A nossa atmosfera estava carregada de tempestade, a nossa própria natureza nublava-se, pois não tínhamos encontrado caminho algum…
E essa tolerância, esse ‘largeur’ do coração que tudo ‘perdoa’ porque tudo ‘compreende’, é para nós como o vento siroco…
Aquilo que vivemos no sonho, e que nele vivemos repetidas vezes, termina por pertencer à economia global de nossa alma, tanto quanto algo “realmente” vivido
Qual é a marca da liberdade realizada? Não mais corar de si próprio.
A menor das felicidades, se, simplesmente, é ininterrupta e faz feliz ininterruptamente, é, sem comparação, mais felicidade do que a maior delas, que venha somente com um episódio.
É absolutamente impossível ao sujeito pretender ver ou conhecer algo além de si mesmo;
“Não gosto de pessoas que, para ter algum efeito, necesitam estourar como bombas, e junto às quais há sempre perigo de perdermos subitamente a audição – e mesmo alguma coisa a mais.”
A arte é estimulante da vontade de poder
[…] às vezes a exposição incompleta, como em relevo, de um pensamento, de toda uma filosofia, é mais eficaz que a explicação exaustiva […]
“As convicções são inimigos mais poderosos que as mentiras.” – É impossível expandir o pensar quando a mente está ancorada em opiniões intocáveis. Siga o exemplo dos estrategistas clássicos, militares inclusive.
Você diz que acredita na necessidade da religião. Seja sincero! Você acredita mesmo é na necessidade da polícia.
“Má compreensão do sonho. – Nas épocas de cultura tosca e primordial o homem acreditava no sonho conhecer um segundo mundo real; eis a origem de toda metafísica. Sem o sonho, não teríamos achado motivo para uma divisão do mundo. Também a decomposição em corpo e alma se relaciona à antiqüíssima concepção do sonho, e igualmente a suposição de um simulacro corporal da alma, portanto a origem de toda crença nos espírito e também, provavelmente, da crença nos deuses: ‘Os mortos continuam vivendo, porque aparecem em sonho aos vivos’: assim se raciocinava outrora, durante muitos milênios.”
O perigo na felicidade – agora tudo está dando certo para mim, amo qualquer destino. Quem quer ser meu destino?
“Quantos homens se precipitam para a luz, não para ver melhor senão para brilhar.”
O conhecimento é uma centelha entre duas espadas
A esperança e o pressentimento lhe dão asas.
Com ajuda da moralidade do costume e da camisa-de-força social, o homem foi realmente se tornou confiável.
As condições sob as quais sou compreendido, sob as quais sou necessariamente compreendido – conheço-as muito bem. Para suportar minha seriedade, minha paixão, é necessário possuir uma integridade intelectual levada aos limites extremos. Estar acostumado a viver no cimo das montanhas – e ver a imundície política e o nacionalismo abaixo de si. Ter se tornado indiferente; nunca perguntar se a verdade será útil ou prejudicial… Possuir uma inclinação – nascida da força – para questões que ninguém possui coragem de enfrentar; ousadia para o proibido; predestinação para o labirinto. Uma experiência de sete solidões. Ouvidos novos para música nova. Olhos novos para o mais distante. Uma consciência nova para verdades que até agora permaneceram mudas. E um desejo de economia em grande estilo – acumular sua força, seu entusiasmo… Auto-reverência, amor-próprio, absoluta liberdade para consigo…
O cômico tem espírito,mas pouca consciência do espírito. Crê sempre naquilo pelo qual faz crer mais energicamente – crer em si mesmo.
As nossas passadas soam solitariamente demais nas ruas. E, ao ouvi-las perguntam assim como de noite, quando deitados nas suas camas, ouvem passar um homem muito antes do alvorecer: Aonde irá o ladrão?
O que não me mata me fortalesce
Coração atado, espírito livre – Quando se amarra e se mantém preso o próprio coração, pode-se dar ao espírito muitas liberdades.
Experiências terríveis fazem pensar se aquele que as vive não é algo terrível
As pessoas graves e sombrias tornam-se mais leves precisamente através daquilo que torna outras pessoas graves, através do ódio e do amor, e chegam assim por um momento à própria superfície
Quando o amor ou o ódio não participa do jogo, a mulher é jogadora medíocre.
As grandes épocas de nossa vida são aquelas em que temos a coragem de rebatizar nosso lado mau de nosso lado melhor
É por nossas virtudes que somos bem punidos
O que fazemos em sonhos, fazemos acordados: inventamos e construímos a pessoa com quem lidamos – para em seguida esquecer que assim fizemos.
No verdadeiro amor, é a alma que envolve o corpo.
Quanto mais perto do fim eu chego,
mais tenho certeza de que a esperança
é o meu melhor investimento.
“Então a multidão dispersou-se, porque até a curiosidade e o pavor se cansam…”
“Farias melhor dizendo: ‘Coisa inexprimível e sem nome é o que constitui o tormento e a doçura da minha alma, e o que é também a fome das minhas entranhas.” – Asssim falou Zaratustra – Nietzche
Uma coisa é o pensamento, outra a ação e outra a imagem da ação.
Eu não dou esmolas. Não sou pobre bastante para isso.
Não sou a boca que convém a esses ouvidos
A falsidade de um juízo não chega a constituir, para nós, uma objeção contra ele
Gradualmente foi se revelando para mim o que toda grande filosofia foi até o momento: a confissão pessoal de seu autor, uma espécie de memórias involuntárias e inadvertidas; e também se tornou claro que as intenções morais (ou imorais) de toda filosofia constituíram sempre o germe a partir do qual cresceu a planta inteira.
Pois todo impulso ambiciona dominar: e portanto procura filosofar
Viver é querer ser diferente da Natureza, formar juízos de valor, preferir, ser injusto, limitado, querer ser diferente! Admitindo que o lema “de acordo com a Natureza” signifique no fundo “de acordo com a vida” seria possível que atuásseis de outra forma? Por que então fazer um principio do que já sois, daquilo que podeis deixar de ser?
Também pode acontecer que existam fanáticos da consciência, puritanos que preferem morrer sobre uma vã ilusão e não .sobre uma incerta realidade. Mas isto não só é nihilismo, mas também sintoma de uma alma que se sente desesperada e fatigada até a morte, por muito valorosa que possam parecer as atitudes de semelhante virtude
Admitindo, todavia, que existe alguém que chega a considerar como paixões essenciais da vida ao ódio, inveja, cobiça e comando, como principias fundamentais da vida, como algo que lia economia de vida deve existir fundamental e essencialmente e que por conseguinte deve ser ainda intensificado se se deseja intensificar a vida, este homem sofrerá algo como um enjôo devido à orientação de seu próprio juízo. Contudo esta hipótese não é mais penosa e a mais estranha, neste imenso domínio quase virgem do conhecimento, do qual todos têm mil e uma boas razões para se manterem à distância…, se podem. Nosso barco sofre a tormenta! Serremos os dentes! Vigilantes! Firmes no leme! Naveguemos em linha reta acima da moral! Porém, apesar de tudo decidisses conduzir vossa nau a essas praias, então só vos resta o remédio de manter esse valor, ficar alerta e manter firme o timão. Que importa nosso destino! Nunca até agora encontraram os navegantes, intrépidos e aventureiros — um mar de conhecimentos mais profundos e o psicólogo que faz tais “sacrifícios” (este não é o sacrilizio dell’in telletto)
Uma teoria na qual os impulsos bons, derivem dos maus
Suponto, porém, que alguém tome os afetos de ódio, inveja, cupidez, ânsia de domínio e querer vencer sempre, como afetos que condicionam a vida, como algo que tem de estar presente, por princípio e de modo essencial, na economia global da vida, e em consequência deve ser realçado, se a vida é para ser realçada – esse alguém sofrerá com tal orientação do seu julgamento como quem sofre de enjôo do mar.
No entanto, mesmo essa hipótese está longe de ser a mais dolorosa e mais estranha desse desmesurado, quase inexplorado reino de conhecimentos perigosos; e existe, de fato, uma centena de boas razões para que dele mantenha distância todo aquele que – puder! Por outro lado, se o seu navio foi desviado até esses confins, muito bem: Cerrem os dentes ! Olhos abertos ! Mão firme no leme ! – navegamos diretamente sobre a moral e além dela, sufocamos, esmagamos talvez nosso próprio resto de moralidade, ao ousar fazer a viagem até la – mas que importa nós ! Jamais um mundo tão profundo de conhecimento se revelou para navegantes e aventureiros audazes: e o psicólogo, que desse modo “traz um sacrifício” – que não é o ‘sacrifizio dell’intelletto’, pelo contrário! – poderá ao menos reivindicar, em troca, que a psicologia seja novamente reconhecida como rainha das ciências.
Curiosa simplificação e falsificação vive o homem! Impossível se maravilhar o bastante, quando se abrem os olhos para esse prodígio
Ela ama o erro, porque, vive, e ama a vida!
Evitem o martírio! O sofrimento “pela verdade”! E até mesmo a defesa de si! Corrompe a inocência e a sutil neutralidade da sua consciência.
Como se “a verdade” fosse uma criatura tão inepta e inofensiva, a ponto de necessitar de defensores.
Toda companhia é má, exceto a companhia dos iguais: Talvez a parte mais desagradável, mais malcheirosa, mais rica em decepções.
A independência é o privilégio dos fortes, da reduzida minoria que tem o calor de auto-afirmar-se. E aquele que traia de ser independente, sem estar obrigado a isso, mostra que não apenas é forte mas também possuidor de uma audácia imensa.
Aventura-se num labirinto, multiplica os mil perigos que implica a vida; se isola e se deixa arrastar por algum minotauro oculto na caverna de sua consciência. Se tal homem se extinguisse estaria tão longe da compreensão dos homens que estes nem o sentiriam nem se comoveriam em absoluto. Seu
caminho está traçado, não pode voltar atrás, nem sequer lograr a compaixão dos seres humanos.
Não se deve frequentar igreja quando se deseja respirar ar puro
Aquele que atinge seu ideal, por si só o ultrapassa.
Coração encadeado, espírito livre — Quando se prende o coração e se o mantém preso, pode-se permitir muita liberdade ao espírito: eu já o disse uma vez. Mas não se deseja crer-me, porque não era coisa já consabida
As grandes épocas de nossa vida ocorrem quando sentimos a
coragem de rebatizar o mal que em nós existe como o melhor
de nós mesmos
Acabamos por amar nosso próprio desejo, em lugar do objeto
desejado
Não pelo fato de me teres mentido, mas por não poder
acreditar-te, me perturba profundamente.
A palavra mais ofensiva e a carta mais grosseira são melhores e mais educadas que o silêncio.
Amo aquele cujo espírito e coração são livres:assim,nele,a cabeça é apenas uma víscera do coração,mas o coração o arrasta para o ocaso.
A coragem quer rir.
É verdade:amamos a vida,porque estamos acostumados não à vida,mas a amar.
Uma coisa é o abandono,outra, a solidão.
Vontade de amor; isto significa disposição,também,para a morte.
E aquilo que chamais mundo,é preciso,primeiro,que seja criado por vós.
Criar,quer o que ama,porque despreza!Que sabe do amor quem não teve de desprezar,justamente,aquilo que amava!
É pelo saber que o corpo se purifica,é procurando o saber que se eleva
Corajosos, despreocupados, escarninhos, violentos, assim nos quer a sabedoria, ela é mulher e só ama quem é guerreiro.
Duas espécie de coisas,quer o verdadeiro homem: perigo e divertimento. Quer por isso,a mulher,como o mais perigoso dos brinquedos.
Um brinquedo,seja a mulher,puro e delicado,semelhante à pedra preciosa,iluminada pelas virtudes de um mundo que ainda não nasceu.
Pois quem não tiver para si dois terços de seu dia é um escravo, seja ele quem for.
Como nos falta tempo para pensar e ter sossego no pensar!
Sem prazer não há vida; A luta pelo prazer é a luta pela vida.
Só se vive a experiência de sí mesmo.
Desce a contragosto em suas águas aquele que busca o conhecimento.
Tem tão pouco valor tudo aquilo que tem preço.
Sentimos prazer na compreensão imediata da forma; todas as formas falam; nenhuma nos é indiferente, nenhuma nos é inútil. No entanto, até mesmo a vida mais intensa da realidade que é o sonho, nos deixa a impressão confusa de não ser mais do que uma aparência.
Todo homem que for dotado de espírito filosófico há de ter o pressentimento de que, atrás da realidade em que existimos e vivemos, se esconde outra muito diferente e por consequência, a primeira não passa de uma aparição da segunda.
Estes factos confirmam evidentemente que a nossa natureza mais íntima, o fundo comum do nosso ser, encontra um prazer indispensável e uma alegria profunda na imensa paixão de sonhar.
Lamento agora não ter tido outrora a coragem (ou a imodéstia) de me servir de uma linguagem pessoal para exprimir ideias tão pessoais e audaciosas. Arrependo-me de ter pessoalmente recorrido a fórmulas de Kant e de Schopenhauer para exprimir opiniões inéditas e insólitas que eram diametralmente opostas à inteligência e ao sentimento, tanto de Kant como de Schopenhauer.
Arrependo-me de me ter ligado esperanças, quando e onde tudo indicava claramente o fim!
(…)Duas vezes perigosa para um povo que gosta da bebida e preza a obscuridade como se fosse uma virtude, perigosa por causa da sua dupla propriedade de narcótico que produz a embriaguez e envolve o espírito em vapores nebulosos.
Vai colocar todas as paixões, nos seus lugares, encerra-as agora nos teus domínios(…) – as paixões dos teus heróis nunca serão mais do que máscaras, falsificações de paixões, e a linguagem delas nunca será autêntica nem sincera.
Como será possível forçar a natureza a desvendar os seus segredos, senão por processos violentos, quer dizer, por acções antinaturais?
O problema parece-nos demasiado profundo para que possa ser resolvido por considerações tão superficiais.
O mundo do sofrimento é necessário para que o indivíduo seja obrigado a criar a visão libertadora, porque só assim, abismado na contemplação da beleza, permanecerá calmo e cheio de serenidade
Não é a reflexão o que nos impede de agir; é o verdadeiro conhecimento, a visão da verdade horrível, o que anula todos os impulsos, todos os motivos de agir.
Tão poderosos sentimentos que os dominam também os transformam, e assim já imaginam que morrem para renascer os gênios da natureza, como sátiros.
Tudo o que existe é justo e injusto, e em ambos os casos igualmente justificável.
E se um dia ou uma noite um demônio se esgueirasse em tua mais solitária solidão e te dissesse: ‘Esta vida, assim como tu a vives agora e como a viveste, terás de vivê-la ainda uma vez e ainda inúmeras vezes; e não haverá nela nada de novo, cada dor e cada prazer e cada pensamento e suspiro e tudo o que há de indizivelmente pequeno e de grande em tua vida há de retornar, e tudo na mesma ordem e sequência’ – […] Não te lançarias ao chão e rangerias os dentes e amaldiçoarias o demônio que te falasse assim? Ou viveste alguma vez um instante descomunal em que lhe responderias: ‘Tu és um deus, e nunca ouvi nada mais divino!’.
Todo homem possui sua finalidade particular, de modo que mil direções correm, umas ao lado das outras, em linhas curvas e retas; elas se entrecruzam, se favorecem ou se entravam, avançam ou recuam e assumem desse modo, umas com relação às outras, o caráter do acaso, tornando assim impossível, abstração feita das influências dos fenômenos da natureza, a demonstração de uma finalidade decisiva que abrangeria nos acontecimentos a humanidade inteira.
Já é tempo de o homem estabelecer a sua meta. Já é tempo de o homem plantar a semente da sua mais alta esperança.
Não vale mais cair nas mãos de um assassino do que nos sonhos de uma mulher ardente?
Vede, pois esses supérfluos! Roubam as obras dos inventores e os tesouros dos sábios; chamam a civilização a seu latrocínio, e tudo para eles são doenças e contratempo. Vede, pois, esses supérfluos. Estão sempre doentes; expelem a bílis, e a isso chamam periódicos. Devoram-se e nem sequer se podem dirigir.
Quanto mais imperfeita for a nossa percepção, maior será a extensão do bem.
Quem busca extremos corre o risco de passar da virtude à
maldade, já que as paixões
costumam levar a ações desmedidas.
As convicções são cárceres
Este livro pertence aos homens mais raros. Talvez nenhum deles sequer esteja vivo. É possível que se encontrem entre aqueles que compreendem o meu “Zaratustra”: como eu poderia misturar-me àqueles aos quais se presta ouvidos atualmente? — Somente os dias vindouros me pertencem. Alguns homens nascem póstumos.
As condições sob as quais sou compreendido, sob as quais sou necessariamente compreendido — conheço-as muito bem. Para suportar minha seriedade, minha paixão, é necessário possuir uma integridade intelectual levada aos limites extremos. Estar acostumado a viver no cimo das montanhas — e ver a imundície política e o nacionalismo abaixo de si. Ter se tornado indiferente; nunca perguntar se a verdade será útil ou prejudicial… Possuir uma inclinação — nascida da força — para questões que ninguém possui coragem de enfrentar; ousadia para o proibido; predestinação para o labirinto. Uma experiência de sete solidões. Ouvidos novos para música nova. Olhos novos para o mais distante. Uma consciência nova para verdades que até agora permaneceram mudas. E um desejo de economia em grande estilo — acumular sua força, seu entusiasmo… Auto-reverência, amor-próprio, absoluta liberdade para consigo…
Muito bem! Apenas esses são meus leitores, meus verdadeiros leitores, meus leitores predestinados: que importância tem o resto? — O resto é somente a humanidade. — É preciso tornar-se superior à humanidade em poder, em grandeza de alma — em desprezo…
As ilusões são certamente prazeres dispendiosos, mas a destruição delas é mais dispendiosa ainda.
O melhor amigo terá provavelmente também a melhor mulher, porque o bom casamento residente no talento da amizade.
Quando você olha dentro de um buraco, o buraco olha dentro de você.
Ai! Como soa mal a palavra ‘virtude’ em sua boca! E quando dizem ‘Sou justo’, é num tom que soa como ‘Estou vingado!.
Por sua virtude, querem arrancar os olhos de seus inimigos e só se elevam para rebaixar os outros.
Pregadores da igualdade, assim a tirânica loucura de vossa impotência reclama em brados a ‘igualdade’. Assim, por detrás das palavras de virtude se escondem vossos mais secretos desejos de tiranos!
O riso eu o declarei santo
Para ver muitas coisas é preciso desaprender a olhar para si mesmo. Essa dureza é necessária para escalar montanhas.
Eu sou Zaratustra, o ímpio. Onde encontrarei outro igual a mim? São iguais a mim todos aqueles que por si próprios definem sua vontade e se livram de toda resignação.
É preciso aprender a amar-se a si próprio com amor sadio, a fim de aprender a suportar-se a si mesmo e a não vaguear fora de si mesmo.
Esta é minha doutrina. Aquele que quer aprender a voar um dia, deve desde logo aprender a manter-se de pé, a andar, a correr, a saltar, a subir e a dançar. Não se aprende a voar logo à primeira tentativa!
Salvar o passado no homem e transformar tudo “o que foi” até a vontade de dizer: “Mas eu queria que fosse assim! Assim o hei de querer!”
A vontade liberta porque a liberdade é criadora. Assim é que eu ensino. E só para criar precisais aprender!
Meus irmãos, alguém olhou uma vez o coração dos homens de bem e dos justos, e disse: “São os fariseus”. Ninguém, porém, entendeu.
Os homens de bem e os próprios justos não deveriam compreender isso. O espírito deles é um prisioneiro de sua consciência. A loucura dos homens de bem é de uma insondável prudência.
A cada alma pertence um mundo diferente. Para cada alma, toda outra alma é um além-mundo.
Se alguma vez descobri céus tranqüilos sobre mim voando com minhas próprias asas em meus próprio céu; se nadei, brincando em profundos lagos de luz e se minha liberdade conquistou uma sabedoria de ave, mas assim fala a sabedoria de ave: “Olha! Não é alto nem baixo! Lança-te em volta, para diante, para trás, leve como és! Canta! Não fales mais!
Todas as palavras não foram feitas para os que são pesados? Não mentem todas as palavras ao que é leve? Canta! Não fales mais!
..E quem adivinha ao menos em parte as consequências de toda profunda suspeita, os calafrios e angustias do isolamento, a que toda incondicional diferença do olhar condena quem dela sofre, compreenderá também com frequência, para me recuperar de mim, como para esquecer-me temporariamente, procurei abrigo em algum lugar – em alguma adoração, alguma inimizade, leviandade, cientificidade ou estupidez; e também por que, onde não encontrei o que precisava, tive que obtê-lo à força de artifício, de falsificá-lo e criá-lo poeticamente para mim.
..Como foi bom não ter ficado “em casa”, “sob seu teto”, como um delicado e embotado inútil! Ele estava fora de si, não há dúvida! Que felicidade mesmo no cansaço, na velha doença, nas recaídas do convalescente! Como lhe agrada estar quieto a sofrer, tecer paciência, jazer a sol!
Há sabedoria nisso, sabedoria de vida, em receitar para si mesmo a saúde em pequenas doses e muito lentamente.
Você deve tornar-se senhor de si mesmo, senhor também de suas próprias virtudes. Antes eram elas os senhores; mas não podem ser mais que seus instrumentos, ao lado de outros instrumentos. Você pode ter domínio sobre o seu pró e o seu contra, e aprender a mostrá-los e novamente guardá-los de acordo com seus fins.
Você deve apreender a injustiça necessária de todo pró e contra, a injustiça como indissociável da vida, a própria vida como condicionada pela perspectiva e sua injustiça.
Minha filosofia me aconselha a calar e não fazer mais perguntas; sobretudo porque em certos casos, como diz o provérbio, só se permanece filósofo – mantendo o silêncio.
Quando um de nossos amigos é culpado de algo vergonhoso, por exemplo, sentimos uma dor maior do que quando nós mesmos o somos. Pois acreditamos mais do que ele na pureza de seu caráter.
A economia da bondade é o sonho dos mais arrojados utopistas
A boa índole, a amabilidade, a cortesia do coração são permanentes emanações do impulso altruísta, e contribuíram mais poderosamente para a cultura do que as expressões mais famosas do mesmo impulso, chamadas de compaixão, misericórdia e sacrifício. Mas costumamos menosprezá-las, realmente: nelas não há muito de altruísta. A soma dessas doses mínimas é no entanto formidável, sua força total é das mais potentes.
Deveríamos, sem dúvida, manifestar compaixão, mas guardamo-nos de tê-la: pois, sendo os infelizes tão tolos, demonstrar compaixão é para eles o maior bem do mundo.
O infeliz obtém uma espécie de prazer com o sentimento de superioridade que a demonstração de compaixão lhe traz à consciência; sua imaginação se exalta, ele é ainda importante o suficiente para causa dores ao mundo.
Quem conta uma mentira raramente nota o fardo que assume; pois para sustentar uma mentira ele tem que inventar outras vinte.
Falar diretamente “quero isto, fiz isto” e coisas assim; ou seja, porque a vida de imposição e da autoridade é mais segura que a astúcia.
Aquilo que não gostamos, costumamos tratar com injustiça.
Saber esperar é algo tão difícil (…) Se eu tivesse deixado o sentimento esfriar por um dia apenas (…) Quem no meu lugar ja não tomou uma ovelha por um herói? será uma coisa tão monstruosa? Pelo contrário, é algo humano e comum.
A paixão não quer esperar, o trágico na vida de grandes homens está, frequentemente, não no seu conflito com a época e a baixeza de seus semelhantes, mas na sua incapacidade de adiar por um ou dois anos a sua obra; eles não sabem esperar.
Não poucos, talvez a maioria dos homens, têm a necessidade de rebaixar e diminuir na sua imaginação todos os homens que conhecem, para manter sua auto-estima e uma certa competência no agir. E, como as naturezas mesquinhas são em número superior, e é muito importante elas terem essa competência.
Por que superestimamos o amor em detrimento da justiça e dizemos dele as coisas mais belas, como se fosse algo muito superior a ela? Não será ele visivelmente mais estúpido? Sem dúvida, mas justamente por isso mais agradável para todos.
Ninguém sabe a que podem levar os acontecimentos, a compaixão, a indignação, ninguém conhece o seu grau de inflamabilidade. Pequenas circunstâncias miseráveis tornam miserável; geralmente não é a qualidade, mas a quantidade das vivências que determina o homem baixo ou elevado, no bem e no mal.
A maldade é rara.. Os homens em sua maioria, estão ocupados demais consigo mesmos para serem malvados.
Normalmente a pessoa deseja, com a opinião alheia, atestar e reforçar para si a opinião que tem de si mesma.
O interesse em si mesmo, o desejo de dar satisfação a si mesmo atinge no vaidoso um tal nível, que ele induz os outros a uma avaliação falsa e muito elevada de si e depois se atém a autoridade dos outros: ou seja, introduz o erro e acredita nele.
É impossível sofrer sem fazer alguém pagar por isso; todas as queixas já contém vingança.
Insanidade em indivíduos é algo raro – mas em grupos, partidos, nações e épocas, é a regra.
Nós muitas vezes se recusam a aceitar uma idéia simplesmente porque o tom de voz em que foi expresso é antipático para nós.
O amor é cego; a amizade fecha os olhos.
A mentira mais comum é a que uma mente para si mesmo; mentir aos outros é relativamente uma exceção.
De fato, ao espírito livre dizem respeito doravante somente coisas – e quantas coisas! – que não o preocupam mais…
Nossa vocação toma conta de nós, mesmo quando não a conhecemos; é o futuro que dita a regra do nosso hoje.
O indivíduo, o ‘indivisível’, tal como o povo e o filósofo o entenderam até agora, é, no fim das contas, um erro: ele não é algo à parte, não é um átomo, não é um ‘elo da corrente’, não é algo meramente herdado de outrora – ele é a linha humana inteira que chega até ele e inclusive o ultrapassa…
A felicidade é frágil e volátil, pois, só é possível senti-la em certos momentos. Na verdade, se pudéssemos vivenciá-la de forma ininterrupta, ela perderia o valor, uma vez que só percebemos que somos felizes por comparação.
Se você olhar muito tempo para o abismo,
ele vai devolver o seu olhar.
Was mich nicht umbringt, macht mich stark.
Ninguém mente tanto quanto o indignado.
“Não se pode elogiar a bondade de um homem se ele não tem poder para ser mau.”
A vida acaba onde o “Reino de Deus” começa
“A terra está cheia de supérfluos e os que estão aí em demasia estragam a vida. Tirem-os desta com o engodo da eterna.”
Ninguém antecipou o século XX com tanta lucidez quanto Nietzsche, e temos o seu veredito: “A primeira melhor coisa é não nascer; a segunda é morrer logo”.
