AutorErasmo de Roterdã

Erasmo de Roterdã

Rir de tudo é coisa dos tontos, mas não rir de nada é coisa dos estúpidos.

Erasmo de Roterdã

A pior das loucuras é, sem dúvida, pretender ser sensato num mundo de doidos.

Erasmo de Roterdã

Nenhum animal é mais calamitoso do que o homem, pela simples razão de que todos se contentam com os limites da sua natureza, ao passo apenas o homem se obstina em ultrapassar os limites da sua.

Erasmo de Roterdã

Segundo a definição dos estoicos, a sabedoria consiste em ter a razão por guia; a loucura, pelo contrário, consiste em obedecer às paixões; mas para que a vida dos homens não seja triste e aborrecida Júpiter deu-lhe mais paixão que razão.

Erasmo de Roterdã

Deve respeitar-se o casamento enquanto é um purgatório, e dissolvê-lo quando se tornar num inferno.

Erasmo de Roterdã

Os maiores males infiltram-se na vida dos homens sob a ilusória aparência do bem.

Erasmo de Roterdã

Aquele que conhece a arte de viver consigo próprio ignora o aborrecimento.

Erasmo de Roterdã

O amor recíproco entre quem aprende e quem ensina é o primeiro e mais importante degrau para se chegar ao conhecimento.

Erasmo de Roterdã

Deus, arquitecto do universo, proibiu o homem de provar os frutos da árvore da ciência, como se a ciência fosse um veneno para a felicidade.

Erasmo de Roterdã

É muito mais honesto estar nu do que usar roupas transparentes.

Erasmo de Roterdã

Não merece o doce quem não experimentou o amargo.

Erasmo de Roterdã

Pode querer bem aos outros quem não quer bem a si mesmo?

Erasmo de Roterdã

Não há prazer em possuir algo sem companhia.

Erasmo de Roterdã

A primeira fase do saber é amar os nossos professores.

Erasmo de Roterdã

Se colocares numa parte da balança as vantagens e na outra as desvantagens, perceberás que uma paz injusta é muito melhor do que uma guerra justa.

Erasmo de Roterdã

Os males que não são percebidos são os mais perigosos.

Erasmo de Roterdã

Para ganhar é preciso gastar.

Erasmo de Roterdã

Em grande parte, os maridos são como as mulheres os fazem.

Erasmo de Roterdã

Quanto maior é a sua sabedoria mais os homens se afastam da felicidade.

Erasmo de Roterdã

O melhor modo de venerar os santos é imitá-los.

Erasmo de Roterdã

Um mal não é um mal para quem não o sente; que te importa se todos te vaiam se tu mesmo te aplaudes?

Erasmo de Roterdã

Mas, já é tempo de que, seguindo o exemplo de Homero, passemos, alternadamente, dos habitantes do céu aos da terra, onde nada se descobre de feliz e de alegre que não seja obra minha.
Primeiro, vós bem vedes com que providência a natureza, esta mãe produtora do gênero humano, dispôs que em coisa alguma faltasse o condimento da loucura. Segundo a definição dos estóicos o sábio é aquele que vive de acordo com as regras da razão prescrita, e o louco, ao contrário, é o que se deixa arrastar ao sabor de suas paixões. Eis porque Júpiter, com receio de que a vida do homem se tornasse triste e infeliz, achou conveniente aumentar muito mais a dose das paixões que a da razão, de forma que a diferença entre ambas é pelo menos de um para vinte e quatro. Além disso, relegou a razão para um estreito cantinho da cabeça, deixando todo o resto do corpo presa das desordens e da confusão. Depois, ainda não satisfeito com isso, uniu Júpiter à razão, que está sozinha, duas fortíssimas paixões, que são como dois impetuosíssimos tiranos: uma é a Cólera, que domina o coração, centro das vísceras e fonte da vida; a outra é a Concupiscência, que estende o seu império desde a mais tenra juventude até à idade mais madura. Quanto ao que pode a razão contra esses dois tiranos, demonstra-o bem a conduta normal dos homens. Prescreve os deveres da honestidade, grita contra os vícios a ponto de ficar rouca, e é tudo o que pode fazer; mas os vícios riem-se de sua rainha, gritam ainda mais forte e mais imperiosamente do que ela, até que a pobre soberana, não tendo mais fôlego, é constrangida a ceder e a concordar com os seus rivais.

