Não é a fome, mas, pelo contrário, a abundância, o excesso de energias, que provocam a guerra.
Liderar não é tanto uma questão de mão pesada mas mais de assento firme.
Pouco se pode esperar de alguém que só se esforça quando tem a certeza de vir a ser recompensado.
Cultura é o sistema de ideias vivas que cada época possui. Melhor: o sistema de ideias das quais o tempo vive.
O prazer estético deve ser um prazer inteligente.
O importante é a lembrança dos erros, que nos permite não cometer sempre os mesmos. O verdadeiro tesouro do homem é o tesouro dos seus erros, a larga experiência vital decantada por milênios, gota a gota.
Civilização é, antes de mais nada, vontade de convivência.
O jovem não precisa de razões para viver; precisa só de pretextos.
A cultura é uma necessidade imprescindível de toda uma vida, é uma dimensão constitutiva da existência humana, como as mãos são um atributo do homem.
Esta é a primeira consequência que sobrevém quando no mundo alguém deixa de mandar: que os demais, ao se rebelarem, ficam sem tarefa, sem programa de vida.
Podemos pretender ser quanto queiramos; mas não é lícito fingir que somos o que não somos.
Se ensinares, ensina ao mesmo tempo a duvidar daquilo que estás a ensinar.
Em vez de pintar coisas puseram-se a pintar ideias.
Não é tão fácil como se crê ser um egoísta puro, e ninguém, sendo-o, alguma vez triunfou.
Muitos homens, como as crianças, querem uma coisa, mas não as suas consequências.
O exagero é sempre a exageração de algo que não o é.
Contrariamente ao que crêem os chorões, todo o erro é uma propriedade que acresce o nosso haver. Em vez de chorar sobre ele, convém apressar-se em aproveitá-lo.
Sem missão não há homem.
O amor vive do pormenor e procede microscopicamente.
Contrariamente ao que supõe uma óptica inocente e folhetinesca, o poder não é tanto uma questão de punhos quanto de nádegas.
Eis ao que leva o intervencionismo do Estado: o povo converte-se em carne e massa que alimenta o simples artefacto e máquina que é o Estado.
A civilização avançada envolve problemas árduos. Por isso, quanto maior o progresso, mais está ameaçada. A vida está cada vez melhor; porém, evidentemente, cada vez mais complicada.
A ciência consiste em substituir o saber que parecia seguro por uma teoria, ou seja, por algo problemático.
O mundo é o repertório das nossas possibilidades vitais. Não é, pois, algo à parte e alheio à nossa vida, mas é a sua autêntica periferia.
A beleza que seduz poucas vezes coincide com a beleza que faz apaixonar.
Em épocas de grande agitação, o dever do intelectual é manter-se calado, pois nessas ocasiões é preciso mentir e o intelectual não tem esse direito.
O que distingue um grande poeta é o fato dele nos dizer algo que ninguém ainda disse, mas que não é novo para nós.
É imoral pretender que uma coisa desejada se realize magicamente, simplesmente porque a desejamos. Só é moral o desejo acompanhado da severa vontade de prover os meios da sua execução.
Eu sou eu e minhas circunstâncias.
Esse contorno material não me diz até onde eu sou…Bom… Aprendi que se eu quiser mudar você, tenho que antes me dispor a ser mudado. Isso é inevitável. E pertenço a todos os lugares que me fizeram nascer de novo. Eu sou eu e minhas circunstâncias. Se não as salvo, não me salvo eu.
A realidade não é “coisa” e sim o que eu faço com as coisas e o as coisas fazem comigo.
Minha vida me é dada, mas não me dada feita.
O homem é o homem e suas circunstâncias.
Entre querer ser e pensar que já se é, vai a distância entre o sublime e o ridículo.
Nunca será tarde para buscar um mundo melhor e novo, se no empenho pusermos coragem e esperança.
O homem que conserva a fé no passado não se assusta com o futuro.
Não são as circunstâncias que decidem a nossa vida….
