Sobre a finitude, uma coisa é certa: ando tendo sonhos loucos e coragens absurdas…
Percebi o quanto idealizamos até mesmo nossas expectativas em relação ao amor. Cada um entrega o que é possível; cabe a nós acolher e enxergar seu o véu de nossas exigências.
Existe muita vida entre o diagnóstico de uma doença terminal e a morte.
Dancei com as estatísticas, com os prognósticos, com os julgamentos. Aprendi que dançar bem não requer prática. Requer alma. Só “dança” na vida quem não levanta e vai pra pista. Quem espera convite e condução. Quem quer a garantia de passos firmes e seguros. Mas eu aprendi. E, entre um tropeço e outro, vou coreografando o balé único da minha vida: do sopro inicial ao último suspiro.
Se tem um jeito de a gente ser eterno é vivendo nas pessoas.
Pra quem gosta de viver, nunca será tempo suficiente.
Quem é você quando ninguém está olhando?
Lide com isso.
Busque ser o que diz ser quando a luz está acesa.
Meu desejo hoje é abraçar o mundo e retribuir tudo isso que tenho recebido. Quando a vida se torna frágil, sabemos o real valor que ela possui.
Os saudáveis pensam em COMO querem morrer (num futuro muito distante).
Os doentes pensam em QUANTO querem viver.
Os “paliativos”, em como VIVER INTENSAMENTE até lá…
Previsão do tempo:
Tem dia com chuva,
tem dia com sol
e tem dia com arco-íris.
Ficamos surdos para ouvir nossa própria dor.
E seguimos barulhentos e vazios do silêncio da paz que deveríamos apreciar.
A vida certa não é a que os outros esperem que você viva.
É aquela em que você escolhe ser verdadeiramente feliz.
Gente que gosta de gente é o tipo de gente de quem eu gosto de gostar…
E nessa de viver nosso último dia todo dia, percebemos o quanto tudo tinha um sabor especial. Acreditem, entender que a vida acaba é a ferramenta de empoderamento e autoconhecimento mais incrível de todas (e ninguém precisa de câncer pra isso).
Não há tempo a perder. Não há sentimento a ser desperdiçado. Viver é prioridade.
Não é mais fácil ser feliz sem dor, é melhor.
Difícil é ser feliz sem nunca ter tido dor nenhuma.
Nem haveria poesia…
Antes uma vida curta por inteiro
do que uma longevidade pela metade
Enquanto seguia perseguindo apenas a cura garantida para o meu corpo, sofri.
O remédio que eu precisava era pra alma. E estava o tempo todo aqui, dentro de mim.
Acontece que a biologia dos fatos é bem diferente da história que eu sinto. E o que eu sinto é que, mesmo doente, nunca estive tão saudável.
Cura
O substantivo que transita pelo verbo e tem poder de adjetivo.
Inspira busca, desejo, sonhos.
Motiva. Alimenta. Alivia.
Há quem caminhe ao lado dela, com ela, por ela.
Há quem a ofereça de graça e quem pague o que for pela incerteza de sua companhia. Há quem dependa dela pra viver, e quem viva independentemente dela.
Valorizada. Implorada. Exigida. Superestimada.
Ao divino ofertamos nosso mais sincero pedido. A Ele todo o crédito quando ela é possível. A nós, a culpa pela pouca fé quando ela não se apresenta.
Ela está nos livros, nas palestras, nos vídeos, na igreja, na fruta, no suor derramado e no link que não abri num dia de pressa.
E o que ela é, além de uma série de conceitos médicos? Ninguém diz. Ninguém garante.
Ressignifiquei.
Há alguns anos deixei de exigir de um substantivo o poder da minha “cura”.
É só semântica.
Não garante longevidade, felicidade e o que é extraordinário.
Vivo minha cura cada vez que uma lágrima cai. E cada vez que é difícil conter o riso. Quando sinto o vento no rosto e o abraço sincero de um coração que pulsa no mesmo embalo que o meu.
Sinto cura por me permitir ser vulnerável. Por poder ter medo. Por acolher minhas sombras. Por ter dó do tempo que talvez eu não viva.
Sinto cura por não viver de passado e nem condicionada aos acontecimentos futuros. Sinto cura por perceber que o julgamento diz mais sobre quem o faz do que a quem se direciona. E a cura invade meu coração cada vez que fecho os olhos e, numa prece silenciosa, sinto gratidão por estar exatamente onde deveria.
E sem garantias…
Busque diariamente a cura que habita em você.
Porque a cura está. A cura já é.
Se não for pra ter uma vida emocionante assim, nem tomo remédio…
Vidas hipotéticas
Tem algo de muito perigoso no espaço do que não existe. É um planeta paralelo, governado pelo deus “e se… ” e capaz de roubar horas preciosas de um dia real. Lá, o tempo é vazio. Muitos de seus habitantes costumam ser apegados aos pretéritos. Vivem tristes e demonstram picos de raiva e frustração. Outros acreditam possuir poderes sobrenaturais e vivem vidas que não aconteceram ainda. É um planeta ansioso.