Erasmo de Roterdã

Dizei-me por obséquio: um homem que odeia a si mesmo poderá, acaso, amar alguém? Um homem que discorda de si mesmo poderá, acaso, concordar com outro? Será capaz de inspirar alegria aos outros quem tem em si mesmo a aflição e o tédio? Só um louco, mais louco ainda do que a própria Loucura, admitireis que possa sustentar a afirmativa de tal opinião. Ora, se me excluirdes da sociedade, não só o homem se tornará intolerável ao homem, como também, toda vez que olhar para dentro de si, não poderá deixar de experimentar o desgosto de ser o que é, de se achar aos próprios olhos imundo e disforme, e, por conseguinte, de odiar a si mesmo. A natureza, que em muitas coisas é mais madrasta do que mãe, imprimiu nos homens, sobretudo nos mais sensatos, uma fatal inclinação no sentido de cada qual não se contentar com o que tem, admirando e almejando o que não possui: daí o fato de todos os bens, todos os prazeres, todas as belezas da vida se corromperem e reduzirem a nada. Que adianta um rosto bonito, que é o melhor presente que podem fazer os deuses imortais, quando contaminado pelo mau cheiro? De que serve a juventude, quando corrompida pelo veneno de uma hipocondria senil? Como, finalmente, podereis agir em todos os deveres da vida, quer no que diz respeito aos outros, quer a vós mesmos, como, — repito — podereis agir com decoro (pois que agir com decoro constitui o artifício e a base principal de toda ação), se não fordes auxiliados por esse amor próprio que vedes à minha direita e que merecidamente me faz as vezes de irmã, não hesitando em tomar sempre o meu partido em qualquer desavença? Vivendo sob a sua proteção, ficais encantados pela excelência do vosso mérito e vos apaixonais por vossas exímias qualidades, o que vos proporciona a vantagem de alcançardes o supremo grau de loucura. Mais uma vez repito: se vos desgostais de vós mesmos, persuadi-vos de que nada podereis fazer de belo, de gracioso, de decente. Roubada à vida essa alma, languesce o orador em sua declamação, inspira piedade o músico com suas notas e seu compasso, ver-se-á o cômico vaiado em seu papel, provocarão o riso o poeta e as suas musas, o melhor pintor não conquistará senão críticas e desprezo, morrerá de fome o médico com todas as suas receitas, em suma Nereu(34) aparecerá como Tersites, Faão como Nestor, Minerva como uma porca, o eloqüente como um menino, o civilizado como um bronco. Portanto, é necessário que cada qual lisonjeie e adule a si mesmo, fazendo a si mesmo uma boa coleção de elogios, em lugar de ambicionar os de outrem. Finalmente, a felicidade consiste, sobretudo, em se querer ser o que se é. Ora, só o divino amor próprio pode conceder tamanho bem. Em virtude do amor próprio, cada qual está contente com seu aspecto, com seu talento, com sua família, com seu emprego, com sua profissão, com seu país, de forma que nem os irlandeses desejariam ser italianos, nem os trácios atenienses, nem os citas habitantes das ilhas Fortunadas. Oh surpreendente providência da natureza! Em meio a uma infinita variedade de coisas, ela soube pôr tudo no mesmo nível. E, se não se mostrou avara na concessão de dons aos seus filhos, mais pródiga se revelou ainda ao conceder-lhes o amor próprio. Que direi dos seus dons? É uma pergunta tola. Com efeito, não será o amor próprio o maior de todos os bens?

Erasmo de Roterdã

Mas, na minha opinião, o homem é tanto mais feliz quanto mais numerosas são as suas modalidades de loucura.

Erasmo de Roterdã

Outra espécie de homens […] é constituída por aqueles que se sentem devorados pela mania de construir. Uma vez invadidos por essa irriquieta paixão, nunca se dão por satisfeitos, sendo a sua preocupação contínua a de fazer, edificar, destruir, até que, como Horácio, nessa tarefa de mudar o quadrado em redondo e o redondo em quadrado, acabam por ficar sem casa e sem pão. E com que ficam? Ficam com a doce lembrança de terem passado com prazer um grande número de anos.

