É preciso ser de uma limpidez cristalina, e mortalmente seguro de si. (mestre Juan Matus)
Tudo o que é necessário é a impecabilidade, energia, e isto se inicia com um ato singular, que deve ser deliberado, preciso e constante. Se este ato é repetido por tempo suficiente, a pessoa adquire um sentido de intenção inflexível que pode ser aplicado a qualquer outra coisa. Se isso é realizado, o caminho está aberto. Uma coisa leva a outra até que o Guerreiro descubra seu potencial completo. (mestre Juan Matus)
Não despreze o mistério do homem em você sentindo pena de si mesmo ou tentando racionalizá-lo. Despreze a estupidez do homem em você, compreendendo-a. Mas não se desculpe por nenhum dos dois, ambos são necessários. (mestre Juan Matus)
Não preciso de escoras nem de corrimãos. Sei quem sou. Estou sozinho num universo hostil e aprendi a dizer: que seja! (mestre Juan Matus)
Esteja alerta a cada segundo. Não permita que nada nem ninguém decida por você. (mestre Juan Matus)
A autoconfiança do guerreiro não é a autoconfiança do homem comum. O homem comum procura certeza aos olhos do observador e chama a isso autoconfiança. O guerreiro procura impecabilidade aos próprios olhos e chama a isso humildade. O homem comum está preso aos seus semelhantes, enquanto o guerreiro só está preso ao infinito.
Devagar ele começa a aprender…a princípio, pouco a pouco, e depois em porções grandes. E logo seus pensamentos entram em choque. O que aprende nunca é o que ele imaginava, de modo que começa a ter medo. Aprender nunca é o que se espera. Cada passo da aprendizagem é uma nova tarefa, e o medo que o homem sente começa a crescer impiedosamente, sem ceder. Seu propósito torna-se um campo de batalha.
E assim se depara com o primeiro de seus inimigos naturais: o medo! Um inimigo terrível, traiçoeiro, e difícil de vencer. Permanece oculto em todas as voltas do caminho, rondando à espreita. E se o homem, apavorado com sua presença, foge, seu inimigo terá posto fim à sua busca.
– O que acontece com o homem se ele fugir com medo?
– Nada lhe acontece, a não ser que nunca aprenderá. Nunca se tornará um homem de conhecimento,talvez se torne um tirano, ou um pobre homem apavorado e inofensivo, de qualquer forma, será um homem vencido. Seu primeiro inimigo terá posto um fim aos seus desejos.
– E o que ele pode fazer para vencer o medo?
– A resposta é muito simples. Não deve fugir. Deve desafiar o medo e, a despeito dele, deve dar o passo seguinte, e o seguinte. Deve ter medo, plenamente, e no entanto não deve parar. É esta a regra! E o momento chegará em que seu primeiro inimigo recua. O homem começa a se sentir seguro de si. Seu propósito se torna mais forte. Aprender não é mais uma tarefa aterradora. Quando chega esse momento feliz, o homem pode dizer sem hesitar que derrotou seu primeiro inimigo natural.
– Isso acontece de uma vez, Don Juan, ou aos poucos?
– Acontece aos poucos, e no entanto o medo é vencido de repente e depressa.
– Mas o homem não terá medo outra vez se lhe acontecer alguma coisa nova?
– Não. Uma vez que o homem venceu o medo, fica livre dele o resto da vida, porque em vez do medo, ele adquire a clareza… uma clareza de espírito que apaga o medo. Então o homem já conhece seus desejos; sabe como satisfazê-los. Pode antecipar os novos passos na aprendizagem e uma clareza viva cerca tudo. O homem sente que nada se lhe oculta.
E assim ele encontra seu segundo inimigo natural :A clareza .Essa clareza de espírito, que é tão difícil de obter, elimina o medo, mas também cega. Obriga o homem a nunca duvidar de si. Dá-lhe a segurança que ele pode fazer o que bem entender, pois ele vê tudo claramente. E ele é corajoso, porque é claro; não pára diante de nada, porque é claro. Mas tudo isso é um engano; é como uma coisa incompleta. Se o homem sucumbir a esse poder de faz de conta, terá sucumbido ao seu segundo inimigo e tateará com a aprendizagem. Vai precipitar-se quando devia ser paciente, ou vai ser paciente quando deveria precipitar-se. E tateará com a aprendizagem até acabar incapaz de aprender qualquer coisa a mais.
