Estar cheio de vida é respirar profundamente, mover-se livremente e sentir com intensidade.
O ritmo, a pressão e a filosofia de nossos tempos são antitéticos à vida.
Não existe apenas uma saída que desvende todos os mistérios da condição humana.
A superênfase dada ao poder em nossa cultura coloca o ego contra o corpo e a sua sexualidade, criando um antagonismo entre ambas as motivações, quando o ideal seria o apoio e o reforço comum entre elas.
Ninguém é exceção a regra de que o aprendizado ocorre através do reconhecimento dos erros.
“Como adultos, nós temos muitas inibições quanto a chorar. Nós sentimos que é uma expressão de fraqueza, ou feminilidade ou infantilidade. A pessoa que tem medo de chorar está com medo do prazer. Isto porque a pessoa que tem medo de chorar se mantém conjuntamente rígida para não chorar; ou seja, a pessoa rígida está tão com medo do prazer quanto está com medo de chorar. Em uma situação de prazer ela vai ficar ansiosa. (…) Sua ansiedade nada mais é do que o conflito entre seu desejo de se soltar e seu medo de se soltar. Este conflito surgirá sempre que o prazer é forte o suficiente para ameaçar a sua rigidez.
Desde que a rigidez se desenvolve como um meio para bloquear as sensações dolorosas, a liberação de rigidez ou a restauração da mobilidade natural do corpo vai trazer essas sensações dolorosas à tona. Em algum lugar em seu inconsciente o indivíduo neurótico está ciente de que o prazer pode evocar os fantasmas reprimidas do passado. Pode ser que tal situação seja responsável pelo ditado “Não há prazer sem dor.”
– Alexander Lowen, A Voz do Corpo –
”Todo rio se enche às vezes sob além do limite de suas margens. Se isto acontecer permanentemente, as margens serão destruídas e teremos um lago e não mais um rio. Mas o lago é estático, ao passo que o rio flui.
Trata-se de uma das contradições da vida o fato de o fluxo dever ser contido para que se mantenha em movimento.”
Depois de desistirmos de nosso verdadeiro self para desempenharmos um papel, estamos destinados a sermos rejeitados porque já rejeitamos a nós mesmos.
A pessoa neurótica tem medo de abrir seu coração ao amor, teme estender a mão para pedir ou agredir; amedronta-a ser plenamente si mesma.
Será destino do homem moderno, ser neurótico, ter medo da vida? Sim, é a minha resposta, se por homem moderno definirmos o membro de uma cultura cujos valores predominantes sejam o poder e o progresso. Uma vez que são estes os valores que assinalam a cultura ocidental no século vinte, decorre que toda pessoa criada na mesma é neurótica.
Quando alguém constrói um castelo para proteger sua liberdade, acaba prisioneiro de sua obra porque não ousa mais sair de lá.
Não se pode assegurar a paz estocando armas, porque os exércitos, pela própria natureza, provocam a guerra.
A tentativa de superar um problema de personalidade negando-o (“não vou ficar com medo”) apenas o internaliza e garante sua manutenção.
A supressão de um sentimento não o faz desaparecer; só o empurra mais para baixo, mais fundo, até a inconsciência. Com esta manobra, internalizamos o problema.
Independentemente da forma como nascemos, é o modo como fomos criados que determina nosso destino e nossa sorte.
O crescimento acontece natural e espontaneamente quando a energia está disponível. Mas quando usamos nossas energias numa luta contra nosso caráter (destino), não nos resta energia para crescer nem para o processo de cura natural.
O instinto descreve um ato ou uma força que promove o processo de vida. (…) O destino é um princípio passivo. Descreve o modo como as coisas são.
A compulsão à repetição pode ser entendida como resultado de uma ruptura da personalidade, que fixa a pessoa num determinado padrão de comportamento que ela não consegue modificar. (…). Mas a compulsão à repetição pode ser vista como uma tentativa da personalidade de retornar à situação em que permaneceu fixada, na esperança de algum dia se libertar.
Em termos gerais, o caráter se forma em resultado do conflito entre a natureza e a cultura, entre as necessidades instintivas da criança e as exigências da cultura, agindo através dos pais. (…) Este processo de adaptação de uma criança ao sistema viola seu espírito. Ela desenvolve um caráter neurótico e torna-se temerosa da vida.
