Infidelidade é como apanhar o seu sócio roubando dinheiro do caixa.
Não confio em produto local. Sempre que viajo levo meu uísque e minha mulher.
No dia em que a mulher descobre que o homem, pelo simples fato de ser seu marido, é também seu cônjuge, coitado dele.
Os homens se dividem em duas espécies: os que têm medo de viajar de avião e os que fingem que não têm.
[Consta na Lápide de Fernando Sabino]
Fernando Sabino, que nasceu homem e morreu menino
De tudo, ficaram três coisas: a certeza de que ele estava sempre começando, a certeza de que era preciso continuar e a certeza de que seria interrompido antes de terminar. Fazer da interrupção um caminho novo. Fazer da queda um passo de dança, do medo uma escada, do sono uma ponte, da procura um encontro.
“Para os pobres, é dura lex, sed lex. A lei é dura, mas é a lei.
Para os ricos, é dura lex, sed latex. A lei é dura, mas estica”
No fim tudo dá certo, e se não deu certo é porque ainda não chegou ao fim.
O menino é o pai do Homem
Façamos da interrupção um caminho novo.
Da queda um passo de dança,
do medo uma escada,
do sonho uma ponte, da procura um encontro!
De tudo ficaram três coisas…
A certeza de que estamos começando…
A certeza de que é preciso continuar…
A certeza de que podemos ser interrompidos
antes de terminar…
Façamos da interrupção um caminho novo…
Da queda, um passo de dança…
Do medo, uma escada…
Do sonho, uma ponte…
Da procura, um encontro!
Birgamos com os outros porque são exatamente aquilo que queríamos ser e não somos.
A Infidelidade é como apanhar o seu sócio roubando dinheiro do caixa.
No fim tudo dá certo, se não deu certo é porque ainda não chegou ao fim.
Não confio em produto local. Sempre que viajo levo meu uísque e minha mulher.
Aqui jaz Fernando Sabino, que nasceu homem e morreu menino.
Y – Letra que devia ser abolida, como fizeram com o K e o W (ou não fizeram?) e escrever logo tudo com i.
Analfabetismo – Ninguém precisa aprender a ler para trabalhar na enxada. – Não precisamos de escolas: precisamos de médicos. – Mas a ignorância é responsável pela doença e a miséria! – Saem da escola e na roça esquecem o que aprenderam. – Não querem mais voltar para a lavoura.
A última crônica
A caminho de casa, entro num botequim da Gávea para tomar um café junto ao balcão. Na realidade estou adiando o momento de escrever. A perspectiva me assusta. Gostaria de estar inspirado, de coroar com êxito mais um ano nesta busca do pitoresco ou do irrisório no cotidiano de cada um. Eu pretendia apenas recolher da vida diária algo de seu disperso conteúdo humano, fruto da convivência, que a faz mais digna de ser vivida. Visava ao circunstancial, ao episódico. Nesta perseguição do acidental, quer num flagrante de esquina, quer nas palavras de uma criança ou num acidente doméstico, torno-me simples espectador e perco a noção do essencial. Sem mais nada para contar, curvo a cabeça e tomo meu café, enquanto o verso do poeta se repete na lembrança: “assim eu quereria o meu último poema”. Não sou poeta e estou sem assunto. Lanço então um último olhar fora de mim, onde vivem os assuntos que merecem uma crônica.
Ao fundo do botequim um casal de pretos acaba de sentar-se, numa das últimas mesas de mármore ao longo da parede de espelhos. A compostura da humildade, na contenção de gestos e palavras, deixa-se acrescentar pela presença de uma negrinha de seus três anos, laço na cabeça, toda arrumadinha no vestido pobre, que se instalou também à mesa: mal ousa balançar as perninhas curtas ou correr os olhos grandes de curiosidade ao redor. Três seres esquivos que compõem em torno à mesa a instituição tradicional da família, célula da sociedade. Vejo, porém, que se preparam para algo mais que matar a fome.
Passo a observá-los. O pai, depois de contar o dinheiro que discretamente retirou do bolso, aborda o garçom, inclinando-se para trás na cadeira, e aponta no balcão um pedaço de bolo sob a redoma. A mãe limita-se a ficar olhando imóvel, vagamente ansiosa, como se aguardasse a aprovação do garçom. Este ouve, concentrado, o pedido do homem e depois se afasta para atendê-lo. A mulher suspira, olhando para os lados, a reassegurar-se da naturalidade de sua presença ali. A meu lado o garçom encaminha a ordem do freguês.
O homem atrás do balcão apanha a porção do bolo com a mão, larga-o no pratinho – um bolo simples, amarelo-escuro, apenas uma pequena fatia triangular. A negrinha, contida na sua expectativa, olha a garrafa de Coca-Cola e o pratinho que o garçom deixou à sua frente. Por que não começa a comer? Vejo que os três, pai, mãe e filha, obedecem em torno à mesa um discreto ritual. A mãe remexe na bolsa de plástico preto e brilhante, retira qualquer coisa. O pai se mune de uma caixa de fósforos, e espera. A filha aguarda também, atenta como um animalzinho. Ninguém mais os observa além de mim.
