A vantagem de ter péssima memória é divertir-se muitas vezes com as mesmas coisas boas como se fosse a primeira vez.
A vida vai ficando cada vez mais dura perto do topo.
As convicções são inimigas mais perigosas da verdade do que as mentiras.
É mais fácil lidar com uma má consciência do que com uma má reputação.
Não há fatos eternos, como não há verdades absolutas.
O que não provoca minha morte faz com que eu fique mais forte.
Para a maioria, quão pequena é a porção de prazer que basta para fazer a vida agradável!
Se uma mulher tem inclinações eruditas é porque, em geral, há algo de errado na sua sexualidade. A esterilidade predispõe a uma certa masculinidade do gosto; é que o homem, com vossa licença, é de fato «o animal estéril».
Os grandes intelectuais são céticos.
A objeção, o desvio, a desconfiança alegre, a vontade de troçar são sinais de saúde: tudo o que é absoluto pertence à patologia.
O homem é definido como um ser que evolui, como o animal é imaturo por excelência.
O ser refutável não é o menor dos encantos de uma teoria.
Certos pavões escondem de todos os olhos a sua cauda – chamando a isso o seu orgulho.
A vontade é impotente perante o que está para trás dela. Não poder destruir o tempo, nem a avidez transbordante do tempo, é a angústia mais solitária da vontade.
Logo que, numa inovação, nos mostram alguma coisa de antigo, ficamos sossegados.
Aquilo que se faz por amor está sempre além do bem e do mal.
A vontade de superar um afeto não é, em última análise, senão vontade de um outro ou de vários outros afetos.
Temos a arte para não morrer da verdade.
Torna-te aquilo que és.
A moralidade é a melhor de todas as regras para orientar a humanidade.
Os homens graves e melancólicos ficam mais leves graças ao que torna os outros pesados, o ódio e o amor, e assim surgem de vez em quando à sua superfície.
No matrimônio existem apenas obrigações e alguns direitos.
Tudo é precioso para aquele que foi, por muito tempo, privado de tudo.
Quem, em prol da sua boa reputação, não se sacrificou já uma vez – a si próprio?
É pelas próprias virtudes que se é mais bem castigado.
Culpamos as pessoas das quais não gostamos pelas gentilezas que nos demonstram.
Nós fazemos acordados o que fazemos nos sonhos: primeiro inventamos e imaginamos o homem com quem convivemos – para nos esquecermos dele em seguida.
A vida mais doce é não pensar em nada.
O que é o macaco para o homem? Uma risada ou uma dolorosa vergonha.
No convívio com sábios e artistas facilmente nos enganamos no sentido oposto: não é raro encontrarmos por detrás dum sábio notável um homem medíocre, e muitas vezes por detrás de um artista medíocre – um homem muito notável.
O sábio como astrônomo. – Enquanto sentires as estrelas como algo “acima de ti” não possuis ainda o olhar do homem que sabe.
As vivências terríveis fazem-nos pensar se o seu protagonista não é, ele próprio, algo de terrível.
Todos vós, que amais o trabalho desenfreado (…), o vosso labor é maldição e desejo de esquecerdes quem sois.
Encontra-se sempre, aqui e ali, algum semideus que consegue viver em condições terríveis, e viver vencedor! Quereis ouvir os seus cantos solitários? Escutai a música de Beethoven.
Logo que comunicamos os nossos conhecimentos, deixamos de gostar deles suficientemente.
Quem luta com monstros deve velar por que, ao fazê-lo, não se transforme também em monstro. E se tu olhares, durante muito tempo, para um abismo, o abismo também olha para dentro de ti.
O atrativo do conhecimento seria pequeno se no caminho que a ele conduz não houvesse que vencer tanto pudor.
Os poetas são impudicos para com as suas vivências: exploram-nas.
Se se tem caráter, tem-se também uma experiência típica própria, que sempre retorna.
O macaco é um animal demasiado simpático para que o homem descenda dele.
Há uma exuberância na bondade que parece ser maldade.
Uma vez tomada a decisão de não dar ouvidos mesmo aos melhores contra-argumentos: sinal do caráter forte. Também uma ocasional vontade de se ser estúpido.
O homem é uma corda esticada entre o animal e o super-homem, uma corda por cima do abismo.
Quem for fundamentalmente um mestre, apenas toma a sério tudo o que se relaciona com os seus discípulos, – incluindo a si próprio.
Levar insidiosamente o próximo a uma boa opinião de nós e, depois, acreditar piamente nessa boa opinião: quem consegue imitar nesta habilidade as mulheres?
Na vingança e no amor a mulher é mais bárbara do que o homem.
O homem procura um princípio em nome do qual possa desprezar o homem. Inventa outro mundo para poder caluniar e sujar este; de fato só capta o nada e faz desse nada um Deus, uma verdade, chamados a julgar e condenar esta existência.
Ter-se vergonha da sua imoralidade: é um degrau na escada em cujo extremo se tem também vergonha da nossa moralidade.
O que o pai calou aparece na boca do filho, e muitas vezes descobri que o filho era o segredo revelado do pai.
Fiquei magoado, não por me teres mentido, mas por não poder voltar a acreditar-te.
É mais difícil ferir a nossa vaidade justamente quando foi ferido o nosso orgulho.
O verdadeiro homem quer duas coisas: perigo e jogo. Por isso quer a mulher: o jogo mais perigoso.
Os métodos são as verdadeiras riquezas.
A mulher foi o segundo erro de Deus.
Não posso acreditar num Deus que quer ser louvado o tempo todo.
Uma pessoa continua a trabalhar porque o trabalho é uma forma de diversão. Mas temos de ter cuidado para não deixarmos a diversão tornar-se demasiado penosa.
Onde não intervém o amor ou o ódio, a mulher sai-se mediocremente.
Um homem de gênio é insuportável se, além disso, não possuir pelo menos duas outras qualidades: gratidão e asseio.
Começamos a desconfiar das pessoas muito inteligentes quando ficam embaraçadas.
Tudo na mulher é adivinha e tudo nela tem uma única solução e essa é a gravidez.
O amor revela as qualidades sublimes e ocultas do que ama, – o que nele há de raro, de excepcional: nesse aspecto facilmente engana quanto ao que nele há de habitual.
A nossa vaidade gostaria que o que fazemos melhor fosse considerado como aquilo que mais nos custa. Para explicar a origem de certas morais.
Há sempre alguma loucura no amor. Mas há sempre um pouco de razão na loucura.
Se um homem tiver realmente muita fé, pode dar-se ao luxo de ser cético.
Não é a força mas a constância dos bons resultados que conduz os homens à felicidade.
O castigo foi feito para melhorar aquele que o aplica.
O criminoso não está, muitas vezes, á altura do seu ato: amesquinha-o e difama-o.
O medo é o pai da moralidade.
É preciso ter o caos dentro de si para gerar uma estrela dançante.
É difícil viver com as pessoas porque calar é muito difícil.
Saber é compreendermos as coisas que mais nos convêm.
Observou-se mal a vida se não se tiver visto também a mão que, de uma maneira especialmente cuidadosa – mata.
O amor é o estado no qual os homens têm mais probabilidades de ver as coisas tal como elas não são.
Não basta ter-se talento: é preciso ter-se o vosso assentimento para o possuir, – não é verdade, meus amigos?
O aforismo, a sentença, nos quais pela primeira vez sou mestre entre os alemães, são formas de «eternidade»: a minha ambição é dizer em dez frases o que outro qualquer diz num livro -, o que outro qualquer «não» diz nem num livro inteiro….
Não há outro critério da verdade senão o crescimento do sentimento de poder.
Só se pode alcançar um grande êxito quando nos mantemos fiéis a nós mesmos.
Um povo é o rodeio da natureza para chegar a seis ou sete grandes homens. – Sim: e para depois se desviar deles.
Sou demasiado orgulhoso para acreditar que um homem me ame: seria supor que ele sabe quem sou eu. Também não acredito que possa amar alguém: pressuporia que eu achasse um homem da minha condição.
É só dos sentidos que procede toda a autenticidade, toda a boa consciência, toda a evidência da verdade.
Quanto mais nos elevamos, menores parecemos aos olhos daqueles que não sabem voar.
Muitos são os obstinados que se empenham no caminho que escolheram, poucos os que se empenham no objetivo.
Se temos que mudar de opinião a respeito de alguém levamos-lhe muito a mal o incómodo que assim nos causa.
Com os princípios quer-se tiranizar os hábitos, ou justificá-los ou honrá-los ou injuriá-los ou escondê-los: dois homens com princípios iguais querem, verossimilmente, atingir com eles algo de fundamentalmente diferente.
Não se odeia quando pouco se preza, odeia-se só o que está à nossa altura ou é superior a nós.
Em última análise, amam-se os nossos desejos, e não o objeto desses desejos.
Na minha vida ainda preciso de discípulos, e se os meus livros não serviram de anzol, falharam a sua intenção. O melhor e essencial só se pode comunicar de homem para homem.
Querer a verdade é confessar-se incapaz de a criar.
A mulher aprende a odiar na medida em que desaprende a encantar.
Abençoados os que esquecem, porque aproveitam até mesmo seus equívocos.
Aquele que sabe mandar encontra sempre quem deva obedecer.
As mulheres podem tornar-se facilmente amigas de um homem; mas, para manter essa amizade, torna-se indispensável o concurso de uma pequena antipatia física.
Não é a intensidade dos sentimentos elevados que faz os homens superiores, mas a sua duração.
Uma alma que se sabe amada, mas que por sua vez não ama, denuncia o seu fundo: vem à superfície o que nela há de mais baixo.
Quando adestramos a nossa consciência, ela beija-nos ao mesmo tempo que nos morde.
Há uma inocência na mentira que é o sinal da boa fé numa causa.
Se os esposos não vivessem juntos, haveria mais matrimónios felizes.
Em tempo de paz o homem belicoso ataca-se a si próprio.
Não é só a razão, mas também a nossa consciência, que se submetem ao nosso instinto mais forte, ao tirano que habita em nós.
Perdido seja para nós aquele dia em que não se dançou nem uma vez! E falsa seja para nós toda a verdade que não tenha sido acompanhada por uma risada!
Aquele que vive de combater um inimigo tem interesse em o deixar com vida.
Deus está morto: mas, considerando o estado em que se encontra a espécie humana, talvez ainda por um milénio existirão grutas em que se mostrará a sua sombra.
Comparando no seu conjunto homem e mulher pode dizer-se: a mulher não teria engenho para se enfeitar se não tivesse o instinto do papel «secundário» que desempenha.
Para a mulher, o homem é um meio: o objetivo é sempre o filho.
Há uma inocência na admiração: é a daquele a quem ainda não passou pela cabeça que também ele poderia um dia ser admirado.
Como? Um grande homem? Eu apenas vejo o actor representando o seu próprio ideal.
O homem que vê mal vê sempre menos do que aquilo que há para ver; o homem que ouve mal ouve sempre algo mais do que aquilo que há para ouvir.
O esforço dos filósofos tende a compreender o que os contemporâneos se contentam em viver.
Não há fenômenos morais, mas apenas uma interpretação moral de fenômenos…
As convicções são inimigos da verdade bem mais perigosos que as mentiras.
Quando se amarra bem o próprio coração e se faz dele um prisioneiro, pode-se permitir ao próprio espírito muitas liberdades.
Até Deus tem um inferno: é o seu amor pelos homens.
Os erros de grandes homens… são mais fecundos que as verdades de pequenos.
Um procura um parteiro para os seus pensamentos, outro alguém a quem possa ajudar: é assim que nasce uma boa conversa.
Quanto mais abstracta for a verdade que queres ensinar, mais tens que seduzir os sentimentos a seu favor.
A maturidade do homem consiste em haver reencontrado a seriedade que tinha no jogo quando era criança.
A música oferece às paixões o meio de obter prazer delas.
Quem não sabe encontrar o caminho para o «seu» ideal vive de um modo mais leviano e insolente que o homem sem ideal.
Perante nós mesmo todos fingimos ser mais ingênuos do que somos: é deste modo que descansamos dos nossos semelhantes.
Quem se despreza a si próprio não deixa mesmo assim de se respeitar como desprezador.
As paisagens insignificantes existem para os grandes paisagistas; as paisagens raras e notáveis são para os pequenos.
No elogio há mais impertinência do que na censura.
É verdade que se mente com a boca; mas a careta que se faz ao mesmo tempo diz, apesar de tudo, a verdade.
Fazer grandes coisas é difícil; mas comandar grandes coisas é ainda mais difícil.
O filósofo, como o entendo, é um explosivo terrível na presença do qual tudo está em perigo.
Quem só tem o espírito da história não compreendeu a lição da vida e tem sempre de retomá-la. É em ti mesmo que se coloca o enigma da existência: ninguém o pode resolver senão tu!
A vaidade dos outros só vai contra o nosso gosto quando vai contra a nossa vaidade.
É terrível morrer de sede no mar. Por que haveis então de salgar a vossa verdade de modo a que não mate já a sede?
Nos indivíduos, a loucura é algo raro – mas nos grupos, nos partidos, nos povos, nas épocas, é regra.
«O nosso próximo não é o nosso vizinho, mas o vizinho deste» – assim pensam todos os povos.
As próprias mulheres, no fundo de toda a sua vaidade pessoal, têm sempre um desprezo impessoal – pela mulher.
O homem precisa daquilo que em si há de pior se pretende alcançar o que nele existe de melhor.
Se não se tem um bom pai, é preciso arranjar um.
O amor por um só é uma barbaridade: porque se exerce à custa de todos os outros. O mesmo quanto ao amor por Deus.
Somos muito injustos com Deus. Nem sequer Lhe permitimos pecar.
A grandeza do homem consiste em que ele é uma ponte e não um fim; o que nos pode agradar no homem é ele ser transição e queda.
A ideia do suicídio é uma grande consolação: ajuda a suportar muitas noites más.
Quem atinge o seu ideal, ultrapassa-o precisamente por isso.
Sem a música a vida seria um erro.
Em certas pessoas, o alegrar-se com um elogio é apenas uma delicadeza do coração – e precisamente o contrário de uma vaidade do espírito.
Há homens que nascem póstumos.
A sensualidade ultrapassa muitas vezes o crescimento do amor, de forma que a raiz permanece fraca e arranca-se facilmente.
Os advogados de um criminoso só raras vezes são suficientemente artistas para aproveitar em favor do réu a terrível beleza do seu ato.
Onde amor e ódio não concorrem ao jogo, o jogo da mulher torna-se medíocre.
Apenas devia ser possuidor quem tem espírito: não sendo assim, a fortuna é um perigo público.
O sentido do trágico aumenta e diminui com a sensualidade.
O sucesso tem sido sempre um grande mentiroso.
Em homens duros a intimidade é questão de pudor – e algo de precioso.
Extingue-se o dia para todas as coisas, mesmo para as melhores; chega o crepúsculo.
E se um dia ou uma noite um demônio se esgueirasse em tua mais solitária solidão e te dissesse: “Esta vida, assim como tu a vives agora e como a viveste, terás de vivê-la ainda uma vez e ainda inúmeras vezes; e não haverá nela nada de novo, cada dor e cada prazer e cada pensamento e suspiro e tudo o que há de indizivelmente pequeno e de grande em tua vida há de retornar, e tudo na mesma ordem e seqüência – e do mesmo modo esta aranha e este luar entre as árvores, e do mesmo modo este instante e eu próprio.
A eterna ampulheta da existência será sempre virada outra vez – e tu com ela, poeirinha da poeira!” –
Não te lançarias ao chão e rangerias os dentes e amaldiçoarias o demônio que te falasse assim? Ou viveste alguma vez um instante descomunal, em que responderias: “Tu és um deus, e nunca ouvi nada mais divino!” Se esse pensamento adquirisse poder sobre ti, assim como tu és, ele te transformaria e talvez te triturasse; a pergunta, diante de tudo e de cada coisa:
“Quero isto ainda uma vez e ainda inúmeras vezes?”
Pesaria como o mais pesado dos pesos sobre teu agir! Ou então, como terias de ficar de bem contigo mesmo e com a vida, para não desejar nada mais do que essa última, eterna confirmação e chancela?
A esperança é o derradeiro mal; é o pior dos males, porquanto prolonga o tormento.
A recompensa final dos mortos é não morrer nunca mais.
Torna-te quem tu és.
Ouse conquistar a sí mesmo.
O inimigo mais perigoso que você poderá encontrar será sempre você mesmo.
Aquele que luta com monstros deve acautelar-se para não tornar-se também um monstro. Quando se olha muito tempo para um abismo, o abismo olha para você.
E se tu olhares, durante muito tempo, para um abismo, o abismo também olha para dentro de ti.
Não poríamos a mão no fogo pelas nossas opiniões: não temos assim tanta certeza delas. Mas talvez nos deixemos queimar para podermos ter e mudar as nossas opiniões.
Um outro sinal distintivo dos teólogos é a sua incapacidade filológica. Entendo aqui por filologia (…) a arte de bem ler – de saber distinguir os factos, sem estar a falseá-los por interpretações, sem perder, no desejo de compreender, a precaução, a paciência e a finesse.
(O Anticristo)
Existo, logo penso.
Você tem que estar preparado para se queimar em sua própria chama: como se renovar sem primeiro se tornar cinza?
(Assim Falou Zaratustra)
Os leitores extraem dos livros, consoante o seu caráter, a exemplo da abelha ou da aranha que, do suco das flores retiram, uma o mel, a outra o seu veneno.
Quem tem um porquê de viver, quase sempre encontrará o como.
Toda a arte e toda a filosofia podem ser consideradas como remédios da vida, ajudantes do seu crescimento ou bálsamo dos combates: postulam sempre sofrimento e sofredores.
Moro em minha própria casa,
Nunca imitei ninguém
E rio de todos os mestres
Que nunca riram de si.
O gosto de minha morte na boca deu-me perspectiva e coragem. O importante é a coragem de ser eu mesmo.
Ninguém pode construir em teu lugar as pontes que precisarás passar, para atravessar o rio da vida – ninguém, exceto tu, só tu. Existem, por certo, atalhos sem números, e pontes, e semideuses que se oferecerão para levar-te além do rio; mas isso te custaria a tua própria pessoa; tu te hipotecarias e te perderias. Existe no mundo um único caminho por onde só tu podes passar. Onde leva? Não perguntes, segue-o!