Pessoas que nos dão toda a sua confiança acreditam, com isso, ter direito à nossa. É um erro de raciocínio; dádivas não conferem direitos.
Muito pouco valor, tem aquilo que tem preço.
Nunca ouviram falar do louco que acendia uma lanterna em pleno dia e
desatava a correr pela praça pública gritando sem cessar: “Procuro Deus! Procuro
Deus!” Mas como havia ali muitos daqueles que não acreditam em Deus, o seu
grito provocou grande riso. “Ter-se-á perdido como uma criança” dizia um. “Estará
escondido?” Terá medo de nós? Terá embarcado? Terá emigrado?” Assim gritavam
e riam todos ao mesmo tempo. O louco saltou no meio deles e trespassou-os com
o olhar. “Para onde foi Deus?” Exclamou, é o que lhes vou dizer. Matamo-lo…
vocês e eu! Somos nós, nós todos, que somos seus assassinos! Mas como fizemos
isso? Como conseguimos isso? Como conseguimos esvaziar o mar? Quem nos deu
uma esponja para apagar o horizonte inteiro? Que fizemos quando desprendemos
a corrente que ligava esta terra ao sol? Para onde vai ela agora? Para onde vamos
nós próprios? Longe de todos os sóis? Não estaremos incessantemente a cair? Para
adiante, para trás, para o lado, para todos os lados? Haverá ainda um acima, um
abaixo? Não estaremos errando através de um vazio infinito? Não sentiremos na
face o sopro do vazio? Não fará mais frio? Não aparecem sempre noites? Não será
preciso acender os candeeiros logo de manhã? Não ouvimos ainda nada do barulho
que fazem os coveiros que enterram Deus? Ainda não sentimos nada da
decomposição divina… ? Os deuses também se decompõem! Deus morreu! Deus
continua morto! E fomos nós que o matamos! Como haveremos de nos consolar,
nós, assassinos entre os assassinos! O que o mundo possui de mais sagrado e de
mais poderoso até hoje sangrou sob o nosso punhal. Quem nos há de limpar desde
sangue? Que água nos poderá lavar? Que expiações, que jogo sagrado seremos
forçados a inventar? A grandeza deste ato é demasiado grande para nós. Não será
preciso que nós próprios nos tornemos deuses para, simplesmente, parecermos
dignos dela? Nunca houve ação mais grandiosa e, quaisquer que sejam, aqueles
que poderão nascer depois de nós pertencerão, por causa dela, a uma história mais
elevada do que, até aqui, nunca o foi qualquer história.
“O amamos no outro é o desejo e não o desejado, por isso quando acaba o desejo acaba o amor”.
(No livro de Irvin D. Yalom – “Quando Nietzsche chorou”- diálogo entre o personagem “Nietzsche” o “Dr. Breuer”).
“É muito mais difícil dar o bem do que aceitar o bem, porque dar o bem é uma arte. É a última e mais astuta arte, a bondade”.
(Em “Assim falava Zaratustra” – página 236)
O valor duma coisa consiste muitas vezes não no que se ganha ao adquiri-la, mas sim no que se faz para obtê-la
“A felicidade é fragil e volatil”
Quem quiser me seguir, não me siga.
Nossa fé nos outros revela aquilo que desejaríamos poder acreditar em nós mesmos. Nosso desejo de um amigo é nosso delator.
Todos os que desfrutam acreditam que da árvore o que importa é o fruto, quando na verdade o que importa é a semente: eis a diferença entre os que desfrutam e os que crêem.
“O que é a verdade, portanto? Um batalhão móvel de metáforas, metonímias, antropomorfismos, enfim, uma soma de relações humanas, que foram enfatizadas poética e retoricamente, transpostas, enfeitadas, e que, após longo uso, parecem a um povo sólidas, canônicas, e obrigatórias: as verdades são ilusões, das quais se esqueceu que o são, metáforas que se tornaram gastas e sem força sensível, moedas que perderam sua efígie e agora só entram em consideração como metal, não mais como moedas
vou dizer qual é o pensamento que deve tornar-se a razão, a garantia e a doçura de toda a minha vida! É aprender cada vez mais a ver o belo na necessidade das coisas: é assim que serei sempre daqueles que tornam as coisas belas. Amor fati: seja esse de agora em diante o meu amor. Não quero fazer guerra ao feio. Não quero acusar nem mesmo os acusadores. Desviarei o meu olhar, será essa, de ora em diante, a minha única negação! E, numa palavra final, não quero, a partir de hoje, ser outra coisa senão um afirmador.
A menor verdade, logo que ela pertença propriamente a alguém, torna feliz aquele que a descobriu.
“Os piores leitores são aqueles que procedem como soldados saqueadores: apoderam-se aqui e ali daquilo que podem utilizar, sujam e bagunçam o resto e cobrem tudo com seus ultrajes.”
Somente o homem experimentado, o homem superior, pode escrever a história. Quem não tenha feito algumas experiências maiores e mais elevadas do que as de todos os outros homens não poderá jamais interpretar a grandeza e a elevação no passado. A voz do passado é sempre uma voz de oráculo.
Este mundo da perspectiva, este mundo para o olho, o tato e a audição é muito falso, quando comparado com um mundo percebido por um aparelho sensório muito mais DELICADO
Se os homens, na escolha do cônjuge, buscam antes de tudo um ser profundo e sensível, enquanto as mulheres buscam alguém sagaz, brilhante e com presença de espírito, vê-se claramente que no fundo o homem busca um homem idealizado, e a mulher, uma mulher idealizada, ou seja, não um complemento, mas sim um aperfeiçoamento das próprias qualidades.
A verdade é o ponto de vista de cada um.
A mulher foi o segundo erro de Deus.
Cumpre colocar-se apenas nas situações onde não é permitido ter falsas virtudes, mas onde, como o dançarino sobre a corda, caímos ou nos equilibramos, – ou ainda conseguimos tapear…
Há casos em que somos como os cavalos, nós os psicólogos. A inquietude se apodera de nós porque vemos nossa própria sombra balançar diante de nós. O psicólogo deve desviar-se de si próprio para conseguir se ver.
Queres marchar, meu irmão, à solidão? Queres buscar o caminho que leva a ti mesmo? Detém-te um pouco e escuta-me. “Aquele que busca, facilmente se perde a si mesmo. Todo ir-se à solidão é culpa”: assim fala o rebanho. E tu formaste parte do rebanho durante muito tempo. A voz do rebanho continuará ressonando dentro de ti. E quando disseres “eu já não tenho a mesma consciência que vós”, isso será um lamento e uma dor.
Aquilo que chamamos de consciência, não interpreta, nem esclarece, mas tenta descrever aquilo que se mostra, sendo, portanto, “um comentário mais ou menos fantástico, sobre um texto não sabido, porém sentido”.
Quem tem filho grande é elefante.
Morrer pela “verdade”. — Não nos deixaríamos queimar por nossas opiniões: não somos tão seguros delas; mas talvez por podermos ter e alterar nossas opiniões”
Quem quer que tu sejas, amado estranho, a quem eu encontro aqui pela primeira vez, aproveita esta hora feliz e a quietude que nos rodeia e acima de nós, e deixa-me dizer-te algo do pensamento que subitamente surgiu diante de mim como uma estrela que fracamente lançaria raios sobre ti e sobre cada um, como convém à natureza da luz. – Companheiro! Toda a sua vida, como uma ampulheta, sempre será revertida e se esgotará novamente – um longo minuto transcorrerá até que todas as condições das quais você evoluiu retornem na roda do processo cósmico. E então você encontrará toda dor e todo prazer, todo amigo e todo inimigo, toda esperança e todo erro, toda folha de grama e todo raio de sol mais uma vez, e todo o tecido das coisas que compõem sua vida. Esse anel em que você é apenas um grão brilhará novamente para sempre. E em todos esses ciclos da vida humana, haverá uma hora em que, pela primeira vez, um homem, e então muitos, perceberão o poderoso pensamento da eterna recorrência de todas as coisas: – e para a humanidade, essa é sempre a hora do Meio-dia.
No fundo, existiu um único cristão, e este morreu na cruz.
Apenas onde o Estado termina, começa o ser humano que não é supérfluo.
Os leitores extraem dos livros, consoante o seu caráter, a exemplo da abelha ou da aranha que, do suco das flores retiram, uma o mel, a outra o seu veneno.
Torna-te quem tu és.
O gosto de minha morte na boca deu-me perspectiva e coragem. O importante é a coragem de ser eu mesmo.
A Minha Felicidade
Depois de estar cansado de procurar
Aprendi a encontrar.
Depois de um vento me ter feito frente
Navego com todos os ventos.
Existo, logo penso.
Depois que cansei de procurar
Aprendi a encontrar.
Depois que um vento me opôs resistência
Velejo com todos os ventos.
Sim, sei de onde venho! Insatisfeito com a labareda ardo para me consumir! Aquilo em que toco torna-se luz. Carvão aquilo que abandono. Sou certamente labareda!
Ninguém pode construir em teu lugar as pontes que precisarás para atravessar o rio da vida – ninguém, exceto tu, só tu.
Aquilo que não me destrói, me fortalece.
Evite sentimentos corrosivos como o rancor, a raiva e as mágoas, que nos tiram noites de sono e em nada afetam as pessoas responsáveis por causá-los.
A fé não move montanhas. Na verdade, coloca montanhas onde não há nenhuma.
O fanatismo é a única forma de vontade que pode ser incutida nos fracos e nos tímidos.
A exigência de ser amado é a maior das pretensões.
Nunca odiamos aos que desprezamos. Odiamos aos que nos parecem iguais ou superiores a nós.
Mesmo o mais forte tem seu momento de fatiga.
Quando você olha muito tempo para um abismo, o abismo olha para você.
Se queres ser feliz nesse mundo, estrangula a tua consciência!
Nossos pensamentos são as sombras de nossos sentimentos, sempre mais obscuros, mais vazios, mais simples que estes.
Uma visita ao hospício mostra que a fé não prova nada.
E ainda não és livre, ainda procuras a liberdade. As tuas buscas fizeram-te insone e inquieto de maneira excessiva.
Faltam as circunstâncias. – Muitas pessoas esperam a vida inteira pela oportunidade de serem boas à sua maneira
Alguns homens nascem póstumos.
Máscaras
Há mulheres que, por mais que as pesquisemos, não têm interior, são puras máscaras. É digno de pena o homem que se envolve com estes seres quase espectrais, inevitavelmente insatisfatórios, mas precisamente elas são capazes de despertar da maneira mais intensa o desejo do homem: ele procura a sua alma – e continua procurando para sempre.
Quem rebaixa a si mesmo, quer ser elevado
Aquele que tem um porquê para viver pode enfrentar quase todos os comos.
“Fé” significa não querer saber o que é a verdade.
As convicções são cárceres. Mais inimigas da verdade do que as próprias mentiras.
Oração ao DEUS desconhecido.
Antes de prosseguir em meu caminho e lançar o meu olhar para a frente, uma vez mais elevo, só, minhas mãos a Ti de quem eu fujo. A Ti das profundezas de meu coração, tenho dedicado altares festivos para que, em cada momento, Tua voz me pudesse chamar. Sobre esses altares estão gravadas em fogo palavra s: “Ao Deus desconhecido”. Teu, sou eu, embora até o presente tenho me associado aos sagrilégios. Teu, sou eu, não obstante os laços que me puxam para o abismo. Mesmo querendo fugir, sintos-me forçado a servir-Te.eu quero Te conhecer, desconhecido. Tu, que me penetras a alma e, qual turbilhão, invades a minha vida. Tu, o incompreensível, mas meu semelhante, quero te conhecer, quero servir só a Ti.
Eu não sou um homem, sou um campo de batalha.
Nossos filhos não são nossos. Eles são filhos da vida ansiando pela vida.
Duas almas com um mesmo pensamento. Dois corações que batem como um só.
Éramos amigos e agora somos estranhos um ao outro. Mas não importa que assim o seja: não procuremos escondê-lo ou calá-lo como se isso nos desse razão para nos envergonhar. Somos dois navios cada um dos quais com o seu objetivo e a sua rota particular.
A arte deve antes de tudo e em primeiro lugar embelezar a vida, portanto fazer com que nós próprios nos tornemos suportáveis e, se possível, agradáveis uns aos outros.
Sei a minha sina.
Um dia meu nome será lembrança de algo terrível.
De uma crise como jamais houve sobre a Terra.
Da mais profunda colisão de consciências.
De uma decisão conjurada contra tudo que até então foi acreditado, santificado, requerido.
Não sou um ser humano, sou uma dinamite, na transvaloração de todos os valores.
Eis a minha fórmula para um ato de suprema octognose da humanidade que em mim se fez gene e carne…
Talvez eu e meu corpo formemos uma conspiração pelas costas de minha própria mente.
Falta de amigos – A falta de amigos faz pensar em inveja ou presunção. Há pessoas que devem seus amigos à feliz circunstância de não ter motivo para a inveja
Ser mau é tão insensato e auto-destrutivo quanto ser bom.
Eu sou uma banheira transbordando sentimentos. E não tem ninguém pra fechar a torneira.
A mentira mais frequente é a que se conta para si mesmo; mentir para os outros é relativamente a exceção.
O falso amor de si mesmo transforma a solidão em prisão.
O tique-taque de seu coração marca o tempo que se esvai.
A verdade e a mentira são construções que decorrem da vida no rebanho e da linguagem que lhe corresponde. O homem do rebanho chama de verdade aquilo que o conserva no rebanho e chama de mentira aquilo que o ameaça ou exclui do rebanho. (…) Portanto, em primeiro lugar, a verdade é a verdade do rebanho.
Há homens que nascem póstumos.
Se se quer ser alguém, deve venerar-se a própria sombra.
Estou longe de conhecer o ateísmo na condição de resultado, menos ainda como conhecimento: em mim ele é compreensível na qualidade de instinto.
Faz parte da humanidade de um mestre advertir seus alunos contra ele mesmo.
Quanto mais inteligente a mulher, tanto mais se afasta o homem.
Falsos valores e palavras ilusórias: são estes os piores monstros para os mortais; longamente e à espera, dorme neles a fatalidade.
Aquele que tem uma razão para viver pode suportar quase tudo.
O sofrimento, entretanto, é necessário para a formação do homem; todo homem de boa compleição deve trilhar esse caminho:
“Essas dores podem ser bastante penosas: mas sem dores não é possível tornar-se guia e educador da humanidade; e coitado daquele que quisesse sê-lo e não tivesse essa pura consciência!”
(Humano, Demasiado Humano)
Por fim, o gênio que sobrevive ao sofrimento que lhe cria e lhe acompanha acaba superando as noções de “bom” e “mau”, e a moral existirá apenas como um vestígio de uma cultura inferior:
“Enfim, quando a tábua de sua alma estiver totalmente coberta de esperiências, ele não desprezará nem odiará a existência e tampouco e amará mas estará acima dela ora com o olhar da alegria, ora com o da tristeza, e tal como a natureza terá uma disposição ora estival, ora outonal. (…)
Quando o seu olhar tiver se tornado forte o bastante para ver o fundo, na escura fonte de seu ser e de seus conhecimentos, talvez também se tornem visíveis para você, no espelho dele, as distantes constelações das culturas vindouras.”
(Humano, Demasiado Humano)
A todos com quem realmente me importo, desejo sofrimento, desolação, doença, maus-tratos, indignidades, o profundo desprezo por si, a tortura da falta de alto-confiança, e a desgraça dos derrotados.
Como? É o homem apenas um erro de Deus? Ou é Deus unicamente um erro do homem? Quem “criou” quem? ou seria como se “criou”?
A esperança é o pior dos males, pois prolonga o tormento do homem.
É preciso saber perder-se quando queremos aprender algo das coisas que nós próprios não somos.
Em uma grande vitória, o que existe de melhor, é que ela tira do vencedor o receio de uma derrota.
“Fé: fechar os olhos de uma vez por todas para si mesmo, a fim de não sofrer com o aspecto de sua incurável falsidade.
Nada neste mundo consome mais rapidamente um homem que a paixão do ressentimento.
Homens convictos são prisioneiros.
“There are no facts, only interpretations.”
Será o Homem um erro de Deus, ou Deus um erro dos Homens?
Se optar pelo prazer do crescimento, prepare-se para sofrer.
Quem de vós pode, ao mesmo tempo, rir e sentir-se elevado?
Aquele que sobe ao monte mais alto, esse ri-se de todas as tragédias, falsas ou verdadeiras.
Corajosos, despreocupados, escarninhos, violentos ― assim nos quer a sabedoria: ela é mulher e ama somente quem é guerreiro.
Quando se toma a resolução de tapar os ouvidos mesmo aos mais válidos argumentos contrários, dá-se indícios de caráter forte. Embora isso também signifique eventualmente a vontade levada até a estupidez.
Algo que não se pode buscar, nem achar, e talvez tampouco perder. “A alma nobre tem reverência por si mesma…”
O instinto é a mais inteligente das espécies de inteligência até agora descobertas.
Seja impetuoso, um livre-pensador, supere suas limitações.
Tudo o que não nos destrói, torna-nos mais fortes.
Nada é tão nosso como os nossos sonhos.
O Homem perde o poder, quando é contaminado pelo sentimento de piedade.
Não é a força do sentimento elevado, é a sua duração que faz os homens superiores.
Com freqüência a sensualidade precipita o crescimento do amor, de modo que a raiz permanece fraca e é facilmente arrancada.
Nada lhe pertence mais que seus sonhos.
Não poderia haver felicidade, jovialidade, esperança, orgulho, presente, sem o esquecimento.
Insanidade em indivíduos é algo raro – mas em grupos, festas, nações e épocas, ela é uma regra.
As mesmas paixões no homem e na mulher são diferentes em seu andamento e é por isso que o homem e a mulher jamais deixam de se desentender.
Que posso eu fazer se o poder gosta de andar com pernas tortas?!
Todo conhecimento implica em poder.
A desigualdade dos direitos é a primeira condição para que haja direitos.
O padre é o advogado do nada que foi confundido com o representante da verdade.
Quem perde o respeito por si mesmo, já não pode mais, também como homem do conhecimento, comandar, conduzir. A menos que quisesse converter-se em grande mentiroso.
A crueldade é um dos prazeres mais antigos da humanidade.
Quem quiser permanecer limpo entre os homens, deve aprender a banhar-se em água suja.
Os homens mais espirituais, supondo que sejam os mais corajosos, também vivem, de longe, as tragédias mais dolorosas: mas justamente por isso eles honram a vida, por lhes oferecer a sua maior oposição.
A melhor arma contra um inimigo é outro inimigo.
O que nós fazemos nunca é compreendido, mas somente louvado ou condenado.
Um outro sinal distintivo dos teólogos é a sua incapacidade filológica. Entendo aqui por filologia (…) a arte de bem ler – de saber distinguir os factos, sem estar a falseá-los por interpretações, sem perder, no desejo de compreender, a precaução, a paciência e a finesse.
(O Anticristo)
O cristianismo é uma metafísica do carrasco.
O “puro espírito” é uma pura estupidez: retire o sistema nervoso e os sentidos, o chamado “envoltório mortal”, e o resto é um erro de cálculo — isso é tudo!…
Mas não se deve ter razão demais, quando se quer ter os que riem do seu lado, um pouco de falta de razão faz parte inclusive do bom gosto.
“A visão do homem agora cansa – o que é hoje o niilismo, se não isto?… Estamos cansados do homem…”
O fanatismo é a única forma de força de vontade acessível aos fracos.
O homem superior distingue-se do homem inferior pela intrepidez e desafio à infelicidade.
A vítima esta sempre alheia ao mal.
Aquele que se sabe profundo esforça-se por ser claro; aquele que gostaria de parecer profundo à multidão esforça-se por ser obscuro. Porque a multidão acredita ser profundo tudo aquilo de que não pode ver o fundo. Tem tanto medo! Gosta tão pouco de se meter na água
“Deus”, “imortalidade da alma”, “redenção”, “além”, todos esses são conceitos que nunca levei em conta; nunca com eles sacrifiquei meu tempo, nem mesmo em criança; talvez nunca fosse bastante ingênuo para fazê-lo? Para mim o ateísmo não é nem uma conseqüência, nem mesmo um fato novo: existe comigo por instinto. Sou bastante curioso, suficientemente incrédulo, demasiado insolente para contentarme com uma resposta tão grosseira. Deus é uma resposta rude, uma indelicadeza contra nós, pensadores; antes, dizendo-se a verdade, não é senão um tosco empecilho contra nós mesmos: não deveis cogitar dele!
Eu não refuto os ideais, apenas ponho luvas diante deles…
É Preciso Aprender a Amar. Afinal sempre somos recompensados pela nossa boa vontade, nossa paciência equidade, ternura, para com que é estranho, na medida em que a estranheza tira lentamente o véu e se apresenta como uma nova e indizível beleza.
A vida é dura de suportar; mas, por favor, não vos façais de tão delicados! Não passamos,todos juntos, de umas lindas bestas de carga.
Quem tem por que viver aguenta quase todo como
Minha existência começava a me espantar seriamente. Não seria eu uma simples aparência?
Deus está morto! Deus permanece morto! E quem o matou fomos nós! Como haveremos de nos consolar, nós os algozes dos algozes? O que o mundo possuiu, até agora, de mais sagrado e mais poderoso sucumbiu exangue aos golpes das nossas lâminas. Quem nos limpará desse sangue? Qual a água que nos lavará? Que solenidades de desagravo, que jogos sagrados haveremos de inventar? A grandiosidade deste acto não será demasiada para nós? Não teremos de nos tornar nós próprios deuses, para parecermos apenas dignos dele? Nunca existiu acto mais grandioso, e, quem quer que nasça depois de nós, passará a fazer parte, mercê deste acto, de uma história superior a toda a história até hoje!
Minha fórmula para a grandeza no homem é Amor Fati: não querer nada de diferente, nem para frente, nem para trás, por toda a eternidade. Não apenas suportar aquilo que é necessário, muito menos dissimulá-lo – todo o idealismo é falsidade diante daquilo que é necessário -, mas sim amá-lo…
Quando se coloca o centro de gravidade da vida não na vida mas no “além” – no nada – tira-se da vida o seu centro de gravidade.
O cristianismo tomou o partido de tudo o que é fraco, baixo, incapaz, e transformou em um ideal a oposição aos instintos de conservação da vida saudável; e até corrompeu a faculdade daquelas naturezas intelectualmente poderosas, ensinando que os valores superiores do intelecto não passam de pecados, desvios, ‘tentações’. O mais lamentável exemplo: a concepção de Pascal, que julgava estar a sua razão corrompida pelo pecado original; estava corrompida sim, mas apenas pelo seu cristianismo!.
Porque, note-se bem: foi precisamente nos anos da minha mais dèbil vitalidade que eu cessei de ser pessimista: a necessidade instintiva de restabelecer-me, afastou-me da filosofia da miséria e do desânimo…
Enquanto o padre, esse negador, caluniador e envenenador da vida por profissão for aceito como uma variedade de homem superior, não poderá haver resposta à pergunta: Que é a verdade? A verdade já foi posta de cabeça para baixo quando o advogado do nada foi confundido com o representante da verdade.
Perto do sol há incontáveis corpos escuros a serem deduzidos, tais que nunca chegaremos a ver.
O Homem é uma ponte suspensa no abismo que liga a besta ao Super-Homem.
Só como fenômeno estético a existência e o mundo aparecem eternamente justificados.
O filósofo é o homem de amanhã, aquele que recusa o ideal do dia, aquele que cultiva a utopia.
The happiness of man is: I will. The happiness of woman is: he wills.
Quero ter duendes a meu redor, porque sou corajoso. A coragem que afugenta os fantasmas cria seus próprios duendes: a coragem quer rir.
Rindo se dizem as coisas sérias
O pensador é antes de tudo dinamite, um aterrorizante explosivo que põe em perigo o mundo inteiro.
Frase do Dia
“A grandeza de alma é inseparável da grandeza intelectual, porque implica independência. Mas, sem grandeza intelectual, a grandeza de alma deveria ser contida, pois que cria a desordem, mesmo que tenha a intenção de proceder bem e de obrar com justiça.”
Que é que destrói mais rapidamente do que trabalhar, pensar, sentir, sem uma necessidade interior, sem uma escolha profundamente pessoal, sem prazer?
Os maiores acontecimentos e pensamentos são os que mais tardiamente são compreendidos.
Só o que se transforma continua meu amigo.
O mais corajoso dentre nós dispõe apenas raramente da coragem de afirmar aquilo que sabe verdadeiramente…
Quem tem uma razão de viver é capaz de suportar qualquer coisa.
Meu irmão, se tens uma virtude e ela é a tua virtude, então não a tens em comum com ninguém.
O que aconteceu na luz, atua nas trevas.
No cristianismo nem a moral, nem a religião têm qualquer ponto de contado com a realidade. São oferecidas causas puramente imaginárias (‘Deus’, ‘alma’, ‘eu’, ‘espírito’, ‘livre arbítrio’ – ou mesmo o ‘não-livre’) e efeitos puramente imaginários (‘pecado’, ‘salvação’, ‘graça’, ‘punição’, ‘remissão dos pecados’). Um intercurso entre seres imaginários (‘Deus’, ‘espíritos’, ‘almas’); uma história natural imaginária (antropocêntrica; uma negação total do conceito de causas naturais); uma psicologia imaginária (mal-entendidos sobre si, interpretações equivocadas de sentimentos gerais agradáveis ou desagradáveis, por exemplo, os estados do ‘nervus sympathicus’ com a ajuda da linguagem simbólica da idiossincrasia moral-religiosa – ‘arrependimento’, ‘peso na consciência’, ‘tentação do demônio’, ‘a presença de Deus’); uma teleologia imaginária (o ‘reino de Deus’, ‘o juízo final’, a ‘vida eterna’).
Erro (- a crença no ideal -) não é cegueira, erro é covardia…
” – Cá estais vós, amigos! – Ah, todavia não sou eu,
Quem queríeis vós?
Hesitais, pasmai – ai, melhor seria se sentísseis rancor!
Eu – não sou mais eu? Estão diferentes a mão, o andar, o Eis rosto?
E o que eu sou, não sou mais – para vós amigos?
Vós ireis? – Ó coração, tu suportaste bem,
Forte ficou a tua esperança:
Mantém tuas portas abertas a novos amigos!
Deixa os velhos! Deixa a recordação!
Se já foste jovem, agora – és jovem de um modo melhor!
Ó saudade da juventude que não compreendeu a si mesma!
Aqueles por quem eu aguardava,
Que eu julgava transformados tal como eu,
O fato de terem envelhecido afastou-os:
Só o que se transforma continua meu amigo.
Ó meio-dia da vida! Segunda juventude!