– O que acontece com um homem que é derrotado assim, Dom Juan? Ele morre por isso?
– Não morre. Seu inimigo acaba de impedi-lo de se tornar um homem de conhecimento; em vez disto, o homem pode se tornar um guerreiro valente, ou um palhaço. No entanto, a clareza, pela qual ele pagou tão caro, nunca mais se transformará de novo em trevas ou medo. Será claro enquanto viver, mas não aprenderá nem desejará nada.
– Mas o que tem de fazer para não ser vencido ?
– Tem de fazer o que fez com o medo: tem de desafiar sua clareza e usá-la só para ver, e esperar com paciência e medir com cuidado antes de dar novos passos; deve pensar acima de tudo, que sua clareza é quase um erro. E virá um momento em que ele compreenderá que sua clareza era apenas um ponto diante de sua vista. E assim ele terá vencido seu segundo inimigo, e estará numa posição em que nada mais poderá prejudicá-lo. Isto não será um engano. Não será um ponto diante de sua vista. Será o verdadeiro poder.
Ele saberá a esta altura que o poder que vem buscando há tanto tempo é seu, por fim. Pode fazer o que quiser com ele. Seu aliado está às suas ordens. Seu desejo é ordem. Vê tudo que está em volta. Mas também encontra seu terceiro inimigo; o poder.
O poder é o mais forte de todos os inimigos. E, naturalmente, a coisa mais fácil é ceder; afinal de contas, o homem é realmente invencível. Ele comanda; começa correndo riscos calculados e termina ditando regras, porque é um senhor. Um homem neste estágio quase nem nota que seu terceiro inimigo se aproxima. E de repente, sem saber, certamente terá perdido a batalha. Seu inimigo o terá transformado num homem cruel e caprichoso.
– E ele perderá o poder?
– Não ele nunca perderá sua clareza nem seu poder.
– Então o que o distinguirá de um homem de conhecimento?
– Um homem que é derrotado pelo poder, morre sem realmente saber manejá-lo. O poder é apenas uma carga em seu destino. Um homem desse não tem domínio sobre si, e não sabe quando ou como utilizar se poder.
– A derrota por algum desse inimigos é uma derrota final?
– Claro que é final. Uma vez que esses inimigos dominem o homem não há nada que ele possa fazer.
– Será possível que o homem derrotado pelo poder veja seu erro e se emende?
– Não. Uma vez que o homem cede está liquidado.
– Mas e se ele estiver temporariamente cego pelo poder, e depois o recusar?
– Isto significa que a batalha continua. Isto significa que ele ainda está tentando ser um homem de conhecimento. O indivíduo é derrotado quando não tenta mais e se abandona.
– Mas então, Dom Juan, é possível a um homem se entregar ao medo durante anos, mas no fim vencê-lo.
– Não, isso não é verdade, se ele ceder ao medo, nunca o vencerá, porque se desviará do conhecimento e nunca mais tentará. Mas se procurar aprender durante anos no meio de seu medo, acabará dominando-o, porque nunca se entregou realmente a ele.
– E como um homem poderá vencer seu terceiro inimigo, Don Juan ?
– Também tem de desafiá-lo, propositadamente. Tem de vir a compreender que o poder que parece ter adquirido na verdade nunca é seu. Deve controlar-se em todas as ocasiões, tratando com cuidado e lealdade tudo o que aprendeu. Se conseguir ver que a clareza e o poder, sem controle, são piores do que os erros, ele chegará a um ponto em que tudo estará controlado. Então saberá quando e como usar seu poder. E assim terá derrotado seu terceiro inimigo. O homem estará então, no fim de sua jornada do saber, e quase sem perceber encontrará seu último inimigo; a velhice! Este inimigo é o mais cruel de todos, o único que ele não conseguirá derrotá-lo completamente, mas apenas afastar. É o momento em que o homem não tem mais receios, não tem mais impaciência de clareza de espírito… um momento em que todo o seu poder está controlado, mas também o momento em que ele sente um desejo irresistível de descansar, se ele ceder completamente a seu desejo de se deitar e esquecer, se ele afundar na fadiga, terá perdido a última batalha, e seu inimigo o reduzirá a uma criatura velha e débil, seu desejo de se retirar dominará toda sua clareza, seu poder e sabedoria. Mas o homem sacode sua fadiga e vive seu destino completamente, então poderá ser chamado de um homem de conhecimento, nem que seja no breve momento em que ele consegue lutar contra seu último inimigo invencível. Esse momento de clareza, poder e conhecimento é o suficiente.