Erasmo de Roterdã

Rir de tudo é coisa de tontos, não rir de nada é coisa de estúpido.

Erasmo de Roterdã

Porque haveria de me pintar como sombra e imagem numa definição quando estou diante dos vossos olhos e me vedes em pessoa?
Sou eu mesma, como vedes. (…) E que necessidade havia de vo-lo dizer? O meu rosto já não o diz bastante?
Se há alguém que desastradamente se tenha iludido, tomando-me por Minerva ou pela Sabedoria, bastará olhar-me de frente, para logo me conhecer a fundo, sem que eu me sirva das palavras que são a imagem sincera do pensamento. Não existe em mim simulação alguma, mostrando-me eu por fora o que sou no coração. Sou sempre igual a mim mesma (…)

Erasmo de Roterdã

Só os loucos têm o privilégio de dizer a verdade que não ofende.

Erasmo de Roterdã

Em vão a mulher veste a máscara, continua sempre mulher, ou seja, louca. (…) É este dom da loucura que lhes permite ser, em muitos aspectos, mais felizes que os homens.

Erasmo de Roterdã

A felicidade consiste essencialmente em querer-se ser o que é.

Erasmo de Roterdã

Todos esses loucos encontram, porém, outros loucos que os aplaudem; pois, quanto mais uma coisa é contrária ao bom senso, mais ela atrai admiradores; o que há de pior é sempre o que agrada a maioria.

Erasmo de Roterdã

Um cumprimento gentil e delicado muitas vezes cria amizade, apaga a inimizade.

Erasmo de Roterdã

Toda tolice, por mais grosseira que seja, sempre encontra sequazes.

Erasmo de Roterdã

Não convencerás, se também não estiveres convencido.

Erasmo de Roterdã

Um mal não é um mal para quem não o sente.

Erasmo de Roterdã

Dissimular, enganar, fingir, fechar os olhos aos defeitos dos amigos, ao ponto de apreciar e admirar grandes vícios como grandes virtudes, não será, acaso, avizinhar-se da loucura?

Erasmo de Roterdã

O cristianismo hoje, em lugar de pregar Jesus Cristo, deixam no esquecimento o seu nome e o põem de lado com leis lucrativas, alteram a sua doutrina com interpretações forçadas e, finalmente, o destroem com exemplos pestilentos.

Erasmo de Roterdã

De uma guerra se gera outra; uma vingança puxa outra.

Erasmo de Roterdã

Você ri às vezes da vida humana e que gosta deste tipo de brincadeiras, quando elas não são completamente desprovidas de sal e de graça.

Erasmo de Roterdã

Defenda com zelo esta Loucura que agora lhe pertence.

Erasmo de Roterdã

Tudo se transforma em seguida na terra, um colorido mais brilhante embeleza todos os objetos, e a natureza rejuvenescida oferece a nossos olhos um espetáculo mais agradável e mais risonho.

Erasmo de Roterdã

Definir-me seria dar-me limites, e minha força não conhece nenhum.

Erasmo de Roterdã

Não pode haver em mim nem maquiagem nem dissimulação, e jamais se percebe em meu rosto as aparências de um sentimento que não esteja em meu coração. Enfim, sou em toda parte tão semelhante a mim mesma que ninguém poderia me ocultar…

Erasmo de Roterdã

O lobo talvez mude a pele, mas nunca a alma.

Erasmo de Roterdã

Ser bom ainda é o melhor.

Erasmo de Roterdã

A loucura da sabor a vida, torna as mulheres amáveis e anima as comemorações.

Erasmo de Roterdã

Bastará olhar-me de frente, para logo me conhecer a fundo, sem que eu me sirva das palavras que são a imagem sincera do pensamento. Não existe em mim simulação alguma, mostrando-me eu por fora o que sou no coração. Sou sempre igual a mim mesma, de tal forma que, se alguns dos meus sequazes presumem não passar por tais, disfarçando-se sob a máscara e o nome de sábios, não serão eles mais do que macacos vestidos de púrpura, do que burros vestidos com pele de leão.

Erasmo de Roterdã

Quanto a mim, deixo que os outros julguem esta minha tagarelice; mas, se o meu amor-próprio não deixar que eu o perceba, contentar-me-ei de ter elogiado a Loucura sem estar inteiramente louco.