Um planeta que, muitas vezes, sofre com a falta de oxigênio.
Todo dia me convidam a habitar o espaço do que não existe. E se eu não tivesse câncer? E se a medicação falhar? E se tivesse escolhido outro caminho? E se tivesse repassado a corrente da vida eterna pra noventa amigos?
Minha resposta é sempre a mesma.
Não sei. Não importa!
Só sei responder sobre a vida que é a minha. Pelas escolhas que fiz. Pelos caminhos que percorri. Pelas lágrimas que derramei. Pelo que foi. Pelo que é. Simples assim. O que cabe a mim está no real que habito hoje. Amanhã, já não sei. A graça está na impermanência. No frio na barriga em cada salto no invisível. Pode ser que seja bom. Pode ser que não seja. Pode ser que nem exista. Tudo tem o seu presente pra ser vivido.
Fica a dica turística. O planeta hipotético é cobrador. E manda a conta da hospedagem com juros altos. Cedo ou tarde demais.
“E se você tivesse vivido?”
E se…
“Despratiquei” as normas sobre o que é esperado de um paciente em tratamento paliativo, e vivo por aí, a distribuir vida e gratidão pela beleza de mais um dia. Porque, no meu último suspiro, meus caros, eu não quero ver o reflexo no espelho de dores que não me definem. Quero um filme lindo, de amor e aventura, com o final feliz que eu mereço.
Não vê? O único remédio é dançar com o tempo…
A finitude é crônica.
Só vai conseguir cuidar do sofrimento de alguém quem aprendeu a acolher a própria sombra e deixá-la de lado quando a dor do outro for mais urgente.
Se eu tenho medo de morrer? Não! Eu tenho é dó.
Medo mesmo eu tenho é de não estar viva até esse dia.
Cuidados Paliativos não é sobre morrer, é sobre como viver até lá.
De que adianta espernear pelo milagre se nem ao menos sabemos reconhecê-lo na beleza de mais um dia.
O futuro pertence a quem caminha
“A folha lá do alto da árvore não passa o dia a pensar em quanto tempo lhe resta, ou como ser maior ou melhor. Enfrenta as ervas daninhas. Se oferece como alimento. Como sombra e ar fresco. Realiza seu trabalho. Transmuta gás carbônico para nos oferecer o sopro da vida. Enquanto contempla a paisagem ela vive. […] Ao fim de seu ciclo, se joga sem medo rumo ao desconhecido.
Retorna ao útero.
Transcende.”
E nessa de viver nosso último dia todo dia, percebemos o quanto tudo tem um sabor especial. Acreditem, entender que a vida acaba é a ferramenta de empoderamento e autoconhecimento mais incrível de todas (e ninguém precisa de câncer pra isso).
Sobre a finitude, uma coisa é certa: ando tendo sonhos loucos e coragens absurdas…
Percebi o quanto idealizamos até mesmo nossas expectativas em relação ao amor. Cada um entrega o que é possível; cabe a nós acolher e enxergar seu o véu de nossas exigências.
Existe muita vida entre o diagnóstico de uma doença terminal e a morte.
Dancei com as estatísticas, com os prognósticos, com os julgamentos. Aprendi que dançar bem não requer prática. Requer alma. Só “dança” na vida quem não levanta e vai pra pista. Quem espera convite e condução. Quem quer a garantia de passos firmes e seguros. Mas eu aprendi. E, entre um tropeço e outro, vou coreografando o balé único da minha vida: do sopro inicial ao último suspiro.
Se tem um jeito de a gente ser eterno é vivendo nas pessoas.
Pra quem gosta de viver, nunca será tempo suficiente.
Quem é você quando ninguém está olhando?
Lide com isso.
Busque ser o que diz ser quando a luz está acesa.
Meu desejo hoje é abraçar o mundo e retribuir tudo isso que tenho recebido. Quando a vida se torna frágil, sabemos o real valor que ela possui.
Os saudáveis pensam em COMO querem morrer (num futuro muito distante).
Os doentes pensam em QUANTO querem viver.
Os “paliativos”, em como VIVER INTENSAMENTE até lá…
Previsão do tempo:
Tem dia com chuva,
tem dia com sol
e tem dia com arco-íris.
Ficamos surdos para ouvir nossa própria dor.
E seguimos barulhentos e vazios do silêncio da paz que deveríamos apreciar.
A vida certa não é a que os outros esperem que você viva.
É aquela em que você escolhe ser verdadeiramente feliz.
Gente que gosta de gente é o tipo de gente de quem eu gosto de gostar…
E nessa de viver nosso último dia todo dia, percebemos o quanto tudo tinha um sabor especial. Acreditem, entender que a vida acaba é a ferramenta de empoderamento e autoconhecimento mais incrível de todas (e ninguém precisa de câncer pra isso).
