No céu enfeitado,
papagaio de papel:
também vou no vôo.
Rio na piracema,
peixes pulam nas canoas:
mendigos alegres.
Vento de verão
vem com bafo de mormaço –
garoa ameniza.
Doceira na noite
a negra sorriu:
canteiro de estrelas?
Rapsódia incômoda:
ao redor do bóia-fria
moscas do canavial.
Janela fechada:
borboleta na vidraça
dá cor ao meu dia.
A cigarra canta
o anúncio de sua morte –
formigas na contra-dança.
Céu de primavera
no jardim dorme a menina.
Qual a flor do sonho?
Varrendo folhas secas
lembrei-me do mar distante:
chuá de ondas chegando.
Silêncio de outono.
Nem o grito do carteiro…
cochicho de folhas.
Se deu mal na praia:
menino distraído
pisa numa arraia.
Sol no girassol.
Sombra desenha outra flor
no corpo dourado.
Bem que me agasalho.
Galhos sem folhas lá fora
parecem ter frio.
Coruja na cumeeira
arrepia no seu canto –
a viúva reza.
Susto na colheita:
em vez do cupuaçu
cai a casa de vespas.
Folha no rio
vai para o mar sem volta –
chorão se renova.
De traje a rigor
os urubus em meneios
bailando nas nuvens.
Folha de jornal
vem no vento ao meu pescoço;
cachecol de letras.
Na soleira do sítio
a graúna canta
ao silêncio do sol.
Sesta no jardim:
a borboleta me acorda.
Coça o meu nariz.
Menino amuado
quem te deu tamanho bico
foi o tico-tico?
Além do quentão,
só a orelha da companheira
me salva do frio.
Dançando a quadrilha
lembrei de aulas de francês.
Onde a professora?
Na hora do rush
o cheiro do incenso acalma:
hare-krishnas dançam.
Regato tranquilo:
uma libélula chega
e mergulha os pés.
Nos gestos da mão
baila a brasa do cigarro:
pisca o pirilampo.
Sobe a piracema –
ano que vem outros peixes
nadarão de novo.
Tempo de uiaúa:
o rio onde os peixes nascem
é o mesmo que os mata.
Céu de primavera.
Nas açucenas floridas
dura mais o orvalho.
Partitura alegre:
cai a chuva sobre o charco
no ritmo dos sapos.
Na caixa postal
a mão sente a queimadura:
taturana presa.
Ah, a sensualidade…
palmeiras se abraçando
cúmplices do vento.
Teus olhos formam
das ázimas lágrimas
rios que retornam ao mar
Abre o camponês
sulcos de arado na terra:
no seu rosto rugas.
Hora do recreio:
periquitos tagarelas
brigam pelas mangas.
Ao sol do verão
o sorvete se derrete.
Namoro desfeito.
Abro o armário e vejo
nos sapatos meus caminhos.
Qual virá no séquito?
Açougue nas águas:
piranhas esquartejam o boi
no meio do rio.
Folhas do ciclame
ao vento pra lá e pra cá –
um coração pulsa.
Gaiola se abrindo
e o haijin livre de amarras:
sabiá cantando.
Com jeito voyeur
da soleira da janela
um pombo me espia.
Morcego em surdina
morde e sopra o velho gato.
Não contava o pulo…
Na casca amarela
se esconde em vão a goiaba:
tantos bem-te-vis…
No ocaso do outono
só o carrapicho gruda
na velha calça…
Maria-fecha-a-porta
ao toque do meu dedo:
ah plantinha tímida…
Entre o capim seco
uma surpresa rajada:
ovos de codorna.
A chuva já vem?
Não vem. É o marcador
cantando a quadrilha.
Jogando a tarrafa
caboclo desfaz a lua.
Pesca estrelas de escama.
Girassol na tarde
se curva em reverência:
o sol se vai.
Cercada de verde
ilha na hera do muro:
uma orquídea branca.
Em câmera lenta
preguiça na imbaubeira
passa a outro galho.
Brilha mais ereto
o penhasco sob o sol:
ah o verão fértil.
Sozinho na casa.
Lá fora o canto das cigarras.
Ah se não fossem elas…
Grito de agonia:
periquito na jaqueira
preso na resina.
Broca no bambu
deixa furos de flauta.
O vento faz música.
Um pombo no mar
traz ao bico verde ramo:
terra à vista?
A flor do ipê-roxo
cai deixando saudades.
Ah, a moça da tarde…
vermelho relâmpago
irrompe do capim seco:
a cobra coral.
Folhas do ciclame
ao vento pra lá e pra cá –
um coração pulsa.
Na noite de inverno
o frio não é só no corpo:
as tábuas estalam.
Quase desperdício.
Moscas sobre caquis podres
Só o sapo come.
No embalo do vento
palmeiras se abraçam:
dois amantes?
Apenas um gesto
e o homem é capaz de vida –
reparto o caqui.
Fugiu-me da mão
no vento com folhas secas
a carta esperada.
De manhã, a brisa
encrespa o igarapé
e penteia as águas.
Já é quase dia
e a lua brilha no lago.
Ainda é primavera!
Na calma do lago
um bufo entre a canarana:
peixe-boi respira.
Solidão de outubro:
folhas varridas no vento
levam meu recado.
No embalo do vento
palmeiras se abraçam:
dois amantes?
Uma vida é só uma vida
só uma vida é vivida
melhor se for dividida
e tudo mais é só
e tudo mais é
e tudo mais
e tudo
e
No céu enfeitado,
papagaio de papel:
também vou no vôo.
Rio na piracema,
peixes pulam nas canoas:
mendigos alegres.
Vento de verão
vem com bafo de mormaço –
garoa ameniza.
Doceira na noite
a negra sorriu:
canteiro de estrelas?
Rapsódia incômoda:
ao redor do bóia-fria
moscas do canavial.
Janela fechada:
borboleta na vidraça
dá cor ao meu dia.
A cigarra canta
o anúncio de sua morte –
formigas na contra-dança.
Céu de primavera
no jardim dorme a menina.
Qual a flor do sonho?
Varrendo folhas secas
lembrei-me do mar distante:
chuá de ondas chegando.
Silêncio de outono.
Nem o grito do carteiro…
cochicho de folhas.
Se deu mal na praia:
menino distraído
pisa numa arraia.
Sol no girassol.
Sombra desenha outra flor
no corpo dourado.
Bem que me agasalho.
Galhos sem folhas lá fora
parecem ter frio.
Coruja na cumeeira
arrepia no seu canto –
a viúva reza.
Susto na colheita:
em vez do cupuaçu
cai a casa de vespas.
Folha no rio
vai para o mar sem volta –
chorão se renova.
De traje a rigor
os urubus em meneios
bailando nas nuvens.
Folha de jornal
vem no vento ao meu pescoço;
cachecol de letras.
Na soleira do sítio
a graúna canta
ao silêncio do sol.
Sesta no jardim:
a borboleta me acorda.
Coça o meu nariz.
Menino amuado
quem te deu tamanho bico
foi o tico-tico?
Além do quentão,
só a orelha da companheira
me salva do frio.
Dançando a quadrilha
lembrei de aulas de francês.
Onde a professora?
Na hora do rush
o cheiro do incenso acalma:
hare-krishnas dançam.
Regato tranquilo:
uma libélula chega
e mergulha os pés.