(Juan Matus)
Já me dei ao poder que rege meu destino
E não me prendo a nada, para não ter nada a defender.
Não tenho pensamentos, por isso verei.
Não receio nada, por isso lembrarei de mim mesmo.
Desprendido e à vontade,
Passarei como um jato pela Águia para me tornar livre.
Disposição de guerreiro
Precisamos da disposição de guerreiros para todos os atos, senão ficamos fracos e feios. Não existe poder numa vida onde não tenha essa disposição. Olhe para si. Tudo o ofende e perturba. Geme e reclama e acha que todo mundo esta abusando de você. É uma folha à mercê do vento. Não existe poder em sua vida. Um guerreiro, ao contrário, é um caçador. Calcula tudo. Isso é controle. Mas, uma vez terminados seus cálculos, ele age. Entrega-se. Um guerreiro não é uma folha a mercê do vento. Ninguém pode empurrá-lo, ninguém pode obrigá-lo a fazer coisas contra si ou contra o que ele acha certo. Um guerreiro é preparado para sobreviver e ele sobrevive da melhor maneira possível. Um guerreiro pode ser ferido, mas não ofendido. Para um guerreiro, não há nada ofensivo nos atos de seus semelhantes, enquanto ele estiver agindo dentro da disposição correta. (in Don Juan)
Um caminho é só um caminho, e não há desrespeito a si ou aos outros em abandoná-lo, se é isto que o coração nos diz…
Examinhe cada caminho com muito cuidado e deliberação.
Tente-o muitas vezes, tanto quanto julgar necessário.
Só então pergunte a você mesmo, sozinho, uma coisa…
Este caminho tem coração?
Se tem, o caminho é bom,
se não tem, ele não lhe serve.
Um caminho é só um caminho.
Qualquer caminho é apenas um caminho
e não constitui insulto algum
– para si mesmo ou para os outros –
abandoná-lo quando assim ordena o SEU coração.
Olhe cada caminho com cuidado e atenção.
Tente-o tantas vezes quantas julgar necessárias.
Então, faça a si mesmo e apenas a si mesmo uma pergunta:
possui esse caminho um coração?
Qualquer caminho é apenas um caminho e não constitui insulto algum – para si mesmo ou para os outros – abandoná-lo quando assim ordena o seu coração. Olhe cada caminho com cuidado e atenção. Tente-o tantas vezes quantas julgar necessárias… Então, faça a si mesmo e apenas a si mesmo uma pergunta: possui esse caminho um coração? Em caso afirmativo, o caminho é bom. Caso contrário, esse caminho não possui importância alguma.
O poder está no tipo de conhecimento que se tem. De que adianta saber coisas inúteis? Elas não vão nos preparar para o encontro inevitável com o desconhecido.
O caçador, como o guerreiro, é um ser incomum.
Aceita a responsabilidade de seus atos e erros, assumindo somente sua vitória e não a dos outros, como fazem os homens comuns, num equilíbrio lógico no momento certo e oculto nos momentos incertos.
Carlos Castaneda – Roda do Tempo
Liberdade de escolha
Carlos Castañeda diz: “o grande poder do ser humano está na sua capacidade de tomar decisões”. Cada decisão que tomamos nos permite modificar o futuro e o passado.
Escolher, porém, significa comprometer-se. Quando alguém faz uma escolha, deve lembrar-se que o caminho a ser percorrido vai ser muito diferente do caminho imaginado.
Escolher significa: “bem, eu sei onde quero chegar”. A partir daí, é preciso estar atento ao mundo, porque uma decisão deflagra uma série de eventos inesperados.
Comprometa-se com a sua decisão – seja ela no campo afetivo, profissional ou espiritual; tudo que sua decisão precisa é sua vontade de seguir adiante. De resto, ela mesma lhe tomará pelas mãos, e lhe mostrará o melhor caminho.
Você deve agir sem acreditar, sem esperar recompensas, agir só por agir.
“Ou nós nos fazemos infelizes ou nos tornamos fortes. A quantidade de trabalho é a mesma”.
Um guerreiro considera que já está morto, e que não há nada a perder. O pior que podia ter acontecido para ele, já aconteceu.
… precisei compreender o que experimentara, e o que experimentara era o ensinamento de um sistema coerente de crenças por meio de um método pragmático e experimental.
… os estados de realidade não comum eram a única forma de aprendizagem pragmática e o único meio de se adquirir o poder.
