GOSTO QUANDO ME FALAS DE TI
Gosto quando me falas de ti… e vou te percorrendo
e vou descortinando a tua vida
na paisagem sem nuvens, cenário de meus desejos
[tranqüilos
Gosto quando me falas de ti… e então percebo
que antes mesmo de chegar, me adivinhavas,
que ninguém te tocou, senão o vento
que não deixa vestígios, e se vai
desfeito em carícias vãs…
Gosto quando me falas de ti… quando aos poucos a luz
vasculha todos os cantos de sombra, e eu só te encontro
e te reencontro em teus lábios, apenas pintados,
maduros,
mas nunca mordidos antes da minha audácia.
Gosto quando me falas de ti… e muito mais adiantas
em teus olhos descampados, sem emboscadas,
e acenas a tua alma, sem dobras, como um lençol
distendido,
e descortino o teu destino, como um caminho certo, cuja
primeira curva
foi o nosso encontro.
Gosto quando me falas de ti… porque percebo que te
[desnudas
como uma criança, sem maldade,
e que eu cheguei justamente para acordar tua vida
que se desenrola inútil como um novelo
que nos cai no chão…”
(Do livro “Quatro Damas” 1ª Edição, 1965)
Meu Coração
Eu tenho um coração um século atrasado
ainda vive a sonhar… ainda sonha, a sofrer…
acredita que o mundo é um castelo encantado
e, criança, vive a rir, batendo de prazer…
Eu tenho um coração – um mísero coitado
que um dia há de por fim, o mundo compreender…
– é um poeta, um sonhador, um pobre esperançado
que habita no meu peito e enche de sons meu ser…
Quando tudo é matéria e é sombra – ele é uma luz
ainda crê na ilusão, no amor, na fantasia
sabe todos de cor os versos que compus…
Deus pôs-me um coração com certeza enganado:
– e é por isso talvez, que ainda faço poesia
lembrando um sonhador do século passado
O verbo amar
Te amei: era de longe que te olhava
e de longe me olhavas vagamente…
Ah, quanta coisa nesse tempo a gente sente,
que a alma da gente faz escrava.
Te amava: como inquieto adolescente,
tremendo ao te enlaçar, e te enlaçava
adivinhando esse mistério ardente
do mundo, em cada beijo que te dava.
Te amo: e ao te amar assim vou conjugando
os tempos todos desse amor, enquanto
segue a vida, vivendo, e eu, vou te amando…
Te amar: é mais que em verbo é a minha lei,
e é por ti que o repito no meu canto:
te amei, te amava, te amo e te amarei!
(Do livro – Bazar de Ritmos – 1935)
Os versos que te dou
Ouve estes versos que te dou, eu
os fiz hoje que sinto o coração contente
enquanto teu amor for meu somente,
eu farei versos…e serei feliz…
E hei de fazê-los pela vida afora,
versos de sonho e de amor, e hei depois
relembrar o passado de nós dois…
esse passado que começa agora…
Estes versos repletos de ternura são
versos meus, mas que são teus, também…
Sozinha, hás de escutá-los sem ninguém que
possa perturbar vossa ventura…
Quando o tempo branquear os teus cabelos
hás de um dia mais tarde, revivê-los nas
lembranças que a vida não desfez…
E ao lê-los…com saudade em tua dor…
hás de rever, chorando, o nosso amor,
hás de lembrar, também, de quem os fez…
Se nesse tempo eu já tiver partido e
outros versos quiseres, teu pedido deixa
ao lado da cruz para onde eu vou…
Quando lá novamente, então tu fores,
pode colher do chão todas as flores, pois
são os versos de amor que ainda te dou.
(Do livro “Meu Céu Interior” – 1934)
Essa…
Essa, que hoje se entrega aos meus braços escrava
olhos tontos do amor de que aos poucos me farto,
ontem… era a mulher ideal que eu procurava
que enchia a minha insônia a rondar o meu quarto…
Essa, que ao meu olhar parado e indiferente
há pouco se despiu – divinamente nua -,
já me ouviu murmurar em êxtase, fremente:
– Sou teu! … E já me disse, a delirar: – Sou tua !
Essa, que encheu meus sonhos, meus receios vãos,
num tempo em que eram vãos meus sonhos, meus receios,
já transbordou de vida a ânsia das minhas mãos
com a beleza estonteante e morna dos seus seios !
Essa, que se vestiu… que saiu dos meus braços
e se foi… – para vir, quem sabe? uma outra vez.
– segui-a… e eu era a sombra dos seus próprios passos..
– amei-a… e eu era um louco quando a amei talvez…
Hoje, seu corpo é um livro aberto aos meus sentidos
já não guarda as surpresas de antes para mim…
(Não importa se há livros muita vez relidos
importa… é que afinal, todos eles têm fim…
Essa, a quem julguei Ter tanta afeição sincera
e hoje não enche mais a minha solidão,
simboliza a mulher que sempre a gente espera…
mas que chega, e se vai… como todas vão…
(Do livro – Amo – 1939)
Soneto à tua volta
Voltaste, meu amor… enfim voltaste!
Como fez frio aqui sem teu carinho….
A flor de outrora refloresce na haste
que pendia sem vida em meu caminho.
Obrigado… Eu vivia tão sozinho…
Que infinita alegria, e que contraste!
-Volta a antiga embriaguez porque voltaste
e é doce o amor, porque é mais velho o vinho!
Voltaste… E dou-te logo este poema
simples e humilde repetindo um tema
da alma humana esgotada e envelhecida…
Mil poetas outras voltas celebraram,
mas, que importa? – se tantas já voltaram
só tu voltaste para a minha vida…
(Do livro “Eterno Motivo” ” – Prêmio Raul de Leoni, da Academia Carioca de Letras – 1943)
Carta a um amor impossível
Recebi tua carta, – e ainda sob o peso
da emoção que me trouxe, eu te escrevo, surpreso,
reavivando na minha lembrança esquecida
certos traços sem cor de uma história perdida:
– falo dos poucos dias que passamos juntos.
Tão longe agora estas, quantos belos assuntos
a que eu não quis, nem soube mesmo dar valor,
relembras com um estranho e desvelado amor.
Tua carta é tão doce, e tão cheia de cores
que, dir-se-ia a escrever com o mel que há nas flores,
sobre o azul de um papel tão azul, que o papel
faz a gente pensar num pedaço de céu!
Impregnado nas folhas chegou até mim,
um perfume sutil e agreste de jasmim
e um pouco do ar sadio e puro de montanha!
Estranha a tua carta, inesperada e estranha!
Deixas nas minhas mãos a tua alma confiante,
ante a revelação desse amor deslumbrante
e abres teu coração, num gesto de ansiedade,
sob a opressão cruel de uma imensa saudade.
Dizes que só por mim tu vives, – que a tristeza
é a companheira fiel que tens por toda parte,
e me falas assim com tamanha franqueza
que eu nem sei que dizer receando magoar-te!
Não compreendo esse amor que revelas por mim
nem mereço a ternura e o enlevo sem fim
de um só trecho sequer de tudo o que escreveste,
– por exemplo, – de um trecho belo e bom, como este:
“Teu olhar é o meu sol! Vivo da sua luz!
– e mesmo que esse amor seja como uma cruz
eu o levarei comigo em meu itinerário!
E o bendirei na dor ascendendo ao Calvário!
Sem ele não existo; e sem ti, meu destino
será vazio, assim como o bronze de um sino
que ficou mutilado e emudeceu seus sons
na orquestra matinal dos outros carrilhões!
