As mulheres, como os sonhos, nunca são como as imaginamos.
Todo o fantasma, toda a criatura de arte, para existir, deve ter o seu drama, ou seja, um drama do qual seja personagem e pelo qual é personagem. O drama é a razão de ser do personagem; é a sua função vital: necessária para a sua existência.
Abrir-se com alguém, isto sim é realmente coisa de louco!
Frases! Frases! Como se o conforto de todos, diante de um fato que não se explica, diante de um mal que nos consome, não fosse encontrar uma palavra que não diz nada e na qual nos tranquilizamos!
O prazer que um objeto nos proporciona não se encontra no próprio objeto. A imaginação embeleza-o, cercando-o e quase o irradiando com imagens estimadas. Em suma, no objeto amamos aquilo que nós mesmos colocamos nele.
Como podemos nos entender (…), se nas palavras que digo coloco o sentido e o valor das coisas como se encontram dentro de mim; enquanto quem as escuta inevitavelmente as assume com o sentido e o valor que têm para si, do mundo que tem dentro de si?
Não há uma estrada real para a felicidade, mas sim caminhos diferentes. Há quem seja feliz sem coisa nenhuma, enquanto outros são infelizes possuindo tudo.
A educação é inimiga da sabedoria, porque a educação torna necessárias muitas coisas das quais, para sermos sábios, nos deveríamos ver livres.
Tem ideia de quanto mal nos fazemos por essa maldita necessidade de falar?
Assim como existem filhos ilegítimos, existem também os pensamentos bastardos.
A culpa é dos fatos, meu amigo. Somos todos prisioneiros dos fatos. Eu nasci, logo existo.
Os fatos são como os sacos; quando vazios não se têm de pé.
Recoloca no contador um desejo: abre-o; em seu lugar, encontrarás uma desilusão.
Vocês sabem o que significa amar a humanidade? Significa apenas isto: estar satisfeito consigo mesmo. Quando alguém está satisfeito consigo mesmo, ama a humanidade.
Quando um personagem nasce, adquire imediatamente tal independência inclusive do seu próprio autor, que pode ser imaginado por todos em tantas outras situações em que o autor não pensou inseri-lo, e às vezes pode adquirir também um significado que o autor jamais sonhou em dar-lhe!
Nada parece mais supérfluo do que o espírito num organismo humano.
Quem tem a sorte de nascer personagem vivo, pode rir até da morte. Não morre mais… Quem era Sancho Panza ? Quem era Dom Abbondio ? E, no entanto, vivem eternamente, pois – vivos embriões – tiveram a sorte de encontrar uma matriz fecunda, uma fantasia que soube criá-los e nutri-los, fazê-los viver para a eternidade!
Vocês sabem o que significa encontrar-se diante de um louco? Encontrar-se diante de alguém que sacode dos alicerces tudo o que vocês construíram dentro de si, em torno de si, a lógica, a lógica de todas as suas construções!
É próprio da natureza humana, lamentavelmente, sentir necessidade de culpar os outros dos nossos desastres e das nossas desventuras.
Nadas é mais complicado que a sinceridade.
Mas o problema é que você, meu caro, nunca saberá nem eu lhe poderei nunca dizer como se traduz, em mim, aquilo que você me disse. Não falou turco, não. Eu e você usamos a mesma língua, as mesmas palavras. Mas que culpa temos nós de que as palavras, em si, sejam vazias? (…) Ao dizê-las a mim, você preenche-as com o seu sentido; e eu, ao recebê-las, inevitavelmente preencho-as com o meu sentido. Pensávamos que nos entendíamos; de facto, não nos entendemos…
(in “Um, Ninguém e Cem Mil”)
O drama está todo na consciência que tenho de cada um de nós ser ”um”, ao mesmo tempo que é ”cem” e que é ”mil”, que é ”tantas vezes um” quantas possibilidades há nele.
Basta que ela comece a gritar a verdade na cara de todos. Ninguém acredita no que diz e todos a tomam por louca!
