MORTE E CHOCOLATE
Primeiro, as cores. Depois, os humanos. Em geral, é assim que vejo as
coisas. Ou, pelo menos, é o que tento.
Pode alguém roubar a felicidade? Ou será que ela é apenas mais um infernal truque interno dos humanos?
Como quase todo sofrimento tudo começou com uma aparente felicidade.
E mostraria a mim, mais uma vez,
que uma oportunidade conduz diretamente a outra,
assim como o risco leva a mais risco,
a vida, a mais vida,
e a morte, a mais morte.
A única coisa pior do que um menino que detesta a gente.
Um menino que ama a gente.
… assim como outra investida furiosa de gritos de “heil Hitler”. Sabe, realmente me pergunto se algum dia alguém perdeu um olho, ou machucou a mão ou o pulso com todos aqueles gestos. Era só estar olhando na direção errada na hora errada, ou estar ligeiramente perto demais de outra pessoa. Talvez alguém se machucasse, sim. Pessoalmente, só posso lhe dizer que ninguém morreu disso, ou, pelo menos, não fisicamente. Houve, é claro, a questão dos quarenta milhões de pessoas que peguei, quando a coisa toda acabou, mas isso está ficando muito metafórico…
‘. Uma Verdadezinha .
Eu não carrego gadanha nem foice.
Só uso um manto preto com capuz quando faz frio.
E não tenho aquela feições de caveira que vocês
parecem gostar de me atribuir à distância.
Quer saber a minha verdadeira aparência?
Eu ajudo. Procure um espelho enquanto eu continuo.’
…tive vontade de perguntar, como uma mesma coisa podia ser tão medonha e tão gloriosa, e ter palavras e histórias tão amaldiçoadas e tão brilhantes. Nenhuma dessas coisas, porém, saiu de minha boca.Tudo que pude fazer foi virar-me para Liesel Meminger e lhe dizer a única verdade que realmente sei. Eu a disse à menina que roubava livros e a digo a você agora.
• Uma última nota de sua narradora •
Os seres humanos me assombram.
Essas imagens eram o mundo, que cozinhava em fogo brando dentro dela, sentada ali com os livros encantadores e seus títulos manicurados. Fermentava dentro dela, enquanto a menina olhava as páginas, com suas panças cheias até o gorgomilo de parágrafos e palavras.
Suas cretinas, pensou.
Suas cretinas encantadoras.
Não me façam feliz. Por favor, não me saciem nem me deixem pensar que alguma coisa boa pode sair disso. Olhem para meus machucados. Olhem para este arranhão. Estão vendo o arranhão dentro de mim? Estão vendo ele crescer bem diante dos seus olhos, me corroendo? Não quero ter esperança de mais nada. Não quero rezar para que Max esteja vivo e em segurança. Nem Alex Steiner.
Porque o mundo não os merece.
Erros, erros, as vezes parece que apenas disso de que sou capaz.
Odiei as palavras e as amei,
e espero tê-las usado direito.
A MENINA QUE ROUBAVA LIVROS – ULTIMA LINHA
Acho que os seres
humanos gostam de assistir a uma destruiçãozinha
in A menina que roubava livros
A luz da janela era cinza e laranja, da cor da pele do verão.
“Um punhado de bem, um punhado de mal. É só misturar com água.”
Amava e odiava seu melhor amigo (…) o que era perfeitamente normal.
Eu paro de me escutar, porque, para dizê-lo curto e grosso, eu canso a mim mesma
As pessoas só observam as cores do dia no começo e no fim, mas, para mim, está muito claro que o dia se funde através de uma multidão de matizes e entonações, a cada momento que passa.
Uma só hora pode consistir em milhares de cores diferentes. Amarelos céreos, azuis borrifados de nuvens. Escuridões enevoadas.
No meu ramo de atividade, faço questão de notá-los.
(A Menina que Roubava Livros)
“Os humanos me assombram”
Eu queria ficar na varanda com ele até o sol brilhar sobre nós dois. Mas não fiquei. Eu me levantei e desci as escadas. Prefiro correr atrás do sol a esperar que ele venha incidir sobre mim.
Todos aqui temos nossas obrigações. Todos sofremos. Todos encaramos contratempos pelo bem maior da Humanidade.
Será que três minutos podem durar para sempre?, eu me pergunto, mas já sabendoa resposta.
Provavelmente não, respondo. Mas talvez durem tempo suficiente.
