É por isso que as decisões que você e eu tomamos todos os dias têm uma enorme importância. Um pequeno ato de bondade feito hoje representa a conquista de um ponto estratégico. de onde você poderá, mais tarde,obter vitórias com que nunca sonhou.Já uma indulgência aparentemente trivial que satisfaça desejos ou raivas pode significar a perda de uma posição crucial, de onde o inimigo pode desfechar um ataque que de outra forma seria impossível.
Cada vez que você faz uma opção está transformando sua essência em alguma coisa um pouco diferente do que era antes.
O problema real da vida cristã aparece onde as pessoas normalmente não o procuram. Ele aparece no instante em que você acorda cada manhã. Todos os desejos e esperanças para o dia correm para você como animais selvagens. E a primeira tarefa de cada manhã consiste simplesmente em empurra-los todos para traz; em dar ouvidos a outra voz, tomando aquele outro ponto de vista, deixando aquela outra vida mais ampla, mais forte e mais calma entrar como uma brisa. E assim por diante, todos os dias. Mantendo distância de todas as inquietações e de todos os aborrecimentos naturais, protegendo-se do vento.
No começo, somos capazes de faze-lo somente por alguns momentos. Mas então o novo tipo de vida estará se propagando por todo o nosso ser, porque então estamos deixando Cristo trabalhar em nós no lugar certo. Trata-se da diferença entre a tinta, que está simplesmente deitada sobre a superfície, e uma mancha que penetra naquela superfície.
Quando Cristo disse “sede perfeitos”, quis dizer isso mesmo. Ele quis dizer que temos que entrar no tratamento completo. Pode ser duro para um ovo se transformar em um pássaro; seria uma visão deveras divertida, e muito mais difícil, tentar voar enquanto ainda se é um ovo. Hoje nós somos como ovos. Mas você não pode se contentar em ser um ovo comum, ainda que decente. Ou sua casca se rompe ou você apodrecerá.
Cristianismo Puros e Simples
Amar é sempre ser vulnerável. Ame qualquer coisa e certamente seu coração vai doer e talvez se partir. Se quiser ter a certeza de mantê-lo intacto, você não deve entregá-lo a ninguém, nem mesmo a um animal. Envolva o cuidadosamente em seus hobbies e pequenos luxos, evite qualquer envolvimento, guarde-o na segurança do esquife de seu egoísmo. Mas nesse esquife – seguro, sem movimento, sem ar – ele vai mudar. Ele não vai se partir – vai tornar se indestrutível, impenetrável, irredimível. A alternativa a uma tragédia ou pelo menos ao risco de uma tragédia é a condenação. O único lugar além do céu onde se pode estar perfeitamente a salvo de todos os riscos e perturbações do amor é o inferno.
[Em “Os quatro amores”]
O bem, quando amadurece, se mostra cada vez mais diferente, não só do mal, mas de qualquer outro bem.
O mal pode ser desfeito, mas não pode “transformar-se” em bem.
Quando se trata de conhecer a Deus, toda a iniciativa depende dEle. Se Ele não se quiser revelar, nada do que façamos nos permitirá encontrá-lo.
Como conhecer a Deus
É como a luz do sol que, embora não tenha favoritos, não pode refletir-se num espelho coberto de pó com a mesma luminosidade com que se reflete num espelho limpo.
A quem Deus se revela
E a verdade é que Ele revela muito mais sobre si mesmo a determinadas pessoas do que a outras, não porque tenha os seus “favoritos”, mas porque lhe é impossível mostrar-se a alguém cuja mente e caráter lhe sejam inteiramente adversos.
Como podemos ver Deus
Deus só pode mostra-se como realmente é a homens reais. E isto significa não apenas a homens que sejam individualmente bons, mas a homens reunidos num só corpo, que se amem uns aos outros, que se ajudem uns aos outros e mostrem Deus uns aos outros.
Um corpo perfeito
Porque era assim que a humanidade devia ser de acordo com o plano divino: como os músicos de uma única orquestra, como os órgãos de um único corpo.
Descende de Adão e Eva – tornou Aslam. – É honra suficientemente grande para que o mendigo mais miserável possa andar de cabeça erguida, e também vergonha suficientemente grande para fazer vergar os ombros do maior imperador da Terra. Dê-se assim por satisfeito.
Se você está à procura de uma religião que o deixe confortável, definitivamente eu não lhe aconselharia o cristianismo.
Uma pessoa vai à floresta colher alimentos e já a idéia de um fruto em vez de outro se formou no seu espírito. Depois, pode ser que se encontre um fruto diferente e não aquele em que se pensou. Esperava-se uma alegria e recebeu-se outra. Mas nunca tinha antes dado por isso… que no próprio momento do achado há no espírito uma espécie de idéia de afastamento, de pôr de lado. A imagem do fruto que não achamos continua a estar, por um momento, diante dos nossos olhos. E se desejássemos… se fosse possível desejar… podia lá continuar. Podíamos recusar o bem real; podíamos fazer com que o fruto real fosse insípido, à força de pensar no outro.
[Eu] Pensava que nós seguíamos caminhos já feitos, mas parece que não os há. O nosso ir faz o caminho.
O homem se aproxima mais de Deus quando, em certo sentido se assemelha menos a Deus. Pois que diferença pode ser maior do que aquela que existe entre plenitude e necessidade, soberania e humildade, justiça e penitencia, poder ilimitado e pedido de ajuda?
( Os quatro tipos de amor, pag.7)
A Amizade é desnecessária – como a filosofia, como a arte, como o próprio universo (pois Deus não precisava criar). Ela não tem valor de sobrevivência; ela é, antes, uma das coisas que dão valor à sobrevivência.
Deus sussurra a nós na saúde e prosperidade, mas, sendo maus ouvintes, deixamos de ouvir a voz de Deus. Então Ele gira o botão do amplificador por meio do sofrimento. Aí então ouvimos o ribombar de Sua voz.
[Eu] Pensava que nós seguíamos caminhos já feitos, mas parece que não os há. O nosso ir faz o caminho.
Deus sussurra em nossos ouvidos por meio de nosso prazer, fala-nos mediante nossa consciência, mas clama em alta voz por intermédio de nossa dor; este é seu megafone para despertar o homem surdo.
A vida cristã é diferente, mais difícil e mais fácil. Cristo diz: “Dê-me tudo. Eu não quero um tanto do seu tempo, tanto do seu dinheiro, tanto do seu trabalho. Quero você. Eu não vim para atormentar o seu ego natural, mas para matá-lo. Meias medidas não trazem nenhum bem.
Eu não quero podar um galho aqui e outro ali, mas quero derrubar a árvore inteira. Entregue todo o seu ego natural, todos os desejos que você julga inocentes, bem como os que você julga iníquos – todo o seu ser.
Eu lhe darei um novo eu. Na verdade eu lhe darei o meu próprio eu; a minha vontade se tornará a sua vontade”.
O cristianismo, se for falso, não tem valor; se for verdadeiro, tem valor infinito. A única coisa que lhe é impossível é ser “mais ou menos” importante.
O carinho é responsável por nove-décimos de qualquer felicidade sólida e durável existente em nossas vidas.
Mera mudança não é crescimento. Crescimento é a síntese de mudança e continuidade, e onde não há continuidade não há crescimento.
Eu acredito no Cristianismo como acredito que o sol nasce todo dia. Não apenas porque o vejo, mas porque através dele eu vejo tudo ao meu redor.
Existem coisas melhores adiante do que qualquer outra que deixamos para trás.
O perdão vai além da justiça humana; é perdoar aquelas coisas que absolutamente não podem ser perdoadas.
Eu descobri em mim mesmo desejos os quais nada nesta Terra pode satisfazer.
A única explicação lógica é que eu fui feito para outro mundo.
Todos nós desejamos o progresso, mas se você está na estrada errada, progresso significa fazer o retorno e voltar para a estrada certa; nesse caso, o homem que volta atrás primeiro é o mais progressista.
Nenhum homem sabe quão mau ele é, até que ele tenha tentado de toda maneira ser bom. Uma idéia tola, mas muito atual é que as pessoas boas não conhecem o significado ou não passam por tentações. Isto é uma mentira óbvia. Só aqueles que tentam resistir a tentação, sabem quão forte ela é. Afinal de contas, você descobre a força do exército inimigo lutando contra ele, não cedendo a ele. Você descobre a força de um vento, tentando caminhar contra ele, não se deitando ao chão. Um homem que cede ante a tentação depois de cinco minutos, simplesmente não sabe o que teria acontecido se tivesse esperado uma hora. Esta é a razão pela qual as pessoas ruins, de certa forma, sabem muito pouco sobre sua maldade. Elas viveram uma vida abrigada por estarem sempre cedendo. Nós nunca descobrimos a força do impulso mal dentro de nós, até que nós tentamos lutar contra ele: e Cristo, porque Ele foi o único homem que nunca se rendeu a tentação, também é o único homem que conhece completamente o que tentação significa–o único realista no total sentido da palavra.
Quanto mais deixamos que Deus assuma o controle sobre nós, mais autênticos nos tornamos – pois foi Ele quem nos fez. Ele inventou todas as diferentes pessoas que eu e você tencionávamos ser (…) É quando me viro para Cristo e me rendo à Sua personalidade que pela primeira vez começo a ter minha própria e real personalidade.
… se você está preocupado em relação às pessoas do lado de fora, a coisa mais sensata que poderia fazer era permanecer lá fora com elas. Os cristãos são o corpo de Cristo, o organismo por meio do qual ele opera. Qualquer acréscimo a esse corpo o capacitará a fazer mais. Se você quer ajudar aqueles que estão do lado de fora, deve acrescentar sua própria pequena célula ao corpo de Cristo, que é o único que pode ajudá-los. Cortar o dedo de um homem seria uma maneira estranha de ajudá-lo a fazer mais coisas.
Se eu encontro em mim um desejo que nenhuma experiência desse mundo possa satisfazer, a explicação mais provável é que eu fui feito para um outro mundo…Se nenhum dos meus prazeres terrenos é capaz de satisfazê-lo, isso não prova que o universo é uma fraude. Provavelmente os prazeres terrenos não têm o propósito de satisfazê-lo, mas somente de despertá-lo, de sugerir a coisa real. Se for assim, tenho de tomar cuidado para, por um lado, jamais desprezar ou ser ingrato em relação a essas bênçãos terrenas, e, por outro jamais confundi-lo com outra coisa, da qual elas não passam de um tipo de cópia, ou eco, ou miragem.
Todo homem são e civilizado deve ter um conjunto de princípios pelos quais rejeita alguns desejos e admite outros. Um homem se baseia em princípios cristãos, outro se baseia em princípios de higiene, e outro, ainda, em princípios sociológicos. O verdadeiro conflito não é o do cristianismo contra a “natureza”, mas dos princípios cristãos contra outros princípios de controle da “natureza”. A “natureza” (no sentido de um desejo natural) terá de ser controlada de um jeito ou de outro, a não ser que queiramos arruinar nossa vida. É bem verdade que os princípios cristãos são mais rígidos que os outros; no entanto, acreditamos que, para obedecer-lhes, você poderá contar com uma ajuda que não terá para obedecer aos outros.
Rezemos para que a raça humana nunca saia da Terra para espalhar sua iniquidade em outros lugares.
Tudo o que não é eterno, é eternamente inútil.
A conquista do Homem sobre a Natureza revela-se, no momento da sua consumação, a conquista da Natureza sobre o Homem.
Se você enxergar o que está por trás de todas as coisas sem exceção, então tudo se tornará transparente para você. Mas um mundo completamente transparente é um mundo invisível.
Preocupar-se em ser adulto ou não, admirar o adulto por ser adulto, corar de vergonha diante da insinuação de que se é infantil: esses são sinais característicos da infância e da adolescência.
O coração de uma mulher deve ser tão próximo de Deus que um homem precisa persegui-Lo para encontrá-la.
Uma vez perguntaram para Lewis: “É necessário frequentar um culto ou ser membro de uma comunidade cristã para um modo cristão de vida?”
Sua resposta foi a seguinte: “Esta é uma pergunta que eu não posso responder. Minha própria experiência é que logo que eu me tornei um cristão, cerca de quatorze anos atrás, eu pensava que poderia me virar sozinho, me retirando a meu quarto e lendo teologia, e não frequentava igrejas ou estudos bíblicos; e então mais tarde eu descobri que era o único modo de você agitar sua bandeira; e, naturalmente, eu descobri que isso significava ser um alvo. É extraordinário o quão inconveniente para sua família é você ter que acordar cedo para ir à Igreja. Não importa tanto se você tem que acordar cedo para qualquer outra coisa, mas se você acorda cedo para ir à igreja é algo egoísta de sua parte e você irrita todos na casa. Se há qualquer coisa no ensinamento do Novo Testamento que é na natureza de mandamento, é que você é obrigado a participar do Sacramento e você não pode fazer isso sem ir à igreja. Eu não gostava muito dos seus hinos, os quais eu considerava poemas de quinta categoria com música de sexta categoria. Mas à medida em que eu ia eu vi o grande mérito disso. Eu me vi diante de pessoas diferentes de aparência e educação diferentes, e meu conceito gradualmente começou a se desfazer. Eu percebi que os hinos (os quais eram apenas música de sexta categoria) eram, no entanto, cantados com tamanha devoção e entrega por um velho santo calçando botas de borracha no banco ao lado, e então você percebe que você não está apto sequer para limpar aquelas botas. Isso o liberta de seu conceito solitário.
A castidade é a menos popular das virtudes cristãs. Porém, não existe escapatória. A regra cristã é clara: “Ou o casamento, com fidelidade completa ao cônjuge, ou a abstinência total.” Isso é tão difícil de aceitar, e tão contrário a nossos instintos, que das duas, uma: ou o cristianismo está errado ou o nosso instinto sexual, tal como é hoje em dia, se encontra deturpado. E claro que, sendo cristão, penso que foi o instinto que se deturpou. (…)
Dizem que o sexo se tornou um problema grave porque não se falava sobre o assunto. Nos últimos vinte anos, não foi isso que aconteceu. Todo o dia se fala sobre o assunto, mas ele continua sendo um problema. Se o silêncio fosse a causa do problema, a conversa seria a solução. Mas não foi. Acho que é exatamente o contrário. Acredito que a raça humana só passou a tratar do tema com discrição porque ele já tinha se tornado um problema. Os modernos sempre dizem que “o sexo não é algo de que devemos nos envergonhar”. Com isso, podem estar querendo dizer duas coisas. Uma delas é que “não há nada de errado no fato de a raça humana se reproduzir de um determinado modo, nem no fato de esse modo gerar prazer”. Se é isso o que têm em mente, estão cobertos de razão. O cristianismo diz a mesma coisa. O problema não está nem na coisa em si, nem no prazer. Os velhos pregadores cristãos diziam que, se o homem não tivesse sofrido a queda, o prazer sexual não seria menor do que é hoje, mas maior. Bem sei que alguns cristãos de mente tacanha dizem por aí que o cristianismo julga o sexo, o corpo e o prazer como coisas intrinsecamente más. Mas estão errados. O cristianismo é praticamente a única entre as grandes religiões que aprova por completo o corpo — que acredita que a matéria é uma coisa boa, que o próprio Deus tomou a forma humana e que um novo tipo de corpo nos será dado no Paraíso e será parte essencial da nossa felicidade, beleza e energia. O cristianismo exaltou o casamento mais que qualquer outra religião; e quase todos os grandes poemas de amor foram compostos por cristãos. Se alguém disser que o sexo, em si, é algo mau, o cristianismo refuta essa afirmativa instantaneamente. Mas é claro que, quando as pessoas dizem “o sexo não é algo de que devemos nos envergonhar”, elas podem estar querendo dizer que “o estado em que se encontra nosso instinto sexual não é algo de que devemos sentir vergonha”.
