A verdade é geralmente vista, raramente ouvida.
“O sábio estima todos porque sabe ver o bom de cada um e sabe o que custa fazer bem as coisas. O tolo despreza todos porque não conhece o bom e escolhe o pior.”
Tudo alcança a perfeição, e tornar-se uma verdadeira pessoa constitui a maior perfeição de todas.
Fazer um sábio no presente exige mais do que se exigiu para fazer sete no passado.E atualmente é preciso mais habilidade para se lidar com um só homem do que antigamente com todo povo.
Que sua superioridade o redima de impressões comuns passageiras. Livre-arbítrio.
O que você diz será recompensado com aplausos; o que ouv, como aprendizado. O que nos leva aos outros é a nossa própria conveniência.
Um homem sensato acreditará que é mais importante o que o destino lhe concedeu do que o que ele lhe negou.
Dos amigos ofendidos nascem os piores inimigos.
Não existe ninguém que não possa ensinar algo a alguém, e não existe ninguém tão excelente que não possa ser superado.
Não se nasce feito. Cada dia vamos nos aperfeiçoando no pessoal e no profissional, até chegar ao ponto mais alto, á plenitude de qualidades, á eminência. Isto se conhece no gosto refinado, na pureza da inteligência, na maturidade do julgamento, na retidão da vontade. Alguns nunca chegam a ser completos, sempre lhes falta alguma coisa. Outros demoram pra chegar lá. O homeem “acabado” – sábio em atos e palavras – é aceito, e inclusive desejado, no seleto grupo de discretos.
Não competir com quem não tem nada a perder
A luta seria desigual. O outro começa com desembaraço porque perdeu até a vergonha. Não tem mais o que perder, por isso se lança de cabeça em qualquer despropósito. Nunca exponha sua inestimável reputação a um risco tão cruel . Conquistá-la levou muitos anos para perdê-la em assuntos sem importância. Um mau vento pode gelar o suor do esforço. Por ter muito a perder, o homem honesto se detém. Preocupado com sua reputação, observa o oponente e age com cautela para colocar o prestígio a salvo. Nem sequer com a vitória pode-se ganhar aquilo que se perdeu ao se correr o risco de perder.
Perseguir a vitória
Alguns se esgotam ao começar e não acabam nada. Começam, mas não persistem: têm um caráter instável. Nunca recebem elogios porque nada concluem. Terminam sempre por abandonar o começado. Uns acabam as coisas, outros acabam com elas. Suam até superar a dificuldade, mas se contentam em tê-la vencido, mas não sabem aproveitar a vitória; demonstram que podem, mas não sabem querer. É um defeito, não importa se por erro de cálculo ou inconstância . Se a empreitada é boa, por que não se termina? E se é ruim, por que se começou? O homem sagaz não só espreita a perdiz- vai à caça.
Sentir e expressar-se
Querer ir contra a corrente não desfaz os enganos e é perigoso. Somente Sócrates podia fazê-lo. Discordar é considerado uma ofensa porque significa condenar a opinião alheia. Os contrariados se multiplicam tanto em consideração àquele que foi criticado quanto àqueles que o aplaudiam. A verdade é de poucos, mas o engano é tão comum quanto vulgar. Não se conhece o sábio pelo que fala em público, pois não o faz com sua voz, mas com a da tolice comum, por mais que discorde dela interiormente. A pessoa sensata foge de ser desmentida e de contradizer os outros: rápida na censura, é lenta para torná-la pública. O sentir é livre, não se pode nem se deve violentá-lo. O homem prudente refugia-se no silêncio e se mostra a poucos e sábios.
Não se conhece o sábio pelo que fala em público, pois não o faz com sua voz, mas com a da tolice comum, por mais que discorde dela interiormente.
A pessoa sensata foge de ser desmentida e de contradizer os outros: rápida na censura, é lenta para torná-la pública.
O sentir é livre, não se pode nem se deve violentá-lo
Saber um pouco mais e viver um pouco menos
Há quem pense o contrário. Melhor é o ócio bem empregado do que o negócio. Tudo o que possuímos é o tempo, único bem de quem não tem nada. A vida é preciosa demais para ser desperdiçada tanto em trabalhos mecânicos quanto em excesso de tarefas sublimes. Não devemos nos sobrecarregar nem de ocupações, nem de rivalidades: isso é maltratar a vida e sufocar o ânimo. Alguns acreditam que também se deve evitar o saber, mas, se não se sabe, não se vive.
Tudo o que possuímos é o tempo, único bem de quem não tem nada.
Se souber pouco na sua profissão, atenha-se ao mais seguro.
Desse modo, ainda eu não seja considerado inteligente, passará confiança. Aquele que sabe pode se arriscar a fazer o que quer, mas saber pouco e arriscar-se é jogar-se voluntariamente no precipício. Quando se sabe pouco, é melhor seguir pela estrada principal. Deve-se manter o caminho reto e não faltará o caminho firme. Em todos os casos, sabendo ou não sabendo, a segurança é mais prudente que a singularidade.
Saber escutar quem sabe
Não se pode viver sem entendimento, próprio ou emprestado. Muitas pesssoas não tem consciência do que não sabem, e outras pensam que sabem sem saber. Os erros da estupidez são irremediáveis, pois, como os ignorantes não se consideram assim, não procuram aquilo que lhes falta. Alguns seriam sábios se não acreditassem sê-lo. Por isso, os poucos oráculos da prudência vivem ociosos porque ninguém os consulta. Pedir conselho não diminui a grandeza nem a capacidade de ninguém. Ao contrário, fortalece a reputação. É bom ouvir a razão para evitar o ataque da má sorte.Relacione-se com quem tenha algo a ensinar
Relacione-se com quem tenha o que lhe ensinar.O trato amigável deve ser uma escola de erudição, e a conversa, um ensinamento culto. Deve-se fazer com que seus amigos sejam também seus melhores mestres, combinando o útil da aprendizagem com os gostos da conversa.Deve-se alternar o prazer com a instrução. Os aplausos gratificam aqueles que falam, e os que ouvem são recompensados com o ensinamento. Normalmente a própria conveniência nos leva a conversar com outras pessoas- e assim enobrecemos. O homem prudente freqüenta as casas dos homens eminentes, pois mais que palácios da vaidade são cenários de gradeza. Existem senhores com reputação de prudentes que são oráculos de grandeza por seu exemplo e modo de agir. Além disso, o grupo de seus acompanhantes é uma refinada academia de sensatez, tato e engenho.
Não se pode viver sem entendimento, próprio ou emprestado. Muitas pesssoas não tem consciência do que não sabem, e outras pensam que sabem sem saber. Os erros da estupidez são irremediáveis, pois, como os ignorantes não se consideram assim, não procuram aquilo que lhes falta. Alguns seriam sábios se não acreditassem sê-lo. Por isso, os poucos oráculos da prudência vivem ociosos porque ninguém os consulta. Pedir conselho não diminui a grandeza nem a capacidade de ninguém. Ao contrário, fortalece a reputação. É bom ouvir a razão para evitar o ataque da má sorte.Relacione-se com quem tenha algo a ensinar
Muitas pesssoas não tem consciência do que não sabem, e outras pensam que sabem sem saber.
Deixar os outros com fome
Deixe um resto de néctar nos lábios. O desejo é a medida da estima. É bom aliviar a sede física, mas não saciá-la: o bom, se é pouco, é bom duas vezes. Perde-se muito na segunda vez. As grandes doses de agrado são perigosas porque levam a se desprezar a mais eterna superioridade. A única regra para agradar é pegar o apetite com fome. Um desejo impaciente é mais estimulante do que se fartar de prazer. Uma felicidade difícil de se conseguir é desfrutada em dobro.
Metade do mundo ri da outra metade, e ambas são tolas
Dependendo da opinião, ou tudo é bom, ou tudo é ruim. Aquilo que uns perseguem outros evitam. Por isso, quem deseja regular tudo segundo seu critério é um tolo insuportável. A perfeição não depende de uma única opinião: os gostos são tantos quantos os rostos, e igualmente variados. Não existe defeito que não seja apreciado por alguém. Não desanime se algumas coisas não agradam a uns, pois não vão faltar outros que as apreciem. O aplauso também não deve ser motivo de orgulho, porque sempre vão existir condenações. A regra para a verdadeira satisfação é a aprovação das pessoas conceituadas, que tem voz e voto nessas matérias. Não se vive de um só critério, nem de um só costume, nem de um só século.
Caráter e inteligência 19
São os dois pólos para exibir as qualidades de um homem. Um sem o outro é boa sorte pela metade. Não basta ser inteligente, é preciso também ter predisposição de caráter. A má sorte do tolo é desconsiderar a sua condição, ocupação, vizinhança e amizades.
A ARTE DA PRUDÊNCIA
Citações
“Só as pessoas inteligentes procuram, para auxiliá-las, pessoas mais inteligentes que elas.”
“Crê muito quem nunca mente e confia muito quem nunca engana.”
“O número de pessoas que pode beneficiar-nos é muito pequeno.”
“O homem prudente busca refúgio no seu silêncio sagrado, e se comunica com poucos e sempre com pessoas inteligentes.”