“Eu não sou o mensageiro.
Eu sou a mensagem”
Por que será que os idiotas são cheios de amigos?
“Mesmo que morramos carnalmente,
Mesmo que deixemos de existir para o mundo,
Pra alguém, vou sempre viver.
Enquanto alguém que lembrar de mim viver,
Viverei no mesmo corpo, no mesmo coração.
O amor é capaz de retardar a morte,
Principalemte pelo fato de a alma de todos ser imortal.”
“Como se dá a alguém um pedaço do céu?”
Estou sempre achando seres humanos no que eles têm de melhor e de pior. Vejo sua feiura e sua beleza e me pergunto como uma coisa pode ser as duas.
Muitas vezes, tento lembrar-me dos retalhos de beleza que também vi naqueles tempos. Revolvo minha biblioteca de histórias.
Na verdade, estou pegando uma agora.
Creio que você já sabe metade dela e, se vier comigo, eu lhe mostro o resto. Mostro-lhe a segunda metade de uma menina que roubava livros.
Sem saber, ela aguarda inúmeras coisas a que aludi há pouco, mas também espera por você.
Está carregando neve para um porão, imagine só.
Punhados de neve congelada são capazes de fazer quase qualquer um sorrir, mas não nos podem fazer esquecer.
Lá vem ela.
Punhados de neve congelada são capazes de fazer quase qualquer um sorrir.
Imagine sorrir depois de levar um tapa na cara. Agora imagine fazê-lo vinte e quatro horas por dia.
…Uma série de ferimentos aflorou à superfície da pele. Tudo por causa das palavras.”
(A Menina que Roubava Livros)
Nada alterava o fato de ela ser uma menina magrela e perdida em mais um lugar estranho, com mais gente estranha. Sozinha.
“Uma definição não encontrada no dicionário. Não ir embora: ato de confiança e amor.”
Às vezes as pessoas são bonitas. Não pela aparência física. Nem pelo que dizem. Só pelo que são.
Só numa sociedade doente mesmo pra se condenar alguém por ler muitos livros.
É inegável como a verdade pode ser brutal às vezes. Só dá pra admirá-la. Geralmente passamos a vida acreditando em nós mesmos. “Eu tô bem”, dizemos, “Tá tudo bem”. Mas às vezes a verdade pega no pé e não tem santo que a faça desgrudar. E aí que percebemos que às vezes ela nem chega a ser uma resposta, mas sim uma pergunta. Mesmo agora, estou aqui pensando até que ponto minha vida é convincente. Passo a vida levando as pessoas pra tudo quanto é canto da cidade, ouvindo gente me dizendo aonde ir e o que fazer. Observo as pessoas. Falo com elas. O tempo está bom hoje. O tempo está sempre alguma coisa. Estou me queixando? Reclamando? Não. Foi isso que escolhi fazer. Mas é isso que você quer?, pergunto. Por alguns quilômetros, minto pra mim mesmo, dizendo sim, é isso que eu quero. Tento me convencer que é exatamente isso que eu quero da vida, mas sei que não é.
Naquela noite, quando Hans acendeu a luz no banheirinho indiferente, Liesel observou a estranheza dos olhos de seu pai de criação. Era feitos de bondade e prata. Como prata mole, derretida. Ao ver aqueles olhos, Liesel compreendeu que Hans Hubermann tinha muito valor.
Sometimes people are beautiful. Not in how they look, not in how they act. But in who they are.
Não posso fazer nada se ela não quer o amor de ninguém, só posso respeitar.
– Tá tudo bem, Ed – ela diz, e sei que está sendo sincera.
Taí um lance superbacana: eu e a Audrey estamos sempre numa boa.
Essa é a minha vida. Tenho cabelo escuro, sou moreno claro, olhos castanho-escuros. Sou um cara bem normal, nada sarado. Eu devia endireitar a postura e parar de me curvar, mas não consigo. Quando estou de pé, coloco as mãos nos bolsos. Minhas botas já estão se desmantelando, mas mesmo assim não as tiro dos pés, porque gosto delas pra caramba.
O que eu mais gosto é de andar com as mãos nos bolsos, com o Porteiro de um lado e fazendo de conta que a Audrey está do outro.
A imagem que tenho da gente na cabeça é sempre de costas.
Tem sempre um brilho escurecendo.
Tem sempre a Audrey.
Tem sempre o Porteiro.