São três velinhas brancas, minúsculas, que a mãe espeta caprichosamente na fatia do bolo. E enquanto ela serve a Coca-Cola, o pai risca o fósforo e acende as velas. Como a um gesto ensaiado, a menininha repousa o queixo no mármore e sopra com força, apagando as chamas. Imediatamente põe-se a bater palmas, muito compenetrada, cantando num balbucio, a que os pais se juntam, discretos: “Parabéns pra você, parabéns pra você…” Depois a mãe recolhe as velas, torna a guardá-las na bolsa. A negrinha agarra finalmente o bolo com as duas mãos sôfregas e põe-se a comê-lo. A mulher está olhando para ela com ternura – ajeita-lhe a fitinha no cabelo crespo, limpa o farelo de bolo que lhe cai ao colo. O pai corre os olhos pelo botequim, satisfeito, como a se convencer intimamente do sucesso da celebração. Dá comigo de súbito, a observá-lo, nossos olhos se encontram, ele se perturba, constrangido – vacila, ameaça abaixar a cabeça, mas acaba sustentando o olhar e enfim se abre num sorriso.
Assim eu quereria minha última crônica: que fosse pura como esse sorriso.
Infidelidade é como apanhar seu sócio furtando dinheiro do caixa. A relação está dissolvida.
Antes de mais nada fica estabelecido que ninguém vai tirar meu bom humor
Em arte não há nada mais velho do que o futurismo.
Não posso responsabilizar ninguém pelo destino que me dei. Como único responsável só eu posso modificá-lo. E vou modificar.
O duro ofício de escritor
Para mim, o ato de escrever é muito difícil e penoso, tenho sempre de corrigir e reescrever várias vezes. Basta dizer, como exemplo, que escrevi 1.100 páginas datilografadas para fazer um romance, no qual aproveitei pouco mais de 300.
— Foi melhor assim.
— Tinha de acabar.
Pois então por que diabo não acabara mesmo naquela ocasião no banco da Praça? Para se sentir cada vez mais infeliz por uma coisa que não teria nunca?
” só é verdadeiro aquilo que não se diz… só o silÊncio é verdadeiro… é preciso ouviro silêcio não como surdo, mas com um cego…”
Fernando Sabino
O Homem Nu
Ao acordar, disse para a mulher:
— Escuta, minha filha: hoje é dia de pagar a prestação da televisão, vem aí o sujeito com a conta, na certa. Mas acontece que ontem eu não trouxe dinheiro da cidade, estou a nenhum.
— Explique isso ao homem — ponderou a mulher.
— Não gosto dessas coisas. Dá um ar de vigarice, gosto de cumprir rigorosamente as minhas obrigações. Escuta: quando ele vier a gente fica quieto aqui dentro, não faz barulho, para ele pensar que não tem ninguém. Deixa ele bater até cansar — amanhã eu pago.
Pouco depois, tendo despido o pijama, dirigiu-se ao banheiro para tomar um banho, mas a mulher já se trancara lá dentro. Enquanto esperava, resolveu fazer um café. Pôs a água a ferver e abriu a porta de serviço para apanhar o pão. Como estivesse completamente nu, olhou com cautela para um lado e para outro antes de arriscar-se a dar dois passos até o embrulhinho deixado pelo padeiro sobre o mármore do parapeito. Ainda era muito cedo, não poderia aparecer ninguém. Mal seus dedos, porém, tocavam o pão, a porta atrás de si fechou-se com estrondo, impulsionada pelo vento.
Aterrorizado, precipitou-se até a campainha e, depois de tocá-la, ficou à espera, olhando ansiosamente ao redor. Ouviu lá dentro o ruído da água do chuveiro interromper-se de súbito, mas ninguém veio abrir. Na certa a mulher pensava que já era o sujeito da televisão. Bateu com o nó dos dedos:
— Maria! Abre aí, Maria. Sou eu — chamou, em voz baixa.
Quanto mais batia, mais silêncio fazia lá dentro.
Enquanto isso, ouvia lá embaixo a porta do elevador fechar-se, viu o ponteiro subir lentamente os andares… Desta vez, era o homem da televisão!
Não era. Refugiado no lanço da escada entre os andares, esperou que o elevador passasse, e voltou para a porta de seu apartamento, sempre a segurar nas mãos nervosas o embrulho de pão:
— Maria, por favor! Sou eu!
Desta vez não teve tempo de insistir: ouviu passos na escada, lentos, regulares, vindos lá de baixo… Tomado de pânico, olhou ao redor, fazendo uma pirueta, e assim despido, embrulho na mão, parecia executar um ballet grotesco e mal ensaiado. Os passos na escada se aproximavam, e ele sem onde se esconder. Correu para o elevador, apertou o botão. Foi o tempo de abrir a porta e entrar, e a empregada passava, vagarosa, encetando a subida de mais um lanço de escada. Ele respirou aliviado, enxugando o suor da testa com o embrulho do pão.
Mas eis que a porta interna do elevador se fecha e ele começa a descer.
— Ah, isso é que não! — fez o homem nu, sobressaltado.
E agora? Alguém lá embaixo abriria a porta do elevador e daria com ele ali, em pêlo, podia mesmo ser algum vizinho conhecido… Percebeu, desorientado, que estava sendo levado cada vez para mais longe de seu apartamento, começava a viver um verdadeiro pesadelo de Kafka, instaurava-se naquele momento o mais autêntico e desvairado Regime do Terror!
— Isso é que não — repetiu, furioso.
Agarrou-se à porta do elevador e abriu-a com força entre os andares, obrigando-o a parar. Respirou fundo, fechando os olhos, para ter a momentânea ilusão de que sonhava. Depois experimentou apertar o botão do seu andar. Lá embaixo continuavam a chamar o elevador. Antes de mais nada: “Emergência: parar”. Muito bem. E agora? Iria subir ou descer? Com cautela desligou a parada de emergência, largou a porta, enquanto insistia em fazer o elevador subir. O elevador subiu.