Se é isso que querem dizer, penso que estão erradas. Penso que temos todos os motivos do mundo para sentir vergonha. Não há nada de vergonhoso em apreciar o alimento, mas deveríamos nos cobrir de vergonha se metade das pessoas fizesse do alimento o maior interesse de sua vida e passasse os dias a espiar figuras de pratos, com água na boca e estalando os lábios. Não digo que você ou eu sejamos individualmente responsáveis pela situação atual. Nossos ancestrais nos legaram organismos que, sob este aspecto, são pervertidos; e crescemos cercados de propaganda a favor da libertinagem. Existem pessoas que querem manter o nosso instinto sexual em chamas para lucrar com ele; afinal de contas, não há dúvida de que um homem obcecado é um homem com baixa resistência à publicidade. Deus conhece nossa situação; ele não nos julgará como se não tivéssemos dificuldades a superar. O que realmente importa é a sinceridade e a firma vontade de superá-las.
Para sermos curados, temos de querer ser curados. Todo aquele que pede socorro será atendido; porém, para o homem moderno, até mesmo esse desejo sincero é difícil de ter. E fácil pensar que queremos algo quando na verdade não o queremos. Um cristão famoso, de tempos antigos, disse que, quando era jovem, implorava constantemente pela castidade; anos depois, se deu conta de que, quando seus lábios pronunciavam “ó Senhor, fazei-me casto”, seu cotação acrescentava secretamente as palavras: “Mas, por favor, que não seja agora.” Isso também pode acontecer nas preces em que pedimos outras virtudes; mas há três motivos que tornam especialmente difícil desejar — quanto mais alcançar – a perfeita castidade.
Em primeiro lugar, nossa natureza pervertida, os demônios que nos tentam e a propaganda a favor da luxúria associam-se para nos fazer sentir que os desejos aos quais resistimos são tão “naturais”, “saudáveis” e razoáveis que essa resistência é quase uma perversidade e uma anomalia. Cartaz após cartaz, filme após filme, romance após romance associam a idéia da libertinagem sexual com as idéias de saúde, normalidade, juventude, franqueza e bom humor. Essa associação é uma mentira. Como toda mentira poderosa, é baseada numa verdade – a verdade reconhecida acima de que o sexo (à parte os excessos e as obsessões que cresceram ao seu redor) é em si “normal”, “saudável” etc. A mentira consiste em sugerir que qualquer ato sexual que você se sinta tentado a desempenhar a qualquer momento seja também saudável e normal. Isso é estapafúrdio sob qualquer ponto de vista concebível, mesmo sem levar em conta o cristianismo. A submissão a todos os nossos desejos obviamente leva à impotência, à doença, à inveja, à mentira, à dissimulação, a tudo, enfim, que é contrário à saúde, ao bom humor e à franqueza. Para qualquer tipo de felicidade, mesmo neste mundo, é necessário comedimento. Logo, a afirmação de que qualquer desejo é saudável e razoável só porque é forte não significa coisa alguma. Todo homem são e civilizado deve ter um conjunto de princípios pelos quais rejeita alguns desejos e admite outros. Um homem se baseia em princípios cristãos, outro se baseia em princípios de higiene, e outro, ainda, em princípios sociológicos. O verdadeiro conflito não é o do cristianismo contra a “natureza”, mas dos princípios cristãos contra outros princípios de controle da “natureza”. A “natureza” (no sentido de um desejo natural) terá de ser controlada de um jeito ou de outro, a não ser que queiramos arruinar nossa vida. E bem verdade que os princípios cristãos são mais rígidos que os outros; no entanto, acreditamos que, para obedecer-lhes, você poderá contar com uma ajuda que não terá para obedecer aos outros.
Em segundo lugar, muitas pessoas se sentem desencorajadas de tentar seriamente seguir a castidade cristã porque a consideram impossível (mesmo antes de tentar). (…) Podemos ter certeza de que a castidade perfeita — como a caridade perfeita — não será alcançada pelo mero esforço humano. Você tem de pedir a ajuda de Deus. Mesmo depois de pedir, poderá ter a impressão de que a ajuda não vem, ou vem em dose menor que a necessária. Não se preocupe. Depois de cada fracasso, levante-se e tente de novo. Muitas vezes, a primeira ajuda de Deus não é a própria virtude, mas a força para tentar de novo. Por mais importante que seja a castidade (ou a coragem, a veracidade ou qualquer outra virtude), esse processo de treinamento dos hábitos da alma é ainda mais valioso. Ele cura nossas ilusões a respeito de nós mesmos e nos ensina a confiar em Deus. Aprendemos, por um lado, que não podemos confiar em nós mesmos nem em nossos melhores momentos; e, por outro, que não devemos nos desesperar nem mesmo nos piores, pois nossos fracassos são perdoados. A única atitude fatal é se dar por satisfeito com qualquer coisa que não a perfeição.
Em terceiro lugar, as pessoas muitas vezes não entendem o que a psicologia quer dizer com “repressão”. Ela nos ensinou que o sexo “reprimido” é perigoso. Nesse caso, porém, “reprimido” é um termo técnico: não significa “suprimido” no sentido de “negado” ou “proibido”. Um desejo ou pensamento reprimido é o que foi jogado para o fundo do subconsciente (em geral na infância) e só pode surgir na mente de forma disfarçada ou irreconhecível. Ao paciente, a sexualidade reprimida não parece nem mesmo ter relação com a sexualidade. Quando um adolescente ou um adulto se empenha em resistir a um desejo consciente, não está lidando com a repressão nem corre o risco de a estar criando. Pelo contrário, os que tentam seriamente ser castos têm mais consciência de sua sexualidade e logo passam a conhecê-la melhor que qualquer outra pessoa. Acabam conhecendo seus desejos como Wellington conhecia Napoleão ou Sherlock Holmes conhecia Moriarty; como um apanhador de ratos conhece ratos ou como um encanador conhece um cano com vazamento. A virtude – mesmo o esforço para alcançá-la — traz a luz; a libertinagem traz apenas brumas.
Para encerrar, apesar de eu ter falado bastante a respeito de sexo, quero deixar tão claro quanto possível que o centro da moralidade cristã não está aí. Se alguém pensa que os cristãos consideram a falta de castidade o vício supremo, essa pessoa está redondamente enganada. Os pecados da carne são maus, mas, dos pecados, são os menos graves. Todos os prazeres mais terríveis são de natureza puramente espiritual: o prazer de provar que o próximo está errado, de tiranizar, de tratar os outros com desdém e superioridade, de estragar o prazer, de difamar. São os prazeres do poder e do ódio. Isso porque existem duas coisas dentro de mim que competem com o ser humano em que devo tentar me tornar. São elas o ser animal e o ser diabólico. O diabólico é o pior dos dois. E por isso que um moralista frio e pretensamente virtuoso que vai regularmente à igreja pode estar bem mais perto do inferno que uma prostituta. É claro, porém, que é melhor não ser nenhum dos dois.
(Cristianismo Puro e Simples)
Você não pode sair por aí “justificando” para sempre, pois vai acabar justificando a própria justificativa. Não é possível sair por aí “vendo através” de tudo para sempre. A idéia de ver através de alguma coisa é enxergar alguma coisa por trás. É bom que a janela seja transparente, pois a rua ou o jardim por trás dela não é. Como é possível ver através do jardim também?… Um mundo totalmente transparente é um mundo invisível. “Ver através” de tudo é o mesmo que não ver.
(The Abolition of Man)
Em que tipo de ‘buraco’ caíra o homem? Ele procurou ser autossuficiente e se comportara como se pertencesse a si mesmo. Em outras palavras, o homem decaído não é simplesmente uma criatura imperfeita que precisa ser melhorada; é um rebelde que precisa depor as armas. Depor as armas, render-se, pedir perdão, dar-se conta de que tomou o caminho errado, estar disposto a começar uma vida nova do zero – só isso pode nos ‘tirar do buraco’. Esse processo de rendição, movimento de marcha ré a toda velocidade, é o que o Cristianismo chama de arrependimento.
O cristianismo concorda com o dualismo em que o universo está em guerra, mas discorda que seja uma guerra entre forças independentes. Considera-a antes uma guerra civil, uma rebelião, e afirma que vivemos na parte do universo ocupada pelos rebeldes. Um território ocupado pelo inimigo – assim é este mundo. O Cristianismo é a história de como o rei por direito desembarcou disfarçado em sua terra e nos chama a tomar parte numa grande campanha de sabotagem. Quando você vai à igreja, na verdade vai receber os códigos secretos mandados por nossos amigos: não é por outro motivo que o inimigo fica tão ansioso para nos impedir de frequentá-la. Ele apela à nossa vaidade, preguiça e esnobismo intelectual. Sei que alguém vai me perguntar: ‘Você quer mesmo, na época em que vivemos, trazer de novo à baila a figura do nosso velho amigo, o diabo, com seus chifres e seu rabo?’ Bem, o que a ‘época em que vivemos’ tem a ver com o assunto, eu não sei. Quanto aos chifres e ao rabo, não faço muita questão deles. Quanto ao mais, porém, minha resposta é ‘sim’. Não afirmo conhecer coisa alguma sobre a aparência pessoal do diabo, mas, se alguém realmente quisesse conhecê-lo melhor, eu diria a essa pessoa: ‘Não se preocupe. Se você realmente quiser travar relações com ele, vai conseguir. Se vai gostar ou não dessa experiência, isso é outro assunto.
Quando um homem melhora, torna-se cada vez mais capaz de perceber o mal que ainda existe dentro de si. Quando um homem piora, torna-se cada vez menos capaz de captar a própria maldade. Um homem moderadamente mau sabe que não é muito bom; um homem completamente mau acha que está coberto de razão. Nós sabemos disso intuitivamente. Entendemos o sono quando estamos acordados, não quando adormecidos. Percebemos os erros de aritmética quando nossa mente está funcionando direito, não no momento em que os cometemos. Compreendemos a natureza da embriaguez quando estamos sóbrios, não quando bêbados. As pessoas boas conhecem tanto o bem quanto o mal; as pessoas más não conhecem nenhum dos dois.
Hoje em dia, a crítica moderna usa o adjetivo “adulto” como marca de aprovação. Ela é hostil ao que denomina “notalgia” e tem absoluto desprezo pelo que se chama de “Peter Panteísmo”. Por isso, em nossa época, se um homem de cinqüenta e três anos admite ainda adorar anões, gigantes, bruxas e animais falantes, é menos provável que ele seja louvado por sua perpétua juventude do que seja ridicularizado e lamentado por seu retardamento mental.
[Mas] os críticos para quem a palavra “adulto” é um termo de aplauso, e não um simples adjetivo descritivo, não são nem podem ser adultos. Preocupar-se em ser adulto ou não, admirar o adulto por ser adulto, corar de vergonha diante da insinuação de que se é infantil: esses são sinais característicos da infância e da adolescência. E, na infância e na adolescência, quando moderados, são sintomas saudáveis. É natural que as coisas novas queiram crescer. Porém, quando se mantém na meia-idade ou mesmo na juventude, essa preocupação em “ser adulto” é um sinal inequívoco de retardamento mental. Quando eu tinha dez anos, eu lia contos de fadas escondido e ficava envergonhado quando me pilhavam. Hoje em dia, com cinqüenta anos, leio-os abertamente. Quando me tornei homem, deixei para trás as coisas de menino, inclusive o medo de ser infantil e o desejo de ser muito adulto.
A visão moderna, a meu ver, envolve uma falsa concepção de crescimento. Somos acusados de retardamento porque não perdemos um gosto que tínhamos na infância. Mas, na verdade, o retardamento consiste não em recusar-se a perder as coisas antigas, mas sim em não aceitar coisas novas. Hoje gosto de vinho branco alemão, coisa de que eu tenho certeza de que não gostaria quando criança; mas não deixei de gostar de limonada. Chamo esse processo de crescimento ou desenvolvimento, porque ele me enriqueceu: se antes eu tinha um único prazer, agora tenho dois. Porém, se eu tivesse de perder o gosto por limonada para admitir o gosto pelo vinho, isso não seria crescimento, mas simples mudança. Hoje em dia já não gosto somente de contos de fadas, mas também de Tolstói, Jane Austen, Trollope, e chamo isso de crescimento; se tivesse precisado deixar de lado os contos de fadas para apreciar os romancistas, não diria que cresci, mas que mudei.
Numa batalha ou numa escalada de montanha, muitas vezes há uma manobra que exige muita coragem; mas é ela também que, no final, constitui o movimento mais seguro. Se você optar por outro curso de ação, ver-se-à horas depois num perigo muito maior. O caminho do covarde é também o caminho mais perigoso.
Deus nunca pretendeu fazer do homem uma criatura estritamente espiritual. Esta é a razão pela qual Ele usa coisas materiais como o pão e o vinho para transmitir a nova vida (…) Deus gosta de matéria, foi Ele quem a criou.
A estrada mais segura para o inferno é aquela gradual – o declive suave, piso macio, sem curvas acentuadas, sem marcos de referência, sem sinalização.
“Algumas pessoas colocam uma versão do cristianismo plausível para um garoto de seis anos e fazem dela objeto de seus ataques. Quando você tenta explicar a doutrina cristã de forma adulta, eles reclamam que você está querendo mexer com suas cabeças e que é tudo muito complicado. Dizem ainda que se existisse um Deus ele faria a religião algo simples, porque a simplicidade é bonita etc.”
Somos criaturas divididas, correndo atrás de álcool, sexo e ambições; desprezando a alegria infinita que se nos oferece, como uma criança ignorante que prefere continuar fazendo seus bolinhos de areia numa favela, porque não consegue imaginar o que significa um convite para passar as férias na praia.
O sofrimento é o megafone de Deus para um mundo ensurdecido.
Pela primeira vez examinei a mim mesmo com o propósito seriamente prático. E ali encontrei o que me assustou: um bestiário de luxúrias, um hospício de ambições, um canteiro de medos, um harém de ódios mimados.
Todos dizem que o perdão é uma idéia maravilhosa até que elas possuam algo para perdoar.
Nós consideramos Deus como um piloto considera o pára-quedas dele; está lá para emergências mas ele espera nunca ter que usá-lo.