É, pois, falso dizer que na vida «decidem as circunstâncias». Pelo contrário: as circunstâncias são o dilema, sempre novo, ante o qual temos de nos decidir. Mas quem decide é o nosso carácter.
Um grande erro é sempre uma grande verdade; apenas adulterada, violentada ou exagerada…
Debaixo de toda vida contemporânea se encontra latente uma injustiça.
Só chegamos a ser uma parte mínima do que poderíamos ser.
A vida é um drama porque a vida, individual ou colectiva, pessoal ou histórica, é a única entidade do universo cuja substância é o perigo. Compõe-se de peripécias. É, rigorosamente falando, drama.
Nós não nos demos a vida, mas esta nos é dada; encontramo-nos nela sem saber como nem por quê; mas do fato de que ela nos é dada resulta que temos de fazê-la nós mesmos, cada um a sua.
A cada minuto precisamos de decidir o que vamos fazer no minuto seguinte, e isto quer dizer que a vida do homem constitui para ele um problema permanente.
A lei seca da arte é esta: ‘Ne quid nimis’, nada além do necessário. Tudo o que é supérfluo, tudo aquilo que podemos suprimir sem alterar a essência é contrário à existência da beleza.”
Foi preciso esperar até o começo do século XX para se presenciar um espectáculo incrível: o da peculiarísssima brutalidade e agressiva estupidez com que se comporta um homem quando sabe muito de uma coisa e ignora todas as demais.
Ser de esquerda é, como ser de direita, uma infinidade de maneiras que o homem pode escolher de ser um imbecil: ambas, com efeito, são formas de paralisia moral.
A reabsorção da circunstância é o destino concreto do homem.
“Porque a vida é um verdadeiro caos onde ele está perdido. O homem suspeita disso; mas tem pavor de se encontrar cara a cara com essa realidade terrível, e procura ocultá-la com uma cortina fantasmagórica, onde tudo está muito claro. Não se importa que suas ‘ideias’ não sejam verdadeiras; usa-as como trincheiras para se defender da sua vida, como rompantes para afugentar a realidade.
O homem de cabeça clara é aquele que se liberta dessas ‘ideias’ fantasmagóricas e olha a vida de frente, e assume que tudo é problemático nelas, e se sente perdido. Como isso é a pura verdade – a saber, que viver é se sentir perdido –, aquele que o aceita já começou a se encontrar, já começou a descobrir sua autêntica realidade, já está em terra firme. Instintivamente, como o náufrago, buscará algo a que se agarrar, e essa busca trágica, peremptória, absolutamente veraz, porque se trata de salvar-se, o fará ordenar o caos de sua vida.
Essas são as únicas ideias verdadeiras: as ideias dos náufragos. O resto é retórica, postura, farsa íntima. Aquele que não se sente verdadeiramente perdido, perde-se inexoravelmente; quer dizer, jamais se encontra, nunca encara a própria realidade.”
O liberalismo – e não o devemos esquecer isso hoje em dia – é a generosidade extrema, é o direito que a maioria concede à minoria, e, por isso, o lema mais nobre que já se ouviu no planeta. Ele transmite a decisão de conviver com o inimigo fraco. A probabilidade de que a humanidade pudesse conceber uma coisa tão linda, engenhosa, arriscada e contrária a natureza era mínima. Assim, não admira que agora a mesma humanidade pareça resolvida a renunciar à ela. Sua aplicação é demasiado difícil e complicada para que pudesse criar raízes nesta terra. Conviver com o inimigo! Governar com a oposição! Uma tal humanidade já não se torna incompreensível?
Vivemos num tempo de chantagem universal,
Que toma duas formas complementares de escárnio:
Há a chantagem da violência e a chantagem do entretenimento.
Uma e outra servem sempre para a mesma coisa:
Manter o homem simples longe do centro dos acontecimentos.
Diga-me no que você presta atenção e eu lhe direi quem é.
