Por mais longa que seja nossa existencia temos nossas lembranças – pontos no tempo que o prórpio tempo não consegue apagar. O sofrimento pode deturpar meus vislumbres do passado, mas mesmo diante do sofrimento algumas lembranças se recusam a perder seja o que for de sua beleza ou de seu esplendor. Pelo contrário,elas permanecem sólidas como pedras preciosas.
Não faça da lógica uma religião. Porque, com a passagem do tempo, a razão pode lhe falhar; e, quando isso ocorrer, você poderá se descobrir procurando refúgio na loucura.
Talvez o choro impeça que as pessoas enlouqueçam.Simplesmente há coisas que não podem ser reveladas, e há coisas que ninguem pode modificar.
As vezes, o medo é um aviso. É como se alguém pussesse a mão no seu ombro e dissesse: NÃO DE MAIS UM PASSO.
Você tem que ser suficientemente forte para se dispersar sem ser destruido
O que eu faço? Qualquer coisa que me agrade.
— Não há gradações de perversidade? Será o mal um imenso e perigoso poço onde se cai ao primeiro pecado, mergulhando até o fundo?
— Sim, acho que é. — respondi. — E não é lógico, como você tenta aparentar.
— Mas não está sendo justo — disse, com o primeiro vislumbre de emoção na voz. — Certamente atribui grandes graus e variações à bondade. Existe a bondade da criança, que é inocência, e há a bondade do monge que abriu mão de tudo e vive uma existência de auto-privação e trabalho. A bondade dos santos, a bondade das donas-de-casa. São todas iguais?
— Não. Mas igualmente e infinitamente diferentes do mal — respondi.
— E como se atinge o mal? — perguntou. — Como se sai da graça e de repente se fica tão cruel quanto o júri popular da Revolução ou o mais sádico imperador romano? Basta simplesmente faltar à missa aos domingos, ou cuspir a hóstia? Ou roubar um pedaço de pão… ou dormir com a mulher do próximo?
— Não… — sacudi a cabeça.
— Não. — Mas se o mal não tem gradação, e existe este estado de maldade, então basta um único pecado. Não foi- isso que disse? Que Deus existe e…
— Não sei se Deus existe — falei. — E pelo que sei … Ele não existe.
— Então os pecados não importam — retrucou. Nenhum pecado atinge o mal.
— Isto não é verdade. Pois se Deus não existe, somos as criaturas mais conscientes do universo. Só nós compreendemos o passar do tempo e o valor de cada minuto da vida humana. E o que constitui o mal, o verdadeiro mal, é tirar uma única vida humana. Não importa se um homem vai morrer amanhã, depois, ou eventualmente… Pois se Deus não existe, esta vida… cada segundo dela… é tudo o que temos.
Não se curve, não dilua nada; não tente tornar lógico; não edite sua alma de acordo com a moda. Pelo contrário, siga implacavelmente suas obsessões mais intensas.
O mal é um ponto de vista.
Você tem uma história dentro de você; ela está articulada e esperando para ser escrita – por trás do seu silêncio e sofrimento.
Nenhum de nós realmente muda com o tempo. Nós só nos tornamos mais o que somos.
As pessoas que param de crer em Deus ou na bondade continuam a acreditar no diabo. Não sei por que. Não, realmente não sei por que. O mal é sempre possível. E a bondade é eternamente difícil.
Como todas as pessoas fortes, ela sofria sempre um certo tipo de solidão; ela era uma estranha marginal, uma espécie de infiel secreto.
O mundo muda, nós não, aí está a ironia que nos mata.
Como deus pode justificar o sofrimento de uma criança?