Quando nada há em sua alma exceto um grito de socorro, talves seja o exato momento em que Deus não o pode atender: você é como o homem que se afoga e que não pode ser ajudado por tanto se debater. É possível que seus gritos repetidos o deixem surdo à voz que você esperava ouvir.
Não fazemos parte de um mundo onde todos os caminhos são raios de um mesmo círculo e onde todos eles, se percorridos em um tempo suficiente, se vão aproximando até que se encontrem no centro; ao contrário, vivemos num mundo em que toda estrada, depois de alguns quilômetros, divide-se em duas, e cada uma dessas em mais duas, e a cada bifurcação você é obrigado a tomar uma decisão.
Perdão e Desculpa são duas palavras tão banais no uso, que nem desconfiamos da diferença entre elas. Em um certo sentido, Perdão e Desculpa são palavras quase opostas. O Perdão nos diz “ok, você fez isso, mas eu aceito seu pedido de perdão; não jogarei isso na sua cara e seremos do mesmo jeito que éramos antes”. Já a Desculpa, fala “eu percebo que você não podia evitar, sei que realmente você não queria fazer isso; você não é culpado”. Assim, um ato falho sem culpa precisa de desculpa, e não de perdão. Da mesma forma, boas desculpas não precisam de perdão – já que o perdão exige culpa – e se você quer ser perdoado, não há desculpas para o que fez – pois pedir perdão é assumir a culpa.
Porém, isso não invalida a possibilidade de haver os dois ao mesmo tempo. O problema está em pedirmos desculpas para aquilo que exige perdão.
O poder do homem para fazer de si mesmo o que bem quiser, significa o poder de alguns homens para fazer dos outros o que bem quiserem.
O cristão e o materialista têm crenças diferentes sobre o universo. Eles não podem estar ambos certos. Quem estiver errado agirá de uma forma que não se adequa ao universo real. Conseqüentemente, com a melhor das boas intenções do mundo, ele estará ajudando seus semelhantes a se destruírem.
O homem antigo se chegava a Deus (ou aos deuses), como uma pessoa acusada se aproxima do juiz. Para o homem moderno, os papéis se inverteram. O homem é o juiz e Deus está no banco dos réus. O homem moderno é um juiz extraordinariamente benévolo: está disposto a escutar a Deus se Este for capaz de defender razoavelmente o porquê das guerras, da pobreza e das enfermidades. O processo pode inclusive terminar com a absolvição de Deus. Porém o importante é que o homem está no tribunal e Deus é que está no banco dos réus.
Fazemos homens sem peito e esperamos deles virtude e empreendimento. Rimos da honra e ficamos chocados quando achamos traidores em nosso meio. Castramos o animal e exigimos que ele seja fecundo.
A saúde espiritual do indivíduo é exatamente proporcional ao seu amor por Deus.
“Algumas pessoas colocam uma versão do cristianismo plausível para um garoto de seis anos a fazem dela objeto de seus ataques. Quando você tenta explicar a doutrina cristã de forma adulta, eles reclamam que você está querendo mexer com suas cabeças e que é tudo muito complicado. Dizem ainda que se existisse um Deus ele faria a religião algo simples, porque a simplicidade é bonita etc.”
Olhe para você, e você vai encontrar em toda a longa jornada de sua vida apenas ódio, solidão, desespero, ruína e decadência. Mas olhe para Cristo e você vai encontrá-Lo, e com Ele tudo o mais que você necessita.
É por causa da avareza ou estupidez do homem, e não por rispidez ou severidade da natureza, que temos pobreza e trabalho excessivo.
Uma razão por que muitas pessoas acham a teoria da evolução tão atraente é que ela nos proporciona o grande consolo emocional de acreditar em um Deus sem termos que assumir nenhuma conseqüência. Quando você se sente disposto e o sol brilha, e você não quer acreditar que o universo todo não passa de uma mera dança mecânica de átomos, é bom estar em condições de pensar nessa grande força misteriosa como uma onda gigantesca que se move através dos séculos, carregando você na crista dela. Se, por outro lado, você estiver a fim de cometer um ato muito feio, aquela Força Vital, que não passa de uma energia cega, amoral e desprovida de mente, jamais irá interferir na sua vida da mesma forma como faz aquele Deus terrível, do qual ouvimos falar na infância. A Força Vital é uma espécie de Deus domesticado. Podemos acioná-la quando bem entendemos, desde que ela não interfira nas nossas vidas. Podemos, assim, usufruir de todas as emoções da religião, sem nenhum custo. Seria essa Força Vital a maior expressão de falsa esperança que o mundo já viu?
A estrada mais segura para o Inferno é a gradual – a ladeira suave, com chão suave, sem curvas acentuadas, sem avisos de quilometragem e sem placas indicativas de sinalização.
Chego agora à parte em que a moral cristã difere mais nitidamente de todas as outras morais. Existe um ví cio do qual homem algum está livre, que causa repug nância quando é notado nos outros, mas do qual, com a exceção dos cristãos, ninguém se acha culpado. Já ouvi quem admitisse ser mau humorado, ou não ser capaz de resistir a um rabo de saia ou à bebida, ou mesmo ser covarde. Mas acho que nunca ouvi um não-cristão se acusar desse vício. Ao mesmo tempo, é raríssimo encon trar um não-cristão que tenha alguma tolerância com esse vício nas outras pessoas. Não existe nenhum outro defeito que torne alguém tão impopular, e mesmo as sim não existe defeito mais difícil de ser detectado em nós mesmos. Quanto mais o temos, menos gostamos de vê-lo nos outros.
O vício de que estou falando é o orgulho ou a pre sunção. A virtude oposta a ele, na moral cristã, é cha mada de humildade. Você deve se lembrar de que, quan do falávamos sobre a moralidade sexual, adverti que não era ela o centro da moral cristã. Bem, agora chegamos ao centro. De acordo com os mestres cristãos, o vício fun damental, o mal supremo, é o orgulho. A devassidão, a ira, a cobiça, a embriaguez e tudo o mais não passam de ninharias comparadas com ele. E por causa do orgulho que o diabo se tornou o que é. O orgulho leva a todos os outros vícios; é o estado mental mais oposto a Deus que existe.
Parece que estou exagerando? Se você acha que sim, pense um pouco mais no assunto. Agora há pouco, ob servei que, quanto mais orgulho uma pessoa tem, me nos gosta de vê-lo nos outros. Se quer descobrir quão orgulhoso você é, a maneira mais fácil é perguntar-se: “Quanto me desagrada que os outros me tratem como inferior, ou não notem minha presença, ou interfiram nos meus negócios, ou me tratem com condescendência, ou se exibam na minha frente?” A questão é que o or gulho de cada um está em competição direta com o orgu lho de todos os outros. Se me sinto incomodado por que outra pessoa fez mais sucesso na festa, é porque eu mesmo queria ser o grande sucesso. Dois bicudos não se beijam.
O que quero deixar claro é que o orgulho é es sencialmente competitivo — por sua própria natureza -, ao passo que os outros vícios só o são acidentalmente, por assim dizer. O prazer do orgulho não está em se ter algo, mas somente em se ter mais que a pessoa ao lado. Dizemos que uma pessoa é orgulhosa por ser rica, inte ligente ou bonita, mas isso não é verdade. As pessoas são orgulhosas por serem mais ricas, mais inteligentes e mais bonitas que as outras. Se todos fossem igualmente ri cos, inteligentes e bonitos, não haveria do que se orgu lhar. É a comparação que torna uma pessoa orgulhosa: o prazer de estar acima do restante dos seres. Eliminado o elemento de competição, o orgulho se vai. E por isso que eu disse que o orgulho ê essencialmente competitivo de uma forma que os outros vícios não são. O impulso sexual pode levar dois homens a competir se ambos es tão interessados na mesma moça. Mas a competição ali é acidental; eles poderiam, com a mesma facilidade, ter se interessado por moças diferentes. Um homem orgu lhoso, porém, fará questão de tomar a sua garota, não por desejá-la, mas para provar para si mesmo que é me lhor do que você. A cobiça pode levar os homens a com petir entre si se não existe o suficiente para todos; mas o homem orgulhoso, mesmo que tenha mais do que ja mais poderia precisar, vai tentar acumular mais ainda só para afirmar seu poder. Praticamente todos os males no mundo que as pessoas julgam ser causados pela cobi ça ou pelo egoísmo são bem mais o resultado do orgulho. Veja a questão do dinheiro. A cobiça pode fazer com que o homem deseje ganhar dinheiro para comprar uma casa melhor, poder viajar nas férias e ter coisas mais apetitosas para comer e beber. Mas só até certo ponto. O que faz com que um homem que ganha 10.000 li bras por ano fique ansioso para ganhar 20.000 libras? Não é a cobiça de mais prazer. A soma de 10.000 libras pode sustentar todos os luxos de que ele queira desfrutar. E o orgulho — o desejo de ser mais rico que os outros ricos e, mais do que isso, o desejo de poder. Pois, evi dentemente, é do poder que o orgulho realmente gos ta: nada faz o homem sentir-se tão superior aos outros quanto o fato de poder movê-los como soldadinhos de brinquedo. Por que uma moça bonita à caça de admi radores espalha a infelicidade por onde quer que vá? Cer tamente não é por causa de seu instinto sexual: esse tipo de moça é quase sempre sexualmente frígida. É o orgulho. O que faz um líder político ou uma nação inteira quererem expandir-se indefinidamente, exigindo tudo para si? De novo, o orgulho. Ele é competitivo pela própria natureza: é por isso que se expande indefinidamen te. Se sou um homem orgulhoso, enquanto existir al guém mais poderoso do que eu, ou mais rico, ou mais es perto, esse será meu rival e meu inimigo.
Os cristãos estão com a razão: o orgulho é a causa principal da infelicidade em todas as nações e em todas as famílias desde que o mundo foi criado. Os outros ví cios podem, às vezes, até mesmo congregar as pessoas: pode haver uma boa camaradagem, risos e piadas entre gente bêbada ou entre devassos. O orgulho, porém, sem pre significa a inimizade – é a inimizade. E não só ini mizade entre os homens, mas também entre o homem e Deus.”
God, who foresaw your tribulation, has specially armed you to go through it, not without pain but without stain.
“…nossa imitação de Deus nesta vida – ou seja, nossa intencional, ao contrário de todas as semelhanças que ele imprimiu em nossas naturezas ou estados – deve ser uma imitação de Deus encarnado; nosso modelo é não somente o Jesus do Calvário, como também o Jesus da carpintaria, das estradas, das multidões, dos apelos clamorosos e oposições furiosas, da absoluta falta de paz e privacidade, das interrupções. Pois isso, tão estranhamente diferente de tudo o que se pode atribuir à vida divina em si mesma, aparentemente não apenas se assemelha a ela, mas é a própria vida divina operando sob condições humanas.”
Os homens tornaram-se cientistas porque esperavam encontrar lei na natureza, e esperavam encontrar lei na natureza porque criam um Legislador.
Pessoas que conhecem muito as mesmas coisas são quase incapazes de mudar de assunto, e quem não está por dentro se sente deixado de lado.
Deus certamente não estava fazendo uma experiência com minha fé nem com meu amor para provar sua qualidade. Ele já os conhecia muito bem. Eu é que não. Nesse julgamento, ele nos faz ocupar o banco dos réus, o banco das testemunhas e o assento do juiz de uma só vez. Ele sempre soube que meu templo era um castelo de cartas. A única forma de fazer-me compreender o fato foi colocá-lo abaixo.
A realidade, com efeito, é algo que ninguém poderia adivinhar. Este é um dos motivos pelo qual acredito no cristianismo. É uma religião que ninguém poderia adivinhar. Se ela nos oferecesse o tipo de universo que esperaríamos encontrar, eu acharia que ela havia sido inventada pelo homem. Porém, a religião cristã não é nada daquilo que esperávamos; apresenta todas as mudanças inesperadas que as coisas reais possuem.
Estou tentando impedir que alguém repita a rematada tolice dita por muitos a seu respeito: “Estou disposto a aceitar Jesus como um grande mestre da moral, mas não aceito a sua afirmação de ser Deus.” Essa é a única coisa que não devemos dizer. Um homem que fosse somente um homem e dissesse as coisas que Jesus disse não seria um grande mestre da moral. Seria um lunático – no mesmo grau de alguém que pretendesse ser um ovo cozido — ou então o diabo em pessoa. Faça a sua escolha. Ou esse homem era, e é, o Filho de Deus, ou não passa de um louco ou coisa pior. Você pode querer calá-lo por ser um louco, pode cuspir nele e matá-lo como a um demônio; ou pode prosternar-se a seus pés e chamá-lo de Senhor e Deus. Mas que ninguém venha, com paternal condescendência, dizer que ele não passava de um grande mestre humano. Ele não nos deixou essa opção, e não quis deixá-la.
É por isso que o cristão se encontra numa situação diferente da de outras pessoas que tentam ser boas. Estas esperam, por ser boas, agradar a Deus, quando nele acreditam; ou, caso não acreditem, esperam pelo me¬nos receber a aprovação dos homens bons. Já o cristão pensa que todo bem que faz advém da vida de Cristo que o anima interiormente. Não pensa que Deus nos amará mais por sermos bons, mas que Deus nos fará bons porque nos amou primeiro, do mesmo modo que o teto de uma estufa não atrai o sol por ser brilhante, mas brilha porque o sol irradia sobre ele.
De que vale pôr no papel regras de conduta social se sabemos que, na verdade, nossa cobiça, covardia, destempero e vaidade vão nos impedir de cumpri-las? Não quero de maneira alguma dizer que não devemos pensar, e nos esforçar, para melhorar nosso sistema social e econômico. Quero apenas salientar que todo esse planejamento não passará de conversa fiada se não nos dermos conta de que só a coragem e o altruísmo dos indivíduos poderá fazer com que o sistema funcione de maneira apropriada. Seria fácil eliminar os tipos particulares de fraude e tirania que subsistem em nosso sistema atual; mas, enquanto os homens forem os mesmos trapaceiros e manda-chuvas de sempre, encontrarão novas formas de seguir jogando o mesmo jogo, mesmo num novo sistema. É impossível tornar o homem bom pela força da lei; e, sem homens bons, não pode haver uma boa sociedade. É por isso que temos de começar a pensar no segundo fator: a moral dentro de cada indivíduo.
Há várias coisas com as quais eu não me preocuparia se fosse viver apenas setenta anos, mas que me preocupam seriamente com a perspectiva da vida eterna.
Sentiram que jamais na vida haviam sido realmente felizes, bons ou sábios, nem mesmo vivos e despertos, até aquele momento. A lembrança desse instante permaneceu com eles para sempre; enquanto viveram, se alguma vez se sentiam tristes, amedrontados ou irados, a lembrança daquela bondade dourada retornava, dando-lhes a certeza de que tudo estava bem. E sabiam que podiam encontrá-la ali perto, numa esquina ou atrás de uma porta.