— Maria! Abre esta porta! — gritava, desta vez esmurrando a porta, já sem nenhuma cautela. Ouviu que outra porta se abria atrás de si.
Voltou-se, acuado, apoiando o traseiro no batente e tentando inutilmente cobrir-se com o embrulho de pão. Era a velha do apartamento vizinho:
— Bom dia, minha senhora — disse ele, confuso. — Imagine que eu…
A velha, estarrecida, atirou os braços para cima, soltou um grito:
— Valha-me Deus! O padeiro está nu!
E correu ao telefone para chamar a radiopatrulha:
— Tem um homem pelado aqui na porta!
Outros vizinhos, ouvindo a gritaria, vieram ver o que se passava:
— É um tarado!
— Olha, que horror!
— Não olha não! Já pra dentro, minha filha!
Maria, a esposa do infeliz, abriu finalmente a porta para ver o que era. Ele entrou como um foguete e vestiu-se precipitadamente, sem nem se lembrar do banho. Poucos minutos depois, restabelecida a calma lá fora, bateram na porta.
— Deve ser a polícia — disse ele, ainda ofegante, indo abrir.
Não era: era o cobrador da televisão.
Sou dono de uma verdade que não se traduz em palavras;
Sou inteligente, sei disso, mas minha inteligência não é capaz de iluminações nem de distribuir justiça.
O otimista erra tanto quanto o pessimista, mas não sofre por antecipação.
Liberdade é o espaço que a felicidade precisa.
Agora o fruto de tão maduro parece que se rompe, vai apodrecendo.
O diabo desta vida é que entre cem caminhos temos que escolher apenas um, e viver com a nostalgia dos outros noventa e nove.
Quem toda vida saberá o que significa
a viagem de cada um?
– Ateu, não: agnóstico
– Pois eu te dou quinhentas pratas se você me disser o que quer dizer essa palavra.
– Ora, para começar você não tem quinhentas pratas. Estou conversando a sério e você me vem com molecagem. Acho que Deus é uma coisa, os padres outra. O ranço das sacristias me enoja. Tenho horror ao bafo clerical dos confessionários! O bem que a confissão pode nos fazer é o de uma catarse, um extravasamento, que a psicanálise também faz, e com mais sucesso. Estou mesmo com vontade de me especializar em psiquiatria.
– Só mesmo um doido de procuraria
Maur não pôde deixar de rir. Eduardo acrescentou:
– Você vai ter de se curar para depois curar os outros.
– É isso mesmo – concordo o outro, sério – Estou exatamente preocupado com o meu próprio caso. Já iniciei o que eu chamo de “a minha libertação”.
– E o que eu chamo de “a sua imbecilização”.
– Vista pela sua, que já é completa. O que eu chamo de libertação é a possibilidade de me afirmar integralmente, como homem. O homem é que interessa. Se Deus existe, posso vir a me entender com ele, mas há de ser de homem para homem.
– Você está nervoso, cansado, é isso.
– Cansado desta vida. Vontade de me mudar para do Rio, ir para um lugar sossegado, ter um filho, criá-lo longe daqui, constituir uma família, compreende? Levar uma vida decente. Não nasci para isso. Só você, que me conhece melhor, pode me compreender. Nós somos diferentes um do outro, eu sei; mas você sabe que eu não nasci pra isso. Eu queria ser um homem simples, direito… Um homem como meu pai.
O velho marciano morto, nunca pensara nisso, ele não parecia que um dia iria morrer. Isso alterava fundamentalmente a sua vida? Ou não lhe traria sequer a mais ligeira modificação no modo de ser e encarar as coisas – sempre fora, era assim, sempre seria, ele vivendo, a morte do pai já em sua vida incorporada. Mais uma época ali se encerrava? Acaso não vivia sempre encerrando épocas e inaugurando outras? De onde vinha? para onde ia? Que sentido tinham as coisas? Nenhum, nenhum , se dizia, sentindo finalmente seus olhos se encheram de lágrimas.
– O suicídio tanto pode ser afirmação da morte como negação da vida. Tanto faz.
– É mentira. E vou explicar: o suicida é aquele que perdeu tudo, menos a vida.
O ar não é silencioso? O vento não faz barulho? E que é o vento senão ar? A música é o silêncio em movimento.
Se lhe posso dar um conselho, é este: não tente apanhar o fruto verde para que ele não apodreça na sua mão.
“Tem gente que é só passar pela gente que a gente fica contente. Tem gente que sente o que a gente sente e passa isto docemente. Tem gente que vive como a gente vive, tem gente que fala e nos olha na face, tem gente que cala e nos faz olhar. Toda essa gente que convive com a gente, leva da gente o que a gente teme passa a ser gente dentro da gente. Um pedaço da gente em outro alguém.”
Tenho feito descobertas importantes, por exemplo: o pecado é simplesmente tudo o que Cristo não fez.
São vidas. Sendo vidas, nada mais nos resta fazer senão irmos vivendo.
Viver devagar é que é bom, e entreviver-se, amando, desejando, sofrendo, avançando e recuando, tirando das coisas ao redor uma íntima compensação, recriando em si mesmo a reserva dos outros e vivendo em uníssono. Isso é que é viver, e viver afinal é questão de paciência.
