O que finalmente eu mais sei sobre a moral e as obrigações do homem devo ao futebol…
Vou-lhe dizer um grande segredo, meu caro. Não espere o juízo final. Ele realiza-se todos os dias.
Fazer sofrer é a única maneira de se enganar.
Quando procuro o que há de fundamental em mim, é o gosto da felicidade que eu encontro.
Não se pode criar experiência. É preciso passar por ela.
Não ser amado é falta de sorte, mas não amar é a própria infelicidade.
A tentação mais perigosa: não se parecer com nada.
A imaginação oferece às pessoas consolação por aquilo que não podem ser e humor por aquilo que efectivamente são.
A estupidez insiste sempre.
Fazer sofrer é a única maneira de nos enganarmos.
Tenho uma pátria: a língua francesa.
Sem a cultura, e a liberdade relativa que ela pressupõe, a sociedade, por mais perfeita que seja, não passa de uma selva. É por isso que toda a criação autêntica é um dom para o futuro.
O homem tem duas faces: não pode amar ninguém, se não se amar a si próprio.
Não há que ter vergonha de preferir a felicidade.
Não há ordem sem justiça.
Nenhum homem é hipócrita nos seus prazeres.
A criação é a mais eficaz de todas as escolas de paciência e de lucidez.
O absurdo é a razão lúcida que constata os seus limites.
O homem é a criatura que, para afirmar o seu ser e a sua diferença, nega.
Toda a infelicidade dos homens nasce da esperança.
Toda a infelicidade dos homens provém da esperança.
Não é nenhuma vergonha ser-se feliz; vergonhoso é ser feliz sozinho.
Se o homem falhar em conciliar a justiça e a liberdade, então falha em tudo.
Todo o cumprimento é uma sujeição. Obriga a um cumprimento maior.
Antes, a questão era descobrir se a vida precisava de ter algum significado para ser vivida. Agora, ao contrário, ficou evidente que ela será vivida melhor se não tiver significado.
Todas as revoluções modernas contribuíram para o fortalecimento do Estado.
A grandeza do homem consiste na sua decisão de ser mais forte que a condição humana.
Não quero ser um gênio… Já tenho problemas suficientes ao tentar ser um homem.
Amar uma pessoa significa querer envelhecer com ela.
O homem não é nada em si mesmo. Não passa de uma probabilidade infinita. Mas ele é o responsável infinito dessa probabilidade.
Já é vender a alma não saber contentá-la.
A verdadeira generosidade para com o futuro consiste em dar tudo ao presente.
A grandeza consiste em tentar ser grande. Não há outro meio.
O heroísmo de pouco vale, a felicidade é mais difícil.
Não é o sofrimento das crianças que se torna revoltante em si mesmo, mas sim que nada justifica tal sofrimento.
Respiro a única felicidade que sou capaz – uma consciência atenciosa e cordial. Passeio o dia todo(…) cada ser que encontro, cada cheiro dessa rua, tudo é pretexto para amar sem medida. Jovens mulheres supervisionam uma colônia de férias, a trombeta do vendedor de sorvetes, as barracas de frutas, melancias vermelhas com caroços negros, uvas translúcidas e meladas – tantos apoios para quem não sabe ser só. Mas a flauta ácida e terna das cigarras, o perfume de águas e de estrelas que se encontram nas noites de setembro, os caminhos aromáticos entre as árvores de pistache e os juncos. tantos sinais de amor para quem é forçado a ser só.
Caminhamos ao encontro do amor e do desejo. Não buscamos lições, nem a amarga filosofia que se exige da grandeza. Além do sol, dos beijos e dos perfumes selvagens, tudo o mais nos parece fútil. Quanto a mim, não procuro estar sozinho nesse lugar. Muitas vezes estive aqui com aqueles que amava, e discernia em seus traços o claro sorriso que neles tomava a face do amor. Deixo a outros a ordem e a medida. Domina-me por completo a grande libertinagem da natureza e do mar.
Se amar bastasse, as coisas seriam simples.
Quanto mais se ama, mais se consolida o absurdo.
Mas do amor só conheço a mistura de desejo,
ternura e entendimento que me liga a determinado ser.
Por que seria preciso amar raramente para amar muito?
Julgavam-se livres e nunca alguém será livre enquanto houver flagelos.
Revolto-me, logo existo.
A vida é a soma das suas escolhas.
Somos responsáveis por aquilo que fazemos, o que não fazemos e o que impedimos de fazer.
Somos responsáveis por aquilo que fazemos, o que não fazemos e o que impedimos de ser feito.
Amar é sorrir por nada e ficar triste sem motivos, é sentir-se só no meio da multidão, é o ciúme sem sentido, é ser feliz de verdade.
Amar é…
sorrir por nada e ficar triste sem motivos
é sentir-se só no meio da multidão,
é o ciúme sem sentido,
o desejo de um carinho;
é abraçar com certeza e beijar com vontade,
é passear com a felicidade,
é ser feliz de verdade!
E no meio de um inverno eu finalmente
aprendi que havia dentro de mim
um verão invencível.
A vida é breve e perder tempo é burrice.
O Homem é a única criatura que se recusa a ser o que é.
