em tempos de paz
escrevo guerra
em tempos de guerra
escrevo desejo
tem uns poetas que são grandes
grandes poetas
enormes
enormíssimos, li outro dia
eu quero ser pequena
minúscula
nanopoeta
e por nunca acertar o ponto de corte do abacate.
é sempre um madurou, não madurou, madurou, não madurou, o caroço ainda não balança, vai ficando meio mole, bate um medo de estragar
e fica um gosto de cica na boca.
fosse as contas, contratos, horários
fosse o abuso, a flacidez, as jornadas
contra a menina na janela
que conta os carros do pátio
tenta adivinhar seus donos, marcas, destinos
ela respira o nublado do apartamento no primeiro andar
seu pulmão neblina
ela sabe que o tempo
condensa trajetos
precipita
Água mole em pedra escura
tanto bate
que Iemanjá esconjura
revira os barcos
e as pedras rolam.