A justiça sem a força é impotente, a força sem justiça é tirana.
O homem está sempre disposto a negar tudo aquilo que não compreende.
A verdadeira moral não se preocupa com a moral: quer isto dizer que a moral do juízo não se importa nada com a moral do espírito – que não tem regras.
A imaginação tem todos os poderes: ela faz a beleza, a justiça, e a felicidade, que são os maiores poderes do mundo.
A razão manda em nós muito mais imperiosamente do que um senhor; é que, desobedecendo a um, é-se infeliz, desobedecendo a outro, é-se tolo.
Nunca se ama alguém mas somente as qualidades.
Agrada-nos repousar em sociedade com os nossos semelhantes: miseráveis como nós, impotentes como nós, eles não nos ajudarão; morreremos sozinhos.
A grandeza do homem está em ele se reconhecer como miserável. Uma árvore não se dá conta da sua miséria.
O prazer dos grandes homens consiste em poder tornar os outros felizes.
Quando considero a duração mínima da minha vida, absorvida pela eternidade precedente e seguinte, o espaço diminuto que ocupo, e mesmo o que vejo, abismado na infinita imensidade dos espaços que ignoro e me ignoram, assusto-me e assombro-me de me ver aqui e não lá. Quem me pôs aqui? Por ordem de quem me foram destinados este lugar e este espaço?
Uma vez que não podemos ser universais e saber tudo quanto se pode saber acerca de tudo, é preciso saber-se um pouco de tudo, pois é muito melhor saber-se alguma coisa de tudo do que saber-se tudo apenas de uma coisa.
O homem não é nem anjo nem animal, e a infelicidade exige que quem pretende fazer de anjo faça de besta.
Deixemos um rei sozinho, sem nenhuma satisfação dos sentidos, sem nenhuma preocupação do espírito, sem companhia, a pensar apenas em si mesmo; e ver-se-á que um rei sem divertimentos é um homem muito desgraçado.
Poucas amizades subsistiriam se cada um soubesse aquilo que o amigo diz de si nas suas costas.
O que é o homem na natureza? Um nada em relação ao infinito, um tudo em relação ao nada, um ponto a meio entre nada e tudo.
Todos os homens, sem excepção, procuram ser felizes. Embora por meios diferentes, tendem todos para este fim.
A própria moda e os países determinam aquilo a que se chama beleza.
Nada há de bom nesta vida salvo a esperança de uma outra vida.
O homem é feito visivelmente para pensar; é toda a sua dignidade e todo o seu mérito; e todo o seu dever é pensar bem.
Ao ver um estilo natural, ficamos surpreendidos e encantados, pois esperávamos ver um autor, e encontramos um homem.
A opinião é a rainha do mundo.
Desejais que vos tenham em boa conta? Nada de o dizer!
A natureza tem perfeições que mostram que é a imagem de Deus, e defeitos que mostram que é apenas a imagem.
Corremos alegres para o precipício, quando pomos pela frente algo que nos impeça de o ver.
O último esforço da razão é reconhecer que existe uma infinidade de coisas que a ultrapassam.
Numa grande alma, tudo é grande.
Esta covardia mole e tímida que não deixa nem ver, nem seguir a verdade.
É falso que sejamos dignos de que os outros nos amem. E é injusto que o queiramos.
É indispensável conhecermo-nos a nós próprios; mesmo se isso não bastasse para encontrarmos a verdade, seria útil, ao menos para regularmos a vida, e nada há de mais justo.
Quando descobrimos um estilo natural, ficamos espantados e satisfeitos, pois esperávamos um autor e encontramos um ser humano.
Posso nunca ter sido (…), por conseguinte não sou um ser necessário.
Não sendo possível fazer-se com que aquilo que é justo seja forte, faz-se com que o que é forte seja justo.
Condição do homem: inconstância, tédio, inquietação.
Quando a paixão nos domina esquecemos o dever.
O coração tem razões que a própria razão desconhece.
Uma indiferença pacífica é a mais sábia das virtudes.
Quando estamos de boa saúde, admiramo-nos de como seria possível estarmos doentes; quando isso acontece, medicamo-nos alegremente.