Existem certos objetos que são imbuídos do poder.
O poder reside no tipo do poder que a gente tem. De que adianta saber coisas inúteis?
… um ponto significava um lugar em que a pessoa se sentisse naturalmente feliz e forte.
… nem todos os lugares eram bons de se sentar ou estar, e que dentro dos limites da varanda havia um ponto que era único, um ponto em que eu estaria em minha melhor forma. Cabia a mim distingui-lo de todos os outros lugares.
Não há nada de mau em se sentir medo. Quando se tem medo, vê-se as coisas de modo diferente.
O medo é o primeiro inimigo natural que o homem tem de vencer em seu caminho para o conhecimento.
Você não está habituado com este tipo de vida; portanto as indicações (agouros) lhe passam despercebidas. No entanto, é uma pessoa séria, mas sua seriedade está ligada ao que você faz, não ao que se passa fora de você. Preocupa-se muito com você. É este o problema. E isso dá um cansaço horrível.
… aprender por conversas era não só uma perda de tempo, como ainda era estupidez, pois aprender era a tarefa mais difícil que o homem poderia empreender
O homem só vive para aprender. E se aprende é porque é essa a natureza de seu destino, para melhor ou para pior.
Não! Nunca me zango! Nenhum ser humano pode fazer alguma coisa tão importante que mereça isso. A gente se zanga, com as pessoas quando acha que seus atos são importantes. Não sinto mais isso.
Um homem de conhecimento é aquele que seguiu honestamente as dificuldades da aprendizagem – disse ele. Um homem que, sem se precipitar nem hesitar, foi tão longe quanto pôde para desvendar os segredos do poder e da sabedoria.
E o que pode ele fazer para vencer o medo?
– A resposta é muito simples. Não deve fugir. Deve desafiar o medo, e, a despeito dele, deve dar o passo seguinte na aprendizagem, e o seguinte, e o seguinte. Deve ter medo, mente, e no entanto não deve parar. É esta a regra!
O crepúsculo é a fresta entre os mundos.
O que é uma vida verdadeira?
– Uma vida vivida com propósito, uma vida forte e boa.
Tudo é um entre um milhão de caminhos (un comino entre cantidades de caminos). Portanto, você deve sempre manter em mente que um caminho não é mais do que um caminho; se achar que não deve segui-lo, não deve permanecer nele, sob nenhuma circunstância. Para ter uma clareza dessas, é preciso levar uma vida disciplinada. Só então você saberá que qualquer caminho não passa de um caminho, e não há afronta, para si nem para os outros, em largá-lo se é isso o que seu coração lhe manda fazer. Mas sua decisão de continuar no caminho ou largá-lo deve ser isenta de medo e de ambição. Eu lhe aviso. Olhe bem para cada caminho, e com propósito. Experimente-o tantas vezes quanto achar necessário.
Esse caminho tem um coração? Se tiver, o caminho é bom; se não tiver, não presta. Ambos os caminhos não conduzem a parte alguma; mas um tem coração e o outro não. Um torna a viagem alegre; enquanto você o seguir, será um com ele. O outro o fará maldizer sua vida. Um o torna forte; o outro o enfraquece.
Você tem a presunção de crer que vive em dois mundos, mas isso é apenas vaidade. Só existe um único mundo para nós. Somos homens, e temos de seguir o mundo dos homens satisfeitos.
Digo que é inútil desperdiçar a vida num caminho, especialmente se esse caminho não tiver coração.
– Mas como é que sabe quando o caminho não tem coração, Dom Juan?
– Antes de segui-lo, você faz a pergunta: esse caminho tem coração? Se a resposta for não, você o saberá, e então deve escolher outro caminho.
– Mas como saberei ao certo se um caminho tem ou não coração?
– Qualquer pessoa sabe isso. O problema é que ninguém faz a pergunta; e quando o homem afinal descobre que tomou um caminho sem coração, o caminho está pronto para matá-lo. Nesse ponto muito poucos homens conseguem parar para pensar e deixar o caminho.
Isso é tolice. Um caminho sem coração nunca é agradável. Tem de trabalhar muito até para segui-lo. Por outro lado, um caminho com coração é fácil; não o faz trabalhar para gostar dele.
Para mim só existe o percorrer os caminhos que têm coração, em qualquer caminho que possa ter coração. Ali eu viajo e para mim o único desafio que vale a pena é percorrer toda sua extensão. E ali viajo… olhando, olhando, arquejante.
