Todos os pecados têm origem num sentido de inferioridade, também chamado ambição.
Em suma, todo o problema da vida é este: como romper a própria solidão, como comunicar-se com os outros.
A bondade que nasce do cansaço de sofrer é um horror pior do que o sofrimento.
A dificuldade de praticar o suicídio está nisto: é um ato de ambição que só pode ser realizado depois de superada toda a espécie de ambição.
As coisas são descobertas por meio das lembranças que se têm delas. Relembrar uma coisa significa vê-la – apenas agora – pela primeira vez.
O sexo é um acidente: o que dele recebemos é momentâneo e casual; visamos a algo mais secreto e misterioso do qual o sexo é apenas um sinal, um símbolo.
A imaginação humana é imensamente mais pobre do que a realidade.
Quando se sofre, julga-se que para lá do círculo existe a felicidade; quando não se sofre, sabe-se que a felicidade não existe e sofre-se, então, por não sofrer.
Todo o luxo se paga. Tudo é luxo; a começar pelo estar no mundo.
A falsidade eterna da poesia é que nela os acontecimentos decorrem num tempo diferente do real.
O homem interessa-se tão pouco pelo próximo que até mesmo o cristianismo recomenda fazer o bem por amor a Deus.
A religião consiste em acreditar que tudo aquilo que nos acontece é extraordinariamente importante. Nunca poderá desaparecer do mundo, justamente por essa razão.
Fazer poesia é como fazer amor: nunca se saberá se a própria alegria é compartilhada.
Em geral, quem não sabe dar um sentido à própria vida dispõe-se por profissão a sacrificar-se.
Que importa viver com os outros quando cada um se está nas tintas para o que é importante para os outros?
Será um conforto pensar que a fraqueza pode ser uma força, como uma saúde delicada é uma defesa contra as doenças graves?
Ironia da vida: a mulher dá-se como prêmio ao fraco e apoio ao forte, e nunca ninguém tem o que precisa.
Defender a ideia de que os nossos sucessos nos são concedidos pela Providência, e não pela astúcia, é uma astúcia a mais para aumentar aos nossos olhos a importância desses sucessos.
Para agradar aos homens é preciso professar o que cada um desses homens repudia e odeia na sua vida secreta.
Há algo mais triste que falharmos os nossos ideais: é termos conseguido realizá-los.
Amor é desejo de conhecimento.
A política é a arte do possível. Toda a vida é política.
É concebível que se mate uma pessoa para contarmos na vida dela? Então, é admissível que nos matemos para contar na nossa própria vida.
A vida sem fumo é como o fumo sem o assado.
Perdoamos aos outros quando nos convém.
Apenas o que passou, ou mudou, ou desapareceu, nos revela a sua verdadeira natureza.
É fácil ser-se bom quando se está apaixonado.
Deixa-se de ser jovem quando se compreende que de nada serve contar uma dor.
Se é verdade que nos habituamos à dor, como é que, com o andar dos anos, sofremos cada vez mais?
Dá-se a esmola para tirar da frente o miserável que a pede.
Afirmar que os nossos êxitos são devidos à Providência e não à habilidade, é uma esperteza mais para aumentar, aos nossos olhos, a importância desses êxitos.
Vencer em alguma coisa, seja no que for, é ambição, sórdida ambição. É lógico, portanto, recorrer aos meios mais sórdidos.
O único modo de escapar ao abismo é observá-lo, e medi-lo, e sondá-lo e descer para dentro dele.
O fascínio subtil das convalescenças consiste no seguinte: regressar aos velhos hábitos com a ilusão de os descobrir.
A única alegria no mundo é começar. É bom viver porque viver é começar sempre, a cada instante.
O amor tem a virtude, não apenas de desnudar dois amantes um em face do outro, mas também cada um deles diante de si próprio.
Nunca falta a ninguém uma boa razão para suicidar-se.
O castigo de quem pratica atos contra a natureza e que, quando quiser ser natural, já não o conseguirá. A história de Jekyll e Hyde.
Vingarmo-nos de um mal de que fomos vítimas é privarmo-nos do conforto de gritarmos contra a injustiça.
Chega uma época em que nos damos conta de que tudo o que fazemos se transformará em lembrança um dia. É a maturidade. Para alcançá-la, é preciso justamente já ter lembranças.
