AutorCasimiro de Brito.

Casimiro de Brito.

Peço a paz e o silêncio
A paz dos frutos
e a música
de suas sementes
abertas ao vento.
Peço a paz
e meus pulsos
traçam na chuva
um rosto e um pão.
Peço a paz
silenciosamente
a paz, a madrugada
em cada ovo aberto
aos passos leves da morte.
A paz peço, a paz apenas
o repouso da luta no barro das mãos
uma língua sensível ao sabor do vinho
a paz clara, a paz quotidiana
dos actos que nos cobrem
de lama e sol.
Peço a paz e o silêncio.

Casimiro de Brito.

Do Poema
O problema não é
meter o mundo no poema; alimentá-lo
de luz, planetas, vegetação. Nem
tão-pouco
enriquecê-lo, ornamentá-lo
com palavras delicadas, abertas
ao amor e à morte, ao sol, ao vício,
aos corpos nus dos amantes —
o problema é torná-lo habitável, indispensável
a quem seja mais pobre, a quem esteja
mais só
do que as palavras
acompanhadas
no poema.

Casimiro de Brito.

Uns sofrem, outros julgam que são felizes.

Casimiro de Brito.

A dignidade com que morrem os animais: não têm nada para deixar.

Casimiro de Brito.

Cuidado. O amor
é um pequeno animal
desprevenido, uma teia
que se desfia
pouco a pouco. Guardo
silêncio
para que possam ouvi-lo
desfazer-se.

Casimiro de Brito.

Beijo-a no sono — beijo-a
mentalmente não vá eu acordar
a luz dos meus dias.

Casimiro de Brito.

O poder dos outros não nos oprime mais do que o exercício do poder próprio. Falsos poderes.

Casimiro de Brito.

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