Quando o verbo é equívoco, o silêncio é corretivo.
A gente vive certo porque errou um dia. E silencia quando entende que todas palavras foram ditas. Porque de vez em quando, aquilo que conserta é aquilo que cala ou ausenta. O nada que diz tudo.
Quando o verbo é equívoco, o silêncio é corretivo
A vida é barulhenta. Dentro ou fora de nós, nada se aquieta. Queremos nos comunicar, exigimos respostas na velocidade de super-hiper-mega bytes, contabilizamos “notificações”, desejamos ser cutucados de volta. Sem perceber, desaprendemos a silenciar. Desaprendemos a suportar a voz que cala e sofremos com a falta de respostas. Desaprendemos a ser ausência.
De vez em quando é necessário ser silêncio. Habituar-se à própria presença, inteirar-se de sua solidão.
Comunicar tudo sem dizer nada.
São tempos difíceis. Todo mundo fala, todo mundo posta, todo mundo curte. Todo mundo aparece, de frente, de perfil, de costas, sorrindo, triste, indignado. E então você percebe que ser #todomundo não é sua praia. E sente falta do tempo em que as coisas eram mais simples.
Desaprendemos a seguir o conselho de nossas mães porque o mundo mudou. E de tanto desobedecer, nos tornamos reféns da ansiedade, do imediatismo, do “tudo ou nada”, do “agora ou nunca”.
E agora precisamos de um aplicativo que nos salve de nós mesmos. Ontem descobri que já existe_ chama-se “Self-control”. Ideia genial, diga-se de passagem. Porque no fim das contas, autocontrole é raridade. E contar com um aplicativo que faça como seu pai, que lhe mande “engolir o choro” e o ajude a reencontrar aquele que hoje se mistura ao #todomundo, é encontrar um tesouro. Procure, baixe, aprenda, use.
Shhhhh… E Boa sorte!
Somos programados a permanecer naquilo que é conhecido: nossa vida, nossa rotina, nosso mundo, nosso passado.
Mas o que nos faz recomeçar é o inesperado. Sempre é.
E de vez em quando temos que nos submeter ao imprevisível, quer queira, quer não.
Aquilo que te pega de surpresa, num dia comum… a partir do qual tudo muda.
São novas chances, não apenas tormenta. Novas possibilidades, não apenas provações.
E você sofre porque terá que reformular o desenho cerebral. O mapa tão conhecido que te conduziu até aqui.
É doloroso. Mas também bonito. Você ainda não enxerga beleza, mas uma hora olhará pra trás com entendimento e perceberá que foi capaz de rearranjar-se novamente.
O inesperado foi uma benção. Sempre é.
A gente precisa de poesia dentro da gente. De alma perfumada e riso de criança. Às vezes o córrego da vida precisa de sal, de algo que nos desperte por dentro e sirva como melodia de dias felizes, tempero de momentos vazios, açúcar de horas amargas, perfume de noites futuras…
Mães não deveriam ter pressa nem cabelo escovado. Não deveriam usar calças brancas ou sapatos com salto. Principalmente não deveriam ter medo de chuva nem relógios de pulso.
Qualquer tipo de relógio deveria ser banido do tipo mãe, já que pra elas estes deveriam ser itens supérfluos, dispensáveis, irresponsáveis.
Pois é uma irresponsabilidade contabilizar minutos de afobamento diante da eternidade que a infância representa.
Mães não deveriam ter sono e sua fome deveria ser somente de algodão doce, pipoca e quindim.
Mães deveriam ser somente pacientes_ com casacos difíceis de abotoar, bolsos cheios de tranqueiras, paradas repetitivas para recolher objetos enigmáticos pelo caminho, cadarços desamarrados e preguiça de tomar banho.
Mães não deveriam ter obrigações oficiais ou judiciais. Seu ofício deveria ser simplesmente adivinhação, mímica, teatro de fantoches e pintura a dedo. Pra elas não deveria ser necessário manicure, depilação ou baby liss. Seu sorriso deveria ser sempre uma risada barulhenta e sua voz, um convite à fantasia.
Os desfechos acontecem a todo momento; estão acontecendo agora, dentro de você. Então não espere fogos de artifício, viradas de página, ou um “The End” em letras garrafais na sua frente.
Não deixe passar o Natal, Dia dos Pais ou aniversário de casamento pra dizer que ama, pra falar que não quer mais, pra esquecer qualquer vingancinha, pra definir o que quer que seja.
Não adie sua vida e peça a Deus que cure as mágoas, pois essa é a parte mais difícil.
Existem momentos em que é difícil reconhecermos nosso lugar. Parece que a vida dá e tira, coloca e pede de volta, estende a mão e puxa o tapete, mas com paciência, o tempo dirá.
E então um dia, por algum motivo pequeno ou grandioso, você percebe que tem um bilhete autenticado em mãos. Um bilhete que lhe indica exatamente qual sua poltrona, sua janela, por onde verá o mundo passar, e sua companhia nessa viagem.
Casa só se torna lar quando comporta marcas na parede registrando o crescimento do menino, xícara com asinha lascada de tanta prosa e chá, panela queimada no clássico de domingo, saudade estampada no porta retrato da sala.
Não importa quão longe você queira ir, não importa de quem você deseja fugir, seu lar é onde seu coração está…
“Era só isso?” _ Sim, só isso.
Existe sabedoria na descoberta de que tudo é imperfeito e trivial.
Quando fazemos as pazes com a imperfeição dos dias, das pessoas, de nós mesmos… deixamos de estar insatisfeitos; enfim relaxamos e aprendemos a contemplar o presente.
Quem acreditou que o “só isso” não bastaria, comprou a falsa ideia de felicidade, a felicidade plastificada que só funciona no photoshop, mas que não é definitiva nem palpável.
Altos e baixos hão de vir, mas o restante é simples. O restante é modesto. A maioria dos dias é comum, familiar, gratuito _ feito papel pardo atado com barbante…
Algumas coisas são inexplicáveis pra quem está de fora. Existem códigos secretos que só pertencem aos que partilharam a mesma mesa, o mesmo quarto, as mesmas brincadeiras, os mesmos pais. Talvez cumplicidade e camaradagem sejam as palavras certas pra definir esse tipo de amor, que começa com um “não me entrega que eu também não te entrego”, e segue vida afora compreendendo os traumas ocultos, as dores disfarçadas, a raiva acumulada, a alegria infantil, a inércia justificada. Mesmo longe, as mãos se reconhecem e se apoiam. Mesmo sem palavras, o entendimento é real. E no fim das contas, é aquele olhar cúmplice (“não me dedura por favor…”) que nos levanta e aquece. É aquele olhar que justifica e valida a beleza da vida, do mundo, das pessoas. E, de alguma forma que não sei dizer, traz alívio e paz.
Não posso imaginar que aquilo que dividimos há tanto tempo me apazigue como fazem essas lembranças. Nada de mim está mais lá, apenas a memória de velhos pijamas de dormir e a voz suave de mamãe contando histórias pra explicar a vida e justificar o amor.
Toquinho, em “À sombra de um Jatobá”, cantou lindamente : “Poucas coisas valem a pena, o importante é ter prazer… longe do amor de quem nos finge amar…”
Preste atenção à sua volta. Você não precisa de bajuladores, de um milhão de amigos que reafirmem quem você é.
O importante é ter poucos e bons afetos, aquela turminha que sabe do seu sabor, de suas lutas diárias e vitórias merecidas.
Gosto de gente sem agrotóxico. Que não tem vergonha de sua casca “mais ou menos” e se perdoa pelas pragas. Que não tem medo de expôr suas fragilidades do mesmo modo que se vangloria de suas virtudes.
Gente que não se infla para parecer maior do que é.
Gente que se humaniza e se aproxima de mim.
Que não faz alarde de sua felicidade, mas valoriza o que vale a pena _ como a sombra de um Jatobá…
Gosto de gente sem agrotóxico
Então você cresce, amadurece, e aprende, a duras penas, que o mundo não é feito de açúcar, que os adultos nem sempre detêm a verdade (quase nunca detêm…), que algumas coisas não saem do jeito que a gente quer. Mas a dor do crescimento aparece mesmo quando você descobre que algo em que você acreditava deixou de existir.
É assustador ter que reformular tudo aquilo que te constituía e não constitui mais.
Temos que estar dispostos a abrir mão de nossas crenças, de nossos planos tão reais, palpáveis, terrenos… para acreditar numa nova realidade.
E vamos descobrindo que nada é tão real, palpável ou terreno. Que tudo pode mudar num piscar de olhos, enquanto nos apegamos ao que é conhecido.
Percebemos que vivemos, mas não pertencemos. Amamos, mas não controlamos. Temos fé no invisível, mas nunca estamos prontos…
Escolher o mesmo amor todos os dias é um milagre.
Porque todo afeto é feito de pessoas. E pessoas são incompletas e imperfeitas, o amor também.
Tem gente que imagina o amor como solução. Não entendeu que amor é construção…
Infelizmente não é possível obter em pesquisas científicas a partícula fé.