Quero ser tua sombra até, – e quando tudo
te abandonar na vida, e o frio, e quedo, e mudo,
encerrarem teu corpo em paz sob um lajedo,
eu ficarei contigo ao teu lado, sem medo,
e sozinha e sem medo eu descerei contigo
oh! Meu único amor! Oh! Meu querido amigo!
– para que os nossos corpos juntos, abraçados,
fiquem na mesma terra em terra transformados!”
Escreves tudo assim, – e eu nem sei que te diga
nesta amarga resposta, oh! Minha pobre amiga!
Tarde, tarde demais… Bem me arrependo agora
do amor que te inspirei, daquele amor de outrora
que eu julgava um brinquedo a mais em minha vida
e a quem davas tua alma inteira e irrefletida…
Releio a tua carta, e confesso que sinto
o ter-te que falar sobre esse amor extinto,
um prelúdio de amor que ficou sem enredo
e que só tu tocaste em surdina, em segredo…
Dizes que o que eu mandar, farás… e que és tão minha
que mesmo que não te ame e que fiques sozinha
bastará para ti a lembrança feliz
dos dias de ilusão em que nunca te quis!
E escreves, continuando essa carta que eu leio
com uma vontade louca de parar no meio:
“Minha vontade é a tua! E meu destino enredo
no teu!… És o meu Deus! Teu desejo é o meu credo!
Creio na tua força e no teu pensamento,
e nem um só segundo e nem um só momento
deixarei de seguir-te aonde quer que tu fores,
seja a estrada coberta de espinhos ou flores,
te aureole a fronte a glória e te sirva a riqueza
ou vivas no abandono e sofras na pobreza!
Serei outra Eleonora Duse, e te amarei
com um amor infinito, sem razão nem lei.
Tu serás o meu Poeta imortal, – meu Senhor,
a quem entregarei minha alma e o meu amor!
Creio na tua força e no teu pensamento!
– faço dela um arrimo, e tenho nele o alento
da única razão que dirige meus atos;
– é a lógica fatal das cousas e dos fatos!
Orgulho-me de ser a matéria plasmável
onde o teu gênio inquieto, e nervoso, e insaciável,
há de esculpir uma obra à tua semelhança!
Junto a ti sou feliz e me sinto criança
curiosa de te ouvir, fascinada e atraída
pela tua palavra alegre e colorida!
E se falas da vida ou se o mundo desvendas
os assuntos ressoam na alma como lendas
e tudo é novo e é belo, e tudo prende e atrai,
de um simples botão que se abre a um pingo d’água que caí.
Há em tudo uma alma nova! Há em tudo um novo encanto!
Tantas vezes te ouvi! E sempre o mesmo espanto
quando tu me dizias, que era tarde, era a hora
em que eu ia dormir em que te ias embora…
Muitas vezes, deitada, – eu rezava baixinho
uma prece que fiz só para o meu carinho:
com meus beijos de amor matarei tua sede,
com os meus cabelos tecerei a rede
onde adormecerás feliz, imaginado
que é a noite que te envolve e te embala cantando;
formarei com os meus braços o ninho amoroso
onde terás na volta o almejado repouso;
minhas mãos te darão o mais terno carinho
e julgarás que é o vento a soprar de mansinho
sussurrando canções e desfeito em desvelos
a desmanchar de leve os teus claros cabelos!
No meu seio, – que a uma onda talvez se pareça,
recostarei feliz, enfim, tua cabeça,
e nada, nenhum ruído há de te perturbar!
– meu próprio coração mais baixo há de pulsar…
Quando o sol castigar as frondes e as raízes
com o meu corpo farei a sombra que precises,
e se o inverno chegar, ou se sentir frio,
em mim hás de achar todo o calor do estio!
Não te rias, – bem sei que te digo tolices,
mas ah! Se compreendesses tudo, ou se sentisses
a alegria que sinto ao te falar assim,
talvez que não te risses, meu amor, de mim…
Isto tudo, – é obra apenas da fatalidade,
– quando o amor é uma doença e é uma febre a saudade.”
Tua carta é uma frase inteira de ternura,
como uma renda fina, cuja tessitura
trai a mão delicada e a alma de quem a fez
Ela é bem a expressão da mulher, que uma vez…
(mas não, não recordemos estas cousas mais,
– para o teu bem, deixemos o passado em paz
se o não posso trazer num augúrio feliz
para a prolongação de um sonho que desfiz…)
Tua carta é o reflexo da tua beleza,
e há no seu ofertório a singela pureza
desse amor que te empolga e te invade e domina!
(Uma alma de mulher num corpo de menina!)
Reli-a muito, a sós… – Mais adiante tu dizes,
com esse místico dom das criaturas felizes:
“Amo, para a alegria suprema e indizível
de humilhar-me aos teus pés tanto quanto possível,
e viverei feliz, como a poeira da estrada
se erguer-me ao teu passar, numa nuvem dourada
cheia de sol e luz, – nessa glória fugaz
de acompanhar-te os passos aonde quer que vás!
Não importa que eu role depois no caminho,
não importa que eu fique abandonada e só,
– quem nasceu para espinho há de ser sempre espinho!…
– quem nasceu para pó, há de sempre ser pó!”
Faz-me mal tua carta, muito mal… Receio
pelo amor infeliz que abrigaste em teu seio,
e uma angústia mortal me oprime e me castiga,
deixa que te confesse, oh! Minha pobre amiga!
Não pensei… Não pensei que te afeiçoasses tanto,
nem desejava ver a tristeza do pranto
ensombrecer teus olhos… Quando tu partiste,
não compreendia bem por que ficaste triste
nem quis acreditar no que estavas sentindo…
Hoje, – hoje eu descubro que o teu sonho lindo
era mais do que um sonho, – era mesmo, em verdade
uma grande esperança de felicidade!
Me perdoarás, no entanto… ah! Não fosses tão boa!
E eu insisto de joelhos a teus pés: – perdoa!
Se eu soubesse, ou se ao menos eu adivinhasse
o que não pude ver além de tua face
e o que não soube ler velado em teu olhar,
não teria deixado esse amor te empolgar…
Perdoa o involuntário mal que te causei!
A carta que escreveste, e há bem pouco guardei,
um grande mal também causou-me sem querer:
– é bem rude e bem triste a gente perceber
que encontrou seu ideal, – o seu ideal mais belo,
– e o destruir, tal como eu, que agora o desmantelo!
É doloroso a gente em mil anos sonhá-lo
e inesperadamente ter que abandoná-lo!
Se algum amor eu quis, esse era igual ao teu
que tudo me ofertou e nada recebeu;
ingênuo e puro amor, simples, sem artifícios,
capaz como bem dizes “de mil sacrifícios,
e de mil concessões, chorando muito embora,
só para ver feliz o ente que quer e adora!”
E pensar que isso tudo que tu me ofereces:
— teu raro e imenso amor, teus beijos, tuas preces,
a tua alma de criança ainda em primeiro anseio;
e o teu corpo, onde a forma ondulante do seio
não atingiu sequer seu máximo esplendor;
tua boca, ainda pura aos contatos do amor;
– e dizer que isso tudo, isso tudo afinal
que era o meu velho sonho e o meu maior ideal,
abandono, desprezo, renuncio e largo
com um gesto vil como este, indiferente e amargo!
Enfim, já estás vingada… Porque ainda és criança
há de este falso amor te ficar na lembrança
como uma experiência… (a primeira vencida
das muitas que talvez ainda encontres na vida… )
E um dia então… – quem sabe se não será breve?