Não há tempo a perder. Não há sentimento a ser desperdiçado. Viver é prioridade.
Não é mais fácil ser feliz sem dor, é melhor.
Difícil é ser feliz sem nunca ter tido dor nenhuma.
Nem haveria poesia…
Antes uma vida curta por inteiro
do que uma longevidade pela metade
Enquanto seguia perseguindo apenas a cura garantida para o meu corpo, sofri.
O remédio que eu precisava era pra alma. E estava o tempo todo aqui, dentro de mim.
Acontece que a biologia dos fatos é bem diferente da história que eu sinto. E o que eu sinto é que, mesmo doente, nunca estive tão saudável.
Cura
O substantivo que transita pelo verbo e tem poder de adjetivo.
Inspira busca, desejo, sonhos.
Motiva. Alimenta. Alivia.
Há quem caminhe ao lado dela, com ela, por ela.
Há quem a ofereça de graça e quem pague o que for pela incerteza de sua companhia. Há quem dependa dela pra viver, e quem viva independentemente dela.
Valorizada. Implorada. Exigida. Superestimada.
Ao divino ofertamos nosso mais sincero pedido. A Ele todo o crédito quando ela é possível. A nós, a culpa pela pouca fé quando ela não se apresenta.
Ela está nos livros, nas palestras, nos vídeos, na igreja, na fruta, no suor derramado e no link que não abri num dia de pressa.
E o que ela é, além de uma série de conceitos médicos? Ninguém diz. Ninguém garante.
Ressignifiquei.
Há alguns anos deixei de exigir de um substantivo o poder da minha “cura”.
É só semântica.
Não garante longevidade, felicidade e o que é extraordinário.
Vivo minha cura cada vez que uma lágrima cai. E cada vez que é difícil conter o riso. Quando sinto o vento no rosto e o abraço sincero de um coração que pulsa no mesmo embalo que o meu.
Sinto cura por me permitir ser vulnerável. Por poder ter medo. Por acolher minhas sombras. Por ter dó do tempo que talvez eu não viva.
Sinto cura por não viver de passado e nem condicionada aos acontecimentos futuros. Sinto cura por perceber que o julgamento diz mais sobre quem o faz do que a quem se direciona. E a cura invade meu coração cada vez que fecho os olhos e, numa prece silenciosa, sinto gratidão por estar exatamente onde deveria.
E sem garantias…
Busque diariamente a cura que habita em você.
Porque a cura está. A cura já é.
Se não for pra ter uma vida emocionante assim, nem tomo remédio…
Vidas hipotéticas
Tem algo de muito perigoso no espaço do que não existe. É um planeta paralelo, governado pelo deus “e se… ” e capaz de roubar horas preciosas de um dia real. Lá, o tempo é vazio. Muitos de seus habitantes costumam ser apegados aos pretéritos. Vivem tristes e demonstram picos de raiva e frustração. Outros acreditam possuir poderes sobrenaturais e vivem vidas que não aconteceram ainda. É um planeta ansioso.
Um planeta que, muitas vezes, sofre com a falta de oxigênio.
Todo dia me convidam a habitar o espaço do que não existe. E se eu não tivesse câncer? E se a medicação falhar? E se tivesse escolhido outro caminho? E se tivesse repassado a corrente da vida eterna pra noventa amigos?
Minha resposta é sempre a mesma.
Não sei. Não importa!
Só sei responder sobre a vida que é a minha. Pelas escolhas que fiz. Pelos caminhos que percorri. Pelas lágrimas que derramei. Pelo que foi. Pelo que é. Simples assim. O que cabe a mim está no real que habito hoje. Amanhã, já não sei. A graça está na impermanência. No frio na barriga em cada salto no invisível. Pode ser que seja bom. Pode ser que não seja. Pode ser que nem exista. Tudo tem o seu presente pra ser vivido.
Fica a dica turística. O planeta hipotético é cobrador. E manda a conta da hospedagem com juros altos. Cedo ou tarde demais.
“E se você tivesse vivido?”
E se…
“Despratiquei” as normas sobre o que é esperado de um paciente em tratamento paliativo, e vivo por aí, a distribuir vida e gratidão pela beleza de mais um dia. Porque, no meu último suspiro, meus caros, eu não quero ver o reflexo no espelho de dores que não me definem. Quero um filme lindo, de amor e aventura, com o final feliz que eu mereço.
Não vê? O único remédio é dançar com o tempo…
A finitude é crônica.
Só vai conseguir cuidar do sofrimento de alguém quem aprendeu a acolher a própria sombra e deixá-la de lado quando a dor do outro for mais urgente.
Se eu tenho medo de morrer? Não! Eu tenho é dó.
Medo mesmo eu tenho é de não estar viva até esse dia.