Você vive hoje uma vida que gostaria de viver por toda a eternidade?
Existe no mundo um único caminho por onde só tu podes passar. Onde leva? Não perguntes, segue-o!
Conheço a minha sina. Um dia, meu nome será ligado à lembrança de algo tremendo – de uma crise como jamais houve sobre a Terra, da mais profunda colisão de consciência, de uma decisão conjurada contra tudo o que até então foi acreditado, santificado, querido. Eu não sou um homem, sou dinamite.
Odeio as almas estreitas, sem bálsamo e sem veneno, feitas sem nada de bondade e sem nada de maldade.
O idealista é incorrigível: se é expulso do seu céu, faz um ideal do seu inferno.
Escreve com sangue e aprenderás que sangue é espírito.
Passa-se com o homem o mesmo que com a árvore. Quanto mais quer crescer para o alto e para a claridade, tanto mais suas raízes tendem para a terra, para baixo, para a treva, para a profundeza – para o mal.
Eu acreditaria somente num deus que soubesse dançar.
A fé é ignorar tudo aquilo que é verdade.
Alguns homens nascem póstumos.
Aquilo que não me destrói, me fortalece.
Se minhas loucuras tivessem explicações, não seriam loucuras.
Um político divide os seres humanos em duas classes: instrumentos e inimigos.
Não há nada que deprima mais o ser humano (mais depressa) do que a paixão do ressentimento.
A falta de confiança entre amigos é pecado que não pode ser repetido, sob pena de ser irremediável.
Morrer é duro. Sempre senti que a única recompensa dos mortos é não morrer nunca mais.
Chamo desgraçados todos aqueles que só podem escolher entre duas coisas: tornarem-se animais ferozes ou ferozes domadores de animais. Eu os denomino pastores, mas eles a si mesmos se consideram os fiéis da verdadeira crença! Vede os bons e os justos! A quem odeiam mais? A quem lhes despedaça as tábuas de valores, ao infrator, ao destruidor. É este, porém, o criador.
O mundo gira, não ao redor dos inventores de estrondos novos, mas à roda dos inventores de valores novos: gira sem ruído.
É chamado de espírito livre aquele que pensa de modo diverso do que se esperaria com base em sua procedência, seu meio, sua posição e função, ou com base nas opiniões que predominam em seu tempo. Ele é exceção, os espíritos cativos, a regra; […] De resto, não é próprio da essência do espírito livre ter opiniões mais corretas, mas sim ter se libertado da tradição, com felicidade ou com um fracasso. Normalmente, porém, ele terá ao seu lado a verdade, ou pelo menos o espírito da busca da verdade: ele exige razões; os outros, fé.
(Humano, Demasiado Humano)
A felicidade do homem está em “eu quero”; a felicidade da mulher, em “ele quer”.
Aquilo que não me mata só me fortalece.
Verdadeiro eu chamo àquele que entra nos desertos vazios de deuses… Nas areias amarelas, queimadas de sol, sedento, ele vê as ilhas cheias de fontes, onde as coisas vivas descansam debaixo das árvores. Não obstante, a sua sede não o convence a tornar-se como um destes, habitantes do conforto; pois onde há oásis aí também se encontram os ídolos
O que não pode matar-me, torna-me forte.
O homem livre é um lutador e a liberdade é algo que se conquista.
Amamos o desejo, não o ser desejado.
Não acredito em um deus que não dance.
Faltam as circunstâncias. – Muitas pessoas esperam a vida inteira pela oportunidade de serem boas à sua maneira
Falta de amigos – A falta de amigos faz pensar em inveja ou presunção. Há pessoas que devem seus amigos à feliz circunstância de não ter motivo para a inveja
Para ver muita coisa é preciso despregar os olhos de si mesmo.
Meus irmãos, eu não vos aconselho o amor ao próximo; aconselho-vos o amor ao mais afastado.
Sem música a vida não faria sentido
Devemos compreender que a verdade, por pretender ser verdadeira, não passa de ilusão ou mentira.
Eu não sei sair nem entrar, sou tudo aquilo que não sabe nem sair nem entrar..
Quem tem um “porquê” enfrenta qualquer “como”.
Aquilo que serve de alimento e de bálsamo para um tipo superior de homem deve ser quase veneno para um tipo bem mais diverso e inferior.
Eu jamais iria para a fogueira por uma opinião minha, afinal, não tenho certeza alguma. Porém, eu iria pelo direito de ter e mudar de opinião, quantas vezes eu quisesse.
A exigência de ser amado é a maior das pretensões.
Não vos aconselho o trabalho, mas a luta. Não vos aconselho a paz, mas a vitória! Seja o vosso trabalho uma luta! Seja vossa paz uma vitória!
Nunca suponha igualdade de sentimentos.
Sei a minha sina.
Um dia meu nome será lembrança de algo terrível.
De uma crise como jamais houve sobre a Terra.
Da mais profunda colisão de consciências.
De uma decisão conjurada contra tudo que até então foi acreditado, santificado, requerido.
Não sou um ser humano, sou uma dinamite, na transvaloração de todos os valores.
Eis a minha fórmula para um ato de suprema octognose da humanidade que em mim se fez gene e carne…
Mudei-me da casa dos eruditos e bati a porta ao sair. Por muito tempo, a minha alma assentou-se faminta à sua mesa. Não sou como eles, treinados a buscar o conhecimento como especialistas em rachar fios de cabelo ao meio. Amo a liberdade. Amo o ar sobre a terra fresca. É melhor dormir em meios às vacas, que em meio às suas etiquetas e respeitabilidades.
Não suporto almas estreitas: não têm nada de bom, tampouco nada de mau.
Foi o próprio Deus que ao fim de sua obra se disfarçou de serpente indo se deitar sob a árvore do conhecimento: assim ele se restabeleceu do fato de ser Deus… Ele havia feito tudo demasiadamente belo… O diabo é apenas a ociosidade de Deus a cada sétimo dia…
A melhor cura para o amor é ainda aquele remédio eterno: amor retribuído.
Todo tipo de absoluto indica patologia
Há espíritos que escurecem suas águas para fazê-las parecer profundas.
Cansado de esperanças
persigo realidades.
Quando o vento contrário
aumenta em seus embates,
navego a qualquer vento
em minha ligeira embarcação.
Para ler o Novo Testamento é conveniente calçar luvas. Diante de tanta sujeira, tal atitude é necessária.
Não existe mais ninguém tão inocente para ainda colocar o sujeito EU na condição de´Penso´.
Perto do sol há incontáveis corpos escuros a serem deduzidos, tais que nunca chegaremos a ver.
A verdadeira questão é: quanta verdade consigo suportar?
Um amigo deve ser mestre tanto na arte de adivinhar como na de permanecer calado.
E o homem, em seu orgulho, criou Deus à sua imagem e semelhança.
Da escola de guerra da vida — O que não me mata me fortalece.
Amamos desejar mais do que amamos o objeto de nosso desejo.
Sem crueldade não há espetáculo.
Mesmo o mais corajoso entre nós só raramente tem coragem para aquilo que realmente conhece.
Não ouse roubar a minha solidão, se não fores capaz de me fazer real companhia.
O tique-taque de seu coração marca o tempo que se esvai.
A fórmula da minha felicidade: um sim, um não, uma linha reta, um objetivo.
Creio que aqueles que mais entendem de felicidade são as borboletas e as bolhas de sabão…
Ver girar essas pequenas almas leves, loucas, graciosas e que se movem é o que, de mim, arrancam lágrimas e canções.
Eu só poderia acreditar em um Deus que soubesse dançar.
E quando vi meu demônio, pareceu-me sério, grave, profundo, solene. Era o espírito da gravidade. Ele é que faz cair todas as coisas.
Não é com ira, mas com riso que se mata. Coragem! Vamos matar o espírito da gravidade!
Eu aprendi a andar. Desde então, passei por mim a correr. Eu aprendi a voar. Desde então, não quero que me empurrem para mudar de lugar.
Agora sou leve, agora voo, agora vejo por baixo de mim mesmo, agora um Deus dança em mim!
Nunca odiamos aos que desprezamos. Odiamos aos que nos parecem iguais ou superiores a nós.
A todos com quem realmente me importo, desejo sofrimento, desolação, doença, maus-tratos, indignidades, o profundo desprezo por si, a tortura da falta de alto-confiança, e a desgraça dos derrotados.
A Minha Felicidade
Depois de estar cansado de procurar
Aprendi a encontrar.
Depois de um vento me ter feito frente
Navego com todos os ventos.
O que se tornou perfeito, inteiramente maduro, quer morrer.
É preciso ter asas, quando se ama o abismo.
A razão tira emoção à vida.
A razão escraviza o homem, levando-o à loucura!
Quod me nutrit me nutrit me destruit.
Não é possível estar calado e permanecer tranquilo senão quando se têm flechas no arco; quando não é assim, questiona-se e discute-se.
Pense bem no que fará amanhã pois é muito importante, estará trocando um dia de sua vida por isso.
Que posso eu fazer se o poder gosta de andar com pernas tortas?!
As convicções são cárceres. Mais inimigas da verdade do que as próprias mentiras.
“Inventámos a felicidade”, dirão os derradeiros homens, a piscarem o olho uns aos outros
Amamos a vida não porque estamos acostumados à vida, mas a amar. Há sempre alguma loucura no amor, mas há sempre também alguma razão na loucura.
Algo que não se pode buscar, nem achar, e talvez tampouco perder. “A alma nobre tem reverência por si mesma…”
“Eu fiz isso”, diz minha memória.
“Eu não posso ter feito isso”, diz meu orgulho, e permanece inflexível.
Por fim, memória desiste.
A essência da felicidade é não ter medo.
Máscaras
Há mulheres que, por mais que as pesquisemos, não têm interior, são puras máscaras. É digno de pena o homem que se envolve com estes seres quase espectrais, inevitavelmente insatisfatórios, mas precisamente elas são capazes de despertar da maneira mais intensa o desejo do homem: ele procura a sua alma – e continua procurando para sempre.
Ensino que a vida jamais deveria ser modificada ou esmagada devido à promessa de outro tipo de vida futura. O imortal é esta vida, este momento.
Amizade é quando duas pessoas se unem em busca de alguma verdade mais elevada.
A verdade e a mentira são construções que decorrem da vida no rebanho e da linguagem que lhe corresponde. O homem do rebanho chama de verdade aquilo que o conserva no rebanho e chama de mentira aquilo que o ameaça ou exclui do rebanho. (…) Portanto, em primeiro lugar, a verdade é a verdade do rebanho.
De uma vez por todas, não quero saber muitas coisas. – A sabedoria também traz consigo os limites do conhecimento.
Se se quer ser alguém, deve venerar-se a própria sombra.
Quem tem por que viver aguenta quase todo como
A Vida Não É Argumento
Armamos para nosso uso um mundo em que possamos viver – admitindo a existência de corpos, de linhas, de superfícies, de causas e de efeitos, do movimento e do repouso, da forma e de seu conteúdo: sem esses artigos de fé ninguém jamais suportaria viver!
Mas isso ainda não é nada.
A vida não é argumento: entre as condições da vida poderia estar o erro.
Estado, chamo eu, o lugar onde todos, bons ou malvados, são bebedores de veneno; Estado, o lugar onde todos, bons ou malvados, se perdem a si mesmos; Estado, o lugar onde o lento suicídio de todos chama-se – “vida”!
Olhai esses supérfluos! Roubam para si as obras dos inventores e os tesouros dos sábios; “culturas” chamam a seus furtos – e tudo se torna, neles, em doença e adversidade!
Olhai esses supérfluos! Estão sempre enfermos, vomitam fel e lhe chamam “jornal”. Devoram-se uns aos outros e não podem, sequer digerir-se.
Olhai esses supérfluos! Adquirem riquezas e, com elas, tornam-se mais pobres. Querem o poder e, para começar, a alavanca do poder, muito dinheiro – esses indigentes!
Olhai como sobem trepando, esses ágeis macacos! Sobem trepando uns por cima dos outros e atirando-se mutuamente, assim no lodo e no abismo.
Ao trono, querem todos, subir: é essa a sua loucura. Como se no trono estivesse sentada a felicidade! Muitas vezes, é o lodo que está no trono e, muitas vezes, também o trono no lodo.
Dementes, são todos eles, para mim, e macacos sobre excitados. Mau cheiro exala o seu ídolo, o monstro frio; mau cheiro exalam todos eles, esses servidores de ídolos!
Porventura, meus irmãos, quereis sufocar nas exalações de seus focinhos e de suas cobiças? Quebrai, de preferência, os vidros das janelas e pulai para o ar livre!
Fugi do mau cheiro! Fugi da idolatria dos supérfluos!
Fugi do mau cheiro! Fugi da fumaça desses sacrifícios humanos!
Também agora, ainda a terra está livre para as grandes almas. Vazios estão ainda para a solidão a um ou a dois, muitos sítios, em torno dos quais bafeja o cheiro de mares calmos.
Ainda está livre, para as grandes almas, uma vida livre. Na verdade, quem pouco possui, tanto menos pode tornar-se possuído. Louvado seja a pequena pobreza!
Onde cessa o Estado, somente ali começa o homem que não é supérfluo – ali começa o canto do necessário, essa melodia única e insubstituível.
Onde o Estado cessa – olhai para ali, meus irmãos! Não vedes o arco-íris e as pontes do super-homem?
Não é a força do sentimento elevado, é a sua duração que faz os homens superiores.
Oração ao DEUS desconhecido.
Antes de prosseguir em meu caminho e lançar o meu olhar para a frente, uma vez mais elevo, só, minhas mãos a Ti de quem eu fujo. A Ti das profundezas de meu coração, tenho dedicado altares festivos para que, em cada momento, Tua voz me pudesse chamar. Sobre esses altares estão gravadas em fogo palavra s: “Ao Deus desconhecido”. Teu, sou eu, embora até o presente tenho me associado aos sagrilégios. Teu, sou eu, não obstante os laços que me puxam para o abismo. Mesmo querendo fugir, sintos-me forçado a servir-Te.eu quero Te conhecer, desconhecido. Tu, que me penetras a alma e, qual turbilhão, invades a minha vida. Tu, o incompreensível, mas meu semelhante, quero te conhecer, quero servir só a Ti.
A arte deve antes de tudo e em primeiro lugar embelezar a vida, portanto fazer com que nós próprios nos tornemos suportáveis e, se possível, agradáveis uns aos outros.
A vítima esta sempre alheia ao mal.
O fanatismo é a única forma de vontade que pode ser incutida nos fracos e nos tímidos.
Não procure por felicidades, graças bem-aventuranças distantes e desconhecidas, mas por aquilo que você gostaria de viver de novo e por toda a eternidade.
Uma crença forte demonstra apenas a sua força, não a verdade daquilo que se acredita
Deve-se falar somente quando não se pode calar e falar somente do que se superou: tudo o mais é tagarelice, literatura, falta de disciplina.
Ter fé é dançar na beira do abismo.
Eu não sei o que quero ser, mas sei muito bem o que não quero me tornar.
Nada neste mundo consome mais rapidamente um homem que a paixão do ressentimento.
É possível prometer atos, não sentimentos, pois estes são involuntários e quem promete ao outro amá-lo sempre, ou odiá-lo sempre, ou ser-lhe fiel sempre, promete algo que não está em seu poder.
Uma visita ao hospício mostra que a fé não prova nada.
Não há no mundo amor e bondade bastantes para que ainda possamos dá-los a seres imaginários
O solo amaldiçoado onde o cristianismo chocou seus ovos de basílicas deve ser destruído pedra por pedra, tornando-se o lugar mais infame da terra ,o terror de toda posteridade. Deve-se criar cobras venenosas nesse lugar.
Sim, sei de onde venho! Insatisfeito com a labareda ardo para me consumir! Aquilo em que toco torna-se luz. Carvão aquilo que abandono. Sou certamente labareda!
Toma cuidado com os que se mostram pequenos. Em tua presença se sentem pequenos e sua baixeza arde e alimenta invisível vingança contra ti.
Adulam-te como um deus ou um diabo! Choramingam diante de ti como diante de um deus ou de um diabo. Que importa? São aduladores e chorões, nada mais que isso.
Foge para tua solidão. Vivias próximo demais dos pequenos e mesquinhos. Foge de sua vingança invisível! Contra ti, só procuram vingança. Não levantes mais o braço contra eles! São inumeráveis e teu destino não é ser espanta-moscas!
Que o homem tenha medo da mulher quando a mulher ama porque ela não recuará diante de nenhum sacrifício e tudo o mais para ela não tem valor. Que o homem tenha medo da mulher quando a mulher odeia porque o homem, no fundo de sua alma, é malvado. Mas a mulher, no fundo da sua, é perversa.
A diferença fundamental entre as duas religiões da decadência:
o budismo não promete, mas assegura.
O cristianismo promete tudo, mas não cumpre nada.
O cristianismo foi, até o momento, a maior desgraça da humanidade, por ter desprezado o Corpo.
Como? É o homem apenas um erro de Deus? Ou é Deus unicamente um erro do homem? Quem “criou” quem? ou seria como se “criou”?
Tudo o que não nos destrói, torna-nos mais fortes.
As mesmas paixões no homem e na mulher são diferentes em seu andamento e é por isso que o homem e a mulher jamais deixam de se desentender.
Com freqüência a sensualidade precipita o crescimento do amor, de modo que a raiz permanece fraca e é facilmente arrancada.
Se o cristianismo tivesse razão em suas teses acerca de um Deus vingador, da pecaminosidade universal, da predestinação e do perigo de uma danação eterna, seria um indício de imbecilidade e falta de caráter não se tornar padre, apóstolo ou eremita e trabalhar, com temor e tremor, unicamente pela própria salvação; pois seria absurdo perder assim o benefício eterno, em troca de comodidade temporal. Supondo que se creia realmente nessas coisas, o cristão comum é uma figura deplorável, um ser que não sabe contar até três, e que, justamente por sua incapacidade mental, não mereceria ser punido tão duramente quanto promete o cristianismo.
