Entregou-se tanto ao vício da luxúria que em sua lei tornou lícito aquilo que desse prazer, para cancelar a censura que merecia.
Quanto maior é a sede, maior é o prazer em satisfazê-la.
Muito pouco ama, quem com palavras pode expressar quanto muito ama.
Puderam vencer em mim o ardor,
que me levou a conhecer o mundo,
e os vícios e as virtudes dos homens…
E tal, balbuciando, ama e obedece / à sua mãe, mas, quando adulto, / deseja vê-la enterrada.
Quem és tu que queres julgar, / com vista que só alcança um palmo, / coisas que estão a mil milhas?
A razão vos é dada para discernir o bem do mal.
Pois perder tempo desagrada mais a quem mais conhece o seu valor.
Em vida, / eu jamais teria sido tão cortês, / tal era o meu desejo de sobressair.
Em leito de penas / não se alcança a fama nem sobre as cobertas; / Quem a vida consome sem a fama, / não deixa de si nenhum vestígio sobre a terra, / qual fumo no ar e espuma na água.
Pelo exemplo de Beatriz compreende-se / facilmente como o amor feminino dura pouco, / se não for conservado aceso pelo olhar e pelo tacto do homem amado.
As leis existem, mas quem as aplica?
Vês que a razão, / seguindo o caminho indicado pelos sentimentos, tem asas curtas.
Oh, quão insuficiente é a palavra e quão ineficaz / ao meu conceito!
O mundo é cego, e tu vens exatamente dele.
Quando os seus pés deixaram a pressa, / que tolhe a nobreza a todo o ato….
Não deve o homem, pelo maior amigo, esquecer os favores recebidos do menor.
Do viver que é uma corrida para a morte.
A vontade, se não quer, não cede, é como a chama ardente, que se eleva com mais força quanto mais se tenta abafá-la.
Não há maior dor do que a de nos recordarmos dos dias felizes quando estamos na miséria.
O falar é um efeito natural; / mas, de um modo ou de outro, a natureza deixa o homem / escolher aquele que mais lhe agrada.
Tão fiel fui ao glorioso ofício, que perdi o sono e a saúde.
O tempo passa e o homem não percebe.
Abre a mente ao que eu te revelo e retém bem o que eu te digo, pois não é ciência ouvir sem reter o que se escuta.
Porque jamais esquecerei, e ela me comove, vossa estimada e boa imagem paterna, quando no mundo, uma vez por outra, me ensináveis como o homem se torna eterno.
Ó musas, com o vosso alto engenho, ajudai-me; / ó memória, que escreveste o que vi, / que se prove aqui a tua fidelidade.
E se não choras, do que costumas chorar?
Sai da mão de Deus que a contempla / antes de criá-la, como uma criança / que chora e ri sem verdadeiro motivo, / a alma ingénua que tudo ignora, / excepto quando, movida pelo desejo de retornar a Ele, / segue de bom grado o que a diverte.
Louco é quem espera que a nossa razão / possa percorrer a infinita via / que tem uma substância em três pessoas.
Tiveste sede de sangue, e eu de sangue te encho.
O dardo que vimos aproximar-se chega mais devagar.
Vós que viveis e sempre atribuís tudo o que ocorre na terra / aos movimentos celestes, como se tal movimento imprimisse / em todas as coisas uma necessidade, // Se assim fosse, em vós seria destruído / o livre-arbítrio, e não seria justo que o homem tivesse / por bem a alegria e por mal a dor.
Pensa que o dia passado não volta mais!
A verdade é que, como forma muitas vezes / não se harmoniza com a intenção da arte, / porque a matéria é surda a responder.
Amor e coração nobre são uma única coisa.
Uma vontade, mesmo se é boa, deve ceder a uma melhor.
Depois, mais do que a dor, venceu a fome.
O homem sábio sempre evita dizer a verdade quando ela possa parecer mentira, a fim de não ser injustamente tido por mentiroso.
A estirpe não transforma os indivíduos em nobres, mas os indivíduos dão nobreza à estirpe.
Não há ninguém que seja árbitro verdadeiro e imparcial de si mesmo.
Em primeiro lugar a virtude deve ser alegre e não triste em qualquer atividade.
A alma é o maior milagre do mundo!
A grande honra se conquista com a vingança.
Por aqui não se passa sem que se sofra o calor do fogo.
Não se pode exprimir com palavras / a passagem do estado humano ao divino….
O amor me move: Só por ele eu falo.