Porque a vida é inteiramente um caos onde a criatura está perdida. O homem o suspeita; mas aterra-o encontrar-se cara a cara com essa terrível realidade, e procura ocultá-la com um véu fantasmagórico onde tudo está muito claro. Não lhe interessa que suas “idéias” não sejam verdadeiras; emprega-as como trincheiras para defender-se de sua vida, como espantalhos para afugentar a realidade.
Homem de mente lúcida é aquele que se liberta dessas “idéias” fantasmagóricas e olha de frente a vida, e se convence de que tudo nela é problemático, e se sente perdido. Como isso é a pura verdade – a saber, que viver é sentir-se perdido -, quem o aceita já começou a encontrar-se, já começou a descobrir sua autêntica realidade, já está no firme. Instintivamente, como o náufrago, buscará algo para se agarrar, e esse olhar trágico, peremptório, absolutamente veraz porque se trata de salvar-se, lhe facultará pôr ordem no caos de sua vida. Estas são as únicas idéias verdadeiras; as idéias dos náufragos. O resto é retórica, postura, íntima farsa. Quem não se sente de verdade perdido perde-se inexoravelmente; é dizer, não se encontra jamais, não topa nunca com a própria realidade.
“Eu sou eu e minha circunstância, e se não salvo a ela, não me salvo a mim.”
“Observai os que vos rodeiam e vereis como avançam perdidos em sua vida; vão como sonâmbulos, dentro de sua boa ou má sorte, sem ter a mais leve suspeita do que lhes acontece.”
“Dizemos que a metafísica consiste em o homem buscar uma orientação radical em sua situação. Mas isso supõe que a situação do homem — isto é, sua vida — consiste numa radical desorientação. Não dizemos, pois, que o homem, dentro de sua vida, se encontre desorientado parcialmente nesta ou noutra ordem, em seus negócios ou em seu caminhar por uma paisagem, ou na política. Aquele que se desorienta no campo busca um mapa ou uma bússola, ou pergunta a um transeunte, e isso lhe basta para se orientar. Mas nossa definição pressupõe uma desorientação total, radical; ou seja, não que aconteça ao homem de se desorientar, de se perder em sua vida, mas sim que a situação do homem, a vida, é desorientação, é estar perdido — e por isso existe a metafísica”.
Mentes lúcidas, o que se chama mentes lúcidas, não houve provavelmente em todo o mundo antigo mais que duas: Temístocles e César; dois políticos. A coisa é surpreendente porque, em geral, o político, incluso o famoso, é político precisamente porque é torpe. Houve, sem dúvida, na Grécia e em Roma outros homens que pensaram idéias claras sobre muitas coisas – filósofos, matemáticos, naturalistas -. Mas sua claridade foi de ordem científica; isto é, uma claridade sobre coisas abstratas. Todas as coisas de que fala a ciência, seja ela qual for, são abstratas, e as coisas abstratas são sempre claras. De sorte que a claridade da ciência não está tanto na cabeça dos que a fazem como nas coisas de que falam. O essencialmente confuso, intricado, é a realidade vital concreta, que é sempre única. Quem seja capaz de orientar-se com precisão nela; aquele que vislumbre sob o caos que apresenta toda situação vital a anatomia secreta do instante; em suma, quem não se perca na vida, esse é de verdade uma mente lúcida. Observai os que vos rodeiam e vereis como avançam perdidos em sua vida; vão como sonâmbulos, dentro de sua boa ou má sorte, sem ter a mais leve suspeita do que lhes acontece. Ouvi-los-eis falar em fórmulas taxativas sobre si mesmos e sobre seu contorno, o que indicaria que possuem idéias sobre tudo isso. Porém, se analisais superficialmente essas idéias, notareis que não refletem muito nem pouco a realidade a que parecem referir-se, e se aprofundais na análise achareis que nem sequer pretendem ajustar-se a tal realidade. Pelo contrário: o indivíduo trata com elas de interceptar sua própria visão do real, de sua vida mesma. Porque a vida é inteiramente um caos onde a criatura está perdida. O homem o suspeita; mas aterra-o encontrar-se cara a cara com essa terrível realidade, e procura ocultá-la com um véu fantasmagórico onde tudo está muito claro. Não lhe interessa que suas “idéias” não sejam verdadeiras; emprega-as como trincheiras para defender-se de sua vida, como espantalhos para afugentar a realidade.