A fé que nos faz crer no invisível _ e nem por isso inexistente. A fé que nos conduz a um estado de paz mesmo quando tudo desmorona e explica a coragem de seguir em frente quando toda explicação falha. A fé que justifica e valida o inexplicável, que traduz o intraduzível.
Fé é não saber, e assim mesmo crer.
Crer na imprevisibilidade da vida, que tece um ponto aqui e arremata lá na frente;
Crer no encontro, na inexplicável certeza de que alguns caminhos tinham que se cruzar _ para o bem ou para nosso crescimento;
Crer mesmo não enxergando… confiar e acreditar na estrada mesmo quando a neblina encobre todo o caminho.
Crer que o fato de estar no lugar certo na hora exata pode ser chamado “sorte”, mas não deixa de ser providência;
Acreditar que coincidências podem ser eventos aleatórios que te conduzem a um propósito…
Não supervalorize o passado, sua “história”, seus traumas, sua dor de cotovelo. Todo mundo tem feridas, todo mundo leva tombos, cada um sabe o que traz na bagagem. Tenha sim coragem de valorizar seus milagres, aquilo que é real e palpável, o terreno onde pisa, as mãos entrelaçadas às suas.
Porque você é um menino e eu ainda posso ser o seu remédio, mas a vida vai lhe mostrar que não sou perfeita, que tenho falhas, desvios e manias, que não possuo varinha de condão nem respostas pra tudo, que a dipirona tem propriedades maiores que minha presença, que não sou digna de ser seu espelho porque meus erros serão fatalmente identificados por você no futuro para que não os repita com seus próprios filhos.
Mas não tem importância, hoje trato de aproveitar cada segundo ao seu lado, gravando na pele a sensação de seu corpo arredondado, sua risada farta e barulhenta, o toque de suas mãozinhas no meu cabelo, seu cheiro, sua respiração profunda quando adormece. Essas são minhas relíquias, tesouros escondidos numa porção extensa do coração, consolo para os dias ruins e saudades futuras…
Nunca mais fui a mesma depois que te conheci. Antes pulava de paraquedas, hoje deduzo os riscos do carrinho de bate bate. Tinha as unhas feitas, ultrapassava os carros pela direita e ia ao shopping pensando só em mim…
Justamente quando eu achava que tinha controle sobre tudo, você veio para me dizer que não controlo nada. Quando eu acreditava que já tinha amado demais, você me faz sentir uma aprendiz em matéria de amor. Quando minha casa se tornou modelo de perfeição e assepsia você invadiu mudando tudo de lugar, sujando as paredes e estofados com seus dedinhos melados, restos de pipoca e confetes coloridos, agregando aos ambientes cadeirões, cercadinhos, bicicletas e skate. Quando achei que era capaz de racionalizar tudo, você me fez adquirir o 6o. sentido, ser mais intuitiva e capaz de expressões como “coração de mãe sente…”
Cada um sabe o que traz na bagagem. E ninguém tem visão de Rx _como na esteira do aeroporto_ para desvendar o que vai dentro do outro. E mesmo tentando explicar, é difícil compreender. Porque somos complexos até para nós mesmos. Assimilamos distorções e colecionamos traumas, que culminam nas horas mais impróprias: um encontro inusitado, um filme bobo, um tropeção sem importância. E choramos “sem motivo”, surtamos sem “razão”, nos declaramos “do nada”…
… Sobreviver é reconhecer novas chances, novos recomeços, novas possibilidades.
Entender que uma janela se fecha enquanto uma porta se abre; entender principalmente que se fixar no cadeado sem chaves é perda de tempo, talvez burrice…
Tome posse de seu governo e vá em busca de suas respostas. Nada pode lhe perturbar se você não permitir. O que mais lhe incomoda não está fora, e sim dentro de você. Viaje para dentro de si mesmo e encontre riquezas por trás das aparentes clarezas. Descubra as razões que te tornam um governante tirano ou compassivo demais. Encontre equilíbrio no domínio e submissão, na disciplina e rebeldia, no caos e organização. Ame-se além do bem e do mal, perdoe-se, tolere-se. Encontre caminhos que lhe conduzam à realização de seus anseios, encare o medo de frente e não busque camuflá-lo com tirania, controle excessivo ou autoridade sem propósito. Cuide do que é seu, valorize-se na medida certa. Guarde seus tesouros e não exponha em praça pública aquilo que lhe é mais caro.
Daí vem o Chico e canta lindamente: “Não se afobe não, que nada é pra já… O amor não tem pressa, ele pode esperar…”
E a gente entende que é isso mesmo.
Que é preciso paciência e um certo trabalho
De entrega e responsabilidade
Confiança e nenhuma contabilidade.
Requer tempo.
Pra construir diariamente. Com moderação e habilidade.
Perdão e maturidade.
Pés no chão e força de vontade.
A vida gosta de sutilezas e fala nas entrelinhas. As respostas que buscamos podem estar diante de nossos olhos e não percebemos, ocupados que estamos com nossos egos, dores, buscas, anseios, decepções. Enquanto choramos no chão do banheiro por um amor perdido, alguém pode estar nos identificando em meio à multidão.
Não sei se existe destino ou é a ocasião que nos presenteia de vez em quando. Mas a vida tem dessas coisas, espera estarmos maduros, calejados e sofridos o bastante para reconhecermos o amor…
Mas então o mundo mudou, tudo foi ficando mais rápido, fácil, dinâmico, moderno, fugaz. E no lugar daquela câmera com rolo 24 poses e flash acoplado, temos celulares que fotografam e imediatamente postam fotos cheias de filtros e efeitos nas redes sociais. Tudo muito luxuoso, prático e indolor. E não percebemos o quanto mudamos também. Porque esquecemos o tempo em que tínhamos que esperar as 36 poses serem gastas _ com dignidade, parcimônia e comedimento_ para depois saber se saímos bem ou não na foto. Esquecemos como tudo era mais lento, simples, arcaico e até romântico…
Então é de se esperar que a gente acredite que a vida tenha adquirido esse molejo também. E passamos a exigir da vida _ coitada!_ o swing das câmeras digitais. E começamos a cobrar do amor_ esse culpado!_ a eficácia dos flashes embutidos. E ficamos indignados com a vida e emburrados com o amor quando eles não têm essa rapidez, categoria, design e evolução. Como se tudo fosse descartável, substituível, soft e clean. Esquecemos que os tempos mudaram, mas aqui dentro continuamos precários. Muito precários…
Em meados dos anos 80, lá em Minas, o costume era comprar leite na porta de casa, trazido pela carroça do leiteiro, que vinha gritando “Ó o lêeeeeite!!!”.
Minha mãe corria porta afora e o leite _ fresquinho, gorduroso e integral_ era despejado na leiteira para nosso consumo. Porém, era um leite impuro, não pasteurizado, e necessitava ser fervido antes de consumir.
No início, minha mãe tinha um ritual no mínimo interessante para esse evento: Colocava o leite na fervura e saía de perto.
Literalmente esquecia.
Simplesmente I.g.n.o.r.a.v.a.
É claro que o leite fervia, subia canecão acima e despencava fogão abaixo. Eu era criança, e quando via a conclusão do projeto, gritava: “Mãe!!! O leite ferveu!!! Tá secaaaannndo…” e ela vinha correndo, apavorada, soltando frases do tipo “Seja tudo pelo amor de Deus…” e desandava a limpar o fogão, o canecão, e ver o que sobrou do leite_ pra tudo se repetir no dia seguinte, tradicionalmente.
Até hoje não entendo o porquê dessa técnica. Parecia combinado, tamanha precisão com que ocorria.
Mais tarde, ela mudou de estratégia. Eu já era maiorzinha e podia ficar perto do fogo. Assim, ficava ao lado do fogão, de olho no leite esquentando_ pra desligar assim que a espuma subisse, impedindo que transbordasse. Foi assim que aprendi uma grande lição:
O leite só ferve quando você sai de perto.
Não adianta ficar sentada ao lado do fogão, fingir que não está ligando; até pegar um livro pra se distrair. É batata: ele não ferve. Parece existir um radar sinalizador capaz de dotar o leite de perspicácia e estratégia. Porque também não basta se afastar fingindo que não está nem aí. O leite percebe que é só uma estratégia. E só vai ferver ( e transbordar) se você esquecer DE FATO.
A vida gosta de surpresas e obedece à “lei do leite que transborda”: Aquilo que você espera acontecer não vai acontecer enquanto você continuar esperando.
Antigamente o sofrimento era ficar em casa aguardando o telefone tocar. Não tocava. Então, pra disfarçar, a gente saía, fingia que não estava nem aí (no fundo estava), até deixava alguém de plantão. Também não tocava. Porém, quando realmente nos desligávamos, a coisa fluía, o leite fervia, a vida caminhava.
Hoje, ninguém fica em casa por um telefonema, mas piorou. Tem email, msn, facebook, sms, e por aí vai. O celular com internet sempre à mão, a neurose andando com você pra todo canto. E o leite não ferve…
Acontece também de você se esmerar na aparência com esperança de esbarrar no grande amor, na fulana que te desprezou, no canalha que te quer como amiga. Então ajeita o cabelo, dá um jeito pra maquiagem parecer “linda e casual”, capricha no perfume… e com isso faz as chances de encontrá-lo(a) na esquina despencarem. Esqueça baby. O grande amor, a fulaninha ou o canalha estão predestinados a cruzarem seu caminho nos dias de cabelo ruim, roupa esquisita e couve no cantinho do sorriso.