A perda da autenticidade também ocorre a nível social. Os valores pessoais são sacrificados por questão de dinheiro e poder. A produção em massa rouba a autenticidade do produto do esforço, enquanto a publicidade faz da zombaria uma virtude. Numa cultura tecnológica, os únicos valores reconhecidos são dinheiro, poder e sucesso. Autenticidade é uma coisa do passado, atualmente representada por peças genuínas de antiquário. Daí o seu valor.
Numa cultura tecnológica, os únicos valores reconhecidos são dinheiro, poder e sucesso. Autenticidade é uma coisa do passado, atualmente representada por peças genuínas de antiquário. Daí o seu valor.
O modo ter baseia-se em relacionamentos possessivos. O si-mesmo é enxergado como um eu que tem esposa, casa, carro, emprego, até um corpo. Uma vez que o eu tem um corpo é o ego, o modo ter representa uma posição egocêntrica. Este modo desenvolveu-se a partir da propriedade privada, do poder e do lucro, dependendo destes fatores. Seu foco incide sobre o indivíduo ao invés de sobre a comunidade. O modo ser, por outro lado, fundamenta-se no amar, no dar, e em relacionamentos compartilhados. Neste modo, a medida do si-mesmo não é dada em termos do que a pessoa possui, mas sim em termos do quanto ela dá ou ama. No modo ser, a pessoa encotra sua identidade através de sua responsabilidade para com a comunidade.
O modo possessivo não só reduz o ser como ainda restringe a liberdade. As coisas que possuímos nos possuem. Somos possuídos por nossas posses, no sentido de termos de pensar a respeito delas, nos preocupar com elas, cuidar delas. Não estamos livres para dar-lhes as costas e irmos em frente porque, para muitos de nós, elas representam nossa identidade, nossa segurança, até mesmo nossa sanidade.
Achamos que não se pode ser livre a menos que se tenha posses; portanto, desperdiçamos a vida tentando fazer fortuna, descobrindo tarde demais que sacrificamos nossa liberdade. Não nos damos conta de que a liberdade vale mais do que qualquer fortuna, pois sem liberdade não podemos ‘ser’.
Os neuróticos estão sempre tentando se modificar usando a força de vontade, mas isso serve apenas para torná-los mais neuróticos. A saúde emocional só pode ser atingida com autoconsciência e autoaceitação. O esforço para mudar o próprio ser só os enreda mais profundamente no destino que estão tentando evitar.
Quando vencer é mais importante do que jogar, a atividade ou o esporte não são mais um jogo, mas um trabalho.
”Uma árvore cresce mais alto quanto mais suas raízes se afundarem em extensão e profundidade. (…) Na terapia, cada deslocamento para trás confere a energia necessária ao salto para frente. Regressão e progressão andam lado-a-lado.”
A força de vontade depende da força do ego. Podemos dizer que a pessoa com um ego forte tem uma vontade forte.
As pessoas que não têm medo de viver, não temem morrer.
Na qualidade de adultos, não podemos ser traídos a menos que sejamos ingênuos. Se somos ingênuos, traímos a nós mesmos, negando nosso passado.
O herói é mais caracterizado como ele vive do que como ele morre.
Numa cultura em que o progresso é um valor importante, o conflito entre as gerações irá inevitavelmente se desenvolver.
Os seres humanos são os únicos animais capazes de ações ditadas pela vontade. Através de sua vontade, o homem transcende sua natureza animal e cria cultura mas, neste processo, afasta-se da natureza e se torna vulnerável a doenças.
O pai se ressente da ideia de que o filho tenha uma vida melhor do que a que ele teve. “Por que você deveria ter uma vida melhor do que a que eu tive?” – eis aí uma sensação ignorada por muitos pais com respeito aos filhos.
Em nossa cultura, quando uma criança não vai bem na escola, o pai considera geralmente o fracasso do filho como sinal de seu próprio fracasso. Pela mesma razão, o êxito do filho infla o ego do pai.
Racionalizamos o impulso de poder falando de segurança, de confortos materiais, das conveniências asseguradas pelos mesmos mas, quando todas essas necessidades estão satisfeitas, o impulso para ter mais dinheiro e mais poder prossegue.
Ter êxito significa vencer o pai, e, portanto, ter a mãe.
O vidente pode prever o futuro porque ele não consegue ver o interior da natureza das coisas. Mas Tirésias era cego: a visão do profeta não é uma função de consciência do ego, como a visão comum, mas sim do inconsciente, ou da função divina do hemisfério direito, (…).
Um terapeuta ideal seria como o profeta Tirésias, capaz de ler o caráter e predizer o destino.
As pessoas que não são envolvidas com seus egos, que conservam uma forte identificação com sua natureza animal, não temem a morte.