Homem de mente lúcida é aquele que se liberta dessas “idéias” fantasmagóricas e olha de frente a vida, e se convence de que tudo nela é problemático, e se sente perdido. Como isso é a pura verdade – a saber, que viver é sentir-se perdido -, quem o aceita já começou a encontrar-se, já começou a descobrir sua autêntica realidade, já está no firme. Instintivamente, como o náufrago, buscará algo para se agarrar, e esse olhar trágico, peremptório, absolutamente veraz porque se trata de salvar-se, lhe facultará pôr ordem no caos de sua vida. Estas são as únicas idéias verdadeiras; as idéias dos náufragos. O resto é retórica, postura, íntima farsa. Quem não se sente de verdade perdido perde-se inexoravelmente; é dizer, não se encontra jamais, não topa nunca com a própria realidade.
Isto é certo em todas as ordens, ainda na ciência, não obstante ser a ciência, de seu, uma fuga da vida (a maior parte dos homens de ciência dedicaram-se a ela por terror a defrontar sua própria vida. Não são mentes claras; daí sua notória falta de jeito ante qualquer situação concreta). Nossas idéias científicas valem na medida em que nos tenhamos sentido perdidos ante uma questão, em que tenhamos visto bem seu caráter problemático e compreendamos que não podemos apoiar-nos em idéias recebidas, em receitas, em lemas nem vocábulos. Quem descobre uma nova verdade científica teve antes que triturar quase tudo que havia aprendido e chega a essa nova verdade com as mãos sangrentas por haver jugulado inumeráveis lugares comuns.
A política é muito mais real que a ciência, porque se compõe de situações únicas em que o homem se encontra de repente submerso, queira ou não queira. Por isso é o tema que nos permite distinguir melhor quais as mentes lúcidas e quais as mentes rotineiras.
Todas as coisas de que fala a ciência, seja ela qual for, são abstratas, e as coisas abstratas são sempre claras. De sorte que a claridade da ciência não está tanto na cabeça dos que a fazem como nas coisas de que falam. O essencialmente confuso, intricado, é a realidade vital concreta, que é sempre única. Quem seja capaz de orientar-se com precisão nela; aquele que vislumbre sob o caos que apresenta toda situação vital a anatomia secreta do instante; em suma, quem não se perca na vida, esse é de verdade uma mente lúcida. Observai os que vos rodeiam e vereis como avançam perdidos em sua vida; vão como sonâmbulos, dentro de sua boa ou má sorte, sem ter a mais leve suspeita do que lhes acontece. Ouvi-los-eis falar em fórmulas taxativas sobre si mesmos e sobre seu contorno, o que indicaria que possuem idéias sobre tudo isso. Porém, se analisais superficialmente essas idéias, notareis que não refletem muito nem pouco a realidade a que parecem referir-se, e se aprofundais na análise achareis que nem sequer pretendem ajustar-se a tal realidade. Pelo contrário: o indivíduo trata com elas de interceptar sua própria visão do real, de sua vida mesma. Porque a vida é inteiramente um caos onde a criatura está perdida. O homem o suspeita; mas aterra-o encontrar-se cara a cara com essa terrível realidade, e procura ocultá-la com um véu fantasmagórico onde tudo está muito claro. Não lhe interessa que suas “idéias” não sejam verdadeiras; emprega-as como trincheiras para defender-se de sua vida, como espantalhos para afugentar a realidade.