“É bom tornar-se conhecido por agradar aos outros. Especialmente se são seus subaltermos. É útil aos líderes obter as boas graças de todos. A única vantagem do poder: poder fazer o bem mais do que qualquer outro.”
“Não se pode conceder tudo a todos. Saber dizer não é tão importante como saber conceder.”
“O ‘não’ de alguns agrada mais que o ‘sim’ de outros.”
“Um homem atento percebe que é ou será visto. Sabe que as paredes têm ouvidos e que o que é malfeito acaba sendo conhecido.”
“Não há nada tão amável quanto a virtude, nem tão detestável quanto o vício. Só a virtude basta a si mesma. Faz-nos amar os vivos e lembrar os mortos.”
“Sábio é aquele que fica descontente quando suas coisas agradam a muitos!”
“As grandes pessoas nunca se contentam com aplausos comuns.”
“O jogador perfeito nunca move a peça que se espera, e muito menos a peça que seu advérsário desejaria.”
“Os príncipes gostam de ser ajudados, mas não sobrepujados. Um conselho dado a eles seja oferecido como lembrança de algo que esqueceram, não como uma luz que são incapazes de ver. Os astros nos ensinam essa sutileza: nunca se atrevem a competir com o Sol.”
“Não se vive seguindo uma só opinião, um só costume ou um só século.”
“O que é excesso para uns é fome para outros. Alguns desperdiçam alimentos finos porque não têm como digeri-los: Não nasceram para ocupações elevadas e não estão acostumados a elas.”
“O coração de uma mãe é um abismo profundo em que no fundo sempre se encontra o perdão.”
Descobrir o bom de cada coisa
É a marca do bom gosto. A abelha logo acha a doçura para a colméia, e a víbora, a amargura para o veneno. O mesmo acontece com os gostos: uns preferem o melhor e outros o pior. Em tudo há algo de bom, especialmente nos livros, pois são resultado da reflexão. O caráter de alguns é tão desgraçado que, entre mil qualidades, encontrarão o único defeito, e o criticarão e o aumentarão. Estes recolhem as sujeiras das vontades e das inteligências, sobrecarregando-se de infâmias e de defeitos, não por serem perspicazes, mas como castigo por seu mau discernimento. Levam uma vida péssima, pois só se alimentam de amarguras e imperfeições. Muito melhor é o gosto daqueles que, entre mil defeitos, logo encontrarão a única perfeição que escapou à boa sorte.
Conhecer seu pior defeito
Ninguém vive sem o contraponto da melhor qualidade. Se o pior defeito for favorecido, ele nos dominará como um tirano. Devemos declarar-lhe guerra. O primeiro passo é descobri-lo: conhecido será vencido. Para ser senhor de si, é preciso refletir sobre si mesmo. Vencido esse defeito, os outros acabarão.
Moderação no julgar
Cada um pensa conforme lhe convém e apresenta razões para suas caprichosas opiniões. A maior parte dos homens põe a paixão na frente do juízo. Quando duas pessoas sustentam posições contrarias, cada uma pensa ter razão. Mas a razão é fiel e não tem duas caras. O sábio deve agir com cautela em assuntos tão delicados, e sua própria dúvida irá corrigir o julgamento inicial sobre o comportamento alheio. Ao se colocar no lugar do outro e examinar seus motivos, não condenará nem se justificará tão cegamente.
Estar no auge da perfeição 23
Não se nasce feito.Cada dia vamos nos aperfeiçoando no pessoal e no profissional, até chegar ao ponto mais alto, à plenitude de qualidades, à eminência. Isto se conhece no gosto refinado, na pureza da inteligência, na maturidade do julgamento, na retidão da vontade. Alguns nunca chegam a ser completos, sempre lhes falta alguma coisa. Outros demoram para chegar lá. O homem “acabado”-
sábio em atos e palavras- é aceito, e inclusive desejado, no seleto grupo dos discretos.
Estar no auge da perfeição 23
Não se nasce feito.Cada dia vamos nos aperfeiçoando no pessoal e no profissional, até chegar ao ponto mais alto, à plenitude de qualidades, à eminência. Isto se conhece no gosto refinado, na pureza da inteligência, na maturidade do julgamento, na retidão da vontade. Alguns nunca chegam a ser completos, sempre lhes falta alguma coisa. Outros demoram para chegar lá. O homem “acabado”-
sábio em atos e palavras- é aceito, e inclusive desejado, no seleto grupo dos discretos.
Ninguém nasce perfeito. Deve se aperfeiçoar dia a dia, tanto o pessoal quanto profissionalmente, até se realizar por completo, repleto de dotes e de qualidades. Será reconhecido pelo requintado gosto, inteligência aguda, intenção clara, discernimento maduro. Alguns nunca se realizam, falta-lhes sempre alguma coisa. Outros requerem um longo tempo para se forma. O homem completo – sábio de expressão, prudente nas ações- é aceito, e até desejado para privar do seleto grupo dos discretos.
A Providência juntou na abelha a doçura do mel e a agudez do ferrão
Triste coisa é não ter amigos, mas mais triste ainda deve ser não ter inimigos, porque quem não tem inimigos é sinal de que não tem talento que lhe faça sombra, nem valor que o faça temido, nem honra para que dele murmurem, nem bens para que sejam cobiçados, nem fatos bons que lhe invejem, nem coisa alguma.
“Fique contente em agir. Deixe a fala para os outros.”
Nunca abra a porta para um mal menor, pois outros e maiores males invariavelmente se instalam em seguida.
Quando vires um presumido de inteligente, acredita que é um idiota, vê o rico como pobre dos verdadeiros bens, aquele que manda em tudo é escravo de todos, o que de corpo é grande não é grande homem, aquele que é grosso tem pouca substância, o que se faz de surdo ouve mais do que queria, o que observa espantado é cego ou ficará cego, o que cheira muito cheira mal a todos, aquele que fala muito não diz nada, o que ri repreende, o que murmura condena-se, o que come muito come menos, aquele que aos outros engana talvez se confesse, o que diz mal da mercadoria é porque a pretende, o que se faz de simples é porque sabe mais;aquele a quem nada lhe falta ele se falta a si mesmo, ao avarento tanto lhe serve o que tem como o que não tem, o que tenta argumentar com mais razões é aquele que as tem de menos, o mais sábio costuma ser o menos compreendido, ter uma boa vida é acabar com ela; aquele que a ama aborrece-a, o que te unta os cascos dá-te cabo deles, o que te faz festas quer se livrar de ti; a estupidez encontra-se muitas vezes nas boas aparências; aquele que é muito direito é torto, muito bem faz mal, o que evita dar certos passos na vida dá mais;para não se perder um bocado perdem-se cem; o que gasta pouco gasta a dobrar, o que te faz chorar quer-te bem, e por fim, o que um aparenta e quer parecer, isso é o que menos ele é.
Não há coisa mais fácil que enganar o homem de bem.
“A verdadeira amizade multiplica o bom na vida e divide os seus males.”
O homem nasce bárbaro. Redime-se da condição de besta cultivando-se. A cultura nos transforma em pessoas; e tanto mais, quanto maior for a cultura. Por isso, a Grécia pôde chamar o resto do mundo de bárbaro. A ignorância é rude e
grosseira. E até a sabedoria é áspera quando carece de polimento. Não é apenas a inteligência que devemos apurar, mas também nossos desejos e principalmente nossa conversa. Alguns exibem um esmero natural tanto nas qualidades interiores quanto nas exteriores, tanto nos conceitos quanto nas palavras, tanto no adorno corporal (que é como a casca) quanto nos dons espirituais (o fruto). Já outros são tão brutos que embaçam tudo, até suas qualidades superiores, com um intolerável desasseio bárbaro.
Caráter e Inteligência. Um sem a outra é apenas meia felicidade. Não basta ser inteligente; é preciso também ter o caráter apropriado.
Ninguém consegue dominar-se se não compreende a si próprio. Existem espelhos para o rosto, mas não para o espírito, tome lugar do espelho a ponderada auto-reflexão. E, ao se esquecer de sua imagem exterior, tente corrigir e aprimorar a interior. Conheça a força da sua prudência e perspicácia. Verifique se tem condições de se empenhar. Explore seu íntimo e verifique seus recursos para tudo.
Escolha um modelo heróico. Mais para emular do que imitar. Existem exemplos de grandeza, textos vivos de reputação. Cada qual escolha o primeiro em seu campo, não tanto para segui-lo quanto para superá-lo. Alexandre chorou sobre a tumba de Aquiles, não lendário herói grego, mas por si próprio, pois, ao contrário daquele, sua glória ainda não nascera. Nada atiça tanto a ambição do espírito quanto o clarim da glória alheia. O que afugenta a inveja incentiva a generosidade.
Associar-se àqueles com quem pode aprender
Seja o convívio amigável uma escola de erudição e torne a conversação instrutiva. Faça dos amigos professores e combine a utilidade da aprendizagem com o gosto da conversa. Alterne a fruição com a instrução. O que você diz será recompensado com aplausos; o que ouve, com aprendizados. O que nos leva aos outros, em geral, é a nossa própria conveniência; aqui ela tem um sentido maior. Os prudentes freqüentam as casas de renomados heróis que são mais palcos de heroísmo que palácios de futilidade. Alguns são notáveis pelos conhecimentos e bom senso; pelo exemplo e pelo modo de agir, são
oráculos de toda grandeza. Aqueles que os cercam formam uma academia refinada de discrição e sabedoria elegantes.