– descobrirás na vida aquele amor que deve
transformar teu destino e realizar teu sonho…
Antevendo esse dia de festa, risonho,
comporei, como um véu de noiva, para as bodas,
a mais bela poesia, a mais bela de todas…
(… Recebendo-a, dirás, esquecida e contente:
– “quem teria enviado este estranho presente?”)
Sé feliz, minha amiga… eu me despeço aqui…
Lamento o meu destino, porque te perdi
e maldigo esta carta pelo que ela diz…
Não chores, – porque eu sei que ainda serás feliz…
E que as lágrimas de hoje, – enxuguem-se ao calor
de um verdadeiro, eterno e imorredouro amor!
P. S. – Sê feliz. Amanhã tudo isto será lenda…
E pede a Deus, por mim, – que eu nunca me arrependa…
(do livro” Eterno Motivo” – 1943)
A BICICLETA
Me lembro, me lembro
foi depois do jantar, meu avô me chamou,
tinha um riso na cara, um riso de festa:
– Guilherme, vou tapar seus olhos,
venha cá.
Os tios, os primos, os irmãos, na grande mesa redonda
ficaram rindo baixinho, estou ouvindo, estou ouvindo:
– Abre os olhos, Guilherme!
Estava na sala de jantar, junto da porta do corredor,
como uma santa irradiando, num altar,
como uma coroa na cabeça de um rei,
a bicicleta novinha, com lanterna, campainha, lustroso selim de couro,
tudo.
Me lembrei hoje da minha bicicleta
quando chegou a minha geladeira.
Mas faltou qualquer coisa à minha alegria,
talvez a mesa redonda, os tios, os primos rindo baixinho,
– abre os olhos, Guilherme!
Oh! Faltou qualquer coisa à minha alegria!
Falta de Ar
Há dias que posso passar sem sol, sem luz,
sem pão,
sem tudo enfim…
( Tenho até a impressão de que não preciso de nada…
… nem mesmo de mim…)
Mas há dias, amor… ( e parece mentira)
– nem eu sei explicar o porquê
de tão grande aflição –
em que não posso passar sem Você
um segundo que seja!
– de repente preciso encontrá-la, é preciso que a veja –
– Você é o ar com que respira
meu coração !
Ser mãe…
Quando todos te condenem
quando ninguém te escutar,
ela te escuta e perdoa,
pois ser mãe – é perdoar!
Quando todos te abandonem
e ninguém te queira ver,
ela te segue e procura
pois ser mãe – é compreender!
Quando todos te negarem
um pão, um beijo, um olhar,
ela te ampara e acarinha
pois ser mãe – sempre é se dar!
Trovas De Ciúme
“Dosado”, o ciúme é tempero
que à afeição da mais sabor…
Mas, levado ao exagero,
é o pior veneno do amor…
Cão de guarda, ameaçador,
a rosnar, furioso e cego
eis afinal, meu amor,
este ciúme que carrego…
Do amor e da desconfiança
infeliz casal sem lar,
nasceu o ciúme, – essa criança
tão difícil de educar…
Perigoso, onipotente,
verdadeiro ditador…
o ciúme é um cego, doente,
ou um doente, cego de amor?
Eis como o ciúme defino:
mal que faz mal sem alarde
corte de alma, muito fino,
que não se vê… mas como arde!
O ciúme, desajustado,
por louco amor concebido,
era uma amante, (coitado)
a padecer… de marido!”
Amo-te na alegria suprema e indivisível, de humilhar-me aos teus pés o tanto quanto possível.
A verdade é que me acomodei de tal modo em minha infelicidade, que quase sou feliz.
Parece coisa de louco
Como explicar na verdade
Que o amor, que durou tão pouco
Me doa uma eternidade
Sim, tive amantes e amadas,
fui escravo, fui senhor.
Mas só agora que te encontro
tenho amante e amada
num mesmo amor.
ROSA… ESPINHO
Pago a impaciência
desta paixão ansiosa
por te querer
em meu caminho..
quis colher a rosa
feriu-me o espinho.
Não é apenas só que estou me sentindo
É muito pior:
– Estou me sentindo sem você.
Terias razão ,afinal pra não acreditar na grandeza do meu amor,
se eu fosse capaz de traduzi-lo em palavras.
Chove em minha solidão ,
este vapor que sobe do chão
é ainda teu calor.
Talvez seja o tempo…a vida…a idade…
mas a gente vai aprendendo a renunciar
a tanto que se quis…
A verdade
é que me acomodei de tal modo na minha infelicidade,
que quase que sou feliz…
E afinal há uma sutil diferença
em nosso amor,
(ninguém o diz)
tu…queres ser feliz,
eu, quero te fazer feliz!!!!!
Ateu do amor
tu me converteste…
agora temo te ver,
porque não creio em milagres.
Antes eu conseguia juntar os pedaços
e voltar a ser eu.
Impossivel agora.
Como conseguir reconstruir-me
se me falta você??
Agora
já frio o coração
(mas a alma, entretanto, ainda ferida)
resta-me a amarga e silenciosa convicção,
de só tão tarde ter percebido
que nem sequer existi em tua vida.
Mereço tudo. Tinha que acontecer.
Curvei-me tanto a este amor
que passaste por cima
sobranceira
e acabaste por nem me perceber…
No fundo , não acredito que nos despedimos.
Apenas nos afastamos um do outro
por algum tempo,
para darmos ao destino a alegria de nos reencontrar.
Em vão tento vingar em outras o amor perdido.
Só consigo ir multiplicando tua falta.
A gente sabe que é amor,quando de repente encontra razões para perdoar o que nunca se perdoou ,quando os mais duros pensamentos são palavras de ternura…
fora da boca
-e a gente sente,sente
mas não pensa…
Que o diga meu coração , que deseja ofender-te e transforma em poesia a minha mágoa imensa.
Eu podia morrer todos os dias que não te vejo.
Depois que te foste
sou como um cais vazio.
Faltam bandeiras , faltam apitos , faltam amarras,
Falta o navio.
Não fomos nós que nos despedimos.
Foi a vida que agora se interpôs,
como ontem nos uniu.
Que fazer? nas suas mãos ja estava escrito o nosso destino.
Livres nos encontramos , e algo acima de nós nos fez um do outro e nos escravizou…
Agora, livres novamente
somos dois pássaros que já não sabem voar fora da gaiola…
Tão grande este amor, entretanto frágil …
um tênue sopro de vento o derrubou, e
eis-nos infelizes…
tão depressa cresceu, que não teve tempo sequer de criar raízez.
Sempre que te encontro é pra sempre.
Sempre que me afasto é pra nunca.
e já que nunca mais te encontro …
é pra sempre.
Dou a impressão, como toda gente,
de que estou me dirigindo pra algum lugar
entretanto,
onde quer que eu me encontre,
meu destino é você.
Ah! o sofrimento de que coisas é capaz …
tu me feriste tanto, e tanto, e tanto,
que agora se voltasses, te admirarias de ver
como o meu coração não te conhece mais.
E porque eu te via até de olhos fechados , meus olhos abertos não percebiam o que fazias de mim…
Se quisesses voltar, não te receberia…
E por estranho que pareça, não te receberia
porque te quero ainda…
Sim, teu amor
era fútil…
– Que importa se me iludia?
Sem ele, entretanto, sou um inútil
cada vez mais,
noite e dia…
Fique eu só, um só momento,
e logo me esgueiro como um assaltante
ou um proibido amante
para encontrar-te no pensamento…
Eu sei bem por que sofro e o que eu almejo,
minto afirmando que não sei porquê,
– falta uma boca para o meu desejo,
falta um corpo que eu quero e que não vejo,
Falta, por que não confessar?… Você!