A liberdade de buscar um caminho referia-se à liberdade de escolher entre diferentes possibilidades de ação, que eram igualmente eficientes e utilizáveis.
Daí, ser um guerreiro é uma forma de autodisciplina que frisa a realização individual; no entanto, é uma posição em que os interesses pessoais são reduzidos a um mínimo, pois, na maioria dos casos, o interesse pessoal é incompatível com o rigor necessário para executar qualquer ato predeterminado obrigatório.
Um homem de conhecimento em seu papel de guerreiro era obrigado a ter uma atitude de consideração diferente pelas coisas com que lidava; tinha de imbuir tudo que se relacionava com seu conhecimento com um respeito profundo, a fim de colocar tudo numa perspectiva significativa. Ter respeito era o equivalente a avaliar seus próprios recursos insignificantes diante do Desconhecido.
— Sabe alguma coisa do mundo que o rodeia? — perguntou.
— Sei muitas coisas diferentes — respondi.
— Quero dizer, sente o mundo em volta de você?
— Sinto tanto do mundo em volta de mim quanto posso.
— Isso não basta. Tem de sentir tudo, senão o mundo perde o sentido.
Estou falando do fato de que você não é completo. Não tem paz.
Pensa demais em si —- disse ele, sorrindo. — E isso lhe dá um cansaço estranho, que o leva a fechar o mundo em volta de si e se agarrar a seus argumentos. Por isso, só tem problemas.
Usei a palavra “realidade”, porque era uma premissa básica no sistema de crenças de Dom Juan que os estados de consciência provocados pela ingestão de qualquer daquelas três plantas não eram alucinações, e sim aspectos concretos, embora não comuns, da realidade da vida quotidiana.
Era necessário um temperamento leve e dócil para poder suportar o impacto e a estranheza dos conhecimentos que ele me ensinava.
A sensação de importância faz a pessoa sentir-se pesada, desajeitada e vaidosa. Para ser um homem de conhecimento, ela tem de ser leve e fluida.
“Olhar” referia-se a qualquer maneira comum em que estejamos acostumados a perceber o mundo, enquanto “ver” encerra um processo muito complexo, em virtude do qual um homem de conhecimento supostamente percebe a “essência” das coisas do mundo.
O que eu percebia naqueles estados de consciência alterada era incompreensível e impossível de interpretar por meio de nosso modo quotidiano de entender o mundo. Em outras palavras, a condição de “não aplicação” acarretava a cessação da pertinência de minha visão do mundo.
seu sistema acessível a mim, consistia em desmantelar uma certeza determinada que compartilho com todo mundo, a certeza de que nossas visões “de bom senso” do mundo são definitivas.(…) minha visão do mundo não pode ser final porque não passa de uma interpretação.
Você só olha para a superfície das coisas.
Não sei o que modificar nem por que modificar nada em meus semelhantes.
Pode acontecer que um dia você se torne um homem de conhecimento, não há meio de se saber isso, mas tal fato não o modificará. Um dia talvez você consiga ver os homens de outro modo e então compreenderá que não há modo de modificar nada neles.
… todos os homens estão em contato com tudo o mais, não por suas mãos, mas por meio de um punhado de fibras compridas que saem do centro de seu abdômen. Essas fibras ligam o homem a seu ambiente; mantêm seu equilíbrio; dão-lhe estabilidade. Assim, como algum dia você poderá ver, o homem é um ovo luminoso, quer ele seja mendigo ou rei, e não há jeito de modificar nada, ou melhor, o que poderia ser modificado naquele ovo luminoso? O quê?
Pensei que você tivesse aprendido a usar a escuridão.
Os presentes de poder acontecem tão raramente na vida da gente; são raros e preciosos.
As coisas não mudam. A gente é que muda a maneira de olhar, só isso.