Conhecer seu principal atributo
Seu dom de destaque. Cultive-o e incentivo os demais. Todos alcançariam a excelência em alguma coisa se conhecessem sua qualidade dominante.
Identifique o rei dos seus atributos e se dedique a ele com afianço. Alguns se destacam com discernimento e outros, na coragem. Os demais violentam a sua
aptidão e não alcançam a superioridade em nada. Deixem-se cegar a lisonjear pelas paixões até que – tarde- demais!- o tempo as desminta.
Nunca perder o controle.
Grande ênfase deve pôr a prudência em não perder o controle. Assim se portam os grandes homens, pois a magnitude dificilmente se abala. As paixões são os humores da alma, e qualquer excesso indispõe a prudência. Se a moléstia sai pela boca, sua reputação estará em perigo. Tendo completo domínio de si próprio na prosperidade como na adversidade, ninguém irá censurá-lo, mas admirá-lo.
Ter bons repentes.
Eles nascem de uma feliz presença de espírito; graças à sua vivacidade, não há apuros, nem acasos incômodos. Alguns pensam muito e fazem tudo errado,
enquanto outros fazem tudo certo sem antes ter pensado. Alguns têm reservas de antiperístase? As dificuldades revelam melhor deles. Trata-se de monstros que prosperam com a improvisação e erram sempre que pensam em algo. O que não lhes ocorre de imediato jamais lhe ocorrerá, e de nada adianta pensar depois. A rapidez arranca aplausos, pois revela uma capacidade prodigiosa: argúcia no pensamento, prudência nos atos.
Não brincar o tempo todo.
A prudência é reconhecida pela seriedade e granjeia mais respeito do que talento. Quem vive brincando não é um homem que mereça confiança. São comparados aos mentirosos e nunca lhes dão crédito. De um tememos a trapaça, do outro, a zombaria. Nunca se sabe quando estão exercitando o juízo, o que equivale a não tê-lo. Não existe humor pior do que o contínuo. Alguns ganham fama de espirituoso e perdem a de sensato. Há momentos para o riso, mas o resto do tempo pertence à seriedade.
Nem tudo mau, nem tudo bom.
Um certo sábio reduziu toda a sabedoria ao caminho do meio. Levar o certo longe de mais e ele se torna errado. A laranja espremida ao máximo dá só amargor. Mesmo no prazer não devemos ir a extremos. A própria inteligência se esgota se exigida demais, e se ordenhamos uma vaca em excesso teremos sangue por leite.
Falar com prudência.
Cautelosamente com os rivais e decentemente com todos os demais. Sempre há tempo para proferir uma palavra, mas não para fazê-lo voltar. Fale como se redigisse seu testamento: quanto menos palavras, menos processos judiciais. Treine em coisas pouco importante para saber das mais importantes. A arcanidade tem um ar de divindade: aquele que fala levianamente está muito
perto de ser vencido e convencido.
O pacato tem vida longa.
Para viver, deixe viver. As pessoas pacíficas não vivem apenas, reinam. Ouça e veja, mas mantenha-se calado. Um dia sem tensões significa uma noite repousante. Viver muito e com gosto é viver duplamente: é fruto da paz. Tem tudo aquele que não se preocupa com aquilo que não importa. Não há bobagem maior do que levar tudo muito à sério. Manter-se aberto àquilo que não interessa é tão tolo quanto não se envolver com aquilo que interessa.
Saiba qual é seu principal defeito.
Ninguém vive sem ter um contrapeso da sua melhor qualidade, e se a inclinação o favorece, subjuga a pessoa como um tirano. Comece a combatê-lo prestando-lhe atenção, identificando-o. Dê, para esse defeito, a mesma atenção que lhe é dada por quem o observa. Para ser senhor de si, deve refletir sobre si mesmo. Vencida essa imperfeição, que é a maior de todas, as outras se
acabarão.
Construir uma reputação e preservá-la.
É o usufruto da fama. É cara, pois nasce da eminência, que é tão rara quanto comum é a mediocridade. Alcançada, se conserva com facilidade. Obriga muito e produz mais. Constitui uma espécie de majestade quando se transforma em veneração, devido à sublimidade de sua causa e esfera de ação. Mas a reputação que tem substância é a que conserva seu valor.
Tratar o fácil como se fosse difícil, e o difícil como se fosse fácil. De modo a não ficar confiante no primeiro nem desencorajado demais no segundo. Para que algo não se realize, basta considerá-lo feito. Mas o esforço vence a impossibilidade. Em momentos de grande perigo, nem sequer pense, simplesmente aja. Não empreste importância às dificuldades, para que não o
intimidem.
Ter amigos.
É uma segunda vida. Para um amigo, todos os amigos são bons e sábios. Entre eles, tudo acaba bem. Você vale tanto quanto os outros o querem e, para que o queiram, deve ganhar-lhes a boca através do coração. Nada conquista tanto como servir aos outros, e a melhor maneira de ganhar amigos é agir como amigo. O máximo e o melhor que temos depende dos outros. Deve-se viver ou com amigos, ou com inimigos. Procure ganhar um amigo a cada dia, se não como íntimo, ao menos como seguidor. Escolha bem e sobrarão alguns para confidentes.
Não se tornar íntimo demais dos outros.
Nem permitir que se tornem de você. Perderá a superioridade que tinha por ser inatingível, e com ela a estima. Os astros não roçam em nós, e conservam o
esplendor. A divindade impõe decoro, e a familiaridade facilita o desrespeito. As coisas humanas, quanto mais temos, são menos valorizadas, pois a comunicação revela os defeitos que a reserva ocultara. Não convém muita intimidade com quem quer que seja; nem dos superiores, pois é perigoso; nem dos inferiores, pois é indigno; e muito menos da vilania, que é tola e insolente. Não percebe que lhe fazemos um favor, pensa que se trata de nossa obrigação. Familiaridade rima com vulgaridade.
Saber conversar
É o que revela ser uma pessoa verdadeira. Nenhuma atividade humana exige mais atenção por ser a mais comum. É aqui que ganhamos ou perdemos.
Requer siso escrever uma carta, que é a conversa refletida e escrita, e ainda
mais conversar, pois a discrição é logo posta à prova. Os entendidos tomam pulso da alma baseados na linguagem, e baseado nisso um sábio disse: “Fale, e será conhecido”. Para alguns, a arte da conversação está em falar sem arte, deixando-a cair livremente, como a roupa. A idéia talvez seja válida quanto à conversa entre amigos. Mas, nos círculos mais elevados, a conversação deve ser mais formal, revelando a excelente substância da pessoa. Para que a conversa seja bem aceita, tem de se adaptar ao caráter e inteligência dos interlocutores. Não banque o censor de palavras- pois será tomado como um pedante gramático-, e muito menos o fiscal das opiniões- o que fará que seja evitado pelos demais, impedindo-o de se comunicar. Na conversa, a discrição é mais importante que a eloqüência.
Não confunda o bem com o mal. Daí ocorre alguns encontram alegria em tudo, e outros, pesar.
Completar as vitórias.
Alguns começam tudo e nada terminam. De caráter volúvel, começam, mas nunca persistem. Nunca conseguem louvores porque não prosseguem com
nada. Para eles, tudo termina antes do tempo. Para alguns, isso nasce da impaciência, que é típica dos espanhóis, assim como o belga é conhecido pela
paciência. O último completa as coisas, o primeiro acaba com elas; suam até vencer a dificuldade, contentam-se em vencer, mas não sabem completar a vitória. Provam que podem mas não querem. Trata-se de um defeito: mostra de leviandade, ou de incapacidade. Se a empreitada vale a pena, compensa terminar. Se não compensa terminar, por que começar? Os sábios não se limitam a espreitar a presa; abatem-se.
Não ser bom demais
É o que acontece a quem nunca se zanga. Quem não sente nada não tem personalidade. Tal atitude não se deve só à insensibilidade, mas também a
incapacidade. Sentir intensamente, quando as circunstâncias o exigem, é um ato
de afirmação pessoal. Até os pássaros debocham dos espantalhos. Alternar o amargo com o doce revela bom gosto: a doçura sozinha é para crianças e tolos. Constitui um grande mal perde-se por ser tão insensível mesmo sendo bom.
Para conservar o respeito, não seja amado demais. O amor é mais atrevido que o ódio. Afeição e veneração não combinam. Não seja nem muito temido, nem muito amado. O amor leva à intimidade e vai-se embora a estima. Seja amado com admiração em vez de afeição, pois assim é com os grandes homens.
Comportar-se sempre como se fosse observado.
Um homem atento percebe que é ou será visto. Sabe que as paredes têm ouvidos e que o que é malfeito acaba por ser conhecido. Mesmo quando está só, comporta-se como estivesse à vista de todos, e sabe que tudo será conhecido. Considera agora como testemunhas aqueles que pela notícia o serão depois. Não se incomoda de ser observado até dentro e sua casa aquele que deseja que todos o notem.