Tem sempre eu. E eu estou sempre segurando os dedos da Audrey com os meus. – Ed Kennedy – Eu Sou o Mensageiro.
Não resmungou nem gemeu nem bateu com os pés. Simplesmente engoliu a decepção e optou por um riso calculado – um presente dela para si mesma.
(A Menina que Roubava Livros)
Ao longo dos anos, vi inúmeros rapazes que pensam estar correndo para outros rapazes. Não estão. Eles correm para mim.
(Em A menina que roubava livros)
Às vezes me arrasa o jeito como as pessoas morrem.
(Em A menina que roubava livros)
Às vezes, quando a vida te rouba, você tem que roubar de volta.
Às vezes nem mesmo eu acho que me conheço.
A gente pode até inventar desculpas para as coisas, mas acreditar nelas não.
Essa história me deixou cheio de culpa. Tento me livrar, mas volta sempre. Ninguém disse que seria fácil
Já me chamaram de tudo na vida, mas é a primeira vez que alguém diz que é um prazer me conhecer.
Sabe, dizem que há inúmeros santos que não tem nada a ver com a Igreja e praticamente nenhum conhecimento de Deus. Mas dizem que Deus anda com essas pessoas sem que elas se dêem conta disso. Os olhos dele estão dentro de mim agora, acompanhado pelas palavras.
situação paradoxal:
“Havia gente por toda parte, na rua da cidade, mas o forasteiro não poderia sentir-se mais só se ela estivesse deserta”.
…estou sempre achando seres humanos no que eles têm de melhor e de pior. Vejo sua feiúra e sua beleza, e me pergunto como uma mesma coisa pode ser as duas. Mas eles têm uma coisa que eu invejo. Que mais não seja, os humanos têm o bom senso de morrer.
Tive vontade de lhe explicar que constantemente superestimo e subestimo a raça humana – que raras vezes simplesmente estimo. Tive vontade de lhe perguntar como uma mesma coisa podia ser tão medonha e tão gloriosa, e ter palavras e histórias tão amaldiçoadas e tão brilhantes.
Me mata, por vezes, o modo como as pessoas morrem.
Ele faz algo em mim, aquele menino. Toda vez. É sua única desvantagem. Ele pisa no meu coração. Ele me faz chorar.
“As palavras pesam muito.”
Às vezes, você lê um livro tão especial que quer carregá-lo com você por meses depois de terminar apenas para ficar perto dele.
Uma bola de neve na cara é certamente o início perfeito para uma amizade duradoura.
Talvez todos possam viver além daquilo que eles são capazes.
Ele era o louco que se pintou a si mesmo de preto e derrotou o mundo.
Ela era a menina que roubava livros, sem as palavras.
Confia em mim, no entanto, as palavras estavam a caminho, e quando elas chegaram, Liesel mateve-as nas suas mãos como nuvens, e ela iria torcê-las como uma chuva.
Eu acho que os seres humanos gostam de ver um pouco de destruição.
Estou constantemente superestimando e subestimando a raça humana, raramente eu apenas a estimo. Queria perguntar a ela como a mesma coisa pode ser tão feia e tão gloriosa, e suas palavras e histórias tão condenatórias e brilhantes… Eu sou assombrado por seres humanos.
Ela não queria que nenhum daqueles dias acabasse, e era sempre com desapontamento que ela observava a escuridão chegar.
Você vai rir, vai chorar e ainda vai querer mais.
(sobre o livro “A Culpa é das Estrelas”, de John Green)
Ouço o meu coração batendo, mas eu não quero. Odeio as batidas do meu coração. São muito altas naquele campo. Elas caem. Direto de mim mas então voltam, igualzinho como eram. Ajoelhado lá, com os joelhos ralados e com o coração na boca. O coração cai no chão perto dele, duro e… Bate. Bate. Bate. Ele se recusa a morrer ou se esfriar, sempre voltando pro corpo de Marv. Com certeza, ele vai acabar sucumbindo.
MORTE E CHOCOLATE
Primeiro, as cores. Depois, os humanos. Em geral, é assim que vejo as
coisas. Ou, pelo menos, é o que tento.
Pode alguém roubar a felicidade? Ou será que ela é apenas mais um infernal truque interno dos humanos?
Como quase todo sofrimento tudo começou com uma aparente felicidade.
E mostraria a mim, mais uma vez,
que uma oportunidade conduz diretamente a outra,
assim como o risco leva a mais risco,
a vida, a mais vida,
e a morte, a mais morte.