(As Crônicas de Nárnia)
O negócio é este: quando a gente quer se fazer de tolo, quase sempre se consegue.
(As Crônicas de Nárnia)
Com que esperteza vocês se defendem daquilo que lhes pode fazer o bem!
(As Crônicas de Nárnia)
Durma. Afaste-se por algumas horas de todos os tormentos que forjou para si mesmo.
(As Crônicas de Nárnia)
Mas era o perfume, não a luz, que provocava suspiros. Tão intenso era que, por um momento, ninguém conseguiu pensar em nada.
(As Crônicas de Nárnia)
A eternidade com um coração mau é a perenidade da desgraça.
(As Crônicas de Nárnia)
Todos conquistam o que desejam, mas nem sempre se satisfazem com isso.
(As Crônicas de Nárnia)
O fruto sempre age, mas não age no sentido da felicidade para aqueles que o arrancam em causa própria.
(As Crônicas de Nárnia)
Quando as coisas vão mal, parece que vão de mal a pior durante certo tempo, mas quando começam a ir bem, parecem cada vez melhores.
(As Crônicas de Nárnia)
Pois o que você ouve e vê depende do lugar em que se coloca, como depende também de quem você é.
Você pergunta se eu já amei alguma vez: sou tolo, mas não sou tanto assim.
No momento em que duas pessoas se tornam amigas, elas de uma certa forma se isolam das demais. [….] A comunidade pode até repeli-las e suspeitar delas. Os líderes no geral fazem isso. Os diretores de escolas, os administradores de comunidades religiosas, os capitães de navios, podem sentir-se preocupados quando surgem amizades fortes entre pequenos grupos de seus agregados.
[….] O conceito que valoriza a coletividade acima do indivíduo necessariamente também desacredita a Amizade; ela é uma relação entre homens em seu mais alto nível de individualidade. Isola os homens do “conjunto” como a própria solidão poderia fazê-lo; e mais perigosamente ainda, pois os isola em grupos de dois ou três [….] Dizer, “Estes são meus amigos” é o mesmo que dizer, “Estes não são”.
Todo nome que dão a um círculo de amizade é quase sempre depreciativo. Na melhor das hipóteses chamam-no de “grupo”, “roda”, “gang” [….] Os que só conhecem pessoalmente a Afeição, o Companheirismo e Eros consideram os Amigos como “pedantes convencidos que se julgam bons demais para nós”. Esta é naturalmente a voz da inveja, mas ela sempre faz a acusação mais verdadeira…
[….] Sozinho, entre companheiros que não me compreendem, eu mantenho certos padrões e pontos de vista timidamente, um tanto envergonhado por admiti-los e um tanto duvidoso de que possam ser certos. Mas basta estar de volta aos meus Amigos e em meia hora, ou mesmo dez minutos, esses mesmos padrões e conceitos se tornam de novo indiscutíveis. A opinião desse pequeno circulo, enquanto estou nele, supera a de mil outras pessoas: à medida que a amizade se robustece, me sentirei assim, mesmo quando meus amigos estão distantes, pois todos queremos ser julgados por nossos iguais, por aqueles que são “segundo o nosso coração”.
Apenas estes conhecem na verdade nossos pensamentos e só eles julgam segundo padrões que reconhecemos. É deles o louvor que cobiçamos e a censura que tememos.
[….] É fácil ver, portanto, por que as autoridades não vêem com bons olhos a Amizade. Cada amizade verdadeira é uma espécie de secessão, e mesmo rebelião. Pode ser uma rebelião de pensadores sinceros contra erros aceitos ou de maníacos contra o bom senso aceito; de verdadeiros artistas contra a arte popular inferior, ou de charlatões contra o gosto civilizado; de homens bons contra a maldade social ou de homens maus contra a bondade. Qualquer que seja ela, não irá agradar os que estão Em Cima.
Os homens que possuem amigos fiéis são menos fáceis de manejar ou “alcançar”; mais difíceis de corrigir por parte das boas autoridades e de corromper por parte das más. Assim sendo, se nossos senhores [….] de maneira sutil [….] vierem a ter êxito em produzir um mundo em que todos são Companheiros e ninguém é Amigo, terão removido alguns perigos, e terão também tirado de nós aquilo que é quase nossa mais forte proteção contra a servidão absoluta.
Os perigos porém são perfeitamente reais. A Amizade (como os antigos descobriram) pode ser uma escola de virtude; mas também (como não perceberam) uma escola de vício. Ela é ambivalente. Torna melhores os homens bons e piores os maus.
Fica evidente que o elemento de divisão, de indiferença ou surdez (pelo menos em alguns assuntos) às vozes do mundo exterior, é comum a todas as amizades, sejam elas boas, más, ou simplesmente inócuas. Mesmo que a base comum da amizade não seja nada mais momentoso do que colecionar selos, o círculo correta e inevitavelmente ignora a opinião de milhões que a consideram como uma ocupação tola, e dos milhares que são apenas diletantes [….] Da mesma forma que sei que eu seria um intruso num círculo de golfistas, matemáticos ou motoristas, reivindico o mesmo direito de considerá-los intrusos no meu.
As pessoas que aborrecem umas às outras devem encontrar-se poucas vezes, as que interessam uma à outra, muitas vezes. O perigo está em que esta indiferença ou surdez à opinião externa, embora justificada e necessária, pode levar a uma indiferença ou surdez totais [….] A surdez parcial, nobre e necessária, encoraja a surdez total que é arrogante e desumana [….] A surdez parcial e justificável é baseada em certo tipo de superioridade – mesmo que se tratasse de um conhecimento superior a respeito de selos. O senso de superioridade vai então ligar-se à surdez total. O grupo irá desdenhar e ignorar os que se acham fora dele; tornando-se, com efeito, algo muito semelhante a uma classe. Um círculo social é uma aristocracia autonomeada.
[….] Numa boa Amizade cada membro se sente humilde em relação aos demais. Vê que eles são esplêndidos e se julga com sorte por estar entre os mesmos [….] Mas, infelizmente, esses eles, de um outro ponto de vista, são também nós. Assim, a transição da humildade individual para o orgulho corporativo é muito fácil [….] Já vimos isto sendo feito pelos “ veteranos” na escola falando na presença de um aluno novo, ou dois “permanentes” no Exército diante de um “temporário ”; tais pessoas se expressam com grande intimidade a fim de serem ouvidas. Todos os que não fazem parte do círculo precisam saber que não estão nele. A Amizade pode em análise final não ter base alguma, exceto o fato de ser exclusivista. Ao falar a um Estranho, cada membro tem prazer em mencionar os outros pelo primeiro nome ou por um apelido; não apesar de que, mas porque, o Estranho não saberá a quem se refere.
[….] Podemos detectar assim o orgulho da Amizade em muitos círculos de amigos. Seria precipitado supor que o nosso possa estar livre desse perigo, pois, como é natural, exatamente nele é que seríamos mais lentos em reconhecer essa falha.
A amizade é até mesmo angelical, mas o homem precisa ser triplamente protegido pela humildade se quiser comer o pão dos anjos sem risco.
Eros exige corpos nus; a amizade, personalidades nuas.
Pela primeira vez examinei a mim mesmo com o propósito seriamente prático, ali encontrei o que me assustou: um bestiário de luxúrias, um hospício de ambições, um canteiro de medos, um harém de ódios mimados… Sempre desejei o progresso, mas pela graça de Deus percebi que quando se está na estrada errada progresso significa fazer o retorno e voltar para a estrada certa; nesse caso, voltar atrás primeiro é ser mais progressista. Hoje eu acredito no cristianismo como acredito que o sol nasce todo dia. Não apenas porque o vejo, mas porque através dele eu vejo tudo ao meu redor. Percebi que colocando as primeiras coisas em primeiro lugar, teremos as segundas a seguir, mas colocando as segundas em primeiro, perdemos ambas. Tudo que não é eterno é eternamente inútil. Pois se a esperança que se tem fosse apenas nessa vida, não houvesse nada além, nenhum sonho pra sonhar, que esperança mais perdida!
Eu prefiro acreditar que Cristo vive e vai voltar pra acabar com essa guerra. A esperança que Ele dá ultrapassa a morte ou vida, vai além de trabalhar, traz sonhos pra sonhar! Não que eu queira me esquivar de olhar de frente a vida, mas bem melhor é batalhar pelo pão que vai durar, pão de Cristo, pão da vida.
As criaturas não nascem com desejos, a menos que exista satisfação para eles. Um bebê sente fome: bem, existe uma coisa chamada comida. Um patinho quer nadar: bem, existe uma coisa chamada água. (…) Se eu encontrar em mim mesmo um desejo que nenhuma experiência neste mundo pode satisfazer, a explicação mais provável é que fui feito para outro mundo.
To love at all is to be vulnerable. Love anything and your heart will be wrung and possibly broken. If you want to make sure of keeping it intact you must give it to no one, not even an animal. Wrap it carefully round with hobbies and little luxuries; avoid all entanglements. Lock it up safe in the casket or coffin of your selfishness. But in that casket – safe, dark, motionless, airless – it will change. It will not be broken; it will become unbreakable, impenetrable, irredeemable. The alternative to tragedy, or at least to the risk of tragedy, is damnation. The only place outside of Heaven where you can be perfectly safe from all the dangers and perturbations of love is Hell.
Há um sentido em que todos os agentes naturais, até mesmo os inanimados, glorificam a Deus continuamente, revelando os poderes que Ele lhes deu. E nesse sentido nós, como agentes naturais, fazemos o mesmo. Nesse nível, os nossos atos iníquos, no sentido em que eles exibem nossa perícia e força, pode dizer-se que glorificam a Deus, tanto quanto nossas boas ações. Uma peça musical executada com excelência, como operação natural que revela um grau alto dos poderes e habilidades dados ao homem, desta forma sempre glorifica a Deus, seja qual tenha sido a intenção dos executores”
O Amor-Necessidade clama por Deus de nossa pobreza; o Amor-Doação deseja servir a Deus, ou sofrer por Ele; o Amor-Apreciativo diz “Nós te damos graças por tua grande glória”. O Amor-Necessidade diz de uma mulher: “Não consigo viver sem ela.” O Amor-Doação deseja proporcionar a ela felicidade, conforto, proteção – e, se possível, riqueza; o Amor-Apreciativo a contempla, e prende a respiração, e se cala, e se alegra por tamanha maravilha existir, mesmo que não para ele, e não se sente inteiramente deprimido por perdê-la, e preferiria perdê-la a jamais tê-la visto.
Se você aceitar a natureza como um mestre, ela irá ensinar-lhe justamente as lições que já decidira aprender; isto é só outra maneira dó dizer que a natureza não ensina. A tendência de toma-Ia como mestra é logicamente enxertada com facilidade na experiência que chamamos “amor pela natureza”. Mas, não passa de um enxerto. Enquanto estamos sujeitos a eles, “as disposições” e “espíritos” da natureza não indicam qualquer moral. A alegria desregrada, grandeza insuportável, desolação sombria, são lançadas à sua frente.
Faça o que puder com elas, se puder fazer algo. O único imperativo proferido pela natureza é: “Olhe. Ouça. Atenda.”
O fato de este imperativo ser no geral mal interpretado e fazer com que as pessoas inventem teologias, panteologias e antiteologias podendo todas ser descartadas – não toca realmente a experiência central em si. O que os amantes da natureza – quer sejam seguidores de Wordsworth ou pessoas com “deuses sombrios em seu sangue” obtêm dela é uma iconografia, uma linguagem de imagens. Não quero dizer apenas imagens visuais; são as “disposições” ou “espíritos” em si – as poderosas exibições de terror, tristeza, alegria, crueldade, luxúria, inocência, pureza – que são as imagens.
Nelas, cada um pode colocar ou “vestir” sua própria crença.
Devemos aprender em outra parte nossa teologia ou filosofia (não é de surpreender que no geral as aprendamos com teólogos e filósofos).
Mas quando falamos de “vestir” nossa crença em tais imagens, não estou me referindo a usar a natureza para símiles ou metáforas à maneira dos poetas. Eu poderia na verdade ter dito “encher” ou “encarnar” em lugar de vestir.
Muitas pessoas, inclusive eu, jamais poderiam, a não ser por aquilo que a natureza nos faz, ter qualquer conteúdo para colocar nas palavras que devemos usar ao confessar nossa fé. A natureza jamais me ensinou que existe um Deus de glória e de infinita majestade. Tive de aprender isso de outra forma. Mas a natureza deu à palavra glória um significado para mim. Ainda não sei onde poderia tê-lo encontrado a não ser nela. Não vejo como o “temor” de Deus poderia ter qualquer significado para mim além dos mínimos esforços para manter-me seguro, se não tivesse tido oportunidade de ver despenhadeiros medonhos e penhascos inacessíveis. E se a natureza jamais tivesse despertado em mim certos anseios, áreas imensas do que agora posso chamar de “amor” de Deus jamais existiriam, no que me é dado ver.
O fato de o cristão poder usar assim a natureza não é nem mesmo o início de uma prova de que o cristianismo é verdadeiro. Os que sofrem às mãos de deuses sombrios podem igualmente fazer uso dela (suponho eu) para o seu credo. Esse é justamente o ponto. A natureza não ensina.
Uma filosofia genuína pode às vezes validar uma experiência da natureza; uma experiência da natureza não pode dar validade a uma filosofia. A natureza não irá verificar qualquer proposição teológica ou metafísica (ou pelo menos não da maneira que consideramos agora); ela ajudará a revelar o seu significado. E, nas premissas cristãs, isso não se dará acidentalmente. Pode-se esperar que a glória criada nos proporcione vislumbres da não-criada: pois uma deriva da outra e de alguma forma a reflete.
De alguma forma. Mas talvez não de modo tão simples e direto como poderíamos supor a princípio. Como é lógico, todos os fatos destacados pelos amantes da natureza da outra escola são também fatos. Há vermes no ventre assim como primaveras na floresta. Tente reconciliá-los ou mostrar que não precisam necessariamente de reconciliação, e você estará se desviando da experiência direta da natureza – nosso tema presente – para a metafísica ou teodicéia, ou algo desse tipo. Isso pode ser sensato, mas penso que devemos mantê-lo distinto do amor da natureza. Enquanto estamos nesse nível, enquanto continuamos alegando falar daquilo que a natureza nos “disse” diretamente, é preciso apegar-nos ao mesmo. Vimos uma imagem da glória. Não nos cabe descobrir um caminho direto através dela e além dela que leve a um crescente conhecimento de Deus. O caminho desaparece quase imediatamente. Terrores e mistérios, toda a profundidade dos conselhos de Deus e todo o emaranhado da história do universo o sufocam. Não podemos passar; não desse modo. E preciso entrar por um atalho – deixar as colinas e florestas e voltar aos nossos estudos, à igreja, às nossas Bíblias, aos nossos joelhos. De outra maneira o amor da natureza está começando a transformar-se numa religião.
E então, mesmo que não nos leve de volta aos deuses sombrios, nos levará a uma grande dose de tolice.