Tem de ser equilibrista até o final. E suando muito, apertando o cabo da sombinha aberta, com medo de cair, olhando a distância do arame ainda a percorrer – e sempre exibindo para o público um falso sorriso de serenidade. Tem de fazer isso todos os dias, para os outros, como se na vida você não tivesse feito outra coisa, para você como se fosse a primeira vez, e a mais perigosa. Do contrário, seu número será um fracasso.
A gente sofre muito: o que é preciso é sofrer bem, com discernimento, com classe, som serenidade de quem já é iniciado no sofrimento. Não para tirar dele uma compensação, mas um reflexo.
Uma mulher tomou um trem e foi-se embora muito infeliz, como devem ser as mulheres que tomam trens.
Só é sincero aquilo que não se diz.
Mas a convivência é feita também de silêncio, e distância.
O importante não é dizer, é saber. Cartas coisas não se dizem, porque dizendo, deixam de ser ditas pelo não-dizer, que diz muito mais.
Quando eu era menino, os mais velhos perguntavam: o que você quer ser quando crescer? Hoje não perguntam mais. Se perguntassem, eu diria que quero ser menino.
A consciência é inútil, sem uma convicção adquirida.
De tudo, ficaram três coisas: a certeza de que ele estava sempre começando, a certeza de que era preciso continuar e a certeza de que seria interrompido antes de terminar.
O meu ritmo é esse.
O diabo é que acabo deixando também a mente solta, a vagar pelo espaço. E minha imaginação rola com as ondas na areia de Ipanema, e se perde na distância azul do mar.
Há pessoas que têm o dom de inspirar-me uma fulminante simpatia à primeira vista – quase sempre aliás, injustificada.
Um verdadeiro romance é sempre a interpretação desajeitada de um sonho.
Vou escrever alguma coisa que não sei o que seja, justamente para ficar sabendo. E que só eu posso me dizer, mais ninguém
Tudo que sentia era saudade da sua presença. Chegava tarde da noite, encontrava a casa às escuras. Era obrigado a atravessar silenciosamente a sala e subir para o quarto, resistindo à tentação de bater à sua porta sob o pretexto de saber se por caso ela ainda estaria acordada.
E eu continuava assistindo à erosão da minha vida, sem que pudesse fazer nada. Muitos menos compreender Isabel.
Até que um dia resolvi imitá-la.
Não sei se ela entendeu. Isabel já não me entendia, nem eu a ela: era um mistério para mim. Eu não sabia se ela havia mudado, ou se eu é que ia me tornando outro homem.
Resisti à tentação de dizer que não, subiria também, não podia passar mais uma noite longa dela. Tentação de abraçá-la, esquecer tudo que havia passado, subir também. Mas alguma coisa me dizia que o meu lugar era embaixo, que eu era apenas uma testemunha, um espectador, o lado passivo do seu mistério.
Você acredita em Deus? Não sabia por que, sentia que deveria decidir- se, era uma pergunta que ficara sem resposta, queria sempre poder responder a tudo, estar pronto a ser interrogado, fugir às respostas dúbias, hesitantes, que nada diziam. Olhou pela janela o céu estrelado, a imensidão infinita do céu… Não foi preciso muito para concluir que, sem Deus, jamais chegaria a entender onde o universo começava e onde acabava, de onde vinha ele, para onde iria. Concentrou-se, respirou fundo, e declarou com firmeza:
— Acredito.
— E posso saber que proveito você tira, arriscando assim a vida?
— Posso saber que proveito vocês tiram, não arriscando a sua?
Faça da democracia, o seu direito de votar.
… e viver afinal, é questão de paciência.
Já me disseram que sou bom de chegada e ruim de saída. Devo reconhecer que é verdade. Mas a culpa não é minha.
Contra o buraco negro por onde nós mesmos seremos sugados, simplesmente não há solução.
O suicida é aquele que perdeu tudo, menos a vida.
Se a gula é pecado, o inferno deve ser ótimo para fazer churrasco.
“Tem gente que é só passar pela gente
que a gente fica contente…
Tem gente que sente o que a gente sente
e passa isto docemente…
Tem gente que vive como a gente vive .
Tem gente que fala e nos olha na face.
Tem gente que cala e nos faz olhar…
Toda essa gente que convive com a gente,
leva da gente o que a gente tem
e passa a ser gente dentro da gente.
Um pedaço da gente em outro alguém.”
(Fernando Sabino)
TANTO QUE EU TENHO FALADO
TANTO QUE EU TENHO ESCRITO….
COMO NÃO IMAGINAR
QUE SEM QUERER,FERI ALGUÉM???
Estava, por assim dizer, num instante de transição em que a existência parece pairar em suspenso entre dois mistérios que se completam.
“…o diabo desta vida é que entre cem caminhos, temos de escolher apenas um e viver com a nostalgia dos outros noventa e nove. Pois bem: a literatura é como se você tivesse de renunciar a todos os cem.”
A cada manhã eu quero renascer, eu quero refazer tudo, desaprender tudo, recomeçar a aprender tudo de novo. Eu queria olhar o mundo com os olhos lavados de pureza e de inocência como um menino.
Quanto menos o leitor tropeçar em palavras mais eu atinjo meu objetivo.
Se tens capacidade de reconhecer defeitos e qualidades alheios.
Tens bom senso para saber que todos esses já foram seus ou te fazem parte
Ei ,Quando que o amor acaba ???
– Amor não acaba . Se acabou ,é porque nunca foi amor !
– Fica sem sentido Acabar algo perfeito!