” Último Pedido “
Vida, que tanto me deste
e que eu, desajeitado ou louco,
por tédio, por orgulho ou por cansaço
quebrei, gastei, perdi…
Bem sei que não tenho direito
a nada esperar de ti,
– entretanto, ouve-me ainda, como se ouvisses
o último pedido de um condenado,
sem te importares se te maldigo:
– arranja-me um outro amor, maior que aquele,
e pior que aquele até, bem pior que aquele!
Seja este o meu castigo!
Tanta coisa me deste, e eu nada te pedi.
(Qual de nós foi mais criança?)
Poderias, pois, levar tudo, como fizeste…
Que direito teria eu para esperar que deixasses
alguma coisa, além da lembrança?
30- SEM CORAÇÃO
Que eu não tenho coração
não és tu, sou eu que digo…
como hei de ter coração
se tu o levas contigo?
A verdade é que eu nada enxergava
até que encontrei teus olhos…
Ah! meu amor se me deixares agora :
ficarei cego…
Por que depois
se lastimar?
É preferível amar
e arrepender-se,
que se arrepender
te não amar.
Bem sei que estou pagando caro,em sofrimento,
a alegria que colhi.
Mas valeu.
Felizes os que ainda tem a lembrança do sol
quando chega a invernia.
E porque o conheceram,
e o sabem além das nuvens,
ainda sonham e esperam por um novo dia.
Ás vezes ,quando me encontro no espelho,
é que vejo em meus olhos tua ausência,
e percebo o quanto a tua falta
me faz mal…
Lembras-te? não nos contentávamos em nos saber juntos.
Queríamos que alguém comprovasse
e como que nos convencesse
de que era tudo real.
E o espelho era a nossa única testemunha
afinal.
Capricho da memória:
de tantos momentos em que te vejo
e em que no meu pensamento
tua imagem se insinua,
havia de fixar-te, naquele íntimo instante
em que mais te desejo:
inteiramente nua!
A qualquer de nós é dado
ser baiano, bem ou mal,
pois a Bahia é um estado
de espírito, nacional !
Só por milagre eu poria
numa quadrinha somente
a beleza da Bahia
sua terra e sua gente.
Tem tal encanto a Bahia,
tais magias ela tem,
que quem a conhece um dia
fica baiano também.
Bahia de hoje, como ontem,
santeira e crente até o fim:
– do Senhor dos Navegantes
do Senhor do Bonfim.
Bahia dos tabuleiros
das baianas, das babás,
das velhas Sés, dos mosteiros,
dos telhados coloniais.
Bahia de mil petiscos:
caruru e mungunzá,
caju, cachaça, mariscos,
acarajé, vatapá.
Dos quitutes e quindins,
das festas e foguetões,
dos santos e querubins
levados nas procissões.
Bahia sempre gostosa,
mais doce que velho vinho,
que ainda resiste, famosa,
no Largo do Pelourinho.
Bahia de D. João
do Visconde de Cairu:
– moleques de pé no chão
escravos de peito nu.
Do Brasil engatinhando,
subindo pelas ladeiras,
dos sobradões modorrando
sobre a algazarra das feiras.
Das cadeiras de arruar,
das carruagens, dos nobres,
dos ouros em cada altar,
das pratarias, dos cobres.
Bahia da liberdade,
de Castro Alves, seu condor,
onde a palavra saudade
é negra! – tem outra cor!
Bahia da inteligência,
de suas glórias ciosa:
da cultura, da eloqüência,
Bahia de Ruy Barbosa.
Bahia da independência,
contra a opressão e o esbulho,
da revolta da violência,
Bahia do 2 de julho !
Com o leite branco das pretas
tornaste a pátria viril,
e hoje flui das tuas tetas
o “ouro negro” do Brasil.
Bahia, velha Bahia…
Bahia nova também:
patrimônio de poesia
que a pátria guarda tão bem.
Bahia dos meus amores,
de trovadores aos mil,
de violeiros, cantadores:
“romanceiro” do Brasil!
A trova ja nasce feita,
e rima até com poesia
se a Bahia é a Musa eleita,
se a inspiração é a Bahia!
Bahia dos doces ventos
que sopram velas no mar,
dos coqueirais sonolentos
de curvas palmas pelo ar
Qualquer coisa da Bahia
todo brasileiro tem,
se até o Brasil, certo dia,
nasceu baiano também!
“A Bahia é a boa terra”,
repito nos versos meus.
e a voz do povo não erra
– sua voz é a voz de Deus!
Ladeiras, praias, coqueiros,
igrejas, lendas, poesia,
– Cais do Mercado: saveiros . . .
– Natal da Pátria: Bahia!
Você, quando traz os seus olhos
para encher de alegria e encantamento
a tristeza das minhas pupilas,
parece a imagem de um céu
refletida nas águas silenciosas
de duas lagoas tranqüilas…
Você é como um céu
que acendesse dois raios nos meus olhos
Parece que está ali no fundo da lagoa
tão perto,
e, entretanto, como está longe!
Às vezes, fico pensando
depois que você se vai
(e deixa nos meus olhos as sete cores da saudade)
tão depressa
como se eu nem a visse:
– para que haveria de servir meus olhos
para que?
se você
não existisse?!
Noturno n.º 1
Pela madrugada o rádio põe em surdina
um fundo musical de filme
em meu desespero.
E a serenidade da noite, impassível,
com sua felicidade de luar e estrelas
me faz mal,
parece afrontar meu desejo impossível
e ainda me torna mais triste, mais sentimental…
Você está em todas as formas do pensamento
E no pensamento que conforma todas as coisas…
Em vão tento fugir com a música, tento evadir-me com a noite,
em vão!
Você é a música, a noite, você é tudo!
É a própria forma e o conteúdo
Da minha solidão…
Noturno
Agora, à noite, fujo às vezes
e aporto em algum bar
Como antigamente.
Marinheiro do amor, de porto em porto,
a vida como um navio, de mar em mar…
Pensei que tinha lançado ancora,
que plantara raízes,
que não partiria mais.
E de repente, desarvoraste meu destino,
e te foste
– volto a ser o antigo marinheiro –
e sozinho, preciso embebedar-me,
agora num navio encalhado,
sem mar…
Manhã para se feliz
Esta é uma manhã para ser feliz
em um lugar, de algum modo,
é uma manhã para ser feliz…
Esta é uma manhã para dois, para dois juntos
abraçados e tontos, num remoinho
não como nós, eu aqui, diante do sol, das árvores,
de tudo envergonhado porque estou sozinho…
Esta é uma manhã que me fala de ti, nas nuvens,
na transparência do ar,
neste azul do céu, imaculado,
na beleza das coisas tocadas de sonho
e imaturidade…
Uma manhã de festa
para ser feliz de verdade!
Esta é uma manhã
para te Ter ao meu lado…
Quando Deus fez uma manhã como esta
estava com certeza apaixonado…
Quando chegares…
Não sei se voltarás
sei que te espero.
Chegues quando chegares,
ainda estarei de pé, mesmo sem dia,
mesmo que seja noite, ainda estarei de pé.
A gente sempre fica acordado
nessa agonia,
à espera de um amor que acabou sendo fé…
Chegues quando chegares,
se houver tempo, colheremos ainda frutos, como ontem,
a sós;
se for tarde demais, nos deitaremos à sombra e
perguntaremos por nós…
Amor… e Morte…
O amor
é como a morte
ato banal de todo dia…
Emoção forte
de tristeza ou de alegria,
ele sempre nos surpreende, e a ele nunca nos acostumamos
talvez…
O amor é como a morte:
quando amamos
é sempre a primeira vez.