Homem de mente lúcida é aquele que se liberta dessas “idéias” fantasmagóricas e olha de frente a vida, e se convence de que tudo nela é problemático, e se sente perdido. Como isso é a pura verdade – a saber, que viver é sentir-se perdido -, quem o aceita já começou a encontrar-se, já começou a descobrir sua autêntica realidade, já está no firme. Instintivamente, como o náufrago, buscará algo para se agarrar, e esse olhar trágico, peremptório, absolutamente veraz porque se trata de salvar-se, lhe facultará pôr ordem no caos de sua vida. Estas são as únicas idéias verdadeiras; as idéias dos náufragos. O resto é retórica, postura, íntima farsa. Quem não se sente de verdade perdido perde-se inexoravelmente; é dizer, não se encontra jamais, não topa nunca com a própria realidade.
Moral é consciência de serviço e obrigação.
Caminhe lentamente, não se apresse, pois o único lugar ao qual tem que chegar é a si mesmo.
“Só é possível avançar quando se olha longe. Só é possível progredir quando se pensa grande”.
“Saber que não se sabe constitui, talvez, o mais difícil e delicado saber”.
“A vida é o que fazemos e o que nos acontece.”
“Surpreender-se, estranhar-se é começar a entender. É o esporte e o luxo específico do intelectual. Daí a necessidade de vermos e de olhar o mundo com olhos dilatados pela surpresa. Tudo no mundo é estranho e maravilhoso para umas pupilas bem abertas.”
“A cabeça do homem comum está abarrotada de idéias recebidas por inércia, compreendidas pela metade, desvirtualizadas, abarrotada, portanto, de pseudo-ideias.”
“A cultura ou saber não se apresenta a nós como uma chave que nos permite dominar o caos e a confusão da vida, mas, ao contrário, devido a seu próprio crescimento fabuloso, converteu-se, por sua vez, na selva onde o homem se perde.”
O livro, pois, ao conservar apenas as palavras, conserva somente as cinzas do pensamento efetivo. Para que este reviva e sobreviva não basta o livro. É preciso que outro homem reproduza em sua pessoa a situação vital à qual aquele pensamento respondia. Somente então poder-se-á afirmar que as frases do livro foram entendidas e que o dizer pretérito foi salvo.
“Senhor, desperta-nos alegres, e dá-nos conhecimento.”
“O amor é um divino arquiteto que baixou ao mundo ‘a fim de que tudo no universo viva em conexão’.”
O aristocrata herda, quer dizer, encontra atribuídas a sua pessoa umas condições de vida que ele não criou, portanto, que não se produzem organicamente unidas a sua vida pessoal e própria. Acha-se ao nascer instalado, de repente e sem saber como, em meio de sua riqueza e de suas prerrogativas.
Ele não tem, intimamente, nada que ver com elas, porque não vêm dele. São a carapaça gigantesca de outra pessoa, de outro ser vivente, seu antepassado. E tem de viver como herdeiro, isto é, tem de usar a carapaça de outra vida. Em que ficamos? Que vida vai viver o “aristocrata” de herança, a sua ou a do prócer inicial? Nem uma nem outra.
Está condenado a representar o outro, portanto, a não ser nem o outro nem ele mesmo. Sua vida perde inexoravelmente autenticidade, e converte-se em pura representação ou ficção de outra vida. A abundância de meios que está obrigado a manejar não o deixa viver seu próprio e pessoal destino, atrofia sua vida.
Toda vida é luta, esforço por ser ela mesma. As dificuldades com que tropeço para realizar minha vida são, precisamente, o que desperta e mobiliza minhas atividades, minhas capacidades. Se meu corpo não me pesasse eu não poderia andar. Se a atmosfera não me oprimisse, sentiria meu corpo como uma coisa vaga, fofa, fantasmática.
Assim, no “aristocrata” herdeiro toda a sua pessoa vai se desvanecendo, por falta de uso e esforço vital. O resultado é essa específica parvoíce das velhas nobrezas, que não se assemelha a nada e que, a rigor, ninguém descreveu ainda em seu interno e trágico mecanismo — o interno e trágico mecanismo que conduz toda a aristocracia hereditária à sua irremediável degeneração.