O homem chega à sua maturidade quando encara a vida com a mesma seriedade que uma criança encara uma brincadeira.
Mesmo o mais forte tem seu momento de fatiga.
O fanatismo é a única forma de força de vontade acessível aos fracos.
Não há nada de exausto, nada de caduco, nada de perigoso para a vida, nada que calunie o mundo no reino do espírito, que não tenha encontrado secretamente abrigo em sua arte; ele dissimula o mais negro obscurantismo nos orbes luminosos do ideal. Ele acaricia todo o instinto niilista (budista) e embeleza-o com a música; acaricia toda a forma de cristianismo e toda expressão religiosa de decadência.
Erro (- a crença no ideal -) não é cegueira, erro é covardia…
Eu não refuto os ideais, apenas ponho luvas diante deles…
Um homem precisa se queimar em suas próprias chamas para poder renascer das cinzas!
Foram os escravos, os vencidos pela vida, que inventaram o além para compensar sua miséria. Criaram o mito da salvação da alma, porque não tinha a saúde do corpo, elaboraram a ficção do pecado, porque não podiam desfrutar das alegrias dos fortes.
Uma alma que sabe ser amada, mas não se ama a si mesma, trai sua profundeza – o que estava no vem à tona.
The happiness of man is: I will. The happiness of woman is: he wills.
Em uma grande vitória, o que existe de melhor, é que ela tira do vencedor o receio de uma derrota.
Falar muito de si mesmo pode ser um jeito de esconder aquilo que realmente é.
Homens convictos são prisioneiros.
Ser mau é tão insensato e auto-destrutivo quanto ser bom.
Nossos filhos não são nossos. Eles são filhos da vida ansiando pela vida.
A sabedoria é um paradoxo. O homem que mais sabe é aquele que mais reconhece a vastidão da sua ignorância.
A fé não move montanhas. Na verdade, coloca montanhas onde não há nenhuma.
Após o cansaço da busca
aprendi o encontro.
Após afrontar o vento
navego com todos os ventos.
Um filósofo é um homem que vive, vê, ouve, suspeita, espera e sonha constantemente com coisas extraordinárias, que fica surpreso com suas próprias idéias como se viessem de fora, do alto e debaixo, como por uma espécie de acontecimentos e de raios de trovão que só ele pode sofrer.
Eu não sou um homem, sou um campo de batalha.
Ninguém pode construir em teu lugar as pontes que precisarás para atravessar o rio da vida – ninguém, exceto tu, só tu.
Não venha roubar minha solidão, se não tiver algo mais valioso para oferecer em troca.
Talvez eu e meu corpo formemos uma conspiração pelas costas de minha própria mente.
“There are no facts, only interpretations.”
Deus está morto
Jamais alguém fez algo totalmente para os outros. Todo amor é amor próprio. Pense naqueles que você ama: cave profundamente e verá que não ama à eles; ama as sensações agradáveis que esse amor produz em você! Você ama o desejo, não o desejado.
O “puro espírito” é uma pura estupidez: retire o sistema nervoso e os sentidos, o chamado “envoltório mortal”, e o resto é um erro de cálculo — isso é tudo!…
Depois que cansei de procurar
Aprendi a encontrar.
Depois que um vento me opôs resistência
Velejo com todos os ventos.
Aquele que tem um porquê para viver pode enfrentar quase todos os comos.
O cristianismo é uma metafísica do carrasco.
Os homens mais espirituais, supondo que sejam os mais corajosos, também vivem, de longe, as tragédias mais dolorosas: mas justamente por isso eles honram a vida, por lhes oferecer a sua maior oposição.
O fantasioso nega a verdade para si mesmo; o mentiroso apenas para os outros.
Faz parte da humanidade de um mestre advertir seus alunos contra ele mesmo.
O que me entristece não é que tenhas mentido senão que já nunca mais poderei confiar em ti.
Éramos amigos e agora somos estranhos um ao outro. Mas não importa que assim o seja: não procuremos escondê-lo ou calá-lo como se isso nos desse razão para nos envergonhar. Somos dois navios cada um dos quais com o seu objetivo e a sua rota particular.
Os pais fazem dos filhos, involuntariamente, algo semelhante a eles, a isso denominam ‘educação’, nenhuma mãe duvida, no fundo do coração, que ao ter seu filho, pariu uma propriedade; nenhum pai discute o direito de submeter o filho aos seus conceitos e valorações.
Desconsiderando o fato de que eu sou um décadent, sou também o seu contrário. Minha prova para isso é, entre outras coisas, o fato de eu sempre ter escolhido institivamente os meios corretos contra as situações graves: enquanto o decadent costuma escolher sempre os meios prejudiciais a si mesmo.
No fato de um homem bem-educado fazer bem aos nossos sentidos: no fato de ele ser talhado em uma madeira que é dura, suave e cheirosa ao mesmo tempo. A ele só faz gosto o que lhe salutar; seu prazer, seu desejo acabam lá onde as fronteiras do salutar passam a estar em perigo.
E eu, que estou de bem com a vida, creio que aqueles que mais entendem de felicidade são as borboletas e as bolhas de sabão e tudo que entre os homens se lhes assemelhem.
Não pretendo ser feliz, mas verdadeiro.
“O Homem não é um fim em si”
O Homem é uma ponte suspensa no abismo que liga a besta ao Super-Homem.
Olhai-os, os crentes de todas as fés! A quem odeiam mais que todos? Àquele que parte suas tábuas de valores, o destruidor, o criminoso; mas esse é o criador. (Assim falou Zaratustra. p. 39)
Meu irmão, se tens uma virtude e ela é a tua virtude, então não a tens em comum com ninguém.
Quero ter duendes a meu redor, porque sou corajoso. A coragem que afugenta os fantasmas cria seus próprios duendes: a coragem quer rir.
A vida é dura de suportar; mas, por favor, não vos façais de tão delicados! Não passamos,todos juntos, de umas lindas bestas de carga.
Quem de vós pode, ao mesmo tempo, rir e sentir-se elevado?
Aquele que sobe ao monte mais alto, esse ri-se de todas as tragédias, falsas ou verdadeiras.
Corajosos, despreocupados, escarninhos, violentos ― assim nos quer a sabedoria: ela é mulher e ama somente quem é guerreiro.
Falsos valores e palavras ilusórias: são estes os piores monstros para os mortais; longamente e à espera, dorme neles a fatalidade.
Ai de mim, é este o meu desgosto: introduziram, mentindo, prémio e castigo no fundo das coisas – e, agora, também no fundo de vossas almas, ó virtuosos.
O que realmente levanta uma indignação contra o sofrimento não é sofrimento intrinsecamente, mas a falta de sentido do sofrimento.
Insanidade em indivíduos é algo raro – mas em grupos, festas, nações e épocas, ela é uma regra.
Falar muito de si mesmo pode ser também um modo de se esconder.
Ao matar seus demônios, cuidado para não destruir o que há de melhor em você.
Quando você olha muito tempo para um abismo, o abismo olha para você.
Sempre que um homem se dispôs a afastar-se e a isolar-se para se bastar a si mesmo, a filosofia esteve sempre pronta para isolá-lo ainda mais e destruí-lo por meio desse mesmo isolamento.
Preferiria antes ser um sátiro do que um santo.
Não existem fatos, apenas interpretações.
A principal mentira é a que contamos a nós mesmos.
É preciso saber perder-se quando queremos aprender algo das coisas que nós próprios não somos.
Nenhum vencedor acredita no acaso.
Às vezes bastam óculos mais fortes para curar um apaixonado.
Quando se coloca o centro de gravidade da vida não na vida mas no “além” – no nada – tira-se da vida o seu centro de gravidade.
Alguns não conseguem se libertar dos seus próprios grilhões, mas conseguem libertar os amigos.
Leiam os Evangelhos como o livro da sedução usando a moral como recurso: a moral foi coberta com uma capa por essa gentinha, eles conhecem a importância da moral! Através da moral conduz-se a humanidade mais facilmente pelo bico! Na verdade, o que temos aqui é a pretensão da elite disfarçada de modéstia: colocaram definitivamente a “comunidade”, os “bons”, e os “justos”, de um só lado, do lado da “verdade”, e o resto, o “mundo”, do outro lado… Isso foi a forma mais calamitosa de megalomania que já existiu sobre a Terra: uma pequena multidão disforme de hipócritas e mentirosos começou a monopolizar os conceitos de “Deus”, “verdade”, “luz”, “espírito”, “amor”, “sabedoria”, “vida”, como se fossem seus sinônimos, para com isso delimitar o “mundo” com respeito a si; os partidários da nova doutrina, maduros para toda espécie de manicômio, fazem girar os valores em torno de si, como se o cristão fosse o único sentido, o sal, a única e última medida de julgamento para o resto do mundo…”
Quem teria razões para se afastar da realidade com mentiras? Só quem com ela sofre.
Ser cristão é ter um certo gosto pela crueldade, contra si e os outros; o ódio contra formas diferentes de pensar; o desejo de perseguir.
A exigência de castidade reforça a veemência e interioridade do instinto religioso, ela torna o culto mais caloroso, mais entusiástico, mais apaixonado. O amor é o estado em que os homens vêem as coisas como elas não são. A força da ilusão está no amor em toda sua potência, assim como a força de adoçar, de transfigurar.
…”Se Cristo não ressuscitou da morte, então nossa fé é vã.” – E num piscar de olhos transformou-se o evangelho na mais desprezível promessa irrealizável, na vergonhosa doutrina da imortalidade pessoal… O próprio Paulo pregara-a como recompensa!…
O cristianismo deve sua vitória a essa desprezível adulação da vaidade pessoal. Conseguiu convencer exatamente todos os fracassados, os simpatizantes da insurreição, os malsucedidos, todo o lixo e a escória da sociedade.
É preciso que não nos deixemos enganar: “não julguem” dizem, mas eles mandam tudo que atravesse seu caminho para o inferno.
O que decorre disto? Que o melhor a fazer é colocar luvas quando se lê o Novo Testamento. A proximidade de tanta imundície quase nos obriga a tanto.
A igreja cristã não deixou nada intocado com sua podridão, transformou todo valor em não-valor, toda verdade em mentira, toda forma de integridade em vilania de alma. Ainda ousam falar-me de suas “bençãos” humanitárias! Suprimir qualquer forma de miséria ia contra seus interesses mais profundos, ela alimentava-se dos estados de necessidade, criou estados de necessidade para eternizar-se… O verme do pecado por exemplo: somente a igreja enriqueceu a humanidade com esse estado de miséria! “A igualdade das almas perante deus”, essa falsidade, esse pretexto para o rancor de todos os pobres de espírito, esse conceito explosivo que se transformou finalmente em revolução, idéia moderna e princípio de declínio de toda organização social é dinamite cristão…”Humanitarismo”, bençãos do cristianismo!
O homem crente é necessariamente um homem dependente… Ele não pertence a si mesmo, mas ao autor da idéia em que ele acredita.
Eu sou uma banheira transbordando sentimentos. E não tem ninguém pra fechar a torneira.
Aquele que quer aprender a voar um dia precisa primeiro aprender a ficar de pé, caminhar, correr, escalar e dançar; ninguém consegue voar só aprendendo vôo.
Toda a arte e toda a filosofia podem ser consideradas como remédios da vida…
O valor de uma coisa às vezes não está no que se consegue com ela, mas no que se paga por ela – o que ela nos custa.
Estar bem e feliz é uma questão de escolha e não de sorte ou mero acaso. É saber ignorar, de forma mais fina e elegante possível, aqueles que dizem as coisas da boca pra fora ou cujas palavras e caráter nunca valeram um milésimo do tempo que você perdeu ao escutá-lo!
Só como fenômeno estético a existência e o mundo aparecem eternamente justificados.
Eu tenho o meu caminho. Você tem o seu caminho. Portanto, quanto ao caminho direito, o caminho correto, e o único caminho, isso não existe.
O que nós fazemos nunca é compreendido, mas somente louvado ou condenado.
Mulher, uma fera com garras escondidas por luvas perfumadas…
E ainda não és livre, ainda procuras a liberdade. As tuas buscas fizeram-te insone e inquieto de maneira excessiva.
A igreja cristã é uma enciclopédia de cultos pré-históricos
Na solidão, o solitário devora a si mesmo; na multidão devoram-no inúmeros. Então escolhe.
Amo os valentes; mas não basta ser espadachim – deve-se saber, também, contra quem sacar a espada!
Se queres ser feliz nesse mundo, estrangula a tua consciência!
O Homem perde o poder, quando é contaminado pelo sentimento de piedade.
Nossos pensamentos são as sombras de nossos sentimentos, sempre mais obscuros, mais vazios, mais simples que estes.
Minha existência começava a me espantar seriamente. Não seria eu uma simples aparência?
O sofrimento, entretanto, é necessário para a formação do homem; todo homem de boa compleição deve trilhar esse caminho:
“Essas dores podem ser bastante penosas: mas sem dores não é possível tornar-se guia e educador da humanidade; e coitado daquele que quisesse sê-lo e não tivesse essa pura consciência!”
(Humano, Demasiado Humano)
Por fim, o gênio que sobrevive ao sofrimento que lhe cria e lhe acompanha acaba superando as noções de “bom” e “mau”, e a moral existirá apenas como um vestígio de uma cultura inferior:
“Enfim, quando a tábua de sua alma estiver totalmente coberta de esperiências, ele não desprezará nem odiará a existência e tampouco e amará mas estará acima dela ora com o olhar da alegria, ora com o da tristeza, e tal como a natureza terá uma disposição ora estival, ora outonal. (…)
Quando o seu olhar tiver se tornado forte o bastante para ver o fundo, na escura fonte de seu ser e de seus conhecimentos, talvez também se tornem visíveis para você, no espelho dele, as distantes constelações das culturas vindouras.”
(Humano, Demasiado Humano)
Porque, note-se bem: foi precisamente nos anos da minha mais dèbil vitalidade que eu cessei de ser pessimista: a necessidade instintiva de restabelecer-me, afastou-me da filosofia da miséria e do desânimo…
” – Cá estais vós, amigos! – Ah, todavia não sou eu,
Quem queríeis vós?
Hesitais, pasmai – ai, melhor seria se sentísseis rancor!
Eu – não sou mais eu? Estão diferentes a mão, o andar, o Eis rosto?
E o que eu sou, não sou mais – para vós amigos?
Vós ireis? – Ó coração, tu suportaste bem,
Forte ficou a tua esperança:
Mantém tuas portas abertas a novos amigos!
Deixa os velhos! Deixa a recordação!
Se já foste jovem, agora – és jovem de um modo melhor!
Ó saudade da juventude que não compreendeu a si mesma!
Aqueles por quem eu aguardava,
Que eu julgava transformados tal como eu,
O fato de terem envelhecido afastou-os:
Só o que se transforma continua meu amigo.
Ó meio-dia da vida! Segunda juventude!
Ó jardim de verão!
Inquieta ventura no estar perscrutando e esperando!
Espero os amigos, noite e dia disposto,
Os novos amigos! Vinde! É tempo! É tempo! “
Quem quiser permanecer limpo entre os homens, deve aprender a banhar-se em água suja.
A melhor arma contra um inimigo é outro inimigo.
Devemos ter uma boa memória para sermos capazes de cumprir as promessas que fazemos.
Será o Homem um erro de Deus, ou Deus um erro dos Homens?
Os mesmos afetos, no homem e na mulher, têm ritmo diferente: por isso o homem e a mulher não cessam de se desentender
“Fé” significa não querer saber o que é a verdade.
“Fé: fechar os olhos de uma vez por todas para si mesmo, a fim de não sofrer com o aspecto de sua incurável falsidade.
“A visão do homem agora cansa – o que é hoje o niilismo, se não isto?… Estamos cansados do homem…”
Não poderia haver felicidade, jovialidade, esperança, orgulho, presente, sem o esquecimento.
O cristianismo tomou o partido de tudo o que é fraco, baixo, incapaz, e transformou em um ideal a oposição aos instintos de conservação da vida saudável; e até corrompeu a faculdade daquelas naturezas intelectualmente poderosas, ensinando que os valores superiores do intelecto não passam de pecados, desvios, ‘tentações’. O mais lamentável exemplo: a concepção de Pascal, que julgava estar a sua razão corrompida pelo pecado original; estava corrompida sim, mas apenas pelo seu cristianismo!.
A desigualdade dos direitos é a primeira condição para que haja direitos.
O casamento transforma muitas loucuras curtas em uma longa estupidez.
“Deus”, “imortalidade da alma”, “redenção”, “além”, todos esses são conceitos que nunca levei em conta; nunca com eles sacrifiquei meu tempo, nem mesmo em criança; talvez nunca fosse bastante ingênuo para fazê-lo? Para mim o ateísmo não é nem uma conseqüência, nem mesmo um fato novo: existe comigo por instinto. Sou bastante curioso, suficientemente incrédulo, demasiado insolente para contentarme com uma resposta tão grosseira. Deus é uma resposta rude, uma indelicadeza contra nós, pensadores; antes, dizendo-se a verdade, não é senão um tosco empecilho contra nós mesmos: não deveis cogitar dele!
A mulher, quanto mais mulher é, tanto mais se defende com as mãos e com os pés contra tudo o que for direito: o estado de natureza, a eterna guerra entre os sexos, lhe dá há muito o primeiro lugar.
O falso amor de si mesmo transforma a solidão em prisão.
Quanto mais inteligente a mulher, tanto mais se afasta o homem.
O filósofo é o homem de amanhã, aquele que recusa o ideal do dia, aquele que cultiva a utopia.
Quando se toma a resolução de tapar os ouvidos mesmo aos mais válidos argumentos contrários, dá-se indícios de caráter forte. Embora isso também signifique eventualmente a vontade levada até a estupidez.
Aquele que tem uma razão para viver pode suportar quase tudo.
O mundo já foi por tempo demais um hospício.
Enquanto o padre, esse negador, caluniador e envenenador da vida por profissão for aceito como uma variedade de homem superior, não poderá haver resposta à pergunta: Que é a verdade? A verdade já foi posta de cabeça para baixo quando o advogado do nada foi confundido com o representante da verdade.