Do mesmo modo, se quiser engravidar, pare de desejar. Não contabilize seu período fértil e desista de armar estratégias pro destino. Continue praticando esportes radicais, indo à balada, correndo maratonas. Na hora que ignorar de verdade, dará positivo.
A vida _como o leite_ não está nem aí pra sua pressa, pro seu momento, pra sua decisão. Por isso você tem que aprender a confiar. A relaxar. A tolerar as demoras. A não criar expectativas. A fazer como minha mãe: I.g.n.o.r.a.r…
E lembre-se: Tem gente que prefere ser lagarta do que borboleta. Sem paciência com os ciclos, destrói seu casulo antes do tempo e não aprende a voar.
A vida gosta de surpresas e obedece à “lei do leite que transborda”: Aquilo que você espera acontecer não vai acontecer enquanto você continuar esperando.
O leite só ferve quando você sai de perto.
Crianças, quando ouvidas, entendidas e valorizadas, carregam uma sabedoria ímpar, uma sensibilidade única e uma poesia desconcertante. São capazes de tirar sorrisos de onde aparentemente só existem cansaço e dor. Não desconfiam do tempo, das tristezas, do caos diário. Vivem num mundo à parte e por isso nos iluminam com sua espontaneidade surpreendente e habilidosa.
A poesia escorrerá através do tempo, indo embora na velocidade com que chegará o amadurecimento.
Vamos comemorar a independência, o sucesso e o fim das desobediências, mas nada substituirá a alegria latente de ter um garotinho em casa, um ser movido a sonhos e fantasias, que povoava nossos dias de alegria _ feito vestido laranja com bolinhas vermelhas…
E eu constato surpresa que, quando achava que nenhuma rosa poderia me falar mais, a imagem do menino que se entretém com a flor e pensa coisas que eu não sei contar, me comove de um jeito novo, inimaginável. Porque virão outras rosas e outros espinhos em sua jornada, mas talvez pra mim _ e só pra mim_ essa rosa será o símbolo de um momento assim_ perfeito.
Então encontro na rosa do menino a metáfora que me reconecta à minha sabedoria interior, aquela que todos nós temos mas deixamos esquecida diante da imperfeição diária e do barulho interno. Mesmo correndo o risco de soar clichê _pois ainda assim, pra mim e para o menino, a experiência é primeira_ esses novos horizontes que se descortinam me fazem entender que existem e existirão espinhos, mas nem a aparência ou o medo de ser espetado podem afastar o que de belo existe; e não conseguem esconder a beleza, e o fascínio, e a alegria do todo, que é simplesmente O viver.
Acho que foi em 1993. Numa entrevista _ histórica_ pra MTV, Renato Russo disse a Zeca Camargo que achava lealdade mais importante que fidelidade. Eu era menina, mas lembro que gravei a entrevista numa fita VHS e revi inúmeras vezes, me intrigando sempre nessa parte.
Eu entendia pouco acerca do amor, dos afetos, da durabilidade das relações. Mas Renato Russo me influenciava _ numa época em que meu pensamento ainda estava sendo moldado_ e eu tentava, imaturamente, entender aquela declaração.
Isso foi há vinte anos. De lá pra cá, relações se construíram e desconstruíram na minha frente. E vivendo minha própria experiência, finalmente consigo entender, e de certa forma concordar, com Renato Russo.
A fidelidade é permeada por regras, obrigações, compromisso. É conexão com fio, em que te dou uma ponta e fico com a outra. Assim, ficamos ligados mas temos que manter a vigília para o fio não escapar e nosso aparelho não desligar. Já a lealdade_ permeada pelo vínculo, vontade e emoção_ é o pacto que se firma não por valores morais, e sim emocionais. É conexão “wi-fi: fidelidade sem fio”, que faz com que eu permaneça unida a você independente da existência de condutores ou contratos. Permaneço em pleno funcionamento por convicções permanentes e duradouras, invisíveis aos olhos.
Amor nenhum se atualiza sozinho. O tempo passa, a gente muda, o amor modifica. E nessa evolução toda, a única tecla capaz de atualizar e permitir a duração do amor, é a tecla da lealdade. É ela que conta ao outro que estou mudando, que não gosto mais daquele apelido, ou que aquela mania de encostar os pés gelados em mim embaixo do cobertor ficou chata. É ela que diz que eu gosto tanto do seu cabelo jogado na testa, por que é que não deixa sempre assim? Ou que traduz que tenho medo de te perder, mas ainda assim preciso lhe contar que na época da faculdade usei drogas, pratiquei magia ou fiz um aborto. É ela que permite que coisas ruins ou não tão bonitas encontrem um refúgio, um lugar seguro onde possam descansar em paz.
É ela que faz o amor se atualizar e durar…
Lealdade é não precisar solicitar conexão. É conectar-se sem demora, reservas ou desconfianças. É compartilhar a senha da própria vida, com tudo de bom e ruim que lhe coube até aqui.
Leal é quem conhece as fraquezas, revezes, tombos e dificuldades do outro e não usa isso como álibi na hora da desavença; ao contrário, suporta sua imperfeição e o ajuda a se levantar.
Leal é quem lhe defende na sua ausência.
É quem prepara seu terreno, se preocupa com sua dor, antecipa a cura;
Leal é aquele que é fiel por opção, atento ao amor que possui, zeloso com o próprio coração;
É quem não omite o próprio descontentamento, mas aponta o que pode ser feito pra não se perder…
Então sim, eu concordo com Renato Russo e acho que deslealdade separa mais que infidelidade. Pois não adianta não trair por fora, se traio o amor por dentro. Se tenho medo de arriscar e polpo meu afeto de se conhecer por inteiro; se não tolero meu caos e vivo uma mentira imaculada. Se não absolvo minha história nem perdoo meu enredo, desejando fazer dele uma fábula fantasiosa aos olhos de quem amo. Se contrario minha vontade e disposição e omito minhas intolerâncias pra não ferir _ me afastando silenciosa e gradativamente até a ruptura. Se me apresento por partes_ as melhores ficam aparentes, as nem tanto eu omito_ e não permito ser conhecido.
Finalmente, se não confio a ponto de compartilhar a poltrona do carona_ ao meu lado_ reservando apenas o banco de trás ( e olhe lá!) à minha companhia nessa viagem…
Carta para Coraline
Quando você fugiu pela porta secreta, fiquei assustada por perceber que aquilo não ia melhorar em nada as coisas pra você.
Sabe, de vez em quando é normal sentir que a vida que vivemos não é a vida que escolhemos… Quando isso acontecer, lembre-se da estrada de tijolos amarelos; aquela, que Dorothy seguiu quando o mundo amanheceu irreconhecível.
A estrada é longa e deixará seus pés doloridos, mas ao final, o encontro com o mágico será tão somente o encontro consigo mesma, descobrindo que tem aqueles dons escondidos pensamento, sentimento e vontade tão reais e materializados quanto as figuras do espantalho, homem de lata e leão.
Esses dons já existem em você, Coraline.
Mas talvez precise perceber que a liberdade também.
É tão difícil nos sentirmos livres! Atribuímos as razões de nossas frustrações fora de nós, encontramos bodes expiatórios pra nossa falta de sorte, e não percebemos que o caminho sempre esteve a nossa mercê e disposição, mas preferimos não arriscar.
Supomos que deixar nossas folhas em branco seja mais seguro do que simplesmente usar a borracha. Somos tão covardes, Coraline…
Tome cuidado pra não cair na armadilha da perfeição. Essa talvez seja a pior das prisões, e pode arrastar uma infinidade de consequências ruins derivadas dessa vontade de que tudo corra perfeitamente bem.
Nunca se esqueça: mesmo quando as coisas dão errado, a gente sobrevive.
Então desista dessa mania de levar o guarda-chuva dentro da mala para o caso de chover. Se chover, aproveite pra voltar a ser criança molhada, com o cabelo arrepiado e maquiagem escorrida.
Tolere os imprevistos, encontre neles sua oportunidade de crescimento.
Não encha a despensa com tantos mantimentos felizmente não vivemos em tempos de guerra e adaptar aquela receita vai estimular sua criatividade.
Corra mais riscos; deixe o protetor solar de lado por alguns instantes.
Não contabilize prós e contras de cada atitude de vez em quando a gente perde, de vez em quando a gente ganha; ouça mais seu coração do que a opinião de sites especializados, livros ou conversas de estranhos.
Não abasteça sua geladeira com tudo o que o Globo Repórter diz semana que vem a orientação é outra e você não descobriu o que é saudável e possível pra você, só você.
Aprenda a confiar no seu taco, a ouvir sua intuição, a acreditar que é capaz de fazer boas escolhas sem um guru de estilo ou receita farmacêutica carimbada.
Confie, você não imagina o quanto isso pode ser libertador e transformador.