O hábito é uma segunda natureza que anula a primeira.
Apenas acredito nas histórias cujas testemunhas estivessem dispostas a deixar-se degolar.
Somos tão presunçosos que desejaríamos ser conhecidos em todo o mundo… E tão vaidosos que a estima de cinco ou seis pessoas que nos rodeiam nos alegra e nos satisfaz.
A coisa mais importante para toda a vida é a escolha da profissão: quanto a isso, só o acaso dispõe.
Todas as boas máximas se encontram no mundo: só falhamos ao aplicá-las.
O amor é cego, a amizade fecha os olhos.
Duas coisas instruem o homem, qualquer que seja a sua natureza: o instinto e a experiência.
Todas as ocupações dos homens tendem à posse de alguma coisa; e eles não têm nem título para a possuir justamente nem força para a possuir com segurança.
A natureza detesta o vazio.
Eloquência positiva é aquele que persuade com doçura, não com violência, ou seja, como um rei, não como um tirano.
Pensar faz a grandeza do homem.
O homem nasceu para o prazer: ele sente-o e não precisa de mais provas. Ele segue assim a razão, entregando-se ao prazer.
A razão, por mais que grite, não pode negar que a imaginação estabeleceu no homem uma segunda natureza.
Corremos sem preocupação para um precipício, após termos posto uma venda para o não poder ver.
Os olhos são os intérpretes do coração, mas só os interessados entendem essa linguagem.
A nossa dignidade consiste no pensamento. Procuremos pois pensar bem. Nisto reside o princípio da moral.
Há duas espécies de homens: uns, justos, que se consideram pecadores, e os pecadores que se consideram justos.
O amor não tem idade; está sempre a nascer.
Fazer troça da filosofia, é, na verdade, filosofar.
Pesemos o lucro e a perda tomando por coroa (no jogo de cara ou coroa) que Deus existe. Avaliemos estes dois casos: se vencerdes, ganhais tudo; se perderdes, não perdeis nada. Apostai, portanto, que ele existe, sem hesitar.
Dois excessos: excluir a razão, admitir apenas a razão.
Se o nariz de Cleópatra tivesse sido mais pequeno, toda a face da Terra teria mudado.
À medida que vamos tendo mais espírito, achamos que há mais homens originais. As pessoas vulgares não fazem distinções entre os homens.
Normalmente, convencem-nos com mais facilidade as razões que nós próprios encontramos do que as que vieram ao espírito dos outros.
À força de falarmos de amor, apaixonamo-nos.
A nossa natureza consiste em movimento; o repouso completo é a morte.
As paixões, quando mandam em nós, são vícios.
A arte de persuadir consiste tanto mais em agradar do que em convencer, quanto os homens se guiam mais pelo capricho do que pela razão.
Para mim é um fato que, se todos os homens soubessem o que os outros dizem deles, não haveria quatro amigos no mundo. Isto resulta das contendas, que referências indiscretas ocasionalmente originam.
É o coração que sente Deus e não a razão.
Em matéria de amor, o silêncio vale mais do que a fala.
Não há nada de justo ou de injusto que não mude de qualidade ao mudar de clima.
Nem a contradição é sinal de falsidade nem a falta de contradição é sinal de verdade.
As alegrias passageiras encobrem os males eternos que elas próprias causam.
O silêncio é o maior dos martírios; nunca os santos se calaram.
Quando se vê o estilo natural (do escritor), é-se assombrado e arrebatado, pois esperava-se ver um autor e encontra-se um homem.
É uma doença natural no homem acreditar que possui a verdade.
A moral é a ciência por excelência; é a arte de ser feliz.
A consciência é o melhor livro de moral e o que menos se consulta.
Aquele que sem autoridade mata um criminoso, torna-se tão criminoso como este.
Não podendo fazer que se fosse obrigado a obedecer à justiça, fizeram que fosse justo obedecer à força.
O aumento do conhecimento é como uma esfera dilatando-se no espaço: quanto maior a nossa compreensão, maior o nosso contato com o desconhecido.