Ó jardim de verão!
Inquieta ventura no estar perscrutando e esperando!
Espero os amigos, noite e dia disposto,
Os novos amigos! Vinde! É tempo! É tempo! “
A igreja cristã é uma enciclopédia de cultos pré-históricos
Olhai-os, os crentes de todas as fés! A quem odeiam mais que todos? Àquele que parte suas tábuas de valores, o destruidor, o criminoso; mas esse é o criador. (Assim falou Zaratustra. p. 39)
Matrimônio: chamo assim a vontade de dois criarem um que seja mais do que aqueles que o criaram. O matrimônio é o respeito recíproco: respeito recíproco dos que coincidem em tal vontade.
A ironia talvez fosse necessária à grandeza da alma.
Podemos mentir com a boca, mas com a expressão da boca ao mentir dizemos a verdade.
O mundo já foi por tempo demais um hospício.
“As sair para o encontro com uma mulher. Não se esqueça de levar o chicote”
Mesmo o conceito mais firme tem algo frouxo, múltiplo, equívoco. O essencial “no céu como na terra”, ao que parece, é, repito, que se obedeça, por muito tempo e numa direção. Daí surge com o tempo e sempre surgiu, alguma coisa pela qual vale a pena viver na terra, como virtude, arte, música, dança, razão, espiritualidade – Alguma coisa transfiguradora, refinada, louca e divina.
Não odiamos enquanto nosso estima é pouca, mas quando estimamos alguém como igual ou superior.
“O Homem não é um fim em si”
A mulher, quanto mais mulher é, tanto mais se defende com as mãos e com os pés contra tudo o que for direito: o estado de natureza, a eterna guerra entre os sexos, lhe dá há muito o primeiro lugar.
Julgar e condenar moralmente é a vingança preferida das
almas limitadas sobre aquelas que são menos que elas, uma
espécie de indenização por tudo aquilo que obtiveram de menos
da natureza, eis uma ocasião para mostrar espírito e tornar-se
refinado — a malícia espiritualiza o homem. No fundo de seus
corações gostariam que existisse uma medida, diante da qual
também os homens ricos e privilegiados sejam seus iguais
“A educação consiste no condicionamento de um indivíduo, através da promessa de várias compensações e vantagens, de modo a que ele adopte um modo de pensar e se comportar que, logo que se tornem um hábito, instinto ou paixão, os dominarão «para o bem geral» mas, em última instância, para sua própria desvantagem. Somos vítimas das nossas virtudes, que nos transformam numa mera função do todo social.”
“Inventámos a felicidade”, dirão os derradeiros homens, a piscarem o olho uns aos outros
Eis o momento! Começando nesta porta, um longo e
eterno caminho mergulha no passado: atrás de nós está
uma eternidade! Não será verdade que todos os que
podem andar têm de já ter percorrido este caminho?
Alguém tinha o mau hábito de se exprimir, de quando em quando, com toda a franqueza acerca dos motivos pelos quais agia, e que eram tão bons ou tão maus como os motivos de todas as pessoas. Primeiro, causou escândalo, depois suspeita, pouco a pouco foi terminantemente proscrito e banido da sociedade, até que, por fim, a justiça se recordou de um ser tão abjecto em ocasiões, em que ela não costumava ter olhos ou os fechava. A falta de mutismo quanto ao segredo geral e a irresponsável propensão para ver o que ninguém quer ver – a si próprio – levaram-no à prisão e a uma morte prematura.
O maior trabalho dos homens foi até agora concordar sobre uma quantidade de coisas, e fazer uma lei desse acordo, não importando se fossem verdadeiras ou falsas.
A vontade de verdade ainda nos há de arrastar para muitas aventuras ,essa célebre veracidade de que todos os filósofos falaram até os dias de hoje com veneração.
“A verdade não é um valor teórico, mas apenas uma expressão para designar a utilidade, para designar aquela função do juízo que conserva a vida e serve a vontade do poder”.
E há
algo de mais belo do que procurar as próprias virtudes? Isto
não é equivalente a ter fé nas próprias virtudes? Mas o fato de
ter fé não é equivalente àquilo que uma vez chamamos boa
consciência, conceito venerável que nossos avós enfiavam
dentro de nosso intelecto como o rabicho à nuca?
Ai de mim, é este o meu desgosto: introduziram, mentindo, prémio e castigo no fundo das coisas – e, agora, também no fundo de vossas almas, ó virtuosos.
Não há nada de exausto, nada de caduco, nada de perigoso para a vida, nada que calunie o mundo no reino do espírito, que não tenha encontrado secretamente abrigo em sua arte; ele dissimula o mais negro obscurantismo nos orbes luminosos do ideal. Ele acaricia todo o instinto niilista (budista) e embeleza-o com a música; acaricia toda a forma de cristianismo e toda expressão religiosa de decadência.
Não são a verdade e a certeza que estão nos antípodas do mundo dos insensatos; é a crença obrigatória e geral, é a exclusão do bom prazer no ajuizar.
O homem é algo que deve ser superado.
Ninguém pode construir no teu lugar a ponte que te seria preciso tu mesmo transpor no fluxo da vida – ninguém, exceto tu, somente tu. Certamente existem as veredas, e as pontes, e os semideuses inumeráveis que se oferecerão para te levar para o outro lado do rio, mas somente na medida em que te vendesses inteiramente: tu te colocarias como penhor e te perderias. Há no mundo um único caminho, sobre o qual ninguém, exceto tu, poderia trilhar. Para onde leva ele? Não perguntes nada, deves seguir este caminho.
Eu adoro queijo
O perigo na felicidade – agora tudo está dando certo para mim, amo qualquer destino. Quem quer ser meu destino?
Para ver muitas coisas é preciso desaprender a olhar para si mesmo. Essa dureza é necessária para escalar montanhas.
Quanto mais perto do fim eu chego,
mais tenho certeza de que a esperança
é o meu melhor investimento.
A nossa atmosfera estava carregada de tempestade, a nossa própria natureza nublava-se, pois não tínhamos encontrado caminho algum…
É absolutamente impossível ao sujeito pretender ver ou conhecer algo além de si mesmo;
Qual é a marca da liberdade realizada? Não mais corar de si próprio.
Pois quem não tiver para si dois terços de seu dia é um escravo, seja ele quem for.
Você diz que acredita na necessidade da religião. Seja sincero! Você acredita mesmo é na necessidade da polícia.
“As convicções são inimigos mais poderosos que as mentiras.” – É impossível expandir o pensar quando a mente está ancorada em opiniões intocáveis. Siga o exemplo dos estrategistas clássicos, militares inclusive.
“Quantos homens se precipitam para a luz, não para ver melhor senão para brilhar.”
“Não gosto de pessoas que, para ter algum efeito, necesitam estourar como bombas, e junto às quais há sempre perigo de perdermos subitamente a audição – e mesmo alguma coisa a mais.”
O conhecimento é uma centelha entre duas espadas
A menor das felicidades, se, simplesmente, é ininterrupta e faz feliz ininterruptamente, é, sem comparação, mais felicidade do que a maior delas, que venha somente com um episódio.
A arte é estimulante da vontade de poder
É por nossas virtudes que somos bem punidos
No verdadeiro amor, é a alma que envolve o corpo.
Só se vive a experiência de sí mesmo.
Aquilo que vivemos no sonho, e que nele vivemos repetidas vezes, termina por pertencer à economia global de nossa alma, tanto quanto algo “realmente” vivido
Uma coisa é o pensamento, outra a ação e outra a imagem da ação.
O que não me mata me fortalesce
Arrependo-me de me ter ligado esperanças, quando e onde tudo indicava claramente o fim!
Acabamos por amar nosso próprio desejo, em lugar do objeto
desejado
Vontade de amor; isto significa disposição,também,para a morte.
A palavra mais ofensiva e a carta mais grosseira são melhores e mais educadas que o silêncio.
Coração atado, espírito livre – Quando se amarra e se mantém preso o próprio coração, pode-se dar ao espírito muitas liberdades.
É pelo saber que o corpo se purifica,é procurando o saber que se eleva
Pessoas que nos dão toda a sua confiança acreditam, com isso, ter direito à nossa. É um erro de raciocínio; dádivas não conferem direitos.
Desce a contragosto em suas águas aquele que busca o conhecimento.
Não é a reflexão o que nos impede de agir; é o verdadeiro conhecimento, a visão da verdade horrível, o que anula todos os impulsos, todos os motivos de agir.
[…] às vezes a exposição incompleta, como em relevo, de um pensamento, de toda uma filosofia, é mais eficaz que a explicação exaustiva […]
Uma coisa é o abandono,outra, a solidão.
Não sou a boca que convém a esses ouvidos
A esperança e o pressentimento lhe dão asas.
As ilusões são certamente prazeres dispendiosos, mas a destruição delas é mais dispendiosa ainda.
Não pelo fato de me teres mentido, mas por não poder
acreditar-te, me perturba profundamente.
A felicidade é frágil e volátil, pois, só é possível senti-la em certos momentos. Na verdade, se pudéssemos vivenciá-la de forma ininterrupta, ela perderia o valor, uma vez que só percebemos que somos felizes por comparação.
E essa tolerância, esse ‘largeur’ do coração que tudo ‘perdoa’ porque tudo ‘compreende’, é para nós como o vento siroco…
Como se “a verdade” fosse uma criatura tão inepta e inofensiva, a ponto de necessitar de defensores.
Corajosos, despreocupados, escarninhos, violentos, assim nos quer a sabedoria, ela é mulher e só ama quem é guerreiro.
Ninguém pode construir em teu lugar as pontes que precisarás passar, para atravessar o rio da vida – ninguém, exceto tu, só tu. Existem, por certo, atalhos sem números, e pontes, e semideuses que se oferecerão para levar-te além do rio; mas isso te custaria a tua própria pessoa; tu te hipotecarias e te perderias. Existe no mundo um único caminho por onde só tu podes passar. Onde leva? Não perguntes, segue-o!
O inimigo mais perigoso que você poderá encontrar será sempre você mesmo.
Isto é um sonho, bem sei, mas quero continuar a sonhar.
O mundo não vale aquilo em que acreditamos.
Ouse conquistar a sí mesmo.
Abençoados os que esquecem, porque aproveitam até mesmo seus equívocos.
Se uma mulher tem inclinações eruditas é porque, em geral, há algo de errado na sua sexualidade. A esterilidade predispõe a uma certa masculinidade do gosto; é que o homem, com vossa licença, é de fato «o animal estéril».
E se um dia ou uma noite um demônio se esgueirasse em tua mais solitária solidão e te dissesse: “Esta vida, assim como tu a vives agora e como a viveste, terás de vivê-la ainda uma vez e ainda inúmeras vezes; e não haverá nela nada de novo, cada dor e cada prazer e cada pensamento e suspiro e tudo o que há de indizivelmente pequeno e de grande em tua vida há de retornar, e tudo na mesma ordem e seqüência – e do mesmo modo esta aranha e este luar entre as árvores, e do mesmo modo este instante e eu próprio.
A eterna ampulheta da existência será sempre virada outra vez – e tu com ela, poeirinha da poeira!” –
Não te lançarias ao chão e rangerias os dentes e amaldiçoarias o demônio que te falasse assim? Ou viveste alguma vez um instante descomunal, em que responderias: “Tu és um deus, e nunca ouvi nada mais divino!” Se esse pensamento adquirisse poder sobre ti, assim como tu és, ele te transformaria e talvez te triturasse; a pergunta, diante de tudo e de cada coisa:
“Quero isto ainda uma vez e ainda inúmeras vezes?”
Pesaria como o mais pesado dos pesos sobre teu agir! Ou então, como terias de ficar de bem contigo mesmo e com a vida, para não desejar nada mais do que essa última, eterna confirmação e chancela?
Jamais alguém fez algo totalmente para os outros. Todo amor é amor próprio. Pense naqueles que você ama: cave profundamente e verá que não ama à eles; ama as sensações agradáveis que esse amor produz em você! Você ama o desejo, não o desejado.
As pessoas que não sabem amar a si mesmo buscam constantemente a aprovação alheia e sofrem quando são rejeitadas. Para quebrar essa dinâmica, devemos admitir que não podemos satisfazer a todos.
A verdadeira questão é: quanta verdade consigo suportar?
Quem tem um “porquê” enfrenta qualquer “como”.
Não venha roubar minha solidão, se não tiver algo mais valioso para oferecer em troca.
Um amigo deve ser mestre tanto na arte de adivinhar como na de permanecer calado.
E eu, que estou de bem com a vida, creio que aqueles que mais entendem de felicidade são as borboletas e as bolhas de sabão e tudo que entre os homens se lhes assemelhem.
Sem música a vida não faria sentido
Não poríamos a mão no fogo pelas nossas opiniões: não temos assim tanta certeza delas. Mas talvez nos deixemos queimar para podermos ter e mudar as nossas opiniões.
Ensino que a vida jamais deveria ser modificada ou esmagada devido à promessa de outro tipo de vida futura. O imortal é esta vida, este momento.
Nunca suponha igualdade de sentimentos.
O homem crente é necessariamente um homem dependente… Ele não pertence a si mesmo, mas ao autor da idéia em que ele acredita.
A essência da felicidade é não ter medo.
Passa-se com o homem o mesmo que com a árvore. Quanto mais quer crescer para o alto e para a claridade, tanto mais suas raízes tendem para a terra, para baixo, para a treva, para a profundeza – para o mal.
Existe no mundo um único caminho por onde só tu podes passar. Onde leva? Não perguntes, segue-o!
A fórmula da minha felicidade: um sim, um não, uma linha reta, um objetivo.
Siga a tua angústia, ela é o caminho rumo a ti mesmo.
Amamos o desejo, não o ser desejado.
O idealista é incorrigível: se é expulso do seu céu, faz um ideal do seu inferno.
A falta de confiança entre amigos é pecado que não pode ser repetido, sob pena de ser irremediável.
Ao matar seus demônios, cuidado para não destruir o que há de melhor em você.
Uma crença forte demonstra apenas a sua força, não a verdade daquilo que se acredita
Eu acreditaria somente num deus que soubesse dançar.
Extingue-se o dia para todas as coisas, mesmo para as melhores; chega o crepúsculo.
Demore o tempo que for para decidir o que você quer da vida, e depois que decidir não recue ante nenhum pretexto, porque o mundo tentará te dissuadir.
Quem tem um porquê de viver, quase sempre encontrará o como.
Sem crueldade não há espetáculo.
Não vos aconselho o trabalho, mas a luta. Não vos aconselho a paz, mas a vitória! Seja o vosso trabalho uma luta! Seja vossa paz uma vitória!
Na solidão, o solitário devora a si mesmo; na multidão devoram-no inúmeros. Então escolhe.
A sabedoria é um paradoxo. O homem que mais sabe é aquele que mais reconhece a vastidão da sua ignorância.
A felicidade do homem está em “eu quero”; a felicidade da mulher, em “ele quer”.
Estar bem e feliz é uma questão de escolha e não de sorte ou mero acaso. É saber ignorar, de forma mais fina e elegante possível, aqueles que dizem as coisas da boca pra fora ou cujas palavras e caráter nunca valeram um milésimo do tempo que você perdeu ao escutá-lo!
“Eu fiz isso”, diz minha memória.
“Eu não posso ter feito isso”, diz meu orgulho, e permanece inflexível.
Por fim, memória desiste.
Creio que aqueles que mais entendem de felicidade são as borboletas e as bolhas de sabão.
Da escola de guerra da vida — O que não me mata me fortalece.
Um homem precisa se queimar em suas próprias chamas para poder renascer das cinzas!
Morrer é duro. Sempre senti que a única recompensa dos mortos é não morrer nunca mais.
Cansado de esperanças
persigo realidades.
Quando o vento contrário
aumenta em seus embates,
navego a qualquer vento
em minha ligeira embarcação.
Não acredito em um deus que não dance.
Devemos compreender que a verdade, por pretender ser verdadeira, não passa de ilusão ou mentira.
O que não pode matar-me, torna-me forte.
De uma vez por todas, não quero saber muitas coisas. – A sabedoria também traz consigo os limites do conhecimento.
Escreve com sangue e aprenderás que sangue é espírito.
Amizade é quando duas pessoas se unem em busca de alguma verdade mais elevada.
O que se tornou perfeito, inteiramente maduro, quer morrer.
Conheço a minha sina. Um dia, meu nome será ligado à lembrança de algo tremendo – de uma crise como jamais houve sobre a Terra, da mais profunda colisão de consciência, de uma decisão conjurada contra tudo o que até então foi acreditado, santificado, querido. Eu não sou um homem, sou dinamite.
É chamado de espírito livre aquele que pensa de modo diverso do que se esperaria com base em sua procedência, seu meio, sua posição e função, ou com base nas opiniões que predominam em seu tempo. Ele é exceção, os espíritos cativos, a regra; […] De resto, não é próprio da essência do espírito livre ter opiniões mais corretas, mas sim ter se libertado da tradição, com felicidade ou com um fracasso. Normalmente, porém, ele terá ao seu lado a verdade, ou pelo menos o espírito da busca da verdade: ele exige razões; os outros, fé.
(Humano, Demasiado Humano)
O que me entristece não é que tenhas mentido senão que já nunca mais poderei confiar em ti.
Não é possível estar calado e permanecer tranquilo senão quando se têm flechas no arco; quando não é assim, questiona-se e discute-se.
Toda a arte e toda a filosofia podem ser consideradas como remédios da vida…
Não existe mais ninguém tão inocente para ainda colocar o sujeito EU na condição de´Penso´.
Para ler o Novo Testamento é conveniente calçar luvas. Diante de tanta sujeira, tal atitude é necessária.
Eu não sei sair nem entrar, sou tudo aquilo que não sabe nem sair nem entrar..
Foi o próprio Deus que ao fim de sua obra se disfarçou de serpente indo se deitar sob a árvore do conhecimento: assim ele se restabeleceu do fato de ser Deus… Ele havia feito tudo demasiadamente belo… O diabo é apenas a ociosidade de Deus a cada sétimo dia…
Que o homem tenha medo da mulher quando a mulher ama porque ela não recuará diante de nenhum sacrifício e tudo o mais para ela não tem valor. Que o homem tenha medo da mulher quando a mulher odeia porque o homem, no fundo de sua alma, é malvado. Mas a mulher, no fundo da sua, é perversa.
Deve-se falar somente quando não se pode calar e falar somente do que se superou: tudo o mais é tagarelice, literatura, falta de disciplina.
Amamos desejar mais do que amamos o objeto de nosso desejo.
A razão escraviza o homem, levando-o à loucura!
A razão tira emoção à vida.
Verdadeiro eu chamo àquele que entra nos desertos vazios de deuses… Nas areias amarelas, queimadas de sol, sedento, ele vê as ilhas cheias de fontes, onde as coisas vivas descansam debaixo das árvores. Não obstante, a sua sede não o convence a tornar-se como um destes, habitantes do conforto; pois onde há oásis aí também se encontram os ídolos
Se o cristianismo tivesse razão em suas teses acerca de um Deus vingador, da pecaminosidade universal, da predestinação e do perigo de uma danação eterna, seria um indício de imbecilidade e falta de caráter não se tornar padre, apóstolo ou eremita e trabalhar, com temor e tremor, unicamente pela própria salvação; pois seria absurdo perder assim o benefício eterno, em troca de comodidade temporal. Supondo que se creia realmente nessas coisas, o cristão comum é uma figura deplorável, um ser que não sabe contar até três, e que, justamente por sua incapacidade mental, não mereceria ser punido tão duramente quanto promete o cristianismo.
Sempre que um homem se dispôs a afastar-se e a isolar-se para se bastar a si mesmo, a filosofia esteve sempre pronta para isolá-lo ainda mais e destruí-lo por meio desse mesmo isolamento.
Meus irmãos, eu não vos aconselho o amor ao próximo; aconselho-vos o amor ao mais afastado.
Pense bem no que fará amanhã pois é muito importante, estará trocando um dia de sua vida por isso.
Sim! Eu sei muito bem de onde venho!
Insaciável como a chama no lenho
Eu me inflamo e me consumo.
Tudo que eu toco vira luz,
Tudo que eu deixo, carvão e fumo.
Chama eu sou, sem dúvida.
O homem livre é um lutador e a liberdade é algo que se conquista.
Acautela-te quando lutares com monstros, para que não te tornes um.
Aquilo que serve de alimento e de bálsamo para um tipo superior de homem deve ser quase veneno para um tipo bem mais diverso e inferior.
Não há no mundo amor e bondade bastantes para que ainda possamos dá-los a seres imaginários
É preciso que não nos deixemos enganar: “não julguem” dizem, mas eles mandam tudo que atravesse seu caminho para o inferno.
Mudei-me da casa dos eruditos e bati a porta ao sair. Por muito tempo, a minha alma assentou-se faminta à sua mesa. Não sou como eles, treinados a buscar o conhecimento como especialistas em rachar fios de cabelo ao meio. Amo a liberdade. Amo o ar sobre a terra fresca. É melhor dormir em meios às vacas, que em meio às suas etiquetas e respeitabilidades.
Antes ser louco por seu próprio critério, que sábio segundo a opinião dos outros!
Para quem sofre, é uma alegria inebriante desviar o olhar de seu sofrimento e esquecer de si mesmo.
Não é falta de amor, mas falta de amizade que faz casamentos infelizes.
Creio que aqueles que mais entendem de felicidade são as borboletas e as bolhas de sabão…
Ver girar essas pequenas almas leves, loucas, graciosas e que se movem é o que, de mim, arrancam lágrimas e canções.
Eu só poderia acreditar em um Deus que soubesse dançar.
E quando vi meu demônio, pareceu-me sério, grave, profundo, solene. Era o espírito da gravidade. Ele é que faz cair todas as coisas.
Não é com ira, mas com riso que se mata. Coragem! Vamos matar o espírito da gravidade!
Eu aprendi a andar. Desde então, passei por mim a correr. Eu aprendi a voar. Desde então, não quero que me empurrem para mudar de lugar.
Agora sou leve, agora voo, agora vejo por baixo de mim mesmo, agora um Deus dança em mim!
O valor de uma coisa às vezes não está no que se consegue com ela, mas no que se paga por ela – o que ela nos custa.
Os sonhos são projetados por nosso arquiteto interior,
mas a realização está em nossas mãos.
Foram os escravos, os vencidos pela vida, que inventaram o além para compensar sua miséria. Criaram o mito da salvação da alma, porque não tinha a saúde do corpo, elaboraram a ficção do pecado, porque não podiam desfrutar das alegrias dos fortes.
Nós, homens do conhecimento, não nos conhecemos; de nós mesmos somos desconhecidos.
Alguns não conseguem se libertar dos seus próprios grilhões, mas conseguem libertar os amigos.
Enquanto houver esperança não haverá solução.
Toma cuidado com os que se mostram pequenos. Em tua presença se sentem pequenos e sua baixeza arde e alimenta invisível vingança contra ti.
Não procure por felicidades, graças bem-aventuranças distantes e desconhecidas, mas por aquilo que você gostaria de viver de novo e por toda a eternidade.
Foge para tua solidão. Vivias próximo demais dos pequenos e mesquinhos. Foge de sua vingança invisível! Contra ti, só procuram vingança. Não levantes mais o braço contra eles! São inumeráveis e teu destino não é ser espanta-moscas!
Um pensamento, até mesmo uma possibilidade, pode nos destruir e nos transformar.
O homem do conhecimento deve ser capaz não só de amar seus inimigos, mas também de odiar seus amigos.
O inimigo da verdade não é a mentira e sim, a convicção.
Um filósofo é um homem que vive, vê, ouve, suspeita, espera e sonha constantemente com coisas extraordinárias, que fica surpreso com suas próprias idéias como se viessem de fora, do alto e debaixo, como por uma espécie de acontecimentos e de raios de trovão que só ele pode sofrer.
A diferença fundamental entre as duas religiões da decadência:
o budismo não promete, mas assegura.
O cristianismo promete tudo, mas não cumpre nada.
Quod me nutrit me nutrit me destruit.
Após o cansaço da busca
aprendi o encontro.
Após afrontar o vento
navego com todos os ventos.
O que não me mata, me torna mais forte.
Chamo desgraçados todos aqueles que só podem escolher entre duas coisas: tornarem-se animais ferozes ou ferozes domadores de animais. Eu os denomino pastores, mas eles a si mesmos se consideram os fiéis da verdadeira crença! Vede os bons e os justos! A quem odeiam mais? A quem lhes despedaça as tábuas de valores, ao infrator, ao destruidor. É este, porém, o criador.
Para a doença masculina do autodesprezo o remédio mais seguro é ser amado por uma mulher inteligente.
É possível prometer atos, não sentimentos, pois estes são involuntários e quem promete ao outro amá-lo sempre, ou odiá-lo sempre, ou ser-lhe fiel sempre, promete algo que não está em seu poder.
Não pretendo ser feliz, mas verdadeiro.
Todo tipo de absoluto indica patologia
Se te apetece esforçar, esforça-te; se te apetece repousar, repousa; se te apetece fugir, fuja; se te apetece resistir, resista; mas saiba bem o que te apetece, e não recue ante nenhum pretexto, porque o universo se organizará para te dissuadir.
Amo os valentes; mas não basta ser espadachim – deve-se saber, também, contra quem sacar a espada!
Não suporto almas estreitas: não têm nada de bom, tampouco nada de mau.
Deus está morto
O cristianismo foi, até o momento, a maior desgraça da humanidade, por ter desprezado o Corpo.
Em geral, as mulheres amam um homem de valor como se o quisessem ter apenas para si. Bem gostariam de trancá-lo a sete chaves, se isto não contrariasse a sua vaidade: pois esta requer que a importância dele seja evidente também para os outros.
Uma alma que sabe ser amada, mas não se ama a si mesma, trai sua profundeza – o que estava no vem à tona.
Se me explico, me implico:
Não posso a mim mesmo interpretar.
Eu não estou chateado porque você mentiu para mim, eu estou chateado porque a partir de agora não posso mais acreditar em você.
Ao iniciar um casamento, o homem deve se colocar a seguinte pergunta: você acredita que gostará de conversar com esta mulher até à velhice? Tudo o mais no casamento é transitório, mas a maior parte do tempo é dedicada à conversa.
O homem é uma corda estendida entre o animal e o Super-homem: uma corda sobre um abismo; perigosa travessia, perigoso caminhar; perigoso olhar para trás, perigoso tremer e parar. O que é de grande valor no homem é ele ser uma ponte e não um fim: o que se pode amar no homem é ele ser uma passagem e um ocaso.
Mulher, uma fera com garras escondidas por luvas perfumadas…
Ser cristão é ter um certo gosto pela crueldade, contra si e os outros; o ódio contra formas diferentes de pensar; o desejo de perseguir.