A virtude é uma cadeia de todas as perfeições, o centro de toda a felicidade. Torna-o prudente, discreto, perspicaz, sensível, sensato, corajoso, cauteloso,
honesto, feliz, louvável, verdadeiro… um herói universal. Ter esses nos tornam bem aventurados: sábio, sadio, e santo. A virtude é o sol do mundo, e seu hemisfério é uma boa consciência. É tão encantadora que ganha a graça de Deus e dos homens. Não há nada tão amável quanto a virtude, nem tão detestável quanto o vício. A virtude só é autêntica; tudo o mais é imitação. Capacidade e grandeza se medem pela virtude, não pela sorte. Só a virtude basta a si mesma. Faz-nos amar os vivos e lembrar os mortos.
Elogiar
Não é sensato usar superlativos. Ofendem a verdade e desabonam seu discernimento. Ao exagerar, desperdiçamos nossos elogios e mostramos
limitação de conhecimento e gosto. O louvor desperta a curiosidade, atiça o desejo e, mais tarde, quando se percebe que os bens foram superestimados, como acontece muitas vezes, a esperança traída vinga-se menosprezado o elogiado e aquele que elogiou. Os cautos têm comedimento, preferindo pecar pouco a muito. Raras são as eminências, portanto tempere sua apreciação. A ênfase é uma forma de mentir. Pode arruinar nossa reputação de bom gosto e, ainda pior, de sabedoria.
Descobrir o bom de cada coisa
É a marca do bom gosto. A abelha logo acha a doçura para a colméia, e a víbora, a amargura para o veneno. O mesmo acontece com os gostos: uns preferem o melhor e outros o pior. Em tudo há algo de bom, especialmente nos livros, pois são resultado da reflexão. O caráter de alguns é tão desgraçado que, entre mil qualidades, encontrarão o único defeito, e o criticarão e o aumentarão. Estes recolhem as sujeiras das vontades e das inteligências, sobrecarregando-se de infâmias e de defeitos, não por serem perspicazes, mas como castigo por seu mau discernimento. Levam uma vida péssima, pois só se alimentam de amarguras e imperfeições. Muito melhor é o gosto daqueles que, entre mil defeitos, logo encontrarão a única perfeição que escapou à boa sorte.
Conhecer seu pior defeito
Ninguém vive sem o contraponto da melhor qualidade. Se o pior defeito for favorecido, ele nos dominará como um tirano. Devemos declarar-lhe guerra. O primeiro passo é descobri-lo: conhecido será vencido. Para ser senhor de si, é preciso refletir sobre si mesmo. Vencido esse defeito, os outros acabarão.
Moderação no julgar
Cada um pensa conforme lhe convém e apresenta razões para suas caprichosas opiniões. A maior parte dos homens põe a paixão na frente do juízo. Quando duas pessoas sustentam posições contrarias, cada uma pensa ter razão. Mas a razão é fiel e não tem duas caras. O sábio deve agir com cautela em assuntos tão delicados, e sua própria dúvida irá corrigir o julgamento inicial sobre o comportamento alheio. Ao se colocar no lugar do outro e examinar seus motivos, não condenará nem se justificará tão cegamente.
Estar no auge da perfeição 23
Não se nasce feito.Cada dia vamos nos aperfeiçoando no pessoal e no profissional, até chegar ao ponto mais alto, à plenitude de qualidades, à eminência. Isto se conhece no gosto refinado, na pureza da inteligência, na maturidade do julgamento, na retidão da vontade. Alguns nunca chegam a ser completos, sempre lhes falta alguma coisa. Outros demoram para chegar lá. O homem “acabado”-
sábio em atos e palavras- é aceito, e inclusive desejado, no seleto grupo dos discretos.
Estar no auge da perfeição 23
Não se nasce feito.Cada dia vamos nos aperfeiçoando no pessoal e no profissional, até chegar ao ponto mais alto, à plenitude de qualidades, à eminência. Isto se conhece no gosto refinado, na pureza da inteligência, na maturidade do julgamento, na retidão da vontade. Alguns nunca chegam a ser completos, sempre lhes falta alguma coisa. Outros demoram para chegar lá. O homem “acabado”-
sábio em atos e palavras- é aceito, e inclusive desejado, no seleto grupo dos discretos.
Tudo alcança a perfeição, e tornar-se uma verdadeira pessoa constitui a maior perfeição de todas.
Fazer um sábio no presente exige mais do que se exigiu para fazer sete no passado.E atualmente é preciso mais habilidade para se lidar com um só homem do que antigamente com todo povo.
Que sua superioridade o redima de impressões comuns passageiras. Livre-arbítrio.
Quando vires um presumido de inteligente, acredita que é um idiota, vê o rico como pobre dos verdadeiros bens, aquele que manda em tudo é escravo de todos, o que de corpo é grande não é grande homem, aquele que é grosso tem pouca substância, o que se faz de surdo ouve mais do que queria, o que observa espantado é cego ou ficará cego, o que cheira muito cheira mal a todos, aquele que fala muito não diz nada, o que ri repreende, o que murmura condena-se, o que come muito come menos, aquele que aos outros engana talvez se confesse, o que diz mal da mercadoria é porque a pretende, o que se faz de simples é porque sabe mais;aquele a quem nada lhe falta ele se falta a si mesmo, ao avarento tanto lhe serve o que tem como o que não tem, o que tenta argumentar com mais razões é aquele que as tem de menos, o mais sábio costuma ser o menos compreendido, ter uma boa vida é acabar com ela; aquele que a ama aborrece-a, o que te unta os cascos dá-te cabo deles, o que te faz festas quer se livrar de ti; a estupidez encontra-se muitas vezes nas boas aparências; aquele que é muito direito é torto, muito bem faz mal, o que evita dar certos passos na vida dá mais;para não se perder um bocado perdem-se cem; o que gasta pouco gasta a dobrar, o que te faz chorar quer-te bem, e por fim, o que um aparenta e quer parecer, isso é o que menos ele é.
Não competir com quem não tem nada a perder
A luta seria desigual. O outro começa com desembaraço porque perdeu até a vergonha. Não tem mais o que perder, por isso se lança de cabeça em qualquer despropósito. Nunca exponha sua inestimável reputação a um risco tão cruel . Conquistá-la levou muitos anos para perdê-la em assuntos sem importância. Um mau vento pode gelar o suor do esforço. Por ter muito a perder, o homem honesto se detém. Preocupado com sua reputação, observa o oponente e age com cautela para colocar o prestígio a salvo. Nem sequer com a vitória pode-se ganhar aquilo que se perdeu ao se correr o risco de perder.
Perseguir a vitória
Alguns se esgotam ao começar e não acabam nada. Começam, mas não persistem: têm um caráter instável. Nunca recebem elogios porque nada concluem. Terminam sempre por abandonar o começado. Uns acabam as coisas, outros acabam com elas. Suam até superar a dificuldade, mas se contentam em tê-la vencido, mas não sabem aproveitar a vitória; demonstram que podem, mas não sabem querer. É um defeito, não importa se por erro de cálculo ou inconstância . Se a empreitada é boa, por que não se termina? E se é ruim, por que se começou? O homem sagaz não só espreita a perdiz- vai à caça.
Saber escutar quem sabe
Não se pode viver sem entendimento, próprio ou emprestado. Muitas pesssoas não tem consciência do que não sabem, e outras pensam que sabem sem saber. Os erros da estupidez são irremediáveis, pois, como os ignorantes não se consideram assim, não procuram aquilo que lhes falta. Alguns seriam sábios se não acreditassem sê-lo. Por isso, os poucos oráculos da prudência vivem ociosos porque ninguém os consulta. Pedir conselho não diminui a grandeza nem a capacidade de ninguém. Ao contrário, fortalece a reputação. É bom ouvir a razão para evitar o ataque da má sorte.Relacione-se com quem tenha algo a ensinar
Relacione-se com quem tenha o que lhe ensinar.O trato amigável deve ser uma escola de erudição, e a conversa, um ensinamento culto. Deve-se fazer com que seus amigos sejam também seus melhores mestres, combinando o útil da aprendizagem com os gostos da conversa.Deve-se alternar o prazer com a instrução. Os aplausos gratificam aqueles que falam, e os que ouvem são recompensados com o ensinamento. Normalmente a própria conveniência nos leva a conversar com outras pessoas- e assim enobrecemos. O homem prudente freqüenta as casas dos homens eminentes, pois mais que palácios da vaidade são cenários de gradeza. Existem senhores com reputação de prudentes que são oráculos de grandeza por seu exemplo e modo de agir. Além disso, o grupo de seus acompanhantes é uma refinada academia de sensatez, tato e engenho.