“Quando descrevemos o que imaginamos, podemos convencer os outros – e as nós mesmos – de que realmente já estivemos lá. E, se apenas imaginei, será também ilusão o fato de que mesmo imaginar, em alguns momentos, faz com que todos os outros objetos de desejo – sim, inclusive a paz, inclusive deixar de ter medos – se pareçam com brinquedos quebrados e flores murchas? Para muitos de nós, talvez toda a experiência simplesmente defina, por assim dizer, a forma do vazio onde deveria estar nosso amor por Deus. Não é suficiente. Mas já é alguma coisa. Quando não podemos “praticar a presença de Deus”, já é alguma coisa praticar a ausência de Deus, ir tomando consciência de nossa inconsciência de Deus até nos sentirmos como um homem que está diante de uma grande catarata e não ouve nenhum ruído, ou um homem que, numa narrativa, se olha no espelho e não vê rosto algum, ou um homem que, num sonho, estende a mão para objetos visíveis e não sente tocá-los. Saber que está sonhando é já não estar perfeitamente adormecido.”
“(…) O que temos não é o “direito de esperar” mas uma “expectativa razoável” de sermos amados pelas pessoas mais próximas, se nós e elas somos mais ou menos comuns. Talvez, porém, não sejamos. É possível que sejamos intoleráveis. Quando somos,a “natureza” trabalha contra nós. Isso ocorre porque as mesmíssimas condições de intimidade que tornam possível a Afeição também tornam possível – e com a mesma naturalidade – uma repulsa peculiarmente incurável; um ódio tão imemorial, constante, unilateral e às vezes inconsciente, como a forma correspondente de amor.
E possível que dediquemos a nossos amores humanos a fidelidade devida apenas a Deus. Eles então se tornam deuses: então se tornam demônios. Irão assim destruir-nos e também destruir a si mesmos.
Tudo que é eterno está eternamente acima do tempo.
A tarefa do educador moderno não é derrubar florestas, mas irrigar desertos.
Que sabe você das almas das outras pessoas – de suas tentações, de suas oportunidades, suas lutas?
If I find in myself desires which nothing in this world can satisfy, the only logical explanation is that I was made for another world
Não é impossível que um homem perverso de sua raça descubra um segredo tão pavoroso quanto a Palavra Execrável, e use esse segredo para destruir todas as coisas vivas.
Vocês estão muito crescidos, crianças – disse Aslam – e devem começar a se aproximar do seu próprio mundo.
A questão não é Nárnia. – chorou Lucy – É você. Não o encontraremos no nosso mundo. E como poderemos viver sem nunca encontrar você?”
As crianças olhavam para a face do Leão enquanto ele pronunciava essas palavras. De repente (nunca souberam como aconteceu), foi como se a face de Aslam se tornasse um mar de ouro no qual flutuavam; inexprimível força e ternura passavam por eles e por dentro deles; e sentiram que jamais na vida haviam sido realmente felizes, bons ou sábios, nem mesmo vivos e despertos, até aquele momento. A lembrança desse instante permaneceu com eles para sempre; enquanto viveram, se alguma vez se sentiam tristes, amedrontados ou irados, a lembrança daquela bondade dourada retornava, dando-lhes a certeza de que tudo estava bem. E sabiam que podiam encontrá-la ali perto, numa esquina ou atrás de uma porta.
Filho! Estou contando a sua história, não a dela. A cada um só conto a história que lhe pertence.
— Explico: a feiticeira pode conhecer a Magia Profunda, mas não sabe que há outra magia ainda mais profunda. O que ela sabe não vai além da aurora do tempo. Mas, se tivesse sido capaz de ver um pouco mais longe, de penetrar na escuridão e no silêncio que reinam antes da aurora do tempo, teria aprendido outro sortilégio. Saberia que, se uma vítima voluntária, inocente de traição, fosse executada no lugar de um traidor, a mesa estalaria e a própria morte começaria a andar para trás…
– Não seria medonho se um dia, no nosso mundo, os homens se transformassem por dentro em animais ferozes, como os daqui, e continuassem por fora parecendo homens, e a gente assim nunca soubesse distinguir uns dos outros?
– Vai aparecer para eles? – perguntou o ancião.
-Não – disse o Leão com um meio rugido, que queria dizer (pensou Lúcia) o mesmo que uma risada. – Ficariam assustados demais. Muitas estrelas envelhecerão e virão descansar nas ilhas antes que o seu povo esteja amadurecido para isso.
You don’t have a soul. You are a soul. You have a body.
Os meus planos já estão traçados. Enquanto puder, navegarei para o oriente no Peregrino. Quando o perder, remarei no meu bote. Quando o bote for ao fundo, nadarei com minhas patas. E, quando não puder nadar mais, se ainda não tiver chegado ao país de Aslam, ou atingido a extremidade do mundo, afundarei com o nariz voltado para leste, e outro será o líder dos ratos falantes de Nárinia.
[Reepicheep]
“Quando dizemos de um homem que anda pelas ruas cheio de desejo que ele está “procurando mulher”, nossa linguagem é tremendamente infeliz. Na verdade, uma mulher é exatamente o que ele não está querendo. Ele está em busca dum prazer que, neste caso, precisa de um objeto chamado mulher para ser satisfeito”.
A amizade nasce no momento em que uma pessoa diz para a outra: “O quê? Você também! Pensei que eu era o único.”
Não podemos confiar em nós mesmo nem em nossos melhores momentos. Por outro lado, não devemos nos desesperar nem mesmo nos piores, pois nossos fracassos são perdoados. A única atitude fatal é se dar por satisfeito com qualquer coisa que não a perfeição.
Isn’t it funny how day by day nothing changes but when you look back everything is different.
Some day you will be old enough to start reading fairy tales again
O filho de Deus tornou-se homem, para possibilitar que os homens se tornem filhos de Deus.
“A verdade, porém, é que os maiores males e crimes são criados, arquitetados e executados em escritórios bem limpos, atapetados, refrigerados e bem iluminados por homens de colarinho branco, unhas bem cuidadas; estão sempre bem barbeados e jamais precisam elevar seu tom de voz”
Deus torna homens em servos, e estes servos em filhos, de modo a serem no final reunidos a Ele, não como ‘almas absorvidas’, mas como indivíduos aprimorados, desfrutadores de todo o deleite e prazer que a presença de Deus proporciona.
As palavras em si não são ofensivas, mas ditas com certo tom de voz, ou num dado momento ou com certo sorriso, assemelham-se a autênticas bofetadas na cara.
Os humanos… Como espíritos, eles fazem parte da existência eterna, mas como animais eles vivem presos ao tempo. Isso implica em que seus espíritos podem ser direcionados a objetos eternos e seus corpos, paixões e imaginações estão em contínua mudança, já que estar ligado ao tempo significa estar em mutação. – Em Cartas do Inferno.
A Amizade surge do mero Companheirismo quando dois ou mais dos companheiros descobrem que têm em comum alguma percepção ou interesse ou mesmo gostos que os demais não partilham e que, até aquele momento, cada um acreditava ser o seu tesouro ou fardo especial. A expressão típica de um começo de Amizade seria algo como: “O quê? Você também? Pensei que eu fosse o único.”
A pessoa que concorda conosco que alguma questão, pouco considerada por outros, tem grande importância, pode ser nosso amigo.
Ela não precisa concordar conosco quanto à resposta.
Esse o motivo pelo qual aquelas criaturas patéticas que simplesmente “querem amigos” jamais descobrem algum. A própria condição de ter amigos é que deveríamos desejar algo além de Amigos. Onde a resposta sincera à pergunta:
“Você vê a mesma verdade?” fosse: “Não vejo nada e não me importo com a verdade; só quero um amigo”, não pode surgir Amizade – embora possa haver Afeição. Não haveria um terreno comum para a Amizade, e este precisa existir neste caso, mesmo que seja um entusiasmo por jogar dominó ou por ratinhos brancos. Os que nada têm nada podem partilhar; os que não vão a lugar algum não podem ter companheiros de viagem.
Quando as duas pessoas que descobrem estar palmilhando a mesma estrada secreta são de sexos diferentes, a amizade que surge entre elas irá facilmente transformar-se – talvez depois da primeira meia hora – em amor eros.
Você se torna amigo de alguém sem saber ou se preocupar se ele é casado ou solteiro ou como ganha a vida. O que todas essas “coisas desprezíveis e rotineiras” têm a ver com a pergunta real: “Você vê a mesma verdade?” Num círculo de amigos verdadeiros cada homem é simplesmente o que é: não representa nada além dele mesmo. Ninguém se importa absolutamente com a família, profissão, classe social, renda, raça ou história prévia do outro. Você irá naturalmente ficar sabendo sobre a maior parte dessas coisas no final, mas casualmente. Elas virão aos poucos, para fornecer um exemplo
ou uma analogia, para servir de ganchos para uma anedota,
mas nunca por si mesmas. Essa a realeza da amizade.
(Os quatro amores)
Em casa, além de ser Pedro ou Janete, temos também um caráter geral; marido ou esposa, irmão ou irmã, chefe, colega ou subordinado. Mas não entre nossos amigos. Trata-se de uma relação de mentes desembaraçadas ou despidas. Eros quer corpos nus, a Amizade personalidades nuas.
(Os quatro amores)
A amizade é tão desnecessária quanto a filosofia, a arte, o próprio universo (pois Deus não precisava criar). Ela não tem valor de sobrevivência; pelo contrário, é uma daquelas coisas que dá valor à sobrevivência.
(Os quatro amores)
Dois amigos ficam contentes quando chega um terceiro e três quando o quarto se reúne a ele, basta que o recém chegado tenha as necessárias qualificações para tornar-se um verdadeiro amigo. Eles podem dizer, como as almas abençoadas dizem em Dante: “Está chegando alguém que vai ampliar nosso amor”. Pois neste tipo de amor “dividir não é remover”.
(Os quatro amores)
Deus não quer algo de nós. Ele simplesmente nos quer.
A afeição não seria afeição se fosse ostentosa e expressa com freqüência; produzi-la em público é o mesmo que tirar nossa mobília de casa para uma mudança. Ela parecia adequada no lugar em que estava, mas se nos afigura envelhecida, espalhafatosa ou grotesca à luz do sol. A afeição quase que se esquiva ou se infiltra em nossa vida. Ela faz parte das coisas privadas, humildes, como uma simples roupa de baixo. Chinelos macios, roupas velhas, velhas anedotas, o bater da cauda de um cachorro sonolento no chão da cozinha, o som da máquina de costura, uma boneca deixada no jardim.
(Os quatro amores)
No momento em que alguém diz, com sinceridade, que embora não seja “do meu tipo” ele é um bom sujeito “a seu modo” é um momento de libertação. Não sentimos isso, mas podemos apenas sentir-nos tolerantes e indulgentes. Entretanto, na verdade, acabamos de cruzar uma fronteira. Aquele “a seu modo” indica que estamos superando as nossas idiossincrasias, que estamos aprendendo a apreciar a bondade e a inteligência por si mesmas, e não simplesmente bondade e inteligência temperadas e servidas para agradar apenas ao nosso paladar.
(Os quatro amores)
Os que dizem “quanto mais convivo com os homens mais gosto de cachorros” — os que encontram nos animais um alívio das exigências do convívio humano, devem ter o cuidado de analisar sua real motivação.
(Os quatro amores)
“Podemos dizer qualquer coisa uns para os outros.” A verdade subjacente é que a Afeição em sua melhor forma pode dizer o que a Afeição em sua melhor forma quer dizer, sem levar em conta as regras que governam a etiqueta em público, pois a Afeição em sua melhor forma não deseja nem ferir, nem humilhar, nem dominar. Você pode chamar a esposa de seu coração de “Esponja!” quando ela toma inadvertidamente tanto o seu drinque como o dela. Pode caçoar da história que seu pai vem contando repetidamente. Pode arreliar, pregar peças e provocar. Pode até dizer: “Cale a boca, agora quero ler”. Pode fazer tudo com o tom de voz certo e na hora oportuna o tom e o momento que não irão ferir nem têm essa intenção.
(Os quatro amores)
Fazer um amigo não é o mesmo que tornar-se afeiçoado. Mas quando seu amigo se torna um velho amigo, todas aquelas coisas nele que inicialmente nada tinham a ver com a amizade se tornam familiares e queridas com a familiaridade.
(Os quatro amores)
-A águia tem razão – disse Lorde Digory – Ouça, Pedro. Quando Aslam disse que vocês nunca mais poderiam voltar a Nárnia, ele se referia à Nárnia em que vocês estavam pensando. Aquela, porém, não era a verdadeira Nárnia. Ela teve um começo e um fim. Era apenas uma sombra, uma cópia da verdadeira Nárnia que sempre existiu e sempre existirá aqui, DA MESMA FORMA QUE O NOSSO MUNDO É APENAS UMA SOMBRA OU UMA CÓPIA DE ALGO DO VERDADEIRO MUNDO DE ASLAM. Lúcia, você não precisa prantear Nárnia. Todas as criaturas queridas, tudo o que importava da velha Nárnia foi trazido aqui para a verdadeira Nárnia, através daquela porta.”
As Crônicas de Nárnia p. 729
Não coloque os seus bens num recipiente rachado. Não gaste demasiado numa casa da qual tenha de sair. E não existe ninguém que reaja mais naturalmente do que eu a tais máximas. Sou uma criatura que põe a segurança em primeiro lugar. De todos os argumentos contra o amor nenhum faz um apelo mais forte à minha natureza do que “Cuidado! Isto pode fazer com que sofra”.
(Os quatro amores)
Os livros ou a música onde pensamos estar a beleza nos trairão se confiarmos neles… Pois eles não são a coisa em si; eles são somente o aroma de uma flor que não encontramos, o eco de um tom que ainda não ouvimos, notícias de um país que nunca visitamos.
Um homem com as mão cheias de “pacotes”, não pode receber um presente!
Deus sussurra e fala à consciência através do prazer, mas grita-lhe por meio da dor: a dor é o seu megafone para despertar um mundo adormecido
When things once start going right they often go on getting better and better
For what you see and hear depends a good deal on where you are standing: it also depends on what sort of person you are.
Inclino-me a afirmar quase como regra que uma história para crianças de que só as crianças gostam é uma história ruim. As boas permanecem.
O problema real da vida cristã aparece onde as pessoas normalmente não o procuram. Ele aparece no instante em que você acorda cada manhã. Todos os desejos e esperanças para o dia correm para você como animais selvagens. E a primeira tarefa de cada manhã consiste simplesmente em empurrá-los todos para trás; em dar ouvidos a outra voz, tomando aquele outro ponto de vista, deixando aquela outra vida mais ampla, mais forte e mais calma entrar como uma brisa. E assim por diante, todos os dias. Mantendo distância de todas as inquietações e de todos os aborrecimentos naturais, protegendo-se do vento.