Um homem é mais homem pelas coisas que silencia do que pelas que diz. Vou silenciar muitas. (…) Sabendo que não há causas vitoriosas, gosto das causas perdidas: elas exigem uma alma inteira, tanto na derrota quanto nas vitórias passageiras. (…) Criar é viver duas vezes. (…) Todos tentam imitar, repetir e recriar sua própria realidade. Sempre acabamos adquirindo o rosto das nossas verdades.
Abençoados os corações flexíveis;
Pois nunca serão partidos.
“É-nos impossível saber com segurança se Deus existe ou não existe. Por isso, só nos resta apostar. Se apostarmos que Deus não existe e ele existir, adeus vida eterna, Alô, danação! Se apostarmos que Deus existe e ele não existir, não faz a menor diferença, ficamos num zero a zero metafísico”
O êxito é fácil de obter. O difícil é merecê-lo.
They had thought with some reason that there is no more dreadful punishment then futile and hopeless labor.
Charme é um meio de obter um sim sem fazer uma pergunta clara.
A amizade pode convertir-se em amor. O amor em amizade…nunca.
Nada é mais despreciável que o respeito baseado no medo.
Não existe pátria para quem desespera e, quanto a mim, sei que o mar me precede e me segue, e minha loucura está sempre pronta. Aqueles que se amam e são separados podem viver sua dor, mas isso não é desespero: eles sabem que o amor existe. Eis porque sofro, de olhos secos, este exílio. Espero ainda. Um dia chega, enfim…
A vida é a soma de todas as suas escolhas.
Mas só há um mundo. A felicidade e o absurdo são dois filhos da mesma terra. São inseparáveis. O erro seria dizer que a felicidade nasce forçosamente da descoberta absurda. Acontece também que o sentimento do absurdo nasça da felicidade. – Acho que tudo está bem-, diz Édipo e essa frase é sagrada. Ressoa no universo altivo e limitado do homem. Ensina que nem tudo está perdido, que nem tudo foi esgotado. Expulsa deste mundo um deus que nele entrara com a insatisfação e o gosto das dores Inúteis. Faz do destino uma questão do homem, que deve ser tratado entre homens. Toda a alegria silenciosa de Sísifo aqui reside. O seu destino pertence-lhe.
Já se disse que as grandes idéias vêm ao mundo mansamente, como pombas. Talvez, então, se ouvirmos com atenção, escutaremos, em meio ao estrépito de impérios e nações, um discreto bater de asas, o suave acordar da vida e da esperança. Alguns dirão que tal esperança, jaz numa nação; outros, num homem. Eu creio, ao contrário, que ela é despertada, revivificada, alimentada por milhões de indivíduos solitários, cujos atos e trabalho, diariamente, negam as fronteiras e as implicações mais cruas da história. Como resultado, brilha por um breve momento a verdade, sempre ameaçada, de que cada e todo homem, sobre a base de seus próprios sofrimentos e alegrias, constrói para todos.
Compreender e sentir são inseparáveis.
O sinal da juventude talvez seja uma extraordinária vocação para as felicidades fáceis.
Por que sou um artista e não um filósofo? É que penso segundo as palavras e não segundo as idéias.
Mas os meus escritos são as minhas horas de felicidade. Mesmo naquilo que eles tiverem de cruel. Preciso escrever assim como preciso de respirar, porque o corpo me exige.
Você sabe o que é o encanto? É ouvir um sim como resposta sem ter perguntado nada.
Só conheço uma obrigação: a de amar
Outono é outra primavera, cada folha uma flor.
Não se pode viver sem razão.
Sempre acabamos adquirindo o rosto das nossas verdades.
Os tristes têm duas razões para o ser: ignoram ou esperam.
Não há grandes dores, nem grandes arrependimentos, nem grandes recordações. Tudo se esquece, até mesmo os grandes amores. É o que há de triste e ao mesmo tempo de exaltante na vida. Há apenas uma certa maneira de ver as coisas, e ela surge de vez em quando. É por isso que, apesar de tudo, é bom ter tido um grande amor, uma paixão infeliz na vida. Isso constitui pelo menos um álibi para os desesperos sem razão que se apoderam de nós.
O que é um rebelde? Um homem que sabe dizer não.
(…) Mesmo sentado em um banco dos réus é sempre interessante ouvir falar da gente.
Não há amor generoso senão aquele que se sabe ao mesmo tempo passageiro e singular
Aqueles que se amam e são separados podem viver sua dor, mas isso não é desespero: eles sabem que o amor existe.
A primeira coisa que um bom cientista faz quando está diante de uma descoberta importante e tentar provar que ela esta errada.
Amo ou venero poucas pessoas. Por todo o resto, tenho vergonha de minha indiferença. Mas aqueles que amo, nada jamais conseguirá fazer com que eu deixe de amá-los, nem eu próprio e principalmente nem eles mesmos.
Criar é dar forma ao próprio destino.
O esforço para alcançar o topo é por si só suficiente para completar o coração do homem.
No meio do inverno, aprendi que existia em mim um invencível verão.
Não ser amado é uma simples desventura. A verdadeira desgraça é não saber amar.
…compreendi que agir, amar, sofrer, tudo isso é, na verdade, viver, mas é viver na medida em que se é lúcido e se aceita o destino, como o reflexo único de um arco-íris de alegrias e de paixões, que é igual para todos.