Os maiores acontecimentos e pensamentos são os que mais tardiamente são compreendidos.
Nada lhe pertence mais que seus sonhos.
No cristianismo nem a moral, nem a religião têm qualquer ponto de contado com a realidade. São oferecidas causas puramente imaginárias (‘Deus’, ‘alma’, ‘eu’, ‘espírito’, ‘livre arbítrio’ – ou mesmo o ‘não-livre’) e efeitos puramente imaginários (‘pecado’, ‘salvação’, ‘graça’, ‘punição’, ‘remissão dos pecados’). Um intercurso entre seres imaginários (‘Deus’, ‘espíritos’, ‘almas’); uma história natural imaginária (antropocêntrica; uma negação total do conceito de causas naturais); uma psicologia imaginária (mal-entendidos sobre si, interpretações equivocadas de sentimentos gerais agradáveis ou desagradáveis, por exemplo, os estados do ‘nervus sympathicus’ com a ajuda da linguagem simbólica da idiossincrasia moral-religiosa – ‘arrependimento’, ‘peso na consciência’, ‘tentação do demônio’, ‘a presença de Deus’); uma teleologia imaginária (o ‘reino de Deus’, ‘o juízo final’, a ‘vida eterna’).
Acautela-te quando lutares com monstros, para que não te tornes um.
A vontade de verdade ainda nos há de arrastar para muitas aventuras ,essa célebre veracidade de que todos os filósofos falaram até os dias de hoje com veneração.
“A verdade não é um valor teórico, mas apenas uma expressão para designar a utilidade, para designar aquela função do juízo que conserva a vida e serve a vontade do poder”.
Duas almas com um mesmo pensamento. Dois corações que batem como um só.
Rindo se dizem as coisas sérias
O homem é uma corda estendida entre o animal e o Super-homem: uma corda sobre um abismo; perigosa travessia, perigoso caminhar; perigoso olhar para trás, perigoso tremer e parar. O que é de grande valor no homem é ele ser uma ponte e não um fim: o que se pode amar no homem é ele ser uma passagem e um ocaso.
Todos os instintos que não se descarregam para fora voltam-se para dentro – isto é o que chamo de interiorização do homem é assim que no homem cresce o que depois se denomina sua ‘alma’” (…) “Esta é a origem da má-consciência.
(NIETZSCHE. 2005. p. 73. Afor 16).
“A educação consiste no condicionamento de um indivíduo, através da promessa de várias compensações e vantagens, de modo a que ele adopte um modo de pensar e se comportar que, logo que se tornem um hábito, instinto ou paixão, os dominarão «para o bem geral» mas, em última instância, para sua própria desvantagem. Somos vítimas das nossas virtudes, que nos transformam numa mera função do todo social.”
Matrimônio: chamo assim a vontade de dois criarem um que seja mais do que aqueles que o criaram. O matrimônio é o respeito recíproco: respeito recíproco dos que coincidem em tal vontade.
Alguém tinha o mau hábito de se exprimir, de quando em quando, com toda a franqueza acerca dos motivos pelos quais agia, e que eram tão bons ou tão maus como os motivos de todas as pessoas. Primeiro, causou escândalo, depois suspeita, pouco a pouco foi terminantemente proscrito e banido da sociedade, até que, por fim, a justiça se recordou de um ser tão abjecto em ocasiões, em que ela não costumava ter olhos ou os fechava. A falta de mutismo quanto ao segredo geral e a irresponsável propensão para ver o que ninguém quer ver – a si próprio – levaram-no à prisão e a uma morte prematura.
Se optar pelo prazer do crescimento, prepare-se para sofrer.
Seja impetuoso, um livre-pensador, supere suas limitações.
O homem é algo que deve ser superado.
Os nossos atos marcadamente habituais acabam por formar em redor de nós como que um edifício sólido; açambarcam as nossas forças de tal modo que tornam difícil um desvio de intenções.
Aquele que se sabe profundo esforça-se por ser claro; aquele que gostaria de parecer profundo à multidão esforça-se por ser obscuro. Porque a multidão acredita ser profundo tudo aquilo de que não pode ver o fundo. Tem tanto medo! Gosta tão pouco de se meter na água
Todas as coisas que duram muito tempo de tal modo se impregnam aos poucos da razão que a origem que tiram da desrazão se torna inverossímil. A história exata de uma origem não é quase sempre sentida como paradoxal e sacrílega? O bom historiador não está, no fundo, incessantemente em contradição com o seu meio?
O homem superior distingue-se do homem inferior pela intrepidez e desafio à infelicidade.
Como fenômeno estético, a existência é sempre, para nós, suportável ainda.
Não é a maneira como uma alma se aproxima da outra, mas na maneira como se afasta que reconheço seu parentesco e afinidade com a outra.
#7;#4;#7;#4;#17;#2;#5;(…) amamos a vida não porque estejamos habituados à vida, mas ao amor.
Para quem sofre, é uma alegria inebriante desviar o olhar de seu sofrimento e esquecer de si mesmo.
Eu adoro queijo
Quem rebaixa a si mesmo, quer ser elevado
Estou longe de conhecer o ateísmo na condição de resultado, menos ainda como conhecimento: em mim ele é compreensível na qualidade de instinto.
Bem-aventurados os esquecidos, pois tiram o melhor proveito dos seus equívocos.
Na verdade, o homem é um rio poluído. É preciso ser um mar para, sem se poluir, poder receber um rio poluído.
Devemos segurar firmemente nosso coração, por que se o soltarmos, lá se vai também nossa razão!
O inimigo da verdade não é a mentira e sim, a convicção.
Existem alturas da alma, de onde mesmo a tragédia deixa de ser trágica; e, se as dores do mundo fossem juntadas numa só, quem poderia ousar dizer que a visão dela nos iria necessariamente seduzir e obrigar à compaixão, e desse modo à duplicação da dor?
Que é que destrói mais rapidamente do que trabalhar, pensar, sentir, sem uma necessidade interior, sem uma escolha profundamente pessoal, sem prazer?
Ao contrário do que hoje se crê, a humanidade não representa uma evolução para algo melhor, de mais forte ou de mais elevado. O “progresso” é simplesmente uma ideia moderna, ou seja, uma ideia falsa.
A esperança é o pior dos males, pois prolonga o tormento do homem.
Mas não se deve ter razão demais, quando se quer ter os que riem do seu lado, um pouco de falta de razão faz parte inclusive do bom gosto.
O instinto é a mais inteligente das espécies de inteligência até agora descobertas.
Julgar e condenar moralmente é a vingança preferida das
almas limitadas sobre aquelas que são menos que elas, uma
espécie de indenização por tudo aquilo que obtiveram de menos
da natureza, eis uma ocasião para mostrar espírito e tornar-se
refinado — a malícia espiritualiza o homem. No fundo de seus
corações gostariam que existisse uma medida, diante da qual
também os homens ricos e privilegiados sejam seus iguais
Amar os próprios inimigos? Parece-me que se o tenha
apreendido muito bem: percebemo-lo em mil circunstâncias, no
pequeno e no grande; sim, quiçá bem melhor agora —
chegamos a desprezar enquanto amamos, e precisamente
quanto mais intensamente amamos: mas tudo isto
inconscientemente, sem fazer caso, com o pudor e o segredo da
bondade que gelam os lábios às palavras solenes e virtuosas
E há
algo de mais belo do que procurar as próprias virtudes? Isto
não é equivalente a ter fé nas próprias virtudes? Mas o fato de
ter fé não é equivalente àquilo que uma vez chamamos boa
consciência, conceito venerável que nossos avós enfiavam
dentro de nosso intelecto como o rabicho à nuca?
A ironia talvez fosse necessária à grandeza da alma.
Quem perde o respeito por si mesmo, já não pode mais, também como homem do conhecimento, comandar, conduzir. A menos que quisesse converter-se em grande mentiroso.
O que aconteceu na luz, atua nas trevas.
Mesmo o conceito mais firme tem algo frouxo, múltiplo, equívoco. O essencial “no céu como na terra”, ao que parece, é, repito, que se obedeça, por muito tempo e numa direção. Daí surge com o tempo e sempre surgiu, alguma coisa pela qual vale a pena viver na terra, como virtude, arte, música, dança, razão, espiritualidade – Alguma coisa transfiguradora, refinada, louca e divina.
Não odiamos enquanto nosso estima é pouca, mas quando estimamos alguém como igual ou superior.
Podemos mentir com a boca, mas com a expressão da boca ao mentir dizemos a verdade.
Sim, o seu olhar é sem inveja: e é por isso que o honrais?
Preocupa-se pouco com as vossas honras;
Tem o olho da águia, olha para o que está longe,
Não vos vê!… Apenas vê os astros e as estrelas!
É da fé que derivam as mais poderosas fontes de energia
É o futuro que dita a regra do nosso hoje
“As sair para o encontro com uma mulher. Não se esqueça de levar o chicote”
Evite sentimentos corrosivos como o rancor, a raiva e as mágoas, que nos tiram noites de sono e em nada afetam as pessoas responsáveis por causá-los.
Nós, homens do conhecimento, não nos conhecemos; de nós mesmos somos desconhecidos.
Siga a tua angústia, ela é o caminho rumo a ti mesmo.
Que não se venha a cometer nenhuma covardia contra as próprias ações! Que não as abandonemos em seguida! O remorso é indecente.
O Eterno Retorno (Quando Nietzsche Chorou)
Nietzsche: Nós devemos morrer… Mas na hora certa. A morte só não é aterrorizante quando a vida já se consumou. Já consumou a sua vida?
Breuer: Eu já consegui muitas coisas.
Nietzsche: Mas aproveitou a vida? Ou deixou-se levar por ela? Você está fora da sua vida… sofrendo. Por uma vida que nunca foi vivida.
Breuer: Não posso mudar minha vida. Tenho minha família, meus pacientes e alunos. É tarde demais.
Nietzsche: Não posso lhe dizer como viver de outra forma, viveria segundo o plano de outra pessoa, mas talvez eu possa lhe dar um presente Josef. Eu poderia lhe dar um pensamento.
E se um demônio lhe dissesse que esta vida da forma como vive e viveu no passado você teria de vivê-la de novo. Porém inúmeras vezes mais e não haverá nada novo nela. Cada dor, cada alegria, cada coisa minúscula ou grandiosa retornaria para você mesmo. A mesma sucessão, a mesma sequência, várias e várias vezes como uma ampulheta do tempo. Imagine o infinito! Considere a possibilidade de que cada ato que você escolher Josef, você escolherá para sempre! Então toda vida não vivida permaneceria dentro de você! Não vivida… por toda a eternidade!
Gosta desta ideia…? Ou detesta…? Escolha!
O homem é uma corda estendida entre o animal e o super-homem – uma corda sob o abismo. É o perigo de transpô-lo, o perigo de estar a caminho, o perigo de olhar para trás, o perigo de tremer e parar. O que há de grande do homem é ser ponte e não ser meta: o que pode amar-se, no homem, é ser uma transição e um ocaso. Amo os que não sabem viver senão no ocaso, porque estão a caminho do outro lado!
(Assim Falou Zaraustra)
O padre é o advogado do nada que foi confundido com o representante da verdade.
O pensador é antes de tudo dinamite, um aterrorizante explosivo que põe em perigo o mundo inteiro.
A crueldade é um dos prazeres mais antigos da humanidade.
Deus está morto! Deus permanece morto! E quem o matou fomos nós! Como haveremos de nos consolar, nós os algozes dos algozes? O que o mundo possuiu, até agora, de mais sagrado e mais poderoso sucumbiu exangue aos golpes das nossas lâminas. Quem nos limpará desse sangue? Qual a água que nos lavará? Que solenidades de desagravo, que jogos sagrados haveremos de inventar? A grandiosidade deste acto não será demasiada para nós? Não teremos de nos tornar nós próprios deuses, para parecermos apenas dignos dele? Nunca existiu acto mais grandioso, e, quem quer que nasça depois de nós, passará a fazer parte, mercê deste acto, de uma história superior a toda a história até hoje!
As pessoas que não sabem amar a si mesmo buscam constantemente a aprovação alheia e sofrem quando são rejeitadas. Para quebrar essa dinâmica, devemos admitir que não podemos satisfazer a todos.
Entre as condições de vida poderia estar o erro.
Isto é um sonho, bem sei, mas quero continuar a sonhar.
A eterna ampulheta da existência será sempre virada outra vez – e tu com ela, poeirinha da poeira!
Só o que se transforma continua meu amigo.
Frase do Dia
“A grandeza de alma é inseparável da grandeza intelectual, porque implica independência. Mas, sem grandeza intelectual, a grandeza de alma deveria ser contida, pois que cria a desordem, mesmo que tenha a intenção de proceder bem e de obrar com justiça.”
Ao bom caçador convém boa caça!
Eis o momento! Começando nesta porta, um longo e
eterno caminho mergulha no passado: atrás de nós está
uma eternidade! Não será verdade que todos os que
podem andar têm de já ter percorrido este caminho?
Todo conhecimento implica em poder.
Os sonhos são projetados por nosso arquiteto interior,
mas a realização está em nossas mãos.
Nada é tão nosso como os nossos sonhos.
É Preciso Aprender a Amar. – Eis o que se sucede conosco na música: primeiro temos que aprender a ouvir uma figura, uma melodia, a detectá-la, distingui-la, isolando-a e demarcando-a como uma vida em si; então é necessário empenho e boa vontade para suportá-la, não obstante sua estranheza, usar de paciência com seu olhar e sua expressão, de brandura com o que nela é singular: – enfim chega o momento em que estamos habituados a ela, em que a esperamos, em que sentimos que ela nos faria falta, se faltasse; e ela continua a exercer sua coação e sua magia, incessantemente, até que nos tornamos seus humildes e extasiados amantes, que nada mais querem do mundo senão ela e novamente ela. – Mas eis que isso não nos sucede apenas na música: foi exatamente assim que aprendemos a amar todas as coisas que agora amamos. Afinal sempre somos recompensados pela nossa boa vontade, nossa paciência equidade, ternura, para com que é estranho, na medida em que a estranheza tira lentamente o véu e se apresenta como uma nova e indizível beleza: – é a sua gratidão por nossa hospitalidade. Também quem ama a si mesmo aprendeu-o por esse caminho: não há outro caminho. Também o amor há que ser aprendido.
É Preciso Aprender a Amar. Afinal sempre somos recompensados pela nossa boa vontade, nossa paciência equidade, ternura, para com que é estranho, na medida em que a estranheza tira lentamente o véu e se apresenta como uma nova e indizível beleza.
“Um passo adiante na convalescença: e o espírito livre se aproxima novamente à vida, lentamente, sem dúvida, e relutante, seu tanto desconfiado. Em sua volta há mais calor, mais dourado talvez;sentimento e simpatia se tornam profundos, todos os ventos tépidos passam sobre ele. É como se apenas hoje tivesse olhos para o que é próximo. Admira-se e fica em silêncio: onde estava então?”
A mentira mais frequente é a que se conta para si mesmo; mentir para os outros é relativamente a exceção.
Enquanto houver esperança não haverá solução.
Quem tem uma razão de viver é capaz de suportar qualquer coisa.
Deixemos pois de pensar mais em punir, em censurar e em querer melhorar! Não seremos capazes de modificar um único homem; e se alguma vez o conseguíssemos seria talvez, para nosso espanto, para nos darmos também conta de outra coisa: é que teríamos sido nós próprios modificados por ele! Procuremos antes, por isso, que a nossa influência se contraponha e ultrapasse a sua em tudo o que está para vir! Não lutemos em combate direto… qualquer punição, qualquer censura, qualquer tentativa de melhoria representa combate direto. Elevemo-nos, pelo contrário, a nós próprios muito mais alto. Façamos sempre brilhar de forma grandiosa o nosso exemplo. Obscureçamos o nosso vizinho com o fulgor da nossa luz. Recusemo-nos a nos tornar, a nós próprios, mais sombrios por amor dele, como todos os castigadores e todos os descontentes! Escutemo-nos, antes, a nós. Olhemos para outro lado.
Minha fórmula para a grandeza no homem é Amor Fati: não querer nada de diferente, nem para frente, nem para trás, por toda a eternidade. Não apenas suportar aquilo que é necessário, muito menos dissimulá-lo – todo o idealismo é falsidade diante daquilo que é necessário -, mas sim amá-lo…
Ninguém pode construir no teu lugar a ponte que te seria preciso tu mesmo transpor no fluxo da vida – ninguém, exceto tu, somente tu. Certamente existem as veredas, e as pontes, e os semideuses inumeráveis que se oferecerão para te levar para o outro lado do rio, mas somente na medida em que te vendesses inteiramente: tu te colocarias como penhor e te perderias. Há no mundo um único caminho, sobre o qual ninguém, exceto tu, poderia trilhar. Para onde leva ele? Não perguntes nada, deves seguir este caminho.
Não são a verdade e a certeza que estão nos antípodas do mundo dos insensatos; é a crença obrigatória e geral, é a exclusão do bom prazer no ajuizar.
Nós podemos destruir somente enquanto criadores!
O maior trabalho dos homens foi até agora concordar sobre uma quantidade de coisas, e fazer uma lei desse acordo, não importando se fossem verdadeiras ou falsas.
O mais corajoso dentre nós dispõe apenas raramente da coragem de afirmar aquilo que sabe verdadeiramente…
O que não me mata, me torna mais forte.
Aquilo que se faz por amor sempre se faz além dos limites do bem e do mal.
E se alguma virtude há em mim; é não temer a nenhuma proibição.
O Evangelho morreu na cruz.
Quando se vive só não se fala muito alto, não se escreve também muito alto: receia-se o eco, o vazio do eco, a crítica da ninfa Eco. A solidão modifica as vozes.
