AutorDonizete Galvao

Donizete Galvao

Fachada Logo vai terminar o prazo para o homem construir sua fachada. Ele continua em andaimes. Provisório. Exibe máscaras cambiantes. Sua face inconclusa, sustentada por ferragens, parece esconder que, em todos esses anos de obra, ergueram-se inúteis plataformas para edificar um escombro.

Donizete Galvao

Negrume podem me dar tarja preta tentem me tirar do breu o carvão aqui sou eu

Donizete Galvao

Cidade ó blues de cruciais impossibilidades dores de amores inexistentes rosas amarelas mortas no apartamento beijos e salivas nas tardes desérticas ó visão depressiva do asfalto molhado prédios encardidos & horda dos bárbaros arquitetura de guerra de dias provisórios espelho poluído da cidade da chuva ó mundo artificial com sua natureza de néon espetáculo de vitrines e exibições nada de eterno palpita no seu coração tudo já nasce velho para ser refeito amanhã.

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Atravessar as coisas Atravessar as coisas para melhor absorver-lhes a duração e o gosto. Aprender a paciência de um artesanato. Sair do outro lado com outra densidade: o corpo mais sólido diante da correnteza desses dias.

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Oração natural Fique atento ao ritmo, aos movimentos do peixe no anzol. Fique atento às falas das pessoas que só dizem o necessário. Fique atento aos sulcos de sal de sua face. Fique atento aos frutos tardios que pendem da memória. Fique atento às raízes que se traçam em seu coração. A atenção: forma natural de oração.

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