Assim como não concebia uma felicidade sobre-humana, também não conseguia conceber uma eternidade além da curva dos dias. A felicidade era humana e a eternidade quotidiana. Tudo resumia-se em saber humilhar-se, harmonizar o coração ao ritmo dos dias, em vez de obrigá-los a seguir a curva de nossa esperança.
Da mesma forma que é necessário, em arte, saber parar, pois chega sempre um momento em que uma escultura não deve ser mais tocada, e que, para isso, a vontade da inteligência serve melhor ao artista do que os mais amplos recursos da clarividência, assim também é necessário um mínimo de ininteligência para se conseguir uma existência feliz. E quem não a tiver, tem de conquistá-la.
O erro é acreditar que é preciso escolher, que é preciso fazer aquilo que se quer, e que, para ser feliz, existem condições. A única coisa que conta é a vontade de felicidade, uma espécie de enorme consciência, sempre presente. O resto, mulheres, obras de arte ou sucessos mundanos, são apenas pretextos. É uma tela em branco que aguarda nossos bordados.
Nada no mundo vale que nos afastemos daquilo que amamos. E, contudo, também eu me afasto, sem que possa saber porquê.
Talvez devamos amar o que não conseguimos compreender.
Ela refletia tudo sem nunca refletir, e que, com tanto silêncio e sombra, conseguia ficar à altura de qualquer luz.
Como deve ser duro viver somente com o que se sabe e que se tem lembrança, privado do que se espera.
Envelhecer
Envelhecer é o único meio de viver muito tempo.
A idade madura é aquela na qual ainda se é jovem, porém com muito mais esforço.
O que mais me atormenta em relação às tolices de minha juventude não é havê-las cometido… e sim não poder voltar a cometê-las.
Envelhecer é passar da paixão para a compaixão.
Muitas pessoas não chegam aos oitenta porque perdem muito tempo tentando ficar nos quarenta.
Aos vinte anos reina o desejo, aos trinta reina a razão, aos quarenta o juízo.
O que não é belo aos vinte, forte aos trinta, rico aos quarenta, nem sábio aos cinquenta, nunca será nem belo, nem forte, nem rico, nem sábio…
Quando se passa dos sessenta, são poucas as coisas que nos parecem absurdas.
Os jovens pensam que os velhos são bobos; os velhos sabem que os jovens o são.
A maturidade do homem é voltar a encontrar a serenidade como aquela que se usufruía quando se era menino.
Nada passa mais depressa que os anos.
Quando era jovem dizia:
“Verás quando tiver cinquenta anos”.
Tenho cinquenta anos e não estou vendo nada.
Nos olhos dos jovens arde a chama, nos olhos dos velhos brilha a luz.
A iniciativa da juventude vale tanto a experiência dos velhos.
Sempre há um menino em todos os homens.
A cada idade lhe cai bem uma conduta diferente.
Os jovens andam em grupo, os adultos em pares e os velhos andam sós.
Feliz é quem foi jovem em sua juventude e feliz é quem foi sábio em sua velhice.
Todos desejamos chegar à velhice e todos negamos que tenhamos chegado.
Não entendo isso dos anos: que, todavia, é bom vivê-los, mas não tê-los.
Não desejo mais ser feliz, e sim apenas estar consciente
Qualquer realização é uma servidão. Obriga a uma realização mais elevada.
Eu não creio na sua ressurreição, mas não ocultarei a emoção que sinto diante de Cristo e dos seus ensinamentos. Perante Ele e a sua história não experimento senão respeito e reverência.
Cristo morreu sem saber… Deixou-nos sós para continuar… mesmo quando estamos na masmorra, sabendo o que Ele sabia, mas incapazes de fazer o que Ele fez, incapazes de morrer como Ele.
A certeza de um Deus, que desse o seu sentido à vida, supera muito em atracção o poder impune de fazer o mal.
A revolta é uma ascese, se bem que cega. Porque o revoltado blasfema na esperança de um novo Deus.
“Da caixa de Pandora, na qual fervilhavam os males da humanidade, os gregos fizeram sair a esperança em último lugar, por considerá-la o mais terrível de todos. Não conheço símbolo algum mais emocionante do que este.
“A necessidade de ter razão: sinal de espírito vulgar.”
E nunca me senti tão profundo e ao mesmo tempo, tão alheio de mim e tão presente no mundo.
O que é chamado de ceticismo das novas gerações – mentira.
Desde quando o homem honesto que se recusa a acreditar no mentiroso é que é o cético?
Compreendi que não bastava denunciar a injustiça. Era preciso dar a vida para combatê-la.
Os intelectuais fazem a teoria, as massas a economia. Finalmente, os intelectuais utilizam as massas e através deles a teoria utiliza a economia.
Por isso é-lhes necessário manter o estado de sítio e a servidão econômica – para que as massas continuem a ser massas manobráveis.
É bem certo que a economia constitui a matéria da história. As ideias contentam-se com conduzi-la.
Camus (teoria e prática)
Um homem é mais homem pelas coisas que silencia do que pelas coisas que diz. Vou silenciar muitas. Sabendo que não há causas vitoriosas, gosto das causas perdidas: elas exigem uma alma inteira, tanto na derrota quanto nas vitórias passageiras. Criar é viver duas vezes… Todos tentam imitar, repetir e recriar sua própria realidade. Sempre acabamos adquirindo o rosto das nossas verdades.
