AutorEderval Fernandes

Ederval Fernandes

a vertigem
do dia são estas
horas:
luz e fogo
levando
embora a noite
calma.
um nada
no nada,
meu adágio
sai e segue.
e um deus (morto)
bebe um café
comigo.

Ederval Fernandes

Como os dedos
que rasgaram
o papel do
presente.
Como o ausente
dos vários
segredos
que não
revelaram.
Como o café
que repousa
na mesa
e será bebido.
Como o livro
lido
duas, três
vezes até
ser amada
a sua beleza.
Como quando
entrei
em você
pela
primeira
vez e entendi.
Como, por uma
besteira, não sei,
minha vó chora
e depois ri.
Como os dias
em que Vivo
e não quando
estou morto
e respirando
feito verme.
Como a tua mão
procurou ver-me
no escuro
de mim e do quarto:
como quando um
coração
faz um Uivo.

Ederval Fernandes

Um fio
se liga
a outro, diz
o eletricista.
Uma palavra
se liga
a outra,
diz o poeta.
Um dia
se liga
a uma noite
e uma noite
se liga
a um dia.
É assim –
nos ensina
a poesia.
Sabem
o eletricista
e o poeta
que a luz
se projeta
com o fio. Mas com
palavras, desconfiam.

Ederval Fernandes

à noite,
como
a foice:
esse
coice:
esse
som.
alarde.
a
vida
há-de.
foi
tarde,
mas
foi bom.

Ederval Fernandes

Por esta janela,
cujo vidro ainda me protegerá do frio,
observo gatos noturnos passearem pelos telhados
e carros atravessarem a ponte, ao longe –
gatos de aço passeando pela noite.
Consigo ver um pouco de mim
refletido no blindex por onde vejo
os gatos, os telhados, a ponte, os carros,
a noite, a cidade.
Não sou tão nítido quanto a cidade;
e assim sou eu.

Ederval Fernandes

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