É preciso ser de uma limpidez cristalina, e mortalmente seguro de si. (mestre Juan Matus)
Tudo o que é necessário é a impecabilidade, energia, e isto se inicia com um ato singular, que deve ser deliberado, preciso e constante. Se este ato é repetido por tempo suficiente, a pessoa adquire um sentido de intenção inflexível que pode ser aplicado a qualquer outra coisa. Se isso é realizado, o caminho está aberto. Uma coisa leva a outra até que o Guerreiro descubra seu potencial completo. (mestre Juan Matus)
Não despreze o mistério do homem em você sentindo pena de si mesmo ou tentando racionalizá-lo. Despreze a estupidez do homem em você, compreendendo-a. Mas não se desculpe por nenhum dos dois, ambos são necessários. (mestre Juan Matus)
Não preciso de escoras nem de corrimãos. Sei quem sou. Estou sozinho num universo hostil e aprendi a dizer: que seja! (mestre Juan Matus)
Esteja alerta a cada segundo. Não permita que nada nem ninguém decida por você. (mestre Juan Matus)
A autoconfiança do guerreiro não é a autoconfiança do homem comum. O homem comum procura certeza aos olhos do observador e chama a isso autoconfiança. O guerreiro procura impecabilidade aos próprios olhos e chama a isso humildade. O homem comum está preso aos seus semelhantes, enquanto o guerreiro só está preso ao infinito.
Devagar ele começa a aprender…a princípio, pouco a pouco, e depois em porções grandes. E logo seus pensamentos entram em choque. O que aprende nunca é o que ele imaginava, de modo que começa a ter medo. Aprender nunca é o que se espera. Cada passo da aprendizagem é uma nova tarefa, e o medo que o homem sente começa a crescer impiedosamente, sem ceder. Seu propósito torna-se um campo de batalha.
E assim se depara com o primeiro de seus inimigos naturais: o medo! Um inimigo terrível, traiçoeiro, e difícil de vencer. Permanece oculto em todas as voltas do caminho, rondando à espreita. E se o homem, apavorado com sua presença, foge, seu inimigo terá posto fim à sua busca.
– O que acontece com o homem se ele fugir com medo?
– Nada lhe acontece, a não ser que nunca aprenderá. Nunca se tornará um homem de conhecimento,talvez se torne um tirano, ou um pobre homem apavorado e inofensivo, de qualquer forma, será um homem vencido. Seu primeiro inimigo terá posto um fim aos seus desejos.
– E o que ele pode fazer para vencer o medo?
– A resposta é muito simples. Não deve fugir. Deve desafiar o medo e, a despeito dele, deve dar o passo seguinte, e o seguinte. Deve ter medo, plenamente, e no entanto não deve parar. É esta a regra! E o momento chegará em que seu primeiro inimigo recua. O homem começa a se sentir seguro de si. Seu propósito se torna mais forte. Aprender não é mais uma tarefa aterradora. Quando chega esse momento feliz, o homem pode dizer sem hesitar que derrotou seu primeiro inimigo natural.
– Isso acontece de uma vez, Don Juan, ou aos poucos?
– Acontece aos poucos, e no entanto o medo é vencido de repente e depressa.
– Mas o homem não terá medo outra vez se lhe acontecer alguma coisa nova?
– Não. Uma vez que o homem venceu o medo, fica livre dele o resto da vida, porque em vez do medo, ele adquire a clareza… uma clareza de espírito que apaga o medo. Então o homem já conhece seus desejos; sabe como satisfazê-los. Pode antecipar os novos passos na aprendizagem e uma clareza viva cerca tudo. O homem sente que nada se lhe oculta.
E assim ele encontra seu segundo inimigo natural :A clareza .Essa clareza de espírito, que é tão difícil de obter, elimina o medo, mas também cega. Obriga o homem a nunca duvidar de si. Dá-lhe a segurança que ele pode fazer o que bem entender, pois ele vê tudo claramente. E ele é corajoso, porque é claro; não pára diante de nada, porque é claro. Mas tudo isso é um engano; é como uma coisa incompleta. Se o homem sucumbir a esse poder de faz de conta, terá sucumbido ao seu segundo inimigo e tateará com a aprendizagem. Vai precipitar-se quando devia ser paciente, ou vai ser paciente quando deveria precipitar-se. E tateará com a aprendizagem até acabar incapaz de aprender qualquer coisa a mais.
– O que acontece com um homem que é derrotado assim, Dom Juan? Ele morre por isso?
– Não morre. Seu inimigo acaba de impedi-lo de se tornar um homem de conhecimento; em vez disto, o homem pode se tornar um guerreiro valente, ou um palhaço. No entanto, a clareza, pela qual ele pagou tão caro, nunca mais se transformará de novo em trevas ou medo. Será claro enquanto viver, mas não aprenderá nem desejará nada.
– Mas o que tem de fazer para não ser vencido ?