Uma era de felicidade simplesmente não é possível porque as pessoas querem apenas desejá-la, mas não possuí-la, e cada indivíduo aprende durante os seus bons tempos a de facto rezar por inquietações e desconforto. O destino do homem está projetado para momentos felizes — toda a vida os têm —, mas não para eras felizes. Estas, porém, permanecerão fixadas na imaginação humana como ‘o que está além das montanhas’, como um legado de nossos ancestrais: pois o conceito de uma era de felicidade foi sem dúvida adquirido nos tempos primordiais, a partir da condição em que, depois de um esforço violento na caça e na guerra, o homem se entrega ao repouso, estica os membros e sente as asas do sono roçando a sua pele. Será uma falsa conclusão se, na trilha dessa remota e familiar experiência, o homem imaginar que, após eras inteiras de labor e inquietação, ele poderá usufruir, de modo correspondente, daquela condição de felicidade intensa e prolongada.
Quanto mais próximo se está da ciência, maior o crime de ser cristão.
Não enfrentes monstros sob pena de te tornares um deles. Se contemplas o abismo, a ti o abismo também contempla.
Não queremos que os nossos inimigos nos tratem com indulgência, nem tão pouco aqueles a quem amamos de coração. Deixai-me, portanto, dizer-vos a verdade!
Irmãos na guerra! Amo-vos de todo o coração; eu sou e era vosso semelhante. Também sou vosso inimigo. Deixai-me, portanto, dizer-vos a verdade!
Conheço o ódio e a inveja do vosso coração. Não sois bastante grandes para não conhecer o ódio e a inveja. Sede, pois, bastante grandes para não vos envergonhardes disso!
E se não podeis ser os santos do conhecimento, sede ao menos os seus guerreiros. Eles são os companheiros e os precursores dessa entidade.
Vejo muitos soldados; oxalá possa ver muitos guerreiros. Chama-se “uniforme” o seu traje; não seja, porém, uniforme o que esse traje oculta!
Vós deveis ser daqueles cujos olhos procuram sempre um inimigo, o vosso inimigo. Em alguns de vós se descobre o ódio à primeira vista.
Vós deveis procurar o vosso inimigo e fazer a vossa guerra, uma guerra por vossos pensamentos. E se o vosso pensamento sucumbe, a vossa lealdade, contudo, deve cantar vitória.
Deveis amar a paz como um meio de novas guerras, e mais a curta paz do que a prolongada.
Não vos aconselho o trabalho, mas a luta. Não vos aconselho a paz, mas a vitória. Seja o vosso trabalho uma luta! Seja vossa paz uma vitória!
Não é possível estar calado e permanecer tranqüilo senão quando se têm flechas no arco; a não ser assim questiona-se. Seja a vossa paz uma vitória!
Dizeis que a boa causa é a que santifica também a guerra? Eu vos digo: a boa guerra é a que santifica todas as coisas.
A guerra e o valor têm feito mais coisas grandes do que o amor do próximo. Não foi a vossa piedade mas a vossa bravura que até hoje salvou os náufragos.
Que é bom? — perguntais. — Ser valente. Deixai as raparigas dizerem: “Bom é o bonito e o meigo”.
Estou diante de minha mais alta montanha e de minha mais longa viagem! Por isso tenho que descer como nunca desci!
Tenho de ir ao fundo da dor mais do que nunca, até suas águas mais escuras! Assim o quer meu destino. Coragem! Estou pronto!
Creio que aqueles que mais entendem de felicidade são as borboletas e as bolhas de sabão.
Um passo adiante na convalescença: e o espírito livre se aproxima outra vez da vida, lentamente sem dúvida, quase recalcitrante, quase desconfiado. Fica outra vez mais quente ao seu redor, mais amarelo, por assim dizer; sentimento e simpatia adquirem profundeza, brisas de degelo de toda espécie passam por sobre ele. Quase se sente como se somente agora seus olhos se abrissem para o perto. Está admirado e se senta quieto: onde estava? Essas coisas próximas e muito próximas: como lhe parecem mudadas! Que plumagem e feitiço adquiriram nesse meio-tempo! Ele olha com gratidão para trás – grato a sua andança, a sua dureza e estranhamento de si, a seu olhar à distância e a seu voo de pássaro em frias altitudes. Que bom que ele não permaneceu, como alguém delicado, embotado, que fica em seu canto, sempre “em casa”, sempre “junto de si”! Ele estava fora de si: não há dúvida nenhuma. Somente agora vê a si mesmo – e que surpresas encontra nisso! Que arrepio nunca provado! Que felicidade ainda no cansaço, na velha doença, na recaída do convalescente! Como lhe agrada sentar-se quieto sofrendo, urdir paciência, estar deitado ao sol! Quem entende igual a ele, de felicidade de inverno, de manchas de sol sobre o muro! São os animais mais gratos do mundo, e também os mais humildes, estes convalescentes e lagartos semi-voltados outra vez à vida: – há entre eles os que não deixam partir nenhum dia sem pedrar-lhe um pequeno hino de louvor na orla do manto que se afasta. E, falando sério: há uma cura radical contra todo pessimismo (o câncer dos velhos idealistas e heróis da mentira, como é sabido -), no modo de esses espíritos livres ficarem doentes, por um tempo permanecerem doentes e então, ainda mais longamente, mais longamente ainda, ficarem sadios, quero dizer, “mais sadios”. Há sabedoria nisso, sabedoria de vida, em receitar-se a saúde mesma somente em pequenas doses.
Retribuímos mal a um professor se continuamos apenas alunos.
“O que quer que tenha valor no mundo de hoje não o tem em si, conforme sua natureza – a natureza é sempre isenta de valor: – foi-lhe dado, oferecido um valor, e fomos nós esses doadores e ofertadores!”
Aquele que não quer ver o que é elevado num ser humano olha com tanto maior acuidade para o que é nele baixo e superficial – e com isso denuncia a si mesmo.
Não pelo fato de me teres mentido, mas por não poder acreditar-te, é que me agonio.
Demore o tempo que for para decidir o que você quer da vida, e depois que decidir não recue ante nenhum pretexto, porque o mundo tentará te dissuadir.
Pode-se prometer atos, mas não sentimentos; pois estes são involuntários. Quem promete a alguém amá-lo sempre, ou sempre odiá-lo ou ser-lhe sempre fiel, promete algo que não está em seu poder; mas ele pode prometer aqueles atos que normalmente são consequências do amor, do ódio, da fidelidade, mas também podem nascer de outros motivos: pois caminhos e motivos diversos conduzem a um ato. A promessa de sempre amar alguém significa, portanto: enquanto eu te amar, demonstrarei com atos o meu amor; se eu não mais te amar, continuarei praticando esses mesmos atos, ainda que por outros motivos: de modo que na cabeça de nossos semelhantes permanece a ilusão de que o amor é imutável e sempre o mesmo. Portanto, prometemos a continuidade da aparência do amor, quando sem cegar a nós mesmos, juramos a alguém amor eterno.
A esperança: ela é na verdade o pior dos males, pois prolonga o suplício dos homens.
Cintilei em nosso amor o fulgor de uma estrela, abrilhantado pelas virtudes de um mundo que não existe
Moral para os que edificam: Depois de construída a casa é preciso retirar os andaimes.
O Estado é o mais frio de todos os monstros. Ele mente friamente; de sua boca sai esta mentira: “Eu, o Estado, sou o povo.”
Não te acovardes diante de tuas ações! Não as repudies depois de consumadas! O remorso da consciência é indecente.
Quem luta com monstros deve se cuidar, pois, ao fazê-lo, pode se transformar também em monstro. E você se olhar durante muito tempo para um abismo, o abismo também olhará para dentro de você.
O pior inimigo, todavia, que poderá encontrar é tu mesmo. Nas cavernas e nos bosques és tu que te espreitas a ti mesmo.
Solitário, tu segues o caminho que te conduz a ti mesmo! E por teu caminho desfilam diante de ti tu mesmo e teus sete demônios.
Serás herege para ti mesmo, serás feiticeiro e adivinho, doido, incrédulo, ímpio e malvado.
É preciso que sintas a necessidade de consumir-te em tua própria chama. Como querias renascer sem primeiro te conduzires a cinzas?
“When marrying, ask yourself this question: Do you believe that you will be able to converse well with this person into your old age? Everything else in marriage is transitory.”
Quem combate monstros precisa tomar cuidado para que isso não o torne um monstro. Se você olha muito tempo para dentro do abismo, o abismo também começa a olhar dentro de você.
Tudo posso ser, minha alma errante e meu espírito livre me dizem somente uma certeza: Sou humano, demasiadamente humano.
Embora poucas pessoas o saibam, deve-se ter todas as virtudes para dormir bem.
Aquele que luta com monstros deve acautelar-se para não tornar-se também um monstro.
Se te apetece esforçar, esforça-te; se te apetece repousar, repousa; se te apetece fugir, fuja; se te apetece resistir, resista; mas saiba bem o que te apetece, e não recue ante nenhum pretexto, porque o universo se organizará para te dissuadir.
Entre as coisas mais semelhantes é onde é mais bela a ilusão: porque é sobre o abismo pequeno que se torna difícil lançar uma ponte.
Antes ser louco por seu próprio critério, que sábio segundo a opinião dos outros!
O pior inimigo, todavia, que podes encontrar, és tu mesmo! Lança-te a ti próprio nas cavernas e nos bosques. Solitário, tu segues o caminho que te conduz a ti mesmo! E o teu caminho passa por diante de ti e dos teus sete demônios.
Prudência mundana
Não fique no rés do chão!
Não suba alto demais!
O mundo parece mais belo
À meia altura.
Melhor uma inimizade inteira
Que uma amizade emendada!
O sedutor involuntário
Atirou no ar palavras vazias,
Por distração — e abateu assim uma mulher.
Contra a soberba
Não se encha de ar: senão basta
Uma alfinetada para o estourar.
Se me explico, me implico:
Não posso a mim mesmo interpretar.
Aquele que abandonou a Deus prende-se em redobrada severidade à crença na moral.
“Qual é a tarefa de todo ensino mais elevado?” – Tornar o homem uma máquina. – “Qual o meio para tanto?” – Ele precisa aprender a entediar-se. – “Como se alcança um tal estágio?” – Através do conceito de dever.
A minha doutrina ensina: “Viva de forma a ter de desejar reviver – é o dever -, pois, em todo caso, você reviverá: aquele para quem o esforço é a alegria suprema, que se esforce; aquele que ama antes de tudo o repouso, que repouse; aquele que ama antes de tudo se submeter, obedecer e seguir, que obedeça. Mas que saiba para o que dirige sua preferência, e não recue diante de nenhum meio! É a eternidade que está em jogo”.
Ninguém quer causar dano a si mesmo, por isso tudo o que é ruim acontece involuntariamente. Pois o homem ruim provoca dano a si mesmo: ele não o faria, caso ele soubesse o que é ruim. Por conseguinte, o homem ruim apenas é ruim por um erro; se o privarmos de seu erro, então o tornamos necessariamente – bom.
Uma vez tomada a decisão, tapar os ouvidos inclusive para as melhores contrarrazões: sinal de caráter forte. Portanto, uma ocasional vontade de tolice.
A esperança intensa é um estimulante da vida muito mais forte do que qualquer felicidade isolada que realmente se concretize. É preciso manter os sofredores em pé mediante uma esperança que não possa ser contradita por nenhuma realidade.
Jamais têm êxito as pobres mulheres que se tornam inquietas, inseguras e falam demais em presença daqueles que amam: pois é uma ternura discreta e fleumática que seduz mais seguramente os homens.
Se vivemos próximos demais a uma pessoa, é como se repetidamente tocássemos uma boa gravura com os dedos nus: um dia teremos nas mãos um sujo pedaço de papel, e nada além disso. Também a alma de uma pessoa, ao ser continuamente tocada, acaba se desgastando; ao menos assim ela nos parece afinal — nós nunca mais vemos seu desenho e sua beleza originais. — Sempre se perde no relacionamento íntimo demais como mulheres e amigos; às vezes se perde a pérola de sua própria vida.
Julga-se que a necessidade é a causa que cria algo; mas a necessidade, na maior parte das vezes, é o efeito desse algo.
O grande segredo para colher da existência o mais fecundo e o maior prazer é viver perigosamente.
O mundo não vale aquilo em que acreditamos.
A existência parece bastante santa por si mesma para justificar por acréscimo uma imensidade de sofrimento.
Da escola de guerra da vida: o que não me mata, torna-me mais forte.
O mundo visto de dentro, o mundo determinado por seu “caráter inteligível” – seria justamente “vontade de potência”, e nada mais.
Temos de continuamente parir nossos pensamentos em meio a nossa dor, dando-lhes maternalmente todo sangue, coração, fogo, prazer, paixão , tormento, consciência, destino e fatalidade que há em nós.
(In A Gaia Ciência)
Em nome do céu, nega-se a terra.
Temo que não nos livremos de Deus porque ainda acreditamos na gramática…
A serpente que não pode mudar de pele morre. De igual modo, os espíritos que impedimos de mudar de opinião deixam de ser espíritos.
Há um limite a partir do qual a força visual do olho humano deixa de ser capaz de identificar o mau instinto tornado demasiado sutil para os seus fracos recursos; é aí que o homem faz começar o reino do bem; e a sensação de ter penetrado nesse reino desperta sincronicamente nele todos os instintos, os sentimentos de segurança, de bem-estar, e de benevolência, que o mal limitava e ameaçava. Por consequência: quanto mais o olhar é fraco, maior é o domínio do bem! Daí a eterna alegria do povo e das crianças! Daí o abatimento dos grandes pensadores, e o humor negro que é o seu, humor parente da má consciência.
/ A Gaia Ciência /
Um sábio perguntava a um louco qual era o caminho da felicidade. O louco respondeu-lhe imediatamente, como alguém a quem se pergunta o caminho da cidade vizinha: ‘Admira-te a ti mesmo e vive na rua’. ‘Alto lá’, exclamou o sábio, ‘pedes demais, basta já que nos admiremos!’ E o louco respondeu logo: ‘Mas como admirar sem cessar se não nos desprezarmos constantemente?
(A Gaia Ciência)
Vivei assim a vossa vida de obediência e de guerra
Aquele que não é terrível para si, não inspira terror a ninguém, e só o que inspira terror pode comandar aos demais.
Não sabeis que só a disciplina da dor, da grande dor, é o que permitiu ao homem se elevar?
Não há no mundo amor e bondade bastantes para que ainda possamos dá-los a seres imaginários.
(Extraído do livro em PDF: 100 aforismos sobre o amor e a morte. Pág. 8)
“É verdade: amamos a vida não porque estejamos habituados à vida, mas ao amor.”
Sem vaidade
Quando amamos, queremos que nossos defeitos permaneçam ocultos — não por vaidade, mas para que o ser amado não sofra. Sim, aquele que ama gostaria de parecer um deus — e também isso não por vaidade.
( do livro em PDF:100 aforismos sobre o amor e a morte )
A mais perigosa desaprendizagem
Começa-se por desaprender de amar os outros e termina-se por não encontrar nada mais digno de amor em si mesmo.
(do livro em PDF: 100 aforismos sobre o amor e a morte )
Tratar todos com igual benevolência e ser bom sem distinção de pessoa pode ser decorrência tanto de um profundo desprezo como de um sólido amor à humanidade.
(em 100 aforismos sobre o amor e a morte)
A frase mais pudica que jamais ouvi: “Dans le véritable amour, c’est l’âme qui enveloppe le corps” [No verdadeiro amor, é a alma que envolve o corpo].
(do livro em PDF: 100 aforismos sobre o amor e a morte )
Um atestado de amor
Alguém disse: “Acerca de duas pessoas nunca refleti profundamente: é o atestado de meu amor por elas”.
(do livro em PDF: 100 aforismos sobre o amor e a morte )
Tornar-se pensador. — Como pode alguém se tornar um pensador, se não passar ao menos um terço de cada dia sem paixões, pessoas e livros?
(do livro em PDF: Humano, demasiado humano Um livro para espíritos livres volume II)
Contra os fantasiosos. — O fantasioso nega a verdade para si mesmo; o mentiroso, apenas para os outros.
(do livro em PDF: Humano Demasiado)
Os piores leitores. — Os piores leitores são os que agem como soldados saqueadores: retiram alguma coisa de que podem necessitar, sujam e desarranjam o resto e difamam todo o conjunto.
(do livro em PDF: Demasiado Humano)
O que é bom induz a viver. — Todas as coisas boas são fortes estimulantes para a vida, mesmo todo bom livro escrito contra a vida.
(extraído do livro em PDF: Humano Demasiado)
Virtudes Inconscientes
Todas as qualidades pessoais de que um homem tem consciência – sobretudo quando supõe que os que o rodeiam as vêem, que saltam aos olhos dos outros -, estão submetidas a leis da evolução completamente diferentes daquelas que regem as qualidades que ele conhece mal ou não conhece, as qualidades que a sua finura dissimula ao observador mais subtil e que parecem entrincheirar-se atrás da cortina do nada. Assim como a delicada gravura que esculpe a escama da serpente: seria um erro ver nela ou uma arma ou um ornamento, porque só é possível descobri-la ao microscópio, por consequência com um olho cuja potência é devida a tais artifícios que os animais para os quais ela teria por sua vez servido de arma ou de ornamento não possuem semelhante!
As nossas qualidade morais visíveis e, nomeadamente, aquelas que nós acreditamos serem tais, seguem o seu caminho; e as do mesmo nome que se não vêem, que não podem portanto servir-nos de arma ou de ornamento, seguem assim o seu caminho, provavelmente completamente diferente, decoradas de linhas, de finuras e de esculturas que poderiam talvez dar prazer a um deus munido com um microscópio divino. Eis por exemplo o nosso zelo, a nossa ambição, a nossa perspicácia: temo-los, toda a gente os conhece; mas não possuímos além disso o nosso zelo, a nossa ambição, a nossa perspicácia, escamas de réptil para as quais ainda se não encontrou nenhum microscópio? E eis os amigos da moralidade instintiva a gritar: «Bravo! Ao menos admite a possibilidade de virtudes instintivas!… Isso não basta!» Oh! como vos basta pouco!