A culpa é dos factos, meu amigo. Somos todos prisioneiros dos factos!
Todos vivemos com a ilusão de que os outros, por fora, nos vejam como nós imaginamos ser por dentro. E não é assim.
Sou um ser distinto para cada pessoa que me conhece. Sei-o, vejo-o. E nada me embaraça tanto como estar ao mesmo tempo com pessoas para quem sei que sou um tipo diferente.
Mas o problema é que você, meu caro, nunca saberá nem eu lhe poderei nunca dizer como se traduz, em mim, aquilo que você me disse. Não falou turco, não. Eu e você usámos a mesma língua, as mesmas palavras. Mas que culpa temos nós de que as palavras, em si, sejam vazias? Vazias, meu caro. Ao dizê-las a mim, você preenche-as com o seu sentido; e eu, ao recebê-las, inevitavelmente preencho-as com o meu sentido. Pensámos que nos entendíamos; de facto, não nos entendemos.
E conto velho também é o facto de o sabermos. Eu não pretendo dizer nada de novo. Apenas volto a perguntar-lhe:
– Porque continua, então, a proceder como se não o soubesse? Porque continua a falar-me de si se sabe que para ser para mim como é para você mesmo e para eu ser, para si, como sou para mim, seria preciso que eu, dentro de mim, lhe desse a mesma realidade que você dá a si mesmo, e vice-versa, e isso não é possível?
A Igreja Restringe o Potencial Divino
Como casa de Deus, o mundo é sem dúvida infinitamente maior e mais rico do que uma igreja; incomparavelmente mais nobre e precioso do que qualquer altar, o espírito do homem em adoração do mistério divino. Mas esta é a sorte de todos os sentimentos que querem construir para si uma casa: se adelgaçam por força e tornam-se também algo pueris pela sua vaidade.
A Tirania do Sofrimento
O homem, quando sofre, faz uma ideia muito ideia muito especial do bem e do mal, ou seja, do bem que os outros lhe deveriam fazer e que ele pretende como se do seu sofrimento derivasse um qualquer direito a ser compensado, e do mal que pode fazer aos outros como se igualmente o seu sofrimento o autorizasse a praticá-lo.
A Nossa Consciência é Fabricada a Partir da Visão dos Outros
Sempre que nos acontece descobrir algo que os outros supõem que nunca vimos, não corremos a chamar alguém para que o veja connosco?
– Oh, meu Deus, o que é?
Se, por acaso, a visão dos outros não nos ajudar a constituir em nós, de algum modo, a realidade daquilo que vemos, os nossos olhos já não sabem o que vêem; a nossa consciência perde-se, porque aquilo que pensamos ser a nossa coisa mais íntima, a consciência, significa os outros em nós; e não podemos sentir-nos sós.
O Simbolismo do Objecto
Cada objecto costuma transformar-se, em nós, segundo as imagens que evoca e reúne, por assim dizer, em seu redor. É claro que um objecto também pode agradar por si mesmo, pela diversidade das sensações agradáveis que suscita em nós numa percepção harmoniosa; mas bem mais frequentemente, o prazer que um objecto nos dá não se encontra no objecto em si mesmo. A fantasia embeleza-o, cingindo-o e quase projectando nele imagens que nos são queridas. Nem nós o percepcionamos já tal qual como ele é, mas quase animado pelas imagens que suscita em nós ou que os nossos hábitos lhe associam. No objecto, em suma, nós amamos aquilo que nele projectamos de nosso, o acordo, a harmonia que estabelecemos entre nós e ele, a alma que ele adquire só para nós e que é formada pelas nossas recordações.
Assim é, se lhe parece.
Porque um personagem tem uma vida verdadeiramente sua, marcada por suas características, por isto é sempre ‘alguém’.
Não se vive com os olhos abertos, vive-se cegamente.
As mulheres, como os sonhos, nunca são como as imaginamos.
Todo o fantasma, toda a criatura de arte, para existir, deve ter o seu drama, ou seja, um drama do qual seja personagem e pelo qual é personagem. O drama é a razão de ser do personagem; é a sua função vital: necessária para a sua existência.
