criado mudo
fica quieto
mas vê tudo
madura no ramo
vou colher a fruta
da mulher que amo
tinta no pincel
fantasia com asas
pardal no papel
sol na janela
dorme gato no sofá
cor de flanela
um pé no degrau
um passo na escada
bate coração
língua pendente
cachorro com sede
sol ardente
pinga torneira
tic tac do relógio
luz com poeira
vassoura mata –
a vítima é uma
grande barata
pássaro tenor
afina a garganta
ao sol se pôr
areia quente
pés descalços
corrida para o mar
olhos felinos
e um corpo de mulher –
cuidado meninos!
greta no muro –
dois olhos ao fundo,
lá no escuro
vento no bambu
sopra e geme prazer
assim como tu
que delícia –
um decote aberto
com malícia
louco desafio:
comer fubá e cantar
o sole mio!
espiral de sol –
luz nas frestas da
escada em caracol
trigo dourado
pelas mão do vento
é penteado
olhos de gato
luz dos faróis na noite
pulo no mato
caído, um corpo
acabado, um sonho
imóvel, um morto
As ondas beijam
os lábios da praia –
bocas do mar
nuvem que passa,
o sol dorme um pouco –
a sombra descansa
pássaro preto
tem irmão na gaiola:
pássaro preso
cama macia
corpo se espreguiça
nasce o dia
gota no vidro
um rosto na janela
olhar perdido
cubista musa
com os pés na cabeça –
obra confusa
velho jornal
levado pelo vento
prevê temporal
sonho colorido
o sol dança com a lua
você comigo
terreno baldio
lixo revirado
gato vadio
no despenhadeiro
a sombra da pedra
cai primeiro
sossego acaba –
chegou a pamonha
de Piracicaba
o vento afaga
o cabelo das velas
que apaga
estrela do mar
abraça a areia
para a beijar
ave calada –
ninho em silêncio
na madrugada
pinta no nariz –
era uma pulga que
fugiu por um triz
travesso gato
com saudade do dono
mija no sapato
Saci Pererê
fuma seu cachimbo
à sombra do ipê
jornal aberto,
café, leite e sangue:
guerra de perto
mulher-fera
usa unhas como se
fosse pantera
serra nevada,
cumes tocam o céu –
nuvem furada
com alicate
abre o maluco
um abacate
folhas no quintal
dançam ao vento
com as roupas do varal
rochedo no mar
barco afundado
olhos a chorar
nuvem parada
beijada pela brisa
fica molhada
musa sereia –
marinheiro bêbado
ouve baleia
gota de chuva
escorre na parreira
pára na uva
que flor é esta,
que perfuma assim
toda a floresta?
gente sem terra,
corrupção, desemprego:
mundo em guerra
beijo roubado
é o butim do ladrão
apaixonado
abelha na flor
a brisa nas árvores
eu com teu sabor
micro na teia
navega na internet
grão de areia
salta o gato
assalta o gatuno
susto na noite
briga de gatos
na sala de jantar –
vaso em cacos
velha na fonte –
os cântaros se enchem
o sol se esconde
brasa do tempo
acende quando passas
no pensamento
travou meu micro
todo dia Bill Gates
fica mais rico
letras no papel
trazem tuas palavras
com sabor de mel
chão de caruma,
crepitar no pinheiral –
passos ou fogo?
sol na varanda –
sombras ao entardecer
brincam de ciranda
fruta caída
ao lado da estrada:
pausa na ida
sexto sentido
gesto delicado
abre vestido
chora poeta –
musa obesa pensa
só em dieta
copo de vinho,
um olhar e um toque:
te adivinho…
ágil pivete
brinca como se fosse
zero zero sete
um sapo azul,
inspirado em Bashô,
salta no paul…
pardal sozinho –
primeira aventura
fora do ninho
ouço calado
contigo em Alfama
cantar o fado
sabor cereja –
minha boca
a tua deseja
canta bem-te-vi
sol por todo o lado
natureza sorri
casa quieta –
cochila o avô e
dorme a neta
grama nos trilhos
composições mudas
sem estribilhos
espuma do mar
adensa o voo das
gaivotas no ar
corda de versos,
janela da prisão:
foge o poeta!
deu no jornal:
economia vai bem
o povo vai mal
velho no banco
corrida de meninos –
passam os anos
fera ferida
nunca desiste –
luta pela vida
mãos que se tocam
olhos que se encontram
beijo na boca
misteriosa,
Mona Lisa só ri
depois que goza…
gota na água
faz um furinho como
prego na tábua
moinhos ao vento
Quixote e Dulcinéia
no pensamento
crianças mortas –
mundo que escreve mal
por linhas tortas
volta cometa –
serão as saudades
deste planeta?
patins no gelo –
riscos que se cruzam
como novelo
cerveja gelada
amigos no boteco
palavra molhada
chuva lá fora –
os pássaros, molhados,
foram embora
quarto escuro
silhuetas se amam
pecado puro
crime na tela –
mordomo no cinema
acaba na cela!
brilha o grampo
ou ela tem no cabelo
um pirilampo?
fruta mordida –
saudade de teu beijo
na despedida
palhaço triste
é como pássaro preso
sem alpiste
casal trocado
juntos pulam o muro
lado a lado
um beijo no pé
outro em tua boca
depois do café
flor amarela,
no vaso, vê o mundo
pela janela
era uma vez
um sapo que – beijado –
poeta se fez
pardal no fio
ouve o telefone
mas não dá um pio
vela acesa
testemunha olhares
sobre a mesa
mulher aflita
telefone toca
cafeteira apita
ao te adorar
não sei mais se tens
corpo ou altar…
mosca na sopa
xilique no boteco
cliente louca
dia de eleição
primeiro o seu voto
depois a traição
criado mudo
fica quieto
mas vê tudo
madura no ramo
vou colher a fruta
da mulher que amo
tinta no pincel
fantasia com asas
pardal no papel
sol na janela
dorme gato no sofá
cor de flanela
um pé no degrau
um passo na escada
bate coração
língua pendente
cachorro com sede
sol ardente
pinga torneira
tic tac do relógio
luz com poeira
vassoura mata –
a vítima é uma
grande barata
pássaro tenor
afina a garganta
ao sol se pôr
areia quente
pés descalços
corrida para o mar
olhos felinos
e um corpo de mulher –
cuidado meninos!
greta no muro –
dois olhos ao fundo,
lá no escuro
vento no bambu
sopra e geme prazer
assim como tu
que delícia –
um decote aberto
com malícia
louco desafio:
comer fubá e cantar
o sole mio!
espiral de sol –
luz nas frestas da
escada em caracol
trigo dourado
pelas mão do vento
é penteado
olhos de gato
luz dos faróis na noite
pulo no mato
caído, um corpo
acabado, um sonho
imóvel, um morto
As ondas beijam
os lábios da praia –
bocas do mar
nuvem que passa,
o sol dorme um pouco –
a sombra descansa
pássaro preto
tem irmão na gaiola:
pássaro preso
cama macia
corpo se espreguiça
nasce o dia
gota no vidro
um rosto na janela
olhar perdido
cubista musa
com os pés na cabeça –
obra confusa