Nós éramos amigos e nos tornamos estranhos um para o outro. Mas está bem que seja assim, e não vamos ocultar e obscurecer isto, como se fosse motivo de vergonha. Somos dois navios que possuem, cada qual, seu objetivo e seu caminho; podemos nos cruzar e celebrar juntos uma festa, como já fizemos (…)
Que tenhamos de nos tornar estranhos um para o outro é da lei acima de nós: justamente por isso deve-se tornar mais sagrado o pensamento de nossa antiga amizade! Existe provavelmente uma enorme curva invisível, uma órbita estelar em que nossas tão diversas trilhas e metas estejam incluídas como pequenos trajetos – elevemo-nos a esse pensamento! Mas nossa vida é muito breve e nossa vista muito fraca, para podermos ser mais que amigos no sentido dessa elevada possibilidade. – E assim crer em nossa amizade estelar, ainda que tenhamos de ser inimigos na Terra.
Ébrio prazer é para o sofredor desviar de si o olhar de seu sofrimento e perder-se. Um ébrio prazer e um perder-se a si próprio pareceu-me outrora o mundo.
Vejo muitos soldados: quisera ver muitos guerreiros! “Uniforme” chama-se àquilo que vestem: que não seja uni-forme aquilo que com isso ocultam!
Sim! Eu sei muito bem de onde venho!
Insaciável como a chama no lenho
Eu me inflamo e me consumo.
Tudo que eu toco vira luz,
Tudo que eu deixo, carvão e fumo.
Chama eu sou, sem dúvida.
Nunca ceder ao arrependimento, e sim dizer imediatamente a si próprio: “isto significa juntar uma segunda estupidez à primeira”. Tendo-se feito um mal, cuide-se para fazer um bem.
Nós éramos amigos e nos tornamos estranhos um para o outro. Mas está bem que seja assim, e não vamos ocultar e obscurecer isto, como se fosse motivo de vergonha. Somos dois navios que possuem, cada qual, seu objetivo e seu caminho; podemos nos cruzar e celebrar juntos uma festa, como já fizemos – e os bons navios ficaram placidamente no mesmo porto e sob o mesmo sol. Parecendo haver chegado ao seu destino e ter tido um só destino. Mas, então, a todo-poderosa força de nossa missão nos afastou novamente, em direção a mares e quadrantes diversos, e talvez nunca mais nos vejamos de novo – ou talvez nos vejamos, sim, mas sem nos reconhecermos: os diferentes mares e sóis nos modificaram! Que tenhamos de nos tornar estranhos um para o outro é da lei acima de nós: justamente por isso deve-se tornar mais sagrado o pensamento de nossa antiga amizade! Existe provavelmente uma enorme curva invisível, uma órbita estelar em que nossas tão diversas trilhas e metas estejam incluídas como pequenos trajetos – elevemo-nos a esse pensamento! Mas nossa vida é muito breve e nossa vista muito fraca, para podermos ser mais que amigos no sentido dessa elevada possibilidade. – E assim crer em nossa amizade estelar, ainda que tenhamos de ser inimigos na Terra.
Os pensadores nos quais todas as estrelas têm orbitas cíclicas não são os mais profundos; quem olha para dentro de si como para um espaço sideral e traz vias lácteas em seu interior, sabe também como são irregulares todas as vias lácteas; elas conduzem ao caos e ao labirinto da existência.
A própria palavra cristianismo já é um equívoco — no fundo só existiu um cristão, e esse morreu na cruz.
Nós, artistas! Nós, ocultadores do que é natural! Nós, incansáveis e silenciosos andarilhos, em alturas que não vemos como alturas, mas como nossas planícies, nossas certezas!
O homem do conhecimento, ao obrigar seu espírito a conhecer, contra o pendor do espírito e também, com frequência, os desejos de seu coração – isto é, a dizer Não, onde ele gostaria de aprovar, amar, adorar – atua como um artista e transfigurador da crueldade.
Não é possível que um homem não tenha no corpo as características e predileções de seus pais e ancestrais: mesmo que as evidências afirmem o contrário.
Todo pensador profundo tem mais receio de ser compreendido que de ser mal compreendido.
Não se pode entusiasmar as naturezas fleumáticas sem fanatiza-las.
Conhece o terror de quem dorme?
Ele está aterrorizado, porque o chão se abre e o sonho começa…
Quando você passa a lutar contra “monstros”,
tome cuidado para não se transformar em um.
“Acaso vos aconselho o amor ao próximo? Antes vos aconselho a fuga do próximo e o amor ao remoto!”
“O homem se define como ser que avalia, como ser que ama por excelência.”
O Diabo — o mais antigo amigo do Conhecimento
O Diabo é quem tem as perspectivas mais largas sobre Deus, por isso se distancia tanto dele; o Diabo é o amigo mais antigo do Conhecimento.
O que hoje sou, o lugar em que me encontro — a uma altura em que já não falo com palavras, mas com raios — oh! Como então estava ainda longe disso! — Mas eu percebia a Terra prometida — em nenhum instante me enganei sobre o caminho, o mar, os riscos — e o sucesso! A grande tranquilidade no prometer, a feliz visão em direção a um futuro que não há de ficar em simples promessa! — Aqui cada palavra é vivida, profunda, íntima; nem faltam coisas dolorosíssimas, havendo palavras que propriamente sangram. Mas um vento de grande liberdade sopra sobre tudo; a própria ferida não age como objeção.
Quando imagino uma espécie de homem que repugna a todos os meus instintos, o resultado é sempre um alemão.
Não é falta de amor, mas falta de amizade que faz casamentos infelizes.
“O homem deve ser educado para a guerra e a mulher para prazer do guerreiro. Tudo o mais é loucura.”
Eu não estou chateado porque você mentiu para mim, eu estou chateado porque a partir de agora não posso mais acreditar em você.
É bastante difícil lembrar minhas opiniões, sem lembrar também minhas razões por elas!
Não é o fato de você ter mentido para mim, e sim o fato de que já não posso mais acreditar em você, que me apavora.”
No céu, todas as pessoas interessantes estão ausentes.
O homem do conhecimento deve ser capaz não só de amar seus inimigos, mas também de odiar seus amigos.
Quando estamos cansados, somos atacados por ideias que já havíamos vencido há muito tempo.
As grandes épocas de nossa vida são aquelas em que ganhamos a coragem de rebatizaro nosso mal como o nosso melhor.
O homem é o animal mais cruel.
O modo mais seguro de se corromper um jovem é instruí-lo a manter uma estima mais alta por aqueles que pensam como ele do que por aqueles que pensam diferente.
É certo que sou uma selva e uma noite de escuras árvores; Mas aquele que não temer a minha obscuridade encontrará sob os meus ciprestes sendas de rosas.
Um pensador vê suas próprias ações como experiências e perguntas – como tentativas de descobrir alguma coisa. Sucesso e fracasso são para ele respostas, acima de tudo.
Eu sou uma floresta, sem dúvida, e uma noite de árvores escuras, mas quem não teme minha escuridão encontra também roseiras debaixo dos meus ciprestes.
O que proporcionam os escabrosos caminhos que nos conduzem para trás? O essencial neles não é o retrocesso, mas o fato de que desejem caminhar sozinhos. Com pouco mais de vigor, coragem, sentido artístico, poderiam ir além, e não para trás.
Escolhei a boa solidão, a solidão livre, a que vos permite seguir sendo bons em qualquer sentido.
É essencial demonstrar a si mesmo que se está destinado à independência e ao mando, porém é preciso que se o faça a tempo. Não se deve afastar a obrigação de fazer estas provas, mas também não se ligar a ninguém, porque toda pessoa é uma prisão. Deve-se saber concentrar-se e conservar-se, o que é a melhor prova de independência.
Encontrar amor em quem se ama deveria desenganar realmente aquele que ama acerca do objeto amado.
Admito que como teoria isso possa ser uma coisa nova. Porém, na verdade, esse é o fato substancialmente primitivo em toda a história, que se tenha, pelo menos, a coragem de ser sincero consigo mesmo.
Amor e Justiça
Por que superestimamos o amor em detrimento da justiça e dizemos dele as coisas mais belas, como se fosse algo muito superior a ela? Não será ele visivelmente mais estúpido? – Sem dúvida, mas justamente por isso mais agradável para todos. O amor é estúpido e possui uma abundante cornucópia; dela retira e distribui seus dons a cada pessoa, ainda que ela não os mereça, nem sequer os agradeça. Ele é imparcial como a chuva, que, segundo a Bíblia e a experiência, molha até os ossos não apenas o injusto, mas ocasionalmente também o justo.
Para a doença masculina do autodesprezo o remédio mais seguro é ser amado por uma mulher inteligente.
É fácil as mães sentirem ciúme dos amigos de seus filhos, quando eles têm sucesso extraordinário. Habitualmente a mãe ama, em seu filho, mais a si mesma do que ao próprio filho.
Em toda espécie de amor feminino também aparece algo do amor materno.
Se os cônjuges não morassem juntos, os bons casamentos seriam mais frequentes.
Um casamento no qual um quer alcançar um objetivo individual através do outro se conserva bem; por exemplo, quando a mulher quer se tornar famosa através do homem, e o homem quer se tornar amado através da mulher.
Por amor, as mulheres se transformam naquilo que são na mente dos homens por quem são amadas.
Em geral, as mulheres amam um homem de valor como se o quisessem ter apenas para si. Bem gostariam de trancá-lo a sete chaves, se isto não contrariasse a sua vaidade: pois esta requer que a importância dele seja evidente também para os outros.
Ao iniciar um casamento, o homem deve se colocar a seguinte pergunta: você acredita que gostará de conversar com esta mulher até à velhice? Tudo o mais no casamento é transitório, mas a maior parte do tempo é dedicada à conversa.
Garotas inexperientes se lisonjeiam com a ideia de que está em seu poder tornar um homem feliz; mais tarde elas aprendem que significa menosprezar um homem supor que basta uma garota para fazê-lo feliz. – A vaidade da mulher exige que um homem seja mais que um marido feliz.
As mulheres percebem facilmente quando a alma de um homem já foi tomada; elas desejam ser amadas sem rivais, e censuram nele os objetos de sua ambição, suas atividades políticas, suas ciências e artes, se ele tiver paixão por tais coisas. A menos que ele brilhe por essas coisas – então elas esperam que uma união amorosa com ele realce também seu próprio brilho; neste caso elas incentivam aquele que amam.
A solidão, para alguns, é abrigo do doente. Para outros, a solidão é o abrigo contra o doente.
Ainda que tenham me ouvido tritar e suspirar com o frio do inverno, todos esses pobres diabos de olhos turvos que me rodeiam, com tais arrepios e suspiros, fujo de seus quartos aquecidos.
Podem muito bem lastimar e ter dó de mim por causa de minhas frieiras e que me desprezam dizendo: “Acabará por se congelar com o gelo do seu conhecimento!”
Eu, entretanto, corro de cá para lá, com os pés quentes, sobre meu Monte das Oliveiras. No recanto ensolarado de meu monte de oliveiras canto e escarneço de toda compaixão.
É difícil evitar que nossas visões mais elevadas pareçam loucuras e por vezes até crimes, quando chegam a ouvidos que não são capazes de compreendê-las.
Um bom escritor possui não só o seu próprio espírito, mas também o espírito de seus amigos.
É preciso segurar o coração; porque, se se deixa ir, bem depressa se perde a cabeça.
Entendo o filósofo como um terrível corpo explosivo diante do qual tudo corre perigo” – Nietzsche, Ecce homo, as Extemporâneas, §3
Não conheço em absoluto o ateísmo como resultado, menos ainda como acontecimento: em mim, ele é óbvio por instinto. Sou muito inquiridor, muito cético, muito altivo para me satisfazer com uma resposta grosseira. Deus é uma resposta grosseira, uma indelicadeza para conosco, pensadores – no fundo, até mesmo uma grosseira proibição para nós: não devem pensar!”,
in Ecce Homo.
As mulheres têm a inteligência; os homens, o sentimento e a paixão. Isso não está em contradição com o fato de os homens realizarem muito mais coisas com a sua inteligência: eles têm impulsos mais profundos, mais poderosos; são estes que levam tão longe a sua inteligência, que em si é algo passivo. Não é raro as mulheres secretamente se admirarem da veneração que os homens tributam ao seu sentimento.
O intelecto das mulheres se manifesta como perfeito domínio, presença de espírito, aproveitamento de toda vantagem. Elas o transmitem aos filhos, como sua característica fundamental, e a isso o pai acrescenta o fundo mais obscuro da vontade. A influência dele determina, por assim dizer, o ritmo e a harmonia com que a nova vida deve ser tocada; mas a melodia vem da mulher.
Tomadas pelo ódio, as mulheres são mais perigosas que os homens; antes de mais nada porque, uma vez despertado o seu sentimento hostil, não são freadas por nenhuma consideração de justiça, deixando o seu ódio crescer até as últimas consequências; depois porque são exercitadas em descobrir feridas (que todo homem, todo partido tem) e espicaçá-las: no que sua inteligência, aguda como punhal, presta-lhes um ótimo serviço (ao passo que os homens, vendo feridas, tornam-se contidos, são com frequência generosos e conciliadores).
A idolatria que as mulheres têm pelo amor é, no fundo e originalmente, uma invenção da inteligência, na medida em que, através das idealizações do amor, elas aumentam seu poder e se apresentam mais desejáveis aos olhos dos homens. Mas, tendo-se habituado a essa superestimação do amor durante séculos, aconteceu que elas caíram na própria rede e esqueceram tal origem. Hoje elas são mais iludidas que os homens, e por isso sofrem mais com a desilusão que quase inevitavelmente ocorre na vida de toda mulher – desde que ela tenha imaginação e intelecto bastantes para ser iludida e desiludida.
Após uma desavença e disputa pessoal entre uma mulher e um homem, uma parte sofre mais com a ideia de ter magoado a outra; enquanto esta sofre mais com a ideia de não ter magoado o outro o bastante, e por isso se empenha depois, com lágrimas, soluços e caras feias, em lhe amargurar o coração.
O amor deseja, o medo evita. Por causa disso não podemos ser amados e reverenciados pela mesma pessoa, não no mesmo período de tempo, pelo menos. Pois quem reverencia reconhece o poder, isto é, o teme: seu estado é de medo-respeito. Mas o amor não reconhece nenhum poder, nada que separe, distinga, sobreponha ou submeta. E, como ele não reverencia, pessoas ávidas de reverência resistem aberta ou secretamente a serem amadas.
O amor e o ódio não são cegos, mas ofuscados pelo fogo que trazem consigo.
Sempre se perde no relacionamento íntimo demais com mulheres e amigos; às vezes se perde a pérola de sua própria vida.
Todo grande amor traz consigo o cruel pensamento de matar o objeto do amor, para subtraí-lo de uma vez por todas ao sacrílego jogo da mudança: pois o amor tem mais receio da mudança que do aniquilamento.
Começa-se por desaprender de amar os outros e termina-se por não encontrar nada mais digno de amor em si mesmo.
Devemos temer quem odeia a si próprio, pois seremos vítimas de sua cólera e de sua vingança. Cuidemos, então, de seduzi-lo para o amor a si mesmo!
O amor perdoa ao ser amado até o desejo.
Quando uma mulher tem inclinações eruditas, geralmente há algo errado com sua sexualidade. Já a esterilidade predispõe a uma certa masculinidade do gosto; pois o homem é, permitam-me lembrar, “o animal estéril”.
Comparando no todo o homem e a mulher, podemos dizer: a mulher não teria o gênio para o ornamento, não tivesse o instinto para o papel secundário.
Em todos os tempos os sábios fizeram o mesmo juízo da vida: ela não vale nada…
As razões pelas quais se chamou este mundo de um mundo de aparências provam, pelo contrário, sua realidade. Uma outra realidade é absolutamente indemonstrável.
Cada partido compreende que interessa a sua própria conservação não permitir que se esgote o partido contrário; o mesmo ocorre com a alta política.
Reduzir uma coisa desconhecida a outra conhecida alivia, tranquiliza e satisfaz o espírito, proporcionando, além disso, um sentimento de poder.
O juízo moral tem em comum com o juízo religioso acreditar em realidades que não existem.
Para que haja arte, para que haja uma ação ou uma contemplação estética qualquer, uma condição fisiológica preliminar é indispensável: a embriaguez.
Só às almas mais espirituais, admitindo que sejam as mais corajosas, é dado viver as tragédias mais dolorosas: mas é por isso que estimam a vida, porque ela lhes opõe seu maior antagonismo.
Em resumo, o homem se reflete nas coisas, tudo aquilo que espelha sua imagem lhe parece belo: o juízo “belo” é sua vaidade da espécie…
Primeiro princípio: é preciso ter necessidade de ser forte, caso contrário, nunca se chega a sê-lo.
Alguns não conseguem afrouxar suas próprias algemas e, não obstante, conseguem libertar seus amigos…
Sempre gostei de me deter na presença de grandes mentes: talvez porque precise de modelos para meu próprio desenvolvimento; talvez porque só goste de colecioná-los…”.
Ninguém deseja ajudar os outros, pelo contrário, as pessoas desejam apenas dominar e aumentar o seu próprio poder.”.
Torna-te quem tu és. E você, sabe quem é?
Sentença de granito de Nietzsche –
Amo aquilo que nos torna mais do que somos (sobre nossas escolhas).
Esquecemos o desejo de Deus, de que o homem continue se permitindo ser atormentado. A esperança é o pior dos males, porquanto prolonga o tormento.
As agitações e paixões da alma estão envolvidas pela vaidade. Ela é a pele da Alma.
Sentimos ódio por quem devassa nossos segredos e nos flagra com sentimentos meigos. O que precisamos no momento não é simpatia, mas recuperar nosso poder sobre nossas próprias emoções.
Assim como os filósofos, nossos erros foram causados pela ignorância das próprias motivações.
Alegamos como eles, que de modo a descobrir a verdade, deve-se primeiro conhecer totalmente a si mesmos
Você é do tamanho daquilo que vê e não do tamanho da sua altura.
– “Não é o que você é por dentro, mas o que você faz que define você.”.
O desespero é o preço pago pela auto convivência. Olhe profundamente para dentro da vida e encontrará sempre o desespero.
Somente sendo um homem consegue um homem, liberar a mulher em uma mulher.
Conheci muitas pessoas que não gostam de si mesmas e tentam superar isso, persuadindo primeiro os outros a pensarem bem delas. Feito isso, elas começam a pensar bem de si próprias. Mas essa é uma falsa solução, isso é submissão à autoridade dos outros. Sua tarefa é aceitar a si mesmo, não encontrar formas de obter aceitação.