Bem-aventurados os esquecidos, pois tiram o melhor proveito dos seus equívocos.
Não é o fato de você ter mentido para mim, e sim o fato de que já não posso mais acreditar em você, que me apavora.”
O juízo moral tem em comum com o juízo religioso acreditar em realidades que não existem.
Temo que não nos livremos de Deus porque ainda acreditamos na gramática…
A ideia do suicídio é uma grande consolação: ajuda a suportar muitas noites más.
Não ouse roubar a minha solidão, se não fores capaz de me fazer real companhia.
Há espíritos que escurecem suas águas para fazê-las parecer profundas.
Estado, chamo eu, o lugar onde todos, bons ou malvados, são bebedores de veneno; Estado, o lugar onde todos, bons ou malvados, se perdem a si mesmos; Estado, o lugar onde o lento suicídio de todos chama-se – “vida”!
Olhai esses supérfluos! Roubam para si as obras dos inventores e os tesouros dos sábios; “culturas” chamam a seus furtos – e tudo se torna, neles, em doença e adversidade!
Olhai esses supérfluos! Estão sempre enfermos, vomitam fel e lhe chamam “jornal”. Devoram-se uns aos outros e não podem, sequer digerir-se.
Olhai esses supérfluos! Adquirem riquezas e, com elas, tornam-se mais pobres. Querem o poder e, para começar, a alavanca do poder, muito dinheiro – esses indigentes!
Olhai como sobem trepando, esses ágeis macacos! Sobem trepando uns por cima dos outros e atirando-se mutuamente, assim no lodo e no abismo.
Ao trono, querem todos, subir: é essa a sua loucura. Como se no trono estivesse sentada a felicidade! Muitas vezes, é o lodo que está no trono e, muitas vezes, também o trono no lodo.
Dementes, são todos eles, para mim, e macacos sobre excitados. Mau cheiro exala o seu ídolo, o monstro frio; mau cheiro exalam todos eles, esses servidores de ídolos!
Porventura, meus irmãos, quereis sufocar nas exalações de seus focinhos e de suas cobiças? Quebrai, de preferência, os vidros das janelas e pulai para o ar livre!
Fugi do mau cheiro! Fugi da idolatria dos supérfluos!
Fugi do mau cheiro! Fugi da fumaça desses sacrifícios humanos!
Também agora, ainda a terra está livre para as grandes almas. Vazios estão ainda para a solidão a um ou a dois, muitos sítios, em torno dos quais bafeja o cheiro de mares calmos.
Ainda está livre, para as grandes almas, uma vida livre. Na verdade, quem pouco possui, tanto menos pode tornar-se possuído. Louvado seja a pequena pobreza!
Onde cessa o Estado, somente ali começa o homem que não é supérfluo – ali começa o canto do necessário, essa melodia única e insubstituível.
Onde o Estado cessa – olhai para ali, meus irmãos! Não vedes o arco-íris e as pontes do super-homem?
É preciso ter asas, quando se ama o abismo.
Você tem que estar preparado para se queimar em sua própria chama: como se renovar sem primeiro se tornar cinza?
(Assim Falou Zaratustra)
Moro em minha própria casa,
Nunca imitei ninguém
E rio de todos os mestres
Que nunca riram de si.
O casamento transforma muitas loucuras curtas em uma longa estupidez.
Os pais fazem dos filhos, involuntariamente, algo semelhante a eles, a isso denominam ‘educação’, nenhuma mãe duvida, no fundo do coração, que ao ter seu filho, pariu uma propriedade; nenhum pai discute o direito de submeter o filho aos seus conceitos e valorações.
As condições sob as quais sou compreendido, sob as quais sou necessariamente compreendido – conheço-as muito bem. Para suportar minha seriedade, minha paixão, é necessário possuir uma integridade intelectual levada aos limites extremos. Estar acostumado a viver no cimo das montanhas – e ver a imundície política e o nacionalismo abaixo de si. Ter se tornado indiferente; nunca perguntar se a verdade será útil ou prejudicial… Possuir uma inclinação – nascida da força – para questões que ninguém possui coragem de enfrentar; ousadia para o proibido; predestinação para o labirinto. Uma experiência de sete solidões. Ouvidos novos para música nova. Olhos novos para o mais distante. Uma consciência nova para verdades que até agora permaneceram mudas. E um desejo de economia em grande estilo – acumular sua força, seu entusiasmo… Auto-reverência, amor-próprio, absoluta liberdade para consigo…
Com ajuda da moralidade do costume e da camisa-de-força social, o homem foi realmente se tornou confiável.
O melhor amigo terá provavelmente também a melhor mulher, porque o bom casamento residente no talento da amizade.
As grandes épocas de nossa vida são aquelas em que temos a coragem de rebatizar nosso lado mau de nosso lado melhor
E se um dia ou uma noite um demônio se esgueirasse em tua mais solitária solidão e te dissesse: ‘Esta vida, assim como tu a vives agora e como a viveste, terás de vivê-la ainda uma vez e ainda inúmeras vezes; e não haverá nela nada de novo, cada dor e cada prazer e cada pensamento e suspiro e tudo o que há de indizivelmente pequeno e de grande em tua vida há de retornar, e tudo na mesma ordem e sequência’ – […] Não te lançarias ao chão e rangerias os dentes e amaldiçoarias o demônio que te falasse assim? Ou viveste alguma vez um instante descomunal em que lhe responderias: ‘Tu és um deus, e nunca ouvi nada mais divino!’.
Tem tão pouco valor tudo aquilo que tem preço.
Nossa vocação toma conta de nós, mesmo quando não a conhecemos; é o futuro que dita a regra do nosso hoje.
É verdade:amamos a vida,porque estamos acostumados não à vida,mas a amar.
Todos os que desfrutam acreditam que da árvore o que importa é o fruto, quando na verdade o que importa é a semente: eis a diferença entre os que desfrutam e os que crêem.
Pregadores da igualdade, assim a tirânica loucura de vossa impotência reclama em brados a ‘igualdade’. Assim, por detrás das palavras de virtude se escondem vossos mais secretos desejos de tiranos!
Experiências terríveis fazem pensar se aquele que as vive não é algo terrível
O mundo do sofrimento é necessário para que o indivíduo seja obrigado a criar a visão libertadora, porque só assim, abismado na contemplação da beleza, permanecerá calmo e cheio de serenidade
Quem conta uma mentira raramente nota o fardo que assume; pois para sustentar uma mentira ele tem que inventar outras vinte.
Evitem o martírio! O sofrimento “pela verdade”! E até mesmo a defesa de si! Corrompe a inocência e a sutil neutralidade da sua consciência.
Aquilo que não gostamos, costumamos tratar com injustiça.
Quanto mais imperfeita for a nossa percepção, maior será a extensão do bem.
Eu não dou esmolas. Não sou pobre bastante para isso.
Tudo o que existe é justo e injusto, e em ambos os casos igualmente justificável.
Quando o amor ou o ódio não participa do jogo, a mulher é jogadora medíocre.
“É muito mais difícil dar o bem do que aceitar o bem, porque dar o bem é uma arte. É a última e mais astuta arte, a bondade”.
(Em “Assim falava Zaratustra” – página 236)
E aquilo que chamais mundo,é preciso,primeiro,que seja criado por vós.
Sem prazer não há vida; A luta pelo prazer é a luta pela vida.
Amo aquele cujo espírito e coração são livres:assim,nele,a cabeça é apenas uma víscera do coração,mas o coração o arrasta para o ocaso.
Ela ama o erro, porque, vive, e ama a vida!
Saber esperar é algo tão difícil (…) Se eu tivesse deixado o sentimento esfriar por um dia apenas (…) Quem no meu lugar ja não tomou uma ovelha por um herói? será uma coisa tão monstruosa? Pelo contrário, é algo humano e comum.
“Então a multidão dispersou-se, porque até a curiosidade e o pavor se cansam…”
A boa índole, a amabilidade, a cortesia do coração são permanentes emanações do impulso altruísta, e contribuíram mais poderosamente para a cultura do que as expressões mais famosas do mesmo impulso, chamadas de compaixão, misericórdia e sacrifício. Mas costumamos menosprezá-las, realmente: nelas não há muito de altruísta. A soma dessas doses mínimas é no entanto formidável, sua força total é das mais potentes.
A coragem quer rir.
“Não se pode elogiar a bondade de um homem se ele não tem poder para ser mau.”
Quando um de nossos amigos é culpado de algo vergonhoso, por exemplo, sentimos uma dor maior do que quando nós mesmos o somos. Pois acreditamos mais do que ele na pureza de seu caráter.
As grandes épocas de nossa vida ocorrem quando sentimos a
coragem de rebatizar o mal que em nós existe como o melhor
de nós mesmos
Nossa fé nos outros revela aquilo que desejaríamos poder acreditar em nós mesmos. Nosso desejo de um amigo é nosso delator.
As convicções são cárceres
“Má compreensão do sonho. – Nas épocas de cultura tosca e primordial o homem acreditava no sonho conhecer um segundo mundo real; eis a origem de toda metafísica. Sem o sonho, não teríamos achado motivo para uma divisão do mundo. Também a decomposição em corpo e alma se relaciona à antiqüíssima concepção do sonho, e igualmente a suposição de um simulacro corporal da alma, portanto a origem de toda crença nos espírito e também, provavelmente, da crença nos deuses: ‘Os mortos continuam vivendo, porque aparecem em sonho aos vivos’: assim se raciocinava outrora, durante muitos milênios.”
Eu sou Zaratustra, o ímpio. Onde encontrarei outro igual a mim? São iguais a mim todos aqueles que por si próprios definem sua vontade e se livram de toda resignação.
Como nos falta tempo para pensar e ter sossego no pensar!
Quem busca extremos corre o risco de passar da virtude à
maldade, já que as paixões
costumam levar a ações desmedidas.
Não se deve frequentar igreja quando se deseja respirar ar puro
O que fazemos em sonhos, fazemos acordados: inventamos e construímos a pessoa com quem lidamos – para em seguida esquecer que assim fizemos.
O infeliz obtém uma espécie de prazer com o sentimento de superioridade que a demonstração de compaixão lhe traz à consciência; sua imaginação se exalta, ele é ainda importante o suficiente para causa dores ao mundo.
Já é tempo de o homem estabelecer a sua meta. Já é tempo de o homem plantar a semente da sua mais alta esperança.
Aquele que atinge seu ideal, por si só o ultrapassa.
De fato, ao espírito livre dizem respeito doravante somente coisas – e quantas coisas! – que não o preocupam mais…
Ninguém sabe a que podem levar os acontecimentos, a compaixão, a indignação, ninguém conhece o seu grau de inflamabilidade. Pequenas circunstâncias miseráveis tornam miserável; geralmente não é a qualidade, mas a quantidade das vivências que determina o homem baixo ou elevado, no bem e no mal.
Também pode acontecer que existam fanáticos da consciência, puritanos que preferem morrer sobre uma vã ilusão e não .sobre uma incerta realidade. Mas isto não só é nihilismo, mas também sintoma de uma alma que se sente desesperada e fatigada até a morte, por muito valorosa que possam parecer as atitudes de semelhante virtude
Todo homem que for dotado de espírito filosófico há de ter o pressentimento de que, atrás da realidade em que existimos e vivemos, se esconde outra muito diferente e por consequência, a primeira não passa de uma aparição da segunda.
Duas espécie de coisas,quer o verdadeiro homem: perigo e divertimento. Quer por isso,a mulher,como o mais perigoso dos brinquedos.
Toda companhia é má, exceto a companhia dos iguais: Talvez a parte mais desagradável, mais malcheirosa, mais rica em decepções.
Há sabedoria nisso, sabedoria de vida, em receitar para si mesmo a saúde em pequenas doses e muito lentamente.
Uma teoria na qual os impulsos bons, derivem dos maus
Esta é minha doutrina. Aquele que quer aprender a voar um dia, deve desde logo aprender a manter-se de pé, a andar, a correr, a saltar, a subir e a dançar. Não se aprende a voar logo à primeira tentativa!
É preciso aprender a amar-se a si próprio com amor sadio, a fim de aprender a suportar-se a si mesmo e a não vaguear fora de si mesmo.
O riso eu o declarei santo
Pois todo impulso ambiciona dominar: e portanto procura filosofar
A vida acaba onde o “Reino de Deus” começa
A paixão não quer esperar, o trágico na vida de grandes homens está, frequentemente, não no seu conflito com a época e a baixeza de seus semelhantes, mas na sua incapacidade de adiar por um ou dois anos a sua obra; eles não sabem esperar.
O valor duma coisa consiste muitas vezes não no que se ganha ao adquiri-la, mas sim no que se faz para obtê-la
Este livro pertence aos homens mais raros. Talvez nenhum deles sequer esteja vivo. É possível que se encontrem entre aqueles que compreendem o meu “Zaratustra”: como eu poderia misturar-me àqueles aos quais se presta ouvidos atualmente? — Somente os dias vindouros me pertencem. Alguns homens nascem póstumos.
As condições sob as quais sou compreendido, sob as quais sou necessariamente compreendido — conheço-as muito bem. Para suportar minha seriedade, minha paixão, é necessário possuir uma integridade intelectual levada aos limites extremos. Estar acostumado a viver no cimo das montanhas — e ver a imundície política e o nacionalismo abaixo de si. Ter se tornado indiferente; nunca perguntar se a verdade será útil ou prejudicial… Possuir uma inclinação — nascida da força — para questões que ninguém possui coragem de enfrentar; ousadia para o proibido; predestinação para o labirinto. Uma experiência de sete solidões. Ouvidos novos para música nova. Olhos novos para o mais distante. Uma consciência nova para verdades que até agora permaneceram mudas. E um desejo de economia em grande estilo — acumular sua força, seu entusiasmo… Auto-reverência, amor-próprio, absoluta liberdade para consigo…
Muito bem! Apenas esses são meus leitores, meus verdadeiros leitores, meus leitores predestinados: que importância tem o resto? — O resto é somente a humanidade. — É preciso tornar-se superior à humanidade em poder, em grandeza de alma — em desprezo…
Viver é querer ser diferente da Natureza, formar juízos de valor, preferir, ser injusto, limitado, querer ser diferente! Admitindo que o lema “de acordo com a Natureza” signifique no fundo “de acordo com a vida” seria possível que atuásseis de outra forma? Por que então fazer um principio do que já sois, daquilo que podeis deixar de ser?
“Farias melhor dizendo: ‘Coisa inexprimível e sem nome é o que constitui o tormento e a doçura da minha alma, e o que é também a fome das minhas entranhas.” – Asssim falou Zaratustra – Nietzche
Você deve tornar-se senhor de si mesmo, senhor também de suas próprias virtudes. Antes eram elas os senhores; mas não podem ser mais que seus instrumentos, ao lado de outros instrumentos. Você pode ter domínio sobre o seu pró e o seu contra, e aprender a mostrá-los e novamente guardá-los de acordo com seus fins.
Estes factos confirmam evidentemente que a nossa natureza mais íntima, o fundo comum do nosso ser, encontra um prazer indispensável e uma alegria profunda na imensa paixão de sonhar.
Muito pouco valor, tem aquilo que tem preço.
Não vale mais cair nas mãos de um assassino do que nos sonhos de uma mulher ardente?
As pessoas graves e sombrias tornam-se mais leves precisamente através daquilo que torna outras pessoas graves, através do ódio e do amor, e chegam assim por um momento à própria superfície
O problema parece-nos demasiado profundo para que possa ser resolvido por considerações tão superficiais.
Por que superestimamos o amor em detrimento da justiça e dizemos dele as coisas mais belas, como se fosse algo muito superior a ela? Não será ele visivelmente mais estúpido? Sem dúvida, mas justamente por isso mais agradável para todos.
A vontade liberta porque a liberdade é criadora. Assim é que eu ensino. E só para criar precisais aprender!
Deveríamos, sem dúvida, manifestar compaixão, mas guardamo-nos de tê-la: pois, sendo os infelizes tão tolos, demonstrar compaixão é para eles o maior bem do mundo.
O cômico tem espírito,mas pouca consciência do espírito. Crê sempre naquilo pelo qual faz crer mais energicamente – crer em si mesmo.
Minha filosofia me aconselha a calar e não fazer mais perguntas; sobretudo porque em certos casos, como diz o provérbio, só se permanece filósofo – mantendo o silêncio.
A economia da bondade é o sonho dos mais arrojados utopistas
Normalmente a pessoa deseja, com a opinião alheia, atestar e reforçar para si a opinião que tem de si mesma.
O interesse em si mesmo, o desejo de dar satisfação a si mesmo atinge no vaidoso um tal nível, que ele induz os outros a uma avaliação falsa e muito elevada de si e depois se atém a autoridade dos outros: ou seja, introduz o erro e acredita nele.
Quando você olha dentro de um buraco, o buraco olha dentro de você.
O indivíduo, o ‘indivisível’, tal como o povo e o filósofo o entenderam até agora, é, no fim das contas, um erro: ele não é algo à parte, não é um átomo, não é um ‘elo da corrente’, não é algo meramente herdado de outrora – ele é a linha humana inteira que chega até ele e inclusive o ultrapassa…
Ai! Como soa mal a palavra ‘virtude’ em sua boca! E quando dizem ‘Sou justo’, é num tom que soa como ‘Estou vingado!.
Por sua virtude, querem arrancar os olhos de seus inimigos e só se elevam para rebaixar os outros.
Criar,quer o que ama,porque despreza!Que sabe do amor quem não teve de desprezar,justamente,aquilo que amava!
As nossas passadas soam solitariamente demais nas ruas. E, ao ouvi-las perguntam assim como de noite, quando deitados nas suas camas, ouvem passar um homem muito antes do alvorecer: Aonde irá o ladrão?
Sentimos prazer na compreensão imediata da forma; todas as formas falam; nenhuma nos é indiferente, nenhuma nos é inútil. No entanto, até mesmo a vida mais intensa da realidade que é o sonho, nos deixa a impressão confusa de não ser mais do que uma aparência.
Lamento agora não ter tido outrora a coragem (ou a imodéstia) de me servir de uma linguagem pessoal para exprimir ideias tão pessoais e audaciosas. Arrependo-me de ter pessoalmente recorrido a fórmulas de Kant e de Schopenhauer para exprimir opiniões inéditas e insólitas que eram diametralmente opostas à inteligência e ao sentimento, tanto de Kant como de Schopenhauer.
A cada alma pertence um mundo diferente. Para cada alma, toda outra alma é um além-mundo.
Se você olhar muito tempo para o abismo,
ele vai devolver o seu olhar.
A falsidade de um juízo não chega a constituir, para nós, uma objeção contra ele
Coração encadeado, espírito livre — Quando se prende o coração e se o mantém preso, pode-se permitir muita liberdade ao espírito: eu já o disse uma vez. Mas não se deseja crer-me, porque não era coisa já consabida
Os nossos atos marcadamente habituais acabam por formar em redor de nós como que um edifício sólido; açambarcam as nossas forças de tal modo que tornam difícil um desvio de intenções.
Ao contrário do que hoje se crê, a humanidade não representa uma evolução para algo melhor, de mais forte ou de mais elevado. O “progresso” é simplesmente uma ideia moderna, ou seja, uma ideia falsa.
Amar os próprios inimigos? Parece-me que se o tenha
apreendido muito bem: percebemo-lo em mil circunstâncias, no
pequeno e no grande; sim, quiçá bem melhor agora —
chegamos a desprezar enquanto amamos, e precisamente
quanto mais intensamente amamos: mas tudo isto
inconscientemente, sem fazer caso, com o pudor e o segredo da
bondade que gelam os lábios às palavras solenes e virtuosas
Sim, o seu olhar é sem inveja: e é por isso que o honrais?
Preocupa-se pouco com as vossas honras;
Tem o olho da águia, olha para o que está longe,
Não vos vê!… Apenas vê os astros e as estrelas!
“Um passo adiante na convalescença: e o espírito livre se aproxima novamente à vida, lentamente, sem dúvida, e relutante, seu tanto desconfiado. Em sua volta há mais calor, mais dourado talvez;sentimento e simpatia se tornam profundos, todos os ventos tépidos passam sobre ele. É como se apenas hoje tivesse olhos para o que é próximo. Admira-se e fica em silêncio: onde estava então?”
Nós podemos destruir somente enquanto criadores!
Torna-te quem tu és. E você, sabe quem é?
Sentença de granito de Nietzsche –
O cristianismo deve sua vitória a essa desprezível adulação da vaidade pessoal. Conseguiu convencer exatamente todos os fracassados, os simpatizantes da insurreição, os malsucedidos, todo o lixo e a escória da sociedade.
O que realmente levanta uma indignação contra o sofrimento não é sofrimento intrinsecamente, mas a falta de sentido do sofrimento.
E se alguma virtude há em mim; é não temer a nenhuma proibição.
“(…) e o fim de vossa viagem será chegar ao lugar de onde partimos. E conhece-lo pela primeira vez…”
Não sabeis que só a disciplina da dor, da grande dor, é o que permitiu ao homem se elevar?
“…Nossos tesouro está na colmeia
de nosso conhecimento.
Estamos sempre voltados a essa direção,
pois somos insetos alados da natureza, coletores do mel da mente…!”
Na verdade, o homem é um rio poluído. É preciso ser um mar para, sem se poluir, poder receber um rio poluído.
Quem teria razões para se afastar da realidade com mentiras? Só quem com ela sofre.
A esperança: ela é na verdade o pior dos males, pois prolonga o suplício dos homens.
Existem alturas da alma, de onde mesmo a tragédia deixa de ser trágica; e, se as dores do mundo fossem juntadas numa só, quem poderia ousar dizer que a visão dela nos iria necessariamente seduzir e obrigar à compaixão, e desse modo à duplicação da dor?
Conheci muitas pessoas que não gostam de si mesmas e tentam superar isso, persuadindo primeiro os outros a pensarem bem delas. Feito isso, elas começam a pensar bem de si próprias. Mas essa é uma falsa solução, isso é submissão à autoridade dos outros. Sua tarefa é aceitar a si mesmo, não encontrar formas de obter aceitação.
Não conheço em absoluto o ateísmo como resultado, menos ainda como acontecimento: em mim, ele é óbvio por instinto. Sou muito inquiridor, muito cético, muito altivo para me satisfazer com uma resposta grosseira. Deus é uma resposta grosseira, uma indelicadeza para conosco, pensadores – no fundo, até mesmo uma grosseira proibição para nós: não devem pensar!”,
in Ecce Homo.
Escolhei a boa solidão, a solidão livre, a que vos permite seguir sendo bons em qualquer sentido.
No céu, todas as pessoas interessantes estão ausentes.
Em todos os tempos os sábios fizeram o mesmo juízo da vida: ela não vale nada…
O modo mais seguro de se corromper um jovem é instruí-lo a manter uma estima mais alta por aqueles que pensam como ele do que por aqueles que pensam diferente.
Conhece o terror de quem dorme?
Ele está aterrorizado, porque o chão se abre e o sonho começa…
A própria palavra cristianismo já é um equívoco — no fundo só existiu um cristão, e esse morreu na cruz.
É certo que sou uma selva e uma noite de escuras árvores; Mas aquele que não temer a minha obscuridade encontrará sob os meus ciprestes sendas de rosas.
“É verdade: amamos a vida não porque estejamos habituados à vida, mas ao amor.”
Adulam-te como um deus ou um diabo! Choramingam diante de ti como diante de um deus ou de um diabo. Que importa? São aduladores e chorões, nada mais que isso.
Não existe na natureza criatura mais sinistra e mais repugnante do que o homem que foi despojado do seu próprio gênio e que se extravia agora a torto e a direito, em todas as direções.
“… Os poços mais profundos vivem suas experiências lentamente: esperam um bom tempo até saberem o que caiu em suas profundezas…!”
Quando estamos cansados, somos atacados por ideias que já havíamos vencido há muito tempo.
Ninguém quer causar dano a si mesmo, por isso tudo o que é ruim acontece involuntariamente. Pois o homem ruim provoca dano a si mesmo: ele não o faria, caso ele soubesse o que é ruim. Por conseguinte, o homem ruim apenas é ruim por um erro; se o privarmos de seu erro, então o tornamos necessariamente – bom.
Não quero enganar, nem sequer a mim mesmo.
Somente sendo um homem consegue um homem, liberar a mulher em uma mulher.
A exigência de castidade reforça a veemência e interioridade do instinto religioso, ela torna o culto mais caloroso, mais entusiástico, mais apaixonado. O amor é o estado em que os homens vêem as coisas como elas não são. A força da ilusão está no amor em toda sua potência, assim como a força de adoçar, de transfigurar.
Não enfrentes monstros sob pena de te tornares um deles. Se contemplas o abismo, a ti o abismo também contempla.
“… Acredito que os animais veem o homem como um ser igual a eles que perdeu, de forma extraordinariamente perigosa, a sanidade intelectual animal. Ou seja: veem o homem como um animal irracional, um animal que sorri, que chora, um animal infeliz.
É muito difícil os homens entenderem sua
ignorância no que diz respeito a eles mesmos.
Pobre do pensador que não é o jardineiro,
mas apenas o canteiro de suas plantas…!”.
Todo grande amor traz consigo o cruel pensamento de matar o objeto do amor, para subtraí-lo de uma vez por todas ao sacrílego jogo da mudança: pois o amor tem mais receio da mudança que do aniquilamento.
Em toda espécie de amor feminino também aparece algo do amor materno.
Todos falam de mim quando estão sentados à noite à roda do lar; falam de mim, mas ninguém pensa em mim.
O sedutor involuntário
Atirou no ar palavras vazias,
Por distração — e abateu assim uma mulher.
Cintilei em nosso amor o fulgor de uma estrela, abrilhantado pelas virtudes de um mundo que não existe
O mundo gira, não ao redor dos inventores de estrondos novos, mas à roda dos inventores de valores novos: gira sem ruído.
Você é do tamanho daquilo que vê e não do tamanho da sua altura.
Começa-se por desaprender de amar os outros e termina-se por não encontrar nada mais digno de amor em si mesmo.
Chamamos espírito livre aquele que pensa de outro modo do que podia se esperar de sua origem, de suas relações, de sua situação e de seu trabalho ou das opiniões reinantes em seu tempo.
É preciso segurar o coração; porque, se se deixa ir, bem depressa se perde a cabeça.
Quem não sabe desprezar não sabe respeitar.
