Nas nossas democracias a ânsia da maioria dos mortais é alcançar em sete linhas o louvor do jornal. Para se conquistarem essas sete linhas benditas, os homens praticam todas as ações – mesmo as boas.
O apreço exterior pela arte é a sobrecasaca da inteligência.
Pensar e fumar são duas operações idênticas que consistem em atirar pequenas nuvens ao vento.
Os sentimentos mais genuinamente humanos logo se desumanizam na cidade.
Quem sem descanso apregoa a sua virtude, a si próprio se sugestiona virtuosamente e acaba por ser às vezes virtuoso.
É o comer que faz a fome.
O jornal exerce todas as funções do defunto Satanás, de quem herdou a ubiquidade; e é não só o pai da mentira, mas o pai da discórdia.
A arte é um resumo da natureza feito pela imaginação.
Para aparecerem no jornal, há assassinos que assassinam.
É o coração que faz o caráter.
O coração é ordinariamente um termo de que nos servimos, por decência, para designar outro órgão.
Sentia um acréscimo de estima por si mesma, e parecia-lhe que entrava enfim numa existência superiormente interessante, onde cada hora tinha o seu encanto diferente, cada passo conduzia a um êxtase, e a alma se cobria de um luxo radioso de sensações!
O amor eterno é o amor impossível. Os amores possíveis começam a morrer no dia em que se concretizam.
Que mérito há em amar os que nos amam?
É que o amor é essencialmente perecível, e na hora em que nasce começa a morrer. Só os começos são bons. Há então um delírio, um entusiasmo, um bocadinho do céu. Mas depois! Seria pois necessário estar sempre a começar, para poder sempre sentir?
O Primo Basílio
… tinha suspirado, tinha beijado o papel devotamente! Era a primeira vez que lhe escreviam aquelas sentimentalidades, e o seu orgulho dilatava-se ao calor amoroso que saía delas, como um corpo ressequido que se estira num banho tépido; sentia um acréscimo de estima por si mesma, e parecia-lhe que entrava enfim numa existência superiormente interessante, onde cada hora tinha o seu encanto diferente, cada passo condizia a um êxtase, e a alma se cobria de um luxo radioso de sensações!
Ergueu-se de um salto, passou rapidamente um roupão, veio levantar os transparentes da janela… Que linda manhã! Era um daqueles dias do fim de agosto em que o estio faz uma pausa; há prematuramente, no calor e na luz, uma certa tranqüilidade outonal; o sol cai largo, resplandecente, mas pousa de leve; o ar não tem o embaciado canicular, e o azul muito alto reluz com uma nitidez lavada; respira-se mais livremente; e já se não vê na gente que passa o abatimento mole da calma enfraquecedora. Veio-lhe uma alegria: sentia-se ligeira, tinha dormido a noite de um sono são, contínuo, e todas as agitações, as impaciências dos dias passados pareciam ter-se dissipado naquele repouso. Foi-se ver ao espelho.
Quando não se tem aquilo que se gosta é necessário gostar-se daquilo que se tem.
Nem a ciência, nem as artes, nem mesmo o dinheiro, nem o amor, poderiam ja dar um gosto interno e real as nossas almas saciadas. Todo o prazer que extraía de criar, estava esgotado. Só restava, agora, o divino prazer de destruir.
… a única emoção, verdadeiramente fina, seria aniquilar a civilização.
Os políticos e as fraldas devem ser mudadas pela mesma razão.
Os políticos e a as fraldas são semelhantes, possuem o mesmo conteúdo.
A curiosidade leva por um lado a escutar às portas e por outro a descobrir a América.
A todo viver corresponde um sofrer.
O maior espetáculo para o homem será sempre o próprio homem.
Nos amores deste mundo, desde Eva, há sempre um que ama e outro que se deixa amar.
Curiosidade: instinto que leva alguns a olhar pelo buraco da fechadura, e outros a descobrir a América.
Era a primeira vez que se separava de Luísa; e perdia-se já em saudades daquela salinha, que ele mesmo ajudara a forrar de papel novo nas vésperas do seu casamento, e onde, depois das felicidades da noite, os seus almoços se prolongavam em tão suaves preguiças!