Os filósofos que acreditam na lógica absoluta da verdade nunca tiveram de travar uma discussão cerrada com uma mulher.
Para se desprezar o dinheiro é preciso justamente tê-lo, e muito.
Todo o crítico é exatamente como uma mulher na idade crítica: rancoroso e reprimido.
Se só a dor nos pode educar, pergunto porque é, filosoficamente, proibido encarniçarmo-nos contra o próximo, educando-o do melhor modo?.
Os erros são sempre iniciais.
Não existe vingança melhor de que aquela que os outros infligem ao teu inimigo. Tem até o mérito de deixar-te a parte do generoso.
A literatura é uma defesa contra as ofensas da vida.
Não conseguimos livrar-nos de uma coisa evitando-a, mas apenas atravessando-a.
É bom escrever porque reúne as duas alegrias: falar sozinho e falar a uma multidão.
Todas as paixões passam e se apagam, exceto as mais antigas, aquelas da infância.
O que conta para um artista não é a «experiência», é a experiência interior.
Não há absolutamente ninguém que faça um sacrifício sem esperar uma compensação. É tudo uma questão de mercado.
Não é bom ser criança: bom é, quando somos velhos, pensar em quando éramos crianças.
A ofensa mais atroz que se pode fazer a um homem é negar-lhe que sofra.
É estupidez entristecermo-nos pela perda de uma companhia: podíamos nunca ter encontrado essa pessoa, portanto, podemos dispensá-la.
O louco tem inimigos. O sonhador tem-se apenas a si próprio.
Uma mulher, que não seja estúpida, cedo ou tarde encontra um farrapo humano e tenta salvá-lo. Às vezes consegue. Porém, uma mulher, que não seja estúpida, cedo ou tarde encontra um homem são e reduze-o a um farrapo. Sempre consegue.
Sofrer não serve para nada / Sofrer limita a eficiência espiritual / Sofrer é sempre culpa nossa / Sofrer é uma fraqueza.
Porque é desaconselhável perder a cabeça? Porque, então, se é sincero.
Uma só criatura ensina mais do que cem.
A morte é o repouso, mas o pensamento da morte é o perturbador de todo o repouso.
Deem uma companhia ao solitário e ele falará mais do que qualquer pessoa.
Odeiam-se os outros porque se odeia a si mesmo.
O ócio torna as horas lentas e os anos velozes. A atividade torna as horas rápidas e os anos lentos.
Os suicídios são homicídios tímidos. Masoquismo em vez de sadismo.
Existe algo mais triste do que envelhecer: permanecer criança.
Toda a arte é um problema de equilíbrio entre dois opostos.
Aquele que não tem ciúmes, até mesmo das calcinhas da bem-amada, não está apaixonado.
A verdadeira solidão, isto é, aquela que faz sofrer, traz consigo o desejo de matar.
Os lugares onde foste feliz, tornam-se inabitáveis
Esperar é ainda uma ocupação.
Terrível é não ter nada que esperar.
Disciplina Antiga
Os que bebem não sabem falar às mulheres,se perderam de tudo, e ninguém os aceita.
Andam lentos na rua, e as ruas e postes não têm fim.
Alguns deles dão giros mais longos, mas não há o que temer:amanhã eles voltam para casa.
O que bebe imagina que está com mulheres-como postes à noite são sempre os mesmos, assim as mulheres são sempre as mesmas-; nenhuma o escuta.
Mas o bêbado tenta, e as mulheres não o querem.
As mulheres, que riem, conhecem de cor suas palavras.
Por que riem assim as mulheres ou gritam, se choram?
O homem bêbado quer e deseja uma bêbada que o ouvisse calada. Mas elas o atiçam:”Para ter esse filho, é preciso contar com a gente.”
O homem bêbado abraça-se ao bêbado amigo que esta noite é seu filho, nascido sem elas.
Como pode umazinha que chora e que grita dar-lhe um filho amigo? Se aquele é um bêbado, não recorda as mulheres no andar inseguro, e esses dois perambulam em paz. O filhinho que conta não nasceu de mulher- pois seria mulher também ele. Caminha com o pai e conversa:toda a noite iluminam-lhe os passos os postes.
