AutorCarlos Seabra

Carlos Seabra

criado mudo
fica quieto
mas vê tudo

Carlos Seabra

madura no ramo
vou colher a fruta
da mulher que amo

Carlos Seabra

tinta no pincel
fantasia com asas
pardal no papel

Carlos Seabra

sol na janela
dorme gato no sofá
cor de flanela

Carlos Seabra

um pé no degrau
um passo na escada
bate coração

Carlos Seabra

língua pendente
cachorro com sede
sol ardente

Carlos Seabra

pinga torneira
tic tac do relógio
luz com poeira

Carlos Seabra

vassoura mata –
a vítima é uma
grande barata

Carlos Seabra

pássaro tenor
afina a garganta
ao sol se pôr

Carlos Seabra

areia quente
pés descalços
corrida para o mar

Carlos Seabra

olhos felinos
e um corpo de mulher –
cuidado meninos!

Carlos Seabra

greta no muro –
dois olhos ao fundo,
lá no escuro

Carlos Seabra

vento no bambu
sopra e geme prazer
assim como tu

Carlos Seabra

que delícia –
um decote aberto
com malícia

Carlos Seabra

louco desafio:
comer fubá e cantar
o sole mio!

Carlos Seabra

espiral de sol –
luz nas frestas da
escada em caracol

Carlos Seabra

trigo dourado
pelas mão do vento
é penteado

Carlos Seabra

olhos de gato
luz dos faróis na noite
pulo no mato

Carlos Seabra

caído, um corpo
acabado, um sonho
imóvel, um morto

Carlos Seabra

As ondas beijam
os lábios da praia –
bocas do mar

Carlos Seabra

nuvem que passa,
o sol dorme um pouco –
a sombra descansa

Carlos Seabra

pássaro preto
tem irmão na gaiola:
pássaro preso

Carlos Seabra

cama macia
corpo se espreguiça
nasce o dia

Carlos Seabra

gota no vidro
um rosto na janela
olhar perdido

Carlos Seabra

cubista musa
com os pés na cabeça –
obra confusa

Carlos Seabra

velho jornal
levado pelo vento
prevê temporal

Carlos Seabra

sonho colorido
o sol dança com a lua
você comigo

Carlos Seabra

terreno baldio
lixo revirado
gato vadio

Carlos Seabra

no despenhadeiro
a sombra da pedra
cai primeiro

Carlos Seabra

sossego acaba –
chegou a pamonha
de Piracicaba

Carlos Seabra

o vento afaga
o cabelo das velas
que apaga

Carlos Seabra

estrela do mar
abraça a areia
para a beijar

Carlos Seabra

ave calada –
ninho em silêncio
na madrugada

Carlos Seabra

pinta no nariz –
era uma pulga que
fugiu por um triz

Carlos Seabra

travesso gato
com saudade do dono
mija no sapato

Carlos Seabra

Saci Pererê
fuma seu cachimbo
à sombra do ipê

Carlos Seabra

jornal aberto,
café, leite e sangue:
guerra de perto

Carlos Seabra

mulher-fera
usa unhas como se
fosse pantera

Carlos Seabra

serra nevada,
cumes tocam o céu –
nuvem furada

Carlos Seabra

com alicate
abre o maluco
um abacate

Carlos Seabra

folhas no quintal
dançam ao vento
com as roupas do varal

Carlos Seabra

rochedo no mar
barco afundado
olhos a chorar

Carlos Seabra

nuvem parada
beijada pela brisa
fica molhada

Carlos Seabra

musa sereia –
marinheiro bêbado
ouve baleia

Carlos Seabra

gota de chuva
escorre na parreira
pára na uva

Carlos Seabra

que flor é esta,
que perfuma assim
toda a floresta?

Carlos Seabra

gente sem terra,
corrupção, desemprego:
mundo em guerra

Carlos Seabra

beijo roubado
é o butim do ladrão
apaixonado

Carlos Seabra

abelha na flor
a brisa nas árvores
eu com teu sabor

Carlos Seabra

micro na teia
navega na internet
grão de areia

Carlos Seabra

salta o gato
assalta o gatuno
susto na noite

Carlos Seabra

briga de gatos
na sala de jantar –
vaso em cacos

Carlos Seabra

velha na fonte –
os cântaros se enchem
o sol se esconde

Carlos Seabra

brasa do tempo
acende quando passas
no pensamento

Carlos Seabra

travou meu micro
todo dia Bill Gates
fica mais rico

Carlos Seabra

letras no papel
trazem tuas palavras
com sabor de mel

Carlos Seabra

chão de caruma,
crepitar no pinheiral –
passos ou fogo?