Para a tarefa mais elevada de ensinar coragem e paciência, jamais fui tolo o bastante para considerar-me qualificado, nem tenho qualquer coisa a oferecer aos meus leitores exceto minha convicção de que quando é preciso suportar a dor, um pouco de simpatia humana tem mais valor do que muito conhecimento, um pouco de simpatia tem mais valor do que muita coragem, e a menor expressão do amor de Deus supera tudo.
Eu oro, porque eu não posso me ajudar. Eu oro porque estou desamparado. Eu oro porque a necessidade flui de mim todo o tempo – acordado e dormindo. Isso não muda Deus, isso me muda.
“Amar é, antes de tudo, tornar-se vulnerável… Se você quer, com certeza, manter seu coração intacto, então não deve dá-lo a ninguém, nem mesmo a um animal. Envolva-o cuidadosamente com distrações e pequenos luxos; evite todos os embaraços; tranque-o na segurança do cofre de seu egoísmo. Mas neste cofre – seguro, escuro, inerte e sem ar – seu coração mudará. Ele não se quebrará; – tornar-se-á inquebrável, impenetrável, irredimível… O único lugar fora do céu onde você pode ficar absolutamente livre do perigo de amar é o inferno.”
A privação é uma parte integral e universal da nossa experiência no amor.
Quando a dor tem que ser suportada, um pouco de coragem ajuda mais do que conhecimento; um pouco de simpatia humana, mais do que coragem, e a menor migalha de amor de Deus mais do que tudo.
Se o sistema solar foi criado por uma colisão estelar acidental, então o aparecimento da vida orgânica neste planeta foi também um acidente, e toda a evolução do Homem foi um acidente também. Se é assim, então todos nossos pensamentos atuais são meros acidentes – o subproduto acidental de um movimento de átomos. E isso é verdade para os pensamentos dos materialistas e astrônomos, como para todos nós. Mas se os pensamentos deles – isto é, do Materialismo e da Astronomia – são meros subprodutos acidentais, por que devemos considerá-los verdadeiros? Não vejo razão para acreditarmos que um acidente deva ser capaz de me proporcionar o entendimento sobre todos os outros acidentes. É como esperar que a forma acidental tomada pelo leite esparramado pelo chão, quando você deixa cair a jarra, pudesse explicar como a jarra foi feita e porque ela caiu.
Deus previu sua tribulação e tem armado especialmente para você ir com Ele, não sem dor, mas sem mancha.
O único lugar além do céu onde se pode estar perfeitamente a salvo de todos os riscos e perturbações do amor é o inferno.
A história humana é a longa e terrível história do homem tentando encontrar outro além de Deus para fazê-lo feliz.
Todos os mortais tendem a tornar-se aquilo que fingem ser.
A experiência é uma professora cruel, mas você aprende. Meu Deus! Como você aprende!
Nós não queremos simplesmente ver a beleza, queremos estar unidos com a beleza. Passar através dela, tornar-se parte dela.
“O orgulho é a galinha sob a qual todos os outros pecados são chocados.”
Louvar é o crente se encantar com a beleza do caráter de Deus.
Não seria medonho se um dia, no nosso mundo, os homens se transformassem por dentro em animais ferozes, como os daqui, e continuassem por fora parecendo homens, e a gente assim nunca soubesse distinguir uns dos outros?
C.S.Lewis
“Deus criou coisas dotadas de livre-arbítrio: criaturas que podem fazer tanto o bem quanto o mal. Alguns pensam que podem conceber uma criatura que, mesmo desfrutando da liberdade, não tivesse possibilidade de fazer o mal. Eu não consigo. Se uma coisa é livre para o bem, é livre também para o mal. E o que tornou possível a existência do mal foi o livre-arbítrio. Por que, então, Deus o concedeu? Porque o livre-arbítrio, apesar de possibilitar a maldade, é também aquilo que torna possível qualquer tipo de amor, bondade e alegria. Um mundo feito de autômatos — criaturas que funcionassem como máquinas – não valeria a pena ser criado. A felicidade que Deus quis para suas criaturas mais elevadas é a felicidade de estar, de forma livre e voluntária, unidas a ele e aos demais seres num êxtase de amor e deleite ao qual os maiores arroubos de paixão terrena entre um homem e uma mulher não se comparam. Por isso, essas criaturas têm de ser livres.” – C. S. Lewis
Deus nunca se faz de filósofo diante de uma lavadeira.
Para o determinismo ser verdadeiro, seria necessária uma base racional para seu pensamento, mas, se o determinismo é verdadeiro, não há bases racional para o pensamento, já que tudo é determinado por forças não racionais. Portanto, se o determinismo afirma ser verdadeiro, então, deve ser falso.
Deus nos permite experimentar os pontos baixos da vida a fim de nos ensinar lições que não poderíamos aprender de nenhuma outra maneira.
Um dia você será velho o bastante para voltar a ler contos de fadas.
Se eu encontro em mim um desejo que nenhuma experiência desse mundo possa satisfazer, a explicação mais provável é que eu fui feito para um outro mundo.
Andar para distante da Sua vontade é ir em direção ao nada.
Deus não precisa da minha oração. Sou eu quem preciso dela. A oração me aproxima de Deus, revela minha dependência, minha fome e sede por Sua vontade, seu Reino, sua pessoa. A oração muda principalmente a mim – minha visão de Deus, do próximo, das circunstâncias.
(Quando questionado sobre o por quê ele orava em favor de sua esposa com câncer)
Mas nunca, nunca deposite toda a sua fé num ser humano, mesmo que seja a melhor e a mais sábia pessoa do mundo. Existe uma porção de coisas interessantes que você pode fazer com areia; mas não vá construir uma casa sobre ela.
Livro “Cristianismo Puro e Simples”
Onde os homens estiverem proibidos de honrarem um Rei, hão de honrar milionários, atletas ou estrelas de cinema; até famosas meretrizes e bandidos. Porque a natureza do espírito, como a natureza do corpo, servir-se-á; neguem-lhe comida e beberá veneno.
Deus não quer um coração dividido. Quer tudo ou nada.
A visão correta se volta esplendorosamente para The Dream of Gerontius [O sonho de Gerontio], de Newman. Ali, se me lembro bem, a alma salva, ao pé do trono, suplica para ser levada embora e purificada. Não consegue suportar nem mais um instante “as trevas que afrontam aquela luz”. A religião {verdadeira} tem reclamado o Purgatório.
Nossa alma exige o Purgatório, não? Seria de cortar o coração se Deus nos dissesse: “É verdade, meu filho, que você está com o hálito forte e que de seus trapos pingam lama e lodo, mas somos caridosos aqui, e ninguém o repreenderá por essas coisas, nem se apartará de você. Entre no gozo do teu Senhor”, não acha? Nós não deveríamos retrucar: “Com submissão, Senhor, e se não houver nenhuma objeção, eu preferiria ser purificado primeiro”. “Pode machucar, você sabe…”; “Mesmo assim, Senhor”.
Suponho que seja normal o processo de purificação envolver sofrimento. Em parte por tradição; em parte porque a maioria do bem real que me tem sido feito nesta vida o tem envolvido. Mas não entendo que o sofrimento seja o propósito da purgação. Posso bem crer que pessoas nem muito piores nem muito melhores do que eu sofrerão menos ou mais do que eu. “Sem disparates envolvendo mérito”. O tratamento dado será o necessário, quer ele machuque muito, quer pouco.
Eu não fui para religião para me fazer feliz. Eu sempre soube que uma garrafa de vinho do porto faria isso. Se você quer uma religião para fazer você se sentir realmente confortável, certamente eu não recomendo o Cristianismo.
A expressão típica de um começo de amizade seria algo como: “O quê? Você também? Pensei que eu fosse o único.”
(Os quatro amores)
“Sou um pagão convertido vivendo em meio a puritanos apóstatas”.
“… Você tem de pedir a ajuda de Deus. Mesmo depois de pedir, poderá ter a impressão de que a ajuda não vem, ou vem em dose menor que a necessária. Não se preocupe. Depois de cada fracasso, levante-se e tente de novo. Muitas vezes, a primeira ajuda de Deus não é a própria virtude, mas a força para tentar de novo […] esse processo de treinamento dos hábitos da alma é ainda mais valioso. Ele cura nossas ilusões a respeito de nós mesmos e nos ensina a confiar em Deus…”. C.S. Lewis – Cristianismo Puro e Simples
Não se preocupe. Só há duas espécies de pessoas no final : os que dizem a Deus, “seja feito a Sua vontade”, e aqueles a quem Deus diz : “a tua vontade seja feita” .
“As únicas coisas que podemos conservar são as que entregamos a Deus. As que guardamos para nós são as que perderemos com certeza.”
“Um homem pode ter de morrer por nosso país, mas ninguém deve, em qualquer sentido exclusivo, viver para seu país. Quem se entrega sem reservas às exigências temporais de uma nação, ou de um partido, ou de uma classe, está dando a César aquilo que de todas as coisas mais enfaticamente pertence a Deus: ele próprio.”
Cristo opera em nós através dos outros seres humanos, e neles através de nós. Os seres humanos são espelhos ou “portadores” de Cristo para outros seres humanos.
Cristianismo Puro e Simples
E não se trata apenas de um homem bom que morreu há dois mil anos. Trata-se de um Homem vivo, ainda tão homem quanto você e ainda tão divino quanto era quando criou o mundo, que realmente chega para interferir em seu eu mais profundo, para matar em você o homem velho e substituí-lo pelo tipo de alma que ele mesmo tem.
Cristianismo Puro e Simples
Toda vez que você fracassar, ele o colocará novamente em pé. E ele tem perfeita consciência de que seus próprios esforços não o aproximarão em nada da perfeição. Por outro lado, você tem de saber desde o princípio que a meta rumo à qual ele o dirige é a perfeição absoluta; e não existe poder algum no universo, exceto você mesmo, que possa impedi-lo de conduzir você a essa meta.
“Se você tem a atitude correta diante de Deus, inevitavelmente terá a atitude correta diante do próximo.”
Ninguém me disse que o luto se parecia tanto com o medo. Não estou com medo, mas a sensação é a mesma. A mesma agitação no estômago, a mesma inquietação, o bocejo, a boca seca.
O amor não é um sentimento afetuoso, mas um desejo constante pelo bem supremo da pessoa amada tanto quanto pode ser obtido.
Não existe uma xícara de chá grande o suficiente ou um livro longo o suficiente para me satisfazer.
Eu acredito na cristandade tanto quanto acredito que o sol nasceu: não só porque eu o vejo, mas porque por ele eu vejo tudo o resto.
Uma história infantil que só pode ser apreciada por crianças não é uma boa história infantil.
O cristão não acha que Deus irá nos amar porque somos bons, mas que Deus nos fará bons porque nos ama.
Eu não posso imaginar um homem realmente desfrutar de um livro e lê-lo apenas uma vez.
Ser cristão significa perdoar o indesculpável, porque Deus perdoou o indesculpável em você.
Nenhum livro realmente vale a pena ler na idade de dez anos que não valha igualmente – e muitas vezes muito mais – na idade de cinquenta anos.
Nós não estamos necessariamente duvidando de que Deus fará o melhor para nós; nós estamos perguntando quão doloroso o melhor será.
O homem não pode diminuir a glória de Deus, recusando-se a adorá-Lo, assim como um louco não pode apagar o sol rabiscando a palavra “escuridão” na parede de sua cela.
Desculpar o que pode realmente ter uma boa desculpa não é caridade cristã, é apenas justiça. Ser cristão significa perdoar o indesculpável, porque Deus perdoou o indesculpável em você.
O ateísmo acaba por ser muito simples. Se todo o universo não tem sentido, nunca devemos descobrir que ele não tem nenhum sentido…
Eu aprendi agora que, enquanto aqueles que falam acerca das suas misérias normalmente sofrem, aqueles que guardam silêncio sofrem mais.
Ele não morreu pelos homens, mas por cada homem. Se cada um dos homens tivesse sido o único homem criado, Ele não teria feito menos.
Eu estou tentando prevenir que continuem dizendo a bobagem que as pessoas dizem frequentemente sobre Ele: “Eu estou pronto para aceitar Jesus como um grande professor de moral, mas eu não aceito a sua afirmação de ser Deus”. Isso é uma coisa que não devemos dizer. Um homem que fosse somente um homem e dissesse o tipo de coisas que Jesus disse não seria um bom professor de moral. Ele ou seria um lunático – no mesmo nível de um homem que afirma ser um ovo mexido – ou então ele seria o Diabo do Inferno. Você tem que fazer sua escolha. Ou esse homem era e é o Filho de Deus, ou um maluco ou algo pior. Você pode tentar fazê-lo passar por um bobo, você pode cuspir nEle e matá-lo como um demônio; ou você pode cair aos Seus pés e chamá-lo de Senhor e Deus. Entretanto, devemos deixar de nos aproximar dEle falando essa bobagem de que Jesus era apenas um grande mestre. Ele nunca teve a intenção de nos dar esse tipo de escolha.
A dona de casa tem a carreira definitiva. Todas as outras carreiras existem para um único propósito – que consiste em apoiar a carreira definitiva.
Mesmo na literatura e na arte, nenhum homem que se importa com a originalidade vai ser original: quando você simplesmente tenta dizer a verdade (sem se importar quantas vezes tem sido dita antes), você vai, nove em cada dez vezes, tornar-se original sem nunca ter notado.
A dor mental é menos dramática do que a dor física, mas é mais comum e também mais difícil de suportar. A tentativa frequente de esconder a dor mental aumenta a sua carga: é mais fácil dizer “Meu dente está doendo” do que dizer “Meu coração está quebrado”.
“Se tudo o que entendemos por amor é a ânsia
de sermos amados, nossa condição é deplorável.”
Os quatro amores
Educação sem valores, por mais útil que seja, parece suficiente para tornar o homem um demônio mais inteligente.
A verdadeira humildade não é pensar menos de si mesmo, mas pensar menos em si mesmo.
O problema de tentar tornar-se mais estúpido do que você realmente é, é que você muitas vezes consegue.
Eu sei agora, Meu Senhor, por que não profere nenhuma resposta. Você é a resposta. Diante de seu rosto as perguntas desaparecem. Que outra resposta seria suficiente?
Um homem orgulhoso está sempre olhando de cima para as coisas e as pessoas; e, claro, quando você está olhando para baixo, não pode ver algo que está acima de você.
[Ter fé em Cristo] significa, é claro, tentar fazer tudo o que Ele diz. Não haveria sentido em dizer que você confia em uma pessoa se não aceita o seu conselho. Assim, se você realmente se entregou a Ele, você deve tentar obedecer-Lhe. Mas tentar de uma maneira nova, uma maneira menos preocupada. Não fazer estas coisas para ser salvo, mas porque Ele já começou a salvar você. Não esperar ir para o céu como recompensa por suas ações, mas, inevitavelmente, querer agir de uma determinada maneira porque um primeiro brilho do Céu já está dentro de você.