Os mesmos afetos, no homem e na mulher, têm ritmo diferente: por isso o homem e a mulher não cessam de se desentender
É Preciso Aprender a Amar. – Eis o que se sucede conosco na música: primeiro temos que aprender a ouvir uma figura, uma melodia, a detectá-la, distingui-la, isolando-a e demarcando-a como uma vida em si; então é necessário empenho e boa vontade para suportá-la, não obstante sua estranheza, usar de paciência com seu olhar e sua expressão, de brandura com o que nela é singular: – enfim chega o momento em que estamos habituados a ela, em que a esperamos, em que sentimos que ela nos faria falta, se faltasse; e ela continua a exercer sua coação e sua magia, incessantemente, até que nos tornamos seus humildes e extasiados amantes, que nada mais querem do mundo senão ela e novamente ela. – Mas eis que isso não nos sucede apenas na música: foi exatamente assim que aprendemos a amar todas as coisas que agora amamos. Afinal sempre somos recompensados pela nossa boa vontade, nossa paciência equidade, ternura, para com que é estranho, na medida em que a estranheza tira lentamente o véu e se apresenta como uma nova e indizível beleza: – é a sua gratidão por nossa hospitalidade. Também quem ama a si mesmo aprendeu-o por esse caminho: não há outro caminho. Também o amor há que ser aprendido.
De todo o escrito só me agrada aquilo que uma pessoa escreveu com o seu sangue. Escreve com sangue e aprenderás que o sangue é espirito.
É difícil evitar que nossas visões mais elevadas pareçam loucuras e por vezes até crimes, quando chegam a ouvidos que não são capazes de compreendê-las.
A idolatria que as mulheres têm pelo amor é, no fundo e originalmente, uma invenção da inteligência, na medida em que, através das idealizações do amor, elas aumentam seu poder e se apresentam mais desejáveis aos olhos dos homens. Mas, tendo-se habituado a essa superestimação do amor durante séculos, aconteceu que elas caíram na própria rede e esqueceram tal origem. Hoje elas são mais iludidas que os homens, e por isso sofrem mais com a desilusão que quase inevitavelmente ocorre na vida de toda mulher – desde que ela tenha imaginação e intelecto bastantes para ser iludida e desiludida.
Quem luta com monstros deve se cuidar, pois, ao fazê-lo, pode se transformar também em monstro. E você se olhar durante muito tempo para um abismo, o abismo também olhará para dentro de você.
Aquele que abandonou a Deus prende-se em redobrada severidade à crença na moral.
Para aquele que tanto sofre por si, só há salvação na morte rápida.
A Vida Não É Argumento
Armamos para nosso uso um mundo em que possamos viver – admitindo a existência de corpos, de linhas, de superfícies, de causas e de efeitos, do movimento e do repouso, da forma e de seu conteúdo: sem esses artigos de fé ninguém jamais suportaria viver!
Mas isso ainda não é nada.
A vida não é argumento: entre as condições da vida poderia estar o erro.
Preferiria antes ser um sátiro do que um santo.
Sentimos ódio por quem devassa nossos segredos e nos flagra com sentimentos meigos. O que precisamos no momento não é simpatia, mas recuperar nosso poder sobre nossas próprias emoções.
Sem vaidade
Quando amamos, queremos que nossos defeitos permaneçam ocultos — não por vaidade, mas para que o ser amado não sofra. Sim, aquele que ama gostaria de parecer um deus — e também isso não por vaidade.
( do livro em PDF:100 aforismos sobre o amor e a morte )
“O cinismo é a única forma sob a qual as almas torpes tocam de leve no que se chama sinceridade. ”
A igreja cristã não deixou nada intocado com sua podridão, transformou todo valor em não-valor, toda verdade em mentira, toda forma de integridade em vilania de alma. Ainda ousam falar-me de suas “bençãos” humanitárias! Suprimir qualquer forma de miséria ia contra seus interesses mais profundos, ela alimentava-se dos estados de necessidade, criou estados de necessidade para eternizar-se… O verme do pecado por exemplo: somente a igreja enriqueceu a humanidade com esse estado de miséria! “A igualdade das almas perante deus”, essa falsidade, esse pretexto para o rancor de todos os pobres de espírito, esse conceito explosivo que se transformou finalmente em revolução, idéia moderna e princípio de declínio de toda organização social é dinamite cristão…”Humanitarismo”, bençãos do cristianismo!
A eterna ampulheta da existência será sempre virada outra vez – e tu com ela, poeirinha da poeira!
Pessoas que rapidamente pegam fogo se esfriam depressa, sendo então de pouca confiança.
Quem combate monstros precisa tomar cuidado para que isso não o torne um monstro. Se você olha muito tempo para dentro do abismo, o abismo também começa a olhar dentro de você.
Não te acovardes diante de tuas ações! Não as repudies depois de consumadas! O remorso da consciência é indecente.
Reduzir uma coisa desconhecida a outra conhecida alivia, tranquiliza e satisfaz o espírito, proporcionando, além disso, um sentimento de poder.
“Crença é um desejo de não saber.”
Aquele que luta com monstros deve acautelar-se para não tornar-se também um monstro.
– “Não é o que você é por dentro, mas o que você faz que define você.”.
A esperança intensa é um estimulante da vida muito mais forte do que qualquer felicidade isolada que realmente se concretize. É preciso manter os sofredores em pé mediante uma esperança que não possa ser contradita por nenhuma realidade.
É o futuro que dita a regra do nosso hoje
Não é a maneira como uma alma se aproxima da outra, mas na maneira como se afasta que reconheço seu parentesco e afinidade com a outra.
O pior inimigo, todavia, que podes encontrar, és tu mesmo! Lança-te a ti próprio nas cavernas e nos bosques. Solitário, tu segues o caminho que te conduz a ti mesmo! E o teu caminho passa por diante de ti e dos teus sete demônios.
Estou diante de minha mais alta montanha e de minha mais longa viagem! Por isso tenho que descer como nunca desci!
Tenho de ir ao fundo da dor mais do que nunca, até suas águas mais escuras! Assim o quer meu destino. Coragem! Estou pronto!
O Estado é o mais frio de todos os monstros. Ele mente friamente; de sua boca sai esta mentira: “Eu, o Estado, sou o povo.”
…”Se Cristo não ressuscitou da morte, então nossa fé é vã.” – E num piscar de olhos transformou-se o evangelho na mais desprezível promessa irrealizável, na vergonhosa doutrina da imortalidade pessoal… O próprio Paulo pregara-a como recompensa!…
Se os cônjuges não morassem juntos, os bons casamentos seriam mais frequentes.
O homem é o animal mais cruel.
Não foi o conflito de opiniões que tornou a história tão violenta, mas o conflito da fé nas opiniões, ou seja, das convicções.
Puseste nessas paixões o teu objetivo mais elevado; então passaram a ser tuas virtudes e alegrias.
Pode-se prometer atos, mas não sentimentos; pois estes são involuntários. Quem promete a alguém amá-lo sempre, ou sempre odiá-lo ou ser-lhe sempre fiel, promete algo que não está em seu poder; mas ele pode prometer aqueles atos que normalmente são consequências do amor, do ódio, da fidelidade, mas também podem nascer de outros motivos: pois caminhos e motivos diversos conduzem a um ato. A promessa de sempre amar alguém significa, portanto: enquanto eu te amar, demonstrarei com atos o meu amor; se eu não mais te amar, continuarei praticando esses mesmos atos, ainda que por outros motivos: de modo que na cabeça de nossos semelhantes permanece a ilusão de que o amor é imutável e sempre o mesmo. Portanto, prometemos a continuidade da aparência do amor, quando sem cegar a nós mesmos, juramos a alguém amor eterno.
Uma era de felicidade simplesmente não é possível porque as pessoas querem apenas desejá-la, mas não possuí-la, e cada indivíduo aprende durante os seus bons tempos a de facto rezar por inquietações e desconforto. O destino do homem está projetado para momentos felizes — toda a vida os têm —, mas não para eras felizes. Estas, porém, permanecerão fixadas na imaginação humana como ‘o que está além das montanhas’, como um legado de nossos ancestrais: pois o conceito de uma era de felicidade foi sem dúvida adquirido nos tempos primordiais, a partir da condição em que, depois de um esforço violento na caça e na guerra, o homem se entrega ao repouso, estica os membros e sente as asas do sono roçando a sua pele. Será uma falsa conclusão se, na trilha dessa remota e familiar experiência, o homem imaginar que, após eras inteiras de labor e inquietação, ele poderá usufruir, de modo correspondente, daquela condição de felicidade intensa e prolongada.
A crueldade está entre as mais velhas alegrias festivas da humanidade.
Encontrar amor em quem se ama deveria desenganar realmente aquele que ama acerca do objeto amado.
“Acaso vos aconselho o amor ao próximo? Antes vos aconselho a fuga do próximo e o amor ao remoto!”
O amor perdoa ao ser amado até o desejo.
O amor e o ódio não são cegos, mas ofuscados pelo fogo que trazem consigo.
” Os grandes eventos não são nossas horas mais ruidosas, mas nossos instantes mais silenciosos.”
Nós que defendemos outra fé, nós que consideramos a democracia não só como uma forma degenerada da organização politica, mas como uma forma decadente e diminuída da humanidade que ela reduz a mediocridade, onde colocaremos nossa esperança?
O Diabo — o mais antigo amigo do Conhecimento
O Diabo é quem tem as perspectivas mais largas sobre Deus, por isso se distancia tanto dele; o Diabo é o amigo mais antigo do Conhecimento.
Um sábio perguntava a um louco qual era o caminho da felicidade. O louco respondeu-lhe imediatamente, como alguém a quem se pergunta o caminho da cidade vizinha: ‘Admira-te a ti mesmo e vive na rua’. ‘Alto lá’, exclamou o sábio, ‘pedes demais, basta já que nos admiremos!’ E o louco respondeu logo: ‘Mas como admirar sem cessar se não nos desprezarmos constantemente?
(A Gaia Ciência)
Os povos são muito enganados porque sempre buscam um enganador, isto é, um vinho estimulante para os seus sentidos.
A mais perigosa desaprendizagem
Começa-se por desaprender de amar os outros e termina-se por não encontrar nada mais digno de amor em si mesmo.
(do livro em PDF: 100 aforismos sobre o amor e a morte )
O homem do conhecimento, ao obrigar seu espírito a conhecer, contra o pendor do espírito e também, com frequência, os desejos de seu coração – isto é, a dizer Não, onde ele gostaria de aprovar, amar, adorar – atua como um artista e transfigurador da crueldade.
Julga-se que a necessidade é a causa que cria algo; mas a necessidade, na maior parte das vezes, é o efeito desse algo.
Mesmo o mais corajoso entre nós só raramente tem coragem para aquilo que realmente conhece.
A serpente que não pode mudar de pele morre. De igual modo, os espíritos que impedimos de mudar de opinião deixam de ser espíritos.
Melhor uma inimizade inteira
Que uma amizade emendada!
Leiam os Evangelhos como o livro da sedução usando a moral como recurso: a moral foi coberta com uma capa por essa gentinha, eles conhecem a importância da moral! Através da moral conduz-se a humanidade mais facilmente pelo bico! Na verdade, o que temos aqui é a pretensão da elite disfarçada de modéstia: colocaram definitivamente a “comunidade”, os “bons”, e os “justos”, de um só lado, do lado da “verdade”, e o resto, o “mundo”, do outro lado… Isso foi a forma mais calamitosa de megalomania que já existiu sobre a Terra: uma pequena multidão disforme de hipócritas e mentirosos começou a monopolizar os conceitos de “Deus”, “verdade”, “luz”, “espírito”, “amor”, “sabedoria”, “vida”, como se fossem seus sinônimos, para com isso delimitar o “mundo” com respeito a si; os partidários da nova doutrina, maduros para toda espécie de manicômio, fazem girar os valores em torno de si, como se o cristão fosse o único sentido, o sal, a única e última medida de julgamento para o resto do mundo…”
Os homens mais inteligentes, sendo os mais fortes, encontram sua felicidade onde outros encontrariam apenas desastre.
Cada partido compreende que interessa a sua própria conservação não permitir que se esgote o partido contrário; o mesmo ocorre com a alta política.
Desconsiderando o fato de que eu sou um décadent, sou também o seu contrário. Minha prova para isso é, entre outras coisas, o fato de eu sempre ter escolhido institivamente os meios corretos contra as situações graves: enquanto o decadent costuma escolher sempre os meios prejudiciais a si mesmo.
Quanto mais próximo se está da ciência, maior o crime de ser cristão.
O que é bom induz a viver. — Todas as coisas boas são fortes estimulantes para a vida, mesmo todo bom livro escrito contra a vida.
(extraído do livro em PDF: Humano Demasiado)
Tudo posso ser, minha alma errante e meu espírito livre me dizem somente uma certeza: Sou humano, demasiadamente humano.
As mulheres têm a inteligência; os homens, o sentimento e a paixão. Isso não está em contradição com o fato de os homens realizarem muito mais coisas com a sua inteligência: eles têm impulsos mais profundos, mais poderosos; são estes que levam tão longe a sua inteligência, que em si é algo passivo. Não é raro as mulheres secretamente se admirarem da veneração que os homens tributam ao seu sentimento.
No fato de um homem bem-educado fazer bem aos nossos sentidos: no fato de ele ser talhado em uma madeira que é dura, suave e cheirosa ao mesmo tempo. A ele só faz gosto o que lhe salutar; seu prazer, seu desejo acabam lá onde as fronteiras do salutar passam a estar em perigo.
É fácil as mães sentirem ciúme dos amigos de seus filhos, quando eles têm sucesso extraordinário. Habitualmente a mãe ama, em seu filho, mais a si mesma do que ao próprio filho.
Esquecemos o desejo de Deus, de que o homem continue se permitindo ser atormentado. A esperança é o pior dos males, porquanto prolonga o tormento.
Eu procurava homens grandes, nunca encontrei mais do que «macacos de imitação» do seu próprio ideal.
Mesmo a conversa com um amigo só produzirá bons frutos de conhecimento quando ambos pensarem apenas na questão e esquecerem que são amigos.
Aquele que não é terrível para si, não inspira terror a ninguém, e só o que inspira terror pode comandar aos demais.
Eu sou uma floresta, sem dúvida, e uma noite de árvores escuras, mas quem não teme minha escuridão encontra também roseiras debaixo dos meus ciprestes.
É essencial demonstrar a si mesmo que se está destinado à independência e ao mando, porém é preciso que se o faça a tempo. Não se deve afastar a obrigação de fazer estas provas, mas também não se ligar a ninguém, porque toda pessoa é uma prisão. Deve-se saber concentrar-se e conservar-se, o que é a melhor prova de independência.
Nós, artistas! Nós, ocultadores do que é natural! Nós, incansáveis e silenciosos andarilhos, em alturas que não vemos como alturas, mas como nossas planícies, nossas certezas!
Essas dores podem ser bastante penosas: mas sem dores não é possível tornar-se guia e educador da humanidade; e coitado daquele que quisesse sê-lo e não mais tivesse essa pura consciência.
“… Fazer amor é se vingar de todas as
coisas que o derrotaram na vida…!”
Retribuímos mal a um professor se continuamos apenas alunos.
Devemos segurar firmemente nosso coração, por que se o soltarmos, lá se vai também nossa razão!
É necessário dizer quem consideramos nossos adversários: os teólogos e tudo que tem sangue teológico correndo em suas veias — essa é toda a nossa filosofia…
Pode-se prometer ações, mas não sentimentos, pois estes são involuntários. Quem promete a alguém amá-lo sempre, ou odiá-lo sempre, ou ser-lhe sempre fiel, promete algo que não está em seu poder; mas…
“Que é a moral cristã? A sorte despida de sua inocência; a infelicidade contaminada com a ideia de “pecado”; o bem-estar considerado como um perigo, como uma “tentação”; um desarranjo fisiológico causado pelo veneno do remorso…”
Ninguém deseja ajudar os outros, pelo contrário, as pessoas desejam apenas dominar e aumentar o seu próprio poder.”.
Amo aquilo que nos torna mais do que somos (sobre nossas escolhas).
“O homem se define como ser que avalia, como ser que ama por excelência.”
Quando imagino uma espécie de homem que repugna a todos os meus instintos, o resultado é sempre um alemão.
Garotas inexperientes se lisonjeiam com a ideia de que está em seu poder tornar um homem feliz; mais tarde elas aprendem que significa menosprezar um homem supor que basta uma garota para fazê-lo feliz. – A vaidade da mulher exige que um homem seja mais que um marido feliz.
As mulheres percebem facilmente quando a alma de um homem já foi tomada; elas desejam ser amadas sem rivais, e censuram nele os objetos de sua ambição, suas atividades políticas, suas ciências e artes, se ele tiver paixão por tais coisas. A menos que ele brilhe por essas coisas – então elas esperam que uma união amorosa com ele realce também seu próprio brilho; neste caso elas incentivam aquele que amam.
As grandes épocas de nossa vida são aquelas em que ganhamos a coragem de rebatizaro nosso mal como o nosso melhor.
Tomadas pelo ódio, as mulheres são mais perigosas que os homens; antes de mais nada porque, uma vez despertado o seu sentimento hostil, não são freadas por nenhuma consideração de justiça, deixando o seu ódio crescer até as últimas consequências; depois porque são exercitadas em descobrir feridas (que todo homem, todo partido tem) e espicaçá-las: no que sua inteligência, aguda como punhal, presta-lhes um ótimo serviço (ao passo que os homens, vendo feridas, tornam-se contidos, são com frequência generosos e conciliadores).
O amor deseja, o medo evita. Por causa disso não podemos ser amados e reverenciados pela mesma pessoa, não no mesmo período de tempo, pelo menos. Pois quem reverencia reconhece o poder, isto é, o teme: seu estado é de medo-respeito. Mas o amor não reconhece nenhum poder, nada que separe, distinga, sobreponha ou submeta. E, como ele não reverencia, pessoas ávidas de reverência resistem aberta ou secretamente a serem amadas.
Devemos temer quem odeia a si próprio, pois seremos vítimas de sua cólera e de sua vingança. Cuidemos, então, de seduzi-lo para o amor a si mesmo!
Primeiro princípio: é preciso ter necessidade de ser forte, caso contrário, nunca se chega a sê-lo.
“Com o tempo eu lhe ensinarei como superar.
Você quer voar, mas não pode começar a voar voando.
Primeiro tem que aprender a andar e o primeiro passo, ao aprender a andar, é entender que quem não obedece a si mesmo é regido por outros…!”.
Quando você passa a lutar contra “monstros”,
tome cuidado para não se transformar em um.
Prudência mundana
Não fique no rés do chão!
Não suba alto demais!
O mundo parece mais belo
À meia altura.
Contra a soberba
Não se encha de ar: senão basta
Uma alfinetada para o estourar.
Moral para os que edificam: Depois de construída a casa é preciso retirar os andaimes.
Há um limite a partir do qual a força visual do olho humano deixa de ser capaz de identificar o mau instinto tornado demasiado sutil para os seus fracos recursos; é aí que o homem faz começar o reino do bem; e a sensação de ter penetrado nesse reino desperta sincronicamente nele todos os instintos, os sentimentos de segurança, de bem-estar, e de benevolência, que o mal limitava e ameaçava. Por consequência: quanto mais o olhar é fraco, maior é o domínio do bem! Daí a eterna alegria do povo e das crianças! Daí o abatimento dos grandes pensadores, e o humor negro que é o seu, humor parente da má consciência.
/ A Gaia Ciência /
Os pensadores nos quais todas as estrelas têm orbitas cíclicas não são os mais profundos; quem olha para dentro de si como para um espaço sideral e traz vias lácteas em seu interior, sabe também como são irregulares todas as vias lácteas; elas conduzem ao caos e ao labirinto da existência.
Nunca ceder ao arrependimento, e sim dizer imediatamente a si próprio: “isto significa juntar uma segunda estupidez à primeira”. Tendo-se feito um mal, cuide-se para fazer um bem.
A frase mais pudica que jamais ouvi: “Dans le véritable amour, c’est l’âme qui enveloppe le corps” [No verdadeiro amor, é a alma que envolve o corpo].
(do livro em PDF: 100 aforismos sobre o amor e a morte )
Todo pensador profundo tem mais receio de ser compreendido que de ser mal compreendido.
A música, em si, não é tão significativa para o nosso mundo interior, tão profundamente tocante, que possa valer como linguagem imediata do sentimento; mas sua ligação ancestral com a poesia pôs tanto simbolismo no movimento rítmico, na intensidade ou fraqueza do tom, que hoje imaginamos que ela fale diretamente ao nosso íntimo e que dele parta.
Quem não sabe guardar suas opiniões no gelo não deveria entrar em debates acalorados.
Há mais razão em teu corpo do que em tua melhor sabedoria.
A mais barata e mais inofensiva forma de viver é a do pensador: pois, para dizer logo o mais importante, o que ele mais necessita são justamente as coisas que os outros menosprezam e deixam de resto.
Essas dores podem ser bastante penosas: mas sem dores não é possível tornar-se guia e educador da humanidade; e coitado daquele que quisesse sê-lo e não tivesse essa pura consciência!
Éramos amigos e agora somos estranhos um ao outro. Mas não importa que assim o seja: não procuremos escondê-lo, como se isso nos envergonhasse. Somos como dois navios, cada um dos quais com seus próprios objetivos e rotas; talvez possamos cruzar-nos e celebrar uma festa como já o fizemos – e estes intrépidos barcos, debaixo do mesmo sol e no mesmo porto, teriam feito acreditar que alcançaram o mesmo objetivo e destino. Mas a onipotência de nossas tarefas separou-nos, empurrando-nos para outros mares, debaixo de outros sóis – e talvez nunca mais nos reconheçamos: mares diferentes e sóis diferentes nos mudaram!
Um pensador vê suas próprias ações como experiências e perguntas – como tentativas de descobrir alguma coisa. Sucesso e fracasso são para ele respostas, acima de tudo.
Ninguém pode construir no teu lugar a ponte que te seria preciso tu mesmo transpor no fluxo da vida — ninguém, exceto tu.
A permissão para que todos aprendam a ler arruína, a longo prazo, não apenas a escrita, mas também o pensamento.
Ninguém é livre para se tornar cristão: não se é “convertido” ao cristianismo — é preciso ser doente o bastante para tanto…
Da escola de guerra da vida: o que não me mata, torna-me mais forte.
O que é tão difícil para os homens compreenderem, dos mais remotos tempos até hoje, é sua ignorância sobre si mesmos!
O essencial, em toda invenção, é feito pelo acaso, mas a maioria dos homens não encontra esse acaso.
O que acontece para a árvore, acontece também para o homem. Quanto mais deseja elevar-se para as alturas e para a luz, mais vigorosamente enterra suas raízes para baixo, para o horrendo e profundo: para o mal.
Aquele que não quer ver o que é elevado num ser humano olha com tanto maior acuidade para o que é nele baixo e superficial – e com isso denuncia a si mesmo.
Paga-se mal a um mestre quando se continua sempre a ser apenas o aluno.
Quando morre alguém, em geral necessitamos de motivos de consolo, não tanto para mitigar a dor quanto para ter uma desculpa por nos sentirmos tão facilmente consolados.
Qualquer espécie de antinatureza é vício. O tipo de homem mais vicioso é o padre: ele ensina a antinatureza. Contra o padre não há razões: há cadeia.
Retribui-se mal um mestre quando se permanece sempre e somente discípulo.
Nós éramos amigos e nos tornamos estranhos um para o outro. Mas está bem que seja assim, e não vamos ocultar e obscurecer isto, como se fosse motivo de vergonha. Somos dois navios que possuem, cada qual, seu objetivo e seu caminho; podemos nos cruzar e celebrar juntos uma festa, como já fizemos (…)
Que tenhamos de nos tornar estranhos um para o outro é da lei acima de nós: justamente por isso deve-se tornar mais sagrado o pensamento de nossa antiga amizade! Existe provavelmente uma enorme curva invisível, uma órbita estelar em que nossas tão diversas trilhas e metas estejam incluídas como pequenos trajetos – elevemo-nos a esse pensamento! Mas nossa vida é muito breve e nossa vista muito fraca, para podermos ser mais que amigos no sentido dessa elevada possibilidade. – E assim crer em nossa amizade estelar, ainda que tenhamos de ser inimigos na Terra.
Às vezes bastam óculos mais fortes para curar um apaixonado.
O solo amaldiçoado onde o cristianismo chocou seus ovos de basílicas deve ser destruído pedra por pedra, tornando-se o lugar mais infame da terra ,o terror de toda posteridade. Deve-se criar cobras venenosas nesse lugar.
Aquilo que se faz por amor sempre se faz além dos limites do bem e do mal.
A imortalidade tem seu custo:
morrer muitas vezes, enquanto se vive!
É preciso usar trovões e fogos de artifício celestes para falar com sentidos frouxos e dormentes.
Mas a voz da beleza fala baixo: ela se insinua apenas nas almas mais despertas.
Perde-se força quando se compadece. Através da compaixão agravam-se e multiplicam-se ainda mais as perdas de força que, em si, o sofrimento já traz à vida. O próprio sofrimento torna-se contagioso através da compaixão.
A espiritualização da sensualidade chama-se amor: ela é um grande triunfo sobre o cristianismo.
“[…] para mim a palavra ‘dever’ é pesada e opressiva. Reduzi meus deveres a apenas um: perpetuar minha liberdade. O casamento e seu séquito de possessão e ciúme escravizam o espírito. Eles jamais me dominarão. Espero, doutor Breuer, que chegue o tempo em que nem o homem, nem a mulher sejam tiranizados pelas fraquezas mútuas […].”
..E quem adivinha ao menos em parte as consequências de toda profunda suspeita, os calafrios e angustias do isolamento, a que toda incondicional diferença do olhar condena quem dela sofre, compreenderá também com frequência, para me recuperar de mim, como para esquecer-me temporariamente, procurei abrigo em algum lugar – em alguma adoração, alguma inimizade, leviandade, cientificidade ou estupidez; e também por que, onde não encontrei o que precisava, tive que obtê-lo à força de artifício, de falsificá-lo e criá-lo poeticamente para mim.
Você deve apreender a injustiça necessária de todo pró e contra, a injustiça como indissociável da vida, a própria vida como condicionada pela perspectiva e sua injustiça.
Não poucos, talvez a maioria dos homens, têm a necessidade de rebaixar e diminuir na sua imaginação todos os homens que conhecem, para manter sua auto-estima e uma certa competência no agir. E, como as naturezas mesquinhas são em número superior, e é muito importante elas terem essa competência.
A maldade é rara.. Os homens em sua maioria, estão ocupados demais consigo mesmos para serem malvados.
Ninguém mente tanto quanto o indignado.
Um brinquedo,seja a mulher,puro e delicado,semelhante à pedra preciosa,iluminada pelas virtudes de um mundo que ainda não nasceu.
Vai colocar todas as paixões, nos seus lugares, encerra-as agora nos teus domínios(…) – as paixões dos teus heróis nunca serão mais do que máscaras, falsificações de paixões, e a linguagem delas nunca será autêntica nem sincera.