(Livro “A Rebelião das Massas”)
Cabe formular esta lei que a paleontologia e a biogeografia confirmam: a vida humana surgiu e progrediu só quando os meios com que contava estavam equilibrados pelos problemas que sentia. Isto é verdade, tanto na ordem espiritual como na física.
(Livro “A Rebelião das Massas”)
”[…] conforme nossos sentimentos atingem mais a espiritualidade, mais perdem a violência e a força mecânica. Sempre será mais violenta a sensação de fome no esfomeado que o apetite de justiça no justo.”
“A pessoa inclinada ao mecanismo da obsessão, ou de estrutura muito simples e rude, converterá em “paixão”, quer dizer, em mania todo o gérmen de sentimento que nela cair.”
Nas agitações provocadas pela escassez, as massas populares costumam procurar pão, e o meio que empregam costuma ser o de destruir padarias.
O homem rende o máximo de sua capacidade quando adquire plena consciência de suas circunstâncias.
O característico do momento é que a alma vulgar, sabendo-se vulgar, tem a audácia de afirmar o direito à vulgaridade e o impõe em toda parte.
Quem não for como todo o mundo, quem não pensar como todo o mundo, corre o risco de ser eliminado.
Em sua dimensão profunda, todo destino é dramático e trágico.
Quando vejo que o aplauso se dirige fácil e insistente a um homem ou a um grupo, surge em mim a veemente suspeita de que nesse homem e nesse grupo, talvez junto a excelentes dons, haja algo extraordinariamente impuro.
Quando se fala da nossa vida, geralmente se esquece disto, que me parece extremamente essencial: nossa vida é, em todo instante e antes de tudo, consciência do que nos é possível.
Nossa atividade de decisão não descansa um instante sequer. Mesmo quando, desesperados, nos abandonamos ao que vier, estamos decidindo não decidir.
Cada um de nossos atos exige que o façamos brotar da antecipação total de nosso destino e o derivemos de um programa geral para nossa existência. E isso vale tanto para o homem honrado e heroico quanto para o perverso ou mesquinho. Pois também o perverso se vê obrigado a justificar seus atos perante si próprio, neles procurando significado e função em um programa de vida. De outro modo, ficaria imóvel, paralisado como o asno de Buridan.
Este é o maior perigo que atualmente ameaça a civilização: intervenção estatal, absorção pelo Estado de todo o esforço espontâneo da sociedade, isto é: da ação histórica espontânea a qual, no longo prazo, sustenta, alimenta e impele os destinos do homem.
A filosofia não necessita nem de proteção, nem de atenção, nem de simpatia da massa. Cuida de seu aspecto de perfeita inutilidade e, com isso, liberta-se de toda submissão ao homem médio.
Podemos perfeitamente desertar do nosso destino mais autêntico; mas só para nos tornarmos prisioneiros nos andares inferiores do nosso destino.
O jovem não necessita de razões para viver; só necessita de pretextos.
Entregue a si mesma, cada vida fica em si mesma, vazia, sem ter o que fazer. E como precisa se preencher com algo, finge frivolamente, dedica-se a ocupações falsas, que nada impõem de íntimo e sincero.
A saúde das democracias, qualquer que seja seu tipo e seu grau, depende de um mísero detalhe técnico: o procedimento eleitoral. Tudo o mais é secundário.
Queira-se ou não, a vida humana é constante ocupação com algo futuro.
Acertará quem não confiar em nada do que hoje se prega, se ostenta, se prepara e se louva. Tudo isso vai sumir mais rápido do que veio.
Cada um de nós é metade o que é e metade o ambiente em que vive. Quando este coincide com nossa peculiaridade e a favorece, nossa pessoa se realiza por inteiro, sente-se corroborada pelo entorno e incitada à expansão de seu impulso íntimo.
O vigor intelectual de um homem, como o de uma ciência, se mede pela dose de ceticismo, de dúvida que é capaz de digerir, de assimilar.
