Só envelhece quem vive.
Se a memória simula esquecer os mortos, o amor, albergado no coração e sempre à espreita, a qualquer sinal açoita quem sobrevive às lembranças.
Se a imaginação edifica enredos de amor, o corpo fatalmente sofre seus efeitos.
…às vezes, tem ciência de acertar, de atingir por momentos o ápice da narrativa. O raro instante em que, ao atingir a corda sensível do enredo, não lhe cabe recuar ou abdicar dos ingredientes que, apaixonadamente enlaçados, determinam seu desfecho.
O escritor não deve apenas criar, mas deve também emprestar a sua consciência à consciência dos seus leitores, sobretudo num país como o Brasil.
Se vive e se escreve sem rede de segurança.
O ser humano é um peregrino. É só na aparência que ele tem uma geografia.
Nós nascemos pobres, mas com ilusões.
Eu não confio no Estado.
Eu confio na vigilância da sociedade.
Quando os direitos humanos são desrespeitados em casa, tornam-se públicos.
O afeto é uma espada no peito.
A memória é frágil. Consulto suas fontes no afã de defender meus haveres.
A suprema perdição de não conceber o universo além das dimensões da realidade.
Não tenho filhos, mas leitores, capazes por si sós de defenderem a civilização contra os avanços da barbárie. A eles nomeio sucessores de uma linguagem irrenunciável. E, embora duvide às vezes se vale defender alguns princípios hoje contestados, persisto em inscrever certas normas no código dos direitos humanos.
Aprendo a amar. Uma arte difícil, nenhuma norma me orienta.
Anseio por liberar-me das obrigações, da falsa polidez, do peso dos objetos. A solidão, que a noite acentua, é a minha salvaguarda.
Os sentimentos nascem e morrem encarcerados na mesma concha, raramento indo ao encontro do sol.