À beira da estrada
Com o pêlo tão sedoso
O cachorro morto.
Acordo molhado de suor –
O sonho do banho
No tanque do quintal!
Azul e verde e cinza –
Olhando bem, o céu
É de todas as cores!
Cidade natal:
Até as flores do espinheiro,
No mesmo lugar.
Parou de chover:
No ar lavado, as árvores
Parecem mais verdes.
Dentro da mata –
Até a queda da folha
Parece viva.
Chove de novo –
As vacas e os carros
Devagar, em fila indiana.
Apenas vós,
Árvores de tronco branco,
Me garantis que retornei.
O calor sufoca.
De pouco em pouco,
Fogo e fumaça.
A chuva parou –
Na voz do pássaro,
Que frio!
Sempre do mesmo lado,
O dia todo e a noite inteira,
O vento da montanha.
Ao sol da manhã,
Imóvel como se dormisse,
A coruja no fio.
Mesmo o velho eucalipto
Parece feliz –
Névoa da manhã.
Ao pôr do sol
O brilho humilde
Das folhas de capim.
Quintal do sítio –
A única forma geométrica
É a linha de um varal.
Limpo o rosto na camisa –
O vento começa a trazer
As primeiras gotas de chuva
Casebres todos pintados
Na fazenda Cambuí –
Como é bom estar aqui!
Em Cuiabá
Suando e matando mosquitos,
Que cruel zazen!
O chofer de táxi –
Meu pai também, nos dias quentes,
Assobiava assim.
Entre as antenas
E as casas todas iguais –
Quaresmeiras!
Quando a chuva para,
por uma fresta nas nuvens
surge a lua cheia.
No terreno baldio
Ainda cheias de orvalho,
Campânulas!
Árvores da infância –
E depois a monotonia verde
Dos canaviais…
Até os pernilongos
Vão ficando silenciosos –
Como os anos passam…
Demorou este ano,
Mas de repente, em toda a parte –
Primavera!
Manhã de frio –
Com o agasalho, visto
Saudades de minha mãe.
Um susto matinal:
na caixa do correio,
duas mariposas!
Tão pequena
E desbotada de chuva
A casa da infância!
Manhã de frio.
Se fosse menino escrevia
Meu nome no vidro.
O bebê resmunga –
Zune nas venezianas
O vento do inverno.
Os pássaros cantam
Monotonamente –
Feriado do ano-novo.
Tarde de inverno:
Sobe do fundo dos vales
A sombra das montanhas.
A serra em chuva
Sob o sol poente –
Como não agradecer?
Aqui e ali,
Sobre os campos florescem
As quaresmeiras.
Com o vento frio percebo:
Semanas e semanas
Sem ouvir insetos.
Trezentos quilômetros
Para não vos contemplar –
Mangueiras da minha infância!
A porteira bate –
Do meu lado esquerdo,
A lua de verão.
Às dez da manhã
O cheiro de eucalipto
Atravessa a estrada
Os grilos cantam
Apenas do meu lado esquerdo –
Estou ficando velho.
Mesmo molhado
Resplandece ao pôr-do-sol
O campo de algodão.
Nem laranjas, nem café:
Apenas canaviais
Sob um céu vazio.
A igreja branca
Sufocada entre eucaliptos –
Aldeia de minha mãe…
É quase noite –
As cigarras cantam
Nas folhas escuras.
De uma casa branca
No meio da encosta da montanha
Sobe um fio de fumaça.
Pelo espelho do carro,
Os campos que outrora foram
A casa do avô.
Perfume de pinho –
Nascem, no fumante convicto,
Firmes projetos de saúde.
Em toda a longa viagem,
Só agora encontrei
Um cafezal!
Sob a névoa fria,
O cemitério da vila
Cercado de ciprestes
Não há comida
E as moscas se ocupam
Em fazer mais moscas.
O lago da montanha –
Termina do lado leste
A tarde dos patos
Entre os mugidos do gado
E o cheiro de capim,
Nasce a lua cheia.
Na casa do avô
Havia tantos pernilongos
Em noites como esta!
Mesmo com fome,
Não se apressa como as outras
A galinha manca.
Ao longo da estrada:
“A próxima descida trará
Mais quaresmeiras em flor!”
Tardes de Cuiabá:
Garças e periquitos
Voando pra noroeste.
Olhando bem
O cafezal, na verdade,
São laranjeirinhas…
Também para eles
Está chegando o natal –
Ah, os leitõezinhos…
O sol se põe
Sobre o riozinho sujo –
Ah, infância!
Patos selvagens.
Por que iriam dois para o norte
E dois para o sul?
A velha ponte –
No pó ajuntado entre as tábuas,
Brota o capim.
A princípio: “O que é aquilo?”,
Mas depois…
“Campos de arroz!”
Azul e verde e cinza –
Olhando bem, o céu
É de todas as cores!
A chuva passou.
A noite um instante volta
A ser fim-de-tarde.
Mamonas estalam.
Os cachos da acácia
Parecem imóveis.
Pardais
No meio da garoa –
Está chegando o inverno.
Ruído de chinelos
No quintal do lado –
Mas que calor…
Choveu há pouco –
O sol baixa das nuvens
Finas cortinas de névoa.
Crescem mais pêlos
Nas minhas orelhas –
Mais um ano chega ao fim…
Ao virar a esquina,
Saindo de trás do prédio –
A lua cheia.
Porque não sabemos o nome
Tenho de exclamar apenas:
“Quantas flores amarelas!”
Quando me canso da paisagem
Do leste, viro a cadeira
Para oeste.
Ao longo da estrada:
“A próxima descida trará
Mais quaresmeiras em flor!”
Porque não sabemos o nome
Tenho de exclamar apenas:
“Quantas flores amarelas!”
À beira da estrada
Com o pêlo tão sedoso
O cachorro morto.
Acordo molhado de suor –
O sonho do banho
No tanque do quintal!
Azul e verde e cinza –
Olhando bem, o céu
É de todas as cores!
Cidade natal:
Até as flores do espinheiro,
No mesmo lugar.
Parou de chover:
No ar lavado, as árvores
Parecem mais verdes.
Dentro da mata –
Até a queda da folha
Parece viva.
Chove de novo –
As vacas e os carros
Devagar, em fila indiana.
Apenas vós,
Árvores de tronco branco,
Me garantis que retornei.
O calor sufoca.
De pouco em pouco,
Fogo e fumaça.
A chuva parou –
Na voz do pássaro,
Que frio!
Sempre do mesmo lado,
O dia todo e a noite inteira,
O vento da montanha.
Ao sol da manhã,
Imóvel como se dormisse,
A coruja no fio.
Mesmo o velho eucalipto
Parece feliz –
Névoa da manhã.
Ao pôr do sol
O brilho humilde
Das folhas de capim.
Quintal do sítio –
A única forma geométrica
É a linha de um varal.
Limpo o rosto na camisa –
O vento começa a trazer
As primeiras gotas de chuva
Casebres todos pintados
Na fazenda Cambuí –
Como é bom estar aqui!
Em Cuiabá
Suando e matando mosquitos,
Que cruel zazen!
O chofer de táxi –
Meu pai também, nos dias quentes,
Assobiava assim.
Entre as antenas
E as casas todas iguais –
Quaresmeiras!
Quando a chuva para,
por uma fresta nas nuvens
surge a lua cheia.
No terreno baldio
Ainda cheias de orvalho,
Campânulas!
Árvores da infância –
E depois a monotonia verde
Dos canaviais…
Até os pernilongos
Vão ficando silenciosos –
Como os anos passam…
Demorou este ano,
Mas de repente, em toda a parte –
Primavera!