Antes que eu me esqueça: prefira uma verdade feia a uma mentira bonita. De vez em quando somos tentados a disfarçar nossas miudezas, e criamos fantasias onde pensamos que podemos nos refugiar. Mas isso dura tão pouco, Coraline… E quando a verdade aparece, o estrago é tão devastador… Assuma sua vida do jeitinho que ela é, sem tirar nem pôr; e nunca se envergonhe daquilo que lhe aconteceu. Essa é sua história, e negá-la só fará com que se sinta mais presa, mais encarcerada, mais infeliz.
Aprenda a tolerar seu enredo.
Vou te contar: Se existe um lugar onde pode se refugiar em segurança, esse lugar é na verdade. Não negue seus afetos, suas alegrias, suas vitórias e desejos, mas principalmente, não negue sua dor. A gente só sai da tristeza quando se permite vivenciá-la. Pode ser que um dia você sinta que seus olhos enxergam melhor quando estão úmidos. Isso acontece porque a lágrima lubrifica a visão, enquanto a tristeza nos reconecta ao que de mais verdadeiro existe em nós. Então chore, chore, e não disfarce seu abandono, sua decepção, raiva e frustração. Mas depois dance, dance, dance… pois a dor também tem o seu feitiço, Coraline.
Aproveite a viagem sem tentar entender cada passo. Nem tudo tem explicação lógica e a vida, na maioria das vezes, é injusta mesmo mas quem somos nós para julgar aquilo que é realmente justo? Então não fiquei olhando pro lado e tomando conta do que não lhe pertence. Ame o que lhe cabe, e tolere as demoras, os percalços e falhas. Não exija demais de si mesma nem dos outros. Esqueça um pouco o relógio e se perdoe quando preferir dormir um pouquinho mais no domingo. Você não é o homem de lata e muito menos o de ferro!
Acima de tudo, seja autêntica. Não endureça com medo de ter sua sensibilidade revelada nem se alegre demasiadamente para que não lhe percebam as lágrimas. Seja autêntica nos desejos, no descontentamento, na necessidade de ficar sozinha ou dizer “não”. Não se desdobre pra agradar todo mundo, isso é muito cansativo, desastroso e não lhe ensina o respeito por si mesma.
Por fim, mais uma palavra de bolso: Tenha coragem de amar e ser amada. Mas não se surpreenda quando o amor lhe parecer imperfeito, cheio de nós, pontas e contradições. Nenhum amor é igual ao outro, e tentar algum modelo é desconstruir a liberdade de ser quem você é.
Por isso, não tenha medo de romper a fronteira daquilo que lhe parece seguro. Siga pela estrada de tijolos amarelos e quem sabe, além do arco-íris, encontre a si mesma mais amadurecida e feliz, Coraline.
Crianças, quando ouvidas, entendidas e valorizadas, carregam uma sabedoria ímpar, uma sensibilidade única e uma poesia desconcertante. São capazes de tirar sorrisos de onde aparentemente só existem cansaço e dor. Não desconfiam do tempo, das tristezas, do caos diário. Vivem num mundo à parte e por isso nos iluminam com sua espontaneidade surpreendente e habilidosa.A poesia escorrerá através do tempo, indo embora na velocidade com que chegará o amadurecimento.Vamos comemorar a independência, o sucesso e o fim das desobediências, mas nada substituirá a alegria latente de ter um garotinho em casa, um ser movido a sonhos e fantasias, que povoava nossos dias de alegria _ feito vestido laranja com bolinhas vermelhas…
Por que é tão difícil sairmos de nossas zonas de conforto, que podem nem ser tão confortáveis assim, mesmo sob o sol quente rachando a pele, mesmo sabendo que logo ali à frente há promessa de mais alegria e menos frio?
Porque ser livre é mérito dos que têm coragem. Uma conquista dos que rompem o vínculo com a culpa e experimentam suas próprias leis, já que a liberdade é almejada mas também complicada. Difícil como ter o oceano à frente e não saber o que fazer com ele. Acreditar no prazer que existe em estar submerso e ter medo de água fria. Enxergar a beleza, admirar a coragem dos que se arriscam e preferir ficar na areia observando com brandura e pouca bravura.
Esquecemos que somos livres. Preferimos culpar a água gelada, o vento que chega sem avisar, a sombra que surge do nada. Esquecemos que dentro de nós tem sempre um sol que aquece, uma água morninha convidando pra um mergulho, uma noite iluminada.
Optamos em ser apenas observadores, sentados em cangas esperando pela vida que acontece de verdade fora de nós. Enquanto isso, sempre haverão meninos de pele morena rindo ao sabor do mar, nos mostrando que perdemos tempo com previsões, limites, juízos e regras inúteis enquanto a vida escapava gentilmente como areia descendo pelos dedos.
Porém, liberdade não é para amadores, para quem não se conhece. Ao contrário, é coisa de gente séria, que se arrisca com responsabilidade e tem coragem de avançar e também recuar, de quem percebe a agitação do mar e não vacila com a própria vida. Pois ser livre não tem a ver com se atirar descontroladamente e sim se conhecer, aprofundar no mistério que habita e entender de si mesmo sem julgar, não apenas surfando na superfície da vida mas sim procurando
respostas, encontros, disposições…
Uma hora você vai descobrir que certas coisas acontecem sem a nossa permissão, mas ainda assim, nos ajudam a sair de nosso centro e finalmente abrir aquela gavetinha escondida que nunca fomos capazes de escancarar….
“Se nada nos salva da morte, pelo menos que o amor nos salve da vida”…
Pois a vida é uma experiência dura, muitas vezes confusa, incompreensível e incerta; e reconhecer um abrigo no meio de tanta inquietude é acolher o tempo da clareza, em que tudo passa a ser suprido de sentido.
Alguns amores nos salvam da vida. Por resgatarem quem somos depois que partes de nós mesmos são deixadas pelo caminho. Por fazerem de nossas cicatrizes parte de suas estruturas também. Por acolherem nossa história com delicadeza, transformando o que era imperfeito numa nova possibilidade. Por permitirem o encontro com a esperança, o cortejo com a fé. Por dividirem as angústias do existir, permitindo que nossos fantasmas sejam lapidados, nunca enterrados.
O amor nos torna vulneráveis. Ainda assim, percebemos sua urgência quando compreendemos que a vida é uma faísca, um piscar de olhos entre o nascente e o poente de nós mesmos.
Como diz a canção, “a vida tem sons que pra gente ouvir precisa aprender a começar de novo…” E descobrimos que começar de novo não significa retroceder, mas entender que não haverá mais de nós em cada esquina ou aeroporto. Que não há outro tempo em que estaremos juntos além do tempo presente que se descortina diariamente. Que não seremos melhores ou maiores além do que podemos ser nessas horas em que vivemos e permanecemos lado a lado.
De vez em quando torna-se necessário fazer o caminho de volta para que o amor nos reconheça também. Desistir das corridas, dar trégua aos projetos ‘imprescindíveis’ , abandonar rotinas desgastadas pelo tempo, apaziguar o contrato com a pressa. Resgatar os laços, valorizar os momentos, perceber-se merecedor daquilo que não se toca nem se vê. Arriscar a travessia, suportar os desvios do percurso, desistir de antigas rotas, aplacar a saudade do que ainda está lá.
O tempo leva embora de diversas maneiras, enquanto a vida traz sem grande alarde.
Que haja lucidez. Lucidez para enxergar os presentes que recebemos e poucas vezes enxergamos. Lucidez para valorizar o que nos pertence de fato. Lucidez para aceitar o fim de um tempo e o começo de outro, diferente, mas nem por isso pior. Lucidez para acolher o que é verdadeiro, real e provido de sentido.
Lucidez para amar e ser amado. Lucidez para finalmente permitir que o amor nos salve da vida…
Ser um “mulherão” é ter charme para dizer não na hora certa e sim para se sentir plena. Ser independente de corpo e alma. Não são apenas o dinheiro e o trabalho que nos libertam, mas a autenticidade de sermos nós mesmas. Nenhuma mulher que se preze, vai permitir que “tem que ser assim ou assado”, porque ela tem personalidade própria, se ama antes de qualquer restrição e não se acata a ditaduras alheias.
“E de repente, num dia qualquer, acordamos e percebemos que já podemos lidar com aquilo que julgávamos maior que nós mesmos.
Não foram os abismos que diminuíram, mas nós que crescemos…”
Sou farinha do mesmo saco de quem me viu modificar com a idade, e transformou-se comigo, superando as dificuldades do caminho e prosseguindo lado a lado, compreendendo que ainda que os roteiros sejam distintos, permanece aquela linha invisível ligando os mundos…
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Cuide do interior. Erotize a alma. Enriqueça seu tempo com uma nova receita culinária, boas conversas, um curso de canto ou dança. Leia, medite, cultive um jardim. Sinta o sol no rosto e por um instante não se preocupe com o envelhecimento cutâneo. Alongue-se, experimente o prazer que seu corpo ainda pode lhe proporcionar. Não se ressinta das novas dores, da pouca agilidade, dos novos vincos. Descubra enfim que a alegria rejuvenesce mais que o botox.
