Alguns dos nossos desejos só se cumprem no outro, os pesadelos pertencem a nós mesmos
Praga de palavras: cada um inventa duas e todos acreditam.
Era possuída por uma teimosia silenciosa, matutada, uma insistência em fogo brando; depois armada por uma convicção poderosa, golpeava ferinamente e decidia tudo, deixando o outro estatelado.
[…] as palavras parecem esperar a morte e o esquecimento; permanecem soterradas, petrificadas, em estado latente, para depois, em lenta combustão, ascenderem em nós o desejo de contar passagens que o tempo dissipou. E o tempo, que nos faz esquecer, também é cúmplice delas. Só o tempo transforma nosso sentimento em palavras mais verdadeiras […]
No lugar desconhecido habita o desejo.
E já não era jovem. A gente sente isso quando as complicações se somam, as respostas se esquivam das perguntas.
Na minha idade, a única vantagem é saber que não vou aturar por muito tempo a estupidez humana.
A vida começa verdadeiramente com a memória.
Posso passar o resto da minha vida falando do passado.
E nessa tentativa desesperada de compreender o outro, como compreender a si mesmo?
O silêncio também participa do conhecimento entre duas pessoas.
Conversar era roubar uma crença, violar um segredo do outro.
“Louca para ser livre”. Palavras mortas. Ninguém se liberta só com palavras. Ela ficou aqui na casa, sonhando com a liberdade sempre adiada. Um dia eu lhe disse: ao diabo com os sonhos: ou a gente age, ou a morte de repente nos cutuca e não há sonho na morte. Todos os sonhos estão aqui, eu dizia, e ela me olhava, cheia de palavras guardadas, ansiosa por falar.
Só o tempo transforma nossos sentimentos em palavras mais verdadeiras.
Ele era assim: não tinha pressa para nada, nem para falar. Devia amar sem ânsia, aos bocadinhos, como quem sabe saborear uma delícia.