O dilema humano emerge porque o esforço para superar a natureza ou o destino podem levar a um destino mais terrível do que aquele que a pessoa está tentando evitar. Assim, parece que quanto maior for a segurança externa que o homem construir para si mesmo, maior a sua insegurança interior. Da mesma forma, parece que quanto maior for a liberdade externa que conquistar, menos liberdade interna terá.
Somente quando se tiver perdido a liberdade é que se poderá ter consciência do que é liberdade. A consciência se desenvolve através da identificação de oposições.
Toda reação depressiva tem como base a perda do amor da mãe.
Parece sensato aprender a sofrer colapsos em situações apropriadas e desistir de conflitos desnecessários. A queda devolve a pessoa à segurança sólida da terra e permite que ela renove suas energias e forças nas fontes de seu ser. Pode-se lembrar da estória da luta entre Hércules com Anteu, o filho de Gaia, a Mãe Terra.
Não se pode construir nem uma fé sustentadora nem uma autoestima verdadeira com um interesse limitado pela vida.
Se nenhuma raiva for sentida em uma perda, nenhuma tristeza real poderá ser experimentada e não terá lugar uma lamentação adequada. É da natureza dos seres humanos protestar contra sua dor e não sufocar o protesto masoquisticamente. Logo, parece estranho que nossa cultura admire tanto um indivíduo que consegue encarar a morte estoicamente sem mostrar nenhuma emoção. Qual a grande virtude que há na repressão das emoções? Este comportamento pode revelar que o ego da pessoa domina e controla o corpo, mas também indica que um aspecto importante de sua humanidade está perdido.
Os protestos de massa que estão se tornando parte do cotidiano norte-americano são uma reação contra a submissão emocional que atrela o homem à máquina.
O amor não pode ser separado da liberdade e do prazer. Ninguém ama verdadeiramente alguém se limita a liberdade dessa pessoa ser ela mesma, de se expressar e de agir por si mesma. Por esse mesmo prisma, não se devia falar de amor e causar dor. (…) As ações do amor são ditadas pelo coração, e não pela cabeça.
Quando os pais assumem o direito de punir, colocam-se no lugar de um juiz. Devem julgar o comportamento da criança para decidir se ela merece ser punida e quanto. O próprio ato do julgamento quebra uma relação baseada no amor. O amor exige compreensão, enquanto que o julgamento exige onisciência.
As pessoas fortes têm fé e as pessoas que têm fé são fortes.
Tanto para a sociedade como para o indivíduo a fé é a força que sustenta a vida e a faz movimentar-se para diante e para cima. Portanto, é a força que relaciona o homem com o futuro.
As pessoas que colocam sua confiança no poder nunca parecem ter o suficiente para estarem completamente seguras. Isso é porque não há a segurança completa.
A confiança no poder para garantir segurança é uma ilusão que corrói a fé verdadeira na vida e leve inevitavelmente à destruição. Além do fato que não se pode ter poder suficiente, há também a possibilidade de sua perda. Ao contrário da fé, o poder é uma força impessoal e não parte do ser de uma pessoa. Está sujeito à apropriação por outra pessoa ou outro país. Uma vez que as pessoas cobiçam o poder, o homem que o possui é invejado. Entre outras coisas ele não pode descansar em paz, porque sabe que os outros estarão eternamente fazendo esquemas e manipulações para roubar seu poder. Então o poder cria uma estranha contradição: enquanto parece propiciar um grau de segurança externa, também cria um estado de insegurança interna tanto dentro do indivíduo como no seu relacionamento com os outros.
Enquanto a fé une, o poder divide.
É a natureza humana que determina a história e não o contrário. Se é verdade que um orgulho arrogante vem antes da queda de um indivíduo, também é verdade (…) que a autoidolatria de um povo é uma das causas de sua queda espiritual coletiva. (…) Um ego inflado, tanto pessoal como nacional, precede e pode ser responsável pela quebra da estrutura social tanto quanto da personalidade individual.
Os valores do ego são individualidade, controle e conhecimento. Através do conhecimento conseguimos mais controle e nos tornamos mais individuais.
O princípio patriarcal representa o ego, a razão, as crenças e a cultura enquanto que o princípio matriarcal representa o corpo, sentimento, fé e natureza.
O princípio patriarcal representa o ego, a razão, as crenças e a cultura enquanto que o princípio matriarcal representa o corpo, sentimento, fé e natureza. (…) até que o princípio matriarcal seja restaurado em seu lugar de direito como um valor igual embora polarizado, podemos antecipar que a depressão se tornará endêmica na nossa cultura.
