AutorEdna St. Vincent Millay

Edna St. Vincent Millay

Infância não é a partir do nascimento com certa idade para uma certa idade. A criança se torna um adulto, e esquece das coisas infantis.
A infância é o reino onde ninguém morre.

Edna St. Vincent Millay

Que lábios já beijei, esqueci quando
e porquê, e que braços sob a minha
cabeça até ser dia; a chuva alinha
os fantasmas que rufam, suspirando,
no espelho, respostas esperando,
e no meu peito uma dor calma aninha
rapazes que não lembro e a mim sozinha
à meia-noite já não vêm chorando.
No inverno a solitária árvore assim
nem sabe que aves foram uma a uma,
sabe os ramos mais mudos: nem sei quais
amores vindos, idos, eu resuma,
só sei que o verão cantou em mim
breve momento e em mim não canta mais.

Edna St. Vincent Millay

“E se eu te amo na quarta,
Não te amarei na quinta.
Isso pode ser verdade.
Porque você reclama?
Te amei na quarta sim, e daí?”

Edna St. Vincent Millay

Minha vela queima dos dois lados, ela não vai durar a noite inteira, mas oh, meus amigos, ah, meus inimigos, que bela luz ela dá!

Edna St. Vincent Millay

Veloz
A noite cai
E o hoje
Já se esvai.

Edna St. Vincent Millay

Onde você ficava há um buraco no mundo, que me vejo sempre contornando durante o dia e caindo durante a noite. Sinto terrivelmente a sua falta.

Edna St. Vincent Millay

Eles dizem que quando você está sentindo falta de alguém, ele provavelmente está sentindo o mesmo, mas eu não acho possível você estar sentindo tanto a minha falta quanto eu estou sentindo a sua agora.

Edna St. Vincent Millay

Meu coração se alegra em boa companhia
E melhores amigos não terá,
Mas não existe um trem no qual eu não iria,
Aonde quer que ele vá.

Edna St. Vincent Millay

O tempo não traz alívio; mentiram-me todos
os que disseram que o tempo amenizaria a minha dor.
Sinto sua falta no choro da chuva;
Quero sua presença no recuar da maré.
A velha neve escorre pela encosta de cada montanha,
E as folhas de outono viram fumaça em cada caminho
Mas o triste amor do passado deve permanecer
o meu coração, e meus velhos pensamentos perduram.
Há centenas de lugares aos quais receio ir
– por estarem repletos de lembranças dele.
E ao entrar com alívio em algum lugar tranquilo
Onde seu pé nunca pisou, nem seu rosto brilhou.
Eu digo: “Aqui não há nenhuma recordação dele!”
E com isso paro, arrasada, e me lembro tanto dele.

Edna St. Vincent Millay

⁠Não me conformo em ver baixarem à terra dura os corações amorosos,
É assim, assim há de ser, pois assim tem sido desde tempos imemoriais:
Partem para a treva os sábios e os encantadores. Coroados
De louros e de lírios, partem; porém não me conformo com isso.
Amantes, pensadores, misturados com a terra!
Unificados com a triste, indistinta poeira.
Um fragmento do que sentíeis, do que sabíeis,
Uma fórmula, uma frase resta — porém o melhor se perdeu.
As réplicas vivas, rápidas, o olhar sincero, o riso, o amor
foram-se embora. Foram-se para alimento das rosas. Elegante, ondulosa
é a flor. Perfumada é a flor. Eu sei. Porém não estou de acordo.
Mais preciosa era a luz em vossos olhos do que todas as rosas do mundo.
Vão baixando, baixando, baixando à escuridão do túmulo
Suavemente, os belos, os carinhosos, os bons.
Tranquilamente baixam os espirituosos, os engraçados, os valorosos.
Eu sei. Porém não estou de acordo. E não me conformo.
[Tradução de Carlos Drummond de Andrade,
“Poesia Traduzida”, Editora Cosacnaify]

Edna St. Vincent Millay

⁠O amor não é tudo
O amor não é tudo: nem carne nem
bebida, nem é sono, lar da gente,
nem a tábua lançada para quem
se afunda e volta e afunda novamente.
O amor não pode encher o pulmão forte,
pôr osso no lugar, tratar humores,
embora tantos dêem a mão à morte
(enquanto o digo) só por desamores.
Bem pode ser, na hora mais doída,
ou da minha franqueza arrependida,
buscando alívio à dor, seja capaz
de vender teu amor por minha paz
ou trocar-te a lembrança pelo pão.
Bem pode ser que o faça. Acho que não.

Edna St. Vincent Millay

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