Não nos lembramos de dias, lembramo-nos de momentos.
Il est beau d’écrire parce que cela réunit les deux joies: parler seul et parler à une foule.
Não há dúvida de que é inútil e prejudicial lamentarmo-nos perante o mundo. Resta saber se não é igualmente inútil e prejudicial lamentarmo-nos perante nós próprios. Evidentemente. De fato, ninguém se lamentará perante si próprio, a fim de se incitar à piedade, o que nada significaria, dado que a piedade é, por definição, o voluptuoso encontro de dois espíritos. Para quê, então? Não para obter favores, porque o único favor que um espírito pode fazer a si próprio é conceder-se indulgência, e toda a gente percebe quanto é prejudicial que a vontade seja indulgente para com a sua própria e lamentável fraqueza.
Resta a hipótese de o fazermos para extrair verdades do nosso coração amolecido pela ternura. Mas a experiência ensina que as verdades surgem apenas em virtude de uma pacata e severa busca, que surpreende a consciência numa atitude inesperada e a vê, como de um filme que parasse de repente, estupefata, mas não emocionada.
Cesare Pavese, in O ofício de viver
…o único favor que um espírito pode fazer a si próprio é conceder-se indulgência, e toda a gente percebe quanto é prejudicial que a vontade seja indulgente para com a sua própria e lamentável fraqueza.
…as verdades surgem apenas em virtude de uma pacata e severa busca, que surpreende a consciência numa atitude inesperada e a vê, como de um filme que parasse de repente, estupefata, mas não emocionada.
A cadência do sofrimento começou.
Todos os pecados têm origem num sentido de inferioridade, também chamado ambição.
Em suma, todo o problema da vida é este: como romper a própria solidão, como comunicar-se com os outros.
A bondade que nasce do cansaço de sofrer é um horror pior do que o sofrimento.
A dificuldade de praticar o suicídio está nisto: é um ato de ambição que só pode ser realizado depois de superada toda a espécie de ambição.
As coisas são descobertas por meio das lembranças que se têm delas. Relembrar uma coisa significa vê-la – apenas agora – pela primeira vez.
O sexo é um acidente: o que dele recebemos é momentâneo e casual; visamos a algo mais secreto e misterioso do qual o sexo é apenas um sinal, um símbolo.
A imaginação humana é imensamente mais pobre do que a realidade.
Quando se sofre, julga-se que para lá do círculo existe a felicidade; quando não se sofre, sabe-se que a felicidade não existe e sofre-se, então, por não sofrer.
Todo o luxo se paga. Tudo é luxo; a começar pelo estar no mundo.
A falsidade eterna da poesia é que nela os acontecimentos decorrem num tempo diferente do real.
O homem interessa-se tão pouco pelo próximo que até mesmo o cristianismo recomenda fazer o bem por amor a Deus.
A religião consiste em acreditar que tudo aquilo que nos acontece é extraordinariamente importante. Nunca poderá desaparecer do mundo, justamente por essa razão.
Fazer poesia é como fazer amor: nunca se saberá se a própria alegria é compartilhada.
Em geral, quem não sabe dar um sentido à própria vida dispõe-se por profissão a sacrificar-se.
Que importa viver com os outros quando cada um se está nas tintas para o que é importante para os outros?
Será um conforto pensar que a fraqueza pode ser uma força, como uma saúde delicada é uma defesa contra as doenças graves?
Ironia da vida: a mulher dá-se como prêmio ao fraco e apoio ao forte, e nunca ninguém tem o que precisa.
Defender a ideia de que os nossos sucessos nos são concedidos pela Providência, e não pela astúcia, é uma astúcia a mais para aumentar aos nossos olhos a importância desses sucessos.
Para agradar aos homens é preciso professar o que cada um desses homens repudia e odeia na sua vida secreta.
Há algo mais triste que falharmos os nossos ideais: é termos conseguido realizá-los.
Amor é desejo de conhecimento.
A política é a arte do possível. Toda a vida é política.
É concebível que se mate uma pessoa para contarmos na vida dela? Então, é admissível que nos matemos para contar na nossa própria vida.
A vida sem fumo é como o fumo sem o assado.
Perdoamos aos outros quando nos convém.