Na noite sem lua
o mar todo negro
se oferece em espuma
No ninho do sabiá
há quatro bocas
que não param de piar
Na janela em frente
uma criança sorri –
falta-lhe um dente
Por desafio
vestiu-se de gueixa
amor não sentiu
No parapeito
da velha janela
a gata espreita
Num vôo direto
o pássaro volta
procurando um teto
teu corpo deitado
acorda desejos
não confessados
Voar sempre, cansa –
por isso ela corre
em passo de dança
Lá vai de saltos
dona pata apressada
correndo aos saldos
no inverno, o vento
dança com as folhas
a seu contento
Sentado no chão
de saco vazio
suspira o sultão
na lareira rubra
o velho pinheiro
ganha asas
Olhar esquivo
corpo ondulante
sonho vivo
Mal o dia clareia
a passarada
em coro chilreia
O gato chinês
espera sentado
pela sua vez
Mar de tormento
mar de sustento –
ai, triste sina
olhos baixos
serena e bela
aguarda o dia
O trigal maduro
ondula ao vento…
O corvo espera.
A bola baila
o gato nem olha
salta e agarra
na praia a sereia
anseia que a onda
a salve da areia
Gatinha meiga
ao passar da mão
seu corpo se ajeita
no aconchego da terra
a semente
vive a espera
com mãos de hera
enlaço teu corpo
oferto em espera
Debruçado no lago
Narciso, surpreso,
se vê amado
No azul do mar
golfinhos saltam –
parecem brincar
Ai como grita
ao pisar o gato
a velha aflita
Sobre o varal
A cerejeira prepara
O amanhecer
negro e revolto
o mar de inverno
pressagía desgosto
no céu de Alexandria
as estrelas falam
mitologia
Olhar felino
perfil egípcio
apanha sol
o rio ao lado da estrada
corre
ri à gargalhada
longe noite escura
uma viola
amor murmura
Um homem caminha
cabisbaixo e só:
perdeu o que não tinha
Abrindo uma fresta
do carro de luxo
ele atira a meleca
Na noite em silêncio
o relógio presente
marca o passado
palmo a palmo
dedo a dedo
inicio teu percurso
Praia deserta
no rebentar da onda
a moça espera
O gato tigreiro
olha o sabiá
que voa ligueiro
O gato no cio
mia e remia
canta ao desafio
O senhor narigudo
tinha um olho torto
e no pé um fungo
Na noite escura
um mar de espuma
chama pela lua
no parque vazio
duas árvores abraçam-se
em prantos de chuva
Olhando nos olhos
que o lago reflete
Narciso se esquece
meus dedos-olhos
desvendam sem pressa
doces mistérios
a chuva no charco
traça círculos
sem compasso
Um cão sonolento
esticou as patas
e soltou um vento
No prato com leite
a língua rosada
faz chap chap
seus olhos felinos
horizontais oblíquos
olham parados
Sentadas num fio
estão cinco andorinhas
fugidas do frio
na cama de nuvens
o sol espreguiça-se
oblongo
na boca da fornalha
labaredas
dançam Falla
Seu olhar segue
o voo do pássaro –
será que desce?
A abelha voa vai
vem volta pesada
dourada de pólen
No rio, a canoa
pinta em verde
o seu reflexo.
No aquário redondo
o peixe dourado
julga o mar enfadonho
No embalo do rio
ao sabor da corrente
meu amor vai comigo
Mar infinito
três vezes bendito
traz meu filho…
O pavão parado
no parque sozinho
espera o chamado
Saltando da mesa
a tulipa
foi passear
nos fios
os pássaros
escrevem música
Saudades
Saudades
de mim,
de ti,
quando eu
era eu,
e tu
eras tu.
Saudades
da casa,
do mar,
do tempo sem pressas,
sem dores, nem remorsos.
Saudades do pássaro
que cantava ao amanhecer
e nos dava os bons dias.
Saudades…
Na noite sem lua
o mar todo negro
se oferece em espuma
No ninho do sabiá
há quatro bocas
que não param de piar
Na janela em frente
uma criança sorri –
falta-lhe um dente
Por desafio
vestiu-se de gueixa
amor não sentiu
No parapeito
da velha janela
a gata espreita
Num vôo direto
o pássaro volta
procurando um teto
teu corpo deitado
acorda desejos
não confessados
Voar sempre, cansa –
por isso ela corre
em passo de dança
Lá vai de saltos
dona pata apressada
correndo aos saldos
no inverno, o vento
dança com as folhas
a seu contento
Sentado no chão
de saco vazio
suspira o sultão
na lareira rubra
o velho pinheiro
ganha asas
Olhar esquivo
corpo ondulante
sonho vivo
Mal o dia clareia
a passarada
em coro chilreia
O gato chinês
espera sentado
pela sua vez
Mar de tormento
mar de sustento –
ai, triste sina
olhos baixos
serena e bela
aguarda o dia
O trigal maduro
ondula ao vento…
O corvo espera.
A bola baila
o gato nem olha
salta e agarra
na praia a sereia
anseia que a onda
a salve da areia
Gatinha meiga
ao passar da mão
seu corpo se ajeita
no aconchego da terra
a semente
vive a espera
com mãos de hera
enlaço teu corpo
oferto em espera
Debruçado no lago
Narciso, surpreso,
se vê amado
No azul do mar
golfinhos saltam –
parecem brincar