Tudo o que é incompreensível, nem por isso deixa de existir.
A grandeza de uma pessoa está em saber reconhecer sua própria pequenez.
Aquele que duvida e não investiga torna-se não só infeliz mas também injusto.
O afeto ou o ódio mudam a face da justiça.
Quando penso na pequena duração da minha vida, absorvida na eternidade anterior, no pequeno espaço que ocupa, fundido na imensidade dos espaços que ignora e que me ignoram, aterro-me e me assombro de ver-me aqui e não alhures, pois não há razão alguma para que esteja aqui e não alhures, agora e não em outro qualquer momento. Quem me colocou nessas condições? Por ordem e obra e necessidade de quem me foram designados esse lugar e esse momento? Memoria hospitis unius diei praetereuntis. (A lembrança de hóspede de um dia que passa. Sabedoria, V, 15.)
Ante a cegueira e a miséria do homem, diante do universo mudo, do homem sem luz, abandonado a si mesmo e como que perdido nesse rincão do universo, sem consciência de quem o colocou aí, nem do que veio fazer, nem do que lhe acontecerá depois da morte, ante o homem incapaz de qualquer conhecimento, invade-me o terror e sinto-me como alguém que levassem, durante o sono, para uma ilha deserta, e espantosa, e aí despertasse ignorante de seu paradeiro e impossibilitado de evadir-se. E maravilho-me de que não se desespere alguém ante tão miserável estado. Vejo outras pessoas ao meu lado, aparentemente iguais; pergunto-lhes se se acham mais instruídas que eu, e me respondem pela negativa; no entanto, esses miseráveis extraviados se apegam aos prazeres que encontram em torno de si. Quanto a mim, não consigo afeiçoar-me a tais objetos e, considerando que no que vejo há mais aparência do que outra coisa, procuro descobrir se Deus não deixou algum sinal próprio.
O silêncio eterno desses espaços infinitos me apavora. Quantos reinos nos ignoram!
Por que são limitados meu conhecimento, minha estatura, a duração de minha vida a cem anos e não a mil? Que motivos levaram a natureza a fazer-me assim, a escolher esse número em lugar de outro qualquer, desde que na infinidade dos números não há razões para tal preferência, nem nada que seja preferível a nada?
Quase que invariavelmente as pessoas formam suas crenças não baseadas nas provas, mas naquilo que elas acham.
Temos uma impotência de provar, invencível a todo o dogmatismo; temos uma idéia da verdade, invencível a todo o pirronismo.
O ser humano é o mais fraco objeto do mundo, mas é um objeto que pensa.
O homem não é anjo, nem besta, mas quem quer ser anjo, acaba sendo besta.
Todos os homens buscam a felicidade. E não há exceção. Independentemente dos diversos meios que empregam, o fim é o mesmo. O que leva um homem a lançar-se à guerra e outros a evitá-la é o mesmo desejo, embora revestido de visões diferentes. O desejo só dá o último passo com este fim. É isto que motiva as ações de todos os homens, mesmo dos que tiram a própria vida.
Se você acredita em Deus e nas Escrituras e estiver certo, será beneficiado com a ida ao paraíso.
Se você acredita em Deus e nas Escrituras e estiver errado, não terá perdido nada.
Se você não acredita em Deus e nas Escrituras e estiver certo, não terá perdido nada.
Se você não acredita em Deus e nas Escrituras e estiver errado, você irá para o fogo eterno.
O egoísta odeia a solidão.
Com o tempo lembranças da nossa amizade serão apagadas das nossas memórias , mas lembranças da nossa felicidade sempre ficarão na história O passado e o presente são apenas meios , para nós , nosso fim é sempre o futuro. Por isso , nunca vivemos de verdade apenas esperamos viver…
A maior parte dos problemas do homem decorre de sua incapacidade de ficar calado.
O homem não é o único animal que pensa. Entretanto é o único que pensa que não é animal.
E assim é o ser humano: tão vazio que se preenche com qualquer coisa, por mais insignificante que seja.
Nós somos tão necessariamente loucos que seria estar louco por uma outra espécie de loucura, não estar louco.