Para um homem ou uma mulher que não conseguiu o amor necessário na infância, meu conselho é “Esqueça”. Uma vez que se chegou à idade adulta o assunto está encerrado. A volta à infância é impossível. Se uma pessoa tentar isso, irá sacrificar o seu presente – isto é, sua vida adulta nessa tentativa vã. As necessidades que parecem tão imperiosas quando se é pequeno e dependente não têm sentido agora. O seio não pode mais satisfazer plenamente um adulto. O colo e o apoio tão vitais nos primeiros anos não adicionam nada à independência e maturidade. Deve-se aceitar sua perda e continuar vivendo e crescendo.
Só estamos em contato com o outro quando a energia do nosso organismo está em contato e excita a energia do outro organismo. E só estamos em contato com a vida quando nossa energia ou sentimento se dirige para a vida à nossa volta. Então sentimos o prazer e a alegria que esse contato nos proporciona e conhecemos o sentimento da fé.
O caos que caracteriza a vida instintiva da maior parte das crianças e adultos, é produto de forças exteriores que perturbam essa harmonia.
O superego, portanto, é uma parte do ego que se tornou inconsciente e que usa as energias deste, a fim de bloquear os impulsos do id de modo tal, que empobreça e limite o ego.
O olho consciente pode ser enganado pela aparência das coisas, que muitas vezes contradiz sua verdadeira natureza. No caso de pessoas, é regra geral que, quanto mais elaborada a fachada, mais vazio é o interior.
Sabedoria significa ver o âmago das coisas sob a superfície de nossas contradições, onde não há bom ou mau, certo ou errado. Significa ver o ser humano como o animal que é, lutando para obter segurança e ainda ser livre, ser produtivo mas também jovial, buscar prazer mas também conhecer a dor, ansiar pela transcendência e não obstante contentar-se por estar contido num corpo finito. É saber que o amor não existe sem a possibilidade do ódio. É saber que há a hora de viver e a hora de morrer. É conhecer a glória do desabrochar da vida que parece esmaecer depressa demais, mas deixa atrás de si uma semente que brotará no momento certo. É saber que existimos para celebrar a vida.
Estar cheio de vida é respirar profundamente, mover-se livremente e sentir com intensidade.
O ritmo, a pressão e a filosofia de nossos tempos são antitéticos à vida.
Não existe apenas uma saída que desvende todos os mistérios da condição humana.
A superênfase dada ao poder em nossa cultura coloca o ego contra o corpo e a sua sexualidade, criando um antagonismo entre ambas as motivações, quando o ideal seria o apoio e o reforço comum entre elas.
Ninguém é exceção a regra de que o aprendizado ocorre através do reconhecimento dos erros.
“Como adultos, nós temos muitas inibições quanto a chorar. Nós sentimos que é uma expressão de fraqueza, ou feminilidade ou infantilidade. A pessoa que tem medo de chorar está com medo do prazer. Isto porque a pessoa que tem medo de chorar se mantém conjuntamente rígida para não chorar; ou seja, a pessoa rígida está tão com medo do prazer quanto está com medo de chorar. Em uma situação de prazer ela vai ficar ansiosa. (…) Sua ansiedade nada mais é do que o conflito entre seu desejo de se soltar e seu medo de se soltar. Este conflito surgirá sempre que o prazer é forte o suficiente para ameaçar a sua rigidez.
Desde que a rigidez se desenvolve como um meio para bloquear as sensações dolorosas, a liberação de rigidez ou a restauração da mobilidade natural do corpo vai trazer essas sensações dolorosas à tona. Em algum lugar em seu inconsciente o indivíduo neurótico está ciente de que o prazer pode evocar os fantasmas reprimidas do passado. Pode ser que tal situação seja responsável pelo ditado “Não há prazer sem dor.”
– Alexander Lowen, A Voz do Corpo –
”Todo rio se enche às vezes sob além do limite de suas margens. Se isto acontecer permanentemente, as margens serão destruídas e teremos um lago e não mais um rio. Mas o lago é estático, ao passo que o rio flui.
Trata-se de uma das contradições da vida o fato de o fluxo dever ser contido para que se mantenha em movimento.”
Depois de desistirmos de nosso verdadeiro self para desempenharmos um papel, estamos destinados a sermos rejeitados porque já rejeitamos a nós mesmos.