Quem não conhece o poder da oração,
é porque não viveu as amarguras da vida!
Chorai!, chorai! Enquanto a mim, a dor sufoca-me.
Porque nos temperamentos sensíveis as alegrias do coração tendem a completar-se com as sensualidades do luxo: o primeiro erro que se instala numa alma até aí defendida, facilita logo aos outros entradas tortuosas – assim, um ladrão que se introduz numa casa vai abrindo sutilmente as portas à sua quadrilha esfomeada.
Nunca desalojarei um espírito do conceito onde ele encontra segurança, disciplina e motivo de energia. (A cidade e as serras)
O pessimismo é excelente para os inertes, porque lhes atenua o desgracioso delito da inércia.
Não haveria o direito de vencer se não houvesse o direito de perdoar.
Nunca houve numa vida única uma afeição única: e se nos parece que há casos em que houve é que essa vida não durou o bastante para que a desilusão e a mudança se produzisse, ou quando se produziu ficou orgulhosamente guardada no segredo do coração que a sentiu.
Um homem só deve falar, com impecável segurança e pureza, a língua da sua terra: todas as outras as deve falar mal, orgulhosamente mal, com aquele acento chato e falso que denuncia logo o estrangeiro.
O Realismo é uma reação contra o Romantismo: o Romantismo era a apoteose do sentimento; o Realismo é a anatomia do caráter. É a crítica do homem. É a arte que nos pinta a nossos próprios olhos – para condenar o que houve de mau na nossa sociedade.
A curiosidade, instinto de complexidade infinita, leva por um lado a escutar às portas e por outro a descobrir a América.
A gente nunca sabe se o que lhe sucede é, em definitivo, bom ou mau.
Não há nada novo sob o Sol, e a eterna repetição das coisas é a eterna repetição dos males. Quanto mais se sabe mais se pena. E o justo como o perverso, nascidos do pó, em pó se tornam.
O riso é a mais antiga e mais terrível forma de crítica.
Nada há de mais ruidoso – e que mais vivamente se saracoteie com um brilho de lantejoulas – do que a política.
A alma modela a face, como o sopro do antigo oleiro modelava o vaso fino.
A mais pequenina dor que diante de nós se produz e diante de nós geme, põe na nossa alma uma comiseração e na nossa carne um arrepio, que lhe não dariam as mais pavorosas catástrofes passadas longe, noutro tempo ou sob outros céus. Um homem caído a um poço na minha rua mais ansiadamente me sobressalta que cem mineiros sepultados numa mina da Sibéria.
A História é uma velhota, que se repete sem cessar
O Amor e uma cabana.
“Tudo que não seja viver escondido numa casinhola, pobre ou rica, com uma pessoa que se ame, e no adorável conforto espiritual que dê esse amor – me parece agora vão, fictício, inútil, oco e ligeiramente imbecil.”
Ondas de Solidão
Se possuísse uma canoa e um papagaio, podia considerar-me realmente como um Robinson Crusoé, desamparado na sua ilha. Há, é verdade, em roda de mim uns quatro ou cinco milhões de seres humanos.
Mas, que é isso? As pessoas que nos não interessam e que se não interessam por nós, são apenas uma outra forma da paisagem, um mero arvoredo um pouco mais agitado.
São, verdadeiramente como as ondas do mar, que crescem e morrem, sem que se tornem diferenciáveis uma das outras, sem que nenhuma atraia mais particularmente a nossa simpatia enquanto rola, sem que nenhuma, ao desaparecer, nos deixe uma mais especial recordação.
Ora estas ondas, com o seu tumulto, não faltavam decerto em torno do rochedo de Robinson – e ele continua a ser, nos colégios e conventos, o modelo lamentável e clássico da solidão.
Para quem vive exclusivamente entre o metal, no cuidado do metal, e que por isso se metalizou, a perda do metal é a única dor verdadeira.
A curiosidade, instinto de complexidade infinita, leva por um lado a escutar às portas e por outro, a descobrir a América.
Onde aparece o ouro, o terrível ouro, imediatamente os homens em redor se entreolham com rancor e levam as mãos às facas.