Algo Que transborda , Que não se mede ,
Que é intransponível …inigualável.
As pessoas têm dito muitas besteiras sobre o amor. Tem vivido muito coisa justificando ser amor que não é!
Dizem ser dois pesos e duas medidas …Quando na verdade , dois pesos e uma medida .
– Quando ouvimos: Na Alegria na tristeza , na saúde e doença …É uma forma gentil de afirmar que é pra todas etapas e horas da vida. Ou não é isso que ouvimos em um casamento no selar de um matrimônio ?
Já ouvi gente dizendo que não é bem assim que funciona .Que cada um ama do seu jeito…E realmente é verdade , só que em partes :
– Porque o amor não é moldável, do tamanho do seu ego , válido só na hora que lhe é conivente para seus atos ou suas justificativas.
O amor é reto no seu falar , não faz essas curvas cheias de teorias e desculpas esfarrapadas.
Mas sim , cada um ama do seu jeito.
Uns com mais demonstrações, outros com menos.
Mas pra saber se é amor é fácil .
Existiu persistência, respeito , entendimento , perdão , analises , cuidados , teve direçao ,objetividade , significado e sobreviveu todas etapas da vida?
Então é!
Agora se não chegou nem na metade disso …não teve força,não suportou , não perdoou ; não superou ; não buscou , não alimentou , faltou respeito ,não teve direção, viveu da utilidade , foi descartável, acabou.
– foi qualquer outra desculpa ; menos ele .
Não aceite migalhas …
não se submeta a qualquer coisa…
Não acredite em qualquer amor que lhes apresentam ou falam por aí.
Plante pra colher , de tempo ao tempo ,
É dia após dia , entenda seus processos de tranformação . Amor não nasce pronto , amor aperfeiçoa-se … é analise constante , é luta diária, gesto por gesto , grão em grão.
Lembre-se de quem mais nos amou em todos os tempos até os dias de hoje e qual o preço que ele pagou pra provar seu amor .
O maior exemplo sempre esteve diante de nossos olhos e talvez não tenhamos sido tão atentos.
Jamais esqueça disso … E que esse foi o maior presente que ele deu ao ser humano fora o dom da vida.
Então, estejas atenta (o)…
Enchuga essas lágrimas, Vai ser feliz.
Defender o imperfeito é tornar-se cúmplice da imperfeição.
À cada amanhecer , me lembro que é novo tempo
Lembro que o passado nao esta no meu alcance
Lembro que o hoje é o reflexo do ontem
Lembro que existe tempo, muito tempo
E que por mais que houvesse tempo para construir o passado , presente e o futuro
Os dias e as horas nao iriam nos pertencer
Nao queira dar prazo de validade as coisas de Deus
Se nao nos foi revelado nem através da bíblia o fim dos tempo
Quem dirá falsos profetas , ciência e sacerdotes.
É o livre arbítrio misturados e apimentados com mistério
Unidos a só uma intenção de transformação e preparo
Amor, nao medo.
Amores perfeitos só vão existir quando perceber que dos erros se fazem acertos.
“Dentre suas belezas a que mais me atrai és simplesmente a que nao posso ver , apenas ouvir e sentir”.
“Se sua boca esconde, seus olhos entregam”
Bajulações são ótimas.
Transformam nosso ego e ajudam na autoestima.
Mas críticas são as que nos fazem mais fortes, conscientes e nos tornam mais humanos.
Entregar-se na carência é correr o risco de se se doar sem correspondências , acreditar em miragens quando estás ao deserto , é amar sem existir amor , agarrar o irreal e acordar com terra na boca
As vezes o Não ,é o Sim mais preciso prara tornarmos as coisas melhores e vivermos em Paz
Fazer uma analise e situação da vida outra pessoa e aconselha-lo (a) , é fácil .Difícil mesmo é analisar-se de formas justas , aconselhar-se ,seguir seus próprios conceitos e intuitos.
Sou do tipo que dou corda só pra ver onde vai dar , e quanto tempo consegue se enganar , enrolando-se
Felicidade é a prova mais pura de que
as inutilidades e imperfeições ficaram para traz ,que de certa forma evoluimos nos nosso interiores e exteriores.Que somos a nova etapa da do presente porque o passado ficou para traz.
Talvez a forma mais autêntica e cristalina de encarar a vida coisas com veracidade ,
brilho nos olhos , sorriso largo ,expressando gratidão em estado e espirito
De ser livre , por ser livre …
E Feliz , Por ser Feliz…
As vezes penso na necessidade que as pessoas têm de tornar os outros objeto daquilo que lhes fazem falta, ou moldes de como gostariam que fosse .
E toda vez não me engano na nitidez
do quão vazio são essas representações…do quão perdidas essas pessoas estão consigo mesmas ,E do quanto buscam se afirmar ….
Geralmente essas pessoas são inseguras , mas não assumem …
São imaturas ,mas se julgam donas e donos da razão.
Egoístas, crianças só ainda não sabem…
– Pois Convenhamos: Birra por posse , objetos enfeitados e massinha , não podem ser coisa de Adulto…
“Faith , is question for Culture …”
Quando o sol nascer no amanhã
É novo dia
Nova estapa
Um novo presente de folhas brancas pra escrever tudo que ainda não foi escrito
Um anúncio que o passado ficou pra traz ,que o ontem já não volta mais , que o hoje é o nosso futuro. Construído no dia após dia , perdoado no dia após dia …
Um novo motivo de sorrir ,sentir , amar , acertar no que foi erro ,reerguer-se ,
levantar a cabeça , viver oque te faz vivo.