A falsa humildade é puro orgulho.
Não é no espaço que devo procurar minha dignidade humana, mas na organização do meu pensamento. Não me fará bem possuir terras. Pelo espaço o Universo me agarra e me engole como uma partícula; pelo pensamento sou eu que o agarro.
A verdade se chega não só pela razão, mas também pelo coração!
Mais vale saber alguma coisa de tudo, que saber tudo de uma só coisa.
O melhor livro de moral é a nossa consciência. Temos que consultá-lo muito frequentemente.
Os homens jamais fazem o mal tão completamente e com tanta alegria como quando o fazem a partir de uma convicção religiosa.
Ninguém é tão ignorante que não tenha algo a ensinar. Ninguém é tão sábio que não tenha algo a aprender.
Ninguem é tão sábio que não tenha algo pra aprender e nem tão tolo que não tenha algo pra ensinar
O último ato é sangrento, por mais suave que seja a peça.
Os homens têm um instinto secreto, que os leva a procurar divertimentos e ocupações exteriores, nascido do ressentimento de suas contínuas misérias; e têm outro instinto secreto, resto da grandeza de nossa primeira natureza, que os faz conhecer que a felicidade só está, de fato, no repouso, e não no tumulto; e desses dois instintos contrários, forma-se neles um projeto confuso, que os leva a procurar o repouso pela agitação… E assim se passa toda a vida.
Há homens que passam a vida sem aborrecimento, jogando todos os dias alguma coisa, e que se julgariam infelizes, se lhes dessem todas as manhãs o dinheiro que pudesse ganhar a cada dia, com a condição de não jogar.
Dir-se-á talvez que é o divertimento do jogo que procuram e não o ganho.
Mas se o fizerem jogar de graça, não de apaixonam, e aborrecer-lhe-ão.
Não é então o divertimento que procuram: um divertimento frio e sem paixão aborrecê-los-á.
É preciso que se apaixonem, e que se excitem a si mesmos, imaginando que seriam felizes, se ganhassem o que não queriam que se lhes desse com a condição de não jogar; que formem um objeto de paixão que lhes excite o desejo, a cólera, o medo, a esperança.
Assim, os divertimentos que fazem a felicidade dos homens não são somente baixos: são ainda falsos e enganosos…
O que é, então, que este desejo e essa incapacidade nos proclamam, mas que houve uma vez no homem uma verdadeira felicidade da qual agora resta a ele apenas a marca e o traço vazio, que ele em vão tenta preencher de todo o seu entorno, buscando de coisas ausentes a ajuda ele não obtém nas coisas presentes? Mas estes são todos inadequados, porque o infinito abismo só pode ser preenchido por um objeto infinito e imutável, isto é, somente pelo próprio Deus.
A ação obedece às “razões da Razão”, mas também às “razões do coração”.
A virtude de uma pessoa mede-se não por ações excepcionais, mas pelos hábitos cotidianos.
Quanto mais inteligente um homem é mais originalidade encontra nos outros. Os medíocres acham que todos são iguais.
O homem nada mais e que um caniço pensante.
Não tenho vergonha de mudar de ideia, porque não tenho vergonha de pensar.
Uma gota de amor é mais que um oceano de intelecto.
Deus tem dado provas suficientes para aqueles com uma mente aberta e coração aberto mas que são suficientemente vagos para não obrigar aqueles cujos corações estão fechados.
O pensamento faz a grandeza do homem
O homem não passa de um caniço, o mais fraco da natureza, mas é um caniço pensante. Não é preciso que o universo inteiro se arme para esmagá-lo: um vapor, uma gota de água, bastam para matá-lo. Mas, mesmo que o universo o esmagasse, o homem seria mais nobre do porque quem o mata, porque sabe que morre e a vantagem que o universo tem sobre ele; o universo desconhece tudo isso.
O silêncio eterno desses espaços infinitos me assusta.
Não me envergonho de mudar de opinião, porque não me envergonho de pensar.