A única coisa pior do que um menino que detesta a gente.
Um menino que ama a gente.
… assim como outra investida furiosa de gritos de “heil Hitler”. Sabe, realmente me pergunto se algum dia alguém perdeu um olho, ou machucou a mão ou o pulso com todos aqueles gestos. Era só estar olhando na direção errada na hora errada, ou estar ligeiramente perto demais de outra pessoa. Talvez alguém se machucasse, sim. Pessoalmente, só posso lhe dizer que ninguém morreu disso, ou, pelo menos, não fisicamente. Houve, é claro, a questão dos quarenta milhões de pessoas que peguei, quando a coisa toda acabou, mas isso está ficando muito metafórico…
‘. Uma Verdadezinha .
Eu não carrego gadanha nem foice.
Só uso um manto preto com capuz quando faz frio.
E não tenho aquela feições de caveira que vocês
parecem gostar de me atribuir à distância.
Quer saber a minha verdadeira aparência?
Eu ajudo. Procure um espelho enquanto eu continuo.’
…tive vontade de perguntar, como uma mesma coisa podia ser tão medonha e tão gloriosa, e ter palavras e histórias tão amaldiçoadas e tão brilhantes. Nenhuma dessas coisas, porém, saiu de minha boca.Tudo que pude fazer foi virar-me para Liesel Meminger e lhe dizer a única verdade que realmente sei. Eu a disse à menina que roubava livros e a digo a você agora.
• Uma última nota de sua narradora •
Os seres humanos me assombram.
Essas imagens eram o mundo, que cozinhava em fogo brando dentro dela, sentada ali com os livros encantadores e seus títulos manicurados. Fermentava dentro dela, enquanto a menina olhava as páginas, com suas panças cheias até o gorgomilo de parágrafos e palavras.
Suas cretinas, pensou.
Suas cretinas encantadoras.
Não me façam feliz. Por favor, não me saciem nem me deixem pensar que alguma coisa boa pode sair disso. Olhem para meus machucados. Olhem para este arranhão. Estão vendo o arranhão dentro de mim? Estão vendo ele crescer bem diante dos seus olhos, me corroendo? Não quero ter esperança de mais nada. Não quero rezar para que Max esteja vivo e em segurança. Nem Alex Steiner.
Porque o mundo não os merece.
Erros, erros, as vezes parece que apenas disso de que sou capaz.
Odiei as palavras e as amei,
e espero tê-las usado direito.
A MENINA QUE ROUBAVA LIVROS – ULTIMA LINHA
Acho que os seres
humanos gostam de assistir a uma destruiçãozinha
in A menina que roubava livros
A luz da janela era cinza e laranja, da cor da pele do verão.
“Um punhado de bem, um punhado de mal. É só misturar com água.”
Amava e odiava seu melhor amigo (…) o que era perfeitamente normal.
Eu paro de me escutar, porque, para dizê-lo curto e grosso, eu canso a mim mesma
As pessoas só observam as cores do dia no começo e no fim, mas, para mim, está muito claro que o dia se funde através de uma multidão de matizes e entonações, a cada momento que passa.
Uma só hora pode consistir em milhares de cores diferentes. Amarelos céreos, azuis borrifados de nuvens. Escuridões enevoadas.
No meu ramo de atividade, faço questão de notá-los.
(A Menina que Roubava Livros)
“Os humanos me assombram”
Eu queria ficar na varanda com ele até o sol brilhar sobre nós dois. Mas não fiquei. Eu me levantei e desci as escadas. Prefiro correr atrás do sol a esperar que ele venha incidir sobre mim.
Todos aqui temos nossas obrigações. Todos sofremos. Todos encaramos contratempos pelo bem maior da Humanidade.
Será que três minutos podem durar para sempre?, eu me pergunto, mas já sabendoa resposta.
Provavelmente não, respondo. Mas talvez durem tempo suficiente.
“Eu não sou o mensageiro.
Eu sou a mensagem”
Por que será que os idiotas são cheios de amigos?
“Mesmo que morramos carnalmente,
Mesmo que deixemos de existir para o mundo,
Pra alguém, vou sempre viver.
Enquanto alguém que lembrar de mim viver,
Viverei no mesmo corpo, no mesmo coração.
O amor é capaz de retardar a morte,
Principalemte pelo fato de a alma de todos ser imortal.”
“Como se dá a alguém um pedaço do céu?”