-Pois vida é isso …viver oque nos fazem vivos.
Só que temos o dom de eternizar tudo aquilo que quisermos , e muitas vezes eternizamos coisas que deveriam ficar para traz .
Se olhe de dentro pra fora, seja maior que seus medos , prisões , maior que suas desculpas, que seus erros , que as coisas que te sufocam , não maximize elas colocando-as em prioridade , não as dê atenção…pois a vida foi feita pra não se ter peso , não se carregar peso.
É como academia ,que no exercício constante nos fortalecemos, nos reabilitados e deixamos os halteres , anilhas e barras.
Descarregue oque é necessário ,coloque as coisas em seus devidos lugares.
A mania de guardar coisas velhas , pode trazer mofo , cheirar mal , aparentar sujeira , demontrar desorganização.
Reorganize-se , limpe-se , jogue todo o lixo no lixo .
sejas leve , livre , pois é novo dia , nova chance , novo sol , novo amanhã .
A maior loucura de todas
É ser taxado como louco em um mundo de loucos
Onde a loucura se faz mundo
E oque é louco se faz lúcido
*Mundo Feminino
Não entendo o porque de tantas escolhas , se perante aos olhos e visão feminina nós homens somos todos iguais
Nao entendo porque esperam homens montados em cavalos brancos e perfeitos , se sabem que nao existem
Nao entendo o porque de gostarem de quem ao mínimo te valoriza se procuram e buscam felicidade
Nao entendo porque se vestem para impressionar outras mulheres
E nem porque trocam mil vezes de roupa e saem com a primeira
Mundo de mistérios e fantasias
Apimentados com ondas cerebrais em fuso de complicações
Mundo de rímel, lápis e batom
Maquiados com inúmeras cores diferentes
Mundo de ousadia e elegância
Mundo de sexualidade, sensualidade e poder
Mundo Feminino
A realidade nunca será bem-vinda
Se os circos se fizerem presentes em cada lugar
Do que iria adiantar se você soubesse todas respostas e verdades do mundo
Se o mundo nao se importa com suas verdades e respostas
Acostumou-se a viver mascarados de mentiras , ilusões e duvidas.
Sorrisos encontre-os e deixe-os sempre
Lagrimas derrame-as quando forem necessárias
Leve alegria onde habita tristeza
Se o poder de um sorriso nao pode mudar o mundo
Modifique oque está ao seu alcance ou dentro do seu alcance
Se você fosse sedução , talvez seria eu ,o Amor
“Se nao sabes o que sentes , e tem duvidas se é amor, talvez seria qualquer coisa menos ele”.
Se quer mesmo realizar sonhos,objetivo
e almeja alcançar oque esta prometido em sua vida
Lembre-se que existe alguem que morreu de braços abertos e te deu o livre arbítrio para escolher o caminho que deseja seguir.
Os braços esperam por seu abraço
os caminhos esperam por sua chegada
A vida espera por sua escolha
E o universo espera por sua Atitude
Observando essa monstruosa cachoeira de palavras tão seguidamente solicitadas e produzidas, confesso que elas significam para mim uma vida perdida. Possibilidades vagamente vislumbradas que nunca se realizaram. Uma luz que lampeja para logo desaparecer. Alguma coisa vagamente apreendida, com uma música distante ou um perfume indefinível; alguma coisa cheia de encantamento e promessas de êxtase. Muito, muito distante no entanto próxima; no extremo limite do tempo e do espaço, no entanto na palma da minha mão. EM qualquer caso, tanto perdida na mais remota distância como ao meu alcance – inatingível. Nenhuma luz duradoura que a de um fósforo aceso numa caverna escura. Nenhum êxtase a experimentar – somente uma porta que se fecha, e o eco de passos cada vez mais fracos descendo uma escada de pedra.
Infidelidade é como apanhar o seu sócio roubando dinheiro do caixa.
Não confio em produto local. Sempre que viajo levo meu uísque e minha mulher.
No dia em que a mulher descobre que o homem, pelo simples fato de ser seu marido, é também seu cônjuge, coitado dele.
Os homens se dividem em duas espécies: os que têm medo de viajar de avião e os que fingem que não têm.
[Consta na Lápide de Fernando Sabino]
Fernando Sabino, que nasceu homem e morreu menino
De tudo, ficaram três coisas: a certeza de que ele estava sempre começando, a certeza de que era preciso continuar e a certeza de que seria interrompido antes de terminar. Fazer da interrupção um caminho novo. Fazer da queda um passo de dança, do medo uma escada, do sono uma ponte, da procura um encontro.
“Para os pobres, é dura lex, sed lex. A lei é dura, mas é a lei.
Para os ricos, é dura lex, sed latex. A lei é dura, mas estica”
No fim tudo dá certo, e se não deu certo é porque ainda não chegou ao fim.
O menino é o pai do Homem
Façamos da interrupção um caminho novo.
Da queda um passo de dança,
do medo uma escada,
do sonho uma ponte, da procura um encontro!
De tudo ficaram três coisas…
A certeza de que estamos começando…
A certeza de que é preciso continuar…
A certeza de que podemos ser interrompidos
antes de terminar…
Façamos da interrupção um caminho novo…
Da queda, um passo de dança…
Do medo, uma escada…
Do sonho, uma ponte…
Da procura, um encontro!
Birgamos com os outros porque são exatamente aquilo que queríamos ser e não somos.