“Eu me aproximei do cristianismo em virtude do interesse e da reverência pela melhor imaginação pagã, e amei Balder antes de Cristo e Platão antes de Agostinho…”
Você nunca vai saber o quanto acredita em algo até que seja uma questão de vida ou morte.
Dentre todas as tiranias, uma tirania exercida pelo bem de suas vítimas pode ser a mais opressiva. Talvez seja melhor viver sob um ditador desonesto do que sob onipotentes cruzadores da moralidade. A crueldade do ditador desonesto às vezes pode se acomodar, em algum ponto sua cobiça pode ser saciada; mas aqueles que nos atormentam para o nosso próprio bem irão nos atormentar indefinidamente, pois eles assim o fazem com a aprovação de suas próprias consciências.
Todos os que estão no inferno, escolheram isso. Sem essa escolha não poderia haver Inferno. Nenhuma alma que seriamente e constantemente deseje a alegria, irá perdê-la. Aqueles que procuram, encontram.
A gratidão olha para trás, e o amor para o presente; a avareza, a lascívia e a ambição, para a frente.
Enquanto você for orgulhoso, não pode conhecer a Deus. Um homem orgulhoso está sempre olhando para baixo, para as coisas e as pessoas; e, é claro, enquanto está olhando para baixo, não pode ver algo que está acima de você.
Não existe investimento seguro. Amar é ser vulnerável. Ame qualquer coisa e seu coração irá certamente ser espremido e possivelmente partido. Se quiser ter a certeza de mantê-lo intacto, não deve dá-lo a ninguém, nem mesmo a um animal. Envolva-o cuidadosamente em passatempos e pequenos confortos, evite todos os envolvimentos, feche-o com segurança no esquife ou no caixão do seu egoísmo. Mas nesse esquife – seguro, sombrio, imóvel, sufocante – ele irá mudar. Não será quebrado, mas vai se tornar inquebrável, impenetrável, irredimível. […] O único lugar fora do céu onde você pode se manter perfeitamente seguro contra todos os perigos e perturbações do amor é o inferno.
“Ele nos amou, não porque somos amáveis, mas porque Ele é o amor.”
“Eu não sou bom porque amo a Deus, mas Deus me torna bom porque me ama.”
“Quanto mais santo o homem se torna, mais ele chora pela impureza que permanece nele.”
Tudo o que chamamos de a história humana – dinheiro, pobreza, ambição, guerra, prostituição, classes, impérios, escravidão – é a longa e terrível história do homem tentando descobrir algo além de Deus que o faça feliz.
“Quando um homem se torna melhor, compreende cada vez mais claramente o mal que ainda existe em si. Quando um homem se torna pior, percebe cada vez menos a sua própria maldade”
“O Filho de Deus tornou-se homem, para possibilitar que os homens se tornem FILHOS DE DEUS.”
Dizem-nos que Cristo morreu por nós, que sua morte nos lavou de nossos pecados e que, morrendo, ele destruiu a própria morte. Essa é a fórmula. Esse é o cristianismo. É nisso que acreditamos.
Nós não seremos capazes de adorar a Deus nas ocasiões mais sublimes se não tivermos adquirido o hábito de adorá-lo nas mais simples.
“Nenhum homem sabe o quanto é mau, até se esforçar para ser bom. Só conhecemos a força do vento quando caminhamos contra ele, e não quando nos deixamos levar.”
“Cristo diz: Entregue-me tudo. Não quero um pouco do seu tempo, um pouco do seu dinheiro e um pouco do seu trabalho; eu quero você. Não vim para atormentar o seu “eu” natural, mas para matá-lo. Meias medidas são inúteis. Não quero podar um ramo aqui e outro ali, quero derrubar a árvore toda. Entregue todo o eu natural, todos os desejos que você considera inocentes, bem como aqueles que você considera maus – todo o aparato. Eu lhe darei em troca um novo eu. Na verdade, o que eu lhe darei é a mim mesmo; minha vontade se tornará a sua”.
“Tudo que não é eterno, é eternamente inútil”
Certamente você realizará o propósito de Deus, não importa como esteja agindo, mas faz diferença se você serve como Judas ou como João.
Se você está no caminho errado, voltar atrás significa progresso.
Entregue-se, pois assim você encontrará a si mesmo. Perca a sua vida para salvá-la. Submeta-se à morte, à morte cotidiana de suas ambições e dos seus maiores desejos e, no fim, à morte do seu corpo inteiro: submeta-se a ela com todas as fibras do seu ser, e você encontrará a vida eterna. Não guarde nada para si. Nada que você não deu chegará a ser verdadeiramente seu. Nada que não tiver morrido chegará a ser ressuscitado dos mortos. Se você buscar a si mesmo, no fim só encontrará o ódio, a solidão, o desespero, a fúria, a ruína e a podridão. Se buscar a Cristo, e encontrará; e, junto com ele, encontrará todas as coisas.
Quando perdemos uma benção, outra é muitas vezes dada de forma inesperada em seu lugar.
Quando os amores naturais se tornam algo sem lei, eles não apenas fazem mal aos outros amores; eles próprios cessam de ser os amores que um dia foram – cessam de ser amor.
“Cada um atribui ao autor que escolhe aquilo que acredita ser sabedoria. E quanto ao que se lhe afigura sê-lo será obviamente determinado pela bitola da sua própria inteligência. Se é um tolo, encontrará e admirará a tolice em todos os seus autores favoritos e, se é medíocre, a banalidade. Mas se ele próprio for um pensador profundo, o que ele saúda e expõe como filosofia do seu autor poderá perfeitamente ser digno de leitura, seja embora na realidade a sua própria filosofia. Podemos compará-lo à longa sucessão de teólogos que, a partir de uma certa deformação dos seus textos, criaram sermões edificantes e eloquentes. O sermão, embora mau como exegese, era frequentemente uma boa homilia por direito próprio”.
Sempre que estiver cansado da vida, comece a escrever: A tinta é a grande cura para todos os males humanos, conforme descobri muito tempo atrás.
“… É claro que Deus sabia o que poderia acontecer se a liberdade fosse usada de forma errada. Aparentemente, ele achou que valia a pena correr o risco. Talvez queiramos discordar dele. Existe, porém, um empecilho para se discordar de Deus. Ele é a fonte da qual vem toda a nossa faculdade de raciocínio: não podemos estar certos e ele, errado, assim como uma onda não pode mudar o sentido da maré. Quando discutimos com ele, estamos na verdade discutindo contra o próprio poder que nos tornou capazes de discutir: é como se cortássemos o galho no qual estamos sentados. Se Deus pensa que o estado de guerra no universo é um preço justo a pagar pelo livre -arbítrio – ou seja, pela criação de um mundo vivaz no qual as criaturas podem fazer tanto um grande bem quanto um grande mal, no qual acontecem coisas realmente importantes, em vez de um mundo de marionetes que só se movem quando ele puxa as cordinhas -, devemos igualmente consentir que o preço é justo…”
– Cristianismo Puro e Simples
Não use palavras grandes demais para o assunto em questão. Não diga “infinitamente” quando você quer dizer “muito”; caso contrário, você não terá nenhuma palavra adequada quando quiser falar sobre algo realmente infinito.
Se o sistema solar veio a existir devido a uma colisão acidental, então, o aparecimento da vida orgânica neste planeta também foi acidental, e toda a evolução do homem foi acidental também. Se este é o caso, todos os nossos pensamentos presentes são meros acidentes – acidentes criados pelo movimento dos átomos. E isto é válido tanto para os pensamentos dos materialistas e astrônomos como para qualquer outra pessoa. Mas, se os seus pensamentos – isto é, do materialista e do astrônomo – são meramente produtos acidentais, por que deveríamos crer que eles são verdadeiros? Eu não vejo razão para crer que um acidente possa dar explicação correta do porquê de todos os demais acidentes.
Um prazer atinge sua plenitude somente quando é relembrado. Você fala como se o prazer fosse uma coisa, e a lembrança, outra. Tudo é uma coisa só. O que você chama de lembrança é a última parte do prazer, como os últimos versos são as últimas partes do poema. Quando você e eu nos conhecermos, o encontro terminou bem rápido: não foi nada. Agora, ele está crescendo à medida que nos lembramos dele. Mesmo assim, sabemos muito pouco a respeito dele. O que ele vier a ser quando eu me lembrar dele na hora da minha morte, o que ele operar em mim em todos os meus dias até aquela hora… esse é o verdadeiro encontro. O outro é só o início. Você diz que há poetas no seu mundo. Eles não lhes ensinam isso?
O verso mais esplêndido atinge seu completo esplendor somente por intermédio de todos os versos que o acompanham. Se você voltasse a ele, haveria de considerá-lo menos esplêndido do que imaginava. Você o mataria.
Essa tentação de repetir coisas, como se a vida fosse um filme que pudesse ser desenrolado mais de uma vez ou mesmo que pudesse retroceder… será que essa não era possivelmente a raiz de todo o mal? Não: é claro que o amor ao dinheiro era chamado desse modo. Mas o dinheiro em si — talvez ele fosse valorizado principalmente como uma defesa contra o acaso, uma segurança para ser capaz de ter coisas novamente, um meio para deter o desenrolar do filme.
Acompanhar a partida de alguém é sempre tolice. Não dá nem uma boa alegria nem uma boa tristeza.
Não há como escapar. Se fosse uma rejeição virginal ao macho, ele aceitaria. Há criaturas que conseguem se desviar do macho e avançar para encontrar algo muito mais masculino, mais à frente, diante do qual precisarão se render de modo ainda mais profundo.
Mas seu problema tem sido o orgulho. Você se sente ofendida pelo masculino em si: a coisa possessiva, invasora, ruidosa… o leão de ouro, o touro barbudo… que arrebenta sebes e destroça seu pequeno reino metódico. Ao macho você poderia ter escapado, pois ele existe somente no nível biológico. Mas ao masculino nenhum de nós pode escapar. O que está acima e para além de todas as coisas é tão masculino que todos nós somos femininos em comparação.
Eu não tenho nenhuma opinião a respeito de nenhum assunto neste mundo. Eu narro os fatos e indicio as implicações. Se todos nos permitíssemos menos opiniões, haveria menos tolice falada e impressa neste mundo.
É o leitor instruído que pode ser engambelado. Toda a nossa dificuldade vêm com os outros. Quando você conheceu um operário que acredita nos jornais? Ele parte do pressuposto de que todos eles são propaganda política e passa direto pelos artigos principais. Ele compra o jornal para ver os resultados do futebol e os pequenos parágrafos sobre garotas que caem de janelas e cadáveres encontrados em apartamentos. Ele é nosso problema. Precisamos refazer seu condicionamento. Mas o público instruído, as pessoas que leem as revistas semanais de elite, não precisa novo condicionamento. Estes já estão como têm de ser. Acreditam em qualquer coisa.
Todo verdadeiro poder sempre é apolítico.
É óbvio que, para Deus, o nascimento humano é importante principalmente como qualificação para a morte humana, e a morte é importante apenas como a porta de passagem para outro tipo de vida.
A reivindicação de igualdade, fora do campo estritamente político, é feita apenas por aqueles que acham que eles mesmos são inferiores de alguma maneira.
A fina flor da profanação só pode crescer se for plantada perto do sagrado.
Algumas das maiores misericórdias de Deus na minha vida foram os seus “Nãos”.
A beleza não é democrática. Ela se mostra mais para poucos, não para muitos, mais para os que a buscam com persistência e disciplina do que para os despreocupados.
“Nenhum livro vale a pena ser lido aos dez anos de idade, que também não valha a pena ser lido aos cinquenta. Os únicos trabalhos imaginativos que devemos esquecer são aqueles que teria sido melhor não termos lido”.
Quando amadurecemos, a lista de desejos para o Natal fica mais curta, e o que realmente desejamos, não é possível comprar.
Vivemos, de fato, em um mundo carente de solidão, silêncio e privacidade, e, portanto, carente de meditação e amizade verdadeira.
“A verdadeira humildade dispensa a modéstia.”
ɑmɑr é sempre ser vulnerɑvel. ɑme quɑlquer coisɑ e certɑmente seu corɑçɑo vɑi doer e tɑlvez se pɑrtir. Se quiser ter ɑ certezɑ de mɑntê-lo intɑcto, você nɑo deve entregɑ-lo ɑ ninguém, nem mesmo ɑ um ɑnimɑl. Envolvɑ o cuidɑdosɑmente em seus hobbies e pequenos luxos, evite quɑlquer envolvimento, guɑrde-o nɑ segurɑnçɑ do esquife de seu egoísmo. Mɑs nesse esquife – seguro, sem movimento, sem ɑr – ele vɑi mudɑr. Ele nɑo vɑi se pɑrtir – vɑi tornɑr se indestrutível, impenetrɑvel, irredimível. ɑ ɑlternɑtivɑ ɑ umɑ trɑgédiɑ ou pelo menos ɑo risco de umɑ trɑgédiɑ é ɑ condenɑçɑo. O único lugɑr ɑlém do céu onde se pode estɑr perfeitɑmente ɑ sɑlvo de todos os riscos e perturbɑções do ɑmor é o inferno.
Necessito de Cristo, não de algo que se pareça com Ele.
Agora, finalmente, estavam começando o Capítulo Um da Grande História que ninguém na terra jamais leu: a história que continua eternamente e na qual cada capítulo é muito melhor do que o anterior.
Nárnia — A Última Batalha
Deveria haver coisas que desejaríamos fazer e não podemos porque nosso gasto com a caridade as impossibilita
Desde que os cristãos deixaram de pensar amplamente no mundo vindouro, tornaram-se ineficazes neste mundo. Aspire ao Céu, e terá a Terra de “lambuja”; aspire a Terra, e não terá nenhum dos dois
Este mundo é uma grande loja de esculturas, nós somos as estátuas e há rumores por aí de que alguns de nós, algum dia, despertaremos para vida
Temos que ser continuamente lembrados daquilo em que acreditamos
Uma das coisas que eros [amor] faz é apagar a distinção entre dar e receber. Quem contabiliza crédito e débito não ama.
Os únicos que não têm cicatrizes são aqueles que decidiram não combater.
Há dois erros iguais e opostos no que diz respeito à matéria Demônios: Uma é desacreditar em sua existência. A outra é acreditar e sentir um excessivo e doentio interesse neles.
Compreendemos a natureza da embriaguez quando estamos sóbrios, não quando bêbados. As pessoas boas conhecem tanto o bem quanto o mal; as pessoas más não conhecem nenhum dos dois.
Eu sou democrata porque acredito que nenhum homem ou grupo de homens é bom o suficiente para lhe ser confiado poder absoluto sobre os outros. E, quanto mais altas as pretensões de tal poder, mais perigoso eu o considero, tanto para os governantes quanto para súditos.
“Deus não detesta menos os intelectualmente preguiçosos do que qualquer outro tipo de preguiçoso. Se você está pensando em se tornar cristão, eu lhe aviso que estará embarcando em algo que vai ocupar toda a sua pessoa, inclusive o cérebro.”