Como será possível forçar a natureza a desvendar os seus segredos, senão por processos violentos, quer dizer, por acções antinaturais?
A verdade é o ponto de vista de cada um.
“A felicidade é fragil e volatil”
Se os homens, na escolha do cônjuge, buscam antes de tudo um ser profundo e sensível, enquanto as mulheres buscam alguém sagaz, brilhante e com presença de espírito, vê-se claramente que no fundo o homem busca um homem idealizado, e a mulher, uma mulher idealizada, ou seja, não um complemento, mas sim um aperfeiçoamento das próprias qualidades.
“A terra está cheia de supérfluos e os que estão aí em demasia estragam a vida. Tirem-os desta com o engodo da eterna.”
Ninguém antecipou o século XX com tanta lucidez quanto Nietzsche, e temos o seu veredito: “A primeira melhor coisa é não nascer; a segunda é morrer logo”.
Todo homem possui sua finalidade particular, de modo que mil direções correm, umas ao lado das outras, em linhas curvas e retas; elas se entrecruzam, se favorecem ou se entravam, avançam ou recuam e assumem desse modo, umas com relação às outras, o caráter do acaso, tornando assim impossível, abstração feita das influências dos fenômenos da natureza, a demonstração de uma finalidade decisiva que abrangeria nos acontecimentos a humanidade inteira.
Nunca ouviram falar do louco que acendia uma lanterna em pleno dia e
desatava a correr pela praça pública gritando sem cessar: “Procuro Deus! Procuro
Deus!” Mas como havia ali muitos daqueles que não acreditam em Deus, o seu
grito provocou grande riso. “Ter-se-á perdido como uma criança” dizia um. “Estará
escondido?” Terá medo de nós? Terá embarcado? Terá emigrado?” Assim gritavam
e riam todos ao mesmo tempo. O louco saltou no meio deles e trespassou-os com
o olhar. “Para onde foi Deus?” Exclamou, é o que lhes vou dizer. Matamo-lo…
vocês e eu! Somos nós, nós todos, que somos seus assassinos! Mas como fizemos
isso? Como conseguimos isso? Como conseguimos esvaziar o mar? Quem nos deu
uma esponja para apagar o horizonte inteiro? Que fizemos quando desprendemos
a corrente que ligava esta terra ao sol? Para onde vai ela agora? Para onde vamos
nós próprios? Longe de todos os sóis? Não estaremos incessantemente a cair? Para
adiante, para trás, para o lado, para todos os lados? Haverá ainda um acima, um
abaixo? Não estaremos errando através de um vazio infinito? Não sentiremos na
face o sopro do vazio? Não fará mais frio? Não aparecem sempre noites? Não será
preciso acender os candeeiros logo de manhã? Não ouvimos ainda nada do barulho
que fazem os coveiros que enterram Deus? Ainda não sentimos nada da
decomposição divina… ? Os deuses também se decompõem! Deus morreu! Deus
continua morto! E fomos nós que o matamos! Como haveremos de nos consolar,
nós, assassinos entre os assassinos! O que o mundo possui de mais sagrado e de
mais poderoso até hoje sangrou sob o nosso punhal. Quem nos há de limpar desde
sangue? Que água nos poderá lavar? Que expiações, que jogo sagrado seremos
forçados a inventar? A grandeza deste ato é demasiado grande para nós. Não será
preciso que nós próprios nos tornemos deuses para, simplesmente, parecermos
dignos dela? Nunca houve ação mais grandiosa e, quaisquer que sejam, aqueles
que poderão nascer depois de nós pertencerão, por causa dela, a uma história mais
elevada do que, até aqui, nunca o foi qualquer história.
“O amamos no outro é o desejo e não o desejado, por isso quando acaba o desejo acaba o amor”.
(No livro de Irvin D. Yalom – “Quando Nietzsche chorou”- diálogo entre o personagem “Nietzsche” o “Dr. Breuer”).
Gradualmente foi se revelando para mim o que toda grande filosofia foi até o momento: a confissão pessoal de seu autor, uma espécie de memórias involuntárias e inadvertidas; e também se tornou claro que as intenções morais (ou imorais) de toda filosofia constituíram sempre o germe a partir do qual cresceu a planta inteira.
A independência é o privilégio dos fortes, da reduzida minoria que tem o calor de auto-afirmar-se. E aquele que traia de ser independente, sem estar obrigado a isso, mostra que não apenas é forte mas também possuidor de uma audácia imensa.
Aventura-se num labirinto, multiplica os mil perigos que implica a vida; se isola e se deixa arrastar por algum minotauro oculto na caverna de sua consciência. Se tal homem se extinguisse estaria tão longe da compreensão dos homens que estes nem o sentiriam nem se comoveriam em absoluto. Seu
caminho está traçado, não pode voltar atrás, nem sequer lograr a compaixão dos seres humanos.
No fundo, existiu um único cristão, e este morreu na cruz.
A mulher foi o segundo erro de Deus.
Somente o homem experimentado, o homem superior, pode escrever a história. Quem não tenha feito algumas experiências maiores e mais elevadas do que as de todos os outros homens não poderá jamais interpretar a grandeza e a elevação no passado. A voz do passado é sempre uma voz de oráculo.
Was mich nicht umbringt, macht mich stark.
..Como foi bom não ter ficado “em casa”, “sob seu teto”, como um delicado e embotado inútil! Ele estava fora de si, não há dúvida! Que felicidade mesmo no cansaço, na velha doença, nas recaídas do convalescente! Como lhe agrada estar quieto a sofrer, tecer paciência, jazer a sol!
Falar diretamente “quero isto, fiz isto” e coisas assim; ou seja, porque a vida de imposição e da autoridade é mais segura que a astúcia.
É impossível sofrer sem fazer alguém pagar por isso; todas as queixas já contém vingança.
Insanidade em indivíduos é algo raro – mas em grupos, partidos, nações e épocas, é a regra.
Nós muitas vezes se recusam a aceitar uma idéia simplesmente porque o tom de voz em que foi expresso é antipático para nós.
O amor é cego; a amizade fecha os olhos.
A mentira mais comum é a que uma mente para si mesmo; mentir aos outros é relativamente uma exceção.
Tão poderosos sentimentos que os dominam também os transformam, e assim já imaginam que morrem para renascer os gênios da natureza, como sátiros.
Queres marchar, meu irmão, à solidão? Queres buscar o caminho que leva a ti mesmo? Detém-te um pouco e escuta-me. “Aquele que busca, facilmente se perde a si mesmo. Todo ir-se à solidão é culpa”: assim fala o rebanho. E tu formaste parte do rebanho durante muito tempo. A voz do rebanho continuará ressonando dentro de ti. E quando disseres “eu já não tenho a mesma consciência que vós”, isso será um lamento e uma dor.
Aquilo que chamamos de consciência, não interpreta, nem esclarece, mas tenta descrever aquilo que se mostra, sendo, portanto, “um comentário mais ou menos fantástico, sobre um texto não sabido, porém sentido”.
“Os piores leitores são aqueles que procedem como soldados saqueadores: apoderam-se aqui e ali daquilo que podem utilizar, sujam e bagunçam o resto e cobrem tudo com seus ultrajes.”
Quem quiser me seguir, não me siga.
Vede, pois esses supérfluos! Roubam as obras dos inventores e os tesouros dos sábios; chamam a civilização a seu latrocínio, e tudo para eles são doenças e contratempo. Vede, pois, esses supérfluos. Estão sempre doentes; expelem a bílis, e a isso chamam periódicos. Devoram-se e nem sequer se podem dirigir.
(…)Duas vezes perigosa para um povo que gosta da bebida e preza a obscuridade como se fosse uma virtude, perigosa por causa da sua dupla propriedade de narcótico que produz a embriaguez e envolve o espírito em vapores nebulosos.
Salvar o passado no homem e transformar tudo “o que foi” até a vontade de dizer: “Mas eu queria que fosse assim! Assim o hei de querer!”
Meus irmãos, alguém olhou uma vez o coração dos homens de bem e dos justos, e disse: “São os fariseus”. Ninguém, porém, entendeu.
Os homens de bem e os próprios justos não deveriam compreender isso. O espírito deles é um prisioneiro de sua consciência. A loucura dos homens de bem é de uma insondável prudência.
Se alguma vez descobri céus tranqüilos sobre mim voando com minhas próprias asas em meus próprio céu; se nadei, brincando em profundos lagos de luz e se minha liberdade conquistou uma sabedoria de ave, mas assim fala a sabedoria de ave: “Olha! Não é alto nem baixo! Lança-te em volta, para diante, para trás, leve como és! Canta! Não fales mais!
Todas as palavras não foram feitas para os que são pesados? Não mentem todas as palavras ao que é leve? Canta! Não fales mais!
Admitindo, todavia, que existe alguém que chega a considerar como paixões essenciais da vida ao ódio, inveja, cobiça e comando, como principias fundamentais da vida, como algo que lia economia de vida deve existir fundamental e essencialmente e que por conseguinte deve ser ainda intensificado se se deseja intensificar a vida, este homem sofrerá algo como um enjôo devido à orientação de seu próprio juízo. Contudo esta hipótese não é mais penosa e a mais estranha, neste imenso domínio quase virgem do conhecimento, do qual todos têm mil e uma boas razões para se manterem à distância…, se podem. Nosso barco sofre a tormenta! Serremos os dentes! Vigilantes! Firmes no leme! Naveguemos em linha reta acima da moral! Porém, apesar de tudo decidisses conduzir vossa nau a essas praias, então só vos resta o remédio de manter esse valor, ficar alerta e manter firme o timão. Que importa nosso destino! Nunca até agora encontraram os navegantes, intrépidos e aventureiros — um mar de conhecimentos mais profundos e o psicólogo que faz tais “sacrifícios” (este não é o sacrilizio dell’in telletto)
Suponto, porém, que alguém tome os afetos de ódio, inveja, cupidez, ânsia de domínio e querer vencer sempre, como afetos que condicionam a vida, como algo que tem de estar presente, por princípio e de modo essencial, na economia global da vida, e em consequência deve ser realçado, se a vida é para ser realçada – esse alguém sofrerá com tal orientação do seu julgamento como quem sofre de enjôo do mar.
No entanto, mesmo essa hipótese está longe de ser a mais dolorosa e mais estranha desse desmesurado, quase inexplorado reino de conhecimentos perigosos; e existe, de fato, uma centena de boas razões para que dele mantenha distância todo aquele que – puder! Por outro lado, se o seu navio foi desviado até esses confins, muito bem: Cerrem os dentes ! Olhos abertos ! Mão firme no leme ! – navegamos diretamente sobre a moral e além dela, sufocamos, esmagamos talvez nosso próprio resto de moralidade, ao ousar fazer a viagem até la – mas que importa nós ! Jamais um mundo tão profundo de conhecimento se revelou para navegantes e aventureiros audazes: e o psicólogo, que desse modo “traz um sacrifício” – que não é o ‘sacrifizio dell’intelletto’, pelo contrário! – poderá ao menos reivindicar, em troca, que a psicologia seja novamente reconhecida como rainha das ciências.
Curiosa simplificação e falsificação vive o homem! Impossível se maravilhar o bastante, quando se abrem os olhos para esse prodígio
Cumpre colocar-se apenas nas situações onde não é permitido ter falsas virtudes, mas onde, como o dançarino sobre a corda, caímos ou nos equilibramos, – ou ainda conseguimos tapear…
Há casos em que somos como os cavalos, nós os psicólogos. A inquietude se apodera de nós porque vemos nossa própria sombra balançar diante de nós. O psicólogo deve desviar-se de si próprio para conseguir se ver.
Apenas onde o Estado termina, começa o ser humano que não é supérfluo.
Quem quer que tu sejas, amado estranho, a quem eu encontro aqui pela primeira vez, aproveita esta hora feliz e a quietude que nos rodeia e acima de nós, e deixa-me dizer-te algo do pensamento que subitamente surgiu diante de mim como uma estrela que fracamente lançaria raios sobre ti e sobre cada um, como convém à natureza da luz. – Companheiro! Toda a sua vida, como uma ampulheta, sempre será revertida e se esgotará novamente – um longo minuto transcorrerá até que todas as condições das quais você evoluiu retornem na roda do processo cósmico. E então você encontrará toda dor e todo prazer, todo amigo e todo inimigo, toda esperança e todo erro, toda folha de grama e todo raio de sol mais uma vez, e todo o tecido das coisas que compõem sua vida. Esse anel em que você é apenas um grão brilhará novamente para sempre. E em todos esses ciclos da vida humana, haverá uma hora em que, pela primeira vez, um homem, e então muitos, perceberão o poderoso pensamento da eterna recorrência de todas as coisas: – e para a humanidade, essa é sempre a hora do Meio-dia.
Quem tem filho grande é elefante.
Morrer pela “verdade”. — Não nos deixaríamos queimar por nossas opiniões: não somos tão seguros delas; mas talvez por podermos ter e alterar nossas opiniões”
“O que é a verdade, portanto? Um batalhão móvel de metáforas, metonímias, antropomorfismos, enfim, uma soma de relações humanas, que foram enfatizadas poética e retoricamente, transpostas, enfeitadas, e que, após longo uso, parecem a um povo sólidas, canônicas, e obrigatórias: as verdades são ilusões, das quais se esqueceu que o são, metáforas que se tornaram gastas e sem força sensível, moedas que perderam sua efígie e agora só entram em consideração como metal, não mais como moedas
vou dizer qual é o pensamento que deve tornar-se a razão, a garantia e a doçura de toda a minha vida! É aprender cada vez mais a ver o belo na necessidade das coisas: é assim que serei sempre daqueles que tornam as coisas belas. Amor fati: seja esse de agora em diante o meu amor. Não quero fazer guerra ao feio. Não quero acusar nem mesmo os acusadores. Desviarei o meu olhar, será essa, de ora em diante, a minha única negação! E, numa palavra final, não quero, a partir de hoje, ser outra coisa senão um afirmador.
A menor verdade, logo que ela pertença propriamente a alguém, torna feliz aquele que a descobriu.
Este mundo da perspectiva, este mundo para o olho, o tato e a audição é muito falso, quando comparado com um mundo percebido por um aparelho sensório muito mais DELICADO
Vontade – eis o nome do libertador e mensageiro da alegria: assim vos ensinei eu, meus amigos.
Minha fórmula para a grandeza do homem é amor-fati.
Assim como disseram Heráclito, Nietzsche também consideram que tudo é devir. não há ser nem essência permanentes, nem Deus, nem Satanás. a única realidade objectiva é o mundo material e sensível, e o cerne dessa realidade é o devir perpétuo, o eterno retorno, a embriaguez dionisíaca, a vontade de poder.
Entendo o filósofo como um terrível corpo explosivo diante do qual tudo corre perigo” – Nietzsche, Ecce homo, as Extemporâneas, §3
Um passo adiante na convalescença: e o espírito livre se aproxima outra vez da vida, lentamente sem dúvida, quase recalcitrante, quase desconfiado. Fica outra vez mais quente ao seu redor, mais amarelo, por assim dizer; sentimento e simpatia adquirem profundeza, brisas de degelo de toda espécie passam por sobre ele. Quase se sente como se somente agora seus olhos se abrissem para o perto. Está admirado e se senta quieto: onde estava? Essas coisas próximas e muito próximas: como lhe parecem mudadas! Que plumagem e feitiço adquiriram nesse meio-tempo! Ele olha com gratidão para trás – grato a sua andança, a sua dureza e estranhamento de si, a seu olhar à distância e a seu voo de pássaro em frias altitudes. Que bom que ele não permaneceu, como alguém delicado, embotado, que fica em seu canto, sempre “em casa”, sempre “junto de si”! Ele estava fora de si: não há dúvida nenhuma. Somente agora vê a si mesmo – e que surpresas encontra nisso! Que arrepio nunca provado! Que felicidade ainda no cansaço, na velha doença, na recaída do convalescente! Como lhe agrada sentar-se quieto sofrendo, urdir paciência, estar deitado ao sol! Quem entende igual a ele, de felicidade de inverno, de manchas de sol sobre o muro! São os animais mais gratos do mundo, e também os mais humildes, estes convalescentes e lagartos semi-voltados outra vez à vida: – há entre eles os que não deixam partir nenhum dia sem pedrar-lhe um pequeno hino de louvor na orla do manto que se afasta. E, falando sério: há uma cura radical contra todo pessimismo (o câncer dos velhos idealistas e heróis da mentira, como é sabido -), no modo de esses espíritos livres ficarem doentes, por um tempo permanecerem doentes e então, ainda mais longamente, mais longamente ainda, ficarem sadios, quero dizer, “mais sadios”. Há sabedoria nisso, sabedoria de vida, em receitar-se a saúde mesma somente em pequenas doses.
“O que quer que tenha valor no mundo de hoje não o tem em si, conforme sua natureza – a natureza é sempre isenta de valor: – foi-lhe dado, oferecido um valor, e fomos nós esses doadores e ofertadores!”
“When marrying, ask yourself this question: Do you believe that you will be able to converse well with this person into your old age? Everything else in marriage is transitory.”
Que não se venha a cometer nenhuma covardia contra as próprias ações! Que não as abandonemos em seguida! O remorso é indecente.
Todas as coisas que duram muito tempo de tal modo se impregnam aos poucos da razão que a origem que tiram da desrazão se torna inverossímil. A história exata de uma origem não é quase sempre sentida como paradoxal e sacrílega? O bom historiador não está, no fundo, incessantemente em contradição com o seu meio?
Entre as condições de vida poderia estar o erro.
“É necessário dizer quem consideramos nossos adversários: os teólogos e tudo que tem sangue teológico correndo em suas veias — essa é toda a nossa filosofia… Enquanto o padre, esse negador, caluniador e envenenador da vida por profissão for aceito como uma variedade de homem superior, não poderá haver resposta à pergunta:
(O Anticristo)
E nenhuma chama nos devora tão rapidamente quanto os afetos do ressentimento
A moral aparece como aquilo que ela é, (…) como autêntica envenenadora e caluniadora da vida.
Amor Fati: seja este doravante, o meu amor.
Ao Deus Desconhecido
Antes de prosseguir no meu caminho
E lançar o meu olhar para frente
Uma vez mais elevo, só, minhas mãos a Ti,
Na direção de quem eu fujo.
A Ti, das profundezas do meu coração,
Tenho dedicado altares festivos,
Para que em cada momento
Tua voz me possa chamar.
Sobre esses altares está gravada em fogo
Esta palavra: “ao Deus desconhecido”
Eu sou teu, embora até o presente
Me tenha associado aos sacrílegos.
Eu sou teu, não obstante os laços
Me puxarem para o abismo.
Mesmo querendo fugir
Sinto-me forçado a servir-Te.
Eu quero Te conhecer, ó Desconhecido!
Tu que que me penetras a alma
E qual turbilhão invades minha vida.
Tu, o Incompreensível, meu Semelhante.
Quero Te conhecer e a Ti servir.
Artigo Quinto da lei contra o Cristianismo – Comer na mesma mesa que um padre é proibido: quem o fizer será excomungado da sociedade honesta. O padre é o nosso chandala – ele será proscrito, lhe deixaremos morrer de fome, jogá-lo-emos em qualquer espécie de deserto.
Deus está morto. Viva Perigosamente. Qual o melhor remédio? – Vitória!
Não nos deixemos enganar: grandes espíritos são céticos.
Além disso não podemos mais voltar ao antigo, já queimamos o barco; só nos resta ser corajosos, aconteça o que acontecer.
“Tudo o que é inocente, é inocente de sua pequenez.”
O que decorre disto? Que o melhor a fazer é colocar luvas quando se lê o Novo Testamento. A proximidade de tanta imundície quase nos obriga a tanto.
Assim como os filósofos, nossos erros foram causados pela ignorância das próprias motivações.
Alegamos como eles, que de modo a descobrir a verdade, deve-se primeiro conhecer totalmente a si mesmos
Um casamento no qual um quer alcançar um objetivo individual através do outro se conserva bem; por exemplo, quando a mulher quer se tornar famosa através do homem, e o homem quer se tornar amado através da mulher.
Por amor, as mulheres se transformam naquilo que são na mente dos homens por quem são amadas.
O intelecto das mulheres se manifesta como perfeito domínio, presença de espírito, aproveitamento de toda vantagem. Elas o transmitem aos filhos, como sua característica fundamental, e a isso o pai acrescenta o fundo mais obscuro da vontade. A influência dele determina, por assim dizer, o ritmo e a harmonia com que a nova vida deve ser tocada; mas a melodia vem da mulher.
Após uma desavença e disputa pessoal entre uma mulher e um homem, uma parte sofre mais com a ideia de ter magoado a outra; enquanto esta sofre mais com a ideia de não ter magoado o outro o bastante, e por isso se empenha depois, com lágrimas, soluços e caras feias, em lhe amargurar o coração.
Sempre se perde no relacionamento íntimo demais com mulheres e amigos; às vezes se perde a pérola de sua própria vida.
Quando uma mulher tem inclinações eruditas, geralmente há algo errado com sua sexualidade. Já a esterilidade predispõe a uma certa masculinidade do gosto; pois o homem é, permitam-me lembrar, “o animal estéril”.
Para que haja arte, para que haja uma ação ou uma contemplação estética qualquer, uma condição fisiológica preliminar é indispensável: a embriaguez.
Em resumo, o homem se reflete nas coisas, tudo aquilo que espelha sua imagem lhe parece belo: o juízo “belo” é sua vaidade da espécie…
“… O valor que damos ao infortúnio é tão grande que, se dizemos a alguém “Como você é feliz!”, em geral somos contestados…!”
Se não existem fatos, mas interpretações dos fatos, o passado pode ser modificado na medida em que podemos mudar a representação dos fatos acontecidos
Não se pode entusiasmar as naturezas fleumáticas sem fanatiza-las.
O Evangelho morreu na cruz.
Quando se vive só não se fala muito alto, não se escreve também muito alto: receia-se o eco, o vazio do eco, a crítica da ninfa Eco. A solidão modifica as vozes.
Deixe de lado quem te deixou de lado.
Pare de se preocupar com quem não se preocupa com você.
Tem tanta gente nesse mundo e com certeza, pessoas interessantes.
Gente que ainda não conhece essa pessoa maravilhosa que você é.
Pessoas que sentirão uma afinidade imensa com você.
Por quê ficar esperando coisas de quem não tá nem ai com você?
Por quê chorar pelo vazio de quem está seco de sentimentos?
A vida tem essa mágica de fazer brotar amor onde menos esperamos.
Desde que estejamos prontos para viver o amor.
Quem se prende em árvores secas e relações imaturas,
perde a grande oportunidade de viver o amor em sua plenitude.
Se o relacionamento não deu certo, pode apostar:
não era para dar, não tinha liga, não tinha futuro.
Aposte no agora!
Nesse momento, nessa hora.
Hora de crescer, valorizar-se e ser feliz.
Simples assim: gosto mais de quem gosta de mim!
O homem é uma corda estendida entre o animal e o super-homem – uma corda sob o abismo. É o perigo de transpô-lo, o perigo de estar a caminho, o perigo de olhar para trás, o perigo de tremer e parar. O que há de grande do homem é ser ponte e não ser meta: o que pode amar-se, no homem, é ser uma transição e um ocaso. Amo os que não sabem viver senão no ocaso, porque estão a caminho do outro lado!
(Assim Falou Zaraustra)
Deixemos pois de pensar mais em punir, em censurar e em querer melhorar! Não seremos capazes de modificar um único homem; e se alguma vez o conseguíssemos seria talvez, para nosso espanto, para nos darmos também conta de outra coisa: é que teríamos sido nós próprios modificados por ele! Procuremos antes, por isso, que a nossa influência se contraponha e ultrapasse a sua em tudo o que está para vir! Não lutemos em combate direto… qualquer punição, qualquer censura, qualquer tentativa de melhoria representa combate direto. Elevemo-nos, pelo contrário, a nós próprios muito mais alto. Façamos sempre brilhar de forma grandiosa o nosso exemplo. Obscureçamos o nosso vizinho com o fulgor da nossa luz. Recusemo-nos a nos tornar, a nós próprios, mais sombrios por amor dele, como todos os castigadores e todos os descontentes! Escutemo-nos, antes, a nós. Olhemos para outro lado.
É da fé que derivam as mais poderosas fontes de energia
Embora poucas pessoas o saibam, deve-se ter todas as virtudes para dormir bem.
“Qual é a tarefa de todo ensino mais elevado?” – Tornar o homem uma máquina. – “Qual o meio para tanto?” – Ele precisa aprender a entediar-se. – “Como se alcança um tal estágio?” – Através do conceito de dever.
A minha doutrina ensina: “Viva de forma a ter de desejar reviver – é o dever -, pois, em todo caso, você reviverá: aquele para quem o esforço é a alegria suprema, que se esforce; aquele que ama antes de tudo o repouso, que repouse; aquele que ama antes de tudo se submeter, obedecer e seguir, que obedeça. Mas que saiba para o que dirige sua preferência, e não recue diante de nenhum meio! É a eternidade que está em jogo”.
Se vivemos próximos demais a uma pessoa, é como se repetidamente tocássemos uma boa gravura com os dedos nus: um dia teremos nas mãos um sujo pedaço de papel, e nada além disso. Também a alma de uma pessoa, ao ser continuamente tocada, acaba se desgastando; ao menos assim ela nos parece afinal — nós nunca mais vemos seu desenho e sua beleza originais. — Sempre se perde no relacionamento íntimo demais como mulheres e amigos; às vezes se perde a pérola de sua própria vida.
O grande segredo para colher da existência o mais fecundo e o maior prazer é viver perigosamente.
Não pelo fato de me teres mentido, mas por não poder acreditar-te, é que me agonio.
Vivei assim a vossa vida de obediência e de guerra
Nós éramos amigos e nos tornamos estranhos um para o outro. Mas está bem que seja assim, e não vamos ocultar e obscurecer isto, como se fosse motivo de vergonha. Somos dois navios que possuem, cada qual, seu objetivo e seu caminho; podemos nos cruzar e celebrar juntos uma festa, como já fizemos – e os bons navios ficaram placidamente no mesmo porto e sob o mesmo sol. Parecendo haver chegado ao seu destino e ter tido um só destino. Mas, então, a todo-poderosa força de nossa missão nos afastou novamente, em direção a mares e quadrantes diversos, e talvez nunca mais nos vejamos de novo – ou talvez nos vejamos, sim, mas sem nos reconhecermos: os diferentes mares e sóis nos modificaram! Que tenhamos de nos tornar estranhos um para o outro é da lei acima de nós: justamente por isso deve-se tornar mais sagrado o pensamento de nossa antiga amizade! Existe provavelmente uma enorme curva invisível, uma órbita estelar em que nossas tão diversas trilhas e metas estejam incluídas como pequenos trajetos – elevemo-nos a esse pensamento! Mas nossa vida é muito breve e nossa vista muito fraca, para podermos ser mais que amigos no sentido dessa elevada possibilidade. – E assim crer em nossa amizade estelar, ainda que tenhamos de ser inimigos na Terra.