Não se pode viver sem entendimento, próprio ou emprestado. Muitas pesssoas não tem consciência do que não sabem, e outras pensam que sabem sem saber. Os erros da estupidez são irremediáveis, pois, como os ignorantes não se consideram assim, não procuram aquilo que lhes falta. Alguns seriam sábios se não acreditassem sê-lo. Por isso, os poucos oráculos da prudência vivem ociosos porque ninguém os consulta. Pedir conselho não diminui a grandeza nem a capacidade de ninguém. Ao contrário, fortalece a reputação. É bom ouvir a razão para evitar o ataque da má sorte.Relacione-se com quem tenha algo a ensinar
O homem nasce bárbaro. Redime-se da condição de besta cultivando-se. A cultura nos transforma em pessoas; e tanto mais, quanto maior for a cultura. Por isso, a Grécia pôde chamar o resto do mundo de bárbaro. A ignorância é rude e
grosseira. E até a sabedoria é áspera quando carece de polimento. Não é apenas a inteligência que devemos apurar, mas também nossos desejos e principalmente nossa conversa. Alguns exibem um esmero natural tanto nas qualidades interiores quanto nas exteriores, tanto nos conceitos quanto nas palavras, tanto no adorno corporal (que é como a casca) quanto nos dons espirituais (o fruto). Já outros são tão brutos que embaçam tudo, até suas qualidades superiores, com um intolerável desasseio bárbaro.
Caráter e Inteligência. Um sem a outra é apenas meia felicidade. Não basta ser inteligente; é preciso também ter o caráter apropriado.
Escolha um modelo heróico. Mais para emular do que imitar. Existem exemplos de grandeza, textos vivos de reputação. Cada qual escolha o primeiro em seu campo, não tanto para segui-lo quanto para superá-lo. Alexandre chorou sobre a tumba de Aquiles, não lendário herói grego, mas por si próprio, pois, ao contrário daquele, sua glória ainda não nascera. Nada atiça tanto a ambição do espírito quanto o clarim da glória alheia. O que afugenta a inveja incentiva a generosidade.
Falar com prudência.
Cautelosamente com os rivais e decentemente com todos os demais. Sempre há tempo para proferir uma palavra, mas não para fazê-lo voltar. Fale como se redigisse seu testamento: quanto menos palavras, menos processos judiciais. Treine em coisas pouco importante para saber das mais importantes. A arcanidade tem um ar de divindade: aquele que fala levianamente está muito
perto de ser vencido e convencido.
Para conservar o respeito, não seja amado demais. O amor é mais atrevido que o ódio. Afeição e veneração não combinam. Não seja nem muito temido, nem muito amado. O amor leva à intimidade e vai-se embora a estima. Seja amado com admiração em vez de afeição, pois assim é com os grandes homens.
Comportar-se sempre como se fosse observado.
Um homem atento percebe que é ou será visto. Sabe que as paredes têm ouvidos e que o que é malfeito acaba por ser conhecido. Mesmo quando está só, comporta-se como estivesse à vista de todos, e sabe que tudo será conhecido. Considera agora como testemunhas aqueles que pela notícia o serão depois. Não se incomoda de ser observado até dentro e sua casa aquele que deseja que todos o notem.
Nunca abra a porta para um mal menor, pois outros e maiores males invariavelmente se instalam em seguida.
Caráter e inteligência 19
São os dois pólos para exibir as qualidades de um homem. Um sem o outro é boa sorte pela metade. Não basta ser inteligente, é preciso também ter predisposição de caráter. A má sorte do tolo é desconsiderar a sua condição, ocupação, vizinhança e amizades.
Não se conhece o sábio pelo que fala em público, pois não o faz com sua voz, mas com a da tolice comum, por mais que discorde dela interiormente.
Saber um pouco mais e viver um pouco menos
Há quem pense o contrário. Melhor é o ócio bem empregado do que o negócio. Tudo o que possuímos é o tempo, único bem de quem não tem nada. A vida é preciosa demais para ser desperdiçada tanto em trabalhos mecânicos quanto em excesso de tarefas sublimes. Não devemos nos sobrecarregar nem de ocupações, nem de rivalidades: isso é maltratar a vida e sufocar o ânimo. Alguns acreditam que também se deve evitar o saber, mas, se não se sabe, não se vive.
Se souber pouco na sua profissão, atenha-se ao mais seguro.
Desse modo, ainda eu não seja considerado inteligente, passará confiança. Aquele que sabe pode se arriscar a fazer o que quer, mas saber pouco e arriscar-se é jogar-se voluntariamente no precipício. Quando se sabe pouco, é melhor seguir pela estrada principal. Deve-se manter o caminho reto e não faltará o caminho firme. Em todos os casos, sabendo ou não sabendo, a segurança é mais prudente que a singularidade.
Ninguém consegue dominar-se se não compreende a si próprio. Existem espelhos para o rosto, mas não para o espírito, tome lugar do espelho a ponderada auto-reflexão. E, ao se esquecer de sua imagem exterior, tente corrigir e aprimorar a interior. Conheça a força da sua prudência e perspicácia. Verifique se tem condições de se empenhar. Explore seu íntimo e verifique seus recursos para tudo.
Associar-se àqueles com quem pode aprender
Seja o convívio amigável uma escola de erudição e torne a conversação instrutiva. Faça dos amigos professores e combine a utilidade da aprendizagem com o gosto da conversa. Alterne a fruição com a instrução. O que você diz será recompensado com aplausos; o que ouve, com aprendizados. O que nos leva aos outros, em geral, é a nossa própria conveniência; aqui ela tem um sentido maior. Os prudentes freqüentam as casas de renomados heróis que são mais palcos de heroísmo que palácios de futilidade. Alguns são notáveis pelos conhecimentos e bom senso; pelo exemplo e pelo modo de agir, são
oráculos de toda grandeza. Aqueles que os cercam formam uma academia refinada de discrição e sabedoria elegantes.
Conhecer seu principal atributo
Seu dom de destaque. Cultive-o e incentivo os demais. Todos alcançariam a excelência em alguma coisa se conhecessem sua qualidade dominante.
Identifique o rei dos seus atributos e se dedique a ele com afianço. Alguns se destacam com discernimento e outros, na coragem. Os demais violentam a sua
aptidão e não alcançam a superioridade em nada. Deixem-se cegar a lisonjear pelas paixões até que – tarde- demais!- o tempo as desminta.
Nunca perder o controle.
Grande ênfase deve pôr a prudência em não perder o controle. Assim se portam os grandes homens, pois a magnitude dificilmente se abala. As paixões são os humores da alma, e qualquer excesso indispõe a prudência. Se a moléstia sai pela boca, sua reputação estará em perigo. Tendo completo domínio de si próprio na prosperidade como na adversidade, ninguém irá censurá-lo, mas admirá-lo.
Ter bons repentes.
Eles nascem de uma feliz presença de espírito; graças à sua vivacidade, não há apuros, nem acasos incômodos. Alguns pensam muito e fazem tudo errado,
enquanto outros fazem tudo certo sem antes ter pensado. Alguns têm reservas de antiperístase? As dificuldades revelam melhor deles. Trata-se de monstros que prosperam com a improvisação e erram sempre que pensam em algo. O que não lhes ocorre de imediato jamais lhe ocorrerá, e de nada adianta pensar depois. A rapidez arranca aplausos, pois revela uma capacidade prodigiosa: argúcia no pensamento, prudência nos atos.
Não brincar o tempo todo.
A prudência é reconhecida pela seriedade e granjeia mais respeito do que talento. Quem vive brincando não é um homem que mereça confiança. São comparados aos mentirosos e nunca lhes dão crédito. De um tememos a trapaça, do outro, a zombaria. Nunca se sabe quando estão exercitando o juízo, o que equivale a não tê-lo. Não existe humor pior do que o contínuo. Alguns ganham fama de espirituoso e perdem a de sensato. Há momentos para o riso, mas o resto do tempo pertence à seriedade.
Nem tudo mau, nem tudo bom.
Um certo sábio reduziu toda a sabedoria ao caminho do meio. Levar o certo longe de mais e ele se torna errado. A laranja espremida ao máximo dá só amargor. Mesmo no prazer não devemos ir a extremos. A própria inteligência se esgota se exigida demais, e se ordenhamos uma vaca em excesso teremos sangue por leite.
O pacato tem vida longa.
Para viver, deixe viver. As pessoas pacíficas não vivem apenas, reinam. Ouça e veja, mas mantenha-se calado. Um dia sem tensões significa uma noite repousante. Viver muito e com gosto é viver duplamente: é fruto da paz. Tem tudo aquele que não se preocupa com aquilo que não importa. Não há bobagem maior do que levar tudo muito à sério. Manter-se aberto àquilo que não interessa é tão tolo quanto não se envolver com aquilo que interessa.
Saiba qual é seu principal defeito.
Ninguém vive sem ter um contrapeso da sua melhor qualidade, e se a inclinação o favorece, subjuga a pessoa como um tirano. Comece a combatê-lo prestando-lhe atenção, identificando-o. Dê, para esse defeito, a mesma atenção que lhe é dada por quem o observa. Para ser senhor de si, deve refletir sobre si mesmo. Vencida essa imperfeição, que é a maior de todas, as outras se
acabarão.
Construir uma reputação e preservá-la.