“
Quantos anos!…Meu Deus!…È esquisita esta vida…Depois que a nossa estrada em duas foi partida em uma novamente, o mundo as quis juntar…Mas de nada serviu…De que serviu nos vermos, se o presente tornou nossos sonhos ermos, se não podes me amar!…se não posso te amar…”
Eu hoje acordei triste, – há certos dias
em que sinto esta mesma sensação…
E não sei explicar, qual a razão
porque as mãos com que escrevo estão tão frias…
E pergunto a mim mesmo: – tu não rias
ainda ontem tão feliz… diz-me então
por que sentes pulsar teu coração
destoando das humanas alegrias?…
E, nem eu sei dizer por que estou triste…
Quem me olha não calcula com certeza,
o imenso caos que no meu peito existe…
A tristeza que eu sinto ninguém vê…
– E a maior das tristezas é a tristeza
que a gente sente sem saber por quê!…
Como chamar-te amigo… se um dia chamei-te amor?
São muitos os momentos que gostaria de te-lo comigo. Mas só venha, quando sua vinda significar sua felicidade.
Hoje estou triste
Amor… Hoje estou triste… Nesses dias
a vida de repente se reduz
a um punhado de inúteis fantasias…
… Sou uma procissão só de homens nus…
Olho as mãos, minhas pobres mãos vazias
sem esperas, sem dádivas, sem luz,
que hão semear vagas melancolias
que ninguém vai colher, mas que compus…
Amor, estou cansado, e amargo, e só…
Estou triste mais triste e pobre do que Jó,
– por que tentar um gesto? E para quê?
Dê-me, por Deus, um trago de esperança…
Fale-me, como se fala a uma criança
do amor, do mar, das aves… de você!
(“O Poder da Flor” – 1969)
PARADOXO
A dor que abate, e punge, e nos tortura,
que julgamos às vezes não ter cura
e o destino nos deu e nos impôs,
é pequenina, é bem menor, e até
já não é dor talvez, dor já não é
dividida por dois.
A alegria que às vezes num segundo
nos dá desejos de abraçar o mundo,
e nos põe tristes, sem querer, depois,
aumenta, cresce, e bem maior se faz,
já não é alegria, é muito mais
dividida por dois.
Estranha essa aritmética da vida,
nem parece ciência, parece arte;
compreendo a dor menor, se dividida,
não entendo é aumentar nossa alegria
se essa mesma alegria
se reparte.
NÃO DESPERDICES A VIDA
Não te esqueças que a vida é um momento que voa
um efêmero instante de beleza e alento;
vive pois sem temor e com desprendimento
o que ela te ofertar, sem maldize-la à-toa!
E’ uma nuvem que muda aos caprichos do vento!
Se hoje a perdes… O tempo nunca te perdoa!
Vida! Repara bem como a palavra soa!
Não temas pronunciá-la com deslumbramento!
Há alguém, não sei quem é, mas disto estou seguro,
que nos há de intimar num remoto futuro
a dar contas da vida que um dia ganhamos…
E após tal julgamento estranho, com certeza
havemos de sofrer e pagar, se em defesa
não der-mos as razões porque a desperdiçamos…
Noturno nº2
Estás no pensamento,
fixa, presa,
como a estrela no céu,
como a nudez da beleza
sob um véu…
…
…
…
…
…
Estás no meu pensamento
como o som
na corda distendida
como, na bússola, o norte,
como a esperança, na vida,
como na vida,
a Morte…
Assim…
Assim foi nosso amor… um sonho que viveu
de um sonho, e despertou na realidade um dia…
Um pouco de quimera ao léu da fantasia…
Um flor que brotou e num botão morreu…
Embora sendo nosso, este amor foi só meu,
porque o teu, não foi mais que pura hipocrisia,
– no fundo, há muito tempo, a minha alma sentia
este fim que o destino afinal já lhe deu…
Não podes, bem o sei – sendo mulher como és,
saber quanto sofri, vendo esta flor desfeita
e as pétalas no chão, pisadas por teus pés…
Que importa ? Hás de sofrer mais tarde – a vida é assim…
Esse mesmo sorrir que agora te deleita
é o mesmo que depois há de amargar teu fim !…
(Coletânea – “Meus Sonetos de Amor ” 1ª Edição, 1961)
Angústia
Há uma estranha beleza na noite ! Há uma estranha beleza !
Oh, a transcendente poesia
que verso algum traduz…
A via-láctea, inteiramente acesa
parece a fotografia
de um tufão de luz !
– Quem seria,
quem seria
que pregou lá no céu aquela imensa cruz?
Que infinita serenidade…
Que infinita serenidade misteriosa
nesse infinito azul dos céus e em tudo mais:
nos telhados, nas ruas, na cidade…
( Só os gatos gritam na noite silenciosa
sensualíssimos ais !)
Meu Deus, que noite calma… E aquela trepadeira
feminina e ligeira
veio abrir bem na minha janela
uma flor – como uma boca rubra e bela
que não terei…
– E ainda sinto nos lábios um travo nauseante
do amor que faz bem pouco, há apenas um instante,
paguei…
E o céu azul assim… E essa serenidade!
Silêncio- A noite, o luar … Tão claro o luar lá fora…
Juraria que há alguém, não sei onde que chora…
Oh, a angústia invencível que me prostra
invade
e me devorar …
Sou réu de amor
Confesso o meu pecado
Porem não me arrependo desse crime
Que amar alguém e talvez não ser amado
Seja o crime mais gostoso e mais sublime
A confissão por certo não redime
A quem quer continuar culpado
E se eu for por acaso condenado
Não há razão para que desanime
Pelo contrário, altivo, embora fique
Meu coração partido em mil pedaços
Eu quero que a justiça se pratique
Sou réu de amor e julgo-me indefeso!
Pela justiça, entrego-me a teus braços
Pois eternamente quero ficar preso…
Tu pensas que amas muitas vezes…
Engano, puro engano,
esse é um estranho milagre do coração humano
que custei a entender,
e que ainda não compreendes talvez:
– Toda vez que se ama
é a primeira vez…
Saudade: enigma cruciante
que talvez se explique assim:
– quanto mais te sei distante
mais te sinto junto a mim…
A sós …
Como duas gaivotas
na solidão do céu,
em pleno mar,
sonhando no ar…
A sós
como duas mãos quando se procuram
e se encontram,
sem voz…
Como eu e tu
quando somos nós
a sós…
Áh ficar a te esperar é a um só tempo viver a angustia de te perder e a alegria de te encontrar.
ORDEM DO DIA
Não chegaremos ao livro, sem o leite e o pão,
nem chegaremos ao pão sem à terra e sem o teto,
nem chegaremos à terra sem liberdade e justiça,
nem chegaremos à liberdade, sem coragem e honestidade,
oh! a indispensável coragem para essa luta.
Lutemos pois, – todos nos, -brancos, pretos e amarelos,
que choramos e comemos, que crescemos e estudamos,
que sofremos e construímos, como homens sem cor,
todos nos que precisamos do mesmo leite branco
e do mesmo livro, e da mesma terra, e da mesma liberdade
para Viver. Viver. Ou ao menos morrer, mas lutando.
Tive muito amor para dar, a quem não teve braços para receber.
10- ERA TANTO?
E era tanto o que eu pedia?
Por que negavas assim?