Não há no mundo amor e bondade bastantes para que ainda possamos dá-los a seres imaginários.
(Extraído do livro em PDF: 100 aforismos sobre o amor e a morte. Pág. 8)
Tratar todos com igual benevolência e ser bom sem distinção de pessoa pode ser decorrência tanto de um profundo desprezo como de um sólido amor à humanidade.
(em 100 aforismos sobre o amor e a morte)
Um atestado de amor
Alguém disse: “Acerca de duas pessoas nunca refleti profundamente: é o atestado de meu amor por elas”.
(do livro em PDF: 100 aforismos sobre o amor e a morte )
Os piores leitores. — Os piores leitores são os que agem como soldados saqueadores: retiram alguma coisa de que podem necessitar, sujam e desarranjam o resto e difamam todo o conjunto.
(do livro em PDF: Demasiado Humano)
Em nome do céu, nega-se a terra.
Todos os instintos que não se descarregam para fora voltam-se para dentro – isto é o que chamo de interiorização do homem é assim que no homem cresce o que depois se denomina sua ‘alma’” (…) “Esta é a origem da má-consciência.
(NIETZSCHE. 2005. p. 73. Afor 16).
É frequente contradizermos uma opinião quando, na realidade, apenas o tom com que foi exposta nos é antipático.
Quem dá um grande presente não acha gratidão, pois para o presenteado já é um fardo aceitar.
Uma época feliz é completamente impossível, porque as pessoas querem desejá-la, mas não tê-la, e todo indivíduo, em seus dias felizes, chega quase a implorar por inquietude e miséria.
Pessoas que compreendem algo em toda a sua profundeza raramente lhe permanecem fiéis para sempre.
É a partilha da alegria, não do sofrimento, o que faz o amigo.
A melhor maneira de começar o dia é, ao acordar, imaginar se nesse dia não podemos dar alegria a pelo menos uma pessoa.
O homem é um rio turvo. É preciso ser um mar para, sem se toldar, receber um rio turvo.
Temos a arte para não sucumbirmos junto à verdade.
Elogiamos ou criticamos de acordo com a maior oportunidade que o elogio ou a crítica oferecem para fazer brilhar a nossa capacidade de julgamento.
A chama não é tão luminosa para si como para as outras que ela ilumina: da mesma forma o sábio.
Esquecemos nossa culpa quando a confessamos a outro alguém; mas geralmente o outro não a esquece.
A grande conquista da humanidade, até agora, é não precisarmos mais temer continuamente os animais selvagens, os bárbaros, os deuses e os nossos sonhos.
Sentimento de ódio só pode nascer da impotência.
Percebendo a aberração do raciocínio e da imaginação, deixa-se de ser cristão.
O homem prefere querer o nada a nada querer.
Que importa um pensador, se ocasionalmente não sabe escapar de suas próprias virtudes?
Quantas ações genuinamente individuais são omitidas porque, antes de fazê-las, percebemos ou suspeitamos que serão mal compreendidas!
O socialismo é o fantasioso irmão mais jovem do quase decrépito despotismo, do qual quer herdar; suas aspirações são, portanto, no sentido mais profundo, reacionárias. Pois ele deseja uma plenitude de poder estatal como só a teve alguma vez o despotismo, e até mesmo supera todo o passado por aspirar ao aniquilamento formal do indivíduo: o qual lhe aparece como um injustificado luxo da natureza e deve ser transformado e melhorado por ele em um órgão da comunidade adequado a seus fins”.
Eu aprendi a andar; por conseguinte corro. Eu aprendi a voar; por conseguinte não quero que me empurrem para mudar de sitio.
Uma profissão é a espinha dorsal da vida.
Uma coisa é necessário ter: um espírito leve por natureza ou um espírito aliviado pela arte e pelo saber.
Muitas vezes ri dos fracotes que se creem bons porque têm patas aleijadas!
Existem, por certo, inúmeras verdades, e pontes, e semideuses que se oferecerão para levar-te do outro lado do rio; mas isso te custaria a tua própria pessoa, tu te hipotecarias e te perderias.
O Ocidente e o Oriente são linhas imaginárias que alguém traça com um giz diante dos nossos olhos, para enganar a nossa pusilanimidade.
O que proporcionam os escabrosos caminhos que nos conduzem para trás? O essencial neles não é o retrocesso, mas o fato de que desejem caminhar sozinhos. Com pouco mais de vigor, coragem, sentido artístico, poderiam ir além, e não para trás.
Quero cada vez mais aprender a ver como belo aquilo que é necessário nas coisas – assim me tornarei um daqueles que fazem belas coisas.Amor fati[amor ao destino]: seja este, doravante, o meu amor! Não quero fazer guerra ao que é feio. Não quero acusar, não quero nem mesmo acusar os acusadores. Que minha única negação seja desviar o olhar! E, tudo somado e em suma: quero ser, algum dia, apenas alguém que diz Sim!
Primeiro equívoco de Deus: o homem não achou divertidos os animais – dominou sobre eles, nem sequer quis ser «animal». Deus criou, então, a mulher. E, efectivamente, cessou o tédio, mas também ainda muitas outras coisas! A mulher foi o segundo erro de Deus. «A mulher é, por essência, uma serpente, Eva». Todo o sacerdote sabe isto; «pela mulher vem todo o mal ao mundo» – também isto o sabe todo o sacerdote. «Logo, a ciência também vem dela»…
Foi só pela mulher que o homem aprendeu a saborear a árvore do conhecimento. Que aconteceu? Um pânico de morte se apoderou do Deus antigo. O próprio homem tornara-se o seu maior erro, ele criara um rival, a ciência iguala a Deus: se o homem se torna científico, é o fim dos sacerdotes e dos deuses!
O anticristo
“O homem deve ser educado para a guerra e a mulher para prazer do guerreiro. Tudo o mais é loucura.”
O homem livre é guerreiro.
O mundo visto de dentro, o mundo determinado por seu “caráter inteligível” – seria justamente “vontade de potência”, e nada mais.
Quem alcançou em alguma medida a liberdade da razão, não pode se sentir mais que um andarilho sobre a Terra – e não um viajante que se dirige a uma meta final: pois esta não existe.
Eu encontrei em todas as coisas esta certeza feliz: elas preferem dançar sobre os pés do acaso.
Como pode alguém perceber a própria opinião sobre as coisas como uma revelação? Este é o problema da origem das religiões: a cada vez havia um homem no qual esse fato foi possível.
” O Valor da Vida não pode ser avaliado.”
O amor é estúpido e possui uma abundância cornucópia; dela retira os dons que distribui a cada pessoa, ainda que ela não os mereça, nem sequer os agradeça. Ele é imparcial como a chuva, que segundo a Bíblia e a experiência, molha até os ossos não apenas o injusto, mas ocasionalmente também o justo.
Todo amor é o amor próprio!!
Quando se despreza não se pode fazer a guerra; quando se comanda, quando se vê algo abaixo de si, não há que fazer a guerra.
Começa-se a desconfiar das pessoas muito prudentes quando elas se mostram embaraçadas.
O sinal mais inequívoco de desprezo pelo homem é considerar todos meramente como meios para os próprios fins.
“Há mais sabedoria em seu corpo do que em sua filosofia mais profunda.”
(Assim falou Zaratustra)
” As pessoas se irritam com aqueles que adotam padrões de vida muito individuais;elas se sentem humilhadas, reduzidas a seres ordinários, com o tratamento extraordinário que eles dispensam a si mesmos.”
Não é arte pequena dormir: requer passar o dia inteiro acordado.
Dez vezes é preciso superar-se durante o dia: isso gera um bom cansaço e é papoula para a alma.
Dez vezes é preciso reconciliar-te contigo mesmo; pois superação é amargura, e dorme mal o não reconciliado.
Dez verdades tens de achar durante o dia: senão buscas ainda verdades durante a noite, tua alma permaneceu faminta.
Dez vezes tens de rir e ser jovial durante o dia: senão és incomodado à noite pelo estômago, esse pai das aflições.
Poucos o sabem, mas é preciso ter todas as virtudes para dormir bem.
Os pesos de todas as coisas precisam ser novamente determinados.
A Propósito da Clareza
Quando se escreve é não somente para ser compreendido, mas também para não o ser. Um livro não fica diminuído pelo facto de um indivíduo qualquer o achar obscuro: esta obscuridade entrava talvez nas intenções do autor, não queria ser compreendido por qualquer bicho careta. Qualquer espírito um pouco distinto, qualquer gosto um pouco elevado escolhe os seus auditores; ao escolhê-los fecha a porta aos outros. As regras delicadas de um estilo nascem todas daí; são feitas para afastar, para manter a distância, para condenar o «acesso» de uma obra; para impedir alguns de compreender, e para abrir o ouvido aos outros, os tímpanos que nos são parentes.
A chave. Aquele pensamento ao qual, sob o riso e o escárnio dos MEDÍOCRES, um homem eminente dá grande valor, é para ele uma chave de tesouros secretos, e para aqueles apenas um pedaço de ferro velho.
O pior inimigo, todavia, que poderá encontrar é tu mesmo. Nas cavernas e nos bosques és tu que te espreitas a ti mesmo.
Solitário, tu segues o caminho que te conduz a ti mesmo! E por teu caminho desfilam diante de ti tu mesmo e teus sete demônios.
Serás herege para ti mesmo, serás feiticeiro e adivinho, doido, incrédulo, ímpio e malvado.
É preciso que sintas a necessidade de consumir-te em tua própria chama. Como querias renascer sem primeiro te conduzires a cinzas?
Não queremos que os nossos inimigos nos tratem com indulgência, nem tão pouco aqueles a quem amamos de coração. Deixai-me, portanto, dizer-vos a verdade!
Irmãos na guerra! Amo-vos de todo o coração; eu sou e era vosso semelhante. Também sou vosso inimigo. Deixai-me, portanto, dizer-vos a verdade!
Conheço o ódio e a inveja do vosso coração. Não sois bastante grandes para não conhecer o ódio e a inveja. Sede, pois, bastante grandes para não vos envergonhardes disso!
E se não podeis ser os santos do conhecimento, sede ao menos os seus guerreiros. Eles são os companheiros e os precursores dessa entidade.
Vejo muitos soldados; oxalá possa ver muitos guerreiros. Chama-se “uniforme” o seu traje; não seja, porém, uniforme o que esse traje oculta!
Vós deveis ser daqueles cujos olhos procuram sempre um inimigo, o vosso inimigo. Em alguns de vós se descobre o ódio à primeira vista.
Vós deveis procurar o vosso inimigo e fazer a vossa guerra, uma guerra por vossos pensamentos. E se o vosso pensamento sucumbe, a vossa lealdade, contudo, deve cantar vitória.
Deveis amar a paz como um meio de novas guerras, e mais a curta paz do que a prolongada.
Não vos aconselho o trabalho, mas a luta. Não vos aconselho a paz, mas a vitória. Seja o vosso trabalho uma luta! Seja vossa paz uma vitória!
Não é possível estar calado e permanecer tranqüilo senão quando se têm flechas no arco; a não ser assim questiona-se. Seja a vossa paz uma vitória!
Dizeis que a boa causa é a que santifica também a guerra? Eu vos digo: a boa guerra é a que santifica todas as coisas.
A guerra e o valor têm feito mais coisas grandes do que o amor do próximo. Não foi a vossa piedade mas a vossa bravura que até hoje salvou os náufragos.
Que é bom? — perguntais. — Ser valente. Deixai as raparigas dizerem: “Bom é o bonito e o meigo”.
Ao bom caçador convém boa caça!
Eis a minha formula para a grandeza do homem: “Amor Fati”, não querer nada de diferente do que é, nem no futuro, nem no passado, nem por toda a eternidade.
O desespero é o preço pago pela auto-consciência. Olhe profundamente para dentro da vida e vai sempre encontrar o desespero”.
(citação atribuída a Nietzsche por Irvin D. Yalom)
Alguns não conseguem afrouxar suas próprias algemas e, não obstante, conseguem libertar seus amigos…
Sempre gostei de me deter na presença de grandes mentes: talvez porque precise de modelos para meu próprio desenvolvimento; talvez porque só goste de colecioná-los…”.
As agitações e paixões da alma estão envolvidas pela vaidade. Ela é a pele da Alma.
O desespero é o preço pago pela auto convivência. Olhe profundamente para dentro da vida e encontrará sempre o desespero.
O que hoje sou, o lugar em que me encontro — a uma altura em que já não falo com palavras, mas com raios — oh! Como então estava ainda longe disso! — Mas eu percebia a Terra prometida — em nenhum instante me enganei sobre o caminho, o mar, os riscos — e o sucesso! A grande tranquilidade no prometer, a feliz visão em direção a um futuro que não há de ficar em simples promessa! — Aqui cada palavra é vivida, profunda, íntima; nem faltam coisas dolorosíssimas, havendo palavras que propriamente sangram. Mas um vento de grande liberdade sopra sobre tudo; a própria ferida não age como objeção.
Amor e Justiça
Por que superestimamos o amor em detrimento da justiça e dizemos dele as coisas mais belas, como se fosse algo muito superior a ela? Não será ele visivelmente mais estúpido? – Sem dúvida, mas justamente por isso mais agradável para todos. O amor é estúpido e possui uma abundante cornucópia; dela retira e distribui seus dons a cada pessoa, ainda que ela não os mereça, nem sequer os agradeça. Ele é imparcial como a chuva, que, segundo a Bíblia e a experiência, molha até os ossos não apenas o injusto, mas ocasionalmente também o justo.
A solidão, para alguns, é abrigo do doente. Para outros, a solidão é o abrigo contra o doente.
Ainda que tenham me ouvido tritar e suspirar com o frio do inverno, todos esses pobres diabos de olhos turvos que me rodeiam, com tais arrepios e suspiros, fujo de seus quartos aquecidos.
Podem muito bem lastimar e ter dó de mim por causa de minhas frieiras e que me desprezam dizendo: “Acabará por se congelar com o gelo do seu conhecimento!”
Eu, entretanto, corro de cá para lá, com os pés quentes, sobre meu Monte das Oliveiras. No recanto ensolarado de meu monte de oliveiras canto e escarneço de toda compaixão.
Um bom escritor possui não só o seu próprio espírito, mas também o espírito de seus amigos.
É bastante difícil lembrar minhas opiniões, sem lembrar também minhas razões por elas!
Comparando no todo o homem e a mulher, podemos dizer: a mulher não teria o gênio para o ornamento, não tivesse o instinto para o papel secundário.
As razões pelas quais se chamou este mundo de um mundo de aparências provam, pelo contrário, sua realidade. Uma outra realidade é absolutamente indemonstrável.
Só às almas mais espirituais, admitindo que sejam as mais corajosas, é dado viver as tragédias mais dolorosas: mas é por isso que estimam a vida, porque ela lhes opõe seu maior antagonismo.
Entre as coisas mais semelhantes é onde é mais bela a ilusão: porque é sobre o abismo pequeno que se torna difícil lançar uma ponte.
Uma vez tomada a decisão, tapar os ouvidos inclusive para as melhores contrarrazões: sinal de caráter forte. Portanto, uma ocasional vontade de tolice.
Jamais têm êxito as pobres mulheres que se tornam inquietas, inseguras e falam demais em presença daqueles que amam: pois é uma ternura discreta e fleumática que seduz mais seguramente os homens.
Virtudes Inconscientes
Todas as qualidades pessoais de que um homem tem consciência – sobretudo quando supõe que os que o rodeiam as vêem, que saltam aos olhos dos outros -, estão submetidas a leis da evolução completamente diferentes daquelas que regem as qualidades que ele conhece mal ou não conhece, as qualidades que a sua finura dissimula ao observador mais subtil e que parecem entrincheirar-se atrás da cortina do nada. Assim como a delicada gravura que esculpe a escama da serpente: seria um erro ver nela ou uma arma ou um ornamento, porque só é possível descobri-la ao microscópio, por consequência com um olho cuja potência é devida a tais artifícios que os animais para os quais ela teria por sua vez servido de arma ou de ornamento não possuem semelhante!
As nossas qualidade morais visíveis e, nomeadamente, aquelas que nós acreditamos serem tais, seguem o seu caminho; e as do mesmo nome que se não vêem, que não podem portanto servir-nos de arma ou de ornamento, seguem assim o seu caminho, provavelmente completamente diferente, decoradas de linhas, de finuras e de esculturas que poderiam talvez dar prazer a um deus munido com um microscópio divino. Eis por exemplo o nosso zelo, a nossa ambição, a nossa perspicácia: temo-los, toda a gente os conhece; mas não possuímos além disso o nosso zelo, a nossa ambição, a nossa perspicácia, escamas de réptil para as quais ainda se não encontrou nenhum microscópio? E eis os amigos da moralidade instintiva a gritar: «Bravo! Ao menos admite a possibilidade de virtudes instintivas!… Isso não basta!» Oh! como vos basta pouco!
Ébrio prazer é para o sofredor desviar de si o olhar de seu sofrimento e perder-se. Um ébrio prazer e um perder-se a si próprio pareceu-me outrora o mundo.
Vejo muitos soldados: quisera ver muitos guerreiros! “Uniforme” chama-se àquilo que vestem: que não seja uni-forme aquilo que com isso ocultam!
Tornar-se pensador. — Como pode alguém se tornar um pensador, se não passar ao menos um terço de cada dia sem paixões, pessoas e livros?
(do livro em PDF: Humano, demasiado humano Um livro para espíritos livres volume II)
Contra os fantasiosos. — O fantasioso nega a verdade para si mesmo; o mentiroso, apenas para os outros.
(do livro em PDF: Humano Demasiado)
Não é possível que um homem não tenha no corpo as características e predileções de seus pais e ancestrais: mesmo que as evidências afirmem o contrário.
Quem quiser colher felicidade e satisfação na vida, que evite sempre a cultura superior.
Se o ócio é realmente o começo de todos os vícios, então ao menos está bem próximo de todas as virtudes; o ocioso é sempre um homem melhor do que o ativo.
A nós, a arte grega ensinou-nos que não há nenhuma superfície verdadeiramente bela sem um fundo terrível.
A cultura não pode absolutamente dispensar as paixões, os vícios e as maldades.
”Prazer com uma coisa” é o que se diz: mas na verdade é o prazer consigo mesmo mediante uma coisa.
A coisa obscura e inexplicada é vista como mais importante do que a clara e explicada.
As pessoas que não podemos suportar procuramos tornar suspeitas.
Tendo seu “por quê?” da vida, o indivíduo tolera quase todo “como?”.
Bem-aventurados aqueles que esquecem, porque acabam esquecendo-se também da insensatez que cometeram.
Elogiamos ou censuramos, a depender de qual nos dá mais oportunidade de fazer brilhar nosso julgamento.
Uma alma que se sabe amada, mas não ama, revela seu sedimento: o que está no fundo vem à tona.
Uma alma que se sabe amada, mas não sabe retribuir, manifesta suas próprias profundezas: o que estava sepultado no fundo vem à tona.
Ninguém mais morre hoje de verdades mortais, há antídotos em demasia.
O destino do homem está projetado para momentos felizes – toda a vida os têm –, mas não para eras felizes.
A atração exercida pelo conhecimento seria bastante fraca, se para atingi-lo não fosse preciso vencer tantos pudores.
Deverás tornar-te Quem de fato És !
O que é bom? – Tudo o que eleva o sentimento de poder, a vontade de poder, o próprio poder no homem.
O que é mau? – Tudo o que vem da fraqueza.
O que é felicidade? – O sentimento de que o poder cresce, de que uma resistência é superada.
Não a satisfação, mas mais poder; sobretudo não a paz, mas a guerra; não a virtude, mas a capacidade (virtude à maneira da Renascença, virtù, virtude isenta de moralina).
Os fracos e malogrados devem perecer: primeiro princípio de nosso amor aos homens. E deve-se ajudá-los nisso.
O que é mais nocivo que qualquer vício? – A ativa compaixão por todos os malogrados e fracos – o cristianismo…
A nós, seres orgânicos, nada interessa originalmente numa coisa, exceto sua relação conosco no tocante ao prazer e à dor.
O melhor autor será aquele que tem vergonha de se tornar escritor.
A Sabedoria do Sofrimento
O sofrimento não tem menos sabedoria do que o prazer: tal como este, faz parte em elevado grau das forças que conservam a espécie. Porque se fosse de outra maneira há muito que esta teria desaparecido; o facto de ela fazer mal não é um argumento contra ela, é muito simplesmente a sua essência. Ouço nela a ordem do capitão: «Amainem as velas». O intrépido navegador homem deve treinar-se a dispor as suas de mil maneiras; de outro modo, não tardaria a desaparecer, o oceano havia de o engolir depressa. É preciso que saibamos viver também reduzindo a nossa energia; logo que o sofrimento dá o seu sinal, é chegado o momento; prepara-se um grande perigo, uma tempestade, e faremos bem em oferecer a menor «superfície» possível. Há homens, contudo, que, quando se aproxima o grande sofrimento, ouvem a ordem contrária e nunca têm ar mais altivo, mais belicoso, mais feliz do que quando a borrasca chega, que digo eu! E a própria tempestade que lhes dá os seus mais altos momentos! São os homens heróicos, os grandes «pescadores da dor», esses raros, esses excepcionais de que é necessário fazer a mesma apologia que se faz para a própria dor! Não lha podemos recusar! São conservadores da espécie, estimulantes de primeira qualidade, quando mais não seja porque resistem ao bem-estar e não escondem o seu desprezo por essa espécie de felicidade.
Friedrich Nietzsche, in “A Gaia Ciência”
Assim, para fora da minha verdade-loucura, eu mergulhei (…) Que eu seja exilado de toda a verdade! Somente um tolo! Somente um poeta.
Enfim, quando a tábua de sua alma estiver totalmente coberta de experiências, ele não desprezará nem odiará a existência, e tampouco a amará, mas estará acima dela, ora com o olhar da alegria, ora com o da tristeza, e tal como a natureza terá uma disposição ora estival ora outonal.
Quando o seu olhar tiver se tornado forte o bastante para ver o fundo, na escura fonte de seu ser e de seus conhecimentos, talvez também se tornem visíveis para você, no espelho dele, as distantes constelações das culturas vindouras.
Aquele que tem um porquê para viver pode suportar quase qualquer como.
Onde acaba o estado começa o homem que não é supérfluo.
A potência intelectual de um homem se mede pela dose de humor que ele é capaz de usar.
Quando colocamos a verdade de cabeça para baixo, geralmente não notamos que também nossa cabeça não se acha onde deveria estar.
O público facilmente confunde quem pesca em águas turvas com quem colhe das profundezas.
Onde a vontade de poder declina de alguma forma, há sempre uma involução fisiológica, uma décadence.
Não passa de um preconceito moral que a verdade tenha mais valor que a aparência; é inclusive a suposição mais mal demonstrada que já houve.
O homem moderno crê experimentalmente ora neste, ora naquele valor, para depois abandoná-lo; o círculo de valores superados e abandonados está sempre se ampliando; cada vez mais é possível perceber o vazio e a pobreza de valores; o movimento é irrefreável. (…) A história que estou relatando é a dos dois próximos séculos.
Naquele tempo levavas tuas cinzas para os montes, queres agora levar teu fogo para os vales?
É mais fácil lidar com sua má consciência do que com a sua má reputação.
Mas o pior inimigo que podes encontrar será sempre tu mesmo; espreitas a ti mesmo nas cavernas e florestas.
Existem alturas da alma de onde mesmo a tragédia deixa de ser trágica.
O corpo flexível e convincente, o dançarino cujo símbolo e epítome é a alma que se compraz em si. O prazer consigo desses corpos e almas chama a si mesmo ‘virtude’.
A felicidade do homem que conhece aumenta a beleza do mundo e torna mais ensolarado tudo o que há; o conhecimento põe sua beleza não só em torno das coisas, mas, com o tempo, nas coisas; que a humanidade vindoura dê testemunho dessa afirmação!
É preciso livrar-se do mau gosto de querer estar de acordo com muitos.
Ajude a ti mesmo: então todos te ajudarão. Princípio do amor ao próximo.
Existem dois tipos diferentes de pessoas no mundo, aqueles que querem saber e aqueles que querem acreditar.
A doutrina da igualdade! Não existe veneno mais venenoso: pois parece ser pregado pela justiça, enquanto é o fim da própria justiça.
Colocar-se apenas em situações em que não se pode ter virtudes aparentes, em que, como o funâmbulo sobre uma corda, ou se cai ou se fica em pé – ou se escapa…
A vida sedentária é justamente o pecado contra o santo espírito. Apenas os pensamentos andados têm valor.
Que importa que eu venha a ter razão? Eu tenho razão demais. – E quem hoje ri melhor também ri por último.
O que é bom? Tudo o que aumenta no homem o sentimento do poder, a vontade de poder, o próprio poder.
O que é mau? Tudo o que nasce da fraqueza. (…)
Os fracos e os fracassados devem perecer: primeiro princípio da nossa caridade. E há mesmo que ajudá-los a desaparecer!
O que é mais nocivo do que todos os vícios? A compaixão da ação por todos os fracassados e fracos: o Cristianismo…
A compaixão contradiz a lei da evolução, que é a lei da seleção. Conserva o que está maduro para o declínio, luta em prol dos deserdados e dos condenados pela vida; e, pela abundância dos fracassados de toda a espécie, que mantém vivos, confere à própria vida um aspecto sinistro e duvidoso.
Nenhum artista suporta o real. Qualquer artista, olhando para trás, tem a sincera opinião de que o verdadeiro valor de uma coisa é uma “sombra” que pode ser fixada nas cores, na forma, no som, no pensamento.
O que é a verdade para uma mulher? Desde o início, nada foi mais alheio, repugnante e hostil à mulher do que a verdade – sua grande arte é a mentira, sua preocupação máxima é a mera aparência e beleza. Confessemos nós, homens: reverenciamos e amamos precisamente esta arte e este instinto na mulher.
[Deve-se] morrer orgulhosamente quando já não é possível viver com orgulho.
O amor por um único ser é uma barbárie: porque acontece em detrimento de todos os outros seres. Mesmo o amor de Deus.
Quando se tem caráter ainda se tem na vida a própria aventura típica, que sempre se renova.
A loucura é rara em indivíduos, mas em grupos, partidos, nações e épocas, é a regra.
Quando o grande pensador despreza os homens, é a preguiça destes que ele despreza, pois é ela que dá a eles o comportamento indiferente das mercadorias fabricadas em série indignas de contato e ensino.