E não se esqueça: em vez de se concentrar no lustre da maçã, trate de aproveitar o sabor que ela ainda é capaz de proporcionar…
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Já não importa mais a casa onde morei. Importa sim, a casa dentro de mim. Sabendo que vou me lapidando a partir do que existe, mas também daquilo que vivi e deixei partir. Entendendo que minha fachada não é somente o reboco visível, mas sim muitos outros alicerces imperceptíveis aos olhos. Descobrindo que também abrigo palavras não ditas, caminhos não escolhidos, sonhos não realizados. Aceitando a vida como ela é, cheia de acertos e imperfeições, percalços e contradições, desafios e realizações…
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Fabíola Simões
Casa de vó é um monte de coisas mas principalmente um recanto de saudades, de saber que ali o tempo é escasso e passa depressa, de entender que nesse refúgio os momentos devem ser sugados até a última gota, porque a lembrança do quintal, do alpendre florido de orquídeas e da TV sintonizada nos canais tradicionais é muito passageira, ainda que eterna…
(Fabíola Simões)
“Faça as malas se puder. Faça planos, trace rotas, decifre mapas. Vá a lugares que só conheceu em seus sonhos, pise firme no chão que escolheu e respire fundo na atmosfera que te acolheu. Abandone bagagens desnecessárias e despeça-se do que não faz mais sentido. Olhe-se nos olhos frente ao espelho e encontre uma pessoa renovada. Lave o rosto, penteie o cabelo e tome uma xícara de café. Sinta-se vivo, sinta-se outro, sinta-se pronto pra começar de novo.”
Foi Domingos de Oliveira que disse: “Aqueles que se amaram muito um dia têm que permanecer amigos para sempre, senão o mundo fica cruel demais“. Pois eu penso da mesma forma. Não há crueldade maior que nunca mais trocar algumas palavras com aqueles que um dia amamos. Não há insensatez maior do que acreditar que não é possível olhar para trás com ternura e afeição, sem um pingo de má intenção. Não há incoerência maior que imaginar que o amor não possa se transformar numa amizade real e desprovida de recaídas.
Foi Clarice Lispector que disse: “De agora em diante eu gostaria de me defender assim: é porque eu quero. E que isso bastasse”. E tenho que concordar com Clarice, pois ninguém consegue viver com saúde por muito tempo tentando só agradar aos outros. Ninguém é feliz por inteiro se submetendo ao julgamento alheio. Ninguém cresce completamente se não aprende a recusar aquele convite, a impor limites, a fugir do combinado e negar um favor. Ninguém amadurece sem aprender a dizer “não” e dormir em paz com isso.
Tem dias em que a gente tem que se pegar no colo. Ouvir mais o que nosso interior quer dizer e respeitar os desejos genuínos de nosso coração.
É preciso muita maturidade para aprendermos a valorizar nossas escolhas. Para entendermos que a vida que nos cabe é a melhor vida possível. Para acreditarmos que temos a noção exata daquilo que é melhor para nós.
Durante muito tempo temos mais confiança no olhar de fora sobre nossa própria vida do que em nós mesmos. Aceitamos mais os conselhos alheios do que nossa própria intuição. E ficamos reféns dessa condução, desse direcionamento, dessa autorização. E pouco a pouco nos afastamos de quem somos, de quem gostaríamos de ser, do caminho que pretendíamos seguir. Relevamos nossos anseios e modificamos nossa história para caber dentro das expectativas de alguém.
Crescer é aprender a seguir com os próprios pés, ouvindo a própria voz, dando sentido às próprias inquietações. É reconhecer-se apto a fazer boas escolhas, a se posicionar diante das situações difíceis ou constrangedoras, a não se culpar quando decide enlouquecer de vez em quando.
Foi Clarice Lispector que disse: “De agora em diante eu gostaria de me defender assim: é porque eu quero. E que isso bastasse”. E tenho que concordar com Clarice, pois ninguém consegue viver com saúde por muito tempo tentando só agradar aos outros. Ninguém é feliz por inteiro se submetendo ao julgamento alheio. Ninguém cresce completamente se não aprende a recusar aquele convite, a impor limites, a fugir do combinado e negar um favor. Ninguém amadurece sem aprender a dizer “não” e dormir em paz com isso.
Há momentos em que temos saudade de nós mesmos. Sentimos falta de quem éramos antes de nos misturarmos a todo mundo e de nos ausentarmos de nossa própria vida. Sentimos falta de nossa versão mais cheia de amor próprio que não se anulava tanto pra querer agradar. Talvez seja esse o preço a pagar por não sabermos nos posicionar. O gosto amargo que temos que engolir por nos distanciarmos de nossa essência, da necessidade de recolhimento, da vocação de seguirmos nosso coração.
O importante não é somente avançar, mas saber se resguardar. Aprender a sossegar, a ficar consigo mesmo, a silenciar. Descobrir o que lhe faz bem, o que é de seu feitio, o que lhe deixa em paz e é coerente com seu jeito único de ser. Só você sabe do que é capaz, só você entende os passos que pode dar. E não cabe a você dançar uma dança que não é sua só pelo desejo de agradar. Não cabe a você cortar as próprias asas só para se enquadrar.
De vez em quando a gente tem que pisar duro para sobreviver. Só dar satisfações a quem interessa e abandonar inseguranças desnecessárias. Não ter medo de voltar atrás, de desistir de um projeto, de arriscar uma versão autêntica _ e talvez espantosa_ de si mesmo. Ter coragem de recusar um convite, de dizer “não” a uma proposta, de se expor como é de fato. Descobrir, não sem uma ponta de satisfação, que unanimidade é muito chatinha; e que bom mesmo é assumir o que eu quero… e que isso baste.
“Gosto que me digam a verdade. Eu decido se ela dói ou não”. Nem sempre a verdade vai nos trazer alívio ou alegria, mas a vida precisa ser vivida com clareza, por mais que essa transparência traga dor. Ainda assim, é uma dor que nos localiza, nos situa, nos confronta com o amadurecimento e aprendizado. Pois tudo está em pratos limpos, às claras, sem manipulações, hipocrisias, omissões e mentiras.
A mentira “bonita” é muito mais devastadora que a verdade intragável. Por mais que a mentira tenha “boa intenção”: poupar alguém da realidade, proteger, resguardar… ela causa rupturas amargas na confiança, e pode diminuir a fé que essa pessoa tem na vida, nas circunstâncias e nas pessoas.
Os dias mais marcantes são aqueles em que a gente sai deles um pouco modificados. São os dias que nos lembraremos para sempre, não importa quanto tempo passe. São os dias em que, sem anestesia alguma, somos confrontados com as verdades que nos fazem crescer, e de alguma maneira, enrijecer.
Já perdi amigos, me separei de pessoas insubstituíveis, sofri decepções absurdas, descobri que ninguém é perfeito. Fui feliz, me atirei de cabeça, confiei demais, me frustrei na mesma proporção, tive dúvidas, morri de arrependimento.
Fui podada pela vida, aparada em minhas arestas, corrigida em minhas estruturas. Descobri novos arranjos, me equilibrei com as perdas e decepções, formulei novos caminhos. Aprendi que continuamente sofremos um processo de renovação natural, como as plantas. Faz parte da vida, do processo de nos tornarmos melhores com o tempo, extraindo os ramos ruins e mantendo os bons…
Quantas vezes não sentimos raiva de nós mesmos por termos um coração tão bom com quem não merece, e nos arrependemos de nossa bondade, docilidade e generosidade para com aqueles que simplesmente não estão nem aí? Quantas vezes não sentimos que perdemos nosso tempo alimentando relações unilaterais, tentando ser gentis, atenciosos e amorosos com quem jamais se importou? Não se trata de endurecermos nosso coração, de deixarmos de lado a doçura e a delicadeza, mas sim de aprendermos a separar o joio do trigo. De começarmos a ser mais afetuosos com nós mesmos, e com isso aprendermos a distinguir o que deve ser valorizado do que tem a obrigação de ser ignorado.
Muitas vezes a gente se engana. Erra feio. Investe tempo e atenção em alguém “especial” na certeza de que em algum momento será retribuído. Fantasiamos desfechos dignos de contos de fadas e projetamos nossas ilusões em cima de pessoas tão diferentes de nós, romantizando atitudes e acreditando em inúmeras possibilidades irreais. Quando tudo corre conforme o planejado, ótimo. Porém, com alguma vivência e algumas “quedas do cavalo”, percebemos que a expectativa é prima-irmã da decepção. Mas ninguém está imune à desilusão; simplesmente porque amar, ainda que seja um risco, continua sendo o maior combustível da vida.
Não espere retribuição. Não espere reciprocidade. Não espere “pagamento” ou premiação por aquilo que você se dedicou de graça, porque quis. Faça o que quer fazer porque isso te faz bem, isso te torna uma pessoa melhor, isso acalma o seu coração ou te livra de remorsos. Porém, não crie expectativas nem espere ser reconhecido por sua bondade e generosidade. Tenha um coração bom porque isso será bom para você também, mas não porque deseja aplausos ou reconhecimento. Seja atencioso, cuidadoso e afetuoso, mas antes tome conta de você. O maior responsável por você é você mesmo, e por isso não se descuide de suas necessidades e vontades.