Carlos Seabra

sol na varanda –
sombras ao entardecer
brincam de ciranda

Carlos Seabra

fruta caída
ao lado da estrada:
pausa na ida

Carlos Seabra

sexto sentido
gesto delicado
abre vestido

Carlos Seabra

chora poeta –
musa obesa pensa
só em dieta

Carlos Seabra

copo de vinho,
um olhar e um toque:
te adivinho…

Carlos Seabra

ágil pivete
brinca como se fosse
zero zero sete

Carlos Seabra

um sapo azul,
inspirado em Bashô,
salta no paul…

Carlos Seabra

pardal sozinho –
primeira aventura
fora do ninho

Carlos Seabra

ouço calado
contigo em Alfama
cantar o fado

Carlos Seabra

sabor cereja –
minha boca
a tua deseja

Carlos Seabra

canta bem-te-vi
sol por todo o lado
natureza sorri

Carlos Seabra

casa quieta –
cochila o avô e
dorme a neta

Carlos Seabra

grama nos trilhos
composições mudas
sem estribilhos

Carlos Seabra

espuma do mar
adensa o voo das
gaivotas no ar

Carlos Seabra

corda de versos,
janela da prisão:
foge o poeta!

Carlos Seabra

deu no jornal:
economia vai bem
o povo vai mal

Carlos Seabra

velho no banco
corrida de meninos –
passam os anos

Carlos Seabra

fera ferida
nunca desiste –
luta pela vida

Carlos Seabra

mãos que se tocam
olhos que se encontram
beijo na boca

Carlos Seabra

misteriosa,
Mona Lisa só ri
depois que goza…

Carlos Seabra

gota na água
faz um furinho como
prego na tábua

Carlos Seabra

moinhos ao vento
Quixote e Dulcinéia
no pensamento

Carlos Seabra

crianças mortas –
mundo que escreve mal
por linhas tortas

Carlos Seabra

volta cometa –
serão as saudades
deste planeta?

Carlos Seabra

patins no gelo –
riscos que se cruzam
como novelo

Carlos Seabra

cerveja gelada
amigos no boteco
palavra molhada

Carlos Seabra

chuva lá fora –
os pássaros, molhados,
foram embora

Carlos Seabra

quarto escuro
silhuetas se amam
pecado puro

Carlos Seabra

crime na tela –
mordomo no cinema
acaba na cela!

Carlos Seabra

brilha o grampo
ou ela tem no cabelo
um pirilampo?

Carlos Seabra

fruta mordida –
saudade de teu beijo
na despedida

Carlos Seabra

palhaço triste
é como pássaro preso
sem alpiste

Carlos Seabra

casal trocado
juntos pulam o muro
lado a lado

Carlos Seabra

um beijo no pé
outro em tua boca
depois do café

Carlos Seabra

flor amarela,
no vaso, vê o mundo
pela janela

Carlos Seabra

era uma vez
um sapo que – beijado –
poeta se fez

Carlos Seabra

pardal no fio
ouve o telefone
mas não dá um pio

Carlos Seabra

vela acesa
testemunha olhares
sobre a mesa

Carlos Seabra

mulher aflita
telefone toca
cafeteira apita

Carlos Seabra

ao te adorar
não sei mais se tens
corpo ou altar…

Carlos Seabra

mosca na sopa
xilique no boteco
cliente louca

Carlos Seabra

dia de eleição
primeiro o seu voto
depois a traição

Carlos Seabra

criado mudo
fica quieto
mas vê tudo

Carlos Seabra

madura no ramo
vou colher a fruta
da mulher que amo

Carlos Seabra

tinta no pincel
fantasia com asas
pardal no papel

Carlos Seabra

sol na janela
dorme gato no sofá
cor de flanela

Carlos Seabra

um pé no degrau
um passo na escada
bate coração

Carlos Seabra

língua pendente
cachorro com sede
sol ardente

Carlos Seabra

pinga torneira
tic tac do relógio
luz com poeira

Carlos Seabra

vassoura mata –
a vítima é uma
grande barata

Carlos Seabra

pássaro tenor
afina a garganta
ao sol se pôr

Carlos Seabra

areia quente
pés descalços
corrida para o mar

Carlos Seabra

olhos felinos
e um corpo de mulher –
cuidado meninos!

Carlos Seabra

greta no muro –
dois olhos ao fundo,
lá no escuro

Carlos Seabra

vento no bambu
sopra e geme prazer
assim como tu

Carlos Seabra

que delícia –
um decote aberto
com malícia

Carlos Seabra

louco desafio:
comer fubá e cantar
o sole mio!

Carlos Seabra

espiral de sol –
luz nas frestas da
escada em caracol

Carlos Seabra

trigo dourado
pelas mão do vento
é penteado

Carlos Seabra

olhos de gato
luz dos faróis na noite
pulo no mato

Carlos Seabra

caído, um corpo
acabado, um sonho
imóvel, um morto

Carlos Seabra

As ondas beijam
os lábios da praia –
bocas do mar

Carlos Seabra

nuvem que passa,
o sol dorme um pouco –
a sombra descansa

Carlos Seabra

pássaro preto
tem irmão na gaiola:
pássaro preso

Carlos Seabra

cama macia
corpo se espreguiça
nasce o dia

Carlos Seabra

gota no vidro
um rosto na janela
olhar perdido

Carlos Seabra

cubista musa
com os pés na cabeça –
obra confusa

Carlos Seabra

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