Há no mundo um único caminho sobre o qual ninguém, exceto tu, poderia trilhar. Para onde leva ele? Não perguntes nada, deves seguir este caminho
Admito que como teoria isso possa ser uma coisa nova. Porém, na verdade, esse é o fato substancialmente primitivo em toda a história, que se tenha, pelo menos, a coragem de ser sincero consigo mesmo.
O castigo tem a finalidade de melhorar aquele que castiga — este é o último recurso dos defensores do castigo.
Quanto sangue e quanto horror há no fundo de todas as “coisas boas”.
Aceitar uma crença simplesmente porque é um hábito aceitá-la – isso não seria agir de má fé, ser covarde, ser preguiçoso! – A má-fé, a covardia, a preguiça seriam, portanto, a condição primeira da moralidade?
Não permanecer preso a uma pessoa, porque toda pessoa é uma prisão.
Quando somos obrigados a mudar de opinião acerca de um indivíduo, fazemos com que pague muito caro o trabalho que custa uma tal mudança.
Oração ao Deus desconhecido
Antes de prosseguir no meu caminho
E lançar o meu olhar para frente
Uma vez mais elevo, só, minhas mãos a Ti,
Na direção de quem eu fujo.
A Ti, das profundezas do meu coração,
Tenho dedicado altares festivos,
Para que em cada momento
Tua voz me possa chamar.
Sobre esses altares está gravada em fogo
Esta palavra: “ao Deus desconhecido”
Eu sou teu, embora até o presente
Me tenha associado aos sacrílegos.
Eu sou teu, não obstante os laços
Me puxarem para o abismo.
Mesmo querendo fugir
Sinto-me forçado a servi-Te.
Eu quero Te conhecer, ó Desconhecido!
Tu que que me penetras a alma
E qual turbilhão invades minha vida.
Tu, o Incompreensível, meu Semelhante.
Quero Te conhecer e a Ti servir.
Temos a arte para que a verdade não nos mate.
Bem que existe no mundo, aqui e ali, uma espécie de continuação do amor, na qual a cobiçosa ânsia que duas pessoas têm uma pela outra deu lugar a um novo desejo e cobiça, a uma elevada sede conjunta de um ideal acima delas: mas quem conhece tal amor? Quem o experimentou? Seu verdadeiro nome é amizade.
Somente se escolhe a dialética quando não se possui outro recurso.
O artista dionisíaco apresentará
de modo imediatamente inteligível
a essência do fenômeno:
ele domina deveras sobre o caos da Vontade ainda não conformada
e pode, a partir dele, em cada momento criador,
engendrar um novo mundo – mas também o antigo,
conhecido como fenômeno.
Em sentido derradeiro, ele é músico trágico
A existência parece bastante santa por si mesma para justificar por acréscimo uma imensidade de sofrimento.
Temos de continuamente parir nossos pensamentos em meio a nossa dor, dando-lhes maternalmente todo sangue, coração, fogo, prazer, paixão , tormento, consciência, destino e fatalidade que há em nós.
(In A Gaia Ciência)
O que importa não é a vida eterna, e sim a eterna vivacidade.
A maneira mais segura de estragar um jovem é ensiná-lo a ter em mais alta conta os que pensam como ele do que os que pensam diferente dele.
O criminoso descoberto não sofre com o crime, mas com a vergonha ou o dissabor por uma estupidez cometida ou com a privação da vida habitual, e é necessária uma rara sutileza para distinguir nesse ponto.
Quem deseja matar seu rival deve ponderar se com isso não o eterniza dentro de si.
O grau de inflamabilidade moral é desconhecido. – do fato de termos tido ou não certas visões ou impressões abaladoras, por exemplo, um pai injustamente condenado, morto ou martirizado, uma mulher infiel, um cruel ataque inimigo, depende que as nossas paixões atinjam a incandescência e dirijam ou não a nossa vida inteira.
Ninguém sabe a que podem levar os acontecimentos, a compaixão, a indignação, ninguém conhece o seu grau de inflamabilidade. Pequenas circunstâncias miseráveis tonam miserável; geralmente não é a qualidade, mas a quantidade das vivências que termina o homem baixo ou elevado, no bem e no mal
Af. 72
A justiça premiadora- Quem compreendeu plenamente a teoria da completa irresponsabilidade já não pode incluir a chamada justiça punitiva e premiadora no conceito de justiça; se esta consiste em dar a cada um o que é seu. Pois aquele que é punido não merece a punição: é apenas usado como meio para desencorajar futuramente certas ações; também aquele que é premiado não merece o prêmio: ele não podia agir de outro modo, o prêmio tem apenas o sentido, portanto, de um encorajamento para ele para os outros, a fim de proporcionar um motivo para ações futuras: o louvor é dirigido àquele que corre na pista, não aquele que atingiu a meta. Nem o castigo nem o prêmio são algo devido a uma pessoa como seu são lhe dados por razões de utilidade, sem que ela possa reinvidicá-los justamente. Deve-se dizer que “o sábio não premia porque se agiu bem”, tal como já se disse que “o sábio não castiga porque se agiu mal, mas para que não se aja mal”.
Se desaparecessem o castigo e o prêmio, acabariam os motivos mais fortes que nos afastam de certas ações e nos impelem a outras; o interesse dos homens requer a permanência dos dois; e na medida em que o castigo e o prêmio, a censura eo louvor afetam sensivelmente a vaidade, o mesmo interesse requer também a permanência da vaidade.
Aforismo 105
O caráter imutável. – Que o caráter seja imutável não é uma verdade no sentido estrito; esta frase estimada significa apenas que durante a breve duração da vida de um homem, o smotivos que sobre ele atuam não arranham com profundidade suficiente para destruir os traços impressos por milhares de anos.
Se imaginássemos um homem de oitenta mil anos, nele teríamos um caráter absolutamente mutável: de modo que dele se desenvolveria um grande número de indivíduos diversos, um aós o outro. A brevidade da vida humana leva muitas afirmações erradas sobre as características do homem.
O orgulhoso conhecimento do privilégio extraordinário da responsabilidade, a consciência dessa rara liberdade, desse poder sobre si mesmo e o destino, desceu nele até sua mais íntima profundeza e tornou-se instinto, instinto dominante – como chamará ele a esse instinto dominante, supondo que necessite de uma palavra para ele? Mas não há dúvida: este homem soberano o chama de sua consciência…
Opiniões públicas: indolências privadas.
A melhor maneira de corromper a juventude é ensiná-la a só respeitar o que pensa igual e desmerecer quem pensa diferente.
A mais bela glorificação da castidade foi escrita por aqueles que, em sua juventude, levaram a vida mais libertina e mais abominável.
Que coisa estranha nossa maneira de punir! Não purifica o criminoso, não é uma expiação: pelo contrário, suja mais que o próprio crime.
A maneira mais segura de estragar um jovem é incitá-lo a estimar mais quem pensa como ele do que quem pensa diversamente.
O homem é algo que tem de ser superado: e por isso deves amar tuas virtudes: porque delas perecerás.
Sempre houve muito povo enfermo entre aqueles que poetam e têm ânsia de Deus; odeiam furiosamente aquele que busca o conhecimento e a mais jovem das virtudes, que se chama: honestidade.
Bem e mal e prazer e dor e tu e eu – eram, para mim, colorida fumaça ante olhos criadores. O criador quis desviar o olhar de si mesmo – então criou o mundo.
Eu vos digo: é preciso ter ainda caos dentro de si, para poder dar à luz uma estrela dançante. Eu vos digo: tendes ainda caos dentro de vós.
A obra de um deus sofredor e atormentado me parecia então o mundo.
Este – é o meu caminho, – qual é o vosso?”, assim respondi aos que me perguntaram pelo “caminho”. Pois o caminho – não existe!
Ao “Dia do Amigo” — Além da Passarela
Na relação com pessoas que têm pudor de seus sentimentos, temos que saber dissimular; elas têm ódio repentino àquele que as surpreende com um sentimento delicado, entusiasmado ou sublime, como se tivesse vislumbrado os seus segredos. Querendo fazer-lhes bem nesses instantes, é preciso fazê-las rir ou lhes dizer alguma fria e divertida maldade: — o seu sentimento se esfria então, e elas recobram o domínio de si. Mas estou fornecendo a moral antes da história. — Uma vez estivemos tão próximos na vida, que nada mais parecia tolher nossa amizade, e havia tão-só uma pequena passarela entre nós. Quando você ia pisá-la, perguntei-lhe: “Você quer cruzar a passarela para vir até mim?”. — Mas então você já não queria; e, quando solicitei novamente, você se calou. Desde então, montes e rios torrenciais, e tudo o que se separa e alheia, foram lançados entre nós, e, ainda que quiséssemos nos aproximar, já não poderíamos! E quando hoje você recorda aquela pequena passarela, não tem mais palavras — apenas soluços e assombro.
Para se erigir um santuário, é preciso antes destruir um santuário: esta é a lei.
#7;#4;#7;#4;#17;#2;#5;(…) amamos a vida não porque estejamos habituados à vida, mas ao amor.
Nada vive, que fosse digno de tuas emoções, e a Terra não merece um só suspiro. Dor e tédio é o nosso ser e o mundo é lodo – nada mais. Aquieta-te
Apenas a grandeza de pensamento dá grandeza a uma ação e a uma causa
Contra o Arrependimento
O pensador vê seus atos como tentativas e questões para obter explicações acerca de algo: sucesso e fracasso, para ele, são antes de tudo ‘respostas’. Irritar-se ou mesmo sentir arrependimento, porque alguma coisa deu errado — isso ele deixa para aqueles que agem por terem recebido ordens, e que podem esperar uma surra, caso o seu senhor não se satisfaça com o resultado.
O Mal— um Bem Favorável ao Grande Crescimento Examinem a vida dos melhores e mais fecundos homens e povos e perguntem a si mesmos se uma árvore que deve crescer orgulhosamente no ar poderia dispensar o mau tempo e os temporais; se o desfavor e a resistência externa, se alguma espécie de ódio, ciúme, teimosia, suspeita, dureza, avareza e violência não faz parte das circunstâncias “favoráveis” sem que as quais não é possível um grande crescimento, mesmo na virtude? O veneno que faz morrer a natureza frágil é um fortificante para o forte— e ele nem o chama de veneno.
“Se acreditamos que a cultura deve ter uma utilidade, logo começamos a confundir a utilidade com a cultura.”
(…) Na maturidade da vida e da razão, sobrevém ao indivíduo o sentimento de que seu pai errou ao gerá-lo.
Há principalmente duas coisas que suscitam nos homens cuidados atentos e afetuosos: o fato de ser o único proprietário de uma coisa e a raridade da coisa possuída; raridade que torna esta coisa cara a seu proprietário.
Acaso sereis suficientemente filósofos para me fazer esta objeção? (…)
Escolhei a BOA solidão, a solidão livre, frívola e ligeira, aquela que vos dá o direito de permanecerdes bons, num sentido qualquer(…)
O cinismo é a única forma sob a qual as almas torpes tocam ao de leve no que se chama sinceridade. O homem superior deve apurar o ouvido perante qualquer variante do cinismo, felicitar-se de cada vez que ouve IDIOTICES do FARSANTE despudorado ou do sátiro científico (…)
Para um homem dotado de profundo pudor, os destinos e as decisões delicadas escolhem caminhos por onde poucos transitaram e de cuja existência nem os seus mais íntimos confidentes devem ter conhecimento(…)
Devemos livrar-nos do mal gosto de querermos estar de acordo com muitos(…)
Aquilo que pode ser comum tem sempre pouco valor. Em última instância tudo deve ser como é e sempre foi. As coisas grandes estão reservadas para os grandes, os abismos para os profundos, as delicadezas e os arrepios para as almas delicadas e, de um modo geral, tudo o que seja raro, para os raros.
165. Da felicidade da renúncia –
Aquele que renuncia absolutamente a uma coisa e por muito tempo, se porventura volta a encontrar, quase acredita que a descobriu; e qual não é a felicidade do homem que descobre! Sejamos mais sábios do que a serpente, que fica tempo demais exposta ao sol – ( Friedrich Nietzsche – in Gaia ciência)
Toda arte, toda filosofia pode ser vista como remédio e socorro da vida em crescimento ou em declínio: elas pressupõem sempre sofrimento e sofredores. Mas existem dois tipos de sofredores, os que sofrem de superabundância de vida, que querem uma arte dionisíaca, e desse modo uma perspectiva trágica da vida – e depois os que sofrem de empobrecimento de vida, que requerem da arte e da filosofia silêncio, quietude, mar liso, ou embriaguez entorpecimento, convulsão. Vingança sobre a vida mesma – a mais voluptuosa espécie de embriaguez para aqueles assim empobrecidos!
“Os instintos, sob a grande energia repressiva, volvem para dentro: isso é o que se chama interiorização do homem; assim se desenvolve o que mais tarde denominar-se-á ‘alma’”!
Um grande erudito e um idiota, estes são personagens que podem ser facilmente encontrados vivendo sob um mesmo teto.
“… Na embriaguez o individuo perde a consciência de sua individualidade; desabrocha naquela excitada massa em festa, dilui-se com ela…!”
Amigos. — Apenas pondere consigo mesmo como são diversos os sentimentos, como são divididas as opiniões, mesmo entre os conhecidos mais próximos; e como até mesmo opiniões iguais têm, nas cabeças de seus amigos, posição ou força muito diferente da que têm na sua; como são múltiplas as ocasiões para o mal-entendido e para a ruptura hostil. Depois disso, você dirá a si mesmo: como é inseguro o terreno em que repousam as nossas alianças e amizades, como estão próximos os frios temporais e o tempo feio, como é isolado cada ser humano! Se alguém percebe isso, e também que todas as opiniões, sejam de que espécie e intensidade, são para o seu próximo tão necessárias e irresponsáveis como os atos, se
descortina essa necessidade interior das opiniões, devida ao indissolúvel entrelaçamento de caráter, ocupação, talento e ambiente — talvez se livre da amargura e aspereza de sentimento que levou aquele sábio a gritar: “Amigos, não há amigos!”. Esta pessoa dirá antes a si mesma: Sim, há amigos, mas foi o erro, a ilusão acerca de você que os conduziu até você; e eles devem ter aprendido a calar, a fim de continuar seus amigos; pois quase sempre tais laços humanos se baseiam em que certas coisas jamais serão ditas nem tocadas: se essas pedrinhas começam a rolar, porém, a amizade segue atrás e se rompe. Haverá homens que não seriam fatalmente feridos, se soubessem o que seus mais íntimos amigos sabem no fundo a seu respeito? — Conhecendo a nós mesmos e vendo o nosso ser como uma esfera cambiante de opiniões e humores, aprendendo assim a menosprezá-lo um pouco, colocamo-nos novamente em equilíbrio com os outros. É verdade, temos bons motivos para não prezar muito os nossos conhecidos, mesmo os grandes entre eles; mas igualmente bons motivos para dirigir esse sentimento para nós mesmos. — Então suportemos uns aos outros, assim como suportamos a nós mesmos; e talvez chegue um dia, para cada um, a hora feliz em que dirá:
“Amigos, não há amigos!” — disse o sábio moribundo;
“Inimigos, não há inimigos!” — digo eu, o tolo vivente.
Amigos. — Apenas pondere consigo mesmo como são diversos os sentimentos, como são divididas as opiniões, mesmo entre os conhecidos mais próximos; e como até mesmo opiniões iguais têm, nas cabeças de seus amigos, posição ou força muito diferente da que têm na sua; como são múltiplas as ocasiões para o mal-entendido e para a ruptura hostil. Depois disso, você dirá a si mesmo: como é inseguro o terreno em que repousam as nossas alianças e amizades, como estão próximos os frios temporais e o tempo feio, como é isolado cada ser humano! Se alguém percebe isso, e também que todas as opiniões, sejam de que espécie e intensidade, são para o seu próximo tão necessárias e irresponsáveis como os atos, se
descortina essa necessidade interior das opiniões, devida ao indissolúvel entrelaçamento de caráter, ocupação, talento e ambiente — talvez se livre da amargura e aspereza de sentimento que levou aquele sábio a gritar: “Amigos, não há amigos!”. Esta pessoa dirá antes a si mesma: Sim, há amigos, mas foi o erro, a ilusão acerca de você que os conduziu até você; e eles devem ter aprendido a calar, a fim de continuar seus amigos; pois quase sempre tais laços humanos se baseiam em que certas coisas jamais serão ditas nem tocadas: se essas pedrinhas começam a rolar, porém, a amizade segue atrás e se rompe. Haverá homens que não seriam fatalmente feridos, se soubessem o que seus mais íntimos amigos sabem no fundo a seu respeito? — Conhecendo a nós mesmos e vendo o nosso ser como uma esfera cambiante de opiniões e humores, aprendendo assim a menosprezá-lo um pouco, colocamo-nos novamente em equilíbrio com os outros. É verdade, temos bons motivos para não prezar muito os nossos conhecidos, mesmo os grandes entre eles; mas igualmente bons motivos para dirigir esse sentimento para nós mesmos. — Então suportemos uns aos outros, assim como suportamos a nós mesmos; e talvez chegue um dia, para cada um, a hora feliz em que dirá:
“Amigos, não há amigos!” — disse o sábio moribundo;
“Inimigos, não há inimigos!” — digo eu, o tolo vivente.
E sabeis… o que é pra mim o mundo?… Este mundo: uma monstruosidade de força, sem princípio, sem fim, uma firme, brônzea grandeza de força… uma economia sem despesas e perdas, mas também sem acréscimos, ou rendimento,… mas antes como força ao mesmo tempo um e múltiplo,… eternamente mudando, eternamente recorrentes… partindo do mais simples ao mais múltiplo, do quieto, mais rígido, mais frio, ao mais ardente, mais selvagem, mais contraditório consigo mesmo, e depois outra vez… esse meu mundo dionisíaco do eternamente-criar-a-si-próprio, do eternamente-destruir-a-si-próprio, sem alvo, sem vontade… Esse mundo é a vontade de potência — e nada além disso! E também vós próprios sois essa vontade de potência — e nada além disso!
O que em geral se consegue com o castigo, em homens e animais, é o acréscimo do medo, a intensificação, o controle dos desejos: assim o castigo doma o
homem, mas não o torna ‘melhor’ – com maior razão se afirmaria o contrário. (‘O prejuízo torna prudente’, diz o povo: tornando prudente, torna também ruim. Mas felizmente torna muitas vezes tolo.)
O livro quase tornado gente. — Para todo escritor é sempre uma surpresa o fato de que o livro tenha uma vida própria, quando se desprende dele; é como se parte de um inseto se destacasse e tomasse um caminho próprio. Talvez ele se esqueça do livro quase totalmente, talvez se eleve acima das opiniões que nele registrou, talvez até não o compreenda mais, e tenha perdido as asas em que voava ao concebê-lo: enquanto isso o livro busca seus leitores, inflama vidas, alegra, assusta, engendra novas obras, torna-se a alma de projetos e ações — em suma: vive como um ser dotado de espírito e alma, e contudo não é humano. — A sorte maior será a do autor que, na velhice, puder dizer que tudo o que nele eram pensamentos e sentimentos fecundantes, animadores, edificantes, esclarecedores, continua a viver em seus escritos, e que ele próprio já não representa senão a cinza, enquanto o fogo se salvou e em toda parte é levado adiante. — Se considerarmos que toda ação de um homem, não apenas um livro, de alguma maneira vai ocasionar outras ações, decisões e pensamentos, que tudo o que ocorre se liga indissoluvelmente ao que vai ocorrer, perceberemos a verdadeira imortalidade, que é a do movimento: o que uma vez se moveu está encerrado e eternizado na cadeia total do que existe, como um inseto no âmbar.
Tédio e Trabalho
A necessidade nos obriga ao trabalho, e com o produto deste a necessidade é satisfeita; o contínuo redespertar das necessidades nos acostuma ao trabalho. Mas nos intervalos em que as necessidades estão satisfeitas e dormem, por assim dizer, somos assaltados pelo tédio. O que é o tédio? É o hábito do trabalho mesmo, que se faz valer como uma necessidade nova e adicional; será tanto mais forte quanto mais estivermos habituados a trabalhar, e talvez quanto mais tivermos sofrido necessidades. Para escapar ao tédio, ou o homem trabalha além da medida de suas necessidades normais ou inventa o jogo, isto é, o trabalho que não deve satisfazer nenhuma outra necessidade a não ser a de trabalho. Quem se fartou do jogo, e não tem novas necessidades que lhe deem motivo para trabalhar, é às vezes tomado pelo desejo de uma terceira condição, que está para o jogo assim como o pairar para o dançar, e o dançar para o caminhar, uma movimentação jubilosa e serena: é a visão da felicidade que têm os artistas e filósofos.
Querer liberta: eis a verdadeira doutrina da vontade e da liberdade – assim Zaratustra ensina a vós […] Para longe de Deus e dos deuses me atraiu essa vontade; que haveria para criar, se houvesse – deuses! Mas para o ser humano sempre me impele minha fervorosa vontade de criar.
“(…) não queremos apenas ser compreendidos […], mas igualmente não ser compreendidos. De forma alguma constitui objeção a um livro o fato de alguma pessoa achá-lo incompreensível: talvez isso estivesse justamente na intenção do autor – ele não queria ser compreendido por “uma pessoa”. Todo espírito e gosto mais nobre, quando deseja comunicar-se, escolhe também os seus ouvintes; ao escolhê-los traça de igual modo a sua barreira contra “os outros…!”
Saber usar a maré. — Para os fins do conhecimento é preciso saber usar a corrente interna que nos leva a uma coisa, e depois aquela que, após algum tempo, nos afasta da coisa.
Origem do cômico. — Quando se considera que por
centenas de milhares de anos o homem foi um animal
extremamente sujeito ao temor, e que qualquer coisa repentina ou
inesperada o fazia preparar-se para a luta, e talvez para a morte, e
que mesmo depois, nas relações sociais, toda a segurança
repousava sobre o esperado, sobre o tradicional no pensar e no
agir, então não deve nos surpreender que, diante de tudo o que seja
repentino e inesperado em palavras e ação, quando sobrevém sem
perigo ou dano, o homem se desafogue e passe ao oposto do
temor: o ser encolhido e trêmulo de medo se ergue e se expande —
o homem ri. A isso, a essa passagem da angústia momentânea à
alegria efêmera, chamamos de cômico. No fenômeno do trágico,
por outro lado, o homem passa rapidamente de uma grande e
duradoura alegria para um grande medo; mas, como entre os
mortais essa grande e duradoura alegria é muito mais rara que as
ocasiões de angústia, há no mundo muito mais comicidade do que
tragédia; rimos com muito mais freqüência do que ficamos
abalados.
A nossa atmosfera estava carregada de tempestade, a nossa própria natureza nublava-se, pois não tínhamos encontrado caminho algum…
E essa tolerância, esse ‘largeur’ do coração que tudo ‘perdoa’ porque tudo ‘compreende’, é para nós como o vento siroco…
Aquilo que vivemos no sonho, e que nele vivemos repetidas vezes, termina por pertencer à economia global de nossa alma, tanto quanto algo “realmente” vivido
Qual é a marca da liberdade realizada? Não mais corar de si próprio.
A menor das felicidades, se, simplesmente, é ininterrupta e faz feliz ininterruptamente, é, sem comparação, mais felicidade do que a maior delas, que venha somente com um episódio.
É absolutamente impossível ao sujeito pretender ver ou conhecer algo além de si mesmo;
“Não gosto de pessoas que, para ter algum efeito, necesitam estourar como bombas, e junto às quais há sempre perigo de perdermos subitamente a audição – e mesmo alguma coisa a mais.”
A arte é estimulante da vontade de poder
[…] às vezes a exposição incompleta, como em relevo, de um pensamento, de toda uma filosofia, é mais eficaz que a explicação exaustiva […]
“As convicções são inimigos mais poderosos que as mentiras.” – É impossível expandir o pensar quando a mente está ancorada em opiniões intocáveis. Siga o exemplo dos estrategistas clássicos, militares inclusive.
Você diz que acredita na necessidade da religião. Seja sincero! Você acredita mesmo é na necessidade da polícia.
“Má compreensão do sonho. – Nas épocas de cultura tosca e primordial o homem acreditava no sonho conhecer um segundo mundo real; eis a origem de toda metafísica. Sem o sonho, não teríamos achado motivo para uma divisão do mundo. Também a decomposição em corpo e alma se relaciona à antiqüíssima concepção do sonho, e igualmente a suposição de um simulacro corporal da alma, portanto a origem de toda crença nos espírito e também, provavelmente, da crença nos deuses: ‘Os mortos continuam vivendo, porque aparecem em sonho aos vivos’: assim se raciocinava outrora, durante muitos milênios.”
O perigo na felicidade – agora tudo está dando certo para mim, amo qualquer destino. Quem quer ser meu destino?
“Quantos homens se precipitam para a luz, não para ver melhor senão para brilhar.”
O conhecimento é uma centelha entre duas espadas
A esperança e o pressentimento lhe dão asas.
Com ajuda da moralidade do costume e da camisa-de-força social, o homem foi realmente se tornou confiável.
As condições sob as quais sou compreendido, sob as quais sou necessariamente compreendido – conheço-as muito bem. Para suportar minha seriedade, minha paixão, é necessário possuir uma integridade intelectual levada aos limites extremos. Estar acostumado a viver no cimo das montanhas – e ver a imundície política e o nacionalismo abaixo de si. Ter se tornado indiferente; nunca perguntar se a verdade será útil ou prejudicial… Possuir uma inclinação – nascida da força – para questões que ninguém possui coragem de enfrentar; ousadia para o proibido; predestinação para o labirinto. Uma experiência de sete solidões. Ouvidos novos para música nova. Olhos novos para o mais distante. Uma consciência nova para verdades que até agora permaneceram mudas. E um desejo de economia em grande estilo – acumular sua força, seu entusiasmo… Auto-reverência, amor-próprio, absoluta liberdade para consigo…
O cômico tem espírito,mas pouca consciência do espírito. Crê sempre naquilo pelo qual faz crer mais energicamente – crer em si mesmo.
As nossas passadas soam solitariamente demais nas ruas. E, ao ouvi-las perguntam assim como de noite, quando deitados nas suas camas, ouvem passar um homem muito antes do alvorecer: Aonde irá o ladrão?
O que não me mata me fortalesce
Coração atado, espírito livre – Quando se amarra e se mantém preso o próprio coração, pode-se dar ao espírito muitas liberdades.
Experiências terríveis fazem pensar se aquele que as vive não é algo terrível
As pessoas graves e sombrias tornam-se mais leves precisamente através daquilo que torna outras pessoas graves, através do ódio e do amor, e chegam assim por um momento à própria superfície
Quando o amor ou o ódio não participa do jogo, a mulher é jogadora medíocre.