Erasmo de Roterdã

Com efeito, como no instante em que surge no céu a brilhante figura do sol, ou como quando, após um rígido inverno, retorna a primavera com suas doces aragens e vemos todas as coisas tomarem logo um novo aspecto, matizando-se de novas cores, contribuindo tudo para de certo modo rejuvenecer a natureza, assim também, logo que me vistes, transformastes inteiramente as vossas fisionomias. Bastou, pois, a minha simples presença para eu obter o que valentes oradores mal teriam podido conseguir com um longo e longamente meditado discurso: expulsar a tristeza de vossa alma.

Erasmo de Roterdã

Não existe em mim simulação alguma, mostrando-me eu por fora o que sou no coração. Sou sempre igual a mim mesma, de tal forma que, se alguns dos meus sequazes presumem não passar por tais, disfarçando-se sob a máscara e o nome de sábios, não serão eles mais do que macacos vestidos de púrpura, do que burros vestidos com pele de leão.

Erasmo de Roterdã

Alegar-se-á, contudo, que deliram e enlouquecem: pois é isso mesmo, justamente nisso consiste o tornar a ser criança. O delírio e a loucura não serão, talvez, próprios das crianças? Que é que, a vosso ver, mais agrada nas crianças? A falta de juízo. Um menino que falasse e agisse como um adulto não seria um pequeno monstro? Pelo menos, não poderíamos deixar de odiá-lo e de ter por ele um certo horror.

Erasmo de Roterdã

Só a loucura tem a virtude de prolongar a juventude, embora fugacíssima, e de retardar bastante a malfadada velhice.

Erasmo de Roterdã

Senhor, — disse-lhe eu — dê uma mulher ao homem, porque, embora seja a mulher um animal inepto e estúpido, não deixa, contudo, de ser mais alegre e suave, e, vivendo familiarmente com o homem, saberá temperar com sua loucura o humor áspero e triste do mesmo.

Erasmo de Roterdã

Se, porventura, alguma mulher meter na cabeça a idéia de passar por sábia, só fará mostrar-se duplamente louca (…)
E isso porque, segundo o provérbio dos gregos, o macaco é sempre macaco, mesmo vestido de púrpura. Assim também, a mulher é sempre mulher, isto é, é sempre louca, seja qual for a máscara sob a qual se apresente.

Erasmo de Roterdã

Todas as coisas são de tal natureza que, quanto mais abundante é a dose de loucura que encerram, tanto maior é o bem que proporcionam aos mortais. Sem alegria, a vida humana nem sequer merece o nome de vida. Mergulharíamos na tristeza todos os nossos dias, se com essa espécie de prazeres não dissipássemos o tédio que parece ter nascido conosco.

Erasmo de Roterdã

Dizei-me por obséquio: um homem que odeia a si mesmo poderá, acaso, amar alguém? Um homem que discorda de si mesmo poderá, acaso, concordar com outro? Será capaz de inspirar alegria aos outros quem tem em si mesmo a aflição e o tédio?

Erasmo de Roterdã

Mas, na minha opinião, o homem é tanto mais feliz quanto mais numerosas são as suas modalidades de loucura, contanto que não saia da espécie que nos é peculiar e que é tão espalhada que eu não saberia dizer se haverá, em todo o gênero humano, um só indivíduo que seja sempre sábio e não tenha também a sua modalidade.

Erasmo de Roterdã

E porque, segundo o meu costume, não hei de vos falar mais livremente? Dizei-me, por favor: serão, talvez, a cabeça, a cara, o peito, as mãos, as orelhas, como partes do corpo reputadas honestas, que geram os deuses e os homens? Ora, meus senhores, eu acho que não: o instrumento propagador do gênero humano é aquela parte, tão deselegante e ridícula que não se lhe pode dizer o nome sem provocar o riso. Aquela, sim, é justamente aquela a fonte sagrada de onde provêm os deuses e os mortais.

Erasmo de Roterdã

Antes de tudo, dizei-me: haverá no mundo coisa mais doce e mais preciosa do que a vida?

Erasmo de Roterdã

[…] desde que me presteis ouvidos com bastante atenção.