É o usufruto da fama. É cara, pois nasce da eminência, que é tão rara quanto comum é a mediocridade. Alcançada, se conserva com facilidade. Obriga muito e produz mais. Constitui uma espécie de majestade quando se transforma em veneração, devido à sublimidade de sua causa e esfera de ação. Mas a reputação que tem substância é a que conserva seu valor.
Tratar o fácil como se fosse difícil, e o difícil como se fosse fácil. De modo a não ficar confiante no primeiro nem desencorajado demais no segundo. Para que algo não se realize, basta considerá-lo feito. Mas o esforço vence a impossibilidade. Em momentos de grande perigo, nem sequer pense, simplesmente aja. Não empreste importância às dificuldades, para que não o
intimidem.
Ter amigos.
É uma segunda vida. Para um amigo, todos os amigos são bons e sábios. Entre eles, tudo acaba bem. Você vale tanto quanto os outros o querem e, para que o queiram, deve ganhar-lhes a boca através do coração. Nada conquista tanto como servir aos outros, e a melhor maneira de ganhar amigos é agir como amigo. O máximo e o melhor que temos depende dos outros. Deve-se viver ou com amigos, ou com inimigos. Procure ganhar um amigo a cada dia, se não como íntimo, ao menos como seguidor. Escolha bem e sobrarão alguns para confidentes.
Não se tornar íntimo demais dos outros.
Nem permitir que se tornem de você. Perderá a superioridade que tinha por ser inatingível, e com ela a estima. Os astros não roçam em nós, e conservam o
esplendor. A divindade impõe decoro, e a familiaridade facilita o desrespeito. As coisas humanas, quanto mais temos, são menos valorizadas, pois a comunicação revela os defeitos que a reserva ocultara. Não convém muita intimidade com quem quer que seja; nem dos superiores, pois é perigoso; nem dos inferiores, pois é indigno; e muito menos da vilania, que é tola e insolente. Não percebe que lhe fazemos um favor, pensa que se trata de nossa obrigação. Familiaridade rima com vulgaridade.
Saber conversar
É o que revela ser uma pessoa verdadeira. Nenhuma atividade humana exige mais atenção por ser a mais comum. É aqui que ganhamos ou perdemos.
Requer siso escrever uma carta, que é a conversa refletida e escrita, e ainda
mais conversar, pois a discrição é logo posta à prova. Os entendidos tomam pulso da alma baseados na linguagem, e baseado nisso um sábio disse: “Fale, e será conhecido”. Para alguns, a arte da conversação está em falar sem arte, deixando-a cair livremente, como a roupa. A idéia talvez seja válida quanto à conversa entre amigos. Mas, nos círculos mais elevados, a conversação deve ser mais formal, revelando a excelente substância da pessoa. Para que a conversa seja bem aceita, tem de se adaptar ao caráter e inteligência dos interlocutores. Não banque o censor de palavras- pois será tomado como um pedante gramático-, e muito menos o fiscal das opiniões- o que fará que seja evitado pelos demais, impedindo-o de se comunicar. Na conversa, a discrição é mais importante que a eloqüência.
Não confunda o bem com o mal. Daí ocorre alguns encontram alegria em tudo, e outros, pesar.
Completar as vitórias.
Alguns começam tudo e nada terminam. De caráter volúvel, começam, mas nunca persistem. Nunca conseguem louvores porque não prosseguem com
nada. Para eles, tudo termina antes do tempo. Para alguns, isso nasce da impaciência, que é típica dos espanhóis, assim como o belga é conhecido pela
paciência. O último completa as coisas, o primeiro acaba com elas; suam até vencer a dificuldade, contentam-se em vencer, mas não sabem completar a vitória. Provam que podem mas não querem. Trata-se de um defeito: mostra de leviandade, ou de incapacidade. Se a empreitada vale a pena, compensa terminar. Se não compensa terminar, por que começar? Os sábios não se limitam a espreitar a presa; abatem-se.
Não ser bom demais
É o que acontece a quem nunca se zanga. Quem não sente nada não tem personalidade. Tal atitude não se deve só à insensibilidade, mas também a
incapacidade. Sentir intensamente, quando as circunstâncias o exigem, é um ato
de afirmação pessoal. Até os pássaros debocham dos espantalhos. Alternar o amargo com o doce revela bom gosto: a doçura sozinha é para crianças e tolos. Constitui um grande mal perde-se por ser tão insensível mesmo sendo bom.
A virtude é uma cadeia de todas as perfeições, o centro de toda a felicidade. Torna-o prudente, discreto, perspicaz, sensível, sensato, corajoso, cauteloso,
honesto, feliz, louvável, verdadeiro… um herói universal. Ter esses nos tornam bem aventurados: sábio, sadio, e santo. A virtude é o sol do mundo, e seu hemisfério é uma boa consciência. É tão encantadora que ganha a graça de Deus e dos homens. Não há nada tão amável quanto a virtude, nem tão detestável quanto o vício. A virtude só é autêntica; tudo o mais é imitação. Capacidade e grandeza se medem pela virtude, não pela sorte. Só a virtude basta a si mesma. Faz-nos amar os vivos e lembrar os mortos.
Elogiar
Não é sensato usar superlativos. Ofendem a verdade e desabonam seu discernimento. Ao exagerar, desperdiçamos nossos elogios e mostramos
limitação de conhecimento e gosto. O louvor desperta a curiosidade, atiça o desejo e, mais tarde, quando se percebe que os bens foram superestimados, como acontece muitas vezes, a esperança traída vinga-se menosprezado o elogiado e aquele que elogiou. Os cautos têm comedimento, preferindo pecar pouco a muito. Raras são as eminências, portanto tempere sua apreciação. A ênfase é uma forma de mentir. Pode arruinar nossa reputação de bom gosto e, ainda pior, de sabedoria.
Não há coisa mais fácil que enganar o homem de bem.
Alguns avaliam os livros pela corpulência, como se escritos para exercitar mais os braços do que a inteligência.
Metade do mundo ri da outra metade, e ambas são tolas.
É um tolo insuportável aquele que avalia tudo segundo sua própria opinião.
O que é excesso para uns é fome para outros.
Trabalho insuportável é aquele que requer todo o tempo, com horário fixo e sempre da mesma maneira.
As “feras” mais perigosas vivem nos lugares mais povoados. Ser intratável é o vício daqueles que carecem de autoconhecimento e mudam os humores conforme as honras.
A eles um castigo refinado: evite-os por completo. Aplique sua sabedoria em outros.
Escolher um modelo heróico, mais para competir do que imitar.
Alexandre, o Grande, chorou à sepultura de Aquiles, não pelo lendário herói grego, mas por si próprio, pois, ao contrário daquele, Alexandre ainda não nascera para a fama.
[Segundo Plutarco, Alexandre, o Grande, chorou de inveja ante a sepultura de Aquiles, porque este, felizardo o bastante, fora imortalizado por Homero.]
Nada torna o espírito tão ambicioso quanto o clarim da glória alheia.
Não existe humor pior do que o contínuo.
A insensatez sempre se precipita à ação, mas a prudência se introduz com todo o cuidado. A cautela e a perspicácia a precedem, abrindo caminho para que possa avançar com segurança.
Os homens notáveis conseguem com graça e humor granjear a simpatia geral. Contudo, tem o devido respeito para com a prudência e nunca rompem com o decoro.
Tome mais cuidado com quem elogia do que com quem critica.
O hábito desgasta nossa admiração, e uma novidade medíocre é capaz de derrotar a maior celebridade na velhice. Portanto, renasça em coragem, em intelecto, em felicidade, e em tudo o mais.
Não permitir que nos façam de curingas. Depara-se com curingas em todos os tipos de perfeição. Perdendo a reputação inicial como únicos, são desdenhados como comuns.
A fim de conquistar a verdadeira estima, faça-se escasso.
Conselho 86:
Afastar-se dos boatos
A multidão é um monstro de muitas cabeças; muitos olhos para a malícia, muitas línguas para a calúnia. Às vezes, um boato surge e arruína a melhor reputação, e quando se aferra a nós como um apelido, nossa fama perece.
Normalmente, a multidão toma alguma falha saliente, ou algum defeito ridículo: material perfeito para falatórios. Às vezes, são nossos rivais invejosos que com astúcia inventam tais defeitos.
Existem bocas desprezíveis que com uma pilhéria arruínam uma excelente reputação mais depressa do que com uma desavergonhada e descarada mentira.
É muito fácil adquirir uma má reputação, pois é fácil acreditar na maldade, e difícil apagá-la. Que o cauteloso evite tudo isso, e fique de olho na insolência vulgar, pois é mais fácil prevenir do que remediar.
O homem nasce bárbaro. Redime-se a besta cultivando-a. A cultura nos transforma em pessoas: e tanto mais, quanto maior for a cultura. Com tal crença, a Grécia pôde chamar o resto do mundo de bárbaro.
Alguns exibem um requinte natural tanto nos talentos interiores quanto nos exteriores, tanto nos conceitos quanto nas palavras, tanto no adorno corporal – que é como a casca – quantos nos dons espirituais – o fruto. Já outros são tão brutos que embaçam tudo, até suas qualidades superiores, com um insuportável desleixo bárbaro.
Tudo que é demasiado irrita, e, dependendo da condição, cansa.
