coisas assim. pra que nosso sono fosse
acordado.
grudado. e nada mais o fado.

Nina Rizzi

pra me amar e ter inteira, riso largo,
a face serena sem expressões franzidas ou teatrais,
é preciso drama, camarada:
os olhos a me caminhar, venerar, buscar;
fazer exigências, oferecer um lenço azul, um título ktke;
há que me torcer o esternoclidomastóideo;
morrer de amor, porre, guerrilha e poesia.

Nina Rizzi

minha última lembrança tua:
fui ao mar e não me afoguei

Nina Rizzi

uma sarjeta é o lugar onde se deixar uma menina
uma menina é um ser vivente, um ser vivente é esse
que se atravessa e mata e nunca existiu
não vou mais pisar a sarjeta de quando era uma menina
sob as mãos do pai, do outro e do outro
todo e qualquer desconhecido
um senhor me pergunta se foi um poema que se salvou
como sede de qualquer morada
o claustro, senhor, não pisar qualquer chão
ser encarcerada é um ótimo ataque, lê-se numa vala

Nina Rizzi

ponho as mãos no coração
só posso escutar o naufrágio correndo pelos olhos
– escuta! minhas pernas bambas te esperam

Nina Rizzi

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