Erasmo de Roterdã

Eu, ao contrário, sempre gostei muito de dizer tudo o que me vem à boca.

Erasmo de Roterdã

E que necessidade havia de vo-lo dizer? O meu rosto já não o diz bastante?

Erasmo de Roterdã

[…] bastará olhar-me de frente para logo me conhecer a fundo, sem que eu me sirva das palavras que são a imagem sincera do pensamento. Não existe em mim simulação alguma, mostrando-me eu por fora o que sou no coração.

Erasmo de Roterdã

Quem poderá pintar-me com mais fidelidade do que eu mesma? Haverá, talvez, quem reconheça melhor em mim o que eu mesma não reconheço?

Erasmo de Roterdã

E com tão prazenteiro e amável sorriso me aplaudistes.

Erasmo de Roterdã

Contentar-me-ei de ter elogiado a loucura sem estar inteiramente louco.

Erasmo de Roterdã

O espírito do homem é feito de maneira que lhe agrada muito mais a mentira do que a verdade. Fazei a experiência: ide à igreja, quando aí estão a pregar. Se o pregador trata de assuntos sérios, o auditório dormita, boceja e enfada-se, mas se, de repente, o zurrador (perdão, o pregador), como aliás é frequente, começa a contar uma história de comadres, toda a gente desperta e presta a maior das atenções.

Erasmo de Roterdã

O que é certo é que mesa alguma nos pode agradar sem o condimento da loucura. E tanto isso é verdade que, quando nenhum dos convidados se julga maluco ou, pelo menos, não finge sê-lo, é pago um bobo, ou convidado um engraçado filante que, com suas piadas, suas brincadeiras, suas bobagens, expulse da mesa o silêncio e a melancolia.

Erasmo de Roterdã

A FELICIDADE É ALCANÇADA QUANDO A PESSOA ESTÁ PRONTA PARA SER O QUE ELA É.

Erasmo de Roterdã

A felicidade é alcançada quando a pessoa está pronta para ser o que ela é.

Erasmo de Roterdã

Boa parte da arte de conversar consiste em saber mentir com graça.

Erasmo de Roterdã

Talvez fosse melhor não falar dos teólogos, tão delicada é essa matéria e tão grande é o perigo de tocar em semelhante corda. Esses intérpretes das coisas divinas estão sempre prontos a acender-se como a pólvora, têm um olhar terrivelmente severo e, numa palavra, são inimigos muito perigosos. Se acasos incorreis na sua indignação, lançam-se contra vós como ursos furibundos, mordem-vos e não vos largam senão depois de vos terem obrigado a fazer a vossa palinódia com uma série infinita de conclusões; mas, se recusais retratar-vos, condenam-vos logo como hereges. E, mostrando essa cólera, chamando de herege, de ateu, conseguem fazer tremer os que não concordam com eles. Embora não haja ninguém que, tanto como eles, dissimule os meus favores, não é menos verdadeiro que me devem muito. Eis porque impus ao meu amor-próprio favorecê-los mais do que a todos os outros mortais, e de fato são eles os meus maiores prediletos.”
(Elogio da Loucura)

Erasmo de Roterdã

Os olhos são a sede da alma.

Erasmo de Roterdã

Aquilo que os olhos são para o corpo, a razão é para a alma.

Erasmo de Roterdã

Os mais perigosos males são os que não são percebidos.

Erasmo de Roterdã

A filosofia é uma meditação sobre a morte.

Erasmo de Roterdã

O hábito torna aceitável o pior dos absurdos.

Erasmo de Roterdã

Teremos tempo para tudo se o organizarmos com parcimônia.

Erasmo de Roterdã

Fala a loucura: “… dizei-me, por Júpiter, sim, dizei-me se há, acaso, um só dia na vida que não seja triste, desagradável, fastidioso, enfadonho, aborrecido, quando não é animado pela volúpia, isto é, pelo condimento da loucura. Tomo Sófocles por testemunho irrefragável, Sófocles nunca bastante louvado. Oh! Nunca se me fez tanta justiça! Diz ele, para minha honra e minha glória: “Como é bom viver! Mas, sem sabedoria, porque esta é o veneno da vida”. (Elogio da Loucura)