Nem todos preferem as rosas, nem todos desistem dos cactos, mas quando você descobre a sua melhor versão e se ama assim, você ensina aos outros como quer ser amada. E isso basta…
A Soma de Todos os Afetos
Somos instantes
Somos instantes… e as escolhas que temos à nossa disposição não estarão disponíveis para sempre.
Outro dia, navegando na internet, vi a imagem de um muro pichado com a frase: “Somos instantes”. A frase ficou na minha cabeça, e hoje, dias depois, conferindo as fotos no celular (com aquele efeito incrível de captar o momento em que a foto foi tirada acompanhada de som e movimento), me lembrei da frase no muro.
Somos instantes… e por mais que desejemos acreditar que a vida é uma jornada longa, onde sempre haverá tempo de amar mais, nos entregar mais, resolver nossas pendências, conceder aquele perdão… esse momento não existirá em nenhum outro lugar senão no agora.
Somos instantes… e as escolhas que temos à nossa disposição não estarão disponíveis para sempre. Por isso é primordial não deixar as oportunidades passarem, os sonhos arquivarem, os projetos desandarem. O tempo não pára, ele corre depressa sem esperar retardatários. O bilhete não pode ser remarcado, e seu lugar não pode ficar vago.
Somos instantes… e por isso há de se comemorar as datas especiais, soprar as velinhas nos dias festivos, encher de balões a sala de estar, cantar versos de Vinícius, dançar um tango emocionado, reunir a família em torno da mesa de jantar.
Somos instantes… e assim não pode haver economia de roupa de cama nova, taças brilhantes da cristaleira, lingerie especial, sapato lustroso e vestido colorido.
Somos instantes… e aquela viagem tem que deixar de ser um sonho para virar disposição de malas prontas e voo alto. Economize, pesquise, viabilize. Vá conhecer um novo lugar, se envolver com outras culturas, experimentar novos sabores. Torne real os planos de seu coração e experimente a concretização de sua emoção.
Somos instantes… e por isso não se pode deixar para depois qualquer pendência ligada ao coração. Decepções ocorrem a todo instante, e por mais difícil que pareça, é nos momentos difíceis que a gente aprende a se curar. Então abra a janela e refresque o ar. Borrife perfume nos seus pulsos e solte os cabelos sem medo de embaraçar. Lembre-se de que tudo muda a todo momento, e que as mágoas só permanecem se a gente deixar.
Somos instantes… e assim todo momento vivido é um momento de crescimento e aprimoramento. Que a gente aprenda com os erros e acertos, e que permaneça o que nos faz bem. Entendendo que a sabedoria é resultado do que passou, mas é no presente que ela mostra o que a gente já conquistou. Abrace a alegria, dê as mãos à sabedoria. Dance em ritmo acelerado com a fantasia e respeite a calmaria. Não tenha medo de arriscar desejos, desenvolver projetos e sonhar fora do ninho.
Somos amor, sonhos, conquistas. Somos medos, decepções, mágoas. Somos mistério, alegria, fantasia. Somos força e vulnerabilidade; solidão e multidão. Somos tudo e nada, grandiosidade e pequenez, busca e encontro.
Porém, acima de tudo, somos instantes…
Ela sabia que havia diferença entre os finais felizes e os finais necessários, mas ainda assim insistia em acreditar que, do seu jeito torto, devagar, e cheio de ilusões, era capaz de modificar a realidade e enxergar felicidade nas circunstancias miúdas, muitas vezes esquecidas e despercebidas. Ela apostava mais na doçura que na amargura, e tinha uma fé inabalável de que, mesmo que seu caminho estivesse mais nublado que ensolarado, Deus sussurrava em seu ouvido: “não desista, menina!”
Ela não fingia ser assim. Nem tampouco se esforçava. Tinha nascido poesia, e se encantava com pequenos galanteios, letras de música falando de saudade, versos de Caio Fernando Abreu num livro antigo e cheiro de café numa livraria charmosa. Não sabia guardar rancor, se esforçava para se desapegar daqueles que a rejeitavam e rascunhava sonhos num caderno doado.
Ela acostumou-se a ser poesia, a enxergar poemas, a extrair delicadezas, a desejar gentilezas. E acabou calculando errado. Na sua mente tão congestionada, permitiu que ele, tão frio e errado, ali fizesse morada. Dentro do seu coração generoso, não cabiam dúvidas e divagações. E por isso ela insistia em ver nele versos que ele nunca soube ler. Ela teimava em ouvir dele poemas que ele nunca quis recitar. Ela esperava dele danças que ele nunca ousou convida-la para dançar. Ela dançava sozinha, escutando em seu ouvido canções que ela jurava que ele havia composto para eles, mas era tudo fruto de sua imaginação, de seu encanto pela vida, de sua alma colecionadora de ilusões.
Um dia ela acordou e percebeu que talvez a felicidade também tivesse a ver com pontos finais. Que estava na hora de guardar seu amor por dentro e direcionar seu afeto para si mesma. Começou a entender que não era fácil desistir dele, porque, mais do que ama-lo, amava a sensação que ama-lo lhe provocava. Devagar descobriu que poderia fazer poesia do vazio e das esperas. E que, em algum lugar, não muito longe dali, haveria um menino poema como ela, capaz de lembra-la todos os dias que é preciso força e coragem para insistir na doçura num mundo cheio de amargura…
— Fabíola Simões
Existe um ciclo afetivo que determina um prazo até que estejamos prontos para nos relacionar novamente com aqueles que um dia amamos. Esse ciclo estabelece um período de tempo em que temos que nos curar e sermos capazes de direcionar nosso afeto, nosso carinho e nossas boas lembranças para um novo tipo de relação: a amizade.
Foi Domingos de Oliveira que disse: “Aqueles que se amaram muito um dia têm que permanecer amigos para sempre, senão o mundo fica cruel demais“. Não há crueldade maior que nunca mais trocar algumas palavras com aqueles que um dia amamos. Não há insensatez maior do que acreditar que não é possível olhar para trás com ternura e afeição, sem um pingo de má intenção. Não há incoerência maior que imaginar que o amor não possa se transformar numa amizade real e desprovida de recaídas.
Por alguma razão seguimos em frente por caminhos distintos, mas isso não significa que colocamos uma pedra em cima do que fomos ou do que vivemos. Carregamos em nós retalhos de nossas vivências e vestígios de nossas experiências afetivas.
Aqueles que um dia se amaram muito jamais poderão agir como meros desconhecidos. Depois que a poeira baixa e as feridas cicatrizam, ainda resta a possibilidade da amizade. Não como um prêmio de consolação, e sim com a certeza de que é possível usufruir desse vínculo de uma outra maneira, muitas vezes bem melhor.
Por mais doloroso que tenha sido o fim, um dia deixará de doer. E sentiremos falta da pessoa não como objeto da nossa paixão e sim como alguém que queríamos sempre por perto. Tornar possível a amizade com quem um dia amamos é um gesto de amor próprio.
A tristeza pelo fim de uma relação amorosa pode ser amenizada pela esperança de um dia nos tornarmos amigos. Pela possibilidade de um dia voltarmos a nos encontrar de uma forma mais suave, sem o medo de ser abandonado, sem a insegurança da paixão, sem as cobranças e exigências de uma relação. Talvez isso amenize a dor do fim. Talvez isso possa ser o combustível para termos paciência com o tempo e as demoras. Talvez isso nos permita ver a vida como um ciclo de finais e recomeços😊
Uma das maiores bençãos que se pode ter na vida é estar livre da necessidade de se explicar. É um privilégio conhecer pessoas que conseguem te enxergar além da superfície. Que dispensam explicações. Simplesmente sabem quem você é. Tudo bem se você tiver errado. Não precisa falar que você não é assim, porque elas sabem. Não precisa explicar que você precisa dividir o que te angustia, pois essas pessoas pegarão suas dores através de um abraço. São elas que vão ligar em uma terça-feira sem graça só para perguntar como você está. Ou sentir quando você não está nos seus melhores dias. Às vezes elas te abençoarão com palavras e outras vezes te ensinarão com o silêncio. Seus risos refletem nos lábios delas e suas lágrimas machucam a elas também. Conseguir que te entendam depois de você se explicar é ótimo, mas fazer isso sem palavras é uma dádiva. Não são muitas as pessoas que vão realmente saber quem você é durante a vida. Agradeça se elas chegarem a ocupar os cinco dedos de uma mão. E geralmente, pelo menos uma dessas pessoas será nossa mãe ou nosso pai. Mas sinta-se abençoado se você tem alguém que entende seu olhar. Que te ama mesmo quando você se esquece das próprias virtudes. Quando você tem alguém que dispensa saber suas explicações, tenha sempre por perto. Alguns chamam de amor, outros de amizade. Eu desisti de encontrar definição, porque esse encontro de almas vai muito além da razão…
As vezes a gente precisa perder a fé em alguém para adquirir uma fé enorme na gente mesmo.