Afinal eu só queria
que tu te desses a mim…
” Solilóquio Nº 4 “
Aperto a cabeça contra as mãos, e penso que ainda há pouco
tu a apertavas contra o seio.
Ficou em minhas mãos o cheiro de teu corpo
e estás em mim, e no ar que me acompanha
És um halo ao meu redor, que eu sinto e vejo
e quase apalpo com as minhas mãos vazias
que ainda te aguardam…
Aperto a cabeça contra as mãos, como se ainda
pudesse apanhar-te no pensamento.
” Curiosa “
Quando acordei
já te encontrei de olhos abertos
me espiando…
Curiosidade a tua!
querias ver com certeza como eu sou
sonhando contigo!
Gosto quando me falas de ti… e vou te percorrendo
e vou descortinando a tua vida
na paisagem sem nuvens, cenário de meus desejos tranqüilos.
Se …
Se eu pudesse parar a minha vida
e dar eternidade a um só momento,
se eu não tivesse o meu destino preso
ao destino das coisas nos espaços…
Se eu pudesse destruir todas as leis
e dentro do Universo que se move
parar o meu mundo:
havia de escolher esse segundo
em que Você estivesse nos meus braços!
Quero que me desculpe, amor, este gasto coração tão viajado, tão tatuado de amores. Quero que me desculpe, amor, esta ironia que me defende contra a vida e que te fere às vezes, sem razão. Que me perdoe, também, essa alma turva que não pode espelhar tua alegria e onde em vão te debruças, imprudente. Quero que me desculpe a minha vida fim de novela que não dá sequer para tecer franquias baratas um sonho pequenino e aquecer teu coração. Que me desculpe, amor, porque fui cúmplice do destino que tramou o nosso encontro, e porque nada fiz, por covardia, para evitar o mal que já sabia. Quero que me desculpe, amor, tão pobre amor, tão gasto amor, tão viajado amor, resto de um pouco amor que ainda subsiste, – que encontraste no cais, quando chegavas, e eu já partia, embebedado e triste…
Se porventura de repente um dia
o tempo de se esvai na mocidade,
encher-te de tristeza e de saudade
dos bons momentos desta alegria
Se como paralelas os caminhos
jamais se encontrem novamente
hás de lembrar, ao tempo que consome,
relendo estas linhas tristemente
Que és em cada letra do teu nome
a chama do amor que eu quis
a chama que o tempo não consome
e que há de brilhar para te fazer feliz
GOSTO QUANDO ME FALAS DE TI
Gosto quando me falas de ti… e vou te percorrendo
e vou descortinando a tua vida
na paisagem sem nuvens, cenário de meus desejos
[tranqüilos
Gosto quando me falas de ti… e então percebo
que antes mesmo de chegar, me adivinhavas,
que ninguém te tocou, senão o vento
que não deixa vestígios, e se vai
desfeito em carícias vãs…
Gosto quando me falas de ti… quando aos poucos a luz
vasculha todos os cantos de sombra, e eu só te encontro
e te reencontro em teus lábios, apenas pintados,
maduros,
mas nunca mordidos antes da minha audácia.
Gosto quando me falas de ti… e muito mais adiantas
em teus olhos descampados, sem emboscadas,
e acenas a tua alma, sem dobras, como um lençol
distendido,
e descortino o teu destino, como um caminho certo, cuja
primeira curva
foi o nosso encontro.
Gosto quando me falas de ti… porque percebo que te
[desnudas
como uma criança, sem maldade,
e que eu cheguei justamente para acordar tua vida
que se desenrola inútil como um novelo
que nos cai no chão…”
(Do livro “Quatro Damas” 1ª Edição, 1965)
Meu Coração
Eu tenho um coração um século atrasado
ainda vive a sonhar… ainda sonha, a sofrer…
acredita que o mundo é um castelo encantado
e, criança, vive a rir, batendo de prazer…
Eu tenho um coração – um mísero coitado
que um dia há de por fim, o mundo compreender…
– é um poeta, um sonhador, um pobre esperançado
que habita no meu peito e enche de sons meu ser…
Quando tudo é matéria e é sombra – ele é uma luz
ainda crê na ilusão, no amor, na fantasia
sabe todos de cor os versos que compus…
Deus pôs-me um coração com certeza enganado:
– e é por isso talvez, que ainda faço poesia
lembrando um sonhador do século passado
O verbo amar
Te amei: era de longe que te olhava
e de longe me olhavas vagamente…
Ah, quanta coisa nesse tempo a gente sente,
que a alma da gente faz escrava.
Te amava: como inquieto adolescente,
tremendo ao te enlaçar, e te enlaçava
adivinhando esse mistério ardente
do mundo, em cada beijo que te dava.
Te amo: e ao te amar assim vou conjugando
os tempos todos desse amor, enquanto
segue a vida, vivendo, e eu, vou te amando…
Te amar: é mais que em verbo é a minha lei,
e é por ti que o repito no meu canto:
te amei, te amava, te amo e te amarei!
(Do livro – Bazar de Ritmos – 1935)
Os versos que te dou
Ouve estes versos que te dou, eu
os fiz hoje que sinto o coração contente
enquanto teu amor for meu somente,
eu farei versos…e serei feliz…
E hei de fazê-los pela vida afora,
versos de sonho e de amor, e hei depois
relembrar o passado de nós dois…
esse passado que começa agora…
Estes versos repletos de ternura são
versos meus, mas que são teus, também…
Sozinha, hás de escutá-los sem ninguém que
possa perturbar vossa ventura…
Quando o tempo branquear os teus cabelos
hás de um dia mais tarde, revivê-los nas
lembranças que a vida não desfez…
E ao lê-los…com saudade em tua dor…
hás de rever, chorando, o nosso amor,
hás de lembrar, também, de quem os fez…
Se nesse tempo eu já tiver partido e
outros versos quiseres, teu pedido deixa
ao lado da cruz para onde eu vou…
Quando lá novamente, então tu fores,
pode colher do chão todas as flores, pois
são os versos de amor que ainda te dou.
(Do livro “Meu Céu Interior” – 1934)
Essa…
Essa, que hoje se entrega aos meus braços escrava
olhos tontos do amor de que aos poucos me farto,
ontem… era a mulher ideal que eu procurava
que enchia a minha insônia a rondar o meu quarto…
Essa, que ao meu olhar parado e indiferente
há pouco se despiu – divinamente nua -,
já me ouviu murmurar em êxtase, fremente:
– Sou teu! … E já me disse, a delirar: – Sou tua !
Essa, que encheu meus sonhos, meus receios vãos,
num tempo em que eram vãos meus sonhos, meus receios,
já transbordou de vida a ânsia das minhas mãos
com a beleza estonteante e morna dos seus seios !
Essa, que se vestiu… que saiu dos meus braços
e se foi… – para vir, quem sabe? uma outra vez.
– segui-a… e eu era a sombra dos seus próprios passos..
– amei-a… e eu era um louco quando a amei talvez…
Hoje, seu corpo é um livro aberto aos meus sentidos
já não guarda as surpresas de antes para mim…
(Não importa se há livros muita vez relidos
importa… é que afinal, todos eles têm fim…
Essa, a quem julguei Ter tanta afeição sincera
e hoje não enche mais a minha solidão,
simboliza a mulher que sempre a gente espera…
mas que chega, e se vai… como todas vão…
(Do livro – Amo – 1939)
Soneto à tua volta
Voltaste, meu amor… enfim voltaste!
Como fez frio aqui sem teu carinho….
A flor de outrora refloresce na haste
que pendia sem vida em meu caminho.