A Infidelidade é como apanhar o seu sócio roubando dinheiro do caixa.
No fim tudo dá certo, se não deu certo é porque ainda não chegou ao fim.
Não confio em produto local. Sempre que viajo levo meu uísque e minha mulher.
Aqui jaz Fernando Sabino, que nasceu homem e morreu menino.
Y – Letra que devia ser abolida, como fizeram com o K e o W (ou não fizeram?) e escrever logo tudo com i.
Analfabetismo – Ninguém precisa aprender a ler para trabalhar na enxada. – Não precisamos de escolas: precisamos de médicos. – Mas a ignorância é responsável pela doença e a miséria! – Saem da escola e na roça esquecem o que aprenderam. – Não querem mais voltar para a lavoura.
A última crônica
A caminho de casa, entro num botequim da Gávea para tomar um café junto ao balcão. Na realidade estou adiando o momento de escrever. A perspectiva me assusta. Gostaria de estar inspirado, de coroar com êxito mais um ano nesta busca do pitoresco ou do irrisório no cotidiano de cada um. Eu pretendia apenas recolher da vida diária algo de seu disperso conteúdo humano, fruto da convivência, que a faz mais digna de ser vivida. Visava ao circunstancial, ao episódico. Nesta perseguição do acidental, quer num flagrante de esquina, quer nas palavras de uma criança ou num acidente doméstico, torno-me simples espectador e perco a noção do essencial. Sem mais nada para contar, curvo a cabeça e tomo meu café, enquanto o verso do poeta se repete na lembrança: “assim eu quereria o meu último poema”. Não sou poeta e estou sem assunto. Lanço então um último olhar fora de mim, onde vivem os assuntos que merecem uma crônica.
Ao fundo do botequim um casal de pretos acaba de sentar-se, numa das últimas mesas de mármore ao longo da parede de espelhos. A compostura da humildade, na contenção de gestos e palavras, deixa-se acrescentar pela presença de uma negrinha de seus três anos, laço na cabeça, toda arrumadinha no vestido pobre, que se instalou também à mesa: mal ousa balançar as perninhas curtas ou correr os olhos grandes de curiosidade ao redor. Três seres esquivos que compõem em torno à mesa a instituição tradicional da família, célula da sociedade. Vejo, porém, que se preparam para algo mais que matar a fome.
Passo a observá-los. O pai, depois de contar o dinheiro que discretamente retirou do bolso, aborda o garçom, inclinando-se para trás na cadeira, e aponta no balcão um pedaço de bolo sob a redoma. A mãe limita-se a ficar olhando imóvel, vagamente ansiosa, como se aguardasse a aprovação do garçom. Este ouve, concentrado, o pedido do homem e depois se afasta para atendê-lo. A mulher suspira, olhando para os lados, a reassegurar-se da naturalidade de sua presença ali. A meu lado o garçom encaminha a ordem do freguês.
O homem atrás do balcão apanha a porção do bolo com a mão, larga-o no pratinho – um bolo simples, amarelo-escuro, apenas uma pequena fatia triangular. A negrinha, contida na sua expectativa, olha a garrafa de Coca-Cola e o pratinho que o garçom deixou à sua frente. Por que não começa a comer? Vejo que os três, pai, mãe e filha, obedecem em torno à mesa um discreto ritual. A mãe remexe na bolsa de plástico preto e brilhante, retira qualquer coisa. O pai se mune de uma caixa de fósforos, e espera. A filha aguarda também, atenta como um animalzinho. Ninguém mais os observa além de mim.
São três velinhas brancas, minúsculas, que a mãe espeta caprichosamente na fatia do bolo. E enquanto ela serve a Coca-Cola, o pai risca o fósforo e acende as velas. Como a um gesto ensaiado, a menininha repousa o queixo no mármore e sopra com força, apagando as chamas. Imediatamente põe-se a bater palmas, muito compenetrada, cantando num balbucio, a que os pais se juntam, discretos: “Parabéns pra você, parabéns pra você…” Depois a mãe recolhe as velas, torna a guardá-las na bolsa. A negrinha agarra finalmente o bolo com as duas mãos sôfregas e põe-se a comê-lo. A mulher está olhando para ela com ternura – ajeita-lhe a fitinha no cabelo crespo, limpa o farelo de bolo que lhe cai ao colo. O pai corre os olhos pelo botequim, satisfeito, como a se convencer intimamente do sucesso da celebração. Dá comigo de súbito, a observá-lo, nossos olhos se encontram, ele se perturba, constrangido – vacila, ameaça abaixar a cabeça, mas acaba sustentando o olhar e enfim se abre num sorriso.
Assim eu quereria minha última crônica: que fosse pura como esse sorriso.
Infidelidade é como apanhar seu sócio furtando dinheiro do caixa. A relação está dissolvida.
Antes de mais nada fica estabelecido que ninguém vai tirar meu bom humor
Em arte não há nada mais velho do que o futurismo.
Não posso responsabilizar ninguém pelo destino que me dei. Como único responsável só eu posso modificá-lo. E vou modificar.
O duro ofício de escritor
Para mim, o ato de escrever é muito difícil e penoso, tenho sempre de corrigir e reescrever várias vezes. Basta dizer, como exemplo, que escrevi 1.100 páginas datilografadas para fazer um romance, no qual aproveitei pouco mais de 300.
— Foi melhor assim.
— Tinha de acabar.
Pois então por que diabo não acabara mesmo naquela ocasião no banco da Praça? Para se sentir cada vez mais infeliz por uma coisa que não teria nunca?