“Se você está pensando em se tornar cristão, eu lhe aviso que estará embarcando em algo que vai ocupar toda a sua pessoa,
inclusive o cérebro.”
O cristão não é uma pessoa que jamais erra, e sim, alguém capacitado a se arrepender, reerguer-se e começar de novo depois de cada queda.
O amor faz coisas que a obrigação não é capaz de fazer.
Se a bíblia fosse apenas conforto, seria comparada a um travesseiro e não a uma espada.
Todos os que estão no inferno estão lá porque o escolheram.
Por que Deus deu então o livre-arbítrio? Porque o livre-arbítrio, apesar de tornar o mal possível, é também à única coisa que faz com que todo amor, bondade ou alegria valham a pena. Um mundo de autômatos, de criaturas que trabalhassem como máquinas, não valeria a pena ser criado.
Você nunca tem consciência do quanto de fato acredita em alguma coisa enquanto a verdade ou a falsidade dessa coisa não se torna uma questão de vida ou morte para você.
”Apenas um perigo verdadeiro põe à prova a realidade de uma crença.”
Sei que o que eu desejo é precisamente o que eu jamais poderei obter. A antiga vida, as piadas, os drinques, as discussões, fazer amor, os pequenos lugares-comuns, de partir o coração. […] Faz parte do passado. E o passado é o passado; isso é o que significa o tempo; ele em si é mais um nome para a morte […].
Para que o amor seja uma bênção, e não uma dor, ele deve se dirigir ao único Amado que nunca morrerá.
É claro que é diferente quando as coisas acontecem conosco, não com os outros, e na realidade, não na imaginação. […] Se meu castelo ruiu com uma tacada, é porque era um castelo de cartas. A fé que ‘levou essas coisas em consideração’ não era fé, mas imaginação.
“Se houvesse realmente me preocupado, como achei que havia, com as tristezas do mundo, não deveria estar tão assoberbado quando minha própria tristeza chegou.
Sua aposta – Deus ou nenhum Deus, um bom Deus ou o Sádico Cósmico, a vida eterna ou a não entidade – não vai ser levada a sério se nela nada de valor estiver em jogo.
”Independentemente do que os rolos digam, o corpo é capaz de padecer vinte vezes mais do que a mente. […] No pior dos casos, só o que o pensamento insuportável pode fazer é ficar voltando, mas a dor física pode ser absolutamente contínua.”
Quanto mais acreditamos que Deus fere apenas para curar, menos nos é dado crer que haja alguma utilidade em suplicar por ternura.
Não é possível ver nada de maneira adequada enquanto os olhos estiverem embaçados de lágrimas. Você não pode, na maioria das situações, conseguir o que deseja se o fizer desesperadamente: o resultado é que não conseguirá aproveitá-lo ao máximo.
Devemos deixar que Deus cuide da ferida e parar de espiar por baixo do curativo.
Aqueles que não refletem sobre seus próprios pecados, acabam pensando sem cessar sobre os pecados dos outros.
A menos que eu creia em Deus, não posso crer no pensamento: então eu nunca posso usar o pensamento para descrer em Deus.
Se Deus tivesse atendido todas as orações tolas que eu fiz na minha vida, onde eu estaria agora?
De todos os homens maus, os maus e religiosos são os piores.
Não oro para que Deus faça a minha vontade, mas para que eu me adeque a Dele.
Nunca se esqueça de onde Deus te tirou, principalmente quando olhar para os erros de alguém.
Os maiores males do mundo não serão realizados por homens armados, mas por homens de terno sentados atrás de mesas.
Amar é ser vulnerável.
Ame qualquer coisa e seu coração será torcido e possivelmente quebrado. Se você quiser mantê-lo intacto, você não deve dar seu coração para ninguém. Nem mesmo para um animal. (…) Mas lembre-se: só existe um lugar onde o coração está a salvo dos perigos do amor: o inferno.
Nada menos demoverá um homem – ou pelo menos um homem como eu – de seu pensamento meramente verbal e de suas crenças meramente nocionais. Ele tem de ser nocauteado antes de cair em si. Apenas a tortura revelará a verdade. Somente sob tortura ele mesmo a descobre.
Quando a dor deve ser suportada, um pouco de coragem ajuda mais do que muito conhecimento, e um pouco de simpatia humana, mais do que muita coragem, e o ínfimo traço do amor de Deus, mais do que tudo.
Por outro lado, nós de fato desejamos, e desejamos ardentemente, fazer com que as pessoas tratem o cristianismo como um meio; preferencialmente, é claro, como um meio para o seu próprio benefício, mas, se isso falhar, como meio para qualquer outro fim – até mesmo para a justiça social.
Não há serventia nenhuma em tentar “enxergar o que está por trás” dos primeiros princípios. Se você perscrutasse tudo, então tudo seria transparente, mas um mundo totalmente transparente é um mundo invisível. “Perscrutar” todas as coisas é o mesmo que não enxergar nada.
A coragem não é simplesmente uma das virtudes, mas a forma que cada virtude assume quando está sendo testada, ou seja, no ponto da mais alta realidade. A castidade, a honestidade ou a misericórdia que se entrega ao perigo será casta, honesta ou misericordiosa apenas sob certas condições. Pilatos foi misericordioso até que isso se tornou arriscado.
Dois bicudos não se beijam.
Os milagres são uma narração em letras miúdas da mesma história que está escrita por todo o mundo em letras grandes demais para que alguns de nós leiam.
O orgulho não se satisfaz em ter uma coisa, mas em tê-la em quantidade maior do que os outros. Dizemos que as pessoas se orgulham de ser ricas, espertas ou bonitas, mas isso não é verdade. Elas têm orgulho de ser mais ricas, mais espertas ou mais bonitas que os outros. Se todos fossem igualmente ricos, ou inteligentes, ou bonitos, não existiria motivo de orgulho.
Deus vê o caráter de todos; eu vejo o de todos, exceto o meu.
E dessa tentativa desesperada veio praticamente tudo o que chamamos de história humana – dinheiro, pobreza, ambição, guerra, prostituição, classes, impérios, escravidão –, a longa e terrível história do homem tentando encontrar felicidade em algo diferente de Deus.
Ao ler a grande literatura, eu me torno mil homens e, mesmo assim, continuo a ser eu mesmo.
Ateus expressam sua raiva contra Deus, embora, na opinião deles, Ele não exista.
Teologia Arminiana
C. S. Lewis refutando os cessacionistas:
Se admitirmos a existência de Deus, não devemos também admitir a existência de milagres? Na verdade, na verdade, ninguém está totalmente seguro contra eles. Aí está a proposta […] A teologia diz para você, objetivamente: “Admita a existência de Deus e com Ele o risco de aceitar alguns milagres também, e, em troca disso, ratificarei a sua fé em uniformidade, com relação à maioria esmagadora dos eventos”.
(Lewis, M, 109)
Teologia Arminiana
C. S. Lewis refutando os cessacionistas novamente:
Agora, obviamente precisamos concordar com Hume que se existir a alegada “experimentação uniforme” consistente contra os milagres, ou, em outras palavras, se estes jamais ocorreram, por que será, então, que eles jamais ocorreram? Infelizmente, somente saberemos que a experimentação contra eles é uniforme se tivermos a certeza de que todos os relatos a respeito deles são falsos. E somente podemos saber se todos os relatos sobre milagres são falsos se tivermos a certeza de que os milagres jamais ocorreram. Na verdade, estamos andando em círculos (Lewis, M, 105).
Teologia Arminiana
Deus não quer nada de você, Deus quer você!
Teologia Arminiana
”Deus não quer algo de nós. Ele simplesmente nos quer”.
É por isso que as decisões que você e eu tomamos todos os dias têm uma enorme importância. Um pequeno ato de bondade feito hoje representa a conquista de um ponto estratégico. de onde você poderá, mais tarde,obter vitórias com que nunca sonhou.Já uma indulgência aparentemente trivial que satisfaça desejos ou raivas pode significar a perda de uma posição crucial, de onde o inimigo pode desfechar um ataque que de outra forma seria impossível.
Cada vez que você faz uma opção está transformando sua essência em alguma coisa um pouco diferente do que era antes.
O problema real da vida cristã aparece onde as pessoas normalmente não o procuram. Ele aparece no instante em que você acorda cada manhã. Todos os desejos e esperanças para o dia correm para você como animais selvagens. E a primeira tarefa de cada manhã consiste simplesmente em empurra-los todos para traz; em dar ouvidos a outra voz, tomando aquele outro ponto de vista, deixando aquela outra vida mais ampla, mais forte e mais calma entrar como uma brisa. E assim por diante, todos os dias. Mantendo distância de todas as inquietações e de todos os aborrecimentos naturais, protegendo-se do vento.
No começo, somos capazes de faze-lo somente por alguns momentos. Mas então o novo tipo de vida estará se propagando por todo o nosso ser, porque então estamos deixando Cristo trabalhar em nós no lugar certo. Trata-se da diferença entre a tinta, que está simplesmente deitada sobre a superfície, e uma mancha que penetra naquela superfície.
Quando Cristo disse “sede perfeitos”, quis dizer isso mesmo. Ele quis dizer que temos que entrar no tratamento completo. Pode ser duro para um ovo se transformar em um pássaro; seria uma visão deveras divertida, e muito mais difícil, tentar voar enquanto ainda se é um ovo. Hoje nós somos como ovos. Mas você não pode se contentar em ser um ovo comum, ainda que decente. Ou sua casca se rompe ou você apodrecerá.
Cristianismo Puros e Simples
Amar é sempre ser vulnerável. Ame qualquer coisa e certamente seu coração vai doer e talvez se partir. Se quiser ter a certeza de mantê-lo intacto, você não deve entregá-lo a ninguém, nem mesmo a um animal. Envolva o cuidadosamente em seus hobbies e pequenos luxos, evite qualquer envolvimento, guarde-o na segurança do esquife de seu egoísmo. Mas nesse esquife – seguro, sem movimento, sem ar – ele vai mudar. Ele não vai se partir – vai tornar se indestrutível, impenetrável, irredimível. A alternativa a uma tragédia ou pelo menos ao risco de uma tragédia é a condenação. O único lugar além do céu onde se pode estar perfeitamente a salvo de todos os riscos e perturbações do amor é o inferno.
[Em “Os quatro amores”]
O bem, quando amadurece, se mostra cada vez mais diferente, não só do mal, mas de qualquer outro bem.
O mal pode ser desfeito, mas não pode “transformar-se” em bem.
Quando se trata de conhecer a Deus, toda a iniciativa depende dEle. Se Ele não se quiser revelar, nada do que façamos nos permitirá encontrá-lo.
Como conhecer a Deus
É como a luz do sol que, embora não tenha favoritos, não pode refletir-se num espelho coberto de pó com a mesma luminosidade com que se reflete num espelho limpo.
A quem Deus se revela
E a verdade é que Ele revela muito mais sobre si mesmo a determinadas pessoas do que a outras, não porque tenha os seus “favoritos”, mas porque lhe é impossível mostrar-se a alguém cuja mente e caráter lhe sejam inteiramente adversos.
Como podemos ver Deus
Deus só pode mostra-se como realmente é a homens reais. E isto significa não apenas a homens que sejam individualmente bons, mas a homens reunidos num só corpo, que se amem uns aos outros, que se ajudem uns aos outros e mostrem Deus uns aos outros.
Um corpo perfeito
Porque era assim que a humanidade devia ser de acordo com o plano divino: como os músicos de uma única orquestra, como os órgãos de um único corpo.
Descende de Adão e Eva – tornou Aslam. – É honra suficientemente grande para que o mendigo mais miserável possa andar de cabeça erguida, e também vergonha suficientemente grande para fazer vergar os ombros do maior imperador da Terra. Dê-se assim por satisfeito.
Se você está à procura de uma religião que o deixe confortável, definitivamente eu não lhe aconselharia o cristianismo.
Uma pessoa vai à floresta colher alimentos e já a idéia de um fruto em vez de outro se formou no seu espírito. Depois, pode ser que se encontre um fruto diferente e não aquele em que se pensou. Esperava-se uma alegria e recebeu-se outra. Mas nunca tinha antes dado por isso… que no próprio momento do achado há no espírito uma espécie de idéia de afastamento, de pôr de lado. A imagem do fruto que não achamos continua a estar, por um momento, diante dos nossos olhos. E se desejássemos… se fosse possível desejar… podia lá continuar. Podíamos recusar o bem real; podíamos fazer com que o fruto real fosse insípido, à força de pensar no outro.
[Eu] Pensava que nós seguíamos caminhos já feitos, mas parece que não os há. O nosso ir faz o caminho.
O homem se aproxima mais de Deus quando, em certo sentido se assemelha menos a Deus. Pois que diferença pode ser maior do que aquela que existe entre plenitude e necessidade, soberania e humildade, justiça e penitencia, poder ilimitado e pedido de ajuda?
( Os quatro tipos de amor, pag.7)
A Amizade é desnecessária – como a filosofia, como a arte, como o próprio universo (pois Deus não precisava criar). Ela não tem valor de sobrevivência; ela é, antes, uma das coisas que dão valor à sobrevivência.
Deus sussurra a nós na saúde e prosperidade, mas, sendo maus ouvintes, deixamos de ouvir a voz de Deus. Então Ele gira o botão do amplificador por meio do sofrimento. Aí então ouvimos o ribombar de Sua voz.
[Eu] Pensava que nós seguíamos caminhos já feitos, mas parece que não os há. O nosso ir faz o caminho.
Deus sussurra em nossos ouvidos por meio de nosso prazer, fala-nos mediante nossa consciência, mas clama em alta voz por intermédio de nossa dor; este é seu megafone para despertar o homem surdo.
A vida cristã é diferente, mais difícil e mais fácil. Cristo diz: “Dê-me tudo. Eu não quero um tanto do seu tempo, tanto do seu dinheiro, tanto do seu trabalho. Quero você. Eu não vim para atormentar o seu ego natural, mas para matá-lo. Meias medidas não trazem nenhum bem.
Eu não quero podar um galho aqui e outro ali, mas quero derrubar a árvore inteira. Entregue todo o seu ego natural, todos os desejos que você julga inocentes, bem como os que você julga iníquos – todo o seu ser.
Eu lhe darei um novo eu. Na verdade eu lhe darei o meu próprio eu; a minha vontade se tornará a sua vontade”.
O cristianismo, se for falso, não tem valor; se for verdadeiro, tem valor infinito. A única coisa que lhe é impossível é ser “mais ou menos” importante.
O carinho é responsável por nove-décimos de qualquer felicidade sólida e durável existente em nossas vidas.
Mera mudança não é crescimento. Crescimento é a síntese de mudança e continuidade, e onde não há continuidade não há crescimento.
Eu acredito no Cristianismo como acredito que o sol nasce todo dia. Não apenas porque o vejo, mas porque através dele eu vejo tudo ao meu redor.
Existem coisas melhores adiante do que qualquer outra que deixamos para trás.
O perdão vai além da justiça humana; é perdoar aquelas coisas que absolutamente não podem ser perdoadas.