Nos ensinaram a perdoar. Nos ensinaram a tolerar. Nos ensinaram a relevar. Nos ensinaram a ceder. Tudo isso é importante sim, mas faltou nos ensinarem a deixar ir. A abandonar o que nos faz mal. A partir de lugares que deixaram de existir. A nos amar em primeiro lugar…
Leva tempo até que a gente aprenda que nosso valor não está nos elogios que recebemos ou nas decepções que não causamos, mas sim naquilo que a gente é realmente, independente das opiniões a nosso respeito.
Viver querendo agradar, desejando nunca desapontar ninguém, aspirando a perfeição, buscando corresponder a todas as expectativas, almejando jamais ser criticado… tudo isso cansa e provoca um desgaste enorme, uma perda de energia e um desrespeito tremendo por nós mesmos.
Leva tempo até que a gente aprenda que nosso valor não está nos elogios que recebemos ou nas decepções que não causamos, mas sim naquilo que a gente é realmente, independente das opiniões a nosso respeito.
É claro que não podemos viver isolados em nossas bolhas, centrados no próprio umbigo, desprezando todo o resto, mas de vez em quando é necessária uma boa dose de autoconfiança para dar um dane-se a toda e qualquer exigência a nosso respeito e adquirirmos uma fé enorme em nosso jeito único de ser e de escolher, independente do que esperam de nós.
Certa vez li uma frase que dizia mais ou menos assim: “Autoestima não significa “eles vão gostar de mim”. Autoestima significa “tudo bem se eles não gostarem””. E é exatamente isso.
Às vezes, a gente foca tanto no desejo de agradar, na vontade de ser aceito, na expectativa de ser amado, que se afasta do mais importante: nós mesmos. Quando nosso desejo de ser amado pelo outro supera o respeito que temos por nós mesmos, perdemos a capacidade de impor limites, de dizer “não”, de nos resguardar, de nos reservar o direito de seguir nosso coração.
Viver preocupado com o que as pessoas pensam a meu respeito, com o que as pessoas esperam de mim, com o que as pessoas desejam que eu seja… é uma das formas mais cruéis de se viver e se posicionar na vida. As pessoas podem achar o que quiserem, podem me amar ou me odiar, isso não muda quem eu sou.
Zele por aqueles que ama, respeite os que o cercam, honre sua família. Mas não se afaste de si mesmo só pelo desejo de agradar ou por não suportar as críticas.
Viver querendo agradar nos torna marionetes na mão de quem se vale da boa vontade alheia para satisfazer os próprios caprichos. Frustrações fazem parte da vida, e vez ou outra você vai frustrar ou decepcionar alguém, mas isso não coloca por água abaixo todo o valor que você tem. Aprenda a suportar a ideia de que você não é infalível. Você também erra, também tem limites, também é imperfeito, e está tudo bem.
Faça o seu possível e peça a Deus que cuide do impossível. Você não controla tudo, não dá conta de tudo, não é infalível. Absolva seus erros, perdoe suas limitações, respeite seu tempo. Aprenda a dar limites, a dizer “não” àquela solicitação, à andar no seu ritmo. Você irá descobrir que aqueles que te amam e te respeitam não deixam de estar ao seu lado quando algo não sai conforme o combinado. Ame-se o bastante para entender que nem sempre será aceito como gostaria, e está tudo bem. E, finalmente, não se cobre tanto. Entenda que mais importante que fazer tudo certo é conseguir se perdoar quando algo dá errado.
Fé é não saber, e mesmo assim crer. Crer na imprevisibilidade da vida, que tece um ponto aqui e arremata lá na frente; Crer no encontro, na inexplicável certeza de que alguns caminhos tinham que se cruzar – para o bem ou para nosso crescimento; Crer mesmo não enxergando… confiar e acreditar na estrada mesmo quando a neblina encobre todo o caminho. Crer que o fato de estar no lugar certo na hora exata pode ser chamado “sorte”, mas não deixa de ser providência; Acreditar que coincidências podem ser eventos aleatórios que te conduzem a um propósito…
Quando o verbo é equívoco, o silêncio é corretivo.
A gente vive certo porque errou um dia. E silencia quando entende que todas palavras foram ditas. Porque de vez em quando, aquilo que conserta é aquilo que cala ou ausenta. O nada que diz tudo.
Quando o verbo é equívoco, o silêncio é corretivo
A vida é barulhenta. Dentro ou fora de nós, nada se aquieta. Queremos nos comunicar, exigimos respostas na velocidade de super-hiper-mega bytes, contabilizamos “notificações”, desejamos ser cutucados de volta. Sem perceber, desaprendemos a silenciar. Desaprendemos a suportar a voz que cala e sofremos com a falta de respostas. Desaprendemos a ser ausência.
De vez em quando é necessário ser silêncio. Habituar-se à própria presença, inteirar-se de sua solidão.
Comunicar tudo sem dizer nada.
São tempos difíceis. Todo mundo fala, todo mundo posta, todo mundo curte. Todo mundo aparece, de frente, de perfil, de costas, sorrindo, triste, indignado. E então você percebe que ser #todomundo não é sua praia. E sente falta do tempo em que as coisas eram mais simples.
Desaprendemos a seguir o conselho de nossas mães porque o mundo mudou. E de tanto desobedecer, nos tornamos reféns da ansiedade, do imediatismo, do “tudo ou nada”, do “agora ou nunca”.
E agora precisamos de um aplicativo que nos salve de nós mesmos. Ontem descobri que já existe_ chama-se “Self-control”. Ideia genial, diga-se de passagem. Porque no fim das contas, autocontrole é raridade. E contar com um aplicativo que faça como seu pai, que lhe mande “engolir o choro” e o ajude a reencontrar aquele que hoje se mistura ao #todomundo, é encontrar um tesouro. Procure, baixe, aprenda, use.
Shhhhh… E Boa sorte!
Somos programados a permanecer naquilo que é conhecido: nossa vida, nossa rotina, nosso mundo, nosso passado.
Mas o que nos faz recomeçar é o inesperado. Sempre é.
E de vez em quando temos que nos submeter ao imprevisível, quer queira, quer não.
Aquilo que te pega de surpresa, num dia comum… a partir do qual tudo muda.
São novas chances, não apenas tormenta. Novas possibilidades, não apenas provações.
E você sofre porque terá que reformular o desenho cerebral. O mapa tão conhecido que te conduziu até aqui.
É doloroso. Mas também bonito. Você ainda não enxerga beleza, mas uma hora olhará pra trás com entendimento e perceberá que foi capaz de rearranjar-se novamente.
O inesperado foi uma benção. Sempre é.
A gente precisa de poesia dentro da gente. De alma perfumada e riso de criança. Às vezes o córrego da vida precisa de sal, de algo que nos desperte por dentro e sirva como melodia de dias felizes, tempero de momentos vazios, açúcar de horas amargas, perfume de noites futuras…
Mães não deveriam ter pressa nem cabelo escovado. Não deveriam usar calças brancas ou sapatos com salto. Principalmente não deveriam ter medo de chuva nem relógios de pulso.
Qualquer tipo de relógio deveria ser banido do tipo mãe, já que pra elas estes deveriam ser itens supérfluos, dispensáveis, irresponsáveis.
Pois é uma irresponsabilidade contabilizar minutos de afobamento diante da eternidade que a infância representa.
Mães não deveriam ter sono e sua fome deveria ser somente de algodão doce, pipoca e quindim.
Mães deveriam ser somente pacientes_ com casacos difíceis de abotoar, bolsos cheios de tranqueiras, paradas repetitivas para recolher objetos enigmáticos pelo caminho, cadarços desamarrados e preguiça de tomar banho.
Mães não deveriam ter obrigações oficiais ou judiciais. Seu ofício deveria ser simplesmente adivinhação, mímica, teatro de fantoches e pintura a dedo. Pra elas não deveria ser necessário manicure, depilação ou baby liss. Seu sorriso deveria ser sempre uma risada barulhenta e sua voz, um convite à fantasia.
Os desfechos acontecem a todo momento; estão acontecendo agora, dentro de você. Então não espere fogos de artifício, viradas de página, ou um “The End” em letras garrafais na sua frente.
Não deixe passar o Natal, Dia dos Pais ou aniversário de casamento pra dizer que ama, pra falar que não quer mais, pra esquecer qualquer vingancinha, pra definir o que quer que seja.
Não adie sua vida e peça a Deus que cure as mágoas, pois essa é a parte mais difícil.
Existem momentos em que é difícil reconhecermos nosso lugar. Parece que a vida dá e tira, coloca e pede de volta, estende a mão e puxa o tapete, mas com paciência, o tempo dirá.
E então um dia, por algum motivo pequeno ou grandioso, você percebe que tem um bilhete autenticado em mãos. Um bilhete que lhe indica exatamente qual sua poltrona, sua janela, por onde verá o mundo passar, e sua companhia nessa viagem.
Casa só se torna lar quando comporta marcas na parede registrando o crescimento do menino, xícara com asinha lascada de tanta prosa e chá, panela queimada no clássico de domingo, saudade estampada no porta retrato da sala.
Não importa quão longe você queira ir, não importa de quem você deseja fugir, seu lar é onde seu coração está…
“Era só isso?” _ Sim, só isso.