Trazes turbado o espírito, não conseguindo entender como é possível que uma vingança justa tenha sido mais tarde justamente punida…
No dia em que o homem permitir que o verdadeiro amor apareça, as coisas que estão bem estruturadas se transformarão em confusão e irão balançar tudo aquilo que achavamos que é certo, que é verdadeiro.
Alma, criada para amar ardente,
A tudo corre, que lhe dá contento,
Se despertada do amor se sente.
Do que é real o vosso entendimento
Colhe imagens que em modo tal desprega,
Que alma prá elas sente atraimento.
Se alma, enlevada, ao seu pendor se entrega
Esse efeito é amor, própria natura,
Em que o prazer novo liame emprega.
E, como fogo se ala para a altura
Por sua forma que a elevar-se tende
Ao foco, onde o elemento seu mais dura,
Assim pelo desejo a alma se acende,
Ação espiritual que não se aquieta,
se não consegue a posse que pretende.
Vê, pois, que da verdade excede a meta
Quem acredita e aos outros assevera
Que todo amor de si é coisa reta.
Devemos temer unicamente o que pode de fato nos causar dano, e o simples temor não pode fazer mal.
Portanto, pra teu bem, penso e externo
que tu me sigas, e eu te irei guiando.
Levar-te-ei para lugar eterno
de condenados que ouvirás bradando,
de antigas almas que verás, dolentes,
uma segunda morte em vão rogando.
Tu provarás como tem gosto de sal
o pão alheio, e descer e subir
a alheia escada é caminho crucial.
Com aquela medida que o homem usa para medir a si mesmo, mede as suas coisas.
A fera assim me fez, que não se sossega.
Não há nada pior que recordar a felicidade em tempos de dor.
Muita cautela e igual prudência devem ter os homens quando lidam com os que enxergam não somente as coisas, mas percebem também o que se pensa.
Aquele que à inatividade se entregar deixará de si sobre a terra memória igual ao traço que o fumo risca no ar e a espuma traça na onda.
Amor e alma gentil estão ligados
como nos diz o sábio na canção.
Só pode um sem o outro ser pensado
se à alma racional falta razão.
Serve-te da prudência como chumbo para os pés que te permita avançar lentamente. Não tenhas pressa em responder “sim” ou “não”, pois se revela o mais tolo entre os tolos quem sem meditação afirma ou nega; eis que num e noutro caso cumpre ter ponderação, sendo a afoiteza causa de que muitas vezes a opinião geral conclua erroneamente com a paixão e não com o raciocínio.
No céu a aurora já resplandecia,
Subia o sol, dos astros rodeado,
Seus sócios, quando o Amor divino um dia
A tais primores movimento há dado.
Mas não decidas sobre assunto tão
duvidoso enquanto ela não to diz,
que aclara o vero para sua compreensão;
não sei se entendes: falo te de Beatriz,
que já verás, desse monte à cumeeira
suprema, toda risonha e feliz.
Veio-me a vontade de dizer outras palavras, com o fito de expressar quatro coisas sobre o meu estado e que eu ainda não tinha manifestado. A primeira é que eu me amargurava muitas vezes, quando a minha memória induzia a minha fantasia a imaginar as mutações que o Amor produziria em mim. A segunda era que o Amor, muitas vezes, me possuía tão fortemente, que outra vida não restava em mim senão o pensamento que falava dessa mulher. A terceira é que, quando essa batalha amorosa se travava dentro de mim desse jeito, eu ia ficando cada vez mais pálido à procura dessa mulher, certo de que haveria de tomar o meu partido, ao assistir o semelhante em combate _ mas eu me esquecia o que acontecia comigo toda vez que me aproximava de tanta graça. E a quarta coisa é que esta visão não só não resultava em meu favor, como, ao contrário, acabava, em definitivo, com o sopro de vida que ainda me restava. Disse então o seguinte soneto:
Perversas qualidades dá-me o Amor…
Por que não socorrer quem te amou tanto / Que só por ti deixou do vulgo a estrada?
O duvidar, como o saber, me agrada.
Deixai toda a esperança, Vós que entrais!
Vós que entrais, abandonai toda a esperança.
E não menos que saber, duvidar me agrada.
A natureza é a arte de Deus.
Eis que surge sua bem-aventurança
A fama que se adquire no mundo não passa de um sopro de vento, que ora vem de uma parte, ora de outra, e assume um nome diferente segundo a direcção de onde sopra.
Aquele que mais sabe, mais lastima o tempo perdido.
A contradição não consente o arrependimento e o pecado ao mesmo tempo.
Toda erva se conhece pela semente
Não há tormento mais dorido que relembrar os tempos felizes na desgraça
Não tenha medo: o nosso destino não pode ser tirado de nós. É uma dádiva.