Obrigado… Eu vivia tão sozinho…
Que infinita alegria, e que contraste!
-Volta a antiga embriaguez porque voltaste
e é doce o amor, porque é mais velho o vinho!
Voltaste… E dou-te logo este poema
simples e humilde repetindo um tema
da alma humana esgotada e envelhecida…
Mil poetas outras voltas celebraram,
mas, que importa? – se tantas já voltaram
só tu voltaste para a minha vida…
(Do livro “Eterno Motivo” ” – Prêmio Raul de Leoni, da Academia Carioca de Letras – 1943)
Carta a um amor impossível
Recebi tua carta, – e ainda sob o peso
da emoção que me trouxe, eu te escrevo, surpreso,
reavivando na minha lembrança esquecida
certos traços sem cor de uma história perdida:
– falo dos poucos dias que passamos juntos.
Tão longe agora estas, quantos belos assuntos
a que eu não quis, nem soube mesmo dar valor,
relembras com um estranho e desvelado amor.
Tua carta é tão doce, e tão cheia de cores
que, dir-se-ia a escrever com o mel que há nas flores,
sobre o azul de um papel tão azul, que o papel
faz a gente pensar num pedaço de céu!
Impregnado nas folhas chegou até mim,
um perfume sutil e agreste de jasmim
e um pouco do ar sadio e puro de montanha!
Estranha a tua carta, inesperada e estranha!
Deixas nas minhas mãos a tua alma confiante,
ante a revelação desse amor deslumbrante
e abres teu coração, num gesto de ansiedade,
sob a opressão cruel de uma imensa saudade.
Dizes que só por mim tu vives, – que a tristeza
é a companheira fiel que tens por toda parte,
e me falas assim com tamanha franqueza
que eu nem sei que dizer receando magoar-te!
Não compreendo esse amor que revelas por mim
nem mereço a ternura e o enlevo sem fim
de um só trecho sequer de tudo o que escreveste,
– por exemplo, – de um trecho belo e bom, como este:
“Teu olhar é o meu sol! Vivo da sua luz!
– e mesmo que esse amor seja como uma cruz
eu o levarei comigo em meu itinerário!
E o bendirei na dor ascendendo ao Calvário!
Sem ele não existo; e sem ti, meu destino
será vazio, assim como o bronze de um sino
que ficou mutilado e emudeceu seus sons
na orquestra matinal dos outros carrilhões!
Quero ser tua sombra até, – e quando tudo
te abandonar na vida, e o frio, e quedo, e mudo,
encerrarem teu corpo em paz sob um lajedo,
eu ficarei contigo ao teu lado, sem medo,
e sozinha e sem medo eu descerei contigo
oh! Meu único amor! Oh! Meu querido amigo!
– para que os nossos corpos juntos, abraçados,
fiquem na mesma terra em terra transformados!”
Escreves tudo assim, – e eu nem sei que te diga
nesta amarga resposta, oh! Minha pobre amiga!
Tarde, tarde demais… Bem me arrependo agora
do amor que te inspirei, daquele amor de outrora
que eu julgava um brinquedo a mais em minha vida
e a quem davas tua alma inteira e irrefletida…
Releio a tua carta, e confesso que sinto
o ter-te que falar sobre esse amor extinto,
um prelúdio de amor que ficou sem enredo
e que só tu tocaste em surdina, em segredo…
Dizes que o que eu mandar, farás… e que és tão minha
que mesmo que não te ame e que fiques sozinha
bastará para ti a lembrança feliz
dos dias de ilusão em que nunca te quis!
E escreves, continuando essa carta que eu leio
com uma vontade louca de parar no meio:
“Minha vontade é a tua! E meu destino enredo
no teu!… És o meu Deus! Teu desejo é o meu credo!
Creio na tua força e no teu pensamento,
e nem um só segundo e nem um só momento
deixarei de seguir-te aonde quer que tu fores,
seja a estrada coberta de espinhos ou flores,
te aureole a fronte a glória e te sirva a riqueza
ou vivas no abandono e sofras na pobreza!
Serei outra Eleonora Duse, e te amarei
com um amor infinito, sem razão nem lei.
Tu serás o meu Poeta imortal, – meu Senhor,
a quem entregarei minha alma e o meu amor!
Creio na tua força e no teu pensamento!
– faço dela um arrimo, e tenho nele o alento
da única razão que dirige meus atos;
– é a lógica fatal das cousas e dos fatos!
Orgulho-me de ser a matéria plasmável
onde o teu gênio inquieto, e nervoso, e insaciável,
há de esculpir uma obra à tua semelhança!
Junto a ti sou feliz e me sinto criança
curiosa de te ouvir, fascinada e atraída
pela tua palavra alegre e colorida!
E se falas da vida ou se o mundo desvendas
os assuntos ressoam na alma como lendas
e tudo é novo e é belo, e tudo prende e atrai,
de um simples botão que se abre a um pingo d’água que caí.
Há em tudo uma alma nova! Há em tudo um novo encanto!
Tantas vezes te ouvi! E sempre o mesmo espanto
quando tu me dizias, que era tarde, era a hora
em que eu ia dormir em que te ias embora…
Muitas vezes, deitada, – eu rezava baixinho
uma prece que fiz só para o meu carinho:
com meus beijos de amor matarei tua sede,
com os meus cabelos tecerei a rede
onde adormecerás feliz, imaginado
que é a noite que te envolve e te embala cantando;
formarei com os meus braços o ninho amoroso
onde terás na volta o almejado repouso;
minhas mãos te darão o mais terno carinho
e julgarás que é o vento a soprar de mansinho
sussurrando canções e desfeito em desvelos
a desmanchar de leve os teus claros cabelos!
No meu seio, – que a uma onda talvez se pareça,
recostarei feliz, enfim, tua cabeça,
e nada, nenhum ruído há de te perturbar!
– meu próprio coração mais baixo há de pulsar…
Quando o sol castigar as frondes e as raízes
com o meu corpo farei a sombra que precises,
e se o inverno chegar, ou se sentir frio,
em mim hás de achar todo o calor do estio!
Não te rias, – bem sei que te digo tolices,
mas ah! Se compreendesses tudo, ou se sentisses
a alegria que sinto ao te falar assim,
talvez que não te risses, meu amor, de mim…
Isto tudo, – é obra apenas da fatalidade,
– quando o amor é uma doença e é uma febre a saudade.”
Tua carta é uma frase inteira de ternura,
como uma renda fina, cuja tessitura
trai a mão delicada e a alma de quem a fez
Ela é bem a expressão da mulher, que uma vez…
(mas não, não recordemos estas cousas mais,
– para o teu bem, deixemos o passado em paz
se o não posso trazer num augúrio feliz
para a prolongação de um sonho que desfiz…)
Tua carta é o reflexo da tua beleza,
e há no seu ofertório a singela pureza
desse amor que te empolga e te invade e domina!
(Uma alma de mulher num corpo de menina!)
Reli-a muito, a sós… – Mais adiante tu dizes,
com esse místico dom das criaturas felizes:
“Amo, para a alegria suprema e indizível
de humilhar-me aos teus pés tanto quanto possível,
e viverei feliz, como a poeira da estrada
se erguer-me ao teu passar, numa nuvem dourada
cheia de sol e luz, – nessa glória fugaz
de acompanhar-te os passos aonde quer que vás!
Não importa que eu role depois no caminho,
não importa que eu fique abandonada e só,
– quem nasceu para espinho há de ser sempre espinho!…
– quem nasceu para pó, há de sempre ser pó!”
