AutorAntónio Reis (poeta)

António Reis (poeta)

Não é a tua mão
filha
que eu levo
na minha mão
é uma raiz
que eu planto
em mim mesmo

António Reis (poeta)

É domingo hoje
mas nós não saímos
é o único dia
que não repetimos
e que dura menos
Mas põe o teu rouge
que eu mudo a camisa
não como quem
de ilusão
precisa
Tomaremos chá
leremos um pouco
e iremos à varanda
absortos

António Reis (poeta)

Também eu trago a saudade
nos sentidos
se dissesse que não
era mentira
Também eu perdi um cão
casas
rios
Mas hoje
tenho mulher
amigos
e uma saudade mais real
é que me inspira

António Reis (poeta)

Não durmo ainda
Só na cama
o tempo
ainda é meu
como a palavra
Discretamente
me agito
no colchão
Não penso em Deus
na morte
Imprimo
Aqueço-me
Escuto
conservo a posição

António Reis (poeta)

Depois das 7
as montras são mais íntimas
A vergonha de não comprar
não existe
e a tristeza de não ter
é só nossa
E a luz torna mais belo
e mais útil
cada objecto

António Reis (poeta)

Mudamos esta noite
E como tu
eu penso no fogão a lenha
e nos colchões
onde levar as plantas
e como disfarçar os móveis velhos
Mudamos esta noite
e não sabíamos que os mortos ainda aqui viviam
e que os filhos dormem sempre
nos quartos onde nascem
Vai descendo tu
Eu só quero ouvir os meus passos
nas salas vazias

António Reis (poeta)

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