A angústia – ou o medo – é consequência de um desejo recalcado.
Na vida, a gente começa sendo criança e atravessa a idade adulta através de mil caminhos que levam todos a um mesmo ponto: a volta ao estado infantil.
As pessoas que detestam a mãe não têm filhos… Quando se odeia a mãe, teme-se o próprio filho, pois o ser humano vive segundo o velho preceito: ‘Neste mundo tudo se paga …”
”Que todos os humanos sejam médicos.
E que todos os médicos sejam humanos.”
Não é verdade que o sofrimento seja um obstáculo ao prazer; mas em compensação, é verdade que o sofrimento é uma das condições para o prazer.
Para mim, essa [“contra a natureza”] é uma das expressões da megalomania do homem, que pretende ser senhor e mestre da natureza. O mundo é dividido em duas partes: aquilo que convém momentaneamente ao ser humano é natural; aquilo que o desagrada, ele considera antinatural. (…) Elimine a expressão “contra a natureza” de seu vocabulário habitual; com isso, estará dizendo uma besteira a menos.
”A noção de feiticeira deriva do complexo de Édipo; a feiticeira é a mãe que, através da mágica, apodera-se do pai, mesmo pertencendo este à menina. Em outras palavras: mãe e feiticeira são para o ISSO da alma humana, geradora de contos, uma única e mesma pessoa.”
”É um erro mais ou menos sincero acreditar que vivemos para os outros ou para alguma coisa. Isso é algo que não fazemos nunca, nem por um momento, nunca. E aquele que para o qual apelam esses promotores do sentimento de sacrifício da renúncia, do amor ao próximo – coisas tão nobres quanto imaginárias – Cristo, sabia muito bem disso. Não foi ele quem pronunciou esse mandamento considerado por ele, sem dúvida, como o ideal supremo, quase impossível de alcançar: “Ama teu próximo como a ti mesmo!”? Veja bem, ele não disse “mais do que a ti mesmo” mas “como a ti mesmo”, “como te amas a ti mesmo”.”
”Você nunca se enganará ao supor que uma certa pessoa amou muito e ainda ama aquilo que diz detestar, que admirou muito e ainda admira o que despreza, que desejou com sofreguidão e ainda deseja o que a desgosta. Abominar a mentira é mentir a si próprio. Se a sujeira inspira horror, é porque representa um perigosa tentação; desprezar alguém significa que esse alguém é admirado e invejado.”
”Amaldiçoamos aquilo de que gostamos.”
”…quanto mais uma criança gosta da mãe, mais ela tem de lutar para se separar dela (…). O labor incessante que evidenciam é uma rebelião contra os elos do amor infantil que sentiam e que arrastam atrás de si.”
”Não seria tão ruim que os homens chamados a exercer a medicina fossem os menos inteligentes, pensassem com menos sutilezas e deduzissem as coisas de modo mais infantil. Com isso se estaria fazendo melhor do que construindo sanatórios e hospitais.”
A doença é um mal menor (corpo) para evitar um mal maior (alma).
Quanto mais profundo for o conflito íntimo do ser humano, mais grave serão as doenças, pois elas representam simbolicamente o conflito. E, inversamente, quanto mais graves forem as doenças, mais os desejos e a resistência a esses desejos serão violentos. (…) Só morre aquele que quer morrer, aquele para quem a vida tornou-se insuportável.
A doença tem uma razão de ser: ela deve resolver o conflito, recalcá-lo e impedir o que foi recalcado de chegar ao consciente. (… ) Mas a doença também é um símbolo, uma representação de um processo interior, uma encenação do Isso através da qual ele anuncia o que não se atreve a dizer de viva voz.
Toda doença é uma renovação do estado de bebê e encontra suas origens na saudade da mãe.
Não há melhor prova de paixão pela mãe, de dependência do complexo de Édipo, do que um constante estado doentio.
”… nos instantes de volúpia quando, no êxtase do g0zo, o homem perde consciência do mundo exterior e, na expressão popular, “morre no outro”. Isso significa que a morte e o amor têm uma estreita semelhança.”