Importa ter compreensão de si mesmo: do caráter, do talento, do discernimento e das emoções.
Ninguém consegue ser senhor de si se não compreende a si próprio.
Existem espelhos para o rosto, mas não para o espírito; tome em lugar do espelho a ponderada autorreflexão. E, ao parar de se preocupar com sua imagem exterior, tente corrigir e aprimorar a interior.
Duas coisas antecipam o fim da vida: ignorância e depravação. Alguns perdem a vida por não saber como salvá-la; outros, por não querer saber. Assim como a virtude é a sua própria recompensa, o vício é o seu próprio castigo.
A brevidade é agradável e lisonjeira, além de dar mais resultado. Ganha em cortesia o que se perde em concisão.
Seja objetivo e conciso no falar e será bem ouvido.
Até um rei deve ser venerado mais pela soberania pessoal do que pelo simples fato de ser rei.
É uma questão de prudência abandonar as coisas antes de ser abandonado por elas.
Às vezes, o próprio sol se esconde por trás de uma nuvem, de modo que ninguém o veja se por, deixando-nos em dúvida se já se pôs ou não.
Evite o declínio para não se chocar com o infortúnio. Não fique esperando lhe darem as costas, que o sepultarão vivo para o seu pesar e morto para a estima.
Que a beleza quebre o espelho sagazmente, na hora certa, e não tarde demais, quando este lhe revelará a verdade.
Satisfazer-se mais com intenções que com extensões.
Apenas ter razão não basta; é preciso que o rosto também o demonstre.
Raros são os que olham por dentro e muitos os que se apegam às aparências.
O que alguns perseguem outros evitam.
Não existe defeito que alguém não valorize, e nem se deve desconfiar se algo não agradou a alguns, pois não faltarão outros que o apreciarão: que os aplausos destes não causem desvanecimento, porque outros o condenarão.
É preciso ter estômago para digerir grandes bocados de sorte.
Alguns desperdiçam alimentos finos porque não têm estômago apropriado para digeri-los. Não nasceram para ocupações elevadas e não estão acostumados a elas. O envolvimento com tais ocupações não tarda em se transformar em aborrecimento. E os humores que emanam da imerecida honra perturbam a cabeça e fazem com que a percam.
Quem é grande mostre que ainda tem lugar para coisas melhores, e cautelosamente evite tudo o que pode revelar um coração mesquinho.
Nem todo mundo é rei, mas seus atos devem ser dignos de um, dentro dos limites de sua classe e condição. A cada um a dignidade que lhe compete.
É preciso assemelhar-se a um rei em mérito, mesmo não sendo, pois a verdadeira soberania está na integridade.
Bem melhores são os trabalhos com que não nos entediamos, em que a variedade se junta à gravidade, porque a quebra da rotina restaura o ânimo.
As ocupações mais respeitadas são as que têm menos grau de dependência e mantém esta o mais distante possível.
As piores ocupações são as que, ao final, ao prestar contas, nos fazem suar, tanto na casa humana e ainda mais na divina.
A insensatez sempre se precipita à ação, pois todos os tolos são corajosos. Sua própria ingenuidade, que não os deixa prever o perigo, os impede de se preocupar com a reputação.
A discrição condena a ação precipitada ao fracasso, embora a sorte às vezes a salve.
Vá devagar quando teme afundar.
Que a argúcia estude o caminho e a prudência o conduza a terreno firme. Hoje em dia há baixios no trato com os outros, e o melhor é ir lançando a sonda.
Com moderação, ter um caráter jovial é um dom, senão um defeito. Uma pitada de espírito é um bom tempero.
Tome mais cuidado com quem elogia do que com quem critica.
Descubra qual o interesse pessoal, de que lado coxeia, para onde vai.
Acautele-se quanto aos falsos e os defeituosos.
Importa renovar o fulgor.
Amanheça tantas vezes quanto o sol, apenas mudando os arredores. Para que uns sintam falta e outros o apreciem, despertando aqui o aplauso e ali o desejo.
Às vezes, uma atitude imprudente pode ser a melhor maneira de ajudar os outros a ver seus talentos.
O sábio considera os inimigos mais úteis do que o tolo considera os amigos.
A malevolência sabe aplainar montanhas de dificuldades, que o privilégio não se atreveu a enfrentar.
Muitos devem sua grandeza aos inimigos.
A lisonja é mais ameaçadora que o rancor, pois o rancor corrige os defeitos que a lisonja disfarçava.
O homem prudente transforma a ojeriza em espelho, mais confiável que o do afeto, pois o ajuda a diminuir os defeitos ou corrigi-los.
Deve-se ter muita cautela quando se vive lado a lado com a rivalidade da maledicência.
Quando todos cobiçam uma coisa, irritam-se facilmente com ela.
A multidão é um monstro de muitas cabeças; muitos olhos para a malícia, muitas línguas para a calúnia. Às vezes, um boato surge e arruína a melhor reputação, e quando se aferra a nós como um apelido, nossa fama perece.
Existem bocas desprezíveis que com uma pilhéria arruínam uma excelente reputação mais depressa do que com uma desavergonhada e descarada mentira.
É muito fácil adquirir uma má reputação, pois é fácil acreditar na maldade, e difícil apagá-la. Que o cauteloso evite tudo isso, e fique de olho na insolência vulgar, pois é mais fácil prevenir do que remediar.
Ficar girando em torno de algo desagradável é uma espécie de mania. Em geral, o mesmo acontece com a maneira de se comportar, que varia segundo o coração e a capacidade de cada um.
Conheça a força da sua prudência e perspicácia. Verifique se está à altura de um desafio. Explore seu íntimo e verifique seus recursos para tudo.
Aquele que se precipita numa vida de vícios encontra um fim duas vezes mais rápido. O que se precipita na virtude nunca morre.
A arte de viver muito: viver bem.
Duas coisas antecipam o fim da vida: ignorância e depravação. Alguns perdem a vida por não saber como salvá-la; outros, por não querer saber. Assim como a virtude é a sua própria recompensa, o vício é o seu próprio castigo.
Aquele que se precipita numa vida de vícios encontra um fim duas vezes mais rápido. O que se precipita na virtude nunca morre.
A força da mente se comunica com o corpo. Uma boa vida é longa tanto em intensidade quanto na extensão.
(aforismo 90 – A Arte da Prudência)
Infortúnio comum é ter começos muito favoráveis e finais muito trágicos.
O que a paixão lisonjeia com rapidez, o tempo desmente mais tarde.
Não pode ser senhor de si quem antes não se compreende bem. Há espelhos para o rosto, mas não para a alma; uma autorreflexão sensata há de ser esse espelho.
As coisas boas, se de curta duração, são duplamente boas.
O homem prolixo raramente é inteligente, mas antes ser alto em estatura do que extenso na conversa.
Quanto mais procurar a estima dos outros, menos estima terá. Ela depende do respeito alheio. Não se pode agarrá-la. É preciso merecê-la e esperar por ela.
A cautela é sempre útil, seja para promover bons desfechos, seja para nos consolar quando estes se revelam maus. Nenhum revés surpreenderá se for temido e analisado de antemão.
Que aquele que é decidido se junte ao indeciso, e da mesma forma os demais tipos de temperamento. Assim se conseguirá o equilíbrio sem violência.
A alternância de opostos torna o universo belo e o sustenta, e nos hábitos humanos causa uma harmonia ainda maior do que na natureza.
Os prudentes sabem quando aposentar um cavalo de corrida, e não esperam que este caia no meio da carreira para provocar o riso de todos.
A verdade é geralmente vista, raramente ouvida.
“O sábio estima todos porque sabe ver o bom de cada um e sabe o que custa fazer bem as coisas. O tolo despreza todos porque não conhece o bom e escolhe o pior.”
Tudo alcança a perfeição, e tornar-se uma verdadeira pessoa constitui a maior perfeição de todas.
Fazer um sábio no presente exige mais do que se exigiu para fazer sete no passado.E atualmente é preciso mais habilidade para se lidar com um só homem do que antigamente com todo povo.
Que sua superioridade o redima de impressões comuns passageiras. Livre-arbítrio.
O que você diz será recompensado com aplausos; o que ouv, como aprendizado. O que nos leva aos outros é a nossa própria conveniência.
Um homem sensato acreditará que é mais importante o que o destino lhe concedeu do que o que ele lhe negou.
Dos amigos ofendidos nascem os piores inimigos.
Não existe ninguém que não possa ensinar algo a alguém, e não existe ninguém tão excelente que não possa ser superado.
Não se nasce feito. Cada dia vamos nos aperfeiçoando no pessoal e no profissional, até chegar ao ponto mais alto, á plenitude de qualidades, á eminência. Isto se conhece no gosto refinado, na pureza da inteligência, na maturidade do julgamento, na retidão da vontade. Alguns nunca chegam a ser completos, sempre lhes falta alguma coisa. Outros demoram pra chegar lá. O homeem “acabado” – sábio em atos e palavras – é aceito, e inclusive desejado, no seleto grupo de discretos.