” só é verdadeiro aquilo que não se diz… só o silÊncio é verdadeiro… é preciso ouviro silêcio não como surdo, mas com um cego…”
Fernando Sabino
O Homem Nu
Ao acordar, disse para a mulher:
— Escuta, minha filha: hoje é dia de pagar a prestação da televisão, vem aí o sujeito com a conta, na certa. Mas acontece que ontem eu não trouxe dinheiro da cidade, estou a nenhum.
— Explique isso ao homem — ponderou a mulher.
— Não gosto dessas coisas. Dá um ar de vigarice, gosto de cumprir rigorosamente as minhas obrigações. Escuta: quando ele vier a gente fica quieto aqui dentro, não faz barulho, para ele pensar que não tem ninguém. Deixa ele bater até cansar — amanhã eu pago.
Pouco depois, tendo despido o pijama, dirigiu-se ao banheiro para tomar um banho, mas a mulher já se trancara lá dentro. Enquanto esperava, resolveu fazer um café. Pôs a água a ferver e abriu a porta de serviço para apanhar o pão. Como estivesse completamente nu, olhou com cautela para um lado e para outro antes de arriscar-se a dar dois passos até o embrulhinho deixado pelo padeiro sobre o mármore do parapeito. Ainda era muito cedo, não poderia aparecer ninguém. Mal seus dedos, porém, tocavam o pão, a porta atrás de si fechou-se com estrondo, impulsionada pelo vento.
Aterrorizado, precipitou-se até a campainha e, depois de tocá-la, ficou à espera, olhando ansiosamente ao redor. Ouviu lá dentro o ruído da água do chuveiro interromper-se de súbito, mas ninguém veio abrir. Na certa a mulher pensava que já era o sujeito da televisão. Bateu com o nó dos dedos:
— Maria! Abre aí, Maria. Sou eu — chamou, em voz baixa.
Quanto mais batia, mais silêncio fazia lá dentro.
Enquanto isso, ouvia lá embaixo a porta do elevador fechar-se, viu o ponteiro subir lentamente os andares… Desta vez, era o homem da televisão!
Não era. Refugiado no lanço da escada entre os andares, esperou que o elevador passasse, e voltou para a porta de seu apartamento, sempre a segurar nas mãos nervosas o embrulho de pão:
— Maria, por favor! Sou eu!
Desta vez não teve tempo de insistir: ouviu passos na escada, lentos, regulares, vindos lá de baixo… Tomado de pânico, olhou ao redor, fazendo uma pirueta, e assim despido, embrulho na mão, parecia executar um ballet grotesco e mal ensaiado. Os passos na escada se aproximavam, e ele sem onde se esconder. Correu para o elevador, apertou o botão. Foi o tempo de abrir a porta e entrar, e a empregada passava, vagarosa, encetando a subida de mais um lanço de escada. Ele respirou aliviado, enxugando o suor da testa com o embrulho do pão.
Mas eis que a porta interna do elevador se fecha e ele começa a descer.
— Ah, isso é que não! — fez o homem nu, sobressaltado.
E agora? Alguém lá embaixo abriria a porta do elevador e daria com ele ali, em pêlo, podia mesmo ser algum vizinho conhecido… Percebeu, desorientado, que estava sendo levado cada vez para mais longe de seu apartamento, começava a viver um verdadeiro pesadelo de Kafka, instaurava-se naquele momento o mais autêntico e desvairado Regime do Terror!
— Isso é que não — repetiu, furioso.
Agarrou-se à porta do elevador e abriu-a com força entre os andares, obrigando-o a parar. Respirou fundo, fechando os olhos, para ter a momentânea ilusão de que sonhava. Depois experimentou apertar o botão do seu andar. Lá embaixo continuavam a chamar o elevador. Antes de mais nada: “Emergência: parar”. Muito bem. E agora? Iria subir ou descer? Com cautela desligou a parada de emergência, largou a porta, enquanto insistia em fazer o elevador subir. O elevador subiu.
— Maria! Abre esta porta! — gritava, desta vez esmurrando a porta, já sem nenhuma cautela. Ouviu que outra porta se abria atrás de si.
Voltou-se, acuado, apoiando o traseiro no batente e tentando inutilmente cobrir-se com o embrulho de pão. Era a velha do apartamento vizinho:
— Bom dia, minha senhora — disse ele, confuso. — Imagine que eu…
A velha, estarrecida, atirou os braços para cima, soltou um grito:
— Valha-me Deus! O padeiro está nu!
E correu ao telefone para chamar a radiopatrulha:
— Tem um homem pelado aqui na porta!
Outros vizinhos, ouvindo a gritaria, vieram ver o que se passava:
— É um tarado!
— Olha, que horror!
— Não olha não! Já pra dentro, minha filha!
Maria, a esposa do infeliz, abriu finalmente a porta para ver o que era. Ele entrou como um foguete e vestiu-se precipitadamente, sem nem se lembrar do banho. Poucos minutos depois, restabelecida a calma lá fora, bateram na porta.
— Deve ser a polícia — disse ele, ainda ofegante, indo abrir.
Não era: era o cobrador da televisão.
Sou dono de uma verdade que não se traduz em palavras;
Sou inteligente, sei disso, mas minha inteligência não é capaz de iluminações nem de distribuir justiça.
O otimista erra tanto quanto o pessimista, mas não sofre por antecipação.
Liberdade é o espaço que a felicidade precisa.