Abrir-se com alguém, isto sim é realmente coisa de louco!
Frases! Frases! Como se o conforto de todos, diante de um fato que não se explica, diante de um mal que nos consome, não fosse encontrar uma palavra que não diz nada e na qual nos tranquilizamos!
O prazer que um objeto nos proporciona não se encontra no próprio objeto. A imaginação embeleza-o, cercando-o e quase o irradiando com imagens estimadas. Em suma, no objeto amamos aquilo que nós mesmos colocamos nele.
Como podemos nos entender (…), se nas palavras que digo coloco o sentido e o valor das coisas como se encontram dentro de mim; enquanto quem as escuta inevitavelmente as assume com o sentido e o valor que têm para si, do mundo que tem dentro de si?
Não há uma estrada real para a felicidade, mas sim caminhos diferentes. Há quem seja feliz sem coisa nenhuma, enquanto outros são infelizes possuindo tudo.
A educação é inimiga da sabedoria, porque a educação torna necessárias muitas coisas das quais, para sermos sábios, nos deveríamos ver livres.
Tem ideia de quanto mal nos fazemos por essa maldita necessidade de falar?
Assim como existem filhos ilegítimos, existem também os pensamentos bastardos.
A culpa é dos fatos, meu amigo. Somos todos prisioneiros dos fatos. Eu nasci, logo existo.
Os fatos são como os sacos; quando vazios não se têm de pé.
Recoloca no contador um desejo: abre-o; em seu lugar, encontrarás uma desilusão.
Vocês sabem o que significa amar a humanidade? Significa apenas isto: estar satisfeito consigo mesmo. Quando alguém está satisfeito consigo mesmo, ama a humanidade.
Quando um personagem nasce, adquire imediatamente tal independência inclusive do seu próprio autor, que pode ser imaginado por todos em tantas outras situações em que o autor não pensou inseri-lo, e às vezes pode adquirir também um significado que o autor jamais sonhou em dar-lhe!
Nada parece mais supérfluo do que o espírito num organismo humano.
Quem tem a sorte de nascer personagem vivo, pode rir até da morte. Não morre mais… Quem era Sancho Panza ? Quem era Dom Abbondio ? E, no entanto, vivem eternamente, pois – vivos embriões – tiveram a sorte de encontrar uma matriz fecunda, uma fantasia que soube criá-los e nutri-los, fazê-los viver para a eternidade!
Vocês sabem o que significa encontrar-se diante de um louco? Encontrar-se diante de alguém que sacode dos alicerces tudo o que vocês construíram dentro de si, em torno de si, a lógica, a lógica de todas as suas construções!
É próprio da natureza humana, lamentavelmente, sentir necessidade de culpar os outros dos nossos desastres e das nossas desventuras.
Nadas é mais complicado que a sinceridade.
Mas o problema é que você, meu caro, nunca saberá nem eu lhe poderei nunca dizer como se traduz, em mim, aquilo que você me disse. Não falou turco, não. Eu e você usamos a mesma língua, as mesmas palavras. Mas que culpa temos nós de que as palavras, em si, sejam vazias? (…) Ao dizê-las a mim, você preenche-as com o seu sentido; e eu, ao recebê-las, inevitavelmente preencho-as com o meu sentido. Pensávamos que nos entendíamos; de facto, não nos entendemos…
(in “Um, Ninguém e Cem Mil”)
O drama está todo na consciência que tenho de cada um de nós ser ”um”, ao mesmo tempo que é ”cem” e que é ”mil”, que é ”tantas vezes um” quantas possibilidades há nele.
Basta que ela comece a gritar a verdade na cara de todos. Ninguém acredita no que diz e todos a tomam por louca!
A culpa é dos factos, meu amigo. Somos todos prisioneiros dos factos!
Todos vivemos com a ilusão de que os outros, por fora, nos vejam como nós imaginamos ser por dentro. E não é assim.