– Tem de fazer o que fez com o medo: tem de desafiar sua clareza e usá-la só para ver, e esperar com paciência e medir com cuidado antes de dar novos passos; deve pensar acima de tudo, que sua clareza é quase um erro. E virá um momento em que ele compreenderá que sua clareza era apenas um ponto diante de sua vista. E assim ele terá vencido seu segundo inimigo, e estará numa posição em que nada mais poderá prejudicá-lo. Isto não será um engano. Não será um ponto diante de sua vista. Será o verdadeiro poder.
Ele saberá a esta altura que o poder que vem buscando há tanto tempo é seu, por fim. Pode fazer o que quiser com ele. Seu aliado está às suas ordens. Seu desejo é ordem. Vê tudo que está em volta. Mas também encontra seu terceiro inimigo; o poder.
O poder é o mais forte de todos os inimigos. E, naturalmente, a coisa mais fácil é ceder; afinal de contas, o homem é realmente invencível. Ele comanda; começa correndo riscos calculados e termina ditando regras, porque é um senhor. Um homem neste estágio quase nem nota que seu terceiro inimigo se aproxima. E de repente, sem saber, certamente terá perdido a batalha. Seu inimigo o terá transformado num homem cruel e caprichoso.
– E ele perderá o poder?
– Não ele nunca perderá sua clareza nem seu poder.
– Então o que o distinguirá de um homem de conhecimento?
– Um homem que é derrotado pelo poder, morre sem realmente saber manejá-lo. O poder é apenas uma carga em seu destino. Um homem desse não tem domínio sobre si, e não sabe quando ou como utilizar se poder.
– A derrota por algum desse inimigos é uma derrota final?
– Claro que é final. Uma vez que esses inimigos dominem o homem não há nada que ele possa fazer.
– Será possível que o homem derrotado pelo poder veja seu erro e se emende?
– Não. Uma vez que o homem cede está liquidado.
– Mas e se ele estiver temporariamente cego pelo poder, e depois o recusar?
– Isto significa que a batalha continua. Isto significa que ele ainda está tentando ser um homem de conhecimento. O indivíduo é derrotado quando não tenta mais e se abandona.
– Mas então, Dom Juan, é possível a um homem se entregar ao medo durante anos, mas no fim vencê-lo.
– Não, isso não é verdade, se ele ceder ao medo, nunca o vencerá, porque se desviará do conhecimento e nunca mais tentará. Mas se procurar aprender durante anos no meio de seu medo, acabará dominando-o, porque nunca se entregou realmente a ele.
– E como um homem poderá vencer seu terceiro inimigo, Don Juan ?
– Também tem de desafiá-lo, propositadamente. Tem de vir a compreender que o poder que parece ter adquirido na verdade nunca é seu. Deve controlar-se em todas as ocasiões, tratando com cuidado e lealdade tudo o que aprendeu. Se conseguir ver que a clareza e o poder, sem controle, são piores do que os erros, ele chegará a um ponto em que tudo estará controlado. Então saberá quando e como usar seu poder. E assim terá derrotado seu terceiro inimigo. O homem estará então, no fim de sua jornada do saber, e quase sem perceber encontrará seu último inimigo; a velhice! Este inimigo é o mais cruel de todos, o único que ele não conseguirá derrotá-lo completamente, mas apenas afastar. É o momento em que o homem não tem mais receios, não tem mais impaciência de clareza de espírito… um momento em que todo o seu poder está controlado, mas também o momento em que ele sente um desejo irresistível de descansar, se ele ceder completamente a seu desejo de se deitar e esquecer, se ele afundar na fadiga, terá perdido a última batalha, e seu inimigo o reduzirá a uma criatura velha e débil, seu desejo de se retirar dominará toda sua clareza, seu poder e sabedoria. Mas o homem sacode sua fadiga e vive seu destino completamente, então poderá ser chamado de um homem de conhecimento, nem que seja no breve momento em que ele consegue lutar contra seu último inimigo invencível. Esse momento de clareza, poder e conhecimento é o suficiente.
(Juan Matus)
Já me dei ao poder que rege meu destino
E não me prendo a nada, para não ter nada a defender.
Não tenho pensamentos, por isso verei.
Não receio nada, por isso lembrarei de mim mesmo.
Desprendido e à vontade,
Passarei como um jato pela Águia para me tornar livre.