“O cinismo é a única forma sob a qual as almas torpes tocam de leve no que se chama sinceridade. ”
“… Fazer amor é se vingar de todas as
coisas que o derrotaram na vida…!”
“… O valor que damos ao infortúnio é tão grande que, se dizemos a alguém “Como você é feliz!”, em geral somos contestados…!”
“… Acredito que os animais veem o homem como um ser igual a eles que perdeu, de forma extraordinariamente perigosa, a sanidade intelectual animal. Ou seja: veem o homem como um animal irracional, um animal que sorri, que chora, um animal infeliz.
É muito difícil os homens entenderem sua
ignorância no que diz respeito a eles mesmos.
Pobre do pensador que não é o jardineiro,
mas apenas o canteiro de suas plantas…!”.
“… Os poços mais profundos vivem suas experiências lentamente: esperam um bom tempo até saberem o que caiu em suas profundezas…!”
“…Nossos tesouro está na colmeia
de nosso conhecimento.
Estamos sempre voltados a essa direção,
pois somos insetos alados da natureza, coletores do mel da mente…!”
“(…) e o fim de vossa viagem será chegar ao lugar de onde partimos. E conhece-lo pela primeira vez…”
“Com o tempo eu lhe ensinarei como superar.
Você quer voar, mas não pode começar a voar voando.
Primeiro tem que aprender a andar e o primeiro passo, ao aprender a andar, é entender que quem não obedece a si mesmo é regido por outros…!”.
Se não existem fatos, mas interpretações dos fatos, o passado pode ser modificado na medida em que podemos mudar a representação dos fatos acontecidos
Quando o grande pensador despreza os homens, é a preguiça destes que ele despreza, pois é ela que dá a eles o comportamento indiferente das mercadorias fabricadas em série indignas de contato e ensino.
Existem, por certo, inúmeras verdades, e pontes, e semideuses que se oferecerão para levar-te do outro lado do rio; mas isso te custaria a tua própria pessoa, tu te hipotecarias e te perderias.
O Ocidente e o Oriente são linhas imaginárias que alguém traça com um giz diante dos nossos olhos, para enganar a nossa pusilanimidade.
Ninguém pode construir no teu lugar a ponte que te seria preciso tu mesmo transpor no fluxo da vida — ninguém, exceto tu.
Há no mundo um único caminho sobre o qual ninguém, exceto tu, poderia trilhar. Para onde leva ele? Não perguntes nada, deves seguir este caminho
A Propósito da Clareza
Quando se escreve é não somente para ser compreendido, mas também para não o ser. Um livro não fica diminuído pelo facto de um indivíduo qualquer o achar obscuro: esta obscuridade entrava talvez nas intenções do autor, não queria ser compreendido por qualquer bicho careta. Qualquer espírito um pouco distinto, qualquer gosto um pouco elevado escolhe os seus auditores; ao escolhê-los fecha a porta aos outros. As regras delicadas de um estilo nascem todas daí; são feitas para afastar, para manter a distância, para condenar o «acesso» de uma obra; para impedir alguns de compreender, e para abrir o ouvido aos outros, os tímpanos que nos são parentes.
É necessário dizer quem consideramos nossos adversários: os teólogos e tudo que tem sangue teológico correndo em suas veias — essa é toda a nossa filosofia…
“É necessário dizer quem consideramos nossos adversários: os teólogos e tudo que tem sangue teológico correndo em suas veias — essa é toda a nossa filosofia… Enquanto o padre, esse negador, caluniador e envenenador da vida por profissão for aceito como uma variedade de homem superior, não poderá haver resposta à pergunta:
(O Anticristo)
Quando se despreza não se pode fazer a guerra; quando se comanda, quando se vê algo abaixo de si, não há que fazer a guerra.
E nenhuma chama nos devora tão rapidamente quanto os afetos do ressentimento
Não existe na natureza criatura mais sinistra e mais repugnante do que o homem que foi despojado do seu próprio gênio e que se extravia agora a torto e a direito, em todas as direções.
Pode-se prometer ações, mas não sentimentos, pois estes são involuntários. Quem promete a alguém amá-lo sempre, ou odiá-lo sempre, ou ser-lhe sempre fiel, promete algo que não está em seu poder; mas…
O desespero é o preço pago pela auto-consciência. Olhe profundamente para dentro da vida e vai sempre encontrar o desespero”.
(citação atribuída a Nietzsche por Irvin D. Yalom)
Ao “Dia do Amigo” — Além da Passarela
Na relação com pessoas que têm pudor de seus sentimentos, temos que saber dissimular; elas têm ódio repentino àquele que as surpreende com um sentimento delicado, entusiasmado ou sublime, como se tivesse vislumbrado os seus segredos. Querendo fazer-lhes bem nesses instantes, é preciso fazê-las rir ou lhes dizer alguma fria e divertida maldade: — o seu sentimento se esfria então, e elas recobram o domínio de si. Mas estou fornecendo a moral antes da história. — Uma vez estivemos tão próximos na vida, que nada mais parecia tolher nossa amizade, e havia tão-só uma pequena passarela entre nós. Quando você ia pisá-la, perguntei-lhe: “Você quer cruzar a passarela para vir até mim?”. — Mas então você já não queria; e, quando solicitei novamente, você se calou. Desde então, montes e rios torrenciais, e tudo o que se separa e alheia, foram lançados entre nós, e, ainda que quiséssemos nos aproximar, já não poderíamos! E quando hoje você recorda aquela pequena passarela, não tem mais palavras — apenas soluços e assombro.
A imortalidade tem seu custo:
morrer muitas vezes, enquanto se vive!
Eis a minha formula para a grandeza do homem: “Amor Fati”, não querer nada de diferente do que é, nem no futuro, nem no passado, nem por toda a eternidade.
Amor Fati: seja este doravante, o meu amor.
Chamamos espírito livre aquele que pensa de outro modo do que podia se esperar de sua origem, de suas relações, de sua situação e de seu trabalho ou das opiniões reinantes em seu tempo.
Nós que defendemos outra fé, nós que consideramos a democracia não só como uma forma degenerada da organização politica, mas como uma forma decadente e diminuída da humanidade que ela reduz a mediocridade, onde colocaremos nossa esperança?
A permissão para que todos aprendam a ler arruína, a longo prazo, não apenas a escrita, mas também o pensamento.
Eu procurava homens grandes, nunca encontrei mais do que «macacos de imitação» do seu próprio ideal.
“Tudo o que é inocente, é inocente de sua pequenez.”
“Crença é um desejo de não saber.”
“Que é a moral cristã? A sorte despida de sua inocência; a infelicidade contaminada com a ideia de “pecado”; o bem-estar considerado como um perigo, como uma “tentação”; um desarranjo fisiológico causado pelo veneno do remorso…”
Um pensamento, até mesmo uma possibilidade, pode nos destruir e nos transformar.
A chave. Aquele pensamento ao qual, sob o riso e o escárnio dos MEDÍOCRES, um homem eminente dá grande valor, é para ele uma chave de tesouros secretos, e para aqueles apenas um pedaço de ferro velho.
Ao Deus Desconhecido
Antes de prosseguir no meu caminho
E lançar o meu olhar para frente
Uma vez mais elevo, só, minhas mãos a Ti,
Na direção de quem eu fujo.
A Ti, das profundezas do meu coração,
Tenho dedicado altares festivos,
Para que em cada momento
Tua voz me possa chamar.
Sobre esses altares está gravada em fogo
Esta palavra: “ao Deus desconhecido”
Eu sou teu, embora até o presente
Me tenha associado aos sacrílegos.
Eu sou teu, não obstante os laços
Me puxarem para o abismo.
Mesmo querendo fugir
Sinto-me forçado a servir-Te.
Eu quero Te conhecer, ó Desconhecido!
Tu que que me penetras a alma
E qual turbilhão invades minha vida.
Tu, o Incompreensível, meu Semelhante.
Quero Te conhecer e a Ti servir.
Qualquer espécie de antinatureza é vício. O tipo de homem mais vicioso é o padre: ele ensina a antinatureza. Contra o padre não há razões: há cadeia.
A moral aparece como aquilo que ela é, (…) como autêntica envenenadora e caluniadora da vida.
Artigo Quinto da lei contra o Cristianismo – Comer na mesma mesa que um padre é proibido: quem o fizer será excomungado da sociedade honesta. O padre é o nosso chandala – ele será proscrito, lhe deixaremos morrer de fome, jogá-lo-emos em qualquer espécie de deserto.
Deus está morto. Viva Perigosamente. Qual o melhor remédio? – Vitória!
Ninguém é livre para se tornar cristão: não se é “convertido” ao cristianismo — é preciso ser doente o bastante para tanto…
Não nos deixemos enganar: grandes espíritos são céticos.
Além disso não podemos mais voltar ao antigo, já queimamos o barco; só nos resta ser corajosos, aconteça o que acontecer.
O amor é estúpido e possui uma abundância cornucópia; dela retira os dons que distribui a cada pessoa, ainda que ela não os mereça, nem sequer os agradeça. Ele é imparcial como a chuva, que segundo a Bíblia e a experiência, molha até os ossos não apenas o injusto, mas ocasionalmente também o justo.
O grau de inflamabilidade moral é desconhecido. – do fato de termos tido ou não certas visões ou impressões abaladoras, por exemplo, um pai injustamente condenado, morto ou martirizado, uma mulher infiel, um cruel ataque inimigo, depende que as nossas paixões atinjam a incandescência e dirijam ou não a nossa vida inteira.
Ninguém sabe a que podem levar os acontecimentos, a compaixão, a indignação, ninguém conhece o seu grau de inflamabilidade. Pequenas circunstâncias miseráveis tonam miserável; geralmente não é a qualidade, mas a quantidade das vivências que termina o homem baixo ou elevado, no bem e no mal
Af. 72
A justiça premiadora- Quem compreendeu plenamente a teoria da completa irresponsabilidade já não pode incluir a chamada justiça punitiva e premiadora no conceito de justiça; se esta consiste em dar a cada um o que é seu. Pois aquele que é punido não merece a punição: é apenas usado como meio para desencorajar futuramente certas ações; também aquele que é premiado não merece o prêmio: ele não podia agir de outro modo, o prêmio tem apenas o sentido, portanto, de um encorajamento para ele para os outros, a fim de proporcionar um motivo para ações futuras: o louvor é dirigido àquele que corre na pista, não aquele que atingiu a meta. Nem o castigo nem o prêmio são algo devido a uma pessoa como seu são lhe dados por razões de utilidade, sem que ela possa reinvidicá-los justamente. Deve-se dizer que “o sábio não premia porque se agiu bem”, tal como já se disse que “o sábio não castiga porque se agiu mal, mas para que não se aja mal”.
Se desaparecessem o castigo e o prêmio, acabariam os motivos mais fortes que nos afastam de certas ações e nos impelem a outras; o interesse dos homens requer a permanência dos dois; e na medida em que o castigo e o prêmio, a censura eo louvor afetam sensivelmente a vaidade, o mesmo interesse requer também a permanência da vaidade.
Aforismo 105
Essas dores podem ser bastante penosas: mas sem dores não é possível tornar-se guia e educador da humanidade; e coitado daquele que quisesse sê-lo e não mais tivesse essa pura consciência.
O caráter imutável. – Que o caráter seja imutável não é uma verdade no sentido estrito; esta frase estimada significa apenas que durante a breve duração da vida de um homem, o smotivos que sobre ele atuam não arranham com profundidade suficiente para destruir os traços impressos por milhares de anos.
Se imaginássemos um homem de oitenta mil anos, nele teríamos um caráter absolutamente mutável: de modo que dele se desenvolveria um grande número de indivíduos diversos, um aós o outro. A brevidade da vida humana leva muitas afirmações erradas sobre as características do homem.
Os pesos de todas as coisas precisam ser novamente determinados.
O que acontece para a árvore, acontece também para o homem. Quanto mais deseja elevar-se para as alturas e para a luz, mais vigorosamente enterra suas raízes para baixo, para o horrendo e profundo: para o mal.
Quem não sabe desprezar não sabe respeitar.
A crueldade está entre as mais velhas alegrias festivas da humanidade.
” Os grandes eventos não são nossas horas mais ruidosas, mas nossos instantes mais silenciosos.”
Como pode alguém perceber a própria opinião sobre as coisas como uma revelação? Este é o problema da origem das religiões: a cada vez havia um homem no qual esse fato foi possível.
” O Valor da Vida não pode ser avaliado.”
O que é tão difícil para os homens compreenderem, dos mais remotos tempos até hoje, é sua ignorância sobre si mesmos!
Os povos são muito enganados porque sempre buscam um enganador, isto é, um vinho estimulante para os seus sentidos.
A maneira mais segura de estragar um jovem é ensiná-lo a ter em mais alta conta os que pensam como ele do que os que pensam diferente dele.
O essencial, em toda invenção, é feito pelo acaso, mas a maioria dos homens não encontra esse acaso.
O criminoso descoberto não sofre com o crime, mas com a vergonha ou o dissabor por uma estupidez cometida ou com a privação da vida habitual, e é necessária uma rara sutileza para distinguir nesse ponto.
Quem deseja matar seu rival deve ponderar se com isso não o eterniza dentro de si.
Que importa um pensador, se ocasionalmente não sabe escapar de suas próprias virtudes?
Quantas ações genuinamente individuais são omitidas porque, antes de fazê-las, percebemos ou suspeitamos que serão mal compreendidas!
A mais barata e mais inofensiva forma de viver é a do pensador: pois, para dizer logo o mais importante, o que ele mais necessita são justamente as coisas que os outros menosprezam e deixam de resto.
O socialismo é o fantasioso irmão mais jovem do quase decrépito despotismo, do qual quer herdar; suas aspirações são, portanto, no sentido mais profundo, reacionárias. Pois ele deseja uma plenitude de poder estatal como só a teve alguma vez o despotismo, e até mesmo supera todo o passado por aspirar ao aniquilamento formal do indivíduo: o qual lhe aparece como um injustificado luxo da natureza e deve ser transformado e melhorado por ele em um órgão da comunidade adequado a seus fins”.
A Sabedoria do Sofrimento
O sofrimento não tem menos sabedoria do que o prazer: tal como este, faz parte em elevado grau das forças que conservam a espécie. Porque se fosse de outra maneira há muito que esta teria desaparecido; o facto de ela fazer mal não é um argumento contra ela, é muito simplesmente a sua essência. Ouço nela a ordem do capitão: «Amainem as velas». O intrépido navegador homem deve treinar-se a dispor as suas de mil maneiras; de outro modo, não tardaria a desaparecer, o oceano havia de o engolir depressa. É preciso que saibamos viver também reduzindo a nossa energia; logo que o sofrimento dá o seu sinal, é chegado o momento; prepara-se um grande perigo, uma tempestade, e faremos bem em oferecer a menor «superfície» possível. Há homens, contudo, que, quando se aproxima o grande sofrimento, ouvem a ordem contrária e nunca têm ar mais altivo, mais belicoso, mais feliz do que quando a borrasca chega, que digo eu! E a própria tempestade que lhes dá os seus mais altos momentos! São os homens heróicos, os grandes «pescadores da dor», esses raros, esses excepcionais de que é necessário fazer a mesma apologia que se faz para a própria dor! Não lha podemos recusar! São conservadores da espécie, estimulantes de primeira qualidade, quando mais não seja porque resistem ao bem-estar e não escondem o seu desprezo por essa espécie de felicidade.
Friedrich Nietzsche, in “A Gaia Ciência”
Puseste nessas paixões o teu objetivo mais elevado; então passaram a ser tuas virtudes e alegrias.
Para aquele que tanto sofre por si, só há salvação na morte rápida.
De todo o escrito só me agrada aquilo que uma pessoa escreveu com o seu sangue. Escreve com sangue e aprenderás que o sangue é espirito.
Eu aprendi a andar; por conseguinte corro. Eu aprendi a voar; por conseguinte não quero que me empurrem para mudar de sitio.
Todos falam de mim quando estão sentados à noite à roda do lar; falam de mim, mas ninguém pensa em mim.
Eu encontrei em todas as coisas esta certeza feliz: elas preferem dançar sobre os pés do acaso.
Não quero enganar, nem sequer a mim mesmo.
Paga-se mal a um mestre quando se continua sempre a ser apenas o aluno.
Quero cada vez mais aprender a ver como belo aquilo que é necessário nas coisas – assim me tornarei um daqueles que fazem belas coisas.Amor fati[amor ao destino]: seja este, doravante, o meu amor! Não quero fazer guerra ao que é feio. Não quero acusar, não quero nem mesmo acusar os acusadores. Que minha única negação seja desviar o olhar! E, tudo somado e em suma: quero ser, algum dia, apenas alguém que diz Sim!
Primeiro equívoco de Deus: o homem não achou divertidos os animais – dominou sobre eles, nem sequer quis ser «animal». Deus criou, então, a mulher. E, efectivamente, cessou o tédio, mas também ainda muitas outras coisas! A mulher foi o segundo erro de Deus. «A mulher é, por essência, uma serpente, Eva». Todo o sacerdote sabe isto; «pela mulher vem todo o mal ao mundo» – também isto o sabe todo o sacerdote. «Logo, a ciência também vem dela»…
Foi só pela mulher que o homem aprendeu a saborear a árvore do conhecimento. Que aconteceu? Um pânico de morte se apoderou do Deus antigo. O próprio homem tornara-se o seu maior erro, ele criara um rival, a ciência iguala a Deus: se o homem se torna científico, é o fim dos sacerdotes e dos deuses!
O anticristo
O castigo tem a finalidade de melhorar aquele que castiga — este é o último recurso dos defensores do castigo.
O homem prefere querer o nada a nada querer.
Sentimento de ódio só pode nascer da impotência.
Deverás tornar-te Quem de fato És !
A nós, seres orgânicos, nada interessa originalmente numa coisa, exceto sua relação conosco no tocante ao prazer e à dor.
Percebendo a aberração do raciocínio e da imaginação, deixa-se de ser cristão.
O melhor autor será aquele que tem vergonha de se tornar escritor.