Não competir com quem não tem nada a perder
A luta seria desigual. O outro começa com desembaraço porque perdeu até a vergonha. Não tem mais o que perder, por isso se lança de cabeça em qualquer despropósito. Nunca exponha sua inestimável reputação a um risco tão cruel . Conquistá-la levou muitos anos para perdê-la em assuntos sem importância. Um mau vento pode gelar o suor do esforço. Por ter muito a perder, o homem honesto se detém. Preocupado com sua reputação, observa o oponente e age com cautela para colocar o prestígio a salvo. Nem sequer com a vitória pode-se ganhar aquilo que se perdeu ao se correr o risco de perder.
Perseguir a vitória
Alguns se esgotam ao começar e não acabam nada. Começam, mas não persistem: têm um caráter instável. Nunca recebem elogios porque nada concluem. Terminam sempre por abandonar o começado. Uns acabam as coisas, outros acabam com elas. Suam até superar a dificuldade, mas se contentam em tê-la vencido, mas não sabem aproveitar a vitória; demonstram que podem, mas não sabem querer. É um defeito, não importa se por erro de cálculo ou inconstância . Se a empreitada é boa, por que não se termina? E se é ruim, por que se começou? O homem sagaz não só espreita a perdiz- vai à caça.
Sentir e expressar-se
Querer ir contra a corrente não desfaz os enganos e é perigoso. Somente Sócrates podia fazê-lo. Discordar é considerado uma ofensa porque significa condenar a opinião alheia. Os contrariados se multiplicam tanto em consideração àquele que foi criticado quanto àqueles que o aplaudiam. A verdade é de poucos, mas o engano é tão comum quanto vulgar. Não se conhece o sábio pelo que fala em público, pois não o faz com sua voz, mas com a da tolice comum, por mais que discorde dela interiormente. A pessoa sensata foge de ser desmentida e de contradizer os outros: rápida na censura, é lenta para torná-la pública. O sentir é livre, não se pode nem se deve violentá-lo. O homem prudente refugia-se no silêncio e se mostra a poucos e sábios.
Não se conhece o sábio pelo que fala em público, pois não o faz com sua voz, mas com a da tolice comum, por mais que discorde dela interiormente.
A pessoa sensata foge de ser desmentida e de contradizer os outros: rápida na censura, é lenta para torná-la pública.
O sentir é livre, não se pode nem se deve violentá-lo
Saber um pouco mais e viver um pouco menos
Há quem pense o contrário. Melhor é o ócio bem empregado do que o negócio. Tudo o que possuímos é o tempo, único bem de quem não tem nada. A vida é preciosa demais para ser desperdiçada tanto em trabalhos mecânicos quanto em excesso de tarefas sublimes. Não devemos nos sobrecarregar nem de ocupações, nem de rivalidades: isso é maltratar a vida e sufocar o ânimo. Alguns acreditam que também se deve evitar o saber, mas, se não se sabe, não se vive.
Tudo o que possuímos é o tempo, único bem de quem não tem nada.
Se souber pouco na sua profissão, atenha-se ao mais seguro.
Desse modo, ainda eu não seja considerado inteligente, passará confiança. Aquele que sabe pode se arriscar a fazer o que quer, mas saber pouco e arriscar-se é jogar-se voluntariamente no precipício. Quando se sabe pouco, é melhor seguir pela estrada principal. Deve-se manter o caminho reto e não faltará o caminho firme. Em todos os casos, sabendo ou não sabendo, a segurança é mais prudente que a singularidade.
Saber escutar quem sabe
Não se pode viver sem entendimento, próprio ou emprestado. Muitas pesssoas não tem consciência do que não sabem, e outras pensam que sabem sem saber. Os erros da estupidez são irremediáveis, pois, como os ignorantes não se consideram assim, não procuram aquilo que lhes falta. Alguns seriam sábios se não acreditassem sê-lo. Por isso, os poucos oráculos da prudência vivem ociosos porque ninguém os consulta. Pedir conselho não diminui a grandeza nem a capacidade de ninguém. Ao contrário, fortalece a reputação. É bom ouvir a razão para evitar o ataque da má sorte.Relacione-se com quem tenha algo a ensinar
Relacione-se com quem tenha o que lhe ensinar.O trato amigável deve ser uma escola de erudição, e a conversa, um ensinamento culto. Deve-se fazer com que seus amigos sejam também seus melhores mestres, combinando o útil da aprendizagem com os gostos da conversa.Deve-se alternar o prazer com a instrução. Os aplausos gratificam aqueles que falam, e os que ouvem são recompensados com o ensinamento. Normalmente a própria conveniência nos leva a conversar com outras pessoas- e assim enobrecemos. O homem prudente freqüenta as casas dos homens eminentes, pois mais que palácios da vaidade são cenários de gradeza. Existem senhores com reputação de prudentes que são oráculos de grandeza por seu exemplo e modo de agir. Além disso, o grupo de seus acompanhantes é uma refinada academia de sensatez, tato e engenho.
Não se pode viver sem entendimento, próprio ou emprestado. Muitas pesssoas não tem consciência do que não sabem, e outras pensam que sabem sem saber. Os erros da estupidez são irremediáveis, pois, como os ignorantes não se consideram assim, não procuram aquilo que lhes falta. Alguns seriam sábios se não acreditassem sê-lo. Por isso, os poucos oráculos da prudência vivem ociosos porque ninguém os consulta. Pedir conselho não diminui a grandeza nem a capacidade de ninguém. Ao contrário, fortalece a reputação. É bom ouvir a razão para evitar o ataque da má sorte.Relacione-se com quem tenha algo a ensinar
Muitas pesssoas não tem consciência do que não sabem, e outras pensam que sabem sem saber.
Deixar os outros com fome
Deixe um resto de néctar nos lábios. O desejo é a medida da estima. É bom aliviar a sede física, mas não saciá-la: o bom, se é pouco, é bom duas vezes. Perde-se muito na segunda vez. As grandes doses de agrado são perigosas porque levam a se desprezar a mais eterna superioridade. A única regra para agradar é pegar o apetite com fome. Um desejo impaciente é mais estimulante do que se fartar de prazer. Uma felicidade difícil de se conseguir é desfrutada em dobro.
Metade do mundo ri da outra metade, e ambas são tolas
Dependendo da opinião, ou tudo é bom, ou tudo é ruim. Aquilo que uns perseguem outros evitam. Por isso, quem deseja regular tudo segundo seu critério é um tolo insuportável. A perfeição não depende de uma única opinião: os gostos são tantos quantos os rostos, e igualmente variados. Não existe defeito que não seja apreciado por alguém. Não desanime se algumas coisas não agradam a uns, pois não vão faltar outros que as apreciem. O aplauso também não deve ser motivo de orgulho, porque sempre vão existir condenações. A regra para a verdadeira satisfação é a aprovação das pessoas conceituadas, que tem voz e voto nessas matérias. Não se vive de um só critério, nem de um só costume, nem de um só século.
Caráter e inteligência 19
São os dois pólos para exibir as qualidades de um homem. Um sem o outro é boa sorte pela metade. Não basta ser inteligente, é preciso também ter predisposição de caráter. A má sorte do tolo é desconsiderar a sua condição, ocupação, vizinhança e amizades.
A ARTE DA PRUDÊNCIA
Citações
“Só as pessoas inteligentes procuram, para auxiliá-las, pessoas mais inteligentes que elas.”
“Crê muito quem nunca mente e confia muito quem nunca engana.”
“O número de pessoas que pode beneficiar-nos é muito pequeno.”
“O homem prudente busca refúgio no seu silêncio sagrado, e se comunica com poucos e sempre com pessoas inteligentes.”
“É bom tornar-se conhecido por agradar aos outros. Especialmente se são seus subaltermos. É útil aos líderes obter as boas graças de todos. A única vantagem do poder: poder fazer o bem mais do que qualquer outro.”
“Não se pode conceder tudo a todos. Saber dizer não é tão importante como saber conceder.”
“O ‘não’ de alguns agrada mais que o ‘sim’ de outros.”
“Um homem atento percebe que é ou será visto. Sabe que as paredes têm ouvidos e que o que é malfeito acaba sendo conhecido.”
“Não há nada tão amável quanto a virtude, nem tão detestável quanto o vício. Só a virtude basta a si mesma. Faz-nos amar os vivos e lembrar os mortos.”
“Sábio é aquele que fica descontente quando suas coisas agradam a muitos!”
“As grandes pessoas nunca se contentam com aplausos comuns.”
“O jogador perfeito nunca move a peça que se espera, e muito menos a peça que seu advérsário desejaria.”
“Os príncipes gostam de ser ajudados, mas não sobrepujados. Um conselho dado a eles seja oferecido como lembrança de algo que esqueceram, não como uma luz que são incapazes de ver. Os astros nos ensinam essa sutileza: nunca se atrevem a competir com o Sol.”
“Não se vive seguindo uma só opinião, um só costume ou um só século.”
“O que é excesso para uns é fome para outros. Alguns desperdiçam alimentos finos porque não têm como digeri-los: Não nasceram para ocupações elevadas e não estão acostumados a elas.”
“O coração de uma mãe é um abismo profundo em que no fundo sempre se encontra o perdão.”