Ninguém sabe tanto que não tenha o que aprender e
ninguém sabe tão pouco que não tenha o que ensinar…
A consciência é o melhor livro de moral que temos, e é certamente aquele que mais devemos consultar…
O rei está rodeado de pessoas que só pensam em diverti-lo e em impedi-lo de pensar em si mesmo. Porque, se pensa em si mesmo, é infeliz, por mais rei que seja.
Nunca se pratica o mal tão plena e tão alegremente como quando praticado por um falso princípio de consciência.
A persistência é a força geradora da vida dentro de nós;
a persistência é o combustível para as grandes realizações,
a persistência é a fé que nos faz acreditar no impossível,
a persistência é a coragem que nos faz enfrentar obstáculos que parecem maior do que nós,
persistência é garantia de vitória após combate;
Seja persistente, porque enquanto existir vida nada é impossível para aquele que persiste ignorando o impossível e acreditando em Deus.
Fora de Jesus Cristo não sabemos o que é nossa vida, nem nossa morte, nem Deus, nem nós mesmos.
A maior fraqueza do homem é poder tão pouco por aqueles que ama.
Há dois tipos de pessoas: as que têm medo de perder Deus e as que têm medo de encontrá-Lo.
A diversão é uma fuga de nós mesmos.
Se examinarmos nossos pensamentos, iremos encontrá-los sempre ocupados com o passado e o futuro.
O temor saudável provem da fé – o temor errôneo provem da dúvida.
Todas as fraquezas muito aparentes são forças.
Assim como não sei de onde venho, também não sei para onde vou Sei, apenas, que, ao sair deste mundo, cairei para sempre no nada ou nas mãos de um Deus irritado, sem saber em qual dessas duas situações deverei ficar eternamente. Eis a minha condição, cheia de miséria, de fraqueza, de obscuridade. Concluo, de tudo isso, que devo passar todos os dias da minha vida sem pensar em descobrir o que me deve acontecer. Talvez pudesse encontrar algum esclarecimento nas minhas dúvidas, mas não quero dar-me a esse trabalho, nem dar um passo nesse sentido. Tratando com desprezo os que com isso se preocupam, quero experimentar esse grande acontecimento sem previdência e sem temor, deixando-me passivamente conduzir à morte, na incerteza da eternidade da minha condição futura.
Nascemos injustos, porque cada um de nós se inclina para si mesmo, e essa inclinação para si mesmo é o começo de toda a desordem.
A infelicidade de um homem começa com a incapacidade de estar a sós, consigo mesmo, num quarto.
A imaginação, esta soberba potência, estabeleceu no Homem uma segunda natureza.
É mais fácil suportar a morte sem pensar nela do que suportar o pensamento da morte sem morrer.
Que os homens aprendam pelo menos qual a fé que rejeitam antes de rejeitá-la.
Tudo podemos com Aquele sem o qual não podemos nada.
Somos apenas mentira, duplicidade, contradição, e a nós próprios nos disfarçamos e ocultamos.
Palavras amáveis não custam nada e conseguem muito.
A curiosidade não passa de vaidade. Na maior parte das vezes, apenas queremos saber para falar disso.
Não é certo que tudo seja incerto.
As coisas pequenas nos consolam porque as coisas pequenas nos afligem.
O pensamento é a nossa dignidade. Tratemos, por conseguinte, de pensar bem, pois aí é que está o princípio da moral.
Nunca vivemos, mas esperamos viver; e, preparando-nos sempre para ser felizes, é inevitável que nunca o sejamos.
Pluralidade que não se reduz à unidade é confusão; unidade que não depende de pluralidade é tirania.
Quando queremos reprovar de forma útil, e mostrar ao outro que está errado, devemos observar que lado do problema ele considera, pois provavelmente tem razão daquele ponto de vista. Reconhecendo então que ele está certo, mas descobrindo-lhe ao mesmo tempo o outro lado da questão, agradamos-lhe e convencemo-lo, pois percebe que não estava errado, mas apenas deixara de ver todos os lados.
O bem e o mal crescem juntos neste mundo e são quase inseparáveis.