“Marx foi o único que compreendeu que uma religião que não invoca a transcendência deveria ser chamada de política. . .”.
Não há somente a desgraça de não ser amado;
há a infelicidade de não amar.
Morremos todos desta desgraça!
«Os tristes têm duas razões para o ser: ignoram ou esperam»
«O que é, com efeito, o homem absurdo? Aquele que, sem o negar, nada faz pelo eterno»
«A verdadeira generosidade em relação ao futuro consiste em dar tudo no presente»
«Eu amo a vida, eis a minha verdadeira fraqueza. Amo-a tanto, que não tenho nenhuma imaginação para o que não for vida»
«Não há amor generoso senão aquele que se sabe ao mesmo tempo passageiro e singular»
«Na luz, o mundo continua a ser nosso primeiro e último amor»
«Nasce então a estranha alegria que nos ajuda a viver e a morrer e que, de agora em diante, não recusamos a adiar para mais tarde. Na terra dolorosa, ela é o joio inesgotável, o amargo alimento, o vento forte que vem dos mares, a antiga e a nova aurora»
«A característica do homem absurdo é não acreditar no sentido profundo das coisas. Ele percorre, armazena e queima os rostos calorosos ou maravilhados. O tempo caminha com ele. O homem absurdo é aquele que não se separa do tempo»
«Um grande escritor sempre traz consigo seu mundo e sua prédica»
«A revolta nasce do espetáculo da desrazão diante de uma condição injusta e incompreensível»
«Chamo verdade a tudo o que continua…»
«Eu não creio em Deus, é verdade. Mas nem por isso sou ateu»
«Mas só há um mundo. A felicidade e o absurdo são dois filhos da mesma terra. São inseparáveis. O erro seria dizer que a felicidade nasce forçosamente da descoberta absurda. Acontece também que o sentimento do absurdo nasça da felicidade. “Acho que tudo está bem”, diz Édipo e essa frase é sagrada. Ressoa no universo altivo e limitado do homem. Ensina que nem tudo está perdido, que nem tudo foi esgotado. Expulsa deste mundo um deus que nele entrara com a insatisfação e o gosto das dores Inúteis. Faz do destino uma questão do homem, que deve ser tratado entre homens. Toda a alegria silenciosa de Sísifo aqui reside. O seu destino pertence-lhe»
«Não existe pátria para quem desespera e, quanto a mim, sei que o mar me precede e me segue, e minha loucura está sempre pronta. Aqueles que se amam e são separados podem viver sua dor, mas isso não é desespero: eles sabem que o amor existe. Eis porque sofro, de olhos secos, este exílio. Espero ainda. Um dia chega, enfim…»
«Caminhamos ao encontro do amor e do desejo. Não buscamos lições, nem a amarga filosofia que se exige da grandeza. Além do sol, dos beijos e dos perfumes selvagens, tudo o mais nos parece fútil. Quando a mim, não procuro estar sozinho nesse lugar. Muitas vezes estive aqui com aqueles que amava, e discernia em seus traços o claro sorriso que neles tomava a face do amor. Deixo a outros a ordem e a medida. Domina-me por completo a grande libertinagem da natureza e do mar»
«Igualmente enfermo, cúmplice e ruidoso, acaso não lancei meus gritos por entre as pedras? Também eu esforço-me por esquecer, caminho através de nossas cidades de ferro e fogo, sorrio corajosamente à tristeza, chamo ao longe as tempestades, serei fiel. Em verdade esqueci: sou ativo e surdo a partir desse momento. Mas um dia talvez, quando estivermos prestes a morrer de esgotarem e ignorância, eu possa renunciar aos nossos túmulos espalhafatosos para ir deitar-me no vale sob a mesma luz, e possa aprender pela última vez aquilo que sei
Eu amo a vida, eis a minha verdadeira fraqueza. Amo-a tanto, que não tenho nenhuma imaginação para o que não for vida.
Nasce então a estranha alegria que nos ajuda a viver e a morrer e que, de agora em diante, não recusamos a adiar para mais tarde. Na terra dolorosa, ela é o joio inesgotável, o amargo alimento, o vento forte que vem dos mares, a antiga e a nova aurora.
A característica do homem absurdo é não acreditar no sentido profundo das coisas. Ele percorre, armazena e queima os rostos calorosos ou maravilhados. O tempo caminha com ele. O homem absurdo é aquele que não se separa do tempo.
Eu não creio em Deus, é verdade. Mas nem por isso sou ateu.
Só há um problema filosófico verdadeiramente sério: o suicídio. Julgar se a vida merece ou não ser vivida é responder uma questão fundamental da filosofia. O resto, se o mundo tem três dimensões, se o espírito tem nove ou doze categorias, vem depois. Trata-se de jogos; é preciso primeiro responder. E se é verdade, como quer Nietzsche, que um filósofo, para ser estimado, deve pregar com o seu exemplo, percebe-se a importância dessa reposta, porque ela vai anteceder o gesto definitivo. São evidências sensíveis ao coração, mas é preciso ir mais fundo até torná-las claras para o espírito. Se eu me pergunto por que julgo que tal questão é mais premente que tal outra, respondo que é pelas ações a que ela se compromete. Nunca vi ninguém morrer por causa do argumento ontológico. Galileu, que sustentava uma verdade científica importante, abjurou dela com a maior tranqüilidade assim que viu sua vida em perigo. Em certo sentido, fez bem. Essa verdade não valia o risco da fogueira. Qual deles, a Terra ou o Sol gira em redor do outro, é-nos profundamente indiferente.