A pessoa neurótica tem medo de abrir seu coração ao amor, teme estender a mão para pedir ou agredir; amedronta-a ser plenamente si mesma.
Será destino do homem moderno, ser neurótico, ter medo da vida? Sim, é a minha resposta, se por homem moderno definirmos o membro de uma cultura cujos valores predominantes sejam o poder e o progresso. Uma vez que são estes os valores que assinalam a cultura ocidental no século vinte, decorre que toda pessoa criada na mesma é neurótica.
Quando alguém constrói um castelo para proteger sua liberdade, acaba prisioneiro de sua obra porque não ousa mais sair de lá.
Não se pode assegurar a paz estocando armas, porque os exércitos, pela própria natureza, provocam a guerra.
A tentativa de superar um problema de personalidade negando-o (“não vou ficar com medo”) apenas o internaliza e garante sua manutenção.
A supressão de um sentimento não o faz desaparecer; só o empurra mais para baixo, mais fundo, até a inconsciência. Com esta manobra, internalizamos o problema.
Independentemente da forma como nascemos, é o modo como fomos criados que determina nosso destino e nossa sorte.
O crescimento acontece natural e espontaneamente quando a energia está disponível. Mas quando usamos nossas energias numa luta contra nosso caráter (destino), não nos resta energia para crescer nem para o processo de cura natural.
O instinto descreve um ato ou uma força que promove o processo de vida. (…) O destino é um princípio passivo. Descreve o modo como as coisas são.
A compulsão à repetição pode ser entendida como resultado de uma ruptura da personalidade, que fixa a pessoa num determinado padrão de comportamento que ela não consegue modificar. (…). Mas a compulsão à repetição pode ser vista como uma tentativa da personalidade de retornar à situação em que permaneceu fixada, na esperança de algum dia se libertar.
Em termos gerais, o caráter se forma em resultado do conflito entre a natureza e a cultura, entre as necessidades instintivas da criança e as exigências da cultura, agindo através dos pais. (…) Este processo de adaptação de uma criança ao sistema viola seu espírito. Ela desenvolve um caráter neurótico e torna-se temerosa da vida.
A perda da autenticidade também ocorre a nível social. Os valores pessoais são sacrificados por questão de dinheiro e poder. A produção em massa rouba a autenticidade do produto do esforço, enquanto a publicidade faz da zombaria uma virtude. Numa cultura tecnológica, os únicos valores reconhecidos são dinheiro, poder e sucesso. Autenticidade é uma coisa do passado, atualmente representada por peças genuínas de antiquário. Daí o seu valor.
Numa cultura tecnológica, os únicos valores reconhecidos são dinheiro, poder e sucesso. Autenticidade é uma coisa do passado, atualmente representada por peças genuínas de antiquário. Daí o seu valor.
O modo ter baseia-se em relacionamentos possessivos. O si-mesmo é enxergado como um eu que tem esposa, casa, carro, emprego, até um corpo. Uma vez que o eu tem um corpo é o ego, o modo ter representa uma posição egocêntrica. Este modo desenvolveu-se a partir da propriedade privada, do poder e do lucro, dependendo destes fatores. Seu foco incide sobre o indivíduo ao invés de sobre a comunidade. O modo ser, por outro lado, fundamenta-se no amar, no dar, e em relacionamentos compartilhados. Neste modo, a medida do si-mesmo não é dada em termos do que a pessoa possui, mas sim em termos do quanto ela dá ou ama. No modo ser, a pessoa encotra sua identidade através de sua responsabilidade para com a comunidade.
O modo possessivo não só reduz o ser como ainda restringe a liberdade. As coisas que possuímos nos possuem. Somos possuídos por nossas posses, no sentido de termos de pensar a respeito delas, nos preocupar com elas, cuidar delas. Não estamos livres para dar-lhes as costas e irmos em frente porque, para muitos de nós, elas representam nossa identidade, nossa segurança, até mesmo nossa sanidade.
Achamos que não se pode ser livre a menos que se tenha posses; portanto, desperdiçamos a vida tentando fazer fortuna, descobrindo tarde demais que sacrificamos nossa liberdade. Não nos damos conta de que a liberdade vale mais do que qualquer fortuna, pois sem liberdade não podemos ‘ser’.
Os neuróticos estão sempre tentando se modificar usando a força de vontade, mas isso serve apenas para torná-los mais neuróticos. A saúde emocional só pode ser atingida com autoconsciência e autoaceitação. O esforço para mudar o próprio ser só os enreda mais profundamente no destino que estão tentando evitar.