O homem é apenas um caniço, o mais fraco da natureza; mas é um caniço pensante. Não é preciso que o universo inteiro se arme para esmagá-lo: um vapor, uma gota de água, são suficientes para matá-lo. Mas, mesmo que o universo o esmagasse, o homem seria ainda mais nobre do que o que o mata, porque ele sabe que morre, e conhece a vantagem que o universo tem sobre ele; e disso o universo nada sabe. Toda a nossa dignidade consiste, pois, no pensamento. É a partir dele que nos devemos elevar e não do espaço e da duração, que não saberíamos ocupar.
É injusto que se apeguem a mim, embora o façam com prazer e voluntariamente. Eu iludiria aqueles em quem despertasse desejo, pois não sou o fim de ninguém e não tenho com o que satisfazê-los. Não estou eu pronto a morrer? E, assim, o objeto de apego dessas pessoas logo morrerá. Logo, quando não seria eu culpado por fazer crer numa falsidade, embora eu a adoçasse a acreditasse nela com prazer, e que ela me desse prazer, ainda assim sou culpado de me fazer amar. E, se atraio as pessoas para que se apeguem a mim, devo advertir aqueles que estariam prontos a consentir na mentira de que não devem acreditar, qualquer que seja a vantagem que daí me advenha.
A imaginação dispõe de tudo.
Quando considero a curta duração da minha vida, engolida pela eternidade que passou e passará antes e após o pequeno intervalo que preencho, ou que possa ver, engolfado pela imensidão infinita de espaços que me são inescrutáveis e que não me conhecem, tenho medo, e me surpreendo de estar aqui e não acolá, agora e não antes ou depois. Quem me pôs aqui? Quem deu a ordem e direção para que este espaço e este intervalo de tempo sejam ocupados por mim?
Ninguém é tão ignorante que não tenha algo a ensinar.
Se a vida é realmente sem sentido, como devemos lidar com ela?
A verdade está tão obscurecida nestes tempos e a mentira tão assentada, que, a menos que se ame a verdade, já não é possível reconhecê-la.
(…) A vida humana é apenas uma ilusão perpétua; o que fazemos é enganar-nos e iludir-nos mutuamente. Ninguém fala de nós na nossa presença como na nossa ausência. A união que existe entre os homens é fundada sobre este mútuo embuste; e poucas amizades subsistiriam se cada um soubesse o que o seu amigo diz dele quando não está presente, ainda que ele fale então sinceramente e sem paixão.
O homem é apenas disfarce, engano e hipocrisia em si mesmo e para com os outros. Não quer que lhe digam a verdade e evita dizê-la aos outros; e todas estas disposições tão afastadas da justiça e da razão têm uma raiz natural no seu coração.
Não é no espaço que devo procurar a minha dignidade, mas na organização do meu pensamento.
Numa grande alma, tudo é grande.
Mas, quanto aos que passam a vida sem pensar nesse último fim da existência, de forma que, por essa razão, não descobrem em si próprios as luzes que os persuadam, deixando de procurá-las em outra parte e de examinar a fundo se essa opinião é daquelas que o povo recebe com uma simplicidade crédula ou daquelas que, embora obscuras por natureza, possuem, contudo, um fundamento bastante sólido e inabalável, eu os considero de maneira diferente.
É, por conseguinte, um grande mal permanecer nessa dúvida, sendo ao menos um dever indispensável investigar quando ela existe, porque aquele que duvida e não investiga se torna, então, não só infeliz, mas também injusto. Com efeito, se com isso se mostra tranquilo e satisfeito, se disso faz profissão e se por isso se sente orgulhoso, fazendo disso o motivo de sua alegria e de sua vaidade, não tenho termos para qualificar tão extravagante criatura.
Os fundamentos da fé estão acima da natureza e da razão. Mas sobre a interpretação e a capacidade de conhecimento das experiências naturais, é a razão que tem a supremacia.
O conhecimento científico é independente dos conhecimentos da fé que são imutáveis, a fé nos faz dizer creio, e a ciência, sei.
A tarefa principal do homem é conhecer a si mesmo, mas para cumprir esse empreendimento a razão não nos pode ajudar muito, pois ela é fraca, desnecessária e imprecisa e cai constantemente na fantasia, no sentimentalismo e no hábito. Para conhecer-nos o melhor caminho é o do coração.