Disposição de guerreiro
Precisamos da disposição de guerreiros para todos os atos, senão ficamos fracos e feios. Não existe poder numa vida onde não tenha essa disposição. Olhe para si. Tudo o ofende e perturba. Geme e reclama e acha que todo mundo esta abusando de você. É uma folha à mercê do vento. Não existe poder em sua vida. Um guerreiro, ao contrário, é um caçador. Calcula tudo. Isso é controle. Mas, uma vez terminados seus cálculos, ele age. Entrega-se. Um guerreiro não é uma folha a mercê do vento. Ninguém pode empurrá-lo, ninguém pode obrigá-lo a fazer coisas contra si ou contra o que ele acha certo. Um guerreiro é preparado para sobreviver e ele sobrevive da melhor maneira possível. Um guerreiro pode ser ferido, mas não ofendido. Para um guerreiro, não há nada ofensivo nos atos de seus semelhantes, enquanto ele estiver agindo dentro da disposição correta. (in Don Juan)
Um caminho é só um caminho, e não há desrespeito a si ou aos outros em abandoná-lo, se é isto que o coração nos diz…
Examinhe cada caminho com muito cuidado e deliberação.
Tente-o muitas vezes, tanto quanto julgar necessário.
Só então pergunte a você mesmo, sozinho, uma coisa…
Este caminho tem coração?
Se tem, o caminho é bom,
se não tem, ele não lhe serve.
Um caminho é só um caminho.
Qualquer caminho é apenas um caminho
e não constitui insulto algum
– para si mesmo ou para os outros –
abandoná-lo quando assim ordena o SEU coração.
Olhe cada caminho com cuidado e atenção.
Tente-o tantas vezes quantas julgar necessárias.
Então, faça a si mesmo e apenas a si mesmo uma pergunta:
possui esse caminho um coração?
Qualquer caminho é apenas um caminho e não constitui insulto algum – para si mesmo ou para os outros – abandoná-lo quando assim ordena o seu coração. Olhe cada caminho com cuidado e atenção. Tente-o tantas vezes quantas julgar necessárias… Então, faça a si mesmo e apenas a si mesmo uma pergunta: possui esse caminho um coração? Em caso afirmativo, o caminho é bom. Caso contrário, esse caminho não possui importância alguma.
O poder está no tipo de conhecimento que se tem. De que adianta saber coisas inúteis? Elas não vão nos preparar para o encontro inevitável com o desconhecido.
O caçador, como o guerreiro, é um ser incomum.
Aceita a responsabilidade de seus atos e erros, assumindo somente sua vitória e não a dos outros, como fazem os homens comuns, num equilíbrio lógico no momento certo e oculto nos momentos incertos.
Carlos Castaneda – Roda do Tempo
Liberdade de escolha
Carlos Castañeda diz: “o grande poder do ser humano está na sua capacidade de tomar decisões”. Cada decisão que tomamos nos permite modificar o futuro e o passado.
Escolher, porém, significa comprometer-se. Quando alguém faz uma escolha, deve lembrar-se que o caminho a ser percorrido vai ser muito diferente do caminho imaginado.
Escolher significa: “bem, eu sei onde quero chegar”. A partir daí, é preciso estar atento ao mundo, porque uma decisão deflagra uma série de eventos inesperados.
Comprometa-se com a sua decisão – seja ela no campo afetivo, profissional ou espiritual; tudo que sua decisão precisa é sua vontade de seguir adiante. De resto, ela mesma lhe tomará pelas mãos, e lhe mostrará o melhor caminho.
Você deve agir sem acreditar, sem esperar recompensas, agir só por agir.
“Ou nós nos fazemos infelizes ou nos tornamos fortes. A quantidade de trabalho é a mesma”.
Um guerreiro considera que já está morto, e que não há nada a perder. O pior que podia ter acontecido para ele, já aconteceu.
… precisei compreender o que experimentara, e o que experimentara era o ensinamento de um sistema coerente de crenças por meio de um método pragmático e experimental.
… os estados de realidade não comum eram a única forma de aprendizagem pragmática e o único meio de se adquirir o poder.
Existem certos objetos que são imbuídos do poder.
O poder reside no tipo do poder que a gente tem. De que adianta saber coisas inúteis?
… um ponto significava um lugar em que a pessoa se sentisse naturalmente feliz e forte.
… nem todos os lugares eram bons de se sentar ou estar, e que dentro dos limites da varanda havia um ponto que era único, um ponto em que eu estaria em minha melhor forma. Cabia a mim distingui-lo de todos os outros lugares.
Não há nada de mau em se sentir medo. Quando se tem medo, vê-se as coisas de modo diferente.