“E de novo acredito que nada do que é importante se perde verdadeiramente. Apenas nos iludimos, julgando ser donos das coisas, dos instantes e dos outros. Comigo caminham todos os mortos que amei, todos os amigos que se afastaram, todos os dias felizes que se apagaram.
Não perdi nada, apenas a ilusão de que tudo podia ser meu para sempre.”
“Uma sociedade inteira vive mergulhada num mundo de facilidades e aparências, afogada em sms, mails, blogues e redes sociais, onde procura criar uma estranha forma de vida e de relacionamento humano, que garante o contacto e o sucesso imediato e dispensa o incómodo que é enfrentar a vida real, sem ser a coberto do anonimato ou do disfarce hipócrita, e sem ter de assumir as consequências dos seus actos nem o vazio de passar por aqui sem ter feito nada de útil para os outros.”
Porque não te amo, tenho este corpo para te oferecer; porque te amo fujo e desapareço. E, porque desapareço, não te esqueço, porque essa é a minha forma de te amar – tudo o resto é ainda mais e mais sofrimento.
“Nunca foi tão importante haver boa literatura infantil, porque as crianças são atraídas por milhares de coisas mais fáceis, instantâneas e baratas que o livro. Com boa literatura infantil, defende-se o livro.”
Sei que vivemos apenas o que nos acontece, não o que sonhámos. Somos resultado das circunstâncias: onde estamos, quando estamos, com quem estamos.
Alguém dissera um dia que se podia viver sem tudo, menos água e comida, mas que viver sem livros e sem música não seria o mesmo que viver.
Todas as éticas são evolutivas: o que hoje é normal, amanhã será horrendo e o que hoje é crime, amanhã será banal.
Não perdi nada, apenas a ilusão de que tudo podia ser meu para sempre.
A coisa mais difícil e mais bonita de partilhar entre duas pessoas é o silêncio.
A memória dos velhos não mente sobre o passado distante, apenas se engana e confunde sobre o que é próximo.
Há alturas em que a beleza é tão devastadora que magoa.
Na hora da despedida, é quase sempre mais triste ficar do que partir e, numa ilha, isso marca uma diferença fundamental, como se houvesse duas espécies de seres humanos: os que vivem na ilha e os que chegam e partem.
Não esperes nunca de mim que eu seja fiel a qualidades que não tenho. O que podes é contar com as que tenho, porque nessas não te falharei nunca.
Éramos donos do que víamos: até onde o olhar alcançava, era tudo nosso. E tínhamos um deserto inteiro para olhar.
Um amigo é alguém de cuja presença se gosta, por quem se tem admiração, em cuja companhia se aprende.
As fotografias não mentem – esse instante existiu mesmo. Porém, a mentira consiste em pensa que esse instante é eterno, que dois amantes felizes e abraçados numa fotografia ficaram para sempre felizes e abraçados.
Há viagens sem regresso nem repetição.
A vida é feita de pequenas vitórias… são elas que antecipam e compensam as grandes derrotas.
Há duas coisas na vida que não se pode deixar de ter, quando se quer ir longe: bons amigos e bons advogados.
Na verdade, o deserto não existe: se tudo à sua volta deixa de existir e de ter sentido, só resta o nada. E o nada é o nada: conforme se olha, é a ausência de tudo, ou, pelo contrário, o absoluto. Não há cidades, não há mar, não há rios, não há sequer árvores ou animais. Não há música, nem ruído, nem som algum, excepto o do vento de areia quando se vai levantando aos poucos – e esse é assustador. Será assim a morte, também, Cláudia?
Tudo o que se diz de desnecessário é estúpido, é um sinal destes tempos estúpidos em que falamos mais do que entendemos.
Escrever é usar as palavras que se guardaram: se tu falares de mais, já não escreves, porque não te resta nada para dizer.
Se pensas que faço de propósito, é possível que tenhas razão, pode ser que a vida tenha razões que a razão não entende.