«Caminhamos ao encontro do amor e do desejo. Não buscamos lições, nem a amarga filosofia que se exige da grandeza. Além do sol, dos beijos e dos perfumes selvagens, tudo o mais nos parece fútil. Quanto a mim, não procuro estar sozinho nesse lugar. Muitas vezes estive aqui com aqueles que amava, e discernia em seus traços o claro sorriso que neles tomava a face do amor. Deixo a outros a ordem e a medida. Domina-me por completo a grande libertinagem da natureza e do mar. »
«Aqui, compreendo o que se denomina glória:
o direito de amar sem medida. Existe apenas um único amor neste mundo. Estreitar um corpo de mulher e também reter de encontro a si essa alegria estranha que desce do céu para o mar. Daqui a pouco, quando me atirar no meio dos absintos, a fim de que seu perfume penetre meu corpo, terei consciência, contra todos os preconceitos, de estar realizando uma verdade que é a do sol e que será também a de minha morte. Em certo sentido, é justamente a minha vida que estou representando aqui, uma vida com sabor de pedra quente, repleta de suspiros do mar e de cigarras, que agora começam a cantar. A brisa é fresca e o céu, azul. Gosto imensamente desta vida e desejo falar sobre ela com liberdade: dá-me o orgulho de minha condição de homem. »
«Sobre o mar, o silêncio enorme do meio-dia. Todo ser belo tem o orgulho natural de sua beleza, e o mundo, hoje, deixa seu orgulho destilar por todos os poros. Diante dele, por que haveria de negar a alegria de viver, se conheço a maneira de não encerrar tudo nessa mesma alegria de viver?»
«Não há vergonha alguma em ser feliz.»
«Há um tempo para viver e um tempo para testemunhar a vida.Os deuses resplandecentes do dia retornarão à sua morte cotidiana. Mas outros deuses virão. E então, para serem mais sombrias, suas faces devastadas nascerão no coração da terra.»
«Penso agora em flores, sorrisos, desejo de mulher, e compreendo que todo o meu horror de morrer está contido em meu ciúme de vida. Sinto ciúme daqueles que virão e para os quais as flores e o desejo de mulher terão todo o seu sentido de carne e de sangue. Sou invejoso porque amo demais a vida para não ser egoísta… Quero suportar minha lucidez até o fim e contemplar minha morte com toda a exuberância de meu ciúme e de meu horror.»
(NÚPCIAS, O VERÃO)
A miséria é uma fortaleza sem ponte levadiça.
“Não há nenhuma vergonha em alguém ser feliz, mas seria vergonhoso ser feliz sozinho.”
O mundo assim como está não é suportável, por conseguinte, preciso da lua, da felicidade ou da imortalidade, de qualquer coisa que seja loucura, talvez, mas que não pertença a este mundo
-Calígula-
O essencial, portanto, não é remontar às origens das coisas, mas, sendo o mundo o que é, saber como conduzir-se nele.
Viva até às lágrimas.
Mas, no final, é preciso mais coragem para viver do que se matar.
O propósito de um escritor é impedir que a civilização se destrua.
Eu costumava anunciar a minha lealdade e não acredito que haja uma única pessoa que amei e não tenha, eventualmente, traído.
Um intelectual? Sim. E nunca nego. Um intelectual é alguém cuja mente vigia a si mesma. Eu gosto disso, porque sou feliz por ser duas metades, o observador e o observado. “Poderão elas ser unidas?” Esta é uma questão prática. Devemos começar logo. “Eu desprezo a inteligência” na verdade significa: “Eu não posso suportar minhas dúvidas”.
Para sermos felizes, não devemos estar muito preocupados com os outros.
Quando olho para a minha vida e suas cores secretas, sinto vontade de chorar.
Não se pode criar experiência. É preciso passar por ela.
A tentação mais perigosa: não se parecer com nada.
Toda a infelicidade dos homens provém da esperança.
Se o homem falhar em conciliar a justiça e a liberdade, então falha em tudo.
A fim de compreender o mundo, você tem de se afastar dele ocasionalmente.
Os homens só se convencem das nossas razões, da nossa sinceridade, da sinceridade
dos nossos sofrimentos, quando morremos.
A luta para fazer a pedra chegar a seu cume, basta para encher o coração de um homem
Existe apenas um único problema filosófico realmente sério: o suicídio. Julgar se a vida vale ou não a pena ser vivida significa responder à questão fundamental da filosofia.
Procurar o que é verdadeiro não é procurar o que é desejável.
Todo ato de rebeldia exprime uma nostalgia pela inocência e um apelo à essência do ser.
A ausência de Deus, deixando o homem responsável por si mesmo, o condena a se revoltar. “Do absurdo à revolta”, dizia Camus.
Uma imprensa livre pode, é claro, ser boa ou ruim, mas, certamente sem liberdade, a imprensa sempre será ruim.
O que era necessário era reconhecer claramente o que devia ser reconhecido, expulsar, enfim, as sombras inúteis, tomar as medidas que convinham.