Nós fazemos parte da natureza e nos localizamos entre dois infinitos dela, o infinitamente pequeno e o infinitamente grande e somos incapazes de entender ambos. Somos ainda impossibilitados de entender o nada de onde viemos e entender o infinito onde estamos imersos. Nós somos alguma coisa, mas não tudo. Nós conhecemos algumas coisas, mas nunca conheceremos tudo, pois os nossos sentidos não percebem as coisas extremas. Nós estamos situados entre o ser e o nada.
Além de limitados somos também impotentes diante das misérias humanas como a morte e a ignorância, para fugir dessas impotências muitos escolhem o não pensar, ou seja, o divertimento.
Divertir-se é uma forma de distrair-se com ocupações que nos distanciam das misérias que vivemos. Quando não tivermos nada para fazer, sentiremos as nossas misérias, o divertimento é o fazer algo que vai distanciar nossa alma do vazio e do tédio. A diversão é uma fuga de nós mesmos.
Mas mesmo limitados, somos os únicos seres pensantes da natureza. Somos também um dos seres mais fracos da natureza, mas somos fracos pensantes e é no pensamento que está nossa dignidade, nossa nobreza e superioridade frente à natureza. Nós somos miseráveis e mortais, mas sabermos que somos miseráveis e mortais e nisso está nossa grandeza.
É mais fácil suportar a morte sem pensar nela.
1623/1662
Rir da filosofia é o verdadeiro filosofar.
1623/1662
É melhor saber um pouco de tudo do que tudo de um pouco.
1623/1662
Boas palavras escondem um mau caráter.
1623/1662
A nossa natureza é o movimento; o completo repouso é a morte.
1623/1662
Nós não buscamos as coisas, mas a busca das coisas.
1623/1662
Quem se aflige por pouco, se consola com pouco.
1623/1662
A diversão nos consola das nossas misérias.
1623/1662
Como não sei de onde venho, não sei para onde vou.
1623/1662
O silêncio dos espaços infinitos me apavora.
1623/1662
É incompreensível que Deus exista e também incompreensível que não exista.
1623/1662
A justiça sem a força é impotente, a força sem justiça é tirania.
1623/1662
Não é certo que tudo seja incerto.
1623/1662
Só entendemos as profecias quando elas acontecem.
1623/1662
O amor não tem idade, está sempre nascendo.
1623/1662
O homem está disposto a negar o que não entende.
1623/1662
As ilusões sustentam o homem como as asas sustentam o pássaro.
1623/1662
O universo é uma esfera cujo centro está em todas as partes e a circunferência em nenhuma.
1623/1662
Os extremos se tocam.
1623/1662
Tudo é grande na alma grande.
1623/1662
Jesus sofre
em sua paixão os tormentos que os homens lhe infligem; mas na agonia sofre os
tormentos que a ele mesmo se impõe: Turbare semetipsum. É um suplício de
mão não humana, mas todo-poderosa, e é preciso ser todo-poderoso para
suportá-lo.
Agitação, descanso
Quando me ponho às vezes a considerar as diversas agitações dos homens, e os perigos e trabalhos a que eles se expõem, na corte, na guerra, donde nascem tantas querelas, paixões, cometimentos ousados e muitas vezes nocivos, etc., descubro que toda a miséria dos homens vem duma só coisa, que é não saberem permanecer em repouso, num quarto. Um homem que tenha o bastante para viver, se fosse capaz de ficar em sua casa com prazer não sairia para ir viajar por mar ou pôr cerco a uma praça-forte. Ninguém compraria tão caro um posto no exército se não achasse insuportável deixar-se estar quieto na cidade; e quem procura a convivência e a diversão dos jogos é porque é incapaz de ficar, em casa, com prazer.
Mas quando pensei melhor, e que, depois de ter encontrado a causa de todos os nossos males, quis descobrir a razão desta, achei que há uma bem efetiva, que consiste na natural infelicidade da nossa condição frágil e mortal, e tão miserável que nada nos pode consolar quando nela pensamos a fundo.
