tudo é caminho
não há ponto de chegada
não há ponto de partida
Varjota
cheguei
um sem fim de vezes
fui embora outro monte
na sua maioria foi
o meio do caminho
que já foi Fortaleza
Recife
Diadema
e Viena que
ainda será
minha mãe foi também
caminho
meu pai também
que já vieram de meus avós
de outros avós
e outros outros e outros
e
tudo é caminho
sem começo nem fim
sem velho nem novo
o poema é mais
um
sempre vai
e vai e vai
a vida é uma reta torta
nó-cego de motivos
que é caminho
e não volta
me fiz de tantos.
deixei-me em tantos
até em mim
ficaremos cegos
mas haverá luzes
há quem as procurará
O marmeleiro descasca
no seu verde antigo
o açude racha
no seu mar antigo
o mormaço
esse nem dá as caras
e a gente vive
disso tudo já vivi
sou amigo disso tudo
não precisa desse medo
O rio das garças
vem desde o arraial da telha
(onde colhi meu sangue caboclo)
até o atlântico
que beija portugal
e belisca o mar do norte
das terras baixas da holanda
(dois pedaços de terra onde meu sangue europeu nasceu)
Tenho sangue de gente
tenho essa poeira laranja na cara
no peito
no sangue
sou metade gente
metade bicho
sou sertão da cidade
sou pedaço água
ferro
terra
sou rio
trilho
rodagem