Não é, pois, necessário precisar a maneira como se ama entre nós. Os homens e as mulheres ou se devoram rapidamente no chamado acto do amor, ou se entregam a um longo hábito entre dois. Também isso não é original. (…) por falta de tempo e de reflexão, é-se obrigado a amar sem o saber.
Mas os dias passam-se sem dificuldades desde que se tenham criado hábitos. Sob este aspecto, sem dúvida, a vida não é muito emocionante. Mas, ao menos, não se conhece entre nós a desordem.
Todas as grandes ações e todos os grandes pensamentos têm um começo ridículo.
Não sei se este mundo tem um sentido que o ultrapassa. Mas sei que não conheço esse sentido e que por ora me é impossível conhecê-lo.
E está justamente aí o gênio: a inteligência que conhece suas fronteiras.
O homem cotidiano não gosta de demorar. Pelo contrário, tudo o apressa. Ao mesmo tempo, porém, nada lhe interessa além de si mesmo, principalmente aquilo que poderia ser.
Todo homem sentiu-se em certos momentos igual a um deus.
Se Deus existe, tudo depende dele e nada podemos fazer contra a sua vontade. Se não existe, tudo depende de nós.
Para um homem que não trapaceia, o que ele acredita ser verdadeiro deve determinar sua ação.
… por entre lágrimas, disse que não recomeçaria, que fora apenas um momento de loucura e que desejava que o deixassem em paz
Pergunta: como fazer para não se perder tempo?
Resposta: senti-lo em toda a sua extensão
era a linguagem de um homem cansado do mundo em que vivia, mas que amava, contudo os seus semelhantes e estava decidido a recusar, pela sua parte, a injustiça das concessões
– A única coisa que me interessa – respondi-lhe- é encontrar a paz interior
Para o consolar, eu disse-lhe – “Mas acontece o mesmo a toda a gente!”
-Justamente- respondeu-me ele- , somos agora como toda a gente
A estupidez insiste sempre, e compreendê-la- íamos se não pensássemos sempre em nós
Num certo sentido, pode dizer-se que a sua vida era exemplar. Era desses homens que têm sempre a coragem dos bons sentimentos.
Mas estava a ler este romance. Aí está um desgraçado que é preso de repente, numa bela manhã. Ocupavam-se dele. e ele nada sabia. Acha que é justo? Acha que há direito de fazer isso a um homem?
Depois disse-lhe muito rapidamente que lhe pedia perdão, que devia ter olhado por ela e que a tinha desprezado muito (…)
– Tudo correrá melhor quando voltares. Recomeçaremos.
-Sim – concordou ela, com os olhos brilhantes – recomeçaremos.
Um momento depois voltava-lhe as costas e olhava através da janela. (…) e, quando ela se virou, viu que tinha o rosto coberto de lágrimas.
-Não- pediu ele com ternura. (…)
Ela respirou profundamente.
– Vai-te embora, tudo há de correr bem. (…)
Abraçou-a e, no cais, agora do outro lado do vidro, já não lhe via senão o sorriso
– Tem cuidado contigo, peço-te.
Mas ela não podia ouvi-lo.
Havia os sentimentos comuns, como a separação ou o medo, mas continuavam a pôr-se em primeiro plano as preocupações pessoais. A maior parte era sobretudo sensível ao que perturbava os seus hábitos ou atingia os seus interesses.
Gostei muito de ti, mas agora estou cansada… Não me sinto feliz por partir, mas não é necessário ser-se feliz para recomeçar
… mas olhava de novo para a criança, que não tinha deixado de o fitar com o seu olhar grave e tranquilo. E de repente, sem transição, o pequeno sorriu-lhe, mostrando todos os dentes.
«Filhos que tinham vivido junto da mãe mal olhando para ela punham toda a inquietação e angústia numa ruga do seu rosto que se fixava na sua recordação. Esta separação brutal, sem meio termo, sem futuro previsível, deixava-nos perturbados, incapazes de reagir contra a lembrança dessa presença, ainda tão próxima e já tão distante, que ocupava agora os nossos dias»
«Estávamos reduzidos ao nosso passado, e, ainda que alguns de nós tivessem a tentação de viver no futuro, rapidamente renunciavam»
“Sabíamos então que a nossa separação estava destinada a durar e que devíamos tentar entender-nos com o tempo”
“Impacientes do presente, inimigos do passado e privados do futuro, parecíamo-nos assim bastante com aqueles que a justiça ou o ódio humanos fazem viver atrás das grades”.
«Olhou para a mãe. O seu belo olhar castanho fez subir nele uma onde de ternura.
-Tens medo, mãe?
– Na minha idade, já se tem medo de pouca coisa»
” Era-lhes fácil (…) percorrer o seu amor e examinar-lhe as imperfeições. Em tempo normal, sabíamos todos, conscientemente ou não, que não há amor que não possa ser ultrapassado e, aceitávamos, portanto, com mais ou menos tranquilidade, que o nosso permanecesse medíocre.”
” Não me faz diferença esperar, desde que saiba que vais chegar. E quando cá não estás penso no que estás a fazer”
” Os homens são mais bons que maus, e, na verdade, a questão não está aí. Mas ignoram mais ou menos, e é a isso que se chama virtude ou vício, sendo o vício mais desesperado”
Chegavam até a imaginar que agiam ainda como homens livres, que podiam ainda escolher.