Se eu tivesse mais tempo, teria escrito uma carta mais curta.
Se o universo nos esmagasse agora, agora! nós ainda seríamos o elemento mais nobre que o universo esmagou porque nós sabemos que nós morremos e nós sabemos também o quanto nós somos frágeis.
Toda infelicidade humana tem uma única origem:
não saber como permanecer quieto em uma sala.
O infinito abismo só pode ser preenchido por um objeto infinito e imutável, isto é, somente pelo próprio Deus.
Ao advogado pago adiantadamente parecerá bem mais justa a causa que defende!
O tempo cura as dores e as queixas, porque nós nos modificamos, não somos sempre a mesma pessoa. Nem o ofensor, nem o ofendido, são os mesmos.
Vamos pesar o ganho e a perda na aposta de que Deus exista. Vamos estimar estas duas possibilidades. Se você ganhar, você ganha tudo; se perder, perde nada. Aposte, então, sem hesitação que Ele existe.
A justiça sem a força é impotente, a força sem justiça é tirana.
O homem está sempre disposto a negar tudo aquilo que não compreende.
A verdadeira moral não se preocupa com a moral: quer isto dizer que a moral do juízo não se importa nada com a moral do espírito – que não tem regras.
A imaginação tem todos os poderes: ela faz a beleza, a justiça, e a felicidade, que são os maiores poderes do mundo.
A razão manda em nós muito mais imperiosamente do que um senhor; é que, desobedecendo a um, é-se infeliz, desobedecendo a outro, é-se tolo.
Nunca se ama alguém mas somente as qualidades.
Agrada-nos repousar em sociedade com os nossos semelhantes: miseráveis como nós, impotentes como nós, eles não nos ajudarão; morreremos sozinhos.
A grandeza do homem está em ele se reconhecer como miserável. Uma árvore não se dá conta da sua miséria.
O prazer dos grandes homens consiste em poder tornar os outros felizes.
Quando considero a duração mínima da minha vida, absorvida pela eternidade precedente e seguinte, o espaço diminuto que ocupo, e mesmo o que vejo, abismado na infinita imensidade dos espaços que ignoro e me ignoram, assusto-me e assombro-me de me ver aqui e não lá. Quem me pôs aqui? Por ordem de quem me foram destinados este lugar e este espaço?
Uma vez que não podemos ser universais e saber tudo quanto se pode saber acerca de tudo, é preciso saber-se um pouco de tudo, pois é muito melhor saber-se alguma coisa de tudo do que saber-se tudo apenas de uma coisa.
O homem não é nem anjo nem animal, e a infelicidade exige que quem pretende fazer de anjo faça de besta.
Deixemos um rei sozinho, sem nenhuma satisfação dos sentidos, sem nenhuma preocupação do espírito, sem companhia, a pensar apenas em si mesmo; e ver-se-á que um rei sem divertimentos é um homem muito desgraçado.
Poucas amizades subsistiriam se cada um soubesse aquilo que o amigo diz de si nas suas costas.
O que é o homem na natureza? Um nada em relação ao infinito, um tudo em relação ao nada, um ponto a meio entre nada e tudo.
Todos os homens, sem excepção, procuram ser felizes. Embora por meios diferentes, tendem todos para este fim.
A própria moda e os países determinam aquilo a que se chama beleza.
Nada há de bom nesta vida salvo a esperança de uma outra vida.
O homem é feito visivelmente para pensar; é toda a sua dignidade e todo o seu mérito; e todo o seu dever é pensar bem.
Ao ver um estilo natural, ficamos surpreendidos e encantados, pois esperávamos ver um autor, e encontramos um homem.
A opinião é a rainha do mundo.
Desejais que vos tenham em boa conta? Nada de o dizer!
A natureza tem perfeições que mostram que é a imagem de Deus, e defeitos que mostram que é apenas a imagem.
Corremos alegres para o precipício, quando pomos pela frente algo que nos impeça de o ver.
O último esforço da razão é reconhecer que existe uma infinidade de coisas que a ultrapassam.