Sob o pretexto de que o rei não parece ocupar uma posição suficientemente alta, e também a fim de satisfazer nossa insaciável paixão pela grandeza, que decretamos que somos filhos de Deus e criamos a ideia de Deus Pai.
”A partir do momento em que cessa o desenvolvimento da pessoa, começa o embrutecimento do ser humano e, ao invés de continuar sua procura da busca das maravilhas da existência, ele se contenta com ler jornais, ou educar-se até que um ataque o fulmine em seu escritório, acabando com tudo. Do berço à cova.”
Tenho a impressão de que o mais difícil na vida é deixar-se ir, observar e seguir a voz dos Issos, tanto em relação ao próximo quanto em relação a si mesmo. Mas vale a pena. (…) A gente deveria renunciar a “ser adulto” desde os vinte e cinco anos; até aí, precisamos disso para crescer, mas depois disso a coisa só é útil para os raros casos de ereção.
Não é o médico que derrota a doença, mas o doente. O doente cura a si mesmo, com suas próprias forças, assim como é através de suas próprias forças que ele caminha, come, pensa, respira, dorme.
E a causa interna [da doença] foi completamente esquecida! Por quê? Porque é muito desagradável olhar para dentro de si mesmo.
É um erro acreditar que o doente vai ao médico para se tratar. Há apenas uma parte de seu Isso disposta a sarar, a outra se obstina na doença.
”O primeiro doente a ser tratado é o médico.”
Quando alguém se sente doente, deve ser tratado como doente, mesmo que não apresente nada de patológico. É fácil falar de imaginação, histeria, vontade de chamar atenção, mas é uma imprudência. Se se quer tratar um ser humano como “doente imaginário”, não se deve esquecer que, agindo assim, se está destruindo a alegria de uma existência.
A doença é um dos meios de aceder ao conhecimento de si mesmo, é uma linguagem, um caminho através do qual o homem descobre, em si, a infância e a violência de suas paixões.
O artista é aquele que chega a captar o ´não-captável´ do seu ser, e a exprimi-lo de forma justa: que o revela e o esconde ao mesmo tempo. É aquele que sabe exprimir a reflexão íntima do ser humano, aquele que não tem palavras e é por isto que suas obras causam efeito.
A vida é o que cada um sente por sua mãe; viver é chegar a clarificar suficientemente a paixão para não ser quebrado por ela.
Não é preciso ter medo de se aproximar da morte para aí encontrar a vida; as forças que conduzem à morte são também aquelas que reconduzem à vida. É preciso amar e temer a doença, para poder cuidar dela.
O resultado da vida é ser uma criança.
Médicos perigosos são aqueles que cuidam de doentes para não ver suas próprias doenças.
É preciso não ter medo da doença para poder curá-la.
Somente quando o médico cessa de querer ser médico, começa, realmente, a arte médica. Quem é ser humano é médico, todo ser humano é médico, todo ser humano pode vir a sê-lo, se deixar de ser persona, comediante, e se encontrar a si mesmo como ser humano.
Ser médico significa ser um ser humano, um ser humano pronto para servir.
A linguagem, enquanto dupla articulação, é não somente constituída de signos, mas veículo dos símbolos e, também, portadora de sentido, muito frequentemente desconhecido para aquele que fala.
O acaso não existe: toda doença, acidental ou não, tem um significado.
O id utiliza a doença para alcançar certos objetivos.
De fato, só se pode aplicar a análise quando o doente permite e reconhece a indicação do tratamento pelo abandono da resistência. Um doente que resiste até a inconsciência não pode ser analisado, pois o objeto do tratamento é o consciente e o recalcado, o que pode aceder ao consciente. Um doente que manifesta sua resistência sob a forma de uma doença rápida não pode ser analisado.
(in La maladie, l´art et le symbole, p. 137-138)
Porque é um erro crer que o doente vai ao médico para sarar. Ele tem apenas uma parte do seu ´id´ disposto a isto, a outra teima na doença e espreita sinistramente a oportunidade de obrigar o médico a prejudicá-lo.