Faz-me mal tua carta, muito mal… Receio
pelo amor infeliz que abrigaste em teu seio,
e uma angústia mortal me oprime e me castiga,
deixa que te confesse, oh! Minha pobre amiga!
Não pensei… Não pensei que te afeiçoasses tanto,
nem desejava ver a tristeza do pranto
ensombrecer teus olhos… Quando tu partiste,
não compreendia bem por que ficaste triste
nem quis acreditar no que estavas sentindo…
Hoje, – hoje eu descubro que o teu sonho lindo
era mais do que um sonho, – era mesmo, em verdade
uma grande esperança de felicidade!
Me perdoarás, no entanto… ah! Não fosses tão boa!
E eu insisto de joelhos a teus pés: – perdoa!
Se eu soubesse, ou se ao menos eu adivinhasse
o que não pude ver além de tua face
e o que não soube ler velado em teu olhar,
não teria deixado esse amor te empolgar…
Perdoa o involuntário mal que te causei!
A carta que escreveste, e há bem pouco guardei,
um grande mal também causou-me sem querer:
– é bem rude e bem triste a gente perceber
que encontrou seu ideal, – o seu ideal mais belo,
– e o destruir, tal como eu, que agora o desmantelo!
É doloroso a gente em mil anos sonhá-lo
e inesperadamente ter que abandoná-lo!
Se algum amor eu quis, esse era igual ao teu
que tudo me ofertou e nada recebeu;
ingênuo e puro amor, simples, sem artifícios,
capaz como bem dizes “de mil sacrifícios,
e de mil concessões, chorando muito embora,
só para ver feliz o ente que quer e adora!”
E pensar que isso tudo que tu me ofereces:
— teu raro e imenso amor, teus beijos, tuas preces,
a tua alma de criança ainda em primeiro anseio;
e o teu corpo, onde a forma ondulante do seio
não atingiu sequer seu máximo esplendor;
tua boca, ainda pura aos contatos do amor;
– e dizer que isso tudo, isso tudo afinal
que era o meu velho sonho e o meu maior ideal,
abandono, desprezo, renuncio e largo
com um gesto vil como este, indiferente e amargo!
Enfim, já estás vingada… Porque ainda és criança
há de este falso amor te ficar na lembrança
como uma experiência… (a primeira vencida
das muitas que talvez ainda encontres na vida… )
E um dia então… – quem sabe se não será breve?
– descobrirás na vida aquele amor que deve
transformar teu destino e realizar teu sonho…
Antevendo esse dia de festa, risonho,
comporei, como um véu de noiva, para as bodas,
a mais bela poesia, a mais bela de todas…
(… Recebendo-a, dirás, esquecida e contente:
– “quem teria enviado este estranho presente?”)
Sé feliz, minha amiga… eu me despeço aqui…
Lamento o meu destino, porque te perdi
e maldigo esta carta pelo que ela diz…
Não chores, – porque eu sei que ainda serás feliz…
E que as lágrimas de hoje, – enxuguem-se ao calor
de um verdadeiro, eterno e imorredouro amor!
P. S. – Sê feliz. Amanhã tudo isto será lenda…
E pede a Deus, por mim, – que eu nunca me arrependa…
(do livro” Eterno Motivo” – 1943)
A BICICLETA
Me lembro, me lembro
foi depois do jantar, meu avô me chamou,
tinha um riso na cara, um riso de festa:
– Guilherme, vou tapar seus olhos,
venha cá.
Os tios, os primos, os irmãos, na grande mesa redonda
ficaram rindo baixinho, estou ouvindo, estou ouvindo:
– Abre os olhos, Guilherme!
Estava na sala de jantar, junto da porta do corredor,
como uma santa irradiando, num altar,
como uma coroa na cabeça de um rei,
a bicicleta novinha, com lanterna, campainha, lustroso selim de couro,
tudo.
Me lembrei hoje da minha bicicleta
quando chegou a minha geladeira.
Mas faltou qualquer coisa à minha alegria,
talvez a mesa redonda, os tios, os primos rindo baixinho,
– abre os olhos, Guilherme!
Oh! Faltou qualquer coisa à minha alegria!
Falta de Ar
Há dias que posso passar sem sol, sem luz,
sem pão,
sem tudo enfim…
( Tenho até a impressão de que não preciso de nada…
… nem mesmo de mim…)
Mas há dias, amor… ( e parece mentira)
– nem eu sei explicar o porquê
de tão grande aflição –
em que não posso passar sem Você
um segundo que seja!
– de repente preciso encontrá-la, é preciso que a veja –
– Você é o ar com que respira
meu coração !
Ser mãe…
Quando todos te condenem
quando ninguém te escutar,
ela te escuta e perdoa,
pois ser mãe – é perdoar!
Quando todos te abandonem
e ninguém te queira ver,
ela te segue e procura
pois ser mãe – é compreender!
Quando todos te negarem
um pão, um beijo, um olhar,
ela te ampara e acarinha
pois ser mãe – sempre é se dar!
Trovas De Ciúme
“Dosado”, o ciúme é tempero
que à afeição da mais sabor…
Mas, levado ao exagero,
é o pior veneno do amor…
Cão de guarda, ameaçador,
a rosnar, furioso e cego
eis afinal, meu amor,
este ciúme que carrego…
Do amor e da desconfiança
infeliz casal sem lar,
nasceu o ciúme, – essa criança
tão difícil de educar…
Perigoso, onipotente,
verdadeiro ditador…
o ciúme é um cego, doente,
ou um doente, cego de amor?
Eis como o ciúme defino:
mal que faz mal sem alarde
corte de alma, muito fino,
que não se vê… mas como arde!
O ciúme, desajustado,
por louco amor concebido,
era uma amante, (coitado)
a padecer… de marido!”
Amo-te na alegria suprema e indivisível, de humilhar-me aos teus pés o tanto quanto possível.
A verdade é que me acomodei de tal modo em minha infelicidade, que quase sou feliz.
Parece coisa de louco
Como explicar na verdade
Que o amor, que durou tão pouco
Me doa uma eternidade
Sim, tive amantes e amadas,
fui escravo, fui senhor.
Mas só agora que te encontro
tenho amante e amada
num mesmo amor.
ROSA… ESPINHO
Pago a impaciência
desta paixão ansiosa
por te querer
em meu caminho..
quis colher a rosa
feriu-me o espinho.
Não é apenas só que estou me sentindo
É muito pior:
– Estou me sentindo sem você.
Terias razão ,afinal pra não acreditar na grandeza do meu amor,
se eu fosse capaz de traduzi-lo em palavras.
Chove em minha solidão ,
este vapor que sobe do chão
é ainda teu calor.
Talvez seja o tempo…a vida…a idade…
mas a gente vai aprendendo a renunciar
a tanto que se quis…
A verdade
é que me acomodei de tal modo na minha infelicidade,
que quase que sou feliz…
E afinal há uma sutil diferença
em nosso amor,
(ninguém o diz)
tu…queres ser feliz,
eu, quero te fazer feliz!!!!!
Ateu do amor
tu me converteste…
agora temo te ver,
porque não creio em milagres.
Antes eu conseguia juntar os pedaços
e voltar a ser eu.
Impossivel agora.
Como conseguir reconstruir-me
se me falta você??
Agora
já frio o coração
(mas a alma, entretanto, ainda ferida)
resta-me a amarga e silenciosa convicção,
de só tão tarde ter percebido
que nem sequer existi em tua vida.
Mereço tudo. Tinha que acontecer.
Curvei-me tanto a este amor
que passaste por cima
sobranceira
e acabaste por nem me perceber…