AutorMaria Teresa Horta

Maria Teresa Horta

Mudo Tudo
Abrigo-me de ti
de mim não sei
há dias em que fujo
e que me evado
há horas em que a raiva
não sequei
nem a inveja rasguei
ou a desfaço
Há dias em que nego
e outros onde nasço
há dias só de fogo
e outros tão rasgados
Aqueles onde habito com tantos
dias vagos.

Maria Teresa Horta

Poema sobre a recusa
Como é possível perder-te
sem nunca te ter achado
nem na polpa dos meus dedos
se ter formado o afago
sem termos sido a cidade
nem termos rasgado pedras
sem descobrirmos a cor
nem o interior da erva.
Como é possível perder-te
sem nunca te ter achado
minha raiva de ternura
meu ódio de conhecer-te
minha alegria profunda.

Maria Teresa Horta

Como as asas
lhe cresciam nas coxas
diziam dela:
que era um anjo do mar

Maria Teresa Horta

Morrer de Amor
Morrer de amor
ao pé da tua boca
Desfalecer
à pele
do sorriso
Sufocar
de prazer
com o teu corpo
Trocar tudo por ti
se for preciso

Maria Teresa Horta

Para mim o
amor
fica-me justo
Eu só visto
a paixão
de corpo inteiro

Maria Teresa Horta

Sou voraz
não me apego
ao abrigo da alma
Sou o corpo
o incêndio
só o fogo
me acalma

Maria Teresa Horta

Sou feita de muitos
nós
desobediência e meio-dia
Sou aquela que negou
aquilo
que os outros queriam
Disse não à minha sina
de destino preparado
recusei as ordens escusas
preferi a liberdade
e vivo deste meu lado

Maria Teresa Horta

Dou voz liberta aos sentidos
Tiro vendas, ponho o grito
Escrevo o corpo, mostro o gosto
Dou a ver o infinito

Maria Teresa Horta

Vou vivendo na vontade
que tenho de me atirar
no incêndio dos teus braços
a procurar no final
voltar de novo ao início
entre a poesia e o voar
pois escrever e amar
é arder
no mesmo vício

Maria Teresa Horta

Lamento: meu ornamento
minha casa em construção

Maria Teresa Horta

Nada mais de mim
haverá memória
-sei-
só os poemas darão conta
da minha avidez
da minha passagem
Da minha limpidez
sem vassalagem

Maria Teresa Horta

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