O ensino da filosofia não precisa ser complexo, intricado. Tem a ver com curiosidade, a mania de fazer perguntas, algo que perdemos na cultura ocidental quando envelhecemos.
O sol também não tem luz própria. Ele é apenas um espelho que reflete a luz de Deus.
Para que se deveria, em meio à grande ausência de limites, colocar a todo custo um limite qualquer?
No espelho da parede, vemo-nos passar sorrateiros na penumbra, vemos que nós mesmo somos os seres enigmáticos que queremos caçar
Não consigo me acostumar a ti, meu companheiro de caminhada que levo em meu pulso. Tua verdade é brutal. Cospes os segundos como balas de uma metralhadora. E teu arsenal é suficiente para te servir, leviano Nada.
Teus números são os números de mortos. Teu pulsar é frio como a foice.
… presos num conto de fadas
apenas a dois encontraremos o caminho
presos num gobelino
que nós dois tecemos juntos
isolados de todos
com uma língua que apenas você e eu entendemos.
Quanto mais escura a noite, maior a quantidade de sóis que podemos ver no céu. Durante o dia só conseguimos enxergar o nosso próprio sol.
– do livro Ei! tem alguém aí? de Jostein Gaarder
– Se existe um Deus, ele não só é um ás em deixar vestígios, mas, sobretudo, um mestre em se esconder. E o mundo não é dos que falam além da conta. O
firmamento
continua calado. Não há muito mexerico entre as estrelas. Mas ninguém ainda se esqueceu da grande explosão. Desde então, o silêncio reinou ininterruptamente, e tudo
o que existe se afasta de tudo. Ainda é possível topar com a Lua. Ou com um cometa. Não espere que o recebam com amáveis clamores. No céu não se imprimem cartões
de visita.
Nós vivemos dentro de um grande conto de fadas, do qual ninguém faz realmente ideia.
(A garota das laranjas, p. 110).
Uma única pergunta pode ser mais explosiva do que mil respostas.
A história é como um grande conto de fadas. A única
diferença entre os dois é que a história é de verdade.
E embora estivéssemos vendo as mesmas estrelas, estávamos infinitamente longe uns dos outros.
Se nosso cérebro fosse tão simples a ponto de podermos entendê-lo, seríamos tão tolos que continuaríamos sem entendê-lo.
Pois quando a gente entende que não entende alguma coisa é que a gente está prestes a entender tudo.
O sopro do tempo nos perpassa, nos carrega e se incorpora a nós. Depois de desprende de nós e nos deixa cair. Somos arrebatados como num passe de mágica e depois novamente abandonados. Sempre há alguma coisa fermentando, à espera de tomar nosso lugar. Isso porque não temos um solo firme, sob os nossos pés. Não temos sequer areia sob os nossos pés. Nós somos areia!
Subito me senti infinitamente triste por todos nós, seres humanos, que acabamos nos acostumando com uma coisa tão incrível, tão imperscrutável como a vida. Um belo dia acabamos achando evidente o fato de existirmos… e então… bem, só então voltamos a pensar que um dia teremos de deixar esse mundo!
Pois maior que tudo é o amor. E o tempo nem de longe consegue apagá-lo com a mesma rapidez com que apaga as lembranças.
Nascer é receber de presente o mundo inteiro.
” (…) Deve ser ainda mais estranho pensar que é estranho ser aquilo que se é. Creio que ninguém nunca vai encontrar uma pedra que acha estranho ser uma pedra. E com certeza nenhuma tartaruga acha incrível ser uma tartaruga. Mas parece que certos seres humanos acham estranhissímo ser um ser humano.(…)”
O curinga (…) é um caso à parte; uma carta sem
relação com as outras. Ele está no mesmo monte das outras cartas, mas
aquele não é seu lugar. Por isso pode ser separado do monte sem que
ninguém sinta falta dele.
A terra gira para que todas as pessoas do mundo possam olhar
para o espaço em todas as direções. Assim cada um pode ver as estrelas e tudo o que existe de qualquer lugar onde esteja…
Não importa onde você mora, não há nenhum único pedacinho da glória do céu que ficará escondido de você.
Quando penso nas cartas da paciência de Frode, tenho a impressão de que o equilíbrio da natureza desapareceu por completo.
Não sabia que as pessoas também podiam naufragar em aventuras. Hoje sei que todo mundo deve ter muito cuidado com elas.
– É verdade… Está aí uma coisa misteriosa. Existem cerca de cinco bilhões de pessoas neste planeta. Mas a gente acaba se apaixonando por uma pessoa determinada e não quer trocá-la por nenhuma outra.
O Dia do Curinga
A vida é uma loteria gigante, da qual só se vêem os ganhadores.
Mas aquilo não me impressionou muito. Meus pensamentos estavam em outro lugar… E em outro tempo.
Vivo com tanta emoção porque sei que só tenho uma vida.
Não é o castelo de areia a coisa mais importante na brincadeira da criança. O mais importante é a imagem de um castelo de areia que a criança tem na cabeça antes de começar a construir o castelo. Por que outra razão você acha que ela destrói com as mãos o castelo que acabou de construir?
Criaturas são belas, mas todas perderam a razão, exceto uma. Só o curinga do jogo não se deixa iludir.
A paciência é uma maldição de família. Há sempre um coringa que não se deixa iludir. Quem quer entender o destino, tem de sobreviver a ele.
Isso se explica pelo fato de que a imagem que você tem do que quer fazer sempre é incomparavelmente superior às cópias a que você tenta dar forma com as mãos.
“Para as crianças, o mundo – e tudo o que há nele – é uma coisa nova; algo que desperta a admiração. Nem todos os adultos vêem a coisa dessa forma. A maioria deles vivencia o mundo como uma coisa absolutamente normal.
E precisamente neste ponto os filósofos constituem uma louvável exceção. Um filósofo nunca é capaz de se habituar completamente com este mundo. Para ele ou para ela o mundo continua a ter algo de incompreensível,
algo até enigmático, de secreto. Os filósofos e as crianças têm, portanto, uma importante característica comum. Podemos dizer que um filósofo permanece a vida toda tão receptivo e sensível às coisas quanto um bebê.”
Tenho certeza absoluta de que um curinga continua perambulando pelo mundo. Ele se encarregará de não permitir que o mundo se acomode. A qualquer momento, e em qualquer parte, pode aparecer um pequeno bobo da corte usando um barrete e uma roupa cheia de guizos tilintantes. Ele nos olhará nos olhos e nos perguntará: “Quem somos? De onde viemos?”
Se realmente existe um Deus, ele deve estar brincando de esconde-esconde com as suas criações.
Não se pode experimentar a sensação de existir sem se experimentar a certeza que se tem de morrer(…). É igualmente impossível pensar que se tem de morrer sem pensar ao mesmo tempo em como a vida é fantástica.
O aplauso à grande explosão só chegou 14 bilhões de anos depois dela ocorrer.
Existe um mundo. Em termos de probabilidade, isso é algo que esbarra no limite do impossível. Teria sido muito mais fidedigno se, por acaso, não existisse nada. Nesse caso, ninguém teria começado a perguntar por que não havia nada.
Não nascemos com expectativas já prontas acerca de como o mundo é, ou de como as coisas se comportam no mundo. O mundo é como é, e nós vamos experimentando isto pouco a pouco.
Você diria que uma pessoa pode planejar tudo o que sonha? Escapar de sua onisciência talvez seja tão difícil quanto correr de nossa própria sombra. Mas não podemos simplesmente abandonar nossa própria rebeldia, por mais fraca que ela seja.
Era uma vez um monge que achava que Buda dava respostas pouco claras sobre
questões importantes, por exemplo, o que é o mundo ou o que é um homem. Buda respondeu contando a história de uma pessoa que tinha sido ferida por uma flecha envenenada. Este homem nunca perguntaria por puro interesse teórico de que material é feita a flecha, em que veneno foi embebida ou a partir de que ponto ele fora atingido.
-Ele havia de querer que alguém lhe tirasse a flecha e tratasse a ferida.
– É, não é? Isso seria existencialmente importante.
Buda e Kierkgaard sentiam que existiam por um curto espaço de tempo. E como eu disse: nesse caso, não nos sentamos a uma escrivaninha a especularmos sobre o espírito.
– Compreendo.
– Kierkegaard disse também que a verdade é “subjetiva”. Não queria afirmar que é indiferente o que pensamos ou aquilo em que acreditamos. Queria dizer que as verdades realmente importantes são “pessoais”. Só essas
verdades são “verdades para mim”
a filosofia é a forma mais elevada da razão, pois na filosofia o espírito reflete sobre o seu papel na história. Só na filosofia é que o espírito se encontra a si mesmo. Deste ponto de vista, poderíamos dizer que a filosofia é o espelho do espírito.
Somos um planeta vivo, Sofia! Somos um grande barco navegando ao redor de um sol incandescente no universo. Mas cada um de nós é um barco em si mesmo, um barco carregado de genes navegando pela vida. Se conseguirmos levar esta carga ao porto mais próximo, nossa vida não terá sido em vão.
Nós mesmos contribuímos para o que sentimos e percebemos, pois somos nós que escolhemos aquilo que nos é importante.
As vezes nós também racionalizamos, quer dizer, tentamos mostrar a nós mesmos, e aos outros, que temos outros motivos para fazer o que fazemos em certas situações, e não revelamos os reais motivos que nos levaram a agir de certa maneira, simplesmente porque eles são constrangedores demais.
Não se sentir amado dói muito, afirma.
Torna as pessoas más. Mostre-lhe que o ama. Tente! Por favor!
Duvido que tivesse sido capaz de viver uma só vida
Não se pode experimentar a sensação de existir sem se experimentar a certeza que se tem de morrer.
Não era um tanto esquisito ela não saber quem era? E também não era uma injustiça o fato de ela mesma não poder determinar sua aparência? Isto simplesmente lhe tinha sido imposto ao nascer. Seus amigos, estes sim ela talvez pudesse escolher, mas não tinha tido a chance de escolher-se a si própria. Não tinha sequer decidido ser uma pessoa.
O que era uma pessoa?
Estou vivendo no mundo agora, pensou. Mas um dia terei desaparecido.
E é igualmente impossível pensar que se tem de morrer sem pensar ao mesmo tempo em como a vida é fantástica.
Não era triste que a maioria das pessoas tivesse primeiro que ficar doente para só então entender o quanto a vida é bela?
Na escola, era difícil se concentrar no que o professor dizia. Ela achou que ele só falava de coisas sem importância. Porque ele não falava do que é um ser humano? Ou do que é o mundo e como ele surgiu?
Mas será que existe alguma coisa que interessa a todos?
Qual a coisa mais importante na vida? Se o perguntarmos a alguém num país com o problema da fome, a resposta é: a comida.
Se pusermos esta questão a alguém que esteja com frio, nesse caso a resposta é: o calor.
E se perguntarmos a uma pessoa que se sinta muito sozinha a resposta será certamente: a companhia de outras pessoas.
A CAPACIDADE DE NOS SURPREENDERMOS É A ÚNICA COISA DE QUE
PRECISAMOS PARA NOS TORNARMOS BONS FILÓSOFOS.
Um filósofo nunca se conseguiu habituar completamente ao mundo. Para um filósofo ou para uma filósofa o mundo é ainda incompreensível, enigmático e misterioso. Um filósofo permanece durante toda a sua vida tão capaz de se
surpreender como uma criança pequena.
E agora tens que te decidir, cara Sofia: Você é uma criança que ainda não se habituou ao mundo? Ou é uma filósofa que pode jurar que isso nunca lhe acontecerá?
– Senhoras e senhores – gritam os filósofos – estamos conhecendo o espaço.
Mas nenhuma das pessoas lá em baixo. se interessa pela gritaria dos filósofos.
Apenas dizem – Deus do céu!, que caras mais barulhentos!
Os homens sempre tinham tido a necessidade de encontrar explicações para os fenômenos da natureza.
Talvez os homens não pudessem viver sem essas explicações.
Por isso tinham inventado os mitos, pois naquela época não existia a ciência.
O mundo é feito de opostos constantes. Se nunca ficássemos doentes, não seberíamos o que é a saúde. Se nunca tivéssemos fome, não gostaríamos de comer. Se nunca houvesse guerra, não saberíamos apreciar a paz, e se nunca fosse Inverno, não saberíamos quando chega aPrimavera. Tanto o bem como o mal ocupam um lugar necessário no todo. Sem o jogo permanente entre os opostos, o mundo não existiria.
Sofia achava a filosofia excitante, pois ela podia seguir todas as reflexões com o seu próprio entendimento – sem ter de lembrar tudo o que aprendera na escola.
E concluiu que, na verdade, não se pode aprender filosofia, e sim aprender a “pensar” filosoficamente.
A pessoa mais inteligente é aquela que sabe que não sabe.
O verdadeiro conhecimento vem de dentro.
Quem sabe o que é certo, acaba fazendo a coisa certa.
Mesmo que houvesse resposta para muitas questões filosóficas, os homens nunca poderiam encontrar explicações verdadeiramente seguras para os enigmas da
natureza e do universo.
Ele achava impossível que alguém fosse feliz se agisse contra as suas próprias convicções. E aquele que sabe como atingir a felicidade vai fazê-lo. Por isso, quem sabe o que está certo, fará o que está certo. Pois ninguém deseja ser infeliz.
Os filósofos não se interessam por essas coisas efêmeras e cotidianas. Eles tentam mostrar o que é “Eternamente verdadeiro”, “Eternamente belo” e “Eternamente bom”
E nesse caso é importante tolerar a crença dos outros em
vez de se perguntar por que é que não têm todos a mesma crença. O fundamental não é saber se uma religião é verdadeira, sim se ela é verdadeira pra você.
Depois que a gente faz as coisas é que percebe o que não deveria ter feito, mas pelo menos aprendemos a perguntar essas coisas.
Uma geração envelhece enquanto a outra cresce.
Não vivemos apenas em nosso próprio tempo. Carregamos conosco também a nossa história.
Quem de três milênios,
Não é capaz de se dar conta,
Vive na completa ignorância, na sombra,
A mercê dos dias e do tempo.
Hoje não sou o mesmo de ontem.
Hoje estamos por aqui e amanhã podemos não estar.
Será que somos pessoas de verdade, feitas de carne e osso? Será que o nosso mundo consiste em coisas reais, ou será que tudo que nos cerca não passa de conciência?
Afinal somos feitos da mesma matéria dos sonhos, e nossa breve vida está encolta em sono…
Não importa quem somos. O mais importante é que somos.
O homem traz o universo inteiro dentro de si e a a melhor foma de vivenciar o mistério do mundo é mergulhar em si mesmo.
Cansados da eterna luta por abrir caminho pela matéria bruta, escolhemos outro caminho e nos lançamos, apressados, aos braços do infinito. Mergulhamos em nós mesmos e criamos um novo mundo.
Cada um de nós é um indivíduo único, que só vive esta única vez, Porém sempre tinhamos tentado interpretar o mundo, em vez de tentar modificá-lo. Mas na natureza nada existe por acaso..
Naquele momento passou pela sua cabeça o quanto era estranho ela estra vivendo justamente aquele instante: o quanto era estranho viver uma única vez e depois nunca mais voltar a vida. E então ela exclamou:
De que serve o eterno criar,
Se a criação em nada acabar?
Fazemos parte de algo maior, onde tudo é importante até a menor forma de vida.
Nós somos o planeta vivo, Sofia! Somos um grande barco que navega à volta de um sol ardente no universo.
Mas cada um de nós também é um barco em si mesmo, que atravessa a vida carregando genes. Quando levarmos a carga até ao porto seguinte, não teremos vivido em vão.
Por outras palavras, estamos condenados a improvisar.
Somos como atores que são mandados para cena sem ter um papel, um guia ou um ponto que nos possa sussurrar aquilo que devemos fazer. Nós próprios temos de escolher
como queremos viver. O homem está condenado a
ser livre porque quando é posto no mundo é responsável por tudo o que faz.
É na busca de respostas para as GRANDES perguntas que o homem tem encontrado respostas claras e definitivas para as PEQUENAS perguntas…
O mundo está mudando muito depressa. Na verdade isto não me surpreende nem um pouco. Mas eu deveria ficar surpresa por não estar surpresa…
Quando observamos o universo, na verdade observamos o passado. Não temos outra escolha. Nunca sabemos como o universo “está” agora. Quando observamos uma estrela lá no céu, a milhares de anos luz da terra, viajamos rumo a um passado que está a milhares de anos na história do universo.
Portanto a única coisa que um astrólogo pode fazer é prever o passado.
O que é esta matéria que compõe o mundo? O que foi que explodiu há bilhões de anos? De onde ela veio?
Somos uma centelha da grande fogueira acesa há bilhões de anos no Big-Bang. Fico pensando se não há alguém lá longe, na imensidão dos anos-luz… Afinal nós também somos poeira estrelar…
O Mundo De Sofia
(De Jostein Gaarder, por Marino, Ricardo, Rafael e Thiago)
O Mundo de Sofia, editado pela primeira vez em 1991, é um dos livros que continua a encantar todo o tipo de leitores. Mesmo depois de todo o êxito inicial e de se ter tornado quase de imediato um best-seller, continua a ser lido, hoje em dia, por milhares de pessoas, em particular por jovens. O autor, Jostein Gaarder, professor de filosofia do secundário, conseguiu de uma forma original desenvolver uma aventura cheia de reflexões e perguntas através da história da filosofia desde o princípio dos tempos.
O objetivo principal deste livro não é, segundo o nosso ponto de vista, relatar ao leitor a evolução da filosofia ao longo do tempo, mas sim fazer com que este não seja tão indiferente àquilo que o rodeia. Isto é conseguido através das respostas dos grandes filósofos às questões que sempre afligiram o mundo.
A capacidade de nos surpreendermos é a única coisa de que precisamos para nos tornarmos bons filósofos (…) E agora tens que te decidir, Sofia: és uma criança que ainda não se habituou ao mundo? Ou és uma filósofa que pode jurar que isso nunca lhe acontecerá?… Não quero que tu pertenças à categoria dos apáticos e dos indiferentes. Quero que vivas a tua vida de forma consciente.
Quem és tu?, De onde vem o mundo?, Haverá uma vontade e um sentido por detrás daquilo que acontece?, estas são algumas das perguntas colocadas a Sofia durante aquilo que irá ser um verdadeiro curso de filosofia. Este curso foi oferecido a Sofia por uma pessoa que ela não conhecia mas que acabou por se tornar rapidamente num grande amigo. Através dele, Sofia viaja até 600 a.c., onde encontra os primeiros filósofos, e a partir daí segue o rumo da história dos homens e o evoluir da mentalidade e do pensar filosófico. É por meio do seu professor de filosofia que Sofia conhece Sócrates, Aristóteles, Descartes, Spinoza, Kant, Hegel, Marx, Freud, entre muitos outros.
Mas a história de Sofia e Alberto (o seu professor) não fica por aqui. Ao mesmo tempo que se vai desenvolvendo o seu curso de filosofia, as duas personagens vão-se apercebendo da existência de outra realidade para além daquela em que vivem.
É uma história composta de muitas outras, que nos faz pensar se não seremos também nós apenas personagens duma história que um dia alguém escreveu. É nesta perspectiva que o autor faz aparecer na mesma realidade que Sofia personagens como o Capuchinho Vermelho, Aladino ou o João Ratão, todas elas criadas um dia por alguém que lhes era superior e que lhes restringia a existência a uma simples história infantil. Depois de criadas, todas elas são obrigadas a viver num plano de existência paralelo. O mesmo aconteceu a Sofia e Alberto, que no fundo não passam de duas personagens duma aventura na filosofia.
O fato de o mar estar calmo na superfície não significa que algo não esteja acontecendo nas profundezas.
A capacidade de nos surpreendermos é a única coisa de que precisamos para nos tornarmos bons filósofos.
Jostein Gaarder in O mundo de Sofia
Não é fácil encontrar uma pessoa numa cidade grande, e muito menos cruzar o caminho dela quando a gente quer. E as vezes é justamente isso que a gente quer. Mas quando duas pessoas estão empenhadas em se procurar, não é nenhum milagre elas acabarem se encontrando.
Quando nos perguntamos de onde vem o mundo,e discutimos aalguma respostas possíveis,a consciencia física fica como que parada,pois naõ possui qualquer m aterial sensorial para “processar”;não ppossuio registro de qualquer experiencia que possa trabalhar.Isto porque nunca iremos experimentar toda a enorme realidade de que somos apenas uma ÍNfima parte.
Quando eu morrer, o mundo terá se livrado de um louco. Ou isso, ou ele terá perdido o único normal. E então não terá mais importância quem era louco aqui, o mundo ou eu. De qualquer forma, o mundo terá a última palavra.
Nós conversamos sem nos entender. Pusemo-nos a jogar um complicadíssimo jogo de bola, no qual havia demasiadas regras. Por mais que jogássemos, não havia bola que atingisse a meta.
“… De nada serve acreditar que algo está certo se isso não contribui para ajudar uma pessoa em aflição…!”.
Para muitas pessoas, o mundo é tão incompreensível quanto o truque do mágico que tirou um coelhinho de uma cartola que estaria vazia.
Às vezes, sentir falta da pessoa que está na cama com você dói mais do que a saudade de quem está em outro continente…
(Saul Belezza – trechos de livros – O Castelo nos Pirineus (Jostein Gaarder)
Quão terrivelmente triste é que as pessoas sejam feitas de maneira a se acostumarem a algo tão extraordinário quanto viver.
Não é uma pergunta boba se você não souber responder.
Não podemos esperar compreender o que somos. Talvez possamos compreender realmente uma flor ou um inseto, mas nunca nós mesmos. E muito menos podemos esperar compreender todo o universo.
Nem tudo o tempo reduz a pó. Sempre há um curinga no baralho, que atravessa os séculos fazendo seus malabarismos sem perder um dente de leite sequer.
Quando nos perguntamos de onde vem o mundo,e discutimos aalguma respostas possíveis,a consciencia física fica como que parada,pois naõ possui qualquer m aterial sensorial para “processar”;não ppossuio registro de qualquer experiencia que possa trabalhar.Isto porque nunca iremos experimentar toda a enorme realidade de que somos apenas uma ÍNfima parte.
Nós conversamos sem nos entender. Pusemo-nos a jogar um complicadíssimo jogo de bola, no qual havia demasiadas regras. Por mais que jogássemos, não havia bola que atingisse a meta.
Não podemos esperar compreender o que somos. Talvez possamos compreender realmente uma flor ou um inseto, mas nunca nós mesmos. E muito menos podemos esperar compreender todo o universo.
Nem tudo o tempo reduz a pó. Sempre há um curinga no baralho, que atravessa os séculos fazendo seus malabarismos sem perder um dente de leite sequer.
O delicioso jogo da vida não dá lugar a lembranças e ecos. Já tem muito que fazer consigo mesmo.
Ela não responde, aperta a minha mão com força e ternura – e é como se estivéssemos flutuando, levíssimos, no espaço sideral, parecemos fartos do leite intergalático, tendo o universo inteiro só pra nós.
Eu só tinha olhos para o que não existia.
Talvez não exista nenhuma intimidade equivalente a dois olhares que se encontram com firmeza e determinação, e além disso eles simplesmente não querem se separar.
Nós conversamos sem nos entender.
Será que a garota das laranjas era de outro planeta? Em todo caso, insinuou-se que ela poderia ser de um mundo diferente do nosso.
“Nós conseguimos enxergar tudo num espelho, obscuramente. Às vezes conseguimos espiar através do espelho e ter uma visão de como são as coisas do outro lado. Se conseguíssimos polir mais esse espelho, veríamos muito mais coisas. Porém, não enxergaríamos mais a nós mesmos.”
Pegaste na minha mão e apertaste- a na tua, como se tivesses decidido jamais esquecer esse momento. Foi então que me Perguntaste se podias cheirar o meu cabelo. Enquanto soltavas os meus cabelos e aspiravas o seu perfume, senti a tua respiração no meu pescoço. Era como se me quisesses puxar toda para dentro de ti, como se o meu espaço fosse dentro de ti. Com esse ato, julguei que exprimias o teu desejo de continuarmos juntos para sempre porque as nossas almas estavam fundidas.
E se a morte eliminar a agonia da alma no momento em que extingue a consciência?
Para mim, os pássaros já não cantam, as flores não têm as mesmas cores e ninguém cheira o meu cabelo. Tão-pouco tenho quem me abrace. Partilhei o destino de Dido. Apesar de tudo, jamais lançarei fora o camafeu que neste momento aperto na minha mão.
É mais carnal reprimir o choro porque a dor fica retida dentro de nós como um fardo pesado.
Muitos homens envergonham-se mais de cultivar a amizade com uma mulher do que praticar com ela o amor carnal. Depois culpam o amor carnal de impedir a amizade sincera com uma mulher.
Estávamos a atravessar a ponte sobre o rio. Repentinamente deixaste as pessoas com quem conversavas e vieste ter comigo. Abraçaste-me com ternura e, num sussurro, disseste: «A vida é tão breve, Flória.»
Esta vida é tão breve! Não podemos ter a veleidade de emitir qualquer condenação sobre o amor.
O lobo muda o pêlo, mas não a sua natureza,
O mundo é imenso e pouco sabemos sobre ele… E a vida é demasiado breve.
É bom verificar que ainda recordas os laços fortes que um dia nos uniram. Sabes perfeitamente que a nossa união foi mais do que uma relação fugaz, tão freqüente antes de os homens casarem. Fomos fiéis um ao outro durante mais de doze anos e tivemos um filho juntos. Muitas vezes acontecia que pessoas que nos encontravam, nos tomavam por marido e mulher segundo o preceito legal. Tu apreciavas isso, Aurélio. Creio mesmo que tinhas orgulho nisso, enquanto muitos homens têm vergonha das suas mulheres.
Não é uma forma mais grave de adultério abandonar a pessoa amada por causa da salvação da própria alma? Não seria mais fácil para uma mulher aceitar que o homem a abandonasse para contrair matrimônio com outra ou trocá- la por outra amante? Mas na tua vida não havia outra mulher. Tu simplesmente amavas a salvação da tua alma mais do que me amavas a mim. Querias salvar a tua alma, Aurélio, essa alma que um dia encontrara amparo em mim.
Estou convencida de que um dia conheceste o verdadeiro amor, mas já te esqueceste
Dizia-te: abraça-me, a vida é muito breve e ninguém sabe se existe uma eternidade para as nossas almas frágeis, talvez só tenhamos esta vida. Mas tu não podias admitir tal coisa, Aurélio! Procuravas incansavelmente a eternidade para a tua alma. Davas mais importância à salvação da tua alma do que à perdição da minha.
Há quem colecione moedas ou selos. Eu colecionava as minhas próprias idéias
Há muitas pessoas que de tão embriagadas com as suas próprias sensações, são incapazes de entender que existe um mundo exterior a elas.
Num momento daqueles, a idéia mais inteligente que me ocorreu foi rir-me. Uma reação perfeitamente idiota.
– No fundo somos todos figuras de Lego, só que vivas.
Meu conselho para todos os que querem se encontrar é ficarem bem onde estão. Do contrário, é grande o risco de se perderem para sempre.
”Ser ou não ser” não seria, portanto, a questão central. O importante seria perguntar, também, o que somos. Será que somos pessoas de verdade, feitas de carne e osso? Será que o nosso mundo consiste em coisas reais, ou será que tudo o que nos cerca não passa de consciência?
O homem deveria aceitar o seu destino. Nada acontece por acaso, diziam os estóicos. Tudo acontece porque tem de acontecer e de nada adianta alguém lamentar a sorte quando o destino bate à sua porta.
Também as coisas felizes da vida devem ser aceites pelo homem com grande tranquilidade.
Ainda hoje falamos de uma ‘tranquilidade estóica’ quando queremos nos referir a uma pessoa que não se deixa inflamar por seus sentimentos.
Ainda que só por um instante, foi a primeira vez que nos olhamos nos olhos, foi o nosso primeiro momento de intimidade, pois olhar alguém nos olhos, sem desviar o olhar, que é o normal quando dois olhares se encontram por acaso, pode ser algo bastante íntimo.
Havia começado a alimentar a esperança de que ela pudesse ensinar-me a viver como um ser humano.
Escrevo para me entender a mim mesmo e escreverei com toda a honestidade de que for capaz. Tal não significa que eu seja pessoa em que se possa confiar quando escrevo sobra a minha própria vida e sobre a minha obra, sobre a forma como naufraguei ainda antes de me fazer ao mar.
Tinham deixado de culpar um ao outro, agora cada um culpava a si mesmo.
Estava rodeado de gente com uma enorme vontade de se expressar, de pessoas em que a necessidade é muito maior do que a mensagem.
Por que querem escrever, se reconhecem com toda a sinceridade que não têm nada pra dizer? Não poderiam fazer qualquer outra coisa? Que necessidade era aquela de porem as coisas em marcha estando inativos?
Primeiro vive-se e depois, quem quiser, poderá avaliar se tem qualquer ideia para transmitir; e isso vai ser decidido pela própria vida. A literatura é fruto da vida, não é a vida que nasce da escrita.
E foi-se embora, mas eu tive a sensação de que levou consigo qualquer coisa que tinha visto nos meus olhos
A justiça só é possível entre iguais
O ensino da filosofia não precisa ser complexo, intricado. Tem a ver com curiosidade, a mania de fazer perguntas, algo que perdemos na cultura ocidental quando envelhecemos.
O sol também não tem luz própria. Ele é apenas um espelho que reflete a luz de Deus.
Para que se deveria, em meio à grande ausência de limites, colocar a todo custo um limite qualquer?
No espelho da parede, vemo-nos passar sorrateiros na penumbra, vemos que nós mesmo somos os seres enigmáticos que queremos caçar
Não consigo me acostumar a ti, meu companheiro de caminhada que levo em meu pulso. Tua verdade é brutal. Cospes os segundos como balas de uma metralhadora. E teu arsenal é suficiente para te servir, leviano Nada.
Teus números são os números de mortos. Teu pulsar é frio como a foice.
… presos num conto de fadas
apenas a dois encontraremos o caminho
presos num gobelino
que nós dois tecemos juntos
isolados de todos
com uma língua que apenas você e eu entendemos.
Quanto mais escura a noite, maior a quantidade de sóis que podemos ver no céu. Durante o dia só conseguimos enxergar o nosso próprio sol.
– do livro Ei! tem alguém aí? de Jostein Gaarder
– Se existe um Deus, ele não só é um ás em deixar vestígios, mas, sobretudo, um mestre em se esconder. E o mundo não é dos que falam além da conta. O
firmamento
continua calado. Não há muito mexerico entre as estrelas. Mas ninguém ainda se esqueceu da grande explosão. Desde então, o silêncio reinou ininterruptamente, e tudo
o que existe se afasta de tudo. Ainda é possível topar com a Lua. Ou com um cometa. Não espere que o recebam com amáveis clamores. No céu não se imprimem cartões
de visita.
Nós vivemos dentro de um grande conto de fadas, do qual ninguém faz realmente ideia.
(A garota das laranjas, p. 110).
Uma única pergunta pode ser mais explosiva do que mil respostas.
A história é como um grande conto de fadas. A única
diferença entre os dois é que a história é de verdade.
E embora estivéssemos vendo as mesmas estrelas, estávamos infinitamente longe uns dos outros.
Se nosso cérebro fosse tão simples a ponto de podermos entendê-lo, seríamos tão tolos que continuaríamos sem entendê-lo.
Pois quando a gente entende que não entende alguma coisa é que a gente está prestes a entender tudo.
O sopro do tempo nos perpassa, nos carrega e se incorpora a nós. Depois de desprende de nós e nos deixa cair. Somos arrebatados como num passe de mágica e depois novamente abandonados. Sempre há alguma coisa fermentando, à espera de tomar nosso lugar. Isso porque não temos um solo firme, sob os nossos pés. Não temos sequer areia sob os nossos pés. Nós somos areia!
Subito me senti infinitamente triste por todos nós, seres humanos, que acabamos nos acostumando com uma coisa tão incrível, tão imperscrutável como a vida. Um belo dia acabamos achando evidente o fato de existirmos… e então… bem, só então voltamos a pensar que um dia teremos de deixar esse mundo!
Pois maior que tudo é o amor. E o tempo nem de longe consegue apagá-lo com a mesma rapidez com que apaga as lembranças.
Nascer é receber de presente o mundo inteiro.
” (…) Deve ser ainda mais estranho pensar que é estranho ser aquilo que se é. Creio que ninguém nunca vai encontrar uma pedra que acha estranho ser uma pedra. E com certeza nenhuma tartaruga acha incrível ser uma tartaruga. Mas parece que certos seres humanos acham estranhissímo ser um ser humano.(…)”
O curinga (…) é um caso à parte; uma carta sem
relação com as outras. Ele está no mesmo monte das outras cartas, mas
aquele não é seu lugar. Por isso pode ser separado do monte sem que
ninguém sinta falta dele.
A terra gira para que todas as pessoas do mundo possam olhar
para o espaço em todas as direções. Assim cada um pode ver as estrelas e tudo o que existe de qualquer lugar onde esteja…
Não importa onde você mora, não há nenhum único pedacinho da glória do céu que ficará escondido de você.
Quando penso nas cartas da paciência de Frode, tenho a impressão de que o equilíbrio da natureza desapareceu por completo.
Não sabia que as pessoas também podiam naufragar em aventuras. Hoje sei que todo mundo deve ter muito cuidado com elas.
– É verdade… Está aí uma coisa misteriosa. Existem cerca de cinco bilhões de pessoas neste planeta. Mas a gente acaba se apaixonando por uma pessoa determinada e não quer trocá-la por nenhuma outra.
O Dia do Curinga
A vida é uma loteria gigante, da qual só se vêem os ganhadores.