« Já não havia, então, destinos individuais, mas uma história colectiva»
Imaginar que os outros eram ainda menos livres que eles. “Há sempre quem seja mais prisioneiro que eu” era a frase que resumia a então única esperança possível.
« (…) tentavam sozinhos, com os seus falsos rostos de pedra ou de bronze, evocar uma imagem degradada do que tinha sido o homem»
… e a sociedade dos vivos receava durante todo o dia ser obrigada a ceder o passo à sociedade dos mortos. Era a evidência. Bem entendido, era sempre possível esforçar-se por não a ver, fechar os olhos e recusá-la, mas a evidência tem uma força terrível que acaba sempre por vencer. Qual o meio, por exemplo, de recusar os enterros no dia em que aqueles que amamos têm necessidade de ser enterrados?
“Um homem se julga sempre pelo equilíbrio que obtém entre as necessidades de seu corpo e as exigências de seu espírito”.
”O homem não é inteiramente culpado, não foi ele que começou a história; nem
completamente inocente, já que ele a continua.”
A política é constituída por homens sem ideais e sem grandeza.
“Não há arte onde não há nada a ser vencido”.
Uma forma conveniente de travar conhecimento com uma cidade é procurar saber como se trabalha, como se ama e como se morre.
(…) Como se esta grande cólera me tivesse purificado do mal, esvaziado de esperança, diante dessa noite carregada de sinais e de estrelas eu me abria pela primeira vez à terna indiferença do mundo.
“Na minha frente não havia uma única sombra, e cada objecto, cada ângulo, todas as curvas se desenhavam com uma pureza que me fazia mal aos olhos (…)
Não os ouvia, no entanto, e custava-me a acreditar que tivessem realidade”
“A noite, neste sítio, devia ser como que um melancólico período de tréguas. Hoje, o sol excessivo que fazia estremecer a paisagem, tornava-a deprimente e inumana”
” murmurou que eu era uma pessoa estranha, que gostava de mim decerto por isso mesmo, mas que um dia, pelos mesmos motivos, era capaz de passar os sentimentos contrários”
“desejava fugir ao sol, ao esforço, às lágrimas (…) desejava ,enfim, reencontrar a sombra e o repouso”
“Compreendi que destruíra o equilíbrio do dia, o silêncio excepcional de uma praia onde havia sido feliz”
Começar a pensar é começar a ser atormentado
O verme se encontra no coração do homem. Lá é que se deve procurá-lo
”…quanto mais pensava mais coisas esquecidas ia tirando da memória. Compreendi, então, que um homem que houvesse vivido um único dia, poderia sem custo passar cem anos na prisão. Teria recordações suficientes para não se maçar. De certo modo, isto era uma vantagem”
”Pois bem, morrerei. Mais cedo do que os outros, evidentemente. Mas todos sabem que a vida não vale a pena ser vivida”
”Na sua cara um pouco assimétrica, eu não via senão os olhos, muito claros, que me examinavam atentamente, sem nada exprimir de definido. E sentia a estranha impressão de estar a ser examinado, não pelo que parecia mas pelo que era realmente”
”Mas, por causa de todas estas extensas frases, de todos estes dias e horas intermináveis durante os quais tanto se tinha falado da minha alma, tive a impressão de que tudo se transformava como que numa água incolor, que me causava vertigens”
“Existem pessoas que justificam o mundo, que ajudam os outros somente com a sua presença.”
”Como o poderia eu saber, aliás, pois que além dos nossos corpos agora separados, nada nos ligava, nada nos lembrava um do outro”
”Compreendia muito bem que as pessoas me esquecessem depois da minha morte. Já não tinham nada a fazer comigo. Nem sequer podia dizer que me custava pensar em semelhante possibilidade. Não há, no fundo, nenhuma ideia a que não nos habituemos”
”Eu parecia ter as mãos vazias. Mas estava certo de mim mesmo, certo de tudo (…) certo da minha vida e desta morte que se aproximava. Sim, não sabia mais nada que isto. Mas, ao menos, segurava esta verdade, tanto como esta verdade me segurava a mim”
”Estendia-me, olhava através da janela, procurava interessar-me pelo que via. O céu tornava-se verde, a noite chegava. Voltava a fazer um esforço para mudar o curso dos meus pensamentos. Punha-me a escutar o coração. Não era capaz de imaginar que este barulho compassado, que me acompanhava há tanto tempo, podia um dia cessar. Nunca tive verdadeira imaginação. Mas, tentava imaginar, não obstante, o segundo em que o bater do coração já se me não prolongaria na cabeça. Em vão. Acabava por chegar à conclusão de que o mais razoável era ainda não me tentar dominar”
”Também lá, em redor desse asilo onde as vidas se apagavam, a noite era como uma treva melancólica”
”Eu abria-me, pela primeira vez, à terna indiferença do Mundo”
Se não se acredita em nada, se nada faz sentido e se não podemos afirmar nenhum valor, tudo é possível e nada tem importância.
O escravo, no instante em que rejeita a ordem humilhante de seu superior, rejeita ao mesmo tempo a própria condição de escravo.
Quando todos são militares, o crime é não matar se a ordem assim o exigir.
O sofrimento nunca é provisório para quem não acredita no futuro.
Nenhum ser, nem mesmo o mais amado, e que nos ama com maior paixão, jamais fica em nosso poder.