Existe sabedoria na descoberta de que tudo é imperfeito e trivial.
Quando fazemos as pazes com a imperfeição dos dias, das pessoas, de nós mesmos… deixamos de estar insatisfeitos; enfim relaxamos e aprendemos a contemplar o presente.
Quem acreditou que o “só isso” não bastaria, comprou a falsa ideia de felicidade, a felicidade plastificada que só funciona no photoshop, mas que não é definitiva nem palpável.
Altos e baixos hão de vir, mas o restante é simples. O restante é modesto. A maioria dos dias é comum, familiar, gratuito _ feito papel pardo atado com barbante…
Algumas coisas são inexplicáveis pra quem está de fora. Existem códigos secretos que só pertencem aos que partilharam a mesma mesa, o mesmo quarto, as mesmas brincadeiras, os mesmos pais. Talvez cumplicidade e camaradagem sejam as palavras certas pra definir esse tipo de amor, que começa com um “não me entrega que eu também não te entrego”, e segue vida afora compreendendo os traumas ocultos, as dores disfarçadas, a raiva acumulada, a alegria infantil, a inércia justificada. Mesmo longe, as mãos se reconhecem e se apoiam. Mesmo sem palavras, o entendimento é real. E no fim das contas, é aquele olhar cúmplice (“não me dedura por favor…”) que nos levanta e aquece. É aquele olhar que justifica e valida a beleza da vida, do mundo, das pessoas. E, de alguma forma que não sei dizer, traz alívio e paz.
Não posso imaginar que aquilo que dividimos há tanto tempo me apazigue como fazem essas lembranças. Nada de mim está mais lá, apenas a memória de velhos pijamas de dormir e a voz suave de mamãe contando histórias pra explicar a vida e justificar o amor.
Toquinho, em “À sombra de um Jatobá”, cantou lindamente : “Poucas coisas valem a pena, o importante é ter prazer… longe do amor de quem nos finge amar…”
Preste atenção à sua volta. Você não precisa de bajuladores, de um milhão de amigos que reafirmem quem você é.
O importante é ter poucos e bons afetos, aquela turminha que sabe do seu sabor, de suas lutas diárias e vitórias merecidas.
Gosto de gente sem agrotóxico. Que não tem vergonha de sua casca “mais ou menos” e se perdoa pelas pragas. Que não tem medo de expôr suas fragilidades do mesmo modo que se vangloria de suas virtudes.
Gente que não se infla para parecer maior do que é.
Gente que se humaniza e se aproxima de mim.
Que não faz alarde de sua felicidade, mas valoriza o que vale a pena _ como a sombra de um Jatobá…
Gosto de gente sem agrotóxico
Então você cresce, amadurece, e aprende, a duras penas, que o mundo não é feito de açúcar, que os adultos nem sempre detêm a verdade (quase nunca detêm…), que algumas coisas não saem do jeito que a gente quer. Mas a dor do crescimento aparece mesmo quando você descobre que algo em que você acreditava deixou de existir.
É assustador ter que reformular tudo aquilo que te constituía e não constitui mais.
Temos que estar dispostos a abrir mão de nossas crenças, de nossos planos tão reais, palpáveis, terrenos… para acreditar numa nova realidade.
E vamos descobrindo que nada é tão real, palpável ou terreno. Que tudo pode mudar num piscar de olhos, enquanto nos apegamos ao que é conhecido.
Percebemos que vivemos, mas não pertencemos. Amamos, mas não controlamos. Temos fé no invisível, mas nunca estamos prontos…
Escolher o mesmo amor todos os dias é um milagre.
Porque todo afeto é feito de pessoas. E pessoas são incompletas e imperfeitas, o amor também.
Tem gente que imagina o amor como solução. Não entendeu que amor é construção…
Infelizmente não é possível obter em pesquisas científicas a partícula fé.
A fé que nos faz crer no invisível _ e nem por isso inexistente. A fé que nos conduz a um estado de paz mesmo quando tudo desmorona e explica a coragem de seguir em frente quando toda explicação falha. A fé que justifica e valida o inexplicável, que traduz o intraduzível.
Fé é não saber, e assim mesmo crer.
Crer na imprevisibilidade da vida, que tece um ponto aqui e arremata lá na frente;
Crer no encontro, na inexplicável certeza de que alguns caminhos tinham que se cruzar _ para o bem ou para nosso crescimento;
Crer mesmo não enxergando… confiar e acreditar na estrada mesmo quando a neblina encobre todo o caminho.
Crer que o fato de estar no lugar certo na hora exata pode ser chamado “sorte”, mas não deixa de ser providência;
Acreditar que coincidências podem ser eventos aleatórios que te conduzem a um propósito…
Não supervalorize o passado, sua “história”, seus traumas, sua dor de cotovelo. Todo mundo tem feridas, todo mundo leva tombos, cada um sabe o que traz na bagagem. Tenha sim coragem de valorizar seus milagres, aquilo que é real e palpável, o terreno onde pisa, as mãos entrelaçadas às suas.
Porque você é um menino e eu ainda posso ser o seu remédio, mas a vida vai lhe mostrar que não sou perfeita, que tenho falhas, desvios e manias, que não possuo varinha de condão nem respostas pra tudo, que a dipirona tem propriedades maiores que minha presença, que não sou digna de ser seu espelho porque meus erros serão fatalmente identificados por você no futuro para que não os repita com seus próprios filhos.
Mas não tem importância, hoje trato de aproveitar cada segundo ao seu lado, gravando na pele a sensação de seu corpo arredondado, sua risada farta e barulhenta, o toque de suas mãozinhas no meu cabelo, seu cheiro, sua respiração profunda quando adormece. Essas são minhas relíquias, tesouros escondidos numa porção extensa do coração, consolo para os dias ruins e saudades futuras…
Nunca mais fui a mesma depois que te conheci. Antes pulava de paraquedas, hoje deduzo os riscos do carrinho de bate bate. Tinha as unhas feitas, ultrapassava os carros pela direita e ia ao shopping pensando só em mim…
Justamente quando eu achava que tinha controle sobre tudo, você veio para me dizer que não controlo nada. Quando eu acreditava que já tinha amado demais, você me faz sentir uma aprendiz em matéria de amor. Quando minha casa se tornou modelo de perfeição e assepsia você invadiu mudando tudo de lugar, sujando as paredes e estofados com seus dedinhos melados, restos de pipoca e confetes coloridos, agregando aos ambientes cadeirões, cercadinhos, bicicletas e skate. Quando achei que era capaz de racionalizar tudo, você me fez adquirir o 6o. sentido, ser mais intuitiva e capaz de expressões como “coração de mãe sente…”
Cada um sabe o que traz na bagagem. E ninguém tem visão de Rx _como na esteira do aeroporto_ para desvendar o que vai dentro do outro. E mesmo tentando explicar, é difícil compreender. Porque somos complexos até para nós mesmos. Assimilamos distorções e colecionamos traumas, que culminam nas horas mais impróprias: um encontro inusitado, um filme bobo, um tropeção sem importância. E choramos “sem motivo”, surtamos sem “razão”, nos declaramos “do nada”…
… Sobreviver é reconhecer novas chances, novos recomeços, novas possibilidades.
Entender que uma janela se fecha enquanto uma porta se abre; entender principalmente que se fixar no cadeado sem chaves é perda de tempo, talvez burrice…
Tome posse de seu governo e vá em busca de suas respostas. Nada pode lhe perturbar se você não permitir. O que mais lhe incomoda não está fora, e sim dentro de você. Viaje para dentro de si mesmo e encontre riquezas por trás das aparentes clarezas. Descubra as razões que te tornam um governante tirano ou compassivo demais. Encontre equilíbrio no domínio e submissão, na disciplina e rebeldia, no caos e organização. Ame-se além do bem e do mal, perdoe-se, tolere-se. Encontre caminhos que lhe conduzam à realização de seus anseios, encare o medo de frente e não busque camuflá-lo com tirania, controle excessivo ou autoridade sem propósito. Cuide do que é seu, valorize-se na medida certa. Guarde seus tesouros e não exponha em praça pública aquilo que lhe é mais caro.
Daí vem o Chico e canta lindamente: “Não se afobe não, que nada é pra já… O amor não tem pressa, ele pode esperar…”
E a gente entende que é isso mesmo.
Que é preciso paciência e um certo trabalho
De entrega e responsabilidade
Confiança e nenhuma contabilidade.
Requer tempo.
Pra construir diariamente. Com moderação e habilidade.
Perdão e maturidade.
Pés no chão e força de vontade.
A vida gosta de sutilezas e fala nas entrelinhas. As respostas que buscamos podem estar diante de nossos olhos e não percebemos, ocupados que estamos com nossos egos, dores, buscas, anseios, decepções. Enquanto choramos no chão do banheiro por um amor perdido, alguém pode estar nos identificando em meio à multidão.
Não sei se existe destino ou é a ocasião que nos presenteia de vez em quando. Mas a vida tem dessas coisas, espera estarmos maduros, calejados e sofridos o bastante para reconhecermos o amor…