Chuva e névoa gélida.
Que frio teria o sapo
se tivesse frio?
Sobre mim a lua.
Lá atrás das altas montanhas
outro deve olhá-la.
Sobre o monte liso
contra o céu uma só árvore.
Gesto de vitória!
No olho das ruínas
as íris dos vaga-lumes
sob as tranças de ervas.
Por trás do combate
feroz do vento e das nuvens
a intocada estrela.
Nos bambus já escuros,
morcegos, daqui, dali,
também sem destinos.
Velho, esta manhã
naquele pátio ruidoso
é a que foi tua.
Na esquina sumindo
os homens. Logo outros homens
sumindo. Na esquina…
Mosquito ferido.
Quieta agonia de pernas
e antenas na noite.
Na noite trevosa
eis, quando menos se espera,
teu semblante, lua!
Grito da sineta
na última aula. Alegria.
Depois o silêncio.
Meio-dia. O cego
marcha, batendo, batendo
sobre a própria sombra.
Lâmpada vermelha
no umbral da taberna. O vento
diz que ela bebeu.
Entre as ruas, eu,
e em mim, eu em outras ruas,
sob a mesma noite.
Nuvem, ergue a pálpebra!
Quero ver o olho de cego
com que sondas a noite.
No solar ruído
há ainda verdes cortinas
e um senhor, o sapo.
Lá, bem sobre a estrada,
a casa entre flores onde
não entrarei nunca.
Antes que algum nome
nos designasse, já rias,
pequena cascata.
Esqueletos de árvores,
lampiões rodando no vento,
no chão, sombras, bêbadas.
Quero ouvir na noite
os sapos que embalarão,
eternos, meu túmulo.
Mesmo esse macaco
ridente, é incrível, um dia
ficará calado.
Virando, rompendo
as folhas secas, meus pés
sem respeito aos mortos.
Marchando no tempo,
antes de tudo e após tudo,
soberbo, o silêncio.
Crânios num ossuário.
As pedras brancas invejam-lhes
muito pouco as vidas.
Crânios num ossuário.
As pedras brancas invejam-lhes
muito pouco as vidas.