Erasmo de Roterdã

Fala a loucura: “Todos sabem que a infância é a idade mais alegre e agradável. Mas, que é que torna os meninos tão amados? Que é que nos leva a beijá-los, abraçá-los e amá-los com tanta afeição? Ao ver esses pequenos inocentes, até um inimigo se enternece e os socorre. Qual é a causa disso? É a natureza, que, procedendo com sabedoria, deu às crianças um certo ar de loucura, pelo qual elas obtém a redução dos castigos dos seus educadores e se tornam merecedores do afeto de quem as tem ao seu cuidado. (Elogio da Loucura)

Erasmo de Roterdã

Fala a Loucura: “Quanto a mim, é o homem em pessoa que eu reconduzo à idade mais bela e mais feliz. Se os mortais se abstivessem totalmente da sabedoria e só quisessem viver submetidos às minhas leis, é certo que não conheceriam a velhice e gozariam, felizes, de uma perpétua juventude”. (Elogio da Loucura)

Erasmo de Roterdã

Fala a loucura: “Se, portanto, concordais em que não há nada mais precioso do que a juventude e mais detestável do que a velhice, posso concluir que reconheceis a dívida que tendes para comigo, sim, para comigo, pois que, para vos tornar felizes, sei prolongar tamanho bem e retardar um mal tão grande”. (Elogio da Loucura)

Erasmo de Roterdã

Segundo a definição dos estoicos, o sábio é aquele que vive de acordo com as regras da razão prescrita, e o louco, ao contrário, é o que se deixa arrastar ao sabor de suas paixões. (Elogio da Loucura)

Erasmo de Roterdã

Eis porque Júpiter, com receio de que a vida do homem se tornasse triste e infeliz, achou conveniente aumentar muito mais a dose das paixões que a da razão, de forma que a diferença entre ambas é pelo menos de um para vinte e quatro. Além disso, relegou a razão para um estreito cantinho da cabeça, deixando todo o resto do corpo presa das desordens e da confusão. Depois, ainda não satisfeito com isso, uniu Júpiter à razão, que está sozinha, duas fortíssimas paixões, que são como dois impetuosíssimos tiranos: uma é a Cólera, que domina o coração, centro das vísceras e fonte da vida; a outra é Concupiscência, que estende o seu império desde a mais tenra juventude até a idade mais madura. Quanto ao que pode a razão contra esses dois tiranos, demonstra-o bem a conduta normal dos homens. Prescreve os deveres da honestidade, grita contra os vícios a ponto de ficar rouca, e é tudo o que pode fazer; mas os vícios riem-se de sua rainha, gritam ainda mais forte e mais imperiosamente do que ela, até que a pobre soberana, não tendo mais fôlego, é constrangida a ceder e a concordar com os seus rivais. (Elogio da Loucura)

Erasmo de Roterdã

O passo não deve ser demasiado lento, nem demasiado rápido.
Original: Incessus nec fractus, nec praeceps.

Erasmo de Roterdã

A vida é uma comédia onde cada um usa sua máscara.

Erasmo de Roterdã

Representamos nosso papel até que o diretor nos tire do palco.

Erasmo de Roterdã

A guerra é bela para aqueles que não a viram.

Erasmo de Roterdã

Algumas pessoas confundem propriedade com administração.

Erasmo de Roterdã

O cúmulo da estupidez é aprender o que logo depois vamos esquecer.

Erasmo de Roterdã

A mente humana entende melhor o falso do que a verdadeiro.

Erasmo de Roterdã

A paz mais injusta é melhor que a guerra mais justa.

Erasmo de Roterdã

Saber falar bem é também saber mentir com graça.

Erasmo de Roterdã

Miséria e injustiça acabarão por desaparecer se for permitido à pura luz da razão penetrar nas cavernas escuras da ignorância, da superstição e do ódio.

Erasmo de Roterdã

Testemunho de Erasmo de Rotterdã a respeito de Thomas More:
“É um homem que vive com esmero a verdadeira piedade, sem a menor ponta de superstição. Tem horas fixas em que dirige a Deus suas orações, não com frases feitas, mas nascidas do mais profundo do coração. Quando conversa com os amigos sobre a vida futura, vê-se que fala com sinceridade e com as melhores esperanças. E assim é More também na Corte. Isto, para os que pensam que só há cristãos nos mosteiros.“

Erasmo de Roterdã

Rir de tudo é coisa dos tontos, mas não rir de nada é coisa dos estúpidos.