Como é possível viver surdo às derradeiras, às dramáticas perguntas? De onde vem o mundo, para onde vai?
Só um ser de intermissão, situado entre a besta e Deus, dotado de ignorância, mas ao mesmo tempo sabedor dessa ignorância, sente-se impelido a sair dela e vai, em dinâmico disparo, tenso, ansioso, da ignorância até a sabedoria. Esse ser intermediário é o homem.
Filosofar não é viver, é desfazer-se conscienciosamente das crenças vitais.
Na história, toda superação implica uma assimilação: há de tragar-se o que se vai superar, trazer para dentro de nós precisamente o que queremos abandonar.
Sem duvidar não há provar, não há saber.
Precisamente, ao nos convencermos de que a mulher amada não é como acreditávamos, mas só uma imagem generosa que havíamos feito, produz-se em nós a catástrofe da desilusão.
Pensem como é dura, rígida, inerte, fria como um metal, para o ouvido da criança, a primeira vez que a ouve, a palavra “hipotenusa”!
Aquele que crê que sabe uma coisa mas, na realidade, a ignora, com seu suposto saber fecha o poro de sua mente por onde poderia penetrar a autêntica verdade.
O verdadeiro tesouro do homem é o tesouro dos seus erros.
Não é a fome, mas, pelo contrário, a abundância, o excesso de energias, que provocam a guerra.
Liderar não é tanto uma questão de mão pesada mas mais de assento firme.
Pouco se pode esperar de alguém que só se esforça quando tem a certeza de vir a ser recompensado.
Cultura é o sistema de ideias vivas que cada época possui. Melhor: o sistema de ideias das quais o tempo vive.
O prazer estético deve ser um prazer inteligente.
O importante é a lembrança dos erros, que nos permite não cometer sempre os mesmos. O verdadeiro tesouro do homem é o tesouro dos seus erros, a larga experiência vital decantada por milênios, gota a gota.
Civilização é, antes de mais nada, vontade de convivência.
O jovem não precisa de razões para viver; precisa só de pretextos.
A cultura é uma necessidade imprescindível de toda uma vida, é uma dimensão constitutiva da existência humana, como as mãos são um atributo do homem.
Esta é a primeira consequência que sobrevém quando no mundo alguém deixa de mandar: que os demais, ao se rebelarem, ficam sem tarefa, sem programa de vida.
Podemos pretender ser quanto queiramos; mas não é lícito fingir que somos o que não somos.
Se ensinares, ensina ao mesmo tempo a duvidar daquilo que estás a ensinar.
Em vez de pintar coisas puseram-se a pintar ideias.
Não é tão fácil como se crê ser um egoísta puro, e ninguém, sendo-o, alguma vez triunfou.
Muitos homens, como as crianças, querem uma coisa, mas não as suas consequências.
O exagero é sempre a exageração de algo que não o é.
Contrariamente ao que crêem os chorões, todo o erro é uma propriedade que acresce o nosso haver. Em vez de chorar sobre ele, convém apressar-se em aproveitá-lo.
Sem missão não há homem.
O amor vive do pormenor e procede microscopicamente.
Contrariamente ao que supõe uma óptica inocente e folhetinesca, o poder não é tanto uma questão de punhos quanto de nádegas.
Eis ao que leva o intervencionismo do Estado: o povo converte-se em carne e massa que alimenta o simples artefacto e máquina que é o Estado.
A civilização avançada envolve problemas árduos. Por isso, quanto maior o progresso, mais está ameaçada. A vida está cada vez melhor; porém, evidentemente, cada vez mais complicada.
A ciência consiste em substituir o saber que parecia seguro por uma teoria, ou seja, por algo problemático.
O mundo é o repertório das nossas possibilidades vitais. Não é, pois, algo à parte e alheio à nossa vida, mas é a sua autêntica periferia.
A beleza que seduz poucas vezes coincide com a beleza que faz apaixonar.