AutorInês Francisco Jacob

Inês Francisco Jacob

⁠e se perguntarem por mim
diz-lhes que fui à minha procura.

Inês Francisco Jacob

⁠agora
compreendo melhor
as garras dos gatos:
também eu gostaria
de esconder
punhais
por baixo
de um corpo manso

Inês Francisco Jacob

⁠BIOGRAFIA EM VIDA
Se fossem regados
os meus canteiros
fariam brotar
flores de plástico.

Inês Francisco Jacob

⁠a minha avó repete:
o tempo cura a ferida
mas não cura a cicatriz
e nenhum outro poema
de nenhum outro poeta
me falou tão alto ao ouvido

Inês Francisco Jacob

⁠não me importo que o vestido
suba com o vento
até certo centímetro da perna
lembro-te que já disseste todos os fins
das coisas
aceito até os pardais
que chocam em contramão com
Bóreas
aceno às mulheres
nas varandas
e digo-lhes:
prendam bem a roupa no arame
ladrões há muitos
o meu vestido é uma bandeira:
agita sem rasgar
sem fronteira sem hino
recorta os flancos e funde nos joelhos
uma profunda melodia:
o mar na areia
mas não sou cacique
e o vento não me fala
não há um gesto de tréguas
e ainda tento
ainda penso agarrá-lo entre os dedos
ainda o procuro na gota de silêncio maior
vento, vem
vento, fica
mas só o meu vestido se espanta
e dança
contra a minha vontade

Inês Francisco Jacob

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