(Livre du ça, Gallimard, Paris, 1973, p. 308)
Se o médico representa a vontade de cura, aparece para o doente – que recorreu à doença para resolver um conflito – como o inimigo a combater. Ambivalente em relação à sua enfermidade, ele pode encontrar em seu médico motivos de resistência à cura e também de agravamento da doença.
Em um tratamento onde transferência e resistência constituem os eixos, tudo o que sobrevém como tentativa de ruptura da relação analítica, como um agravamento brusco da doença ou gesto suicida, é resultado de um ocultamento – da parte do médico e do doente – dos símbolos que operam neste momento.
O que quer que você condene, você mesmo fez.
Não se deve esquecer que a recuperação não é realizada pelo médico, mas pelo próprio doente. Ele cura a si mesmo, por seu próprio poder, exatamente como ele anda por meio de seu próprio poder, ou come, ou pensa, respira ou dorme.
A doença é uma manifestação de vida do organismo humano.
Reconciliar o adulto com o ser-criança consiste em readaptá-lo, amputá-lo do que nele é doente, confuso, associal, pervertido, desordenado, excessivo, mas dar-lhe possibilidade de “brincar com”, restituir-lhe sua liberdade.
A sexualidade do adulto é o resultado da integração das sexualidades infantis, pulsões parciais dos diversos órgãos, e não o resultado de seu recalcamento, assim como a vida adulta é o resultado da integração de todas as formas de vida infantil.
Por que deveríamos levar sempre a sério o que se diz científico? Parece-me que a ciência cessa no momento em que se transforma em regra, em que se torna lei.
Freud é inibido pela funesta crença na absoluta necessidade do batismo, da nomenclatura, mas ele compensa por seu gênio. Você também reconhece isso mas não nota que o grande chapéu do adulto, que envolve sua cabeça embrutecida, para que nada entre ou nada saia, é um jogo para nós, crianças. Graças a Deus, um jogo. (Carta a Ferenczi de 12-11-1922, in Ça et moi, p.186)
É a linguagem do doente que o médico deve aprender e não lhe impor a sua, se quer entendê-lo.
Abolir a oposição entre o bem e o mal, conhecer-se a si mesmo e tornar-se criança (…). Devemos considerar tudo com um olhar humano, sem saber se é realmente assim ou se parece unicamente assim. Esta afirmação abala a respeito pela autoridade, mas a reverência pelas coisas profundas ela nao abala
A angústia – ou o medo – é consequência de um desejo recalcado.
Na vida, a gente começa sendo criança e atravessa a idade adulta através de mil caminhos que levam todos a um mesmo ponto: a volta ao estado infantil.
As pessoas que detestam a mãe não têm filhos… Quando se odeia a mãe, teme-se o próprio filho, pois o ser humano vive segundo o velho preceito: ‘Neste mundo tudo se paga …”
”Que todos os humanos sejam médicos.
E que todos os médicos sejam humanos.”
Não é verdade que o sofrimento seja um obstáculo ao prazer; mas em compensação, é verdade que o sofrimento é uma das condições para o prazer.
Para mim, essa [“contra a natureza”] é uma das expressões da megalomania do homem, que pretende ser senhor e mestre da natureza. O mundo é dividido em duas partes: aquilo que convém momentaneamente ao ser humano é natural; aquilo que o desagrada, ele considera antinatural. (…) Elimine a expressão “contra a natureza” de seu vocabulário habitual; com isso, estará dizendo uma besteira a menos.
”A noção de feiticeira deriva do complexo de Édipo; a feiticeira é a mãe que, através da mágica, apodera-se do pai, mesmo pertencendo este à menina. Em outras palavras: mãe e feiticeira são para o ISSO da alma humana, geradora de contos, uma única e mesma pessoa.”