O fim justifica os meios? É possível. Mas quem justificará o fim?
Carregamos todos, dentro de nós, as nossas masmorras, os nossos crimes e as nossas devastações.
Os homens só se convencem de nossas razões, de nossa sinceridade e da gravidade de nossos sofrimentos com a nossa morte.
Não é necessário existir Deus para criar a culpabilidade, nem para castigar. Para isso, bastam os nossos semelhantes, ajudados por nós mesmos.
A integridade dispensa regras.
A percepção de que a vida é absurda não pode ser um fim, mas apenas um começo.
”Se eu tivesse que escrever um livro sobre moral, ele teria cem páginas e noventa e nove seriam brancas. Na última eu escreveria: ‘Eu só conheço uma obrigação: a de amar.’ “
A política e os destinos da humanidade são forjados por homens sem ideais nem grandeza. Aqueles que têm grandeza interior não se encaminham para a política.
O que é a felicidade além da simples harmonia entre o homem e a vida que ele leva?
Amar uma pessoa é estar disposto a envelhecer com ela.
É necessário viver com o tempo e morrer com ele ou se subtrair a ele para uma vida maior.
O pensamento de um homem é antes de mais nada sua nostalgia.
A filosofia pode servir pra tudo, até mesmo para transformar assassinos em juízes.
Às vezes, continuar, apenas continuar, é a conquista sobre-humana.
O fascismo, na verdade, é o desprezo. Inversamente, qualquer forma de desprezo, se intervém na política, prepara ou instaura o fascismo.
Sem dúvida, uma guerra é uma tolice, o que não a impede de durar. A tolice insiste sempre, e nós a compreenderíamos se não pensássemos só em nós.
A paz é a única batalha que vale a pena travar.
O mundo romanesco não é mais que a correção deste nosso mundo, segundo o destino profundo do homem. Pois trata-se efetivamente do mesmo mundo.
É no momento da desgraça que a gente se habitua à verdade, quer dizer, ao silêncio.
E ele sabia também o que o velho estava pensando enquanto suas lágrimas corriam, e ele, Rieux, pensava também: que um mundo sem amor é um mundo morto e sempre chega uma hora em que se está cansado das prisões, do próprio trabalho e da devoção ao dever e tudo o que se deseja é um rosto amado, o calor e a maravilha de um coração amoroso.
Você é capaz de morrer por uma ideia, é visível a olho nu.
Minhas noites são sagradas. Como dizem na minha terra: “Não se deve deixar para amanhã”.
Porque o amor exige um pouco de futuro e para nós só havia instantes.
Se um padre consulta um médico, há contradição.
Quando a inocência tem os olhos vazados, um cristão deve perder a fé ou aceitar que lhe furem os olhos.
… este mundo sem amor era como um mundo morto e que chega sempre uma hora em que nos cansamos das prisões, do trabalho e da coragem, para reclamar o rosto de um ser e o coração maravilhado da ternura.
Mas, às vezes, é preciso mais coragem para viver do que para se matar.
O que se denomina razão de viver é ao mesmo tempo uma excelente razão de morrer
Buscar o que é verdadeiro não é buscar o que é desejável.
Um homem é mais homem pelas coisas que silencia do que pelas que diz.
É preciso tempo para viver. Como toda obra de arte, a vida exige que se pense nela.
A ociosidade só é fatal aos medíocres.
O que finalmente eu mais sei sobre a moral e as obrigações do homem devo ao futebol…
Vou-lhe dizer um grande segredo, meu caro. Não espere o juízo final. Ele realiza-se todos os dias.
Fazer sofrer é a única maneira de se enganar.
Quando procuro o que há de fundamental em mim, é o gosto da felicidade que eu encontro.
Não se pode criar experiência. É preciso passar por ela.
Não ser amado é falta de sorte, mas não amar é a própria infelicidade.
A tentação mais perigosa: não se parecer com nada.
A imaginação oferece às pessoas consolação por aquilo que não podem ser e humor por aquilo que efectivamente são.
A estupidez insiste sempre.
Fazer sofrer é a única maneira de nos enganarmos.
Tenho uma pátria: a língua francesa.
Sem a cultura, e a liberdade relativa que ela pressupõe, a sociedade, por mais perfeita que seja, não passa de uma selva. É por isso que toda a criação autêntica é um dom para o futuro.
O homem tem duas faces: não pode amar ninguém, se não se amar a si próprio.
Não há que ter vergonha de preferir a felicidade.
Não há ordem sem justiça.
Nenhum homem é hipócrita nos seus prazeres.
A criação é a mais eficaz de todas as escolas de paciência e de lucidez.
O absurdo é a razão lúcida que constata os seus limites.
O homem é a criatura que, para afirmar o seu ser e a sua diferença, nega.
Toda a infelicidade dos homens nasce da esperança.
Toda a infelicidade dos homens provém da esperança.
Não é nenhuma vergonha ser-se feliz; vergonhoso é ser feliz sozinho.
Se o homem falhar em conciliar a justiça e a liberdade, então falha em tudo.
Todo o cumprimento é uma sujeição. Obriga a um cumprimento maior.
Antes, a questão era descobrir se a vida precisava de ter algum significado para ser vivida. Agora, ao contrário, ficou evidente que ela será vivida melhor se não tiver significado.