aceita
o vôo é o leito
da borboleta
UM MILHÃO DE BITS
Um milhão de bits
em um milionésimo
de segundo, amor
um súbito sussurrar
de sílabas suas
ecoa em mim mil
beats, batida comum
em corações binários
zero: um: zero: um
um breve bater de
pálpebras e sentidos
explodem modulados
por modems emol
durados, amor, em
fibras óticas…
rasgo negro
de margem
a margem
no centro
marcas do
desabamento
acima,
o Elevado leva
restos a reboque
e encobre
escravos tangidos
pelo trator
por que, apesar
de asfalto, erosão
e motor
tudo permanece
imóvel, a mesma
paisagem estática?
O que eu não faria
para ser como a criança
que perde a pele mas
não percebe que se transforma
O que eu não daria
para ter férias da cabeça.
1. A poesia só nasce quando estamos sozinhos, penabundeados ou solitários por escolha. Para bebês-poemas virem à luz, é necessário ser 1) jovem. Ou então ser 2) velho, porém manter o espírito jovem, ou livre, o que no fundo é a mesma coisa. Contudo, atenção: existe um tipo de amizade nesse período inicial da vida, baseada na descoberta do outro, e tal encontro (tão raro) costuma ser frutífero para a poesia. Dele nascem escolas poéticas, guerras entre escolas poéticas, poeticídios de todo gênero, a origem e o fim do mundo.
5. Aceite entrar num clube apenas para ter o prazer de sair um segundo depois de entrar. Se a dissidência acontecer com alguma pancadaria, melhor ainda, pois poemas são meio vampiros e gostam de sangue.