O Brasil é Império, será República e depois será Império novamente.
O amor é essencialmente perecível, quando nasce começa a morrer.
(Primo Basilio)
O lucro é o deleite moral do trabalho
O amor espiritualiza o homem e materializa a mulher.
São graves, perante Deus e perante a sociedade, as responsabilidades dum chefe de família.
Nas nossas democracias a ânsia da maioria dos mortais é alcançar em sete linhas o louvor do jornal. Para se conquistarem essas sete linhas benditas, os homens praticam todas as ações – mesmo as boas.
O apreço exterior pela arte é a sobrecasaca da inteligência.
Pensar e fumar são duas operações idênticas que consistem em atirar pequenas nuvens ao vento.
Os sentimentos mais genuinamente humanos logo se desumanizam na cidade.
Quem sem descanso apregoa a sua virtude, a si próprio se sugestiona virtuosamente e acaba por ser às vezes virtuoso.
É o comer que faz a fome.
O jornal exerce todas as funções do defunto Satanás, de quem herdou a ubiquidade; e é não só o pai da mentira, mas o pai da discórdia.
A arte é um resumo da natureza feito pela imaginação.
Para aparecerem no jornal, há assassinos que assassinam.
É o coração que faz o caráter.
O coração é ordinariamente um termo de que nos servimos, por decência, para designar outro órgão.
Sentia um acréscimo de estima por si mesma, e parecia-lhe que entrava enfim numa existência superiormente interessante, onde cada hora tinha o seu encanto diferente, cada passo conduzia a um êxtase, e a alma se cobria de um luxo radioso de sensações!
O amor eterno é o amor impossível. Os amores possíveis começam a morrer no dia em que se concretizam.
Que mérito há em amar os que nos amam?
É que o amor é essencialmente perecível, e na hora em que nasce começa a morrer. Só os começos são bons. Há então um delírio, um entusiasmo, um bocadinho do céu. Mas depois! Seria pois necessário estar sempre a começar, para poder sempre sentir?
O Primo Basílio
… tinha suspirado, tinha beijado o papel devotamente! Era a primeira vez que lhe escreviam aquelas sentimentalidades, e o seu orgulho dilatava-se ao calor amoroso que saía delas, como um corpo ressequido que se estira num banho tépido; sentia um acréscimo de estima por si mesma, e parecia-lhe que entrava enfim numa existência superiormente interessante, onde cada hora tinha o seu encanto diferente, cada passo condizia a um êxtase, e a alma se cobria de um luxo radioso de sensações!
Ergueu-se de um salto, passou rapidamente um roupão, veio levantar os transparentes da janela… Que linda manhã! Era um daqueles dias do fim de agosto em que o estio faz uma pausa; há prematuramente, no calor e na luz, uma certa tranqüilidade outonal; o sol cai largo, resplandecente, mas pousa de leve; o ar não tem o embaciado canicular, e o azul muito alto reluz com uma nitidez lavada; respira-se mais livremente; e já se não vê na gente que passa o abatimento mole da calma enfraquecedora. Veio-lhe uma alegria: sentia-se ligeira, tinha dormido a noite de um sono são, contínuo, e todas as agitações, as impaciências dos dias passados pareciam ter-se dissipado naquele repouso. Foi-se ver ao espelho.
Quando não se tem aquilo que se gosta é necessário gostar-se daquilo que se tem.
Nem a ciência, nem as artes, nem mesmo o dinheiro, nem o amor, poderiam ja dar um gosto interno e real as nossas almas saciadas. Todo o prazer que extraía de criar, estava esgotado. Só restava, agora, o divino prazer de destruir.
… a única emoção, verdadeiramente fina, seria aniquilar a civilização.
Os políticos e as fraldas devem ser mudadas pela mesma razão.
Os políticos e a as fraldas são semelhantes, possuem o mesmo conteúdo.
A curiosidade leva por um lado a escutar às portas e por outro a descobrir a América.
A todo viver corresponde um sofrer.
O maior espetáculo para o homem será sempre o próprio homem.
Nos amores deste mundo, desde Eva, há sempre um que ama e outro que se deixa amar.