”É um erro mais ou menos sincero acreditar que vivemos para os outros ou para alguma coisa. Isso é algo que não fazemos nunca, nem por um momento, nunca. E aquele que para o qual apelam esses promotores do sentimento de sacrifício da renúncia, do amor ao próximo – coisas tão nobres quanto imaginárias – Cristo, sabia muito bem disso. Não foi ele quem pronunciou esse mandamento considerado por ele, sem dúvida, como o ideal supremo, quase impossível de alcançar: “Ama teu próximo como a ti mesmo!”? Veja bem, ele não disse “mais do que a ti mesmo” mas “como a ti mesmo”, “como te amas a ti mesmo”.”
”Você nunca se enganará ao supor que uma certa pessoa amou muito e ainda ama aquilo que diz detestar, que admirou muito e ainda admira o que despreza, que desejou com sofreguidão e ainda deseja o que a desgosta. Abominar a mentira é mentir a si próprio. Se a sujeira inspira horror, é porque representa um perigosa tentação; desprezar alguém significa que esse alguém é admirado e invejado.”
”Amaldiçoamos aquilo de que gostamos.”
”…quanto mais uma criança gosta da mãe, mais ela tem de lutar para se separar dela (…). O labor incessante que evidenciam é uma rebelião contra os elos do amor infantil que sentiam e que arrastam atrás de si.”
”Não seria tão ruim que os homens chamados a exercer a medicina fossem os menos inteligentes, pensassem com menos sutilezas e deduzissem as coisas de modo mais infantil. Com isso se estaria fazendo melhor do que construindo sanatórios e hospitais.”
A doença é um mal menor (corpo) para evitar um mal maior (alma).
Quanto mais profundo for o conflito íntimo do ser humano, mais grave serão as doenças, pois elas representam simbolicamente o conflito. E, inversamente, quanto mais graves forem as doenças, mais os desejos e a resistência a esses desejos serão violentos. (…) Só morre aquele que quer morrer, aquele para quem a vida tornou-se insuportável.
A doença tem uma razão de ser: ela deve resolver o conflito, recalcá-lo e impedir o que foi recalcado de chegar ao consciente. (… ) Mas a doença também é um símbolo, uma representação de um processo interior, uma encenação do Isso através da qual ele anuncia o que não se atreve a dizer de viva voz.
Toda doença é uma renovação do estado de bebê e encontra suas origens na saudade da mãe.
Não há melhor prova de paixão pela mãe, de dependência do complexo de Édipo, do que um constante estado doentio.
”… nos instantes de volúpia quando, no êxtase do g0zo, o homem perde consciência do mundo exterior e, na expressão popular, “morre no outro”. Isso significa que a morte e o amor têm uma estreita semelhança.”
Sob o pretexto de que o rei não parece ocupar uma posição suficientemente alta, e também a fim de satisfazer nossa insaciável paixão pela grandeza, que decretamos que somos filhos de Deus e criamos a ideia de Deus Pai.
”A partir do momento em que cessa o desenvolvimento da pessoa, começa o embrutecimento do ser humano e, ao invés de continuar sua procura da busca das maravilhas da existência, ele se contenta com ler jornais, ou educar-se até que um ataque o fulmine em seu escritório, acabando com tudo. Do berço à cova.”
Tenho a impressão de que o mais difícil na vida é deixar-se ir, observar e seguir a voz dos Issos, tanto em relação ao próximo quanto em relação a si mesmo. Mas vale a pena. (…) A gente deveria renunciar a “ser adulto” desde os vinte e cinco anos; até aí, precisamos disso para crescer, mas depois disso a coisa só é útil para os raros casos de ereção.
Não é o médico que derrota a doença, mas o doente. O doente cura a si mesmo, com suas próprias forças, assim como é através de suas próprias forças que ele caminha, come, pensa, respira, dorme.
E a causa interna [da doença] foi completamente esquecida! Por quê? Porque é muito desagradável olhar para dentro de si mesmo.
É um erro acreditar que o doente vai ao médico para se tratar. Há apenas uma parte de seu Isso disposta a sarar, a outra se obstina na doença.
”O primeiro doente a ser tratado é o médico.”