O caminho para o paraíso começa no inferno.
No meio do caminho de nossa vida
Me achei em uma selva escura
Quando o caminho correto se perdera
[…] o amor feminino dura pouco, se não for conservado aceso pelo olhar e pelo tato do homem amado.
Tanta gente ferida e sofrendo deixaram meus olhos inundados de lágrimas.
Aquele que, experto nas doutrinas políticas, não guarde qualquer cuidado de prestar o seu concurso à República; esse não é, com efeito, “a árvore que na margem da ribeira dá frutos sazonados”, mas antes um abismo funesto, que devora para jamais devolver.
É por isso que mais fácil e perfeitamente chegam à posse da verdade filosófica aqueles que nada aprenderam do que aqueles que trabalhando descontinuamente e se imbuíram de opiniões falsas.
Toda a humanidade se ordena a um fim único. É preciso, então, que um só coordene. Tal chefe deverá chamar-se o monarca ou imperador. Torna-se evidente que o bem-estar do mundo exige a Monarquia ou Império.
Porque, pensando, abandonava o intento
Formado à pressa, que (…) me desgosta
A verdade é que então na borda estava,
Do vale desse abismo doloroso,
Donde brado de infindo ais troava
E como o sol aos cegos não se ostenta,
Assim também às sombras que alivia,
Não mais do céu a luz olhos alenta.
Fio de ferro as pálpebras prendia
A todas, como ao gavião selvage
Para domar-lhe a condição bravia.
(…)
As almas do outro lado eram; reparo
Que dos olhos a hórrida costura
Provoca pranto copioso e amaro
Achei-me numa selva tenebrosa,
Tendo perdido a verdadeira estrada
“Pelo que é de saber que de todas aquelas coisas que vencem o nosso intelecto, tal que se não pode ver aquilo que são, é convenientissimo trata-las pelos seus efeitos; de onde de Deus, e das substâncias separadas, e da matéria primeira, assim tratando, podemos ter algum conhecimento.” (Convivio, pp 121)
Não há tormento mais dorido que recordar o tempo venturoso na desgraça.
As coisas se tornam mais perfeitas assim que suportam prazer e dor.
Entregou-se tanto ao vício da luxúria que em sua lei tornou lícito aquilo que desse prazer, para cancelar a censura que merecia.
Quanto maior é a sede, maior é o prazer em satisfazê-la.
Muito pouco ama, quem com palavras pode expressar quanto muito ama.
Puderam vencer em mim o ardor,
que me levou a conhecer o mundo,
e os vícios e as virtudes dos homens…
E tal, balbuciando, ama e obedece / à sua mãe, mas, quando adulto, / deseja vê-la enterrada.
Quem és tu que queres julgar, / com vista que só alcança um palmo, / coisas que estão a mil milhas?
A razão vos é dada para discernir o bem do mal.
Pois perder tempo desagrada mais a quem mais conhece o seu valor.
Em vida, / eu jamais teria sido tão cortês, / tal era o meu desejo de sobressair.
Em leito de penas / não se alcança a fama nem sobre as cobertas; / Quem a vida consome sem a fama, / não deixa de si nenhum vestígio sobre a terra, / qual fumo no ar e espuma na água.
Pelo exemplo de Beatriz compreende-se / facilmente como o amor feminino dura pouco, / se não for conservado aceso pelo olhar e pelo tacto do homem amado.
As leis existem, mas quem as aplica?
Vês que a razão, / seguindo o caminho indicado pelos sentimentos, tem asas curtas.
Oh, quão insuficiente é a palavra e quão ineficaz / ao meu conceito!
O mundo é cego, e tu vens exatamente dele.
Quando os seus pés deixaram a pressa, / que tolhe a nobreza a todo o ato….
Não deve o homem, pelo maior amigo, esquecer os favores recebidos do menor.
Do viver que é uma corrida para a morte.
A vontade, se não quer, não cede, é como a chama ardente, que se eleva com mais força quanto mais se tenta abafá-la.
Não há maior dor do que a de nos recordarmos dos dias felizes quando estamos na miséria.
O falar é um efeito natural; / mas, de um modo ou de outro, a natureza deixa o homem / escolher aquele que mais lhe agrada.
Tão fiel fui ao glorioso ofício, que perdi o sono e a saúde.
O tempo passa e o homem não percebe.
Abre a mente ao que eu te revelo e retém bem o que eu te digo, pois não é ciência ouvir sem reter o que se escuta.
Porque jamais esquecerei, e ela me comove, vossa estimada e boa imagem paterna, quando no mundo, uma vez por outra, me ensináveis como o homem se torna eterno.