Mesmo a conversa com um amigo só produzirá bons frutos de conhecimento quando ambos pensarem apenas na questão e esquecerem que são amigos.
Quem quiser colher felicidade e satisfação na vida, que evite sempre a cultura superior.
Se o ócio é realmente o começo de todos os vícios, então ao menos está bem próximo de todas as virtudes; o ocioso é sempre um homem melhor do que o ativo.
É frequente contradizermos uma opinião quando, na realidade, apenas o tom com que foi exposta nos é antipático.
Quem dá um grande presente não acha gratidão, pois para o presenteado já é um fardo aceitar.
Uma época feliz é completamente impossível, porque as pessoas querem desejá-la, mas não tê-la, e todo indivíduo, em seus dias felizes, chega quase a implorar por inquietude e miséria.
A nós, a arte grega ensinou-nos que não há nenhuma superfície verdadeiramente bela sem um fundo terrível.
A cultura não pode absolutamente dispensar as paixões, os vícios e as maldades.
Pessoas que compreendem algo em toda a sua profundeza raramente lhe permanecem fiéis para sempre.
É a partilha da alegria, não do sofrimento, o que faz o amigo.
”Prazer com uma coisa” é o que se diz: mas na verdade é o prazer consigo mesmo mediante uma coisa.
Quando morre alguém, em geral necessitamos de motivos de consolo, não tanto para mitigar a dor quanto para ter uma desculpa por nos sentirmos tão facilmente consolados.
A coisa obscura e inexplicada é vista como mais importante do que a clara e explicada.
As pessoas que não podemos suportar procuramos tornar suspeitas.
A melhor maneira de começar o dia é, ao acordar, imaginar se nesse dia não podemos dar alegria a pelo menos uma pessoa.
O homem é um rio turvo. É preciso ser um mar para, sem se toldar, receber um rio turvo.
Pessoas que rapidamente pegam fogo se esfriam depressa, sendo então de pouca confiança.
Temos a arte para não sucumbirmos junto à verdade.
Tendo seu “por quê?” da vida, o indivíduo tolera quase todo “como?”.
Bem-aventurados aqueles que esquecem, porque acabam esquecendo-se também da insensatez que cometeram.
Elogiamos ou criticamos de acordo com a maior oportunidade que o elogio ou a crítica oferecem para fazer brilhar a nossa capacidade de julgamento.
Elogiamos ou censuramos, a depender de qual nos dá mais oportunidade de fazer brilhar nosso julgamento.
A chama não é tão luminosa para si como para as outras que ela ilumina: da mesma forma o sábio.
Uma alma que se sabe amada, mas não ama, revela seu sedimento: o que está no fundo vem à tona.
Uma alma que se sabe amada, mas não sabe retribuir, manifesta suas próprias profundezas: o que estava sepultado no fundo vem à tona.
A música, em si, não é tão significativa para o nosso mundo interior, tão profundamente tocante, que possa valer como linguagem imediata do sentimento; mas sua ligação ancestral com a poesia pôs tanto simbolismo no movimento rítmico, na intensidade ou fraqueza do tom, que hoje imaginamos que ela fale diretamente ao nosso íntimo e que dele parta.
Esquecemos nossa culpa quando a confessamos a outro alguém; mas geralmente o outro não a esquece.
Ninguém mais morre hoje de verdades mortais, há antídotos em demasia.
O destino do homem está projetado para momentos felizes – toda a vida os têm –, mas não para eras felizes.
A atração exercida pelo conhecimento seria bastante fraca, se para atingi-lo não fosse preciso vencer tantos pudores.
A grande conquista da humanidade, até agora, é não precisarmos mais temer continuamente os animais selvagens, os bárbaros, os deuses e os nossos sonhos.
Quem não sabe guardar suas opiniões no gelo não deveria entrar em debates acalorados.
Os homens mais inteligentes, sendo os mais fortes, encontram sua felicidade onde outros encontrariam apenas desastre.
Retribui-se mal um mestre quando se permanece sempre e somente discípulo.
“Há mais sabedoria em seu corpo do que em sua filosofia mais profunda.”
(Assim falou Zaratustra)
Há mais razão em teu corpo do que em tua melhor sabedoria.
” As pessoas se irritam com aqueles que adotam padrões de vida muito individuais;elas se sentem humilhadas, reduzidas a seres ordinários, com o tratamento extraordinário que eles dispensam a si mesmos.”
Opiniões públicas: indolências privadas.
O que é bom? – Tudo o que eleva o sentimento de poder, a vontade de poder, o próprio poder no homem.
O que é mau? – Tudo o que vem da fraqueza.
O que é felicidade? – O sentimento de que o poder cresce, de que uma resistência é superada.
Não a satisfação, mas mais poder; sobretudo não a paz, mas a guerra; não a virtude, mas a capacidade (virtude à maneira da Renascença, virtù, virtude isenta de moralina).
Os fracos e malogrados devem perecer: primeiro princípio de nosso amor aos homens. E deve-se ajudá-los nisso.
O que é mais nocivo que qualquer vício? – A ativa compaixão por todos os malogrados e fracos – o cristianismo…
O artista dionisíaco apresentará
de modo imediatamente inteligível
a essência do fenômeno:
ele domina deveras sobre o caos da Vontade ainda não conformada
e pode, a partir dele, em cada momento criador,
engendrar um novo mundo – mas também o antigo,
conhecido como fenômeno.
Em sentido derradeiro, ele é músico trágico
A loucura é rara em indivíduos, mas em grupos, partidos, nações e épocas, é a regra.
Onde acaba o estado começa o homem que não é supérfluo.
A potência intelectual de um homem se mede pela dose de humor que ele é capaz de usar.
Uma profissão é a espinha dorsal da vida.
Uma coisa é necessário ter: um espírito leve por natureza ou um espírito aliviado pela arte e pelo saber.
Quando colocamos a verdade de cabeça para baixo, geralmente não notamos que também nossa cabeça não se acha onde deveria estar.
O público facilmente confunde quem pesca em águas turvas com quem colhe das profundezas.
Onde a vontade de poder declina de alguma forma, há sempre uma involução fisiológica, uma décadence.
Não passa de um preconceito moral que a verdade tenha mais valor que a aparência; é inclusive a suposição mais mal demonstrada que já houve.
O homem moderno crê experimentalmente ora neste, ora naquele valor, para depois abandoná-lo; o círculo de valores superados e abandonados está sempre se ampliando; cada vez mais é possível perceber o vazio e a pobreza de valores; o movimento é irrefreável. (…) A história que estou relatando é a dos dois próximos séculos.
Não foi o conflito de opiniões que tornou a história tão violenta, mas o conflito da fé nas opiniões, ou seja, das convicções.
Naquele tempo levavas tuas cinzas para os montes, queres agora levar teu fogo para os vales?
Muitas vezes ri dos fracotes que se creem bons porque têm patas aleijadas!
Assim, para fora da minha verdade-loucura, eu mergulhei (…) Que eu seja exilado de toda a verdade! Somente um tolo! Somente um poeta.
Enfim, quando a tábua de sua alma estiver totalmente coberta de experiências, ele não desprezará nem odiará a existência, e tampouco a amará, mas estará acima dela, ora com o olhar da alegria, ora com o da tristeza, e tal como a natureza terá uma disposição ora estival ora outonal.
Quando o seu olhar tiver se tornado forte o bastante para ver o fundo, na escura fonte de seu ser e de seus conhecimentos, talvez também se tornem visíveis para você, no espelho dele, as distantes constelações das culturas vindouras.
Aquele que tem um porquê para viver pode suportar quase qualquer como.
Essas dores podem ser bastante penosas: mas sem dores não é possível tornar-se guia e educador da humanidade; e coitado daquele que quisesse sê-lo e não tivesse essa pura consciência!
Éramos amigos e agora somos estranhos um ao outro. Mas não importa que assim o seja: não procuremos escondê-lo, como se isso nos envergonhasse. Somos como dois navios, cada um dos quais com seus próprios objetivos e rotas; talvez possamos cruzar-nos e celebrar uma festa como já o fizemos – e estes intrépidos barcos, debaixo do mesmo sol e no mesmo porto, teriam feito acreditar que alcançaram o mesmo objetivo e destino. Mas a onipotência de nossas tarefas separou-nos, empurrando-nos para outros mares, debaixo de outros sóis – e talvez nunca mais nos reconheçamos: mares diferentes e sóis diferentes nos mudaram!
Quando somos obrigados a mudar de opinião acerca de um indivíduo, fazemos com que pague muito caro o trabalho que custa uma tal mudança.
Oração ao Deus desconhecido
Antes de prosseguir no meu caminho
E lançar o meu olhar para frente
Uma vez mais elevo, só, minhas mãos a Ti,
Na direção de quem eu fujo.
A Ti, das profundezas do meu coração,
Tenho dedicado altares festivos,
Para que em cada momento
Tua voz me possa chamar.
Sobre esses altares está gravada em fogo
Esta palavra: “ao Deus desconhecido”
Eu sou teu, embora até o presente
Me tenha associado aos sacrílegos.
Eu sou teu, não obstante os laços
Me puxarem para o abismo.
Mesmo querendo fugir
Sinto-me forçado a servi-Te.
Eu quero Te conhecer, ó Desconhecido!
Tu que que me penetras a alma
E qual turbilhão invades minha vida.
Tu, o Incompreensível, meu Semelhante.
Quero Te conhecer e a Ti servir.
Temos a arte para que a verdade não nos mate.
Bem que existe no mundo, aqui e ali, uma espécie de continuação do amor, na qual a cobiçosa ânsia que duas pessoas têm uma pela outra deu lugar a um novo desejo e cobiça, a uma elevada sede conjunta de um ideal acima delas: mas quem conhece tal amor? Quem o experimentou? Seu verdadeiro nome é amizade.
Existem dois tipos diferentes de pessoas no mundo, aqueles que querem saber e aqueles que querem acreditar.
O sinal mais inequívoco de desprezo pelo homem é considerar todos meramente como meios para os próprios fins.
A doutrina da igualdade! Não existe veneno mais venenoso: pois parece ser pregado pela justiça, enquanto é o fim da própria justiça.
O homem livre é guerreiro.
Colocar-se apenas em situações em que não se pode ter virtudes aparentes, em que, como o funâmbulo sobre uma corda, ou se cai ou se fica em pé – ou se escapa…
A vida sedentária é justamente o pecado contra o santo espírito. Apenas os pensamentos andados têm valor.
Que importa que eu venha a ter razão? Eu tenho razão demais. – E quem hoje ri melhor também ri por último.
O que é bom? Tudo o que aumenta no homem o sentimento do poder, a vontade de poder, o próprio poder.
O que é mau? Tudo o que nasce da fraqueza. (…)
Os fracos e os fracassados devem perecer: primeiro princípio da nossa caridade. E há mesmo que ajudá-los a desaparecer!
O que é mais nocivo do que todos os vícios? A compaixão da ação por todos os fracassados e fracos: o Cristianismo…
A compaixão contradiz a lei da evolução, que é a lei da seleção. Conserva o que está maduro para o declínio, luta em prol dos deserdados e dos condenados pela vida; e, pela abundância dos fracassados de toda a espécie, que mantém vivos, confere à própria vida um aspecto sinistro e duvidoso.
Nenhum artista suporta o real. Qualquer artista, olhando para trás, tem a sincera opinião de que o verdadeiro valor de uma coisa é uma “sombra” que pode ser fixada nas cores, na forma, no som, no pensamento.
O que é a verdade para uma mulher? Desde o início, nada foi mais alheio, repugnante e hostil à mulher do que a verdade – sua grande arte é a mentira, sua preocupação máxima é a mera aparência e beleza. Confessemos nós, homens: reverenciamos e amamos precisamente esta arte e este instinto na mulher.
[Deve-se] morrer orgulhosamente quando já não é possível viver com orgulho.
O amor por um único ser é uma barbárie: porque acontece em detrimento de todos os outros seres. Mesmo o amor de Deus.
Quando se tem caráter ainda se tem na vida a própria aventura típica, que sempre se renova.
É mais fácil lidar com sua má consciência do que com a sua má reputação.
Mas o pior inimigo que podes encontrar será sempre tu mesmo; espreitas a ti mesmo nas cavernas e florestas.
Existem alturas da alma de onde mesmo a tragédia deixa de ser trágica.
O corpo flexível e convincente, o dançarino cujo símbolo e epítome é a alma que se compraz em si. O prazer consigo desses corpos e almas chama a si mesmo ‘virtude’.
A felicidade do homem que conhece aumenta a beleza do mundo e torna mais ensolarado tudo o que há; o conhecimento põe sua beleza não só em torno das coisas, mas, com o tempo, nas coisas; que a humanidade vindoura dê testemunho dessa afirmação!
É preciso livrar-se do mau gosto de querer estar de acordo com muitos.
Ajude a ti mesmo: então todos te ajudarão. Princípio do amor ao próximo.
Quanto sangue e quanto horror há no fundo de todas as “coisas boas”.
Aceitar uma crença simplesmente porque é um hábito aceitá-la – isso não seria agir de má fé, ser covarde, ser preguiçoso! – A má-fé, a covardia, a preguiça seriam, portanto, a condição primeira da moralidade?
Não permanecer preso a uma pessoa, porque toda pessoa é uma prisão.
Começa-se a desconfiar das pessoas muito prudentes quando elas se mostram embaraçadas.
Quem alcançou em alguma medida a liberdade da razão, não pode se sentir mais que um andarilho sobre a Terra – e não um viajante que se dirige a uma meta final: pois esta não existe.
Somente se escolhe a dialética quando não se possui outro recurso.
O que importa não é a vida eterna, e sim a eterna vivacidade.
O orgulhoso conhecimento do privilégio extraordinário da responsabilidade, a consciência dessa rara liberdade, desse poder sobre si mesmo e o destino, desceu nele até sua mais íntima profundeza e tornou-se instinto, instinto dominante – como chamará ele a esse instinto dominante, supondo que necessite de uma palavra para ele? Mas não há dúvida: este homem soberano o chama de sua consciência…
A melhor maneira de corromper a juventude é ensiná-la a só respeitar o que pensa igual e desmerecer quem pensa diferente.
A mais bela glorificação da castidade foi escrita por aqueles que, em sua juventude, levaram a vida mais libertina e mais abominável.
Que coisa estranha nossa maneira de punir! Não purifica o criminoso, não é uma expiação: pelo contrário, suja mais que o próprio crime.
A maneira mais segura de estragar um jovem é incitá-lo a estimar mais quem pensa como ele do que quem pensa diversamente.
A obra de um deus sofredor e atormentado me parecia então o mundo.
Não é arte pequena dormir: requer passar o dia inteiro acordado.
Dez vezes é preciso superar-se durante o dia: isso gera um bom cansaço e é papoula para a alma.
Dez vezes é preciso reconciliar-te contigo mesmo; pois superação é amargura, e dorme mal o não reconciliado.
Dez verdades tens de achar durante o dia: senão buscas ainda verdades durante a noite, tua alma permaneceu faminta.
Dez vezes tens de rir e ser jovial durante o dia: senão és incomodado à noite pelo estômago, esse pai das aflições.
Poucos o sabem, mas é preciso ter todas as virtudes para dormir bem.
Bem e mal e prazer e dor e tu e eu – eram, para mim, colorida fumaça ante olhos criadores. O criador quis desviar o olhar de si mesmo – então criou o mundo.
Sempre houve muito povo enfermo entre aqueles que poetam e têm ânsia de Deus; odeiam furiosamente aquele que busca o conhecimento e a mais jovem das virtudes, que se chama: honestidade.
Eu vos digo: é preciso ter ainda caos dentro de si, para poder dar à luz uma estrela dançante. Eu vos digo: tendes ainda caos dentro de vós.
O homem é algo que tem de ser superado: e por isso deves amar tuas virtudes: porque delas perecerás.
Este – é o meu caminho, – qual é o vosso?”, assim respondi aos que me perguntaram pelo “caminho”. Pois o caminho – não existe!
Para se erigir um santuário, é preciso antes destruir um santuário: esta é a lei.
A vantagem de ter péssima memória é divertir-se muitas vezes com as mesmas coisas boas como se fosse a primeira vez.
A vida vai ficando cada vez mais dura perto do topo.
As convicções são inimigas mais perigosas da verdade do que as mentiras.
É mais fácil lidar com uma má consciência do que com uma má reputação.
Não há fatos eternos, como não há verdades absolutas.
O que não provoca minha morte faz com que eu fique mais forte.
Para a maioria, quão pequena é a porção de prazer que basta para fazer a vida agradável!
Se uma mulher tem inclinações eruditas é porque, em geral, há algo de errado na sua sexualidade. A esterilidade predispõe a uma certa masculinidade do gosto; é que o homem, com vossa licença, é de fato «o animal estéril».
Os grandes intelectuais são céticos.
A objeção, o desvio, a desconfiança alegre, a vontade de troçar são sinais de saúde: tudo o que é absoluto pertence à patologia.
O homem é definido como um ser que evolui, como o animal é imaturo por excelência.
O ser refutável não é o menor dos encantos de uma teoria.
Certos pavões escondem de todos os olhos a sua cauda – chamando a isso o seu orgulho.
A vontade é impotente perante o que está para trás dela. Não poder destruir o tempo, nem a avidez transbordante do tempo, é a angústia mais solitária da vontade.
Logo que, numa inovação, nos mostram alguma coisa de antigo, ficamos sossegados.
Aquilo que se faz por amor está sempre além do bem e do mal.
A vontade de superar um afeto não é, em última análise, senão vontade de um outro ou de vários outros afetos.
Temos a arte para não morrer da verdade.
Torna-te aquilo que és.
A moralidade é a melhor de todas as regras para orientar a humanidade.
Os homens graves e melancólicos ficam mais leves graças ao que torna os outros pesados, o ódio e o amor, e assim surgem de vez em quando à sua superfície.
No matrimônio existem apenas obrigações e alguns direitos.
Tudo é precioso para aquele que foi, por muito tempo, privado de tudo.
Quem, em prol da sua boa reputação, não se sacrificou já uma vez – a si próprio?
É pelas próprias virtudes que se é mais bem castigado.