Os leitores são os meus vampiros.
A vida de uma pessoa consiste num conjunto de acontecimentos, dos quais o último também poderia mudar o sentido de todo o conjunto.
O conhecimento do próximo tem isto de especial: passa necessariamente pelo conhecimento de si mesmo.
A fé é uma visão das coisas que não se veem.
Quando tenho mais ideias do que os outros, dou-lhe essas idéias, se as aceitam; e isso é comandar.
Não podemos conhecer nada de exterior a nós próprios que nos supere (…) o universo é o espelho em que podemos contemplar apenas o que aprendemos a conhecer em nós.
Até mesmo para quem passou toda uma vida no mar, chega uma idade em que se deixa a embarcação.
Escrever é sempre esconder algo de modo que mais tarde seja descoberto.
Há duas maneiras de não sofrer. A primeira parece fácil para a maioria das pessoas e consiste em aliar-se ao inferno até não mais senti-lo. A segunda é difícil e exige aprendizado continuo e constante e consiste em saber quem é o quê, no meio do inferno, que não é inferno e preservá-lo e abrir espaço!
Quem somos nós, quem é cada um de nós senão uma combinatória de experiências, de informações, de leituras, de imaginações? Cada vida é uma enciclopédia, uma biblioteca, um inventário de objetos, uma amostragem de estilos, onde tudo pode ser completamente remexido e reordenado de todas as maneiras possíveis.
É como um poço sem fundo.
Voltamos a sentir o apelo do nada,
a tentação de cair,
de nos rejuntarmos
a uma obscuridade que nos convoca.
“Eu a amava, em suma. E era infeliz. Mas como poderia ela
algum dia entender essa minha infelicidade? Há aqueles que se condenam ao
cinzento da vida mais medíocre porque tiveram alguma dor, alguma desgraça; mas
há também aqueles que o fazem porque tiveram mais sorte do que poderiam
suportar”
Um clássico é um livro que nunca terminou de dizer aquilo que tinha para dizer
Ser capaz de colocar continuamente em questão as próprias opiniões esta é, para mim, a condição preliminar de qualquer inteligência.
“O inferno dos vivos não é algo que será; se existe, é aquele que já está aqui, o inferno no qual vivemos todos os dias, que formamos estando juntos. Existem duas maneiras de não sofrer. A primeira é fácil para a maioria das pessoas: aceitar o inferno e tornar-se parte deste até o ponto de deixar de percebê-lo. A segunda é arriscada e exige atenção e aprendizagem contínuas: procurar e reconhecer quem e o que, no meio do inferno, não é inferno, e preservá-lo, e abrir espaço”
A vida de uma pessoa consiste num conjunto de acontecimentos no qual o último poderia mesmo mudar o sentido de todo o conjunto, não porque conte mais do que os precedentes mas porque, uma vez incluídos na vida, os acontecimentos dispõem-se segundo uma ordem que não é cronológica mas que corresponde a uma arquitetura interna. Uma pessoa, por exemplo, lê na idade madura um livro importante para ela, que a faz dizer: ‘Como poderia viver sem o ter lido!’ e ainda: ‘Que pena não o ter lido quando era jovem!’. Pois bem, estas afirmações não fazem muito sentido, sobretudo a segunda, porque a partir do momento em que ela leu aquele livro, a sua vida torna-se a vida de uma pessoa que leu aquele livro, e pouco importa que o tenha lido cedo ou tarde, porque até a vida que precede a leitura assume agora uma forma marcada por aquela leitura.”
Italo Calvino, in Palomar
A vida de uma pessoa consiste num conjunto de acontecimentos no qual o último poderia mesmo mudar o sentido de todo o conjunto, não porque conte mais do que os precedentes mas porque, uma vez incluídos na vida, os acontecimentos dispõem-se segundo uma ordem que não é cronológica mas que corresponde a uma arquitetura interna.
Existem duas maneiras de não sofrer. A primeira é fácil para a maioria das pessoas: aceitar o inferno e tornar-se parte dele até o ponto de deixar de percebê-lo. A segunda é arriscada e exige atenção e aprendizagem contínuas: tentar saber reconhecer quem e o que, no meio do inferno, não é inferno, e abrir espaço, fazê-lo durar.
A melancolia é uma tristeza com um pouco de leveza.
A verdadeira distância entre duas gerações é dada pelos elementos que têm em comum e que obrigam à repetição cíclica das mesmas experiências, como nos comportamentos das espécies animais transmitidos pela herança biológica; ao passo que os elementos da verdadeira diversidade existente entre nós e eles são, pelo contrário, o resultado das modificações irreversíveis que cada época traz consigo, ou seja, dependem da herança histórica que nós lhes transmitimos, a verdadeira herança de que somos responsáveis, mesmo que por vezes o sejamos de forma inconsciente. Por isso não temos nada a ensinar: sobre aquilo que mais se parece com a nossa experiência não podemos influir; naquilo que traz o nosso cunho, não sabemos nos reconhecer.