Erasmo de Roterdã

A pior das loucuras é, sem dúvida, pretender ser sensato num mundo de doidos.

Erasmo de Roterdã

Nenhum animal é mais calamitoso do que o homem, pela simples razão de que todos se contentam com os limites da sua natureza, ao passo apenas o homem se obstina em ultrapassar os limites da sua.

Erasmo de Roterdã

Segundo a definição dos estoicos, a sabedoria consiste em ter a razão por guia; a loucura, pelo contrário, consiste em obedecer às paixões; mas para que a vida dos homens não seja triste e aborrecida Júpiter deu-lhe mais paixão que razão.

Erasmo de Roterdã

Deve respeitar-se o casamento enquanto é um purgatório, e dissolvê-lo quando se tornar num inferno.

Erasmo de Roterdã

Os maiores males infiltram-se na vida dos homens sob a ilusória aparência do bem.

Erasmo de Roterdã

Aquele que conhece a arte de viver consigo próprio ignora o aborrecimento.

Erasmo de Roterdã

O amor recíproco entre quem aprende e quem ensina é o primeiro e mais importante degrau para se chegar ao conhecimento.

Erasmo de Roterdã

Deus, arquitecto do universo, proibiu o homem de provar os frutos da árvore da ciência, como se a ciência fosse um veneno para a felicidade.

Erasmo de Roterdã

É muito mais honesto estar nu do que usar roupas transparentes.

Erasmo de Roterdã

Não merece o doce quem não experimentou o amargo.

Erasmo de Roterdã

Pode querer bem aos outros quem não quer bem a si mesmo?

Erasmo de Roterdã

Não há prazer em possuir algo sem companhia.

Erasmo de Roterdã

A primeira fase do saber é amar os nossos professores.

Erasmo de Roterdã

Se colocares numa parte da balança as vantagens e na outra as desvantagens, perceberás que uma paz injusta é muito melhor do que uma guerra justa.

Erasmo de Roterdã

Os males que não são percebidos são os mais perigosos.

Erasmo de Roterdã

Para ganhar é preciso gastar.

Erasmo de Roterdã

Em grande parte, os maridos são como as mulheres os fazem.

Erasmo de Roterdã

Quanto maior é a sua sabedoria mais os homens se afastam da felicidade.

Erasmo de Roterdã

O melhor modo de venerar os santos é imitá-los.

Erasmo de Roterdã

Um mal não é um mal para quem não o sente; que te importa se todos te vaiam se tu mesmo te aplaudes?

Erasmo de Roterdã

Mas, já é tempo de que, seguindo o exemplo de Homero, passemos, alternadamente, dos habitantes do céu aos da terra, onde nada se descobre de feliz e de alegre que não seja obra minha.
Primeiro, vós bem vedes com que providência a natureza, esta mãe produtora do gênero humano, dispôs que em coisa alguma faltasse o condimento da loucura. Segundo a definição dos estóicos o sábio é aquele que vive de acordo com as regras da razão prescrita, e o louco, ao contrário, é o que se deixa arrastar ao sabor de suas paixões. Eis porque Júpiter, com receio de que a vida do homem se tornasse triste e infeliz, achou conveniente aumentar muito mais a dose das paixões que a da razão, de forma que a diferença entre ambas é pelo menos de um para vinte e quatro. Além disso, relegou a razão para um estreito cantinho da cabeça, deixando todo o resto do corpo presa das desordens e da confusão. Depois, ainda não satisfeito com isso, uniu Júpiter à razão, que está sozinha, duas fortíssimas paixões, que são como dois impetuosíssimos tiranos: uma é a Cólera, que domina o coração, centro das vísceras e fonte da vida; a outra é a Concupiscência, que estende o seu império desde a mais tenra juventude até à idade mais madura. Quanto ao que pode a razão contra esses dois tiranos, demonstra-o bem a conduta normal dos homens. Prescreve os deveres da honestidade, grita contra os vícios a ponto de ficar rouca, e é tudo o que pode fazer; mas os vícios riem-se de sua rainha, gritam ainda mais forte e mais imperiosamente do que ela, até que a pobre soberana, não tendo mais fôlego, é constrangida a ceder e a concordar com os seus rivais.

Erasmo de Roterdã

Dizei-me por obséquio: um homem que odeia a si mesmo poderá, acaso, amar alguém? Um homem que discorda de si mesmo poderá, acaso, concordar com outro? Será capaz de inspirar alegria aos outros quem tem em si mesmo a aflição e o tédio? Só um louco, mais louco ainda do que a própria Loucura, admitireis que possa sustentar a afirmativa de tal opinião. Ora, se me excluirdes da sociedade, não só o homem se tornará intolerável ao homem, como também, toda vez que olhar para dentro de si, não poderá deixar de experimentar o desgosto de ser o que é, de se achar aos próprios olhos imundo e disforme, e, por conseguinte, de odiar a si mesmo. A natureza, que em muitas coisas é mais madrasta do que mãe, imprimiu nos homens, sobretudo nos mais sensatos, uma fatal inclinação no sentido de cada qual não se contentar com o que tem, admirando e almejando o que não possui: daí o fato de todos os bens, todos os prazeres, todas as belezas da vida se corromperem e reduzirem a nada. Que adianta um rosto bonito, que é o melhor presente que podem fazer os deuses imortais, quando contaminado pelo mau cheiro? De que serve a juventude, quando corrompida pelo veneno de uma hipocondria senil? Como, finalmente, podereis agir em todos os deveres da vida, quer no que diz respeito aos outros, quer a vós mesmos, como, — repito — podereis agir com decoro (pois que agir com decoro constitui o artifício e a base principal de toda ação), se não fordes auxiliados por esse amor próprio que vedes à minha direita e que merecidamente me faz as vezes de irmã, não hesitando em tomar sempre o meu partido em qualquer desavença? Vivendo sob a sua proteção, ficais encantados pela excelência do vosso mérito e vos apaixonais por vossas exímias qualidades, o que vos proporciona a vantagem de alcançardes o supremo grau de loucura. Mais uma vez repito: se vos desgostais de vós mesmos, persuadi-vos de que nada podereis fazer de belo, de gracioso, de decente. Roubada à vida essa alma, languesce o orador em sua declamação, inspira piedade o músico com suas notas e seu compasso, ver-se-á o cômico vaiado em seu papel, provocarão o riso o poeta e as suas musas, o melhor pintor não conquistará senão críticas e desprezo, morrerá de fome o médico com todas as suas receitas, em suma Nereu(34) aparecerá como Tersites, Faão como Nestor, Minerva como uma porca, o eloqüente como um menino, o civilizado como um bronco. Portanto, é necessário que cada qual lisonjeie e adule a si mesmo, fazendo a si mesmo uma boa coleção de elogios, em lugar de ambicionar os de outrem. Finalmente, a felicidade consiste, sobretudo, em se querer ser o que se é. Ora, só o divino amor próprio pode conceder tamanho bem. Em virtude do amor próprio, cada qual está contente com seu aspecto, com seu talento, com sua família, com seu emprego, com sua profissão, com seu país, de forma que nem os irlandeses desejariam ser italianos, nem os trácios atenienses, nem os citas habitantes das ilhas Fortunadas. Oh surpreendente providência da natureza! Em meio a uma infinita variedade de coisas, ela soube pôr tudo no mesmo nível. E, se não se mostrou avara na concessão de dons aos seus filhos, mais pródiga se revelou ainda ao conceder-lhes o amor próprio. Que direi dos seus dons? É uma pergunta tola. Com efeito, não será o amor próprio o maior de todos os bens?

Erasmo de Roterdã

Mas, na minha opinião, o homem é tanto mais feliz quanto mais numerosas são as suas modalidades de loucura.

Erasmo de Roterdã

Outra espécie de homens […] é constituída por aqueles que se sentem devorados pela mania de construir. Uma vez invadidos por essa irriquieta paixão, nunca se dão por satisfeitos, sendo a sua preocupação contínua a de fazer, edificar, destruir, até que, como Horácio, nessa tarefa de mudar o quadrado em redondo e o redondo em quadrado, acabam por ficar sem casa e sem pão. E com que ficam? Ficam com a doce lembrança de